segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Lula faz discurso por união: ‘Não existem dois Brasis’ (30.10.22)

Veja a íntegra do discurso de Lula:

Meus amigos e minhas amigas.

Chegamos ao final de uma das mais importantes eleições da nossa história. Uma eleição que colocou frente a frente dois projetos opostos de país, e que hoje tem um único e grande vencedor: o povo brasileiro.

Esta não é uma vitória minha, nem do PT, nem dos partidos que me apoiaram nessa campanha. É a vitória de um imenso movimento democrático que se formou, acima dos partidos políticos, dos interesses pessoais e das ideologias, para que a democracia saísse vencedora.

Neste 30 de outubro histórico, a maioria do povo brasileiro deixou bem claro que deseja mais – e não menos democracia.

Deseja mais – e não menos inclusão social e oportunidades para todos. Deseja mais – e não menos respeito e entendimento entre os brasileiros. Em suma, deseja mais – e não menos liberdade, igualdade e fraternidade em nosso país.

O povo brasileiro mostrou hoje que deseja mais do que exercer o direito sagrado de escolher quem vai governar a sua vida. Ele quer participar ativamente das decisões do governo.

O povo brasileiro mostrou hoje que deseja mais do que o direito de apenas protestar que está com fome, que não há emprego, que o seu salário é insuficiente para viver com dignidade, que não tem acesso a saúde e educação, que lhe falta um teto para viver e criar seus filhos em segurança, que não há nenhuma perspectiva de futuro.

O povo brasileiro quer viver bem, comer bem, morar bem. Quer um bom emprego, um salário reajustado sempre acima da inflação, quer ter saúde e educação públicas de qualidade.

Quer liberdade religiosa. Quer livros em vez de armas. Quer ir ao teatro, ver cinema, ter acesso a todos os bens culturais, porque a cultura alimenta nossa alma.

O povo brasileiro quer ter de volta a esperança.

É assim que eu entendo a democracia. Não apenas como uma palavra bonita inscrita na Lei, mas como algo palpável, que sentimos na pele, e que podemos construir no dia-dia.

Foi essa democracia, no sentido mais amplo do termo, que o povo brasileiro escolheu hoje nas urnas. Foi com essa democracia – real, concreta – que nós assumimos o compromisso ao longo de toda a nossa campanha.

Fernando Gabeira - Brasil respira de novo com o fim da era Bolsonaro

O Globo

Hoje é dia de celebrar em nome dos povos originários, que seriam destruídos com a sequência da política bolsonarista

Chegou ao fim a era Jair Bolsonaro. Não nos esperam um jardim florido, um amanhã que canta; pelo contrário, há muitas pedras no caminho.

Mas hoje é dia de celebrar em nome de muita coisa. Da floresta, dos povos originários, que seriam destruídos sem piedade com a sequência da política bolsonarista. Da humanidade que, diante da possibilidade de proteção da Amazônia, respira um pouco mais aliviada tendo em vista a ameaça das mudanças climáticas.

Celebrar em nome das crianças brasileiras que terão a oportunidade de um mutirão pelo ensino, depois da tempestade perfeita: pandemia e uma sequência de incompetentes ministros da Educação.

Celebrar pela paz, uma vez que é possível reverter a política que inundou o país de armas e transformou a sala de jantar de bolsonaristas como Roberto Jefferson num arsenal de fuzis e granadas.

Bernardo Mello Franco - Nova chance a Lula e à democracia

O Globo

Presidente eleito dá mais uma volta por cima em trajetória marcada por dramas e superação: “Tentaram me enterrar vivo e eu estou aqui”, desabafou

Antes de começar a leitura do discurso da vitória, Lula fez um breve comentário de improviso. Disse se considerar um cidadão que ressuscitou. “Tentaram me enterrar vivo e eu estou aqui”, desabafou.

Sua eleição para o terceiro mandato, feito inédito na história do Brasil, representa mais uma volta por cima numa trajetória marcada por dramas e superação.

Lula deixou o Planalto com popularidade recorde. Era aprovado por nada menos que 87% da população. Emplacou a sucessora para mais dois mandatos. Seu lugar no olimpo parecia garantido — até que veio a Operação Lava-Jato.

A investigação desgastou o PT e abriu caminho para o impeachment de Dilma Rousseff, a herdeira ungida por Lula. Mas seu verdadeiro alvo era o ex-presidente, alvo de uma caçada que culminou em sua prisão, em abril de 2018.

Acusado de corrupção, Lula passou 580 dias na cadeia. Teve os direitos políticos cassados. Foi submetido a um processo de linchamento moral. Perdeu a mulher, um irmão e um neto de 7 anos.

Ascânio Seleme - O país muda para melhor

O Globo

O Brasil, portanto, pode comemorar, não a vitória de Lula, mas a derrota de Bolsonaro

A eleição de Lula muda o Brasil. Embora a polarização prossiga, já que a eleição foi a mais apertada da história, o enfoque de onde emana o poder será absolutamente distinto do que vemos hoje. Não haverá, sob Lula, um gabinete de ódio. Não haverá ataques aos STF e aos seus ministros. Não veremos o presidente eleito gritando contra jornalistas, ultrajando o país com asneiras e ameaças golpistas. Esse é o principal mérito da vitória de Lula. Muda o país para melhor.

Lula vai agora formar um governo que, sem qualquer sombra de dúvida, será composto por quadros muito mais qualificados dos de Bolsonaro. Haverá uma preocupação óbvia de administrar bem a grande coligação que venceu a eleição juntamente com o presidente eleito. Distribuir poder é uma das qualidades de Lula. Saber negociar e ceder também é parte importante do seu currículo político.

Merval Pereira - Muito além do PT

O Globo

Lula terá de fazer um governo capaz de atrair uma parte da população que, não sendo de extrema-direita, votou em Bolsonaro por um sentimento de antipetismo

O desfecho da eleição presidencial, com a vitória apertada do ex-presidente Lula, demonstra que o esforço para que se formasse uma frente ampla a favor da democracia era fundamental para que superássemos o perigo da continuidade de um projeto autoritário de poder que provocou o retrocesso do país em pontos fundamentais.

Com um Congresso de centro-direita, governadores dos três principais estados na oposição — Zema em Minas, Tarcísio em São Paulo e Cláudio Castro no Rio — e um país claramente cindido, o presidente eleito terá que montar um governo muito além do PT para atrair setores que, não sendo de extrema-direita, votaram em Bolsonaro por um antipetismo que só poderá ser superado se o novo governo der mostras de que veio para unir o país, e não para repetir erros do passado, nem usar o poder do governo para uma revanche política.

Míriam Leitão - Instituições e mundo blindaram o Brasil

O Globo

Em movimento antes nunca visto, autoridades se apressaram em parabenizar Lula pela eleição à presidência

As instituições brindaram os resultados das urnas e o mundo também legitimou as eleições do Brasil. Internamente, o movimento aconteceu rapidamente com Arthur Lira, presidente da Câmara, reconhecendo o resultado. Depois, a presidente do STF, Rosa Weber, e o ministro Alexandre de Moraes fizeram um pronunciamento, com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, ao lado.

Aliás, Pacheco foi muito elogiado pelo presidente do TSE, dizendo que ele nunca titubeou e sempre foi um defensor das urnas eletrônicas em meio a todos os ataques.

Externamente, o mundo abraçou o Brasil. Foi impressionante, nunca vi algo tão rápido, uma sucessão de declarações de autoridades de todos os países, dos Estados Unidos a China, dos mais variados continentes e tipo de governo, congratulando o Brasil e o presidente Lula. E não ficou só na fala: a Noruega anunciou que vai liberar a verba do Fundo Amazônia para o combate ao desmatamento, interrompido em 2019.

Demétrio Magnoli - Caminho de volta

O Globo

Instituições resistiram à extrema direita, mas saíram chamuscadas

 ‘Acabou chorare’, mas não ‘ficou tudo lindo’, como escreveu o genial Luiz Galvão, meio século atrás. O triunfo de Lula assinala a primeira derrota de um presidente que tentava um novo mandato desde a instituição da reeleição. Bolsonaro perdeu, como Trump, mas o bolsonarismo segue entre nós e forma uma nuvem escura sobre a democracia brasileira. O presidente eleito recebeu da maioria um mandato para restaurar a plena vida democrática nacional na esfera das instituições e, também, na das relações sociais e interpessoais.

Lula e seu partido nunca declararam uma cisão completa com as tiranias de esquerda. O castrismo, Chávez e Maduro, Daniel Ortega — uma parte da alma lulista continua a adorar as estátuas antigas. Contudo, fundamentalmente, o lulismo pertence à democracia brasileira. Nesse ponto, crucial, é um antípoda do bolsonarismo. Assim, faz sentido esperar o engajamento do terceiro governo Lula na restauração institucional da democracia.

As instituições resistiram ao assalto da extrema direita — mas saíram chamuscadas do embate. O Congresso trocou seu poder legítimo, de legislar e fiscalizar o Executivo, pela prerrogativa ilegítima de desviar larga parcela dos recursos públicos por meio do “orçamento secreto”. Terá Lula a ousadia de mobilizar o capital eleitoral acumulado para formar uma maioria parlamentar disposta a derrubá-lo?

Vera Magalhães - Um país a reconstruir

O Globo

Discurso da vitória de Lula mostra que ele entendeu o tamanho do desafio que terá em seu inédito terceiro governo

Luiz Inácio Lula da Silva recebeu de pouco mais de 60 milhões de brasileiros uma chance inédita: a de governar o Brasil pelo voto pela terceira vez, com um intervalo de 20 anos entre a primeira e a terceira. “Vivi um processo de ressurreição, porque tentaram me enterrar vivo”, disse, conferindo um tom épico à conquista deste domingo.

No mesmo discurso, aliás irrepreensível e de elevada dimensão histórica, ele deixou claro que entendeu o recado das urnas: foi escolhido, por pouco, para governar um país profundamente dividido, angustiado, raivoso e desconfiado.

Sua fala mostra que ele tem plena ciência do tamanho e da dificuldade do desafio, imensamente maiores que as de um 2002 no qual Jair Bolsonaro era apenas um deputado do baixo clero, não havia a estridência política e a radicalização impulsionadas pelas redes sociais e pelos algoritmos e seu antecessor era um estadista como Fernando Henrique Cardoso, que fez uma transição republicana.

Luiz Carlos Azedo - Ninguém enfrentará os novos desafios sozinho

Correio Braziliense

Os grandes problemas nacionais são objetivos, estão na esfera da realidade, impactada pela globalização, pelas novas tecnologias, pelas novas formas de produção, pelos novos laços sociais

Dono de um inédito terceiro mandato, com 59.563.912 votos (50,83% dos votos válidos), contra 57.675.427 votos (49,17% dos votos válidos) de Jair Bolsonaro (PL), o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva tem diante de si um desafio muito, mas muito maior mesmo, do que aquele que enfrentou ao ser eleito pela primeira vez, em 2002. Naquela época, seu governo sinalizava avanço no combate à pobreza, num ambiente saudável de reorganização da vida institucional e econômica do país, que herdou do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Agora, não. Está diante de uma ruptura com as políticas de governo em curso, protagonizada pelo reacionarismo do atual presidente, que é o primeiro a não se reeleger, desde 1998, quando foi instituída a reeleição.

A vitória de Lula foi muito apertada, obtida às 19h56 de ontem, quando 98,91% das urnas já estavam apuradas e era impossível reverter o resultado, apurados 117.305.567 votos válidos. Foram registrados 1.751.415 votos brancos (1,43%) e 3.889.466 votos nulos (3,16%). A abstenção chegou a 20,90%. Destaca-se a atuação do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, que matou no peito toda a turbulência do dia da votação, sobretudo a atuação de setores das forças policiais com claro propósito de dificultar o acesso às urnas da população mais propensa à votar no petista. No final do dia, minimizou as ocorrências e proclamou o resultado oficial.

Entrevista | Octavio Amorim Neto: Lula terá que inventar ‘nova fórmula’

Cientista político sugere que petista expanda a frente democrática que o apoiou e faça ampla coalização

Por Marli Olmos / Valor Econômico

O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, terá que “inventar uma nova fórmula” de governo, que precisa ser diferente daquela que usou nos mandatos anteriores, segundo o cientista político Octavio Amorim Neto. Ele sugere que o petista expanda a política de frente democrática que o apoiou na campanha eleitoral e faça um governo de ampla coalizão.

Doutor em ciência política pela Universidade da Califórnia e professor titular da Escola de Administração Pública e de Empresas (Ebape), da Fundação Getulio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro, Amorim diz que Lula “vai ter que ousar fazer um governo mais baseado em acordos programáticos do que pragmáticos”. Essa seria também, diz, a melhor resposta às acusações de corrupção que o cercam.

Amorim recorda a eleição de Tancredo Neves, em janeiro de 1985, precedida por uma grande frente democrática. “Lula terá que mudar o nome para Luiz Inácio Neves da Silva se quiser governar de forma minimamente efetiva e enfrentar a nossa poderosa extrema-direita”. Com isso, diz, o eleito patrocinaria o fortalecimento de um partido de centro-direita democrático para dividir a direita e, assim, combater a extrema-direita do bolsonarismo, “uma força que só se interessa pela polarização”.

Lula, diz Amorim, herda uma democracia “degradada”, com direitos e políticas públicas fundamentais “corroídos e deteriorados”. Para o professor, todo o planeta está de olho no resultado desta eleição porque “a democracia está em recesso no mundo”. 

A seguir os principais pontos da entrevista ao Valor:

Bruno Carazza* - O retorno da fênix, mas pode ser o canto do cisne

Valor Econômico

Vitória apertada de Lula é alerta para o PT

A festa foi bonita. Para além de derrotar Jair Bolsonaro, a vitória de Lula representa o ressurgir das cinzas da fênix do PT, depois de tudo o que o partido e seu principal líder passaram nos últimos anos.

Para entender este momento, na última semana eu mergulhei na leitura de “PT, uma história”, livro recém-lançado pelo sociólogo e colunista Celso Rocha de Barros.

Minha intenção era tentar compreender a estratégia da campanha de Lula e do PT neste segundo turno e descobrir por que, numa eleição tão disputada, havia tanta resistência dos petistas em anunciar nomes para um eventual governo ou em tomar posições mais ao centro.

Após a leitura, saí com uma compreensão melhor da alma petista - e, como bônus, tenho melhores condições de antever os dilemas que o novo governo Lula enfrentará.

No dia 2 de junho de 1979 houve uma reunião no Hotel Pampas, em São Bernardo do Campo, onde se reuniram parlamentares do velho MDB que fazia oposição à ditadura, lideranças sindicais e intelectuais. FHC e Lula estavam lá, assim como muitos dos políticos que criariam o PT e o PSDB no futuro.

Sergio Lamucci - A hora da verdade para as contas públicas

Valor Econômico

Os sinais sobre política fiscal do presidente eleito serão decisivos nas próximas semanas

Passada a eleição, o momento das promessas mirabolantes ficou para trás. Em 2023, o próximo presidente vai enfrentar um cenário complexo. A economia brasileira deverá perder fôlego, pela combinação do efeito do forte ciclo de alta de juros e da desaceleração - ou recessão - global. Com isso, o PIB tende a avançar entre 0,5% e 1% no ano que vem, depois de crescer entre 2,5% e 3% neste ano. Para lidar com esse ambiente mais hostil e de expansão mais fraca da arrecadação, será fundamental definir com clareza como será a condução das contas públicas. Os sinais emitidos nas próximas semanas já serão importantes para reduzir ou ampliar as incertezas em relação à política fiscal. O novo governo terá de definir o tamanho da licença para gastos extras em 2023 e o desenho da nova regra fiscal, que deverá substituir ou remendar o teto de gastos.

Celso Rocha de Barros - Brasil votou como Ulysses Guimarães

Folha de S. Paulo

Brasil votou como um país que merece ter Ulysses Guimarães entre os fundadores de sua democracia

Com sua terceira vitória, Luiz Inácio Lula da Silva se consagra como maior vencedor de eleições presidenciais da história do Brasil. Lula também é o primeiro candidato a vencer um presidente em exercício, na eleição em que a máquina pública, do orçamento até a polícia rodoviária federal, foi aparelhada da forma mais vergonhosa da história.

Sua aliança com Alckmin foi a manobra política mais ousada da história de nossas eleições presidenciais, e deu certo. Qualquer outro presidenciável teria levado a virada de Bolsonaro quando o auxílio de 600 reais foi aprovado: Lula não levou porque seus governos anteriores lhe deram um imenso capital de credibilidade junto aos eleitores pobres. Enfim, é hora de a elite brasileira admitir que o maior talento político da Nova República nasceu pobre.

Seria, entretanto, errado atribuir o sucesso de Lula apenas a suas características pessoais.

Marcus André Melo* - República, Democracia, Parlamento: Lideranças parlamentares fazem falta hoje

Folha de S. Paulo

Legado institucional de um país é importante preditor da qualidade institucional futura

Ao saber da Proclamação da República no Brasil, Rojas Paúl, então presidente da Venezuela exclamou: "Foi-se a única república da América do Sul". Paradoxo? Não! Quando se fala por aqui de venezuelização, observamos grande desconhecimento da história.

Para ficarmos apenas na questão da liberdade de expressão — que é central na agenda pública atual — provavelmente o Brasil seria o país onde ela era mais efetiva na região. Joaquim Nabuco não exagerava quando disse que dom Pedro 2º era orgulhoso de sua própria tolerância. Paúl tinha isto em mente quando fez aquela declaração; e também o funcionamento ininterrupto do Parlamento imperial desde sua instalação.

Igor Gielow - Bolsonarismo sem Bolsonaro já é palco de disputa

Folha de S. Paulo

Forças lideradas pelo presidente desde 2018 se consolidam no cenário político nacional

Rei morto, rei posto? Como tudo que se refere à ascensão e queda de Jair Bolsonaro (PL), previsões muito assertivas são sujeitas a escrutínio prévio inevitável. Isso dito, sua derrota apertada para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) gera duas certezas imediatas.

Primeiro, que serão dias, semanas ou talvez meses em que o golpismo decantado pelo presidente ao longo de seus quase quatro anos no cargo ganhará primazia no noticiário. Bolsonaro sempre teve como ídolo Donald Trump, sem esconder.

O ex-presidente americano, como se sabe, escreveu um roteiro pronto de sedição quando levou seus apoiadores a investir contra o Capitólio de Washington, em 6 de janeiro do ano passado, após um mês e meio de contestação da vitória de Joe Biden.

Bruno Boghossian - Força de Lula e aliança contra Bolsonaro foram soma decisiva da eleição

Folha de S. Paulo

Presidente preserva força, mas petista une popularidade, plataforma e decisão de punir o governo

Em 2018, os brasileiros foram às urnas em busca de ruptura e elegeram Jair Bolsonaro (PL) com 57 milhões de votos. Quatro anos depois, praticamente o mesmo contingente de eleitores tentou dar um segundo mandato ao presidente. Mas outra coalizão, mais numerosa, levou o país a um rumo diferente.

A vitória de Lula (PT) é resultado da soma de forças que marcaram a disputa: a decisão de devolver ao poder um dos nomes mais populares do país e a punição ao primeiro líder incapaz de alcançar a reeleição.

Nenhuma delas foi absoluta. Lula teve de amortecer um antipetismo que fincou raízes no ambiente eleitoral brasileiro e foi potencializado pela campanha rival. Bolsonaro mostrou vigor e explorou a máquina pública de maneira inédita para aglutinar um eleitorado que fez vista grossa a um governo desastroso.

Eliane Cantanhêde - É hora de conciliação e de petistas e bolsonaristas voltarem a ser apenas brasileiros

O Estado de S. Paulo

Eleições e governos vêm e vão, mas as prioridades do País continuam: democracia, igualdade, justiça e dignidade

eleição foi muito tensa e acabou bem apertada, mas é hora de conciliação, de pacificar o país, acalmar os ânimos e arregaçar as mangas para aquecer a economia, com inclusão social e bem-estar geral, ouvindo o clamor do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva pela união do Brasil.

“Quero que famílias e vizinhos voltem a conversar. Pode ser bolsonarista e lulista, não pode mexer com nossa relação pessoal, familiar. Meu compromisso é com a harmonia na sociedade brasileira”, disse Lula ao votar, antes de o País saber da ação nefasta da PRF, nitidamente para dificultar o voto de eleitores lulistas.

A manifestação dele, além de revelar certeza na vitória, é um apelo para a união nacional, com um governo muito além do PT (gostem ou não os petistas radicais) e remete para a minha experiência no primeiro turno. Num bairro e num DF onde Jair Bolsonaro foi majoritário, um bolsonarista, sabendo que eu tinha de correr para o aeroporto e para o Rio, para uma cobertura difícil, até de madrugada, articulou para eu passar na frente. Bolsonaristas e petistas, unidos num gesto de gentileza e fraternidade. Foi emocionante. Esse é nosso Brasil, generoso, miscigenado, acolhedor.

Carlos Pereira* - Ufa... A democracia foi salva!

O Estado de S. Paulo

O ‘salvador’ da democracia brasileira são suas sofisticadas instituições políticas

Escrevo do avião, em direção a Paris, onde vou viver pelos próximos seis meses como professor visitante da Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne. Com a vitória de Lula em uma das mais competitivas eleições da história e a derrota de Bolsonaro, espera-se que finalmente acabe a ladainha delirante de que a democracia brasileira está sob risco. Afinal de contas, o “democrata” venceu e a nossa democracia foi salva, supostamente...ufa...por puro lance de sorte!

É bem possível que ainda persistam pesadelos persecutórios de que o “bolsonarismo” não morreu mesmo com a derrota eleitoral de seu líder. Mas esses tendem a se diluir, assim como se diluiu a crença de “golpe” atribuída ao impeachment de Dilma.

Desde a eleição surpreendente de um típico populista de extrema direita como Bolsonaro em 2018, muitos alardearam que a nova onda de autocratização que varreu vários países do mundo a partir de 2010 (Turquia, Polônia, Venezuela, EUA são alguns exemplos) teria definitivamente se instalado no Brasil.

João Gabriel de Lima - A vitória da geração 78

O Estado de S. Paulo

O País está dividido, mas que os que vibraram e marcharam unidos pela democracia ao som de ‘Vai Passar’ inspirem nosso sistema político

Em 1978, quando o Brasil vivia sob uma ditadura que prendia, arrebentava, torturava e censurava, o professor Fernando Henrique Cardoso lançou uma candidatura de protesto. Sua campanha ao Senado Federal reuniu cantores, escritores, estrelas e astros de novelas da TV, num prenúncio da vibração festiva da democracia que estava por vir.

Chico Buarque esteve entre os artistas que apoiaram Fernando Henrique em 1978, chegando a compor o jingle da campanha. Em 1984, Chico lançou uma de suas inúmeras obras-primas: o samba-enredo “Vai Passar”, que se tornou hino da redemocratização e da campanha das Diretas-Já. Em 1985, “Vai Passar” foi o jingle de uma nova campanha de Fernando Henrique, desta vez à prefeitura de São Paulo. A letra foi adaptada: “Vai ganhar, Fernando Henrique o voto popular...” A partir de 1989, Chico Buarque se tornou um apoiador do presidente que foi eleito hoje, Luiz Inácio Lula da Silva.

Vera Rosa - Lula terá de reconciliar um país despedaçado para diminuir tensão e evitar ‘terceiro turno’

O Estado de S. Paulo

Desafio do presidente eleito será enfrentar o populismo de direita e manter unido o amplo arco de alianças que o apoiou

Vinte anos depois de ganhar pela primeira vez a eleição presidencial, em 2002, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem neste domingo, 30, a vitória mais importante de sua trajetória. O desafio, porém, será bem maior do que nos dois mandatos anteriores. Lula terá de reconciliar um país despedaçado, manter unido o amplo arco de alianças que o apoiou, entregar melhorias sociais num cenário de crise econômica e enfrentar a ascensão do populismo de direita.

Jair Bolsonaro (PL) perdeu para seu desafiante numa disputa apertada, voto a voto, mas deixa uma legião de seguidores na sociedade, além de uma bancada com musculatura política no Congresso, onde o Centrão dá as cartas mais fortalecido pelo resultado das urnas.

Lula adotou o discurso da “pacificação nacional” para restaurar a democracia. É voz corrente na esquerda, porém, que será preciso derrotar o bolsonarismo no pós-eleição.

Marcelo Godoy - Lula terá de enfrentar desmilitarização do Planalto durante transição

O Estado de S. Paulo

Uso de militares e de policiais em operações no dia da eleição mostra o tamanho do desafio do petista

A indefinição em torno da passagem do governo Jair Bolsonaro para o de Luiz Inácio Lula da Silva vai além dos nomes dos 50 integrantes que o petista poderá nomear para a equipe de transição ou do acesso às informações que eles terão nos ministérios e outros órgãos públicos. As ações da Polícia Rodoviária Federal e do Exército para fazer blitze no dia da eleição em lugares próximos aos que registraram grande votação para o petista no primeiro turno mostram o grau de politização de parte da burocracia estatal, que deveria ser apartidária, isenta e imparcial.

Se a PRF pôde justificar as blitze no Código Brasileiro de Trânsito, como o general André Luiz Novaes, comandante militar do Leste, vai justificar a presença de seus militares em cima da ponte Rio-Niterói? Petistas perguntam se havia razão para o Exército fazer o papel de guarda de trânsito. Na corporação, o general Novaes tem a fama de ser um dos mais ciosos da institucionalidade. É assim que retratam o general que fora obrigado por Jair Bolsonaro a transformar a comemoração do bicentenário da Independência em palanque eleitoral, provocando o cancelamento do desfile cívico-militar no Rio.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Lula tem uma oportunidade de redimir o Brasil

O Globo

Para isso, ele precisará agir como líder de uma frente plural, não como ungido por uma facção

A vitória de Luiz Inácio Lula da Silva é repleta de significados. Pela primeira vez, um presidente brasileiro foi eleito democraticamente para um terceiro mandato e um presidente disputando reeleição perdeu. Uma vez concluído seu novo governo, Lula terá ficado 12 anos no poder — período superado apenas por um antecessor no cargo, o ditador Getúlio Vargas. É certo que não foi a vitória folgada com que sonhavam os petistas, mesmo assim os 60,3 milhões de votos em Lula foram uma resposta enfática do eleitorado ao autoritarismo tóxico e aos desmandos contumazes do presidente Jair Bolsonaro. Vencida a disputa, Lula precisa agora reiterar por meio de atos, e não apenas de palavras como voltou a fazer ontem, que governará para todos. “O povo brasileiro quer de volta a esperança”, afirmou em seu discurso como presidente eleito. “Somos um único país, um único povo, uma grande nação. A ninguém interessa um país dividido, em estado de guerra.” Ninguém, disse ele, está acima da Constituição. Foi um bom começo.

O sucesso da campanha petista traz um motivo para otimismo e outro para preocupação. Otimismo pela possibilidade de que a aproximação do centro político que se viu na reta final do segundo turno dê um rosto mais pragmático e menos ideológico ao novo governo. Além da contribuição inestimável do vice, Geraldo Alckmin, Lula só tem a ganhar abrindo espaço a figuras como Simone Tebet ou Marina Silva. Ele disse que “não existem dois Brasis” e prometeu que não governaria apenas para o PT. Precisa cumprir a promessa.

Poesia | Aos que virão depois de nós (Bertolt Brecht)

 

Música | Sonho Estranho ( Moacyr Luz e Samba do Trabalhador. Com. Chico Alves)

 

domingo, 30 de outubro de 2022

Merval Pereira - Voto pela democracia

O Globo

Os dois candidatos têm altas taxas de rejeição popular, mas os brasileiros irão às urnas para votar a favor da democracia

A reiterada postura do presidente Bolsonaro de testar os limites de seu poder, e não gostar do que viu, deu ao ex-presidente Lula uma vantagem que não teria contra um candidato com história ligada às tradições políticas liberais a defender. A frente ampla em defesa da democracia que se formou em torno de Lula não abriu mão de suas críticas quanto à corrupção nos governos petistas, nem esqueceu o descalabro econômico iniciado em seu segundo mandato, e concluído com o desastroso governo de Dilma Rousseff.

Os sinais de alerta voltaram a se acender com a divulgação da Carta em que esboça alguns pontos de uma política econômica que ameaça repetir erros que deveriam ter ficado no passado, diante do fracasso da adoção de medidas populistas e baseadas no Estado como indutor da economia. O ato falho de Lula no debate da Globo na sexta-feira, desdenhando os empregos gerados pelos MEI (microempreendedores individuais), figura trabalhista paradoxalmente criada em seu governo para desburocratizar as relações de trabalho, explicita que ele ainda não superou uma visão sindicalista antiquada diante das mudanças trazidas pelo anseio individual de progresso independente.

Míriam Leitão - Em defesa da Constituição

O Globo

A grande questão desta campanha foi o respeito à Constituição. Bolsonaro a afrontou insistentemente durante todo o mandato

Havia cinco opções na tela do debate da Globo, e Jair Bolsonaro escolheu “Respeito à Constituição” para tentar fustigar seu adversário naquela arena. Esse foi de fato o grande tema da campanha, o que levou apoios inesperados a Lula, o que tornou a disputa mais tensa e aumentou o nível de estresse institucional. O inesperado era justamente Bolsonaro levantar essa questão que é, evidentemente, o seu ponto fraco. Na sexta-feira, Bolsonaro adicionava mais um fiasco à sua coleção de fracassos, quando o seu ministro das Comunicações, Fábio Faria, disse que se arrependia de ter participado do caso das inserções no rádio.

O caso poderia ter sido um problema menor se não fosse o propósito pelo qual ele foi levantado. A candidatura de Bolsonaro tratou como um grande escândalo um suposto erro de algumas emissoras do Nordeste na veiculação da propaganda. Mas o que se queria mesmo era transformar isso num pretexto para propor o adiamento das eleições. Um detalhe surreal da história foi estar na lista das suspeitas a rádio do próprio ministro Fábio Faria. Bolsonaro chegou a convocar os ministros e aliados na quarta-feira para defender esse adiamento, mas não obteve apoio nem interno. Seu filho Eduardo Bolsonaro foi uma das poucas vozes a defender esse ataque direto à Constituição.

Dorrit Harazim - Valeu, Brasil

O Globo

Chegamos até aqui bem mais conscientes de nossas responsabilidades do que estivemos no primeiro turno

Dias atrás, um fino estudioso da obra de Paulo Mendes Campos foi remexer na papelada do grande cronista e tradutor mineiro. Acabou tropeçando em nove estrofes de “O povo continuará”, título dado por Mendes Campos a um poema do americano Carl Sandburg, pouco conhecido por aqui. Pena, pois Sandburg (três prêmios Pulitzer) fala a todas as gentes. Hoje este espaço será intercalado por algumas estrofes do poema mencionado. Em dia de eleição e esperança, a poesia também volta a ter vez.

O povo continuará./Aprendendo ou fazendo loucuras o povo continuará./Será logrado, vendido e revendido/e voltará a mãe terra pra nutrir suas raízes./O povo é tão bizarro ao progredir e regredir,/que não podemos rir de sua capacidade de topar a parada./O mamute descansa entre seus dramas ciclônicos.

Elio Gaspari - Bial foi o melhor do debate

O Globo

Infelizmente, no último encontro os dois candidatos foram agressivos e repetitivos

Hoje as urnas falarão. Infelizmente, no último debate os dois candidatos foram agressivos e repetitivos. É verdade que, sendo repetitivo, Lula falava do seu governo, tinha um acervo que falta a Bolsonaro. Houve uma pandemia, mas sua conduta não o credencia. Bolsonaro falava do seu governo e instalou-se na crítica que o beneficiou em 2018. Ambos diziam que o outro é mentiroso. Como disse Bolsonaro, “chegamos a um impasse aqui”. Quem ficou preso no impasse foi o eleitor.

As únicas propostas transmitidas durante as duas horas do debate vieram nos comerciais, com Pedro Bial pedindo doações para os refugiados das Nações Unidas, contando a história da menina Ana. Além dele, o Programa Médicos sem Fronteiras, pedia doações de R$ 30 mensais.

Bernardo Mello Franco - Uma escolha existencial

O Globo

Atrás de Lula nas pesquisas, Bolsonaro chega ao dia da eleição com os nervos à flor da pele

Jair Bolsonaro chega ao dia da eleição com os nervos à flor da pele. Até hoje, nenhum presidente brasileiro fracassou ao tentar o segundo mandato. Para quem diz não acreditar em pesquisas, ele parece atormentado com o risco de quebrar a escrita.

Na semana decisiva, a tensão presidencial só aumentou. Na quinta-feira, Bolsonaro se destemperou em comício na Zona Oeste do Rio. Aos gritos, chamou o prefeito Eduardo Paes, que apoia seu adversário, de “vagabundo” e “mal-agradecido”. “Encheu os cofres da prefeitura com dinheiro nosso”, vociferou.

Os insultos combinam desinformação, patrimonialismo e falta de autocrítica. O dinheiro da União não é do presidente. Pertence ao contribuinte, e deve ser repartido com estados e municípios por dever constitucional. Além disso, o capitão não é exatamente um aficionado por trabalho. Seu expediente dura em média quatro horas por dia, interrompidas por uma soneca no gabinete.

Marina Silva* - O valor da promessa que une diferenças pela democracia

O Globo

A lógica da frente ampla pode estar mais centrada no seu objetivo maior do que num programa específico ou até no candidato

Quando a democracia está em pleno funcionamento, precisando apenas ser mantida e ampliada, as formas de defendê-la são bastante variadas. Porém, quando ela está visivelmente ameaçada, e sobretudo quando ela depende do voto que está em nossas mãos, ou a defendemos por esse meio ou não a estaremos defendendo em nada.

Na normalidade democrática, o povo mobiliza-se para eleger um candidato, um partido, um programa. Em situações evidentes de possível ruptura institucional, a parte da sociedade identificada e comprometida com a manutenção das estruturas democráticas se move para tornar vitorioso um candidato que se comprometa, antes de tudo, a manter plenamente o regime democrático.

Luiz Carlos Azedo - Na escolha de destino, o povo fará a sua parte

Correio Braziliense

Ao fazer suas escolhas, entre o ex-presidente Lula e o presidente Bolsonaro, os eleitores estão cumprindo o seu dever. O por fazer depende das instituições e de quem for eleito

Hoje teremos o segundo turno das eleições, com 156 milhões de eleitores aptos a votarem. A grande incógnita da disputa é o comportamento dos que não votaram no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e no presidente Jair Bolsonaro (PL) no primeiro turno, que receberam 57.259.504 (48,4%) e 51.072.345 (43,2%) dos votos, respectivamente. Aproximadamente 10 milhões de eleitores votaram nos demais candidatos — principalmente Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT), que obtiveram 4,22% e 3,06% dos votos válidos. Por gravidade, haveria uma distribuição proporcional entre os dois candidatos, mas não é assim que as eleições funcionam.

As pesquisas mais recentes mostram a repetição de um fenômeno ocorrido no primeiro turno: uma reação dos eleitores antipetistas contra o favoritismo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que está provocando um empate técnico entre ambos, embora Lula permaneça sendo o favorito. Como não existe o mesmo fator surpresa do primeiro turno a favor de Bolsonaro, pode ser que isso resulte também no aumento do comparecimento dos eleitores que rejeitam o presidente da República e não votaram no primeiro turno. Ou seja, a eleição é imprevisível. Tudo vai depender do percentual de abstenções.

Cristovam Buarque* - O aval da Simone

Blog do Noblat / Metrópoles

Lula chega na frente graças a seu carisma pessoal, às lembranças das boas ações do seu governo, mas muito ao aval de Simone Tebet

O Brasil atravessou 2022 dividido em três partes: os obstinados por Lula ou por Bolsonaro, e uma terceira via democrata, mas antipetista. Alguns poucos críticos ao PT se manifestaram em defesa de uma unidade com o Lula. Temiam que o histórico isolamento deste partido impedisse os apoios necessários para derrotar Bolsonaro; e também que o primeiro turno provocasse disputas tão acirradas entre os democratas, que o apoio ao Lula no segundo turno ficasse difícil. Ciro foi prova de que este temor se justificava. Lula teve o bom senso de atrair Alckmin para sua chapa; apesar disto, a campanha continuou como disputa entre o PT e Bolsonaro, não entre o Brasil e o abismo bolsonarista.

Entrevista | Bolívar Lamounier: ‘A sociedade hoje está dividida de alto a baixo’

Cientista político e autor de obras como ‘Os partidos e as eleições no Brasil’ e ‘Tribunos, profetas e sacerdotes’

Uma sociedade dividida, com polarização sem precedentes na história

Eduardo Kattah,e Marcelo Godoy / O Estado de S. Paulo.

“Não havia tanto rancor na sociedade. Hoje, tem famílias que não se falam mais por razões políticas.” “Estamos perdendo a segunda década com o nosso melhor ativo: apesar da desigualdade, não tínhamos grandes violências. Hoje, temos a do crime organizado e um começo de violência política se esboçando.” “Nosso destino, se não revolucionarmos o País no bom sentido da educação, vai ser uma tragédia.”

O cientista político Bolívar Lamounier afirma que a divisão atual da sociedade não tem precedente em nossa história. “Esta crise é muito mais perigosa e pode levar a um período razoavelmente longo de conflito.” Ele conclui que o País está diante de uma segunda década perdida. “O que vamos ter, a partir do segundo turno, são duas massas antagônicas muito fortes.” 

A seguir, trechos de sua entrevista: