domingo, 17 de fevereiro de 2013

OPINIÃO DO DIA – Marina da Silva: nem oposição nem situação

"Nós não seremos nem oposição nem situação à Dilma. Se a presidente estiver fazendo algo bom para o Brasil, nossa posição é favorável. Se ela for contra o Código Florestal, nossa posição é contrária. É um partido para questionar a si próprio. Não pode ser um partido para eleição, não precisa ter postura de manada."

Marina da Silva, ex-senadora, em discurso no ato de fundação do novo partido.

Manchetes de alguns dos principais jornais do país

O GLOBO
Brasil mantém doentes mentais presos ilegalmente
Mensalão mineiro: Dilma indicará relator no STF
Governo vai trazer brasileiros que vivem lá fora
Vereadores do Rio: Assistencialismo e religião na Câmara

FOLHA DE S. PAULO
Parlamentar do Brasil é o
2º mais caro do mundo
Geração atual de cardeais do Brasil mostra perfil discreto
Antes de ser julgado, Gil Rugai vai à missa e assiste avó doente
Partido não será de esquerda nem de direita, diz Marina
Policiais de divisão antidrogas são presos por tráfico

O ESTADO DE S. PAULO
Renúncia abre crise, e Vaticano planeja antecipar o Conclave
Megaoperação transfere 40 presos em Santa Catarina
Em 20 anos, só três acordos de livre-comércio
G-20 faz pacto contra guerra cambial
Economia ajuda Correa no Equador

CORREIO BRAZILIENSE
Brasília, a capital do conhecimento
“Sonháticos” lançam Marina Silva
Desafio da reconstrução no gelo

ESTADO DE MINAS
A morte lenta do velho Chico
R$ 2 bi

O TEMPO (MG)
Capital eleitoral de 2012 é base para campanha de 2016
“Nem oposição nem situação"
Jovens demoram para atualizar currículos
Micro e pequenas empresas vendem mais para o governo

GAZETA DO POVO (PE)
Irregularidades na propaganda da Câmara atingem 14 vereadores
Brasil precisa azeitar economia para crescer
O Brasil é “nota 5” em redação
Um papa de perfil mais prático?

ZERO HORA (RS)
Reforma ministerial mira em 2014
A arte de parar
Reação Em SC
A batalha dos sobreviventes

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Plano oficial de banda larga não empolga
Vaticano admite antecipar a escolha do Papa
Contagem regressiva para declarar o IR

O que pensa a mídia - editoriais de alguns dos principais jornais do país

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

“Sonháticos” lançam Marina Silva

Os fundadores da Rede Sustentabilidade, o novo partido, tentaram desconversar, mas a vereadora de Maceió Heloisa Helena alardeou claramente o nome da ex-líder do Partido Verde para a próxima disputa ao Palácio do Planalto . Muitos simpatizantes fizeram fila para tirar fotos com Marina

Marina lança partido e já fala em Planalto

Ex-senadora classifica a participação na corrida presidencial de 2014 como mera "possibilidade", mas, durante o ato de fundação da Rede Sustentabilidade, os "sonháticos" a colocaram na disputa do próximo ano

Helena Mader, Karla Correia e Denise Rothenburg

Os fundadores da Rede Sustentabilidade se mobilizaram ontem, durante o lançamento da legenda, para rejeitar o rótulo de “partido da Marina Silva” e repetir, em uníssono, que a nova agremiação política — que chegou a ter o nome provisório de Rede pró-Partido — não tem fins eleitorais. Mas, nos discursos dos líderes e dos militantes, a ex-candidata do PV à Presidência da República surgiu de maneira inquestionável como a estrela do partido e figura central do movimento, que tem como bandeiras a ética, a justiça social e a sustentabilidade.

A tentativa de desvincular a criação da legenda das eleições de 2014 também fracassou: a vereadora de Maceió Heloisa Helena, ex-candidata do PSol à Presidência, lançou Marina Silva para a disputa ao Palácio do Planalto. “É uma possibilidade, mas por enquanto é apenas uma possibilidade”, desconversou a ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente. Chamados de “sonháticos”, muitos apoiadores desfilavam com camisas estampadas com os dizeres “Marina 2014”.

O encontro, realizado em uma casa de eventos à beira do Lago Paranoá, custou R$ 150 mil, e os recursos foram rateados pelos apoiadores do novo partido. As estruturas eram de materiais sustentáveis e os organizadores distribuíram canecas para evitar o uso de copos plásticos. Parlamentares que pretendem migrar para a Rede, como os deputados federais Domingos Dutra (PT-SP) e Walter Feldman (PSDB-SP), dividiram o palanque com Marina e Heloisa Helena. Mas algumas ausências foram sentidas, como a do deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ), que enviou uma carta lida no encontro.

O deputado Reguffe (PDT-DF) e o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que são entusiastas do projeto, mas negam a mudança de legenda, também passaram pelo evento de lançamento da Rede. Colaboradores, como a empresária e socióloga Maria Alice Setubal, discursaram no evento, defendendo a proposta de um novo caminho na política. O empresário Guilherme Leal, da Natura, que foi candidato a vice na chapa de Marina em 2010, mandou uma carta de apoio. O ator Wagner Moura enviou um vídeo e foi bastante aplaudido.

O ex-secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente João Paulo Capobianco, que coordenou a campanha do PV à Presidência, foi o primeiro a tentar evitar o personalismo em torno da legenda. “Não podemos tratar a nossa maior liderança como a dona do partido. Esse não é o partido da Marina”, discursou Capobianco. O vereador paulistano Ricardo Young (PPS) seguiu a mesma linha e ainda tentou desvincular a legenda da disputa de 2014. “Há pessoas olhando para esse processo eleitoralmente, mas só vamos construir o novo agindo de forma nova”, disse.

No entanto, nem mesmo os militantes encamparam essas teses. O interesse em torno de Marina era tanto que muitos fizeram fila para tentar tirar fotos ao lado da estrela da Rede Sustentabilidade. Um dos organizadores do evento teve que pegar o microfone para pedir aos participantes que não fizessem tumulto durante os discursos. Coube à vereadora Heloisa Helena declarar publicamente o que todos ali já sabiam: os militantes querem ver Marina candidata ao Planalto. “Eu entendo quando dizem que este não é o partido da Marina, também sou assim, não aceito o personalismo. Mas eu preciso dizer que me sinto feliz em ser sua soldada, em ser conduzida por você, Marina”, disse a vereadora, ainda oficialmente no PSol. E disparou em seguida: “Por mais que a Marina não goste que digamos isso, quero vê-la disputando a eleição presidencial em 2014”, completou Heloisa Helena, gerando o momento de maior comoção dos militantes. Todos levantaram e começaram a cantar “Brasil urgente, Marina presidente”.

Ativismo

À tarde, durante uma rápida entrevista coletiva à imprensa, Marina Silva ainda tentava se esquivar da posição de estrela do partido. Ela se sentou na segunda fileira, misturada a outros militantes. “Gente, nós somos uma rede, queremos quebrar o modelo atual de partido”, explicava um dos apoiadores de Marina, diante dos apelos dos jornalistas para que ela se posicionasse à frente. Assim como fizera durante o discurso aos apoiadores, ela falou que o Brasil passa por uma “crise civilizatória”, e afirmou que existe um mal-estar com relação ao momento enfrentado pelo país. “Saímos da fase do ativismo dirigido pelo sindicato, pela ONG, pelo DCE, e hoje estamos na fase do ativismo autoral, graças à ajuda da internet”, explicou Marina.

Questionada sobre o direcionamento político da legenda, ela disse que a Rede Sustentabilidade “não será de direita e tampouco de esquerda”. “Nem um nem outro, estamos à frente. Não seremos oposição nem situação. Vamos assumir posição”, explicou. “Se a presidente Dilma Rousseff fizer algo bom para o país, vamos apoiar. Se quiser passar algo como o Código Florestal, por exemplo, ficaremos contra”, acrescentou. Ela garantiu que o novo partido poderá fazer alianças com outras siglas, mas com restrições. “As alianças serão pontuais, com qualquer partido com que tenhamos afinidade programática. A ideia é manter a coerência do discurso”, acrescentou Marina. Para que o partido saia do papel, os militantes terão que reunir quase 500 mil assinaturas e aprovar o processo no Tribunal Superior Eleitoral (leia mais na página 4). É preciso concluir o processo até outubro para que os filiados possam disputar as eleições do ano que vem.

Princípios da Rede Sustentabilidade

Confira diretrizes da legenda de Marina Silva discutidas na reunião de ontem, em Brasília

» Reserva de pelo menos 30% das vagas da direção do partido para pessoas sem filiação partidária.

» Criação de teto para doações, com variações de acordo com o cargo a ser disputado. O princípio é o de “muitos doando pouco”.

» O partido não aceitará doações de indústrias de armas, de tabaco, de bebidas alcoólicas e de agrotóxicos.

» Transparência no registro das doações, com divulgação em tempo real dos repasses de recursos.

» Os filiados só poderão se candidatar à reeleição uma única vez. O tema é polêmico e ainda deve ser discutido. Há possibilidade de abrir exceções para figuras de destaque.

» O partido terá um ouvidor, que poderá realizar audiências públicas sobre temas de interesse dos militantes.

» Haverá cotas para índios e negros, por exemplo, para que o partido tenha diversidade.

Linha do tempo/ Confira a trajetória política de Marina Silva

1958
Nasce Maria Osmarina Silva Vaz de Lima, em 8 de fevereiro, em Rio Branco.

Década de 1970
Deu início à carreira política ainda adolescente militando nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), ligadas à Igreja Católica.

1984
Com Chico Mendes, funda a Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Acre. Ex-seringueira, formou-se em história pela Universidade Federal do estado. Enquanto estudante, fez parte do Partido Revolucionário Comunista (PRC), grupo semiclandestino de oposição ao regime militar.

1985
Filia-se ao Partido dos Trabalhadores (PT).

1988
Eleita vereadora de Rio Branco.

1990
Torna-se deputada estadual.

1994
Aos 36 anos, é eleita a senadora mais jovem do país.

2002
Reeleita senadora.

2003
Passa a integrar a equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva como ministra do Meio Ambiente.

2007
Recebe o maior prêmio das Nações Unidas na área ambiental, o Champions of the Earth (Campeões da Terra).

2008
Deixa o Ministério do Meio Ambiente.

2009
Desfilia-se do PT e passa a fazer parte do Partido Verde (PV).

2010
Concorre à Presidência da República pelo PV e termina terceira colocada entre nove candidatos, com 19,33% da porcentagem total. Teve 19.636.359 votos válidos em todo o território nacional.

2011
Acaba o mandato no Senado e se desfilia do PV.

Fonte: Correio Braziliense

Novo partido não será de direita nem de esquerda, diz Marina

Batizada como Rede Sustentabilidade, legenda estará 'à frente' das siglas tradicionais, afirma ex-senadora

Em encontro para aprovar estatuto da nova sigla, militantes lançam Marina para presidente em 2014

Márcio Falcão e Erich Decat

BRASÍLIA - A ex-senadora Marina Silva afirmou ontem que o novo partido que está organizando não será de esquerda nem de direita, mas estará "à frente" das outras legendas.

"Nem direita, nem esquerda. Estamos à frente", afirmou Marina, em entrevista durante encontro de militantes que aprovou o estatuto do novo partido, em Brasília.

O nome da nova sigla foi definido ontem. Ela será registrada como Rede Sustentabilidade, mas os organizadores do evento preferiram apresentá-la como #rede.

Marina afirmou que seu objetivo não é apenas ter uma legenda para disputar as eleições de 2014, e disse que a Rede irá romper com a "lógica de partidos a serviço de pessoas" e "quebrar o monopólio dos partidos na política".

A ex-senadora deixou o PT em 2009 e concorreu à Presidência da República pelo PV nas eleições de 2010. Ela teve 20 milhões de votos e ficou em terceiro lugar, mas depois se desentendeu com a cúpula do PV e saiu do partido.

Em discurso para os militantes, Marina disse que o grupo também não se definirá por posições que assumir em relação ao governo Dilma Rousseff. "Nem oposição, nem situação. Precisamos de posição", afirmou. "Se Dilma estiver fazendo algo bom, vamos apoiar. Se não, não."

Três deputados federais foram apresentados como fundadores do novo partido de Marina, Domingos Dutra (PT-MA), Walter Feldman (PSDB-SP) e Alfredo Sirkis (PV-RJ).

A ex-senadora Heloísa Helena (PSOL-AL), que rompeu com o PT no início do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e disputou as eleições presidenciais de 2006, vai deixar o PSOL para ingressar na nova legenda.

Ao discursar no encontro de ontem, Heloísa Helena lançou o nome de Marina para a Presidência e puxou o coro dos militantes: "Brasil, urgente: Marina presidente".

Em entrevista, Marina disse que sua candidatura em 2014 é apenas uma "possibilidade" que ainda terá que ser debatida com seus aliados.

Para participar das eleições presidenciais de 2014, o novo partido de Marina precisa recolher 500 mil assinaturas em pelo menos nove Estados nos próximos meses e tem até outubro para obter o registro da Justiça Eleitoral.

Outros três deputados estudam a possibilidade de entrar no novo partido, Ricardo Tripoli (PSDB-SP), Reguffe (PDT-DF) e Alessandro Molon (PT-RJ), mas eles não participaram do encontro de ontem.

Estatuto

O estatuto do novo partido proíbe o recebimento de doações de fabricantes de bebidas alcóolicas, cigarros, armas e agrotóxicos e estabelece que a legenda imporá um teto às contribuições que seus candidatos poderão receber.

O estatuto também fixa um limite para os mandatos dos parlamentares que se elegerem pela Rede. Só será permitida uma reeleição. A ideia é estimular o aparecimento de novas lideranças, mas o estatuto permite que a regra seja revista por um plebiscito interno em casos excepcionais.

Fonte: Folha de S. Paulo

Novo partido não será 'nem oposição, nem situação', diz Marina

Ex-senadora lança partido e diz que poderá fazer 'alianças pontuais' em torno de idéias

Eugênia Lopes e Tânia Monteiro

De olho nas eleições presidenciais de 2014, a ex-ministra Marina Silva começou nesta sábado, 16, a coleta de assinaturas para criação de um novo partido político. Debaixo de gritos de "Brasil urgente, Marina presidente", ela foi lançada ao Palácio do Planalto por cerca de mil militantes da futura legenda, que deverá se chamar Rede Sustentabilidade. Ao defender princípios éticos, Marina afirmou que a sigla não será "nem oposição, nem situação" ao governo de Dilma Rousseff, mas admitiu fazer "alianças pontuais" em torno de ideias.

Apesar de exigir "ficha limpa" para seus dirigentes partidários e candidatos, os filiados não precisarão seguir a mesma regra, podendo entrar para o partido mesmo que tenham problemas com a Justiça. Não serão aceitos, no entanto, aqueles que respondem a crimes do colarinho branco, como corrupção. "Para filiar não precisa de ficha limpa", afirmou o deputado Walter Feldman (SP), que deixará o PSDB para ingressar no novo partido. Mais tarde, em discurso, João Paulo Capobianco, um dos fundadores, assegurou que a legenda vai "coibir a entrada de ficha suja".

Com um discurso recheado de menções ao meio ambiente, Marina Silva afirmou que o novo partido não fará oposição ao governo Dilma. "Nós não seremos nem oposição nem situação à Dilma (Rousseff). Se a presidente estiver fazendo algo bom para o Brasil, nossa posição é favorável. Se ela for contra o Código Florestal, nossa posição é contrária", afirmou Marina, em um de seus discursos. "É um partido para questionar a si próprio. Não pode ser um partido para eleição", completou. "(O partido) não precisa ter postura de manada."

Dizendo que são "diferentes", a ex-senadora e ex-ministra do governo Lula Marina defendeu alianças partidárias. "Podemos fazer alianças pontuais. Não precisamos eliminar sonhos. Mas é preciso que fique claro que somos diferentes." Lembrou ainda que a nova legenda não tem "uma liderança única e, sim, multicêntricas."

Para poder se candidatar à Presidência pela nova legenda em outubro de 2014, Marina e os fundadores da sigla precisam conseguir 500 mil assinaturas até setembro deste ano. "Vamos dedicar os próximos três meses para a coleta de assinaturas. Não será difícil", previu Walter Feldman. Além dele, os deputados Alfredo Sirkis (PV-RJ), que não compareceu ao evento, e Domingos Dutra (PT-MA)e a ex-senadora e vereadora por Maceió Heloisa Helena anunciaram o ingresso no novo partido. "Serei uma soldada da Marina", disse a ex-senadora, em discurso que lançou a candidatura de Marina ao Planalto, em 2014.

O estatuto do novo partido deveria ser aprovado até o final do dia de ontem. O documento prevê uma reavaliação do papel do partido em relação a sua continuidade daqui a 10 anos. Ou seja, a sigla poderá ser extinta. Também deverá ficar definido que os detentores de mandato terão direito a disputar apenas uma reeleição em cada casa parlamentar.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Marina lança partido e admite candidatura a presidente em 2014

Batizada de REDE, a legenda não se define como governo nem oposição

Evandro Éboli, Cristiane Jungblut

-Brasília- A ex-senadora Marina Silva lançou ontem, num encontro que reuniu cerca de mil pessoas, as bases do seu partido, o Rede Sustentabilidade, que ganhou o nome fantasia de apenas REDE. A legenda não se apresenta como governo ou oposição, e já lança Marina como sua candidata a presidente da República em 2014.

N-em oposição nem situação em relação ao governo Dilma. Assumo posições. Se a presidente estiver fazendo algo de bom para o país, para o Brasil, nossa posição é favorável. Se estiver contra o Código (Florestal), nossa posição é contrária — disse Marina, sob aplausos.

Coube à ex-senadora Heloísa Helena puxar o coro pela candidatura de Marina. Foi seguida por gritos de "Brasil urgente, Marina presidente!"! Marina admitiu a possibilidade de voltar a se candidatar.

- Encaro a possibilidade de minha candidatura. Por enquanto, é apenas uma possibilidade (ser candidata em 2014). Mas não vamos repetir 2010, foi um momento único — disse Marina, que recebeu 20 milhões de votos naquela eleição, que disputou pelo PV.

Perguntada se seria candidata mesmo que a criação da REDE não se consolide para 2014, Marina não quis dizer se tentaria aderir a outro partido.

Estatuto muda para excluir veto à adesão de fichas sujas

Marina diz que partido não terá "comportamento de manada"

-Brasília- O partido que se lançou como uma inovação da política preferiu excluir do seu estatuto um veto que havia sido colocado a fichas sujas. A barreira foi retirada do texto sob alegação de que impediria filiação à REDE de lideranças de movimentos sociais, do campo e da cidade, que, por suas lutas, respondem a processos judiciais.

- Há lideranças presas injustamente e que poderão ser aceitas (no partido) — disse o advogado André Lima, coordenador jurídico do movimento.

Mas para o filiado que for disputar eleições ou ocupar cargos de direção do partido, além de ter outras obrigações, será sim exigido que não tenha problemas na justiça.

- É uma de nossas bandeiras — afirmou Lima.

Marina Silva disse que o novo partido não deve ter "comportamento de manada"," que o movimento deve ser maior do que a nova sigla e que não se pode ser ingênuo de apenas acreditar que haverá mudanças. Ela afirmou ainda que fará alianças com todos aqueles com quem tiver coerência programática. Segundo ela, dentro do partido há posições diferentes sobre vários temas, como a questão da maconha. Marina disse que era contra a liberalização da droga e que outros integrantes eram a favor.

Marina negou o esvaziamento da nova sigla. Porém, um de seus principais apoiadores, o senador Eduardo Suplicy (PT- SP), só participou do encerramento do ato, que já estava esvaziado.

- Não há dificuldade, não há um recrutamento de parlamentares. Após este momento de criação de Rede, a coordenação nacional fará as conversas. Queremos, de fato, quebrar esse monopólio — disse ela.

Numa conversa com os presentes, Marina disse que não se trata de mais um partido cujo objetivo seja participar apenas de eleições.

- Não pode ser um partido apenas para disputar eleição. Estamos disputando uma nova visão de mundo. É sermos protagonistas, não apenas espectadores da política — disse Marina, que afirmou existir uma crise na civilização.

Uma das novidades é garantir 30% das vagas da REDE para líderes de movimentos que não têm filiação partidária, co¬mo um candidato independente. A REDE terá um registro provisório, de 101 assinaturas. Para o registro definitivo, será preciso obter 500 mil assinaturas até outubro.

O partido foi criado com uma festa lembrando as assembleias de movimentos sociais. Ao final, os participantes se uniram por meio de fitas coloridas, chutaram para o alto uma bola gigante que simbolizava o planeta terra, aos gritos de REDE!

Fonte: O Globo

PSB põe Eduardo na vitrine

RUMO A 2014

Governador terá, a partir de abril, extensa agenda de eventos oficiais em várias cidades do País, visando reforçar seu nome

Débora Duque

Enquanto permite correrem soltas as especulações sobre sua possível empreitada rumo à Presidência da República em 2014, o governador Eduardo Campos (PSB) programa um roteiro intenso de compromissos pelo País ao longo deste primeiro semestre. Os pretextos para sair de sua zona de conforto e percorrer outros Estados serão vários. Desde agendas administrativas como governador, a palestras ao empresariado, recebimento de homenagens diversas e eventos partidários. Independente do motivo "oficial", o alvo principal de Eduardo são as articulações políticas capazes de fortalecê-lo eleitoralmente.

Mais do que projetar sua imagem para fora de Pernambuco, ele aproveitará cada visita para se reunir não só com correligionários como também com membros de outras legendas, sejam da base do governo ou da oposição. E, se possível, atrair os insatisfeitos para o PSB que, apesar do crescimento na última eleição, ainda sonha em formar bancadas mais fortes, a exemplo do PT e do PMDB.

Ainda não há datas fechadas para o seu périplo. O único evento marcado, até o momento, é sua participação num fórum com empresários em Porto Alegre (RS) em abril. A data "coincide" com a festa de aniversário do líder do PSB na Câmara Federal, Beto Albuquerque, um dos que mais tem incentivado publicamente a candidatura presidencial de Eduardo. Também existe a expectativa de que o governador marque presença em eventos com o empresariado de Goiás e Mato Grosso.

Outra boa "desculpa" para aparecer nas principais capitais do País serão as oficinas que estão sendo organizadas pelo partido para discutir "temas de interesse nacional", conforme relatou o secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira. Intitulados "Diálogos para o Desenvolvimento", os seminários terão início no final de março e se estenderão por todo o ano em diferentes cidades. Como presidente nacional da legenda, Eduardo será o "convidado de honra" e terá à sua disposição uma claque de aliados, além de um "microfone livre" para tocar em temas que lhe rendam holofotes.

O secretário-geral, porém, desvincula o evento - nos bastidores, já comparado com as "Caravanas da Cidadania", capitaneadas pelo ex-presidente Lula (PT) durante os anos 90 - de um possível caráter eleitoral. "Temos que preparar o partido para todas as ocasiões, independente de eleição, que é episódica. A vida do partido é eterna e precisa ser alimentada", desconversa.

Além dos eventos partidários, o governador tem, pelo menos, três "títulos de cidadania" a receber no Piauí, Alagoas e Bahia. As homenagens foram aprovadas, no ano passado, pelas respectivas Assembleias Legislativas, mas o governador deixou para recebê-las neste ano, in loco.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Como não se fazem mais - Eliane Cantanhêde

De uma família abastada de Caruaru (PE), Fernando Lyra poderia ter sido empresário, advogado rico ou viver dos louros e lucros da companhia do pai. Não só optou pela política como desdenhou o conforto da Arena e aderiu com paixão ao MDB.

Ele, aliás, sempre foi um apaixonado. Foi assim que articulou o Grupo Autêntico do MDB, num momento em que o regime só autorizava o bipartidarismo, o sim ou não. Quis o não de fato, aguerrido, foi além do não de fachada, consentido.

Lutou ao lado de grandes nomes -como Alencar Furtado, Francisco Pinto e Lysâneas Maciel, cassados pelo regime-, aproveitando brechas como a anticandidatura de Ulysses Guimarães nos anos 1970 e as Diretas-Já, na década seguinte.

Bacharel formado em Caruaru, o forte de Fernando Lyra nunca foi a teoria, mas a prática. Tinha uma inteligência política rara, aliada a uma simpatia pessoal que abria portas e foi de grande utilidade ao construir pontes e definir alianças.

Derrotadas as diretas, em 1984, dedicou a paixão ao plano B: a eleição indireta de Tancredo Neves. Os "autênticos" torciam o nariz, mas ele soube digerir a realidade: a oposição não teria chance com um adversário frontal dos militares, como Ulysses, mas, sim, com um moderado que unisse a oposição e atraísse os dissidentes do regime. Alguém melhor do que a raposa mineira do antigo PSD? Impossível.

A Fernando Lyra coube seduzir a esquerda, o que lhe valeu o Ministério da Justiça da Nova República. Acabou com a censura (seu grande orgulho) e deixou para a história uma definição impecável do velho adversário e então seu chefe, José Sarney: "a vanguarda do atraso".

Assim como enfrentou os militares sem ser cassado e aderiu a Tancredo sem deixar de ser autêntico, Fernando Lyra sobreviveu 35 anos a um infarto, sem perder a inteligência política, a paixão e a simpatia. Ótimo político, grande figura.

Fonte: Folha de S. Paulo

Cair na rede - Janio de Freitas

Movimento de Marina pode sistematizar a repulsa intuitiva do eleitor a tudo que leva o nome de partido

Dê no que der como resultado eleitoral, o movimento que Marina Silva começa para constituir um partido seu na disputa pela Presidência tende a cumprir um papel político e social de muita utilidade. A ideia de denominá-lo Rede já é sugestiva, nem tanto por sugerir internet, mas pela identificação com a repulsa tão difundida a tudo que leve o nome de partido.

Difuso e confuso, o movimento até já existe na população. Existe como opinião intuitiva e generalizada a respeito do desregramento vigente no Congresso, das chantagens partidárias por cargos, da dinheirama nas eleições, da corrupção generalizada, e de tanto mais. Existe, em suma, muito mais emocional do que racional, como um sentimento de traição dos políticos, assim vistos quase sem o reconhecimento das exceções.

Os princípios preliminares do regimento da Rede são satisfações dadas à opinião pública desencantada. Representam os desejos de restrição a determinados doadores de campanhas políticas, limitação do número de mandatos de um parlamentar, fidelidade dos seus políticos às posições básicas do programa partidário, renúncia ao mandato parlamentar caso aceite cargo em governo, e por aí vai.

Marina Silva tem audiência no país todo. Apesar da base partidária mínima, sua candidatura à Presidência em 2010 foi encorpada por cerca de um quinto dos votos totais. Com a já iniciada organização de ideias e propostas, a pregação da Rede para constituir-se e, se obtido o registro, para a campanha eleitoral, pode transmitir ao eleitorado alguma dose de sistematização, digamos, de racionalidade ao que até agora não passa de uma força emocional caótica e sem proveito.

O PT cumpriu essa função em vários segmentos sociais, mas deixou de cumpri-las. O PSDB nasceu com o projeto de tal função, mas se descaracterizou depressa. Não falta quem possa cair na Rede.

Um homem de bem

Todos os que desejaram a vitória da oposição em 1985, resultante na eleição de Tancredo Neves, têm uma dívida de gratidão com Fernando Lyra. Foi o grande artífice político, desde os primeiros passos, daquela consagração do sonho de democracia sobre a vocação de ditadura.

Morto na quinta-feira, ao fim de longas e sucessivas doenças, Fernando Lyra só pôde cumprir seu enorme papel histórico em razão de duas características pessoais: a acuidade incomparável para a interpretação política, exposta sempre com brilho fascinante, e a integridade moral.

Deputado de repetidas legislaturas, ministro da Justiça no governo composto por Tancredo e encampado por José Sarney, Fernando Lyra afastou-se do centro da política no final dos anos 90. Muito por desencanto.

Latina

A frase "Antes que o ano [2012] findasse, Bento 16 e a Cúria Romana restabeleceram o uso do latim", no artigo de quinta passada, gerou algumas estranhezas, a propósito de missa em latim desde 2007. Bem, não só de missas se fazem o catolicismo e o latim. A liberação de missa nessa obscuridade idiomática, já praticada pela oposição que o cardeal francês Lefèvre liderou contra o Concílio Vaticano 2 e o papa João 23, foi complementada pela criação, no final do ano passado, da Academia Pontifícia para o Uso do Latim. Como "idioma da Igreja Católica Apostólica Romana".

Daí, por exemplo, e exemplo definitivo, que Bento 16 comunicasse em latim a sua renúncia. Para aturdimento de muitos doutores da Igreja, que devem voltar aos bancos escolares para aprender seu idioma exclusivo.

Fonte: Folha de S. Paulo

Oito ou oitenta - Dora Kramer

A ex-senadora Marina Silva quer concorrer à Presidência da República em 2014 e, para isso, se propõe a criar um partido que seja diferente de todos os outros.

Saiu do PT e do governo Lula por preferir "perder o pescoço a perder o juízo". Concorreu em 2010 pelo PV, conseguiu 20 milhões de votos, mas não teve uma boa experiência partidária: retirou-se para não se submeter às normas do pragmatismo dos donos do feudo "verde", em nada diferentes dos caciques das demais legendas.

Até aí, ponto para ela. É preciso mesmo dar uma sacudida nos meios e modos de se fazer política no Brasil. É necessário ousadia; uma boa dose de rebeldia não faz mal a ninguém nesse cenário de conformismo e está mais do que na hora de aparecer alguém disposto a nadar contra a corrente, falando a linguagem da inovação.

A questão é que o conjunto de boas intenções precisa também fazer sentido.Estabelecer alguns acertos com os dados de realidade para não correr o risco de se circunscrever ao mundo das boas ideias carentes de condições objetivas para se materializar.

E aí começam os problemas da ex-senadora, com declarada intenção de reunir "sonháticos" para abrir um espaço de participação de atuação que integre a sociedade à atividade política e permita a "participação direta do cidadão".

A não ser que da reunião de ontem tenha saído uma proposta clara de condução de um processo de mudança mediante métodos exequíveis, o que se tem até agora é um conjunto de sugestões triviais sem grandes efeitos práticos.

Não se trata de defender que o novo partido siga as normas do pragmatismo exacerbado adotado pelo ex-prefeito Gilberto Kassab na criação do PSD: um partido aberto a quaisquer tipos de alianças, as mais díspares, disponível a ofertas e demandas para o que der e vier.

Para falar apenas das legendas mais recentes, do "oito" representado pelo PSD na escala de extremos, o partido de Marina Silva vai ao "oítenta", sem por enquanto se apresentar como um meio-termo entre o pragmatismo rasteiro e o idealismo utópico que tanto afastam política e sociedade.

As dificuldades do novo partido se expressam na resistência dos políticos a aderir. Por enquanto há muita solidariedade e pouca disposição de embarcar nessa canoa.

Para início de conversa, há a atmosfera de personalismo. A ex-senadora passou os últimos dois anos sem fazer gestos efetivos para agregar aliados e trabalhar de fato para alterar a correlação de forças políticas vigente.

Transitou como quem o faz do patamar dos que se colocam acima do bem e do mal e agora lança um partido com o propósito de sustentar uma candidatura. Isso cria insegurança nos políticos que dependem de visibilidade e espaço.

O mais fácil na trajetória da nova legenda, que já rejeita a denominação de "partido", parece ser a coleta das 500 mil assinaturas exigidas pela Justiça Eleitoral, justamente porque a ideia genérica do "algo novo" é atraente.

O mais difícil será tirar a ideia do papel. Os simpatizantes consideram excêntricas exigências como a limitação de 16 anos de mandato para parlamentares e realização de plebiscito daqui a 20 anos para decidir pela extinção ou continuidade da agremiação.

A reserva de 30% de vagas para candidaturas avulsas não pode ser considerada inusitada, mas no momento é ilegal: só existe na legislação brasileira a figura do candidato com filiação partidária. Daí a decisão da Justiça de que os mandatos pertencem aos partidos.

Tudo isso soa bonito, assim como a proibição de doações de empresas não comprometidas com a "sustentabilidade". Mas como nenhum desses pontos toca de fato nas feridas de um sistema eleitoral falido, soa também superfìcial,o que subtrai do novo partido substância para se apresentar como fator de real inovação.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Jogo apertado - Tereza Cruvinel

A pedido de seu vice, Michel Temer, Dilma deixou a reforma ministerial para depois da convenção do PMDB, marcada para 2 de março

Olhando de onde estamos, a 19 meses da eleição presidencial, a presidente Dilma faz jus ao tratamento de favorita. Afora a popularidade, ela tem o maior leque de alianças, o apoio de Lula, e seu governo é bem percebido, no que pesem os tropeços da economia. Mas, já nestas preliminares do jogo a que estamos assistindo, começa a surgir a percepção de que a disputa não será um passeio, mesmo para a favorita. Ela própria parece ter isso claro quando toma nas mãos tanto a rédea da economia quanto a da articulação política.

Ontem, a ex-ministra Marina Silva lançou seu novo partido. Por menos ameaçadora que seja sua possível candidatura, ela não teria menos que os 20 milhões de votos obtidos em 2010. E olhe que o número de desiludidos com a política tradicional, dispostos a votar numa proposta “sonhática”, para usar a expressão por ela cunhada, só fez aumentar de lá para cá. Marina candidata joga mais água no moinho do segundo turno, que vai se desenhando como cada vez mais provável.

Da mesma forma, a candidatura de Eduardo Campos. Seu partido é pequeno, a natureza da candidatura indefinida, suas alianças hoje ainda são uma incógnita. Mesmo assim, ele pode rachar o Nordeste, grande celeiro de votos do PT. Em 2002, Ciro Gomes teve 12% dos votos nacionais, bastante concentrados no Ceará e na região. Nada indica que Campos venha a ter menos votos que Ciro, muito pelo contrário. Então, como já não parece possível evitar sua candidatura, na seara dilmista o empenho é para evitar, pelo menos, que ele se apresente como candidato do campo adversário, de modo a tê-lo como aliado natural no eventual segundo turno.

Enquanto o candidato do PSDB, Aécio Neves, não põe seu bloco na rua, Dilma deve tratar de seu terreiro, aconselhou Lula: precisa consolidar suas alianças e aproveitar a reforma ministerial para acomodar todo mundo no barco para a viagem rumo a 2014.

Foi a pedido de seu vice, Michel Temer, que Dilma deixou a reforma para depois de 2 de março, quando será realizada a convenção do PMDB para a eleição do comando nacional. Temer receia que as frustrações com a reforma acabem interferindo neste evento, que também é crucial para a travessia. A ideia é deixar tudo como está: o senador Valdir Raupp (RO) como presidente, e ele como presidente de honra. Ultrapassado mais esse marco, Dilma fará o que todos já sabem: nomear Afif Domingos, do PSD, e Gabriel Chalita, do PMDB paulista. Os mineiros, entretanto, estão insatisfeitos e insinuando que podem se jogar no colo de Aécio Neves. Dilma deve ainda trocar Brizola Neto por um pedetista que garanta o apoio do partido. A bancada prefere o deputado Vieira da Cunha (RS). Precisa ainda contemplar o PR. Se for necessário, ela sacrificará algum ministro técnico de sua cota pessoal.

Na economia, duas preocupações dominam o momento. Uma, a inflação, que para ser domada exigirá alguma alta nos juros, para desgosto da presidente. Em fevereiro, ainda deve ser alta. Pegará a baixa da conta de luz, mas também o aumento da gasolina. Segundo ponto no radar de Dilma, os editais de concessões ao setor privado, garantia de investimentos para alavancar o crescimento. Em maio, o governo espera bons resultados da licitação de novos lotes de petróleo. Depois de quase seis anos sem leilão, o mercado está ávido. Mas o de rodovias, marcado para junho, e o ferrovias, para julho, preocupam tanto quanto o de portos, em agosto. O road-show dos ministros Guido Mantega, Gleisi Hoffmann e Antônio Patriota, nos próximos dias, é tido como crucial para a aprovação do governo nestes testes, que afora os investimentos, indicarão o grau de confiança do empresariado.

Tudo isso, somado, vai indicando uma eleição apertada em 2014, ainda que Dilma seja a favorita.

Lincoln e a política

Muito já se escreveu sobre o filme de Steven Spielberg, baseado no livro de Doris Kearns Goodwin, sobre o elenco e os aspectos técnicos da produção, sobre a interpretação magistral de Lincoln por Daniel Day-Lewis . O filme é uma aula de história, mas ensina também sobre política, especialmente sobre o relacionamento entre o governo e o Congresso no presidencialismo.

Os “sonháticos” de modo geral, que buscam uma política “pura”, livre de barganhas, acordos, concessões, alianças e cooptações, verão ou viram no filme o maior estadista americano valer-se do que aqui chamamos de fisiologismo para conquistar seu maior objetivo, a abolição da escravatura.

O roteiro do filme baseou-se na parte do livro que aborda o fim da Guerra da Secessão e o esforço de Lincoln para aprovar a 13ª emenda constitucional, a da abolição. Já passara no Senado, mas, para aprová-la na Câmara, ainda que todos os deputados de seu Partido Republicano votassem a favor, ainda faltariam 20 votos. Lincoln e seus articuladores marcam a votação para antes da posse do novo Congresso, recentemente eleito, mirando os deputados democratas que não se haviam reelegido e em breve estariam ao relento. “Vamos lhes oferecer empregos”, ordena Lincoln. Os cargos são negociados e a emenda é aprovada por dois votos a mais que o necessário. O líder dos radicais republicanos, Thaddeus Stevens (também magnificamente interpretado por Tommy Lee Jones), que tinha uma relação conflituosa com Lincoln, resume: “Uma medida histórica acaba de ser aprovada, com corrupção, pelo homem mais puro da América”.

Nome a caminho

As queixas do STF sobre a falta que faz o 11º ministro estão apressando a nomeação do substituto de Ayres Britto pela presidente da República. Entre os nomes que correm na bolsa, dois são os mais fortes: Heleno Torres, professor da USP, e Humberto Bergmann Ávila, advogado tributarista gaúcho.

Fonte: Correio Braziliense

Visão social - Merval Pereira

Um dos temas mais interessantes do debate promovido pelo Instituto Fernando Henrique Cardoso em torno da atualidade do economista britânico John Maynard Keynes (1883-1946) diante da crise financeira que se abate sobre o mundo desde 1998 foi o destaque dado ao lado social de suas teorias, ressaltado pelo ex-ministro Delfim Netto e por Julio Gomes de Almeida, professor da Unicamp.

Primeiro secretário de política econômica do ministro Guido Mantega, ele foi o orientador da tese de doutorado do economista José Roberto Affonso, cujo primeiro capítulo deu origem ao livro "Keynes, crise e política fiscal", que estava em discussão. O Instituto Fernando Henrique Cardoso colocou no YouTube (http://bit.ly/YweALT) somente agora uma edição do debate, que foi fechado a um grupo reduzido de economistas.

Gomes de Almeida citou três pontos que considera essenciais para entender a teoria de Keynes: a socialização dos investimentos, com o Estado como indutor; a redistribuição de renda a partir da tributação e a eutanásia do rentista, isto é, fazer com que seja muito difícil viver de sua renda passada e não do seu trabalho. Para Delfim Netto, o resumo seria a busca de uma sociedade mais igualitária, mais preocupada com o bem-estar do cidadão.

"Essas coisas estão lá em Keynes com bastante clareza. Todo mundo tinha que partir do mesmo ponto, uma sociedade de igualdade de oportunidades absoluta. Ele era democrata e republicano", ressaltou.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso lembrou que o contexto em que essas teses foram defendidas era "a formação do estado social, depois da guerra", e que esse ideal "surge toda vez que vem uma tragédia, como agora". Para ele, "uma utopia inalcançável, mas que é bom que exista para você tentar se aproximar do modelo ideal".

Delfim lembrou que esses princípios estão na nossa Constituição, e funcionando. "As instituições são cada vez mais fortes", segundo Delfim. Ele e Fernando Henrique concordaram que a nossa "é uma boa Constituição, tem lá todo esse ideal igualitário", inclusive a preocupação com o direito à saúde e à educação, "que é o que ela tem de melhor", na opinião de Fernando Henrique.

O cientista político Sérgio Fausto colocou a discussão num plano mais ligado à nossa realidade atual do investimento público, lembrando as dificuldades operacionais; questões de controle democrático do investimento, como a questão ambiental, e perguntou como é possível ir desamarrando esses investimentos públicos. O economista Roberto Macedo expressou um ceticismo absoluto, inclusive sobre a utilização de parcerias público- privadas, as PPPs.

Delfim disse que as críticas às privatizações são equivocadas porque as taxas de retorno hoje consideradas absurdas só existiram porque o risco Brasil naquela ocasião era de 1.400 pontos, e hoje é de 100 pontos. José Roberto Affonso lembrou que o Keynes original defende que situações distintas recebam tratamentos distintos, e que a participação do Estado em situações de grande depressão é para evitar que a situação piore; não é o Estado que vai conseguir tirar o país da recessão.

Para Fernando Henrique Cardoso, o capitalismo sempre vai ter crise, e por isso o Estado tem que estar presente. O que se discute é que tipo de atuação. O ex-ministro Delfim Netto, com sua veia sarcástica ativa naquele dia, disse que tanto Keynes quanto Marx "tiveram o destino de sofrer na mão dos marxistas e dos keynesianos. Se os dois pudessem matar todos os seus seguidores, acho que fariam isso com grande satisfação".

Para ele, o que Keynes disse foi que "quando o mundo muda, eu mudo". O problema a que Keynes se refere é o da confiança, resume Delfim. "Todo nosso sistema, nossas convenções, estão baseados na confiança. É o que controla tudo". Para Delfim, ninguém inventou a economia de mercado. O homem saiu da África há milhares de anos e foi procurando meios de construir sua própria subsistência, que combinasse com um pouco de liberdade. Para ele, "o homem não nasceu para trabalhar, e tem que encontrar um jeito de viver sua humanidade. A intenção do Keynes é encurtar o tempo do trabalho para liberar o sujeito para viver sua vida". Por isso, foi um defensor do sistema de proteção social — desde o seguro para o desempregado até a aposentadoria.

Fonte: O Globo

2013 não começou bem (2) - José Roberto Mendonça de Barros

Nos dois últimos anos, a política econômica se organizou em torno de dois eixos: de um lado tentou-se apressar o crescimento econômico via expansão do investimento público, inclusive, das estatais. Por outro lado, colocou-se grande fé na hipótese que uma queda de juros e uma desvalorização do real levariam a uma expansão do investimento privado. Ambas as hipóteses,pelo menos até aqui, fracassaram, resultando no modesto crescimento deste período. Os projetos de investimento direto do governo, como se sabe fartamente, não acontecem. Grandes atrasos e explosões de custos têm sido a norma.

Pior ainda, os fatos recentes estão mostrando que também nas maiores estatais, Petrobrás e Eletrobrás, as coisas não andam bem: essas companhias estão enfrentando muitas dificuldades, expressas mais do que tudo nas pobres perspectivas de seus fluxos de caixa. Como colocou Adriano Pires aqui no Estado, “o ano de 2012 para a Petrobrás deve ser registrado para não ser repetido.A produção de petróleo caiu 2,3%; o lucro,36%; o Ebitda,14%; e a empresa chegou a registrar prejuízo de R$ 1,35 bilhão no segundo trimestre”.

Poderíamos acrescentar o veloz aumento do endividamento, a perda de eficiência da companhia, a crescente dependência da importação de derivados, a brutal elevação de custos dos projetos das novas refinarias, a necessidade de continuar a reconhecer grandes valores, devido a poços secos e outras coisas mais. Essa situação é o resultado da utilização da companhia para fins políticos e partidários e de uma regulação tão ambiciosa quanto infactível. De fato, pede-se que a empresa, execute o maior programa de investimentos do mundo, apresente crescimento rápido da produção numa área difícil,com custos razoáveis, com a utilização de 60% de conteúdo nacional e com controles de preços. É evidentemente uma coisa impossível, que estressou a companhia em todas as áreas e derrubou suas cotações, com prejuízo para seus acionistas.

A empresa também tem atrasado pagamentos para fornecedores, o que está levando muitos deles a uma situação difícil. Alguns fornecedores e prestadores de serviços, como GDK e Conduto, pediram recuperação judicial. Lupatech está de novo em situação muito complicada. O crédito para fornecedores e prestadores de serviço tem se tornado mais difícil, abortando inclusive colocações de bônus no exterior. Finalmente, muitos fundos de recebíveis exclusivos de Petro estão enfrentando inadimplência. Como toda companhia muito grande, a recolocação da Petrobrás num rumo mais adequado demandará pelo menos três anos.

A Eletrobrás, por sua vez, foi fortemente sacrificada na nova regulação do setor elétrico, uma vez que foi obrigada a aceitar integralmente a antecipação da renovação das suas concessões, passando a receber uma tarifa muito menor do que a anterior. Embora vá receber neste ano uma grande quantia ( aproximadamente R$ 12 bilhões) a título de indenização, por ativos ainda não totalmente amortizados, os seus resultados correntes sofrerão muito. Estima-se que em 2013 sua geração de caixa (Ebitda) vai se reduzir pelo menos 40% e o lucro líquido cairá pelo menos 80%. Se lembrarmos que é uma empresa com grande contingente de pessoal, especialmente no centro corporativo, e que carrega várias subsidiárias amplamente deficitadas, fica claro sua incapacidade futura de operar adequadamente.

A companhia deveria reduzir drasticamente seu contingente de funcionários, além de realizar outros ajustes. Numa empresa particular, a abrupta redução de resultados, da ordem dos descritos acima, já seria extremamente desafiante; numa empresa capturada por interesses políticos há muitos anos, estas dificuldades serão gigantescas. Prejuízos garantidos para acionistas e fortes dificuldades a fornecedores em geral. Não deixa de ser curioso que o governo mais adepto do Estado forte desde Geisel tenha produzido uma regulação que enfraqueceu tanto suas principais companhias. O investimento privado continua fraco neste início de ano. Já se comentou muitas vezes que isto pode ser explicado em parte pela elevada incerteza quanto à direção e oscilações da política econômica, inclusive regulação.

No período recente, a questão cambial tem sido um grande exemplo: tradicionalmente, o mês de dezembro é de pressão no mercado, dado o aumento de remessas antes da virada do ano. A cotação do dólar, que estava um pouco abaixo de R$ 2,05, começou a se elevar. Neste momento, as lideranças industriais voltaram aos jornais, pedindo uma maior desvalorização do real para compensar a fraquíssima atividade do ano passado (de fato, a produção industrial caiu 2,7% em 2012), o que reforçou a alta, levando a cotação da moeda americana a ultrapassar R$ 2,10. Mesmo assim, as autoridades fazendárias fizeram questão de dizer que a moeda brasileira se mantinha muito valorizada, o que impulsionou as cotações até próximo de R$ 2,15 por dólar, reforçando as expectativas altistas. Com essas expectativas, muitas empresas com passivo em dólar buscaram proteção, fazendo operações de hedge na ponta de compra.

Entretanto, ainda em dezembro, o Banco Central fez uma primeira intervenção no mercado, trazendo a cotação do dólar muito rapidamente para próximo de R$ 2,05, seguida neste início de ano por outra intervenção que reduziu o dólar até o valor de R$ 1,96, observado nesta semana. Essa forte oscilação trouxe muito prejuízo para as companhias (atenção: não são especuladores!) que buscaram proteção contra a desvalorização do real, que tem contribuído para a forte piora do ambiente de negócios deste início de ano. Trouxe também, outra grande dúvida: será que o dólar vai ser, mais uma vez, utilizado como arma contra a inflação? Não me parece ser o caso,mas a incerteza está firmemente plantada nas pessoas. Prejuízos no caixa, inflação elevada, grandes flutuações em variável chave como o dólar e piora na qualidade regulatória não contribuem para a melhora do ambiente de negócios e a retomada dos investimentos.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Os sem-rumo - Míriam Leitão

O Brasil está precisando fazer uma revisão da sua política econômica e dizer como pretende atingir seus objetivos e quais são eles. Vários países estão tentando sair da crise do baixo crescimento apostando em aumento de produtividade e inovação. O Brasil vem repetindo os mesmos erros e convivendo de forma condescendente com inflação e perda de dinamismo.

O vigoroso discurso do presidente Barack Obama na terça-feira foi seguido de atitudes: sua bancada no Congresso está se preparando para uma nova lei de taxação de gases de efeito estufa e o acordo transatlântico de comércio e investimento foi anunciado no dia seguinte. Partiu-se do anúncio à ação imediatamente.

O primeiro movimento é decorrente da convicção defendida pelo presidente de que a superseca no Meio-Oeste e o superfuracão Sandy do ano passado exigem mais atitude no combate às mudanças climáticas. O segundo intensifica os acordos comerciais para aumentar a criação de empregos e elevar os fluxos de comércio.

´No Brasil, enquanto isso, os empréstimos subsidiados do governo são distribuídos para empresas amigas para que elas sejam grandes. Não importa que práticas ambientais tenham ou que viabilidade financeira tenham. O jornal "Valor Econômico" de sexta-feira trouxe a confirmação: o BNDES não verá a cor dos R$ 750 milhões que depositou na LBR Lácteos Brasil, a gigante de leite que pretendia criar. A empresa deu entrada com um pedido de recuperação judicial e fará uma reestruturação. A nova companhia não será a gigante que se pretendia, os investidores, entre eles o BNDES, não recuperarão seu dinheiro, e os novos diretores dizem que tudo é culpa da estrutura tributária do país. Dizem que o governo deu isenção de PIS/Cofins na cadeia do leite, e eles ficaram com créditos de R$ 500 milhões a receber que não têm como descontar. Es panto que não se soubesse disso há um ano atrás quando o banco estatal apostava na sua nova criatura.

A história mostra que a megalomania do BNDES já trouxe prejuízos suficientes. Já era hora de mudar a estratégia. Quanto à Fazenda, em vez de sair distribuindo reduções de impostos aqui e acolá, deveria pôr em prática uma ampla reforma tributária. Obama anunciou que vai propor uma reforma tributária para aumentar a competitividade da economia. Aqui, nas crises recentes, o governo distribuiu reduções do IPI, elevou impostos sobre importados e incentivou bancos públicos a aumentarem a oferta de crédito. Com isso, melhorou as vendas temporariamente, reduziu a competição interna e elevou a inadimplência.

A inflação ronda o teto da meta apesar de o país ter crescido zero em termos per capita no ano passado. As medidas para enfrentá-la são postergar aumento de ônibus, reduzir taxação ocasional de imposto, evitar alta do dólar. A única medida que tem efeitos mais duradouros é a queda do preço da energia, que será em parte neutralizada pela manutenção das térmicas ligadas durante o ano.

O combate à inflação está precisando de um bom diagnóstico, ações permanentes e autonomiá do Banco Central. Hoje, a impressão geral é que o BC não poderá elevar os juros se precisar. E essa ideia é confirmada cada vez que alguém do Ministério da Fazenda garante, como aconteceu muito nos últimos meses, que os juros não vão subir. Quem tem que julgar isso é o Copom, em reunião de seus membros. Amarrar as mãos do seu melhor lutador é um bom caminho para perder a briga. Os juros podem não subir, mas o que não pode acontecer é o BC ficar com reputação de ser o últiirio a saber.

Fonte: O Globo

Lesgislativo de PE: escadinha eleitoral para 2014

Pelo menos seis deputados estaduais trabalham com a possibilidade de tentar uma vaga na Câmara Federal daqui a dois anos

Ayrton Maciel

O ano de 2014 já está à porta. Como política se faz pensando no futuro, e não no agora, o ano legislativo de 2013 - na Assembleia Estadual - começou há apenas 10 dias, tempo suficiente para deputados já se movimentarem visando a construir suas candidaturas à Câmara Federal no próximo ano. Seis parlamentares estão na relação da "rádio corredor" da Assembleia, a emissora imaginária que dá nome aos cochichos de bastidores do Legislativo: Daniel Coelho (PSDB), André Campos (PT), Sílvio Costa Filho (PTB), João Fernando Coutinho (PSB), Sebastião Oliveira (PR) e Betinho Gomes (PSDB). A maioria confirma, mas há quem admita a disposição condicionando a alguma pré-condição. E há quem tenha desistido, optando pela reeleição, como Isaltino Nascimento (PT), que está licenciado do mandato por ser o secretário estadual de Transportes.

Com o prestígio em alta, depois da performance na eleição para prefeito do Recife em 2012, quando ficou em segundo lugar, Daniel Coelho está recebendo uma tarefa do partido, que é a de ajudar a dobrar a bancada federal do PSDB, hoje só com os deputados Sérgio Guerra e Bruno Araújo. Sem reticência para reconhecer a candidatura, Daniel revela que o partido aposta em seu nome para conquistar uma boa votação na Região Metropolitana, puxando até uma quarta vaga à Câmara, fortalecendo a legenda, o candidato presidencial - possivelmente Aécio neves (MG) - e, eventualmente, um nome a governador. "Há uma conversa no PSDB de que é importante ampliar nossa bancada e meu nome possibilitaria isso", justifica Daniel.

Igualmente decididos a partir para a Câmara Federal, Sílvio Costa Filho e André Campos afirmam que está na hora de contribuir com temas nacionais, projeto que estão construindo desde as eleições de 2010. André nega que tenha se abatido após a derrota eleitoral e enfraquecimento do PT do Recife. "Meu projeto é esse. Trabalho para isso. Em 2010, no interior, já fiz campanha determinado. Está definido", declara. O contrário decidiu Isaltino Nascimento, que nega ter sido motivado pelo racha e queda do PT. "Dei uma reavaliada. Circulei pouco no interior, não construi espaço suficiente para disputar. Adiei o projeto para 2018. O foco é a reeleição", acrescenta.

Tendo o pai, Sílvio Costa (PTB), no segundo mandato, Sílvio Costa Filho revela que já trabalha para a Câmara Federal e não está descartado que ambos possam estar na disputa, uma vez que cada um teria estilo e eleitorado distintos. Há, todavia, a possibilidade de "Sílvio pai" abrir mão da Câmara e disputar seu retorno à Assembleia, facilitando o caminho para o filho. "Em 2010, o deputado Sílvio Costa teve 80 mil votos para federal e eu tive 82 mil. Dessa votação, só 35% foi conjunta. Os 65% foram independentes. Quero contribuir agora com pautas para o Brasil", diz Sílvio Filho.

Tido como candidato certo à Câmara, o primeiro secretário da Assembleia, João Fernando Coutinho (PSB), declara-se um "soldado" do partido, fiel às decisões partidárias, por isso, prefere dizer que "o nome está à disposição", mas a decisão será coletiva. "Os aliados têm cogitado minha candidatura. A decisão será do PSB, não será pessoal. Agora, quero ajudar o governo (estadual) a vencer essa fase difícil da economia e atender minhas bases", pondera.

O caso do tucano Betinho Gomes é peculiar. O deputado admite que "tem surgido essa especulação", mas que está trabalhando como foco na reeleição estadual. A questão é que candidatura está condicionado a uma desistência, que seria a do presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra. Recuperando-se de problemas de saúde, Guerra, no partido, teria dito que é candidato à reeleição "em qualquer hipótese", mas, publicamente, ainda não se pronunciou. Se Sérgio não for candidato, Betinho entraria na disputa.

Nos corredores, é apontado como candidato Sebastião Oliveira (PR), sobrinho do deputado federal Inocêncio Oliveira (PR). A alguns parlamentares, todavia, demonstra indecisão, o que acendeu especulações sobre sua real disposição. Único deputado do PMDB, Gustavo Negromonte descarta a possibilidade de ir para a Câmara. As chances seriam reduzidas com as atuais condições do partido, que tem como único deputado federal Raul Henry, candidato à reeleição.

Em 2010, só um estadual - Augusto Coutinho (DEM) - foi candidato e elegeu-se federal. Quatro anos antes, Sílvio Costa, Bruno Araújo (PSDB) e Bruno Rodrigues (ex-PSDB) se elegeram.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Sonhos eleitorais também na Câmara de Vereadores de Recife

Assim como na Assembleia, vereadores, eleitos há apenas quatro meses, já miram voos mais altos daqui a dois anos

Débora Duque

Eles disputaram a última eleição há somente quatro meses, mas já planejam interromper o mandato para alçar voos mais altos. Muitos dos 39 vereadores do Recife pretendem concorrer a uma vaga na Assembleia Legislativa ou na Câmara Federal em 2014. Como as eleições no Brasil são bienais, o trampolim político já virou tradição nos legislativos Brasil afora e é encarado com naturalidade pelos vereadores. Já pensando no desafio seguinte, alguns fizeram jornada dupla na última campanha com o objetivo de cultivar bases eleitorais também em outras cidades.

Foi o caso, por exemplo, do vereador André Ferreira (PMDB) que, no ano passado, repetiu a façanha de 2008 e conseguiu ser novamente o campeão de votos para a Câmara. Durante a última campanha, no entanto, ele precisou se dividir entre as atividades no Recife e a ajuda na eleição de prefeitos e vereadores em outros municípios da Região Metropolitana e da Mata Sul. São nessas áreas que ele trabalha para conseguir respaldo suficiente para galgar uma vaga como deputado estadual daqui a dois anos. Para tanto, fará dobradinha com o irmão Anderson Ferreira (PR), que tentará renovar seu mandato na Câmara Federal, e buscará, ao mesmo tempo, herdar os votos do pai, o ex-deputado Manoel Ferreira (PR). "Disputei no ano passado com esse planejamento. Com a ajuda do meu irmão, consegui associar a campanha de vereador com a campanha de alguns grupos em outras cidades. A gente não pode ter voto só no Recife", afirmou.

Da larga bancada governista, outros integrantes também têm planos de abandonar a Câmara pós-2014. Entre eles, Augusto Carreras (PV), Edmar de Oliveira (PHS), Jadeval de Lima (PTN) e o novato Wilton Brito (PHS). As interrogações pairam sobre Antônio Luiz Neto (PTB), o segundo mais votado na última eleição, e Gilberto Alves (PTN), líder do governo. No caso do primeiro, especula-se que o petebista poderia aproveitar o "recall" como presidente de um clube de futebol, o Santa Cruz. Aos colegas, porém, ele faz mistério e nunca confirmou se pretende mesmo concorrer. Já Gilberto diz que sua situação ainda está sendo indefinida. "Não é minha praia terminar uma eleição e já pensar em outra", comentou. Vicente André Gomes (PSB), atual presidente da Câmara, garantiu que está fora da disputa e que este seria seu último mandato. "Já cumpri meu dever na vida pública", resumiu.

Entre os petistas, o cenário ainda é obscuro devido as indefinições do próprio partido, que saiu rachado e enfraquecido do pleito municipal. Os únicos que alimentam a esperança de disputar uma vaga na Assembleia é Jurandir Liberal e Jairo Britto. O destino deste último vai depender do futuro político do seu cunhado e padrinho político, o ex-prefeito João da Costa (PT). É possível que se o ex-gestor resolver participar da corrida para a Câmara Federal, Britto tenha que se contentar com seu atual cargo.

Outro lado

Com apenas quatro vereadores, a enxuta bancada de oposição tem três de seus membros com foco além do legislativo municipal. A líder do bloco, Aline Mariano (PSDB), prepara sua campanha para deputada estadual. Sua intenção é apresentar-se, em 2014, como uma candidata de raízes urbanas mas com os pés no Sertão do Pajeú, base política do pai, o ex-deputado Antônio Mariano. "Ele foi deputado lá por seis anos. Já fui vereadora em Afogados da Ingazeira e percebo que a região está órfã de um representante", contou.

Sua companheira de bancada Priscila Krause (DEM) estuda a possibilidade de disputar, mais uma vez, uma vaga na Assembleia, mas a opção pela Câmara Federal ainda não está descartada. Já Raul Jungmann (PPS) planeja interromper seu primeiro mandato como vereador para voltar a exercer o cargo de deputado federal, função que deixou em 2010 para disputar, sem êxito, o Senado.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

PMDB oferece vaga da chapa ao Senado para atrair PT no Rio

Objetivo é tentar esvaziar candidatura de Lindbergh ao governo do estado e conseguir apoio de petistas a Pezão

Cássio Bruno, Fábio Vasconcellos

A estratégia do PMDB para esvaziar a candidatura do senador Lindbergh Farias, do PT, ao governo do Rio passa justamente pelo Senado Federal. O PMDB estuda oferecer aos petistas a única vaga do estado para uma cadeira da Casa. Em 2014, o senador pelo Rio Francisco Dornelles (PP), do grupo do governador Sérgio Cabral, conclui o seu mandato. Com o acordo, os peemedebistas reforçariam a candidatura do vicegovernador Luiz Fernando Pezão tendo, assim, o apoio do PT.

Em contrapartida, Lindbergh já iniciou o seu plano B rumo ao Palácio Guanabara, caso não consiga a indicação do PT. Semana passada, jantou com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, possível candidato à Presidência pelo PSB em 2014. Campos abriu as portas do partido para Lindbergh disputar o governo fluminense; em troca, o petista seria a principal estrela no palanque do socialista no Rio.

— O Lindbergh é o sonho de consumo do PSB — disse um interlocutor próximo a Campos.

A proposta do PMDB pode atrair o PT e reduzir as chances de Lindbergh concorrer pelo partido da presidente Dilma Rousseff contra Pezão. Em 2010, Lindbergh também lançou sua pré-candidatura ao governo, mas foi convencido pelo expresidente Lula a desistir.

No primeiro dia do desfile na Marquês de Sapucaí neste carnaval, Cabral afirmou, sem revelar sua estratégia, que deseja repetir a aliança PMDB-PT de 2006 e 2010:

— Temos um candidato qualificado, preparado, experiente, sério, honesto e bom gestor (Pezão). E respeitamos os demais. Respeito o senador Lindbergh, tenho o maior carinho, mas o meu desejo, e que é natural, é que a aliança, que me levou à eleição em 2006 e à reeleição em 2010, se repita em 2014. Mas isso é um processo.

Lindbergh rebateu:

— O PT, por unanimidade, aprovou o meu nome. Isso é um factoide. É uma demonstração de fraqueza do PMDB.

Sobre o governador Eduardo Campos, o petista desconversou:

— Tenho ótima relação com ele, mas sou candidato do PT.

O presidente regional do PT, Jorge Florêncio, disse que o partido terá candidato próprio em 2014, e que será Lindbergh. Segundo Florêncio, não houve conversa sobre uma possível negociação envolvendo a candidatura ao Senado com o PMDB.

— Nunca tivemos essa discussão. Não é ambição do partido ter outro senador. Por razões óbvias. Não é nada contra o PMDB, tem relação com a nossa decisão de ter candidato próprio. Apoiamos o governador Cabral em duas eleições e, agora que ele não é mais candidato, queremos ter o nosso. Se o PT não faz isso, está abdicando desse debate, de propor uma candidatura aos eleitores — disse Florêncio.

Fonte: O Globo

Governos espetaculares fazem espetáculos - Elio Gaspari

A seca nordestina exibe a opção dos governos pelas marquetagens para empulhar quem paga imposto

Desde o ano passado o semiárido nordestino atravessa uma grave seca. Na Bahia, Sergipe, Alagoas e Maranhão, 75% dos municípios estão em estado de emergência. No Ceará, são 177 em 184. Lá, as chuvas do ano passado ficaram em metade da média habitual e neste ano estão abaixo do terço (55,1 milímetros contra 161,8). Há 136 municípios dependendo de carros-pipa para atender perto de um milhão de pessoas. Em algumas cidades as escolas dependem do socorro de vizinhos.

Os investimentos feitos na região mostraram-se insuficientes para enfrentar uma calamidade natural que, segundo os meteorologistas, tende a se agravar. Estima-se que as chuvas deste ano serão poucas.

A mais vistosa ação do governo federal tem sido um filme de um minuto que a Secom botou nas televisões da região. Nele, "Chambinho do Acordeon", feliz e sorridente, anda pela caatinga informando que "a seca sempre vai existir, mas o sertanejo vai poder se defender cada vez mais dela". Cantando louvores aos investimentos feitos pelo governo, informa que "o sertanejo é um cabra forte, só precisa de apoio, e vai ter cada vez mais".

Os sertanejos que estão sem o abastecimento de carros-pipa não precisam de propaganda. O que lhes falta é água. Esse tipo de marquetagem no meio de uma seca chega a ser deboche. Para falar sério, o aparelho de autoglorificação da doutora Dilma deveria anunciar, ao fim de cada clipe, quanto gastou na marquetagem e quantos carros-pipa ela pagaria.

Durante a seca de 1998, Lula visitou o interior do Ceará acompanhado de José Genoino, cuja família morava em Jaguaruana. Culpou a desatenção dos tucanos e prometeu rios de mel. Nas palavras de Nosso Guia: "O sofrimento do povo nordestino só vai acabar no dia que a gente tiver políticas de investimento para tornar esta terra produtiva. E essas políticas o PT tem". Qual era? "O Fernando Henrique veio ao Ceará na campanha de 1994 e prometeu transpor as águas do rio São Francisco. Mas até agora não trouxe sequer um copo de água. Ele foi mentiroso e vai mentir de novo prometendo a obra para ganhar voto". Em 2003, eleito, Lula prometeu: "Nesses quatro anos, 24 horas por dia serão dedicadas para fazer aquilo em que acredito: a transposição das águas do rio São Francisco". Ficou oito anos, a doutora Dilma juntou mais dois e depois de dez anos o "copo de água" ainda não apareceu.

A opção preferencial dos governos pela propaganda e pelos espetáculos criou um novo estilo de administração e nele o governador do Ceará, Cid Gomes, tem se revelado um talento à altura de Steven Spielberg. No ano passado, a Viúva entrou com boa parte do custo da festa de inauguração de um centro de convenções abrilhantado pelo tenor espanhol Plácido Domingo. A tertúlia custou R$ 3,1 milhões e alegrou 3.000 convidados.

Até aí tudo bem, pois de fato havia um centro de convenções. Em janeiro passado ele pagou um cachê de R$ 650 mil à cantora Ivete Sangalo para lustrar a inauguração do Hospital Regional Euclides Ferreira Gomes, em Sobral, berço político de sua família desde a Proclamação da República. Cadê o hospital? Houvera o show, o prédio estava pronto, mas não havia funcionários. Até hoje ele funciona como posto de saúde, só com consultas e raios-x. Hospital mesmo, só em maio.

Assim como a Secom poderia investir em carros-pipa o que gasta em propaganda, Cid Gomes poderia ao menos fazer a caridade de só patrocinar shows quanto tiver serviço para entregar.

PRECAUÇÃO
O chanceler Antonio Patriota trabalha com a ideia de que seu prazo de validade expira ao final do mandato da doutora Dilma.

RECORDAR É VIVER
Um curioso achou uma breve declaração de Nosso Guia num depoimento a Ronaldo Costa Couto, publicado em seu livro "História Indiscreta da Ditadura e da Abertura".

Em 1989 Lula dizia o seguinte: "E depois tem outra coisa: o medo de largar o poder. As pessoas gostam do poder. O poder é uma coisa muito filho da puta. As pessoas dizem que estão cansadas, que estão velhas, que trabalham muito, mas ninguém larga o poder. E eu acho que os militares gostaram do poder".

Os militares chegavam ao poder sem voto. Lula e seus postes ocupam-no pela vontade popular, mas nenhum general meteu-se no governo de seu sucessor nem tentou voltar à Presidência.

BOA NOTÍCIA
Se Deus é brasileiro, a Comissão da Verdade trabalhará em silêncio.

Seu último surto exibicionista só ocorreu porque decidiu-se evitar a renúncia pública de um de seus membros.

PALPITE

Um conhecedor da política do Vaticano capaz de dizer, há seis meses, que Bento 16 poderia renunciar, terminou a semana esperançoso.

O cardeal Oscar Maradiaga, de Honduras, entrou na lista dos dez favoritos em duas bolsas de apostas. Isso não quer dizer nada, mas, para quem se entristeceu durante o pontificado de Joseph Ratzinger, permite ao menos algumas semanas de torcida.

JOESLEY DA JBS-FRIBOI E WARREN BUFFETT

Outro dia o empresário Joesley Batista, controlador do grupo JBS-Friboi, disse que pretende transformar sua empresa numa similar da Berkshire Hathaway, do americano Warren Buffett, um dos homens mais ricos do mundo, com US$ 46 bilhões no cofrinho.

Associado a executivos bilionários brasileiros, o "mago de Omaha" acaba de oferecer US$ 24 bilhões pela fabricante de molhos Heinz, a mais famosa marca do gênero no mundo. Se o doutor Joesley quer seguir o caminho de Buffett, alguém precisa aconselhá-lo a conhecer a vida de seu modelo.

Em outubro passado, ao casar-se, ele jogou uma bolsa Chanel para as convidadas. Já o bilionário Buffett comprou o anel de casamento de sua segunda mulher numa loja que lhe dava direito a desconto, fez uma cerimônia de 15 minutos e foi jantar num restaurante.

Joesley colocou na presidência do conselho consultivo da FBS o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles. Com Buffett ocorre o contrário, são os presidentes dos Estados Unidos e do Fed que se aconselham com ele. Tomando dinheiro emprestado no BNDES, a JBS deu-lhe um prejuízo escritural de R$ 2,2 bilhões. Buffett não tem BNDES a quem pedir dinheiro e na crise de 2008 socorreu o banco Goldman Sachs, investindo nele US$ 5 bilhões. Parece ter ganho um bom dinheiro.

Em 2012 o grupo JBS doou R$ 16 milhões a partidos políticos numa eleição municipal. Aos 82 anos, Buffett nunca desembolsou semelhante quantia no patrocínio de políticos, mas assumiu o compromisso de doar metade de sua fortuna para atividades sociais.

Fonte: O Globo

Paulinho da Viola - Argumento

Lagoa – Carlos Drummond de Andrade

Eu não vi o mar.
Não sei se o mar é bonito,
não sei se ele é bravo.
O mar não me importa.

Eu vi a lagoa.
A lagoa, sim.
A lagoa é grande
E calma também.

Na chuva de cores
da tarde que explode
a lagoa brilha
a lagoa se pinta
de todas as cores.
Eu não vi o mar.Eu vi a lagoa...