sábado, 8 de junho de 2013

OPINIÃO DO DIA – Ruy Castro: fritar bolinhos?

É preciso jogar-se à vida. Falo do passado, mas sem saudade nenhuma, como se ele fosse melhor. Ele foi tão bom que nem percebia, porque estava ocupado vivendo. Mas a vida é hoje. Não estamos aqui para fritar bolinhos.

Ruy Castro, jornalista e escritor, in “Confissões de Ruy”. Segundo Caderno / O Globo, 7/6/2013

Manchetes de alguns dos principais jornais em circulação

O GLOBO
Tensão fundiária: Embrapa acusa Funai de demarcar terra sem índio
Brasil com viés de baixa: Risco maior afeta mais as estatais
Inflação sobe 0,37% em maio e volta a bater no teto da meta
Rumo às Copas: Engenhão só volta em um ano e meio

FOLHA DE S. PAULO
Obama defende vigiar usuários de internet e ligações
Inflação perde força em maio e tem a menor alta em um ano
Presidência torna sigilosos dados sobre as viagens de Dilma Rousseff
Manifestantes causam medo, param marginal e picham ônibus

O ESTADO DE S. PAULO
Haddad pedirá ajuda a Dilma
Nota de agência faz Bolsa cair ao menor nível desde 2011
Barroso preferiria ir para o STF após o mensalão
MPF investiga negócio feito pela Petrobrás

ESTADO DE MINAS
Cofins em obras por mais de 30 anos
TRF de Minas não deve ser questionado
Força-tarefa da Copa entra em campo

O TEMPO (MG)
Após frequentes manifestações, presidente da Funai deixa o cargo
Manifestantes bloqueiam Marginal Pinheiros e entram em confronto com a PM
Preços públicos pesarão mais
"Não estou indo para o STF para julgar o mensalão"

CORREIO BRAZILIENSE
Obama diz que terror justifica "Big Brother"
Índios: Presidente da Funai sai em meio à crise

GAZETA DO POVO (PR)
EUA admitem espionar dados de estrangeiros na internet
Móveis pesam no bolso do consumidor
Em meio à crise, Funai fica sem presidente
CNJ vai notificar 3 tribunais do PR que se recusam a divulgar salários
Requião receberá aposentadoria de ex-governador
OEA aceita rever enfoque sobre drogas

ZERO HORA (RS)
Após alerta de agência de risco, bolsa cai e dólar tem nova alta
Tarifa de ônibus: SP vive segunda noite de protestos
Inflação deve ultrapassar meta do governo neste mês

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Governos brigam e rodovia afunda
Inflação deve superar meta oficial este mês
Enem confirma 7,17 milhões de feras inscritos
Crise provoca renúncia da presidente da Funai

O que pensa a mídia - editoriais de alguns dos principais jornais em circulação

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Tensão fundiária: Embrapa acusa Funai de demarcar terra sem índio

Texto enviado ao Planalto diz também que indígenas paraguaios ocuparam áreas no Paraná.

Houve aumento de 168% no número de assassinatos de índios nos dez anos dos governos Lula e Dilma em comparação com a gestão de Fernando Henrique, afirma estudo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

Um relatório entregue pela Embrapa à Casa Civil da Presidência informa que não existem índios em pelo menos quatro áreas indicadas pela Funai como territórios indígenas nos municípios de Guaíra e Terra Roxa, no Paraná, onde há risco de conflitos como os de Mato Grosso do Sul. O documento diz também que índios vindos do Paraguai estariam ocupando terras no Paraná. As informações da Embrapa levaram o governo a mudar as regras de demarcação de áreas indígenas. Embrapa, Incra e outros órgãos serão ouvidos num assunto que, até agora, ficava a cargo exclusivo da Funai.

Terra indígena sem índios

Em relatório, Embrapa questiona dados da Funai em processos de demarcação no Paraná

Jailton de Carvalho

BRASÍLIA - Um relatório da Empresa Brasileira de Produção Agropecuária (Embrapa) põe em xeque dados usados pela Funai em estudos para a demarcação de terras indígenas nos municípios de Guaíra e Terra Roxa, no Paraná. O documento informa que não existem índios em pelo menos quatro áreas indicadas pela Funai como território indígena. A Embrapa também informou à Casa Civil da Presidência que índios vindos do Paraguai estariam ocupando terras no Paraná, em busca de demarcação de território próprio.

As informações da Embrapa ajudaram a embasar a decisão do governo de mudar as regras de demarcação de terras indígenas. A partir de agora, por decisão do Planalto, serão abertas consultas à Embrapa, ao Incra e a outras áreas do governo antes da definição dos decretos de demarcação de áreas indígenas, que antes ficavam a cargo exclusivo da Funai.

Guaíra e Terra Roxa são, hoje, palco de intensas disputas de terras entre índios e fazendeiros, e os conflitos são parecidos com os de Sidrolândia (MS), epicentro de uma das mais graves crises indígenas na História recente do país.

Índios e fazendeiros medem força na Justiça Federal pela posse de 15 áreas em Guaíra e Terra Roxa, quatro delas em áreas urbanas. As duas cidades estão na faixa de fronteira com o Paraguai e próximas ao lago da hidrelétrica de Itaipu. Estudos preliminares da Funai, que dariam base a futuras demarcações, sustentam que as áreas em disputa pertencem aos índios. Mas o relatório encaminhado pela Embrapa à Casa Civil informa que em quatro áreas reivindicadas pela Funai como áreas indígenas não existem tribos.

Em um quadro para exibição em Powerpoint, a Embrapa pergunta: "Hoje há indígenas no local?". Na mesma página, o autor do documento responde que não existem índios em quatro áreas.

Ocupação indígena a partir de 2007

No documento, a Embrapa informa, ainda, que dez áreas foram ocupadas por índios a partir de 2007. As conclusões da empresa ligada ao Ministério da Agricultura estão amparadas em imagens históricas de satélite. As imagens mostram o avanço da ocupação humana na região a cada ano. As áreas reivindicadas pelos índios estão cercadas de plantações.

Os dados sobre a entrada de índios paraguaios em Guaíra e Terra Roxa foram levantadas por servidores da Embrapa em viagens à região, segundo uma fonte do Palácio do Planalto. Quando recebeu a informação, a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, teria dito que o país já tem problemas demais para resolver relacionados aos índios brasileiros, e que não seria justo se responsabilizar também por dificuldades dos índios de outro país.

O prefeito de Guaíra, Fabian Vendruscolo (PT), reforçou a acusação sobre a suposta invasão de índios paraguaios. Segundo ele, índios começaram a chegar à região há menos de dez anos. Em 2006, 50 índios reivindicavam duas áreas na cidade. Agora, o município já tem 800 índios, que disputam posse de oito áreas. Guaíra e Terra Roxa são celeiros agrícolas e têm algumas das terras mais valorizadas do Paraná.

- Em 2006, começaram a vir para cá índios de Mato Grosso do Sul, do Paraguai e de outras regiões do Paraná. A maioria dos índios vem de Mato Grosso do Sul. Mas muitos vêm do Paraguai. Nós somos da fronteira. Nós sabemos quais são os índios daqui e quais não são - disse Vendruscolo.

Segundo ele, a situação é tensa e, se não houver rápida intervenção do governo federal, são altos os riscos de confronto entre fazendeiros e índios. Ele argumenta que os proprietários rurais têm escrituras das fazendas e não vão aceitar, em hipótese alguma, perder terras para índios. Diz ainda que, na próxima sexta-feira, produtores rurais vão fechar a Ponte Ayrton Senna, no município, em protesto contra as propostas de demarcação de áreas indígenas na região. O fechamento da ponte é um dos atos de mobilização de ruralistas convocados pela Frente Parlamentar da Agropecuária da Câmara em pelo menos 14 estados, como mostrou O GLOBO ontem.

- Os produtores vão trancar as rodovias BR-163 e BR-272 e a Ponte Ayrton Senna. Se os índios resolverem fazer um protesto para se contrapor a este movimento, como é que vai ficar ? Pode haver confronto - afirmou o prefeito.

Após examinar o relatório da Embrapa mês passado, Gleisi enviou o documento para o Ministério da Justiça. Até o fim do mês, a presidente Dilma Rousseff deverá assinar um decreto para estabelecer novas regras para a definição de áreas indígenas. Para a ministra Gleisi, o confronto de posições dentro do governo evitaria futuras disputas judiciais, como tem ocorrido hoje. Procurada pelo GLOBO, a Funai não respondeu às perguntas do jornal.

Fonte: O Globo

Inflação sobe 0,37% em maio e volta a bater no teto da meta

Em 12 meses, preços subiram 6,50%. Alimentos perdem fôlego

Altas e baixas. O tomate caiu 10%, mas ainda sobe 55% no ano. A cenoura ficou 7% mais cara

Com forte desaceleração nos preços dos alimentos, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, usado nas metas do governo) fechou maio em 0,37%, informou ontem o IBGE. O resultado veio dentro das expectativas do mercado e bem abaixo dos 0,55% de abril. Foi ainda a menor taxa desde junho de ano passado. Mas, no acumulado dos últimos 12 meses, a alta chegou a 6,50% exatamente no teto da meta estabelecida pelo governo para este ano, que é de 4,5%, com tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Desde março, quando atingiu 6,59%, a taxa em 12 meses está perto do teto da meta. E analistas preveem novo estouro este mês, quando a inflação em 12 meses deve chegar a 6,70%, o pico neste tipo de comparação.

- A inflação dos últimos doze meses ficou no mesmo nível de abril, porque trocamos o IPCA de maio deste ano (0,37%) por um muito semelhante, o de maio do ano passado (0,36%). Agora, vamos substituir a taxa de 0,08%, de junho do ano passado, por uma que ainda está por vir - explica Eulina Nunes do Santos, coordenadora de Índice de Preços do IBGE.

Para junho, a previsão dos analistas do mercado é de um IPCA em torno de 0,30%. O mês começa pressionado por aumentos de tarifas públicas, como ônibus urbanos no Rio (7,27%), transporte público em São Paulo (6,75%) e água e esgoto em Belo Horizonte (5,25%).

- Ônibus do Rio e São Paulo têm peso muito grande. Esses aumentos eram para janeiro e foram adiados, mas vão pesar agora, porque não tem como esconder a inflação. Puxa para lá, puxa para cá, mas uma hora ela aparece - diz Luiz Roberto Cunha, professor da PUC-Rio.

O reajuste dos transportes públicos nas duas maiores capitais do país foi adiado após negociação do governo federal com as prefeituras. O objetivo era não pressionar a inflação no início do ano.

Segundo Cunha, o IPCA de maio veio dentro do esperado e, a não ser que algum imprevisto climático afete os preços dos alimentos, a tendência da inflação é desacelerar nos próximos meses e chegar ao fim do ano com alta entre 5,5% e 6%.

Altas menores nos preços de alimentos foram as grandes responsáveis pela mudança de tendência da inflação. Após subir 0,96% em abril, o grupo avançou 0,31% em maio, a menor variação desde março do ano passado (0,25%). Entre os motivos, estão a entrada da safra recorde de 186 milhões de toneladas de grãos e os reflexos da desoneração da cesta básica. O tomate, depois de ter sido o vilão da inflação, teve a maior contribuição negativa para o IPCA, com queda de 10,31% no mês. Mas, no ano, ainda acumula alta de 54,98%. Os alimentos com maior alta foram feijão mulatinho (16,58%) e cenoura (7,33%).

Os remédios tiveram o maior impacto de alta, com aumento de 1,61%, reflexo do reajuste autorizado pelo governo para os medicamentos controlados

O economista Fábio Romão, da consultoria LCA, diz que além dos alimentos, que vão ajudar a inflação a perder força, deve se intensificar a desaceleração dos gastos com empregados domésticos. Passagens aéreas, por outro lado, devem subir. O pico da inflação em 12 meses, portanto, será atingido em junho.

- Tivemos altas extraordinárias em agosto, setembro e outubro do ano passado, que foram afetadas por choques de oferta, como a seca americana. À medida que avançarmos ao longo do semestre, é provável que haja desaceleração na conta dos 12 meses - diz Fábio Romão.

Para ele, o câmbio é um fator que pode pressionar os preços ao consumidor até o fim do ano:

- Se o dólar mantiver o patamar de R$ 2,13, estamos falando de alta média no ano de 8%. A cada 10%, calculamos meio ponto percentual de impacto no IPCA no ano. Nas nossas projeções, isso poderia elevar o índice do ano de 5,5% para 5,7%. Mas não esperamos que isso aconteça.

Fonte: O Globo

Antropóloga deixa Funai após crise em demarcações

João Domingos

BRASÍLIA - Marta Azevedo pediu demissão ontem, alegando problemas de saúde; morte do terena Ozie Gabirel em Sidrolândia (MS) foi o estopim

Em meio à crise causada pela morte do índio terena Oziel Gabriel na semana passada, em ação da Polícia Federal e da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul para a desoci pação de uma fazenda em Sidrolândia, a antropóloga Marta Maria Azevedo pediu ontem demissão da presidência da Fundação Nacional do índio (Funai).

A ex-presidente alegou problemas de saúde. Em nota divulgada no início da noite de |ontem, a Funai afirmou que "a decisão foi tomada por ela em virtude da necessidade de realizar tratamento médico, que é incompatível com a agenda de presidenta (do órgão)".

Informações de bastidores, porém, dão a entender que a saída de Marta Azevedo da Funai teve como causa direta o conjunto de incidentes ocorridos nos últimos dias envolvendo comunidades indígenas. A começar pela morte do índio Oziel, que levou um tiro no confronto entre policiais federais e os índios terenas na Fazenda Buriti. Em seguida, o atentado a tiros contra outro terena - Josiel Gabriel - também em Sidrolândia, há três dias. E por fim a resistência dos indígenas de várias etnias contrários à construção de hidrelétricas nos Rios Xingu, Tapajós e Teles Pires, nos Estados de Mato Grosso e Pará.

Primeira mulher a assumir o comando da Funai, Marta Azevedo tomou posse em abril do ano passado e acompanhava de perto os estudos para demarcação de terras indígenas.

Demarcação de terras indígenas. De acordo com o Ministério da Justiça, ao qual a Funai é vinculada, ela será substituída a partir de segunda-feira, interinamente, pela diretora de Promoção ao Desenvolvimento Sustentável, Maria Augusta Assirati. Segundo a Funai, Maria Augusta começou a trabalhar no órgão a convite da própria antropóloga que ontem se demitiu.

“Maria Augusta e os demais diretores darão continuidade à missão da instituição na promoção e proteção dos direitos dos povos indígenas, com o compromisso de fortalecimento da Funai, mantendo o amplo diálogo com os povos indígenas, servidores e demais setores do governo”,afirmou a nota da Funai.

Poderes. Com a crise instalada nos últimos dias na Funai, o órgão deixará de ser o único a determinar as terras indígenas, como antecipou o Estado no domingo. Outros órgãos e ministérios do governo vão participar das discussões.

As sucessivas invasões de terras produtivas por indígenas e os conflitos em canteiros de obras importantes como a hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, acabaram aumentando a pressão sobre o governo por parte dos produtores e de petistas como o senador Delcídio Amaral (MS). A morte do índio terena na semana passada ocorreu durante uma ação em que a PF e a PM cumpriam uma reintegração de posse da área invadida. Desde então, a crise só aumentou.

Uma das soluções para a redução dos conflitos, na visão do governo, seria a formação de um colegiado que poderá dividir poderes com a FunaL A nova instância deverá ter representantes dos Ministérios da Agricultura, Desenvolvimento Agrário e Cidades, mais a Embrapa. Juntos, eles poderão auxiliar a Casa Civil na tarefa de estudar um novo modelo de demarcação das terras indígenas.

Em nota que seguiu a praxe nas saídas de auxiliares do governo nas crises, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, agradeceu “a colaboração, o empenho e a dedicação da antropóloga, cuja respeitabilidade acadêmica e indigenista engrandeceu a Funai”.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Assassinato de índios aumenta 168% nos governos Lula e Dilma

Mortes já chegam a 560 em dez anos; demarcação de terras é lenta

André de Souza

BRASÍLIA - Nos oito anos de governo do ex-presidente Lula e nos dois primeiros da presidente Dilma Rousseff, 560 índios foram assassinados no Brasil - média de 56 por ano. Isso representa um crescimento de 168,3% em relação à média dos oito anos do governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Os números fazem parte de levantamento do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Nos dois primeiros anos do governo Dilma, 108 índios foram assassinados no país, uma média de 54 por ano. Foram 51 mortes em 2011 e 57, em 2012. A média fica um pouco abaixo dos 56,5 homicídios anuais registrados nos dois mandatos de Lula, mas está bem acima do observado nos oitos anos de FH. No governo do tucano, a média foi de 20,9 assassinatos de índios por ano.

Segundo o Cimi, 167 índios foram mortos no período FH. O número subiu para 452 no governo Lula (2003-2010), um crescimento de 170,7%. O secretário executivo do Cimi, Cleber Buzatto, criticou o ritmo de demarcação das terras indígenas nos governos petistas, menor do que o observado nos governos tucanos.

- Na nossa avaliação, isso (o aumento das mortes) foi causado por diferentes fatores, mas principalmente em função da retração nos procedimentos de demarcação das terras indígenas, somada a uma expectativa inicial por parte dos povos de que, com o governo Lula, haveria uma aceleração desses procedimentos - afirmou Buzatto.

Segundo ele, Lula e Dilma se aproximaram do agronegócio, provocando reação dos índios.

Cinco pontos de bloqueio

Agentes da Força Nacional chegaram ontem à tarde a Sidrolândia (MS), palco de conflitos entre fazendeiros e indígenas pela posse da terra. Serão montados cinco pontos de bloqueio nas estradas que cruzam as fazendas da região. A ação não visa a saída dos índios das áreas ocupadas, mas deve inibir novas invasões.

Desde terça-feira em Brasília, onde tentam negociar com o governo federal a suspensão da construção de hidrelétricas na Amazônia, os mundurukus ameaçam fazer novas invasões ao canteiro de obras da usina de Belo Monte, no Pará. Eles ocuparam a hidrelétrica no mês passado, mas saíram do local como parte do acordo para serem recebidos em Brasília pelo governo.

- Se não parar (as obras), com certeza, vamos fazer novas ocupações. Se não parar, não vamos aceitar as consultas, que deveriam ter sido feitas antes de qualquer coisa. Já que as obras estão em andamento, é preciso que elas parem, o governo faça a consulta - disse ontem Valdenir Munduruku, líder da aldeia Teles Pires, em Jacareacanga (PA).

Fonte: O Globo

Justiça abre 1º processo para cobrar Dirceu pelo mensalão

Ação aceita dias após STF publicar acórdão visa ressarcimento aos cofres públicos

Também são réus outras 20 pessoas, entre elas o deputado José Genoino (PT-SP) e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares

José Ernesto Credendio, Flávio Ferreira

SÃO PAULO - A Justiça Federal em Brasília abriu o primeiro processo de improbidade contra o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil) para cobrar a devolução dos valores que teriam sido desviados, sob seu comando, para o esquema do mensalão.

Também respondem ao processo o deputado federal José Genoino (PT-SP), o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e outras 18 pessoas.

O Ministério Público deu início à ação em 2007, mas só agora a Justiça a aceitou.

A decisão foi tomada no início do mês passado, dias depois de o STF (Supremo Tribunal Federal) publicar o acórdão com a sentença do julgamento do mensalão, que condenou Dirceu a dez anos e dez meses de prisão.

A ação de improbidade pede a devolução do dinheiro que o STF concluiu ter sido distribuído a parlamentares de cinco partidos --PMDB, PT, PL (atual PR), PTB e PP-- para garantir apoio do Congresso ao governo do ex-presidente Lula.

Dirceu chegou a ser acusado em 2007 em uma ação de improbidade, mas foi excluído ainda na fase anterior ao processo. Na ocasião o juiz entendeu que a ação não poderia ser aplicada a um ministro de Estado.

Valores

No atual processo, o Ministério Público acusa o núcleo político do mensalão, chefiado por Dirceu, de comprar o voto de parlamentares ligados ao PP --José Janene (PR), já morto, Pedro Corrêa (PE) e Pedro Henry (MT).

O pedido não fixa o valor a ser devolvido, mas acusa os parlamentares do PP de terem recebido ilegalmente R$ 4,1 milhões do esquema.

A lei da improbidade prevê a devolução do dinheiro desviado e o aplicação de multa equivalente a três vezes o valor, corrigido a partir da época dos repasses.

Há ainda outras quatro ações de improbidade contra os condenados do mensalão, mas elas ainda não foram aceitas pela Justiça.

Ao todo, o STF condenou 25 réus. O valor aproximado dos repasses aos partidos alcança R$ 23,2 milhões, segundo o Ministério Público, o que, com a multa, elevaria a R$ 100 milhões o total do eventual ressarcimento.

O processo na área cível utiliza os mesmos argumentos que a Procuradoria-Geral da República usou durante o julgamento no Supremo (área criminal).

Outro lado

A defesa de José Dirceu afirmou que o Ministério Público cometeu erro na ação e diz que ele voltará a ser excluído do processo como ocorreu na fase preliminar da outra ação de improbidade na qual ele era acusado.

O advogado de Delúbio, Sérgio Renault, afirmou que ele não cometeu nenhuma ilegalidade em suas funções partidárias e não obteve nenhuma vantagem no cargo.

Marcelo Leal, defensor de Pedro Corrêa, disse que o dinheiro repassado ao PP não configurou ato criminoso e teve como finalidade pagar o advogado de um deputado e financiar a campanha eleitoral de 2004.

A reportagem não encontrou o advogado de Pedro Henry em seu escritório no final da tarde de ontem. Procurado por meio da assessoria de seu gabinete na Câmara, Genoino não comentou.

Fonte: Folha de S. Paulo

Grupo interdita ruas em novo dia de tensão em SP

Para governador, vandalismo em ação contra reajuste é "inaceitável"

Thiago Herdy

SÃO PAULO - Manifestantes e policiais voltaram a entrar em confronto na noite de ontem, em mais um protesto do Movimento Passe Livre (MPL) contra o aumento do valor das tarifas do transporte público em São Paulo, mas em proporções menores do que os registrados na noite de quinta-feira. Cerca de 5 mil pessoas ocuparam as nove pistas de uma das principais vias da cidade, a marginal Pinheiros, na região Oeste.

Policiais usaram bombas de gás lacrimogêneo para desocupar a pista central da via e perto do fim do trajeto para tentar dispersar os manifestantes. O objetivo era evitar que tomassem pela segunda vez outra via central de São Paulo, a Avenida Brigadeiro Faria Lima. No entanto, o grupo driblou a barreira policial por ruas internas, e o protesto terminou de forma pacífica no mesmo local onde havia sido iniciado, no Largo da Batata, movimentada parada de ônibus. Uma pessoa ficou ferida na cabeça por causa de estilhaços provocados por uma da bomba.

Algumas placas de canteiros de obras foram pichadas com mensagens dizendo que a passagem de trens e metrôs, que passou de R$ 3 para R$ 3,20, era mais cara que um litro de leite. Na maior parte do tempo, a polícia acompanhou a manifestação à distância, com homens em motocicletas e um helicóptero. No início do protesto, com medo de vandalismo, alguns comerciantes chegaram a fechar as portas dos estabelecimentos. Um novo protesto está marcado para o fim da tarde da próxima terça-feira, novamente na região da Avenida Paulista.

Enquete discutiu atos de vandalismo

A demanda principal do movimento, que surgiu em 2004, em Santa Catarina, a partir de uma bem sucedida campanha para reduzir a passagem do ônibus, é considerada utópica até mesmo para alguns de seus integrantes: transporte público gratuito para todos, partindo do pressuposto de que o direito ao transporte deveria estar equiparado a outros serviços básicos, como Educação e Saúde. Apesar de contar com simpatia de partidos e organizações de esquerda, o grupo se apresenta como "apartidário e independente". Hoje está espalhado pelas principais capitais do país.

Redes sociais, como Facebook e Twitter, são usados como ferramenta de mobilização; apenas a página do grupo da capital paulista já possui apoio de 12,5 mil pessoas. Antes do protesto de ontem, o grupo promoveu uma enquete para decidir se deveria haver ou não vandalismo no ato. A opção mais votada foi "sem vandalismo, se a polícia agir a gente grava e divulga a repressão".

Quando não está envolvido na organização de protestos, o MPL promove encontros em escolas e periferias. Neles, criticam o tratamento deste serviço como mercadoria e objeto de lucro.
- O ônibus não é lotado à toa, é porque dá mais dinheiro ser assim - diz o estudante de história da USP Caio Martins, de 19 anos, um dos líderes do movimento na capital paulista.

Ontem, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, condenou o vandalismo praticado pelo grupo na quinta-feira.

- Uma coisa é manifestação, que se respeita. Outra coisa é vandalismo, isso é inaceitável. Não é possível aceitar a depredação de patrimônio público e prejuízo para a população - disse.

Sobre os protestos do dia anterior, o Metrô estimou em R$ 73 mil os prejuízos causados por atos de vandalismo.

Fonte: O Globo

Arthur Virgílio reduz tarifa de ônibus em Manaus

Num instante em que os protestos contra a elevação das tarifas de transportes públicos enchem as ruas em várias praças, o prefeito tucano de Manaus, Arthur Virgílio, anunciou uma poda no preço da passagem de ônibus na capital do Amazonas. Passou de R$ 3 para R$ 2,90. Virgílio fez a mágica e mostrou o coelho: a União zerou o PIS e o Cofins cobrado das empresas de transportes municipais, ele explicou.

Fonte : A Crítica (AM)

Após protestos coordenados, Abin eleva risco para grandes eventos

Relato é feito diariamente por agentes infiltrados em ações populares convocadas pela internet

Antônio Werneck, Gustavo Goulart

Boletim da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), emitido após as manifestações de anteontem em quatro capitais brasileiras contra o aumento de passagens de ônibus, elevou o risco dos grandes eventos, do ponto de vista da segurança. Tanto para os jogos da Copa das Confederações quanto para a visita do Papa Francisco ao Rio, durante a Jornada Mundial da Juventude. Os líderes do movimento, identificados nas redes sociais, passaram a ser monitorados, assim como possíveis vínculos deles com sindicatos e partidos políticos.

O relato é feito diariamente por servidores infiltrados em manifestações populares. O grupo acompanha eventos convocados pela internet. Até mesmo pequenos protestos entram na alça de mira.

No Rio, a manifestação na Avenida Presidente Vargas, na hora do rush do fim de tarde, foi convocada pelo Fórum de Lutas contra o Aumento das Passagens, instalado no facebook desde 24 de outubro de 2012. Foi logo após o anúncio de que as passagens dos ônibus no Rio iriam ser reajustadas, o que acabou não acontecendo por causa de um pedido do governo federal para conter a inflação.

O fórum não é personalizado. Ele é administrado por integrantes de partidos políticos, por correntes do movimento estudantil, pela União Nacional dos Estudantes (UNE), entre outros segmentos, o que dá à iniciativa um caráter nacional ao se integrar a manifestações em outros estados.

Estudante do 5º período de Ciências Políticas e coordenadora-geral do Diretório Central dos Estudantes da UniRio, Tayna Paolino, de 21 anos, participa do movimento no Rio e avisa que na segunda-feira que vem haverá outra manifestação no mesmo lugar, com concentração marcada para as 14h na Candelária.

- Os movimentos são suprapartidários e se organizam de forma independente. Mas acabam tendo uma mobilização nacional por causa de seus integrantes. Não estamos lutando somente contra o aumento das passagens. Mas ele significa muito nesse contexto. Os empresários estão ganhando muito mais, e nossos direitos não estão sendo respeitados. Lutamos também contra a dupla função dos motoristas, que além de dirigirem estão atuando como cobradores; em favor do passe livre irrestrito para todos os estudantes, inclusive universitários, e desempregados; e pela estatização dos meios de transporte - contou.

Tayna disse que o horário do rush (18h) foi escolhido para a manifestação de propósito:

- Escolhemos essa hora (18h) para sermos ouvidos.

Fonte: O Globo

Eduardo vê fim do ciclo de consumo

Juliane Menezes

O governador Eduardo Campos (PSB) avaliou que o aumento da taxa básica de juros, mais uma dificuldade enfrentada pela presidente Dilma Rousseff (PT) no campo da economia, sinaliza que o Brasil encerra o ciclo em que o consumo era o único motor necessário para promover crescimento do País. Agora, segundo ele, é preciso aumentar os investimentos.

"Hoje não tem mais tanta margem para o crescimento do consumo. Você tem que fazer um grande esforço para acelerar os investimentos públicos e privados e buscar melhorar a performance brasileira nas exportações", afirmou ele, após inaugurar a primeira etapa da ampliação do Terminal Integrado Barro.

Virtual candidato à Presidência da República, Campos destacou que a obra que ele inaugurou ontem colabora para solucionar o problema. "Quando a gente lança uma obra dessas, a gente está ajudando de forma bem pequena o conjunto do Brasil. Ajudando a alavancar o investimento para que gere empregos, gere demanda no comércio, para que a demanda no comércio gere indústrias", destacou.

Mesmo ressaltando que "a economia não aponta para a retomada do padrão que vivemos no passado do crescimento acima de 4% ao ano", o governador optou por um discurso amigável em relação à presidente. "Nós achamos que, em 2013, a gente deve dialogar sobre esses temas e ajudar o governo da presidente Dilma, ajudar o Brasil, ajudar o empresariado a sentir confiança e ajudar os Estados e municípios a investirem também", pontuou. O baixo crescimento econômico é hoje um dos maiores problemas enfrentado pelo governo federal e pode complicar a caminhada da presidente Dilma Rousseff, que deverá tentar a reeleição.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

'Bom cabrito não berra', diz Campos sobre candidatura

Em conversa com aliados, governador diz PT para minar seu plano de 2014; ponte é refeita com Ciro Gomes

Vera Rosa

BRASÍLIA - Sem esboçar reação pública às articulações de ministros do govemo Dilma para asfixiar sua candidatura presidencial, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (P8B), confidenciou a correligionários que não vai se intimidar com as tentativas do PT de tirá-lo do páreo. "O bom cabrito não berra", afirmou o governador a colegas de partido na quinta-feira, quando esteve em Brasília para reuniões com ministros.

Presidente do PSB, Campos não se dá por vencido, deixa claro que a ideia de candidatura está mantida e segue angariando apoios nos bastidores. "Tentaram me dobrar e não me dobraram. Eu estou de pé e o PSB ficou mais forte", comentou.

Chamado ao Palácio do Planalto para uma audiência com os ministros Gleisi Hoftmann (Casa Civil) e José Eduardo Cardozo (Justiça), o governador passou duas horas de quinta-feira debatendo com os auxiliares da presidente Dilma Rousseff as ações de segurança para a Copa das Confederações. Ele não se encontrou com Dilma, que estava no Planalto, e de lá parti u para uma reunião a portas fechadas com parlamentares no gabinete do líder do PSB no Senado, Rodrigo Rollemberg (DF).

"Estão há 12 meses lutando contra mim e continuo vivo. Eu ganhei, todos os rounds", afirmou o governador, segundo relatos desses parlamentares. "Há muita emoção pela frente nessamontanha-russa", tem dito Campos, Governadores do PSB são cortejados pelo PT palra o palanque de Dilma numa estratégia para neutralizar a candidatura de Campos« Aos correligionários, o presidente do PSB disse que tem seis meses para definir seu futuro político e não vê motivo para abrir o jogo agora. Revelou ainda que mantém "contato" com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por meio de emissários, e disse não ter interesse em brigar com ninguém. "Por que vou fechar as portas?", argumenta,

"Melar a água". Há duas semanas, Campos jantou com o ex-ministro Ciro Gomes (PSB), que é irmão do governador do Ceará, Cid Gomes, e não esconde o incômodo com sua candidatura, Barrado pelo pernambucano em 2010, quando quis concorrer ao Planalto e o PSB aderiu à campanha de Dilma, Ciro ficou satisfeito com a tentativa : de aproximação do desafeto, mas pôs as cartas na mesa. Disse ter preocupação com a possibilidade de o PSB não ir para o segundo turno na disputa de 2014 e "melar a água que vai beber" no futuro.

Mesmo com. as diferenças, os ois concordaram que a aliança ; do PT com o PMDB é indigesta. Vislumbraram o risco de Eduardo Cunha (RJ), líder do PMDB" na Câmara, "engolir" o partido e jogá-lo contra Dilma e previ-: ram um cenário futuro de mais : dificuldades, com inflação alta e crescimento pífio.

Para Campos, o governo age de forma "pendular" na economia, cada hora de um jeito, e quem vencer a eleição assumirá o País, em 2015, com um quadro., pior do que o observado na crise internacional de 1999. Não sem motivo, seu slogan diz: “E preciso fazer mais e bem feito”«

MP dos Portos

O fato de Dilma não ter vetado a autonomia do Porto de Suape, na Medida Provisória dos Portos, foi visto pelo governador como um gesto importante para reduzir a tensão do ambiente político e manter o diálogo com a presidente.

Apesar do suspense, interlocutores de Campos em vários partidos da base e até no PSDB não têm dúvida de que ele é “candidatíssimo”.

Nos encontros políticos"recentes, o presidente do PSB disse não acreditar que o assédio de dirigentes do PT e dos ministros Aloizio Mercadante (Educação) c Ideli Salvatti (Relações Institucionais) aos outros cinco governadores de seu partido surta o efeito desejado, embora dois deles (Cid Gomes e Camilo Capiberibe, do Amapá) já tenham declarado apoio a Dilma.

Ao ser lembrado por correligionários, na quinta-feira, de que seus movimentos são acompanhados com lupa pelo Planalto, Campos abriu um sorriso. “Eles se preocupam mais comigo, que sou aliado, do que com o Ãécio”, afirmou, numa referência ao senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, provável candidato em 2014.

Campos tem dito que a estratégia do PT consiste em garantir a recondução de Dilma logo no primeiro turno para tentar ganhar os governos de São Paulo e Minas, reproduzindo o argumento de “fadiga de material” do PSDB, que hoje administra os dois Estados. Para tanto, seria necessário manter a parceria com o PMDB, sacrificando candidaturas petistas, como a do senador Lindbergh Farias, no Rio. Lá, o governador Sérgio Cabral (PMDB) condiciona a adesão ao palanque de Dilma ao apoio do PT a Luiz Fernando Pezão, atual vice.

“Eu disse para o Lindbergh: o jacaré está aqui esperando com a boca aberta”, contou Campos a amigos, ao recordar o convite para que o senador sej a candidato no Rio pelo PSB. Ã ex-prefei-ta de Fortaleza Luizianne Lins (PT) foi chamada pelo governador para ingressar no PSB. Luizianne tem planos de concorrer ao Senado, mas enfrenta desga-te na seara petista e está em pé de guerra com Cid Gomes.

Com o divórcio iminente, alguns dirigentes do PSB já avaliam a conveniência de entregar os dois ministérios (Integração Nacional e Portos) que comandam no governo Dilma em meados de setembro.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Campos diz a aliados que governo tentou dobrá-lo e não conseguiu

Para governador do PSB, sua pré-candidatura à Presidência se fortaleceu

Maria Lima

BRASÍLIA - A disputa eleitoral de 2014 tem sido comparada a uma montanha russa pelo governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, que garante: está preparado para enfrentá-la do jeito que vier. No momento, está em baixa, por causa do pacto feito com aliados de, nos próximos seis meses, trabalhar sua pré-candidatura sem entrar em confronto direto com a presidente Dilma Rousseff. Campos considera que apesar das ações do governo para asfixiar adversários nos últimos 12 meses, o PSB ganhou visibilidade e sua pré-candidatura, musculatura. Foi o que manifestou nas conversas políticas que teve nesta quinta-feira, quando esteve em Brasília para uma reunião com a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, sobre segurança na Copa das Confederações.

- Estou fazendo o jogo deles. O bom cabrito não berra. Eles continuam fazendo isso e estou vivo, tentaram me dobrar e não dobraram, as coisas só melhoram para mim. Nós ganhamos uma expressão que não tínhamos. Ganhei todos os rounds e estou de pé. Eu disse que a decisão será em 2014, e será em 2014 - disse Campos, segundo relatos de seus interlocutores na capital.

Nessas conversas, Campos avaliou que, apesar de novas adesões ao governo Dilma - como a do presidente em exercício do PTB, Benito Gama, em troca de uma diretoria no Banco do Brasil -, os partidos da base aliada estão rebelados contra o governo. Em sua avaliação, o quadro se agrava pela desarrumação e gestão pendular na Economia - fuga de investidores, inflação - e crises com vários setores da sociedade: Congresso, índios, agronegócio e sindicatos.

- Não tem nada decidido para ninguém. Essa eleição vai ser uma montanha russa. Quando era criança, no parque, me perguntavam: você gosta com emoção ou sem emoção? Mas rapaz, eu gosto é com emoção! - disse Campos a aliados.

Campos prevê, por exemplo, que o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), que agora veste o figurino de adversário de Dilma, já tem o controle da bancada na Câmara e pode engolir o partido que o vice Michel Temer tenta conter. A asfixia de novas lideranças no PT, como Lindbergh Farias (RJ), Delcídio Amaral (MS) e Luiziane Lins (CE), é outro complicador para a reeleição da presidente, na avaliação do grupo do governador pernambucano. O presidente do PSB tem conversado com frequência com os petistas e brinca que a "boca do jacaré" está aberta, esperando para recebê-los.

Uma conversa direta de Eduardo Campos com o ex-presidente Lula não aconteceu, mas os dois têm mantido contato por meio de interlocutores comuns. A última conversa de Eduardo Campos com Dilma foi no inicio do ano. Até então, havia sinais de uma reaproximação, mas depois ela mudou de estratégia e partiu para o ataque, na tentativa de minar as pretensões do pernambucano. O fato de ela não ter vetado, na MP dos Portos, a parte que dá ao governo de Pernambuco a possibilidade de continuar administrando o Porto de Suape, foi considerado "um gesto" para passar a imagem de que não está em guerra com o socialista.

Nessa fase de recolhimento, Campos tem se dedicado a entendimentos internos no PSB. Isso incluiu uma conversa franca com o ex-ministro Ciro Gomes, que tem uma posição mais próxima à dele do que o irmão, o governador Cid Gomes (CE).

Fonte: O Globo

Formação da Mobilização Democrática provoca grande preocupação no governo, diz Freire

Por: Diógenes Botelho

O governo federal está muito preocupado com o processo de formação da Mobilização Democrática (MD), partido que surge da fusão do PPS com o PMN, e que vem recebendo um grande apoio em vários estados do país. A avaliação é do presidente nacional da MD/PPS, deputado federal Roberto Freire (SP), para quem a reação do Planalto, insuflando aliados a ingressar no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) questionando os reflexos da fusão, mostra que a movimentação política do PPS e do PMN está no caminho certo.

O governo está preocupado, principalmente, com o poder de atração que o novo partido surgido da fusão pode ter para levar parlamentares da base para a oposição. Por isso, o PSD, de Gilberto Kassab, e mais recente o senador Sérgio Souza, do PMDB do Paraná, ingressaram no TSE com consultas para saber se parlamentares podem migrar para a Mobilização Democrática sem risco de perderem o mandato por infidelidade partidária, levando consigo suas frações do tempo de TV e do fundo partidário. O Supremo Tribunal Federal (STF) garantiu isso ao PSD mas, agora, Planalto e aliados querem rasgar a lei para impedir o crescimento da oposição.

Suplente de ministra aciona TSE

“O que já sabíamos, agora se confirma. A formação da MD tem causado muita preocupação no governo e em seus aliados. Em especial no partido de Kassab, que foi o primeiro a entrar no TSE para dizer que a lei não vale nada. A segunda consulta, de início, até nos causou perplexidade, pois veio de um senador do PMDB. E o PMDB estava muito tranquilo nessa questão. No entanto, o senador Sérgio Souza é suplente da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann (do PT), mulher de confiança da presidente Dilma Rousseff”, ressalta Freire. Para o presidente da MD, “o governo atua para impedir a liberdade de criação de partidos e a formação de novas forças políticas no país”.

Estados

Freire fez ainda um balanço sobre a instalação da MD nos estados. “O processo de formação da MD continua fluindo com tranquilidade e é muito positivo nos estados. Os consensos (para a formação de direções) estão mais fáceis”, disse o deputado.

Registro

Com relação ao registro definitivo do partido no TSE, Freire garantiu que esse processo vem sendo analisado com muita tranquilidade. “Sabemos dos prazos e no momento preciso ultimaremos o processo de fusão no TSE”.

Fonte: Portal do PPS

Guilherme Afif não merece - Alberto Goldman

Afif não merece essa auto flagelação a que está se submetendo.

Como já expressei, o atual vice governador de São Paulo teve na última década uma trajetória ativa, respeitada, coerente e combativa, defendendo os interesses de São Paulo e assumindo uma posição política claramente contrária aos candidatos petistas e aos governos desse partido. Exerceu funções de governo com honestidade e competência, sempre aliado ao maior partido de oposição no Brasil, o PSDB, e cumpriu com eficiência as tarefas no campo das disputas eleitorais que juntos encetamos.

Sua decisão recente de apoio à presidente Dilma, passando a exercer uma função ministerial, é uma decisão pessoal que, ainda que respeitável, não poderia deixar de provocar, em todos aqueles que com ele conviveram e lutaram, um sentimento de surpresa e decepção. Surpresa porque não se poderia esperar dele, com sua história, essa atitude. Decepção porque traduz a tristeza com a perda de um companheiro lutador que sempre se colocou contra as mazelas do PT e dos seus governos.

Assim sendo, no plano da política, nós que nele votamos, na chapa com Geraldo Alckmin candidato a governador, nos sentimos de alguma forma lesados. Pode haver mágoas que contribuíram para que ele escolhesse esse caminho, mas o nosso voto deveria pesar mais em sua decisão.

Essa atitude vem sendo objeto de críticas, na lógica dos embates políticos que estamos enfrentando. E agora recebe uma carga pesada de pareceres jurídicos de instituições não só do executivo, mas também do Ministério Público Estadual, e pode sofrer um processo de perda do mandato através da ação da Assembleia Legislativa do Estado e até de provocação à Justiça do Estado de São Paulo.

É algo que ele não merece. Um desgaste que poderia ( e ainda pode ) ser evitado se ele se mantivesse no espaço político em que sempre esteve ou, contra a nossa vontade, decidisse assumir o governo de Dilma Roussef deixando, de vez, a função para a qual foi eleito.

Ele não merece esse flagelo. Um auto flagelo a que ele, talvez inadvertidamente, se deixou levar.

Esse é meu sentimento e meu desejo de encontrar uma solução que mantenha uma aliança que já produziu tantos bons frutos ou, sendo isso impossível, que o preserve.

Alberto Goldman, vice-presidente nacional do PSDB

Tempos estranhos - Merval Pereira

Outro dia, um amigo comentou, desconfiado a propósito dos últimos acontecimentos, que o país está "meio estranho". Em situação mais formal, coube ao ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello dizer, num julgamento em que o STF negou recurso sobre a morte em trote da USP, mantendo a decisão do STJ que encerrou a ação penal, que "tudo é possível porque os tempos são muito estranhos".

Ainda não estamos nos "tempos interessantes" da maldição atribuída a Confúcio, tempos em que os riscos e os sofrimentos não cessam, impedindo a tranquilidade. Mas, pelo andar da carruagem, chegaremos lá.

Bastaria o caso da controvérsia causada pela declaração do ministro Gilberto Carvalho a um grupo de índios, revelando que a presidente havia dito que a ordem judicial de reintegração de posse da fazenda Buriti, em Mato Grosso do Sul, não deveria ter sido cumprida, para exemplificar os tempos estranhos que vivemos.

Dilma, evidentemente, garantiu em público que o governo brasileiro cumpre as leis. Carvalho soltou uma nota dizendo que fora um equívoco dele, que queria apenas demonstrar o sentimento da presidente pela morte de um índio no conflito.

Das duas, uma: ou Carvalho disse a verdade inconveniente, que não podia ser revelada, ou mentiu para os índios na tentativa de acalmá-los. Nas duas hipóteses, seria um auxiliar ineficiente, mas em Brasília acredita-se mais na primeira, o que desvenda mais uma vez a alma autoritária da presidente Dilma.

E é essa índole autoritária que vem sendo posta à prova nestes tempos conturbados que vivemos. Quando afirmou, por exemplo, que não sacrificaria o desenvolvimento para conter a inflação, deixou no mercado a certeza de que aceitaria um pouquinho de inflação para aumentar o PIB, o que colocou todo mundo em alerta, com efeitos óbvios.

Mais adiante, disse que o país não tinha meios de controlar a subida do dólar, e mais uma vez o mercado se alterou.

A confusão em torno dos saques antecipados do Bolsa Família é mais um exemplo de como um governo descoordenado pode se machucar por conta própria. Diante do tumulto provocado por um suposto boato de que o programa iria acabar, Dilma disse que aquele era um ato "desumano".

O ex-presidente Lula lamentou a existência de pessoas "capazes de fazer tanto mal" aos mais pobres. E a ministra Maria do Rosário apressou-se pelo Twitter a insinuar que a origem dos boatos era a oposição.
Logo ficou claro que o erro fora cometido pela própria Caixa Econômica Federal, que liberou o pagamento do Bolsa Família sem obedecer ao calendário que ela própria estabelecera desde sempre.

Com isso, pessoas que foram ao banco fazer outras transações descobriram que o dinheiro já estava lá, e começou o boca a boca sobre a liberação antecipada.

Muitos entenderam que aquele era um sinal de que o programa iria acabar, outros acharam que era um bônus pelo Dia das Mães, o que marca bem o maternalismo que domina nossa política. Não se fala mais do tal call center do Rio de Janeiro que supostamente espalhara o boato. O presidente da Caixa teve de admitir o erro depois de tentar escondê-lo, e só o fez porque a "Folha de S. Paulo" denunciou que os pagamentos haviam sido antecipados.

Junto a essas trapalhadas, vêm as notícias ruins da economia, que resultam em advertência da agência Standard & Poor"s de que o grau de investimento que o Brasil ganhou no governo Lula pode ser cassado se nos próximos dois anos a economia continuar demonstrando tamanha fraqueza e, sobretudo, problemas de inconsistência como inflação alta e déficits.

Já há quem mais uma vez sugira tirar o B do acrônimo Brics.

Nenhum dos programas oficiais está com seu cronograma em dia, seja o PAC, seja o Telefone Para Todos, seja o Minha Casa Minha Vida, ou as obras para a Copa do Mundo. Ou a queda forçada dos juros, que agora está tendo que ser revertida, ou a redução do custo da energia elétrica, que não chega aos 20% prometidos na televisão.

Todos têm a mesma característica: saem mais caro do que o anunciado e atingem menos pessoas. Simplesmente porque não correspondem a nenhum planejamento, são fruto de um voluntarismo que não se baseia na realidade.

Algo assim como querer tirar da rota do avião presidencial as nuvens turbulentas.

Os pontos-chave

1. Bastaria o caso da controvérsia causada pela declaração de Gilberto Carvalho a um grupo de índios para exemplificar os tempos estranhos que vivemos.

2. A confusão em toro do Bolsa Família é mais um exemplo de como um governo descordenado pode se machucar por conta própria.

3. Junto a essas trapalhadas, vêm as notícias ruins da economia, que resultam em advertência de que o grau de investimento do Brasil pode ser cassado.

Fonte: O Globo

Um silêncio que incomoda – Denise Rothenburg

Se houve algum efeito a longo prazo do debate travado nas eleições de 2010, ele certamente deixou uma herança maldita ao país. De tudo o que foi posto sobre a mesa durante a disputa daquele ano, a chamada pauta religiosa e a discussão sobre o meio ambiente perduram até hoje, quase três anos depois de as urnas serem abertas. Na época, para ter a "garantia de vitória", a então candidata à Presidência da República Dilma Rousseff amarrou o futuro governo em ambos os debates. Primeiro, se comprometeu a não reduzir áreas de proteção ambiental e reservas, como forma de garantir a neutralidade da então candidata verde, Marina Silva, no segundo turno. Depois, se comprometeu com entidades religiosas a não tomar a iniciativa em qualquer debate referente ao aborto ou à união homoafetiva no Congresso Nacional, para fugir da pecha de abortista e garantir os votos de católicos e protestantes.

Na questão referente ao Código Florestal, o compromisso assumido turbinou a tramitação conturbada do projeto no Congresso — onde Dilma travou uma guerra de nervos com ruralistas. Embora amarrado, o Planalto participou das discussões sobre uma política de Estado para a ocupação do solo brasileiro. Tudo porque esse posicionamento lhe era conveniente. Por outro lado, no debate referente ao aborto, não houve um único sinal de fumaça da presidente nem de seus subordinados. Se Dilma deveria carregar um arrependimento da campanha de 2010, ele certamente é a assinatura da "Carta aberta ao povo de Deus". Lá no meio do texto, a então candidata escreveu: "Cabe ao Congresso Nacional a função básica de encontrar o ponto de equilíbrio nas posições que envolvam valores éticos e fundamentais, muitas vezes contraditórios, como aborto, formação familiar, uniões estáveis e outros temas relevantes, tanto para as minorias como para toda sociedade brasileira". Estrago feito, o que hoje se vê é um governo mudo, quase impassível diante da pauta conservadora.

As marchas religiosas que ocuparam a Esplanada e miraram o Congresso tiveram como resultado imediato a aprovação do Estatuto do Nascituro na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados. A proposta abre um buraco jurídico imenso para que mesmo o aborto em caso de estupro não seja mais descriminalizado ali adiante. Para ser definitivamente carimbado pelo Legislativo, faltam ainda o plenário da Casa baixa, além de toda a tramitação no Senado. A pauta defendida por igrejas de toda sorte é legítima, além de ter considerável poder de ressonância na sociedade. Assim não fosse, não teria carregado cerca de 50 mil pessoas em dois dias para a Esplanada — vale lembrar que as marchas de servidores públicos promovidas pelas centrais sindicais, na maior parte das vezes, não reúnem nem um décimo disso. Legítima também era a ideia de que esse debate deveria nortear a escolha do presidente da República para o quadriênio 2011-2014. Em uma democracia, cada um escolhe os critérios que bem entende para decidir qual tecla apertar no tête-à-tête com a urna.

O problema é ver os órgãos criados pelo Palácio do Planalto para discutir exatamente esses temas serem imobilizados por quatro anos. Para conseguir ao menos se pronunciar sobre a aprovação do Estatuto do Nascituro, a Secretaria de Políticas para as Mulheres replicou uma nota do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, formado também por integrantes da sociedade civil — externo, portanto, ao governo. É muita timidez se comparado, por exemplo, ao volume utilizado pela então ministra Iriny Lopes, em 2011, na tentativa de censura à campanha de uma empresa de lingerie estrelando a modelo Gisele Bundchen por suposto teor sexista. O paradoxo não para aí. Não faz um mês, a ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário, lançou-se em uma rede social para atribuir à oposição a responsabilidade pelos boatos que geraram pânico sobre o fim do Bolsa Família. Não externou o mesmo ímpeto para comentar o posicionamento acerca da pauta conservadora do Congresso Nacional — que vai além do debate em torno do aborto, diga-se. Neste momento, poucos silêncios são mais incômodos.

Explicação aguardada

Já que o assunto é o silêncio do governo, há outro a ser abordado. Mais cedo ou mais tarde, o Planalto terá de romper a postura atual sobre os boatos do Bolsa Família. Depois de toda a confusão armada em torno do suposto fim do programa, não há entrevista mais aguardada em Brasília do que aquela a ser agendada para anunciar o resultado das "investigações" comandadas pela Polícia Federal. Certamente, faltará autoridade disposta a mostrar quais das suspeitas levantadas pelos titulares da Esplanada se confirmaram. Até aqui, já se falou em "ações orquestradas" e "centrais de boatos da oposição". Resta apenas um erro do próprio governo. Alguém se candidata a assumir esse ônus?

Fonte: Correio Braziliense

O futuro do dilmismo - Fernando Rodrigues

Como política e ansiedade andam de mãos dadas, há uma onda de especulações sobre qual será a feição de um eventual segundo mandato de Dilma Rousseff. Será igual ao Lula 2 ou um período melancólico e sem brilho?

A história tem sido cruel com reeleitos. Que o digam Fernando Henrique Cardoso, aqui no Brasil, e agora Barack Obama, nos Estados Unidos.

O sucesso de um segundo mandato depende das realizações do primeiro. Vista em retrospecto, a política de Lula com os programas sociais de inclusão e ampliação do mercado interno acabaram salvando o Brasil mais adiante. Além disso, ele criou uma legião de admiradores políticos e ampliou suas alianças partidárias.

Os resultados de Dilma são incertos nas duas áreas. Não está claro se a sua política econômica fragmentada funcionará. Não por causa das piadas da revista britânica "Economist" com Guido Mantega, mas porque qualquer pessoa de bom-senso andando pelo país nota como a infraestrutura andou de maneira muito mais lenta do que exige a demanda do mercado de novos consumidores.

Dilma também tem sido malsucedida no manejo da micro e da macropolítica. Como se sabe desde sempre, um governante pode errar em tudo, menos na política. O preço algum dia acabará sendo cobrado. Como a atual presidente segue forte e popular, essa conta talvez não seja apresentada em 2014. Só que em 2015 vai aparecer com certeza absoluta.

Vivo em Brasília há alguns anos por dever de ofício. Falo com políticos do governo e da oposição. Exceto por alguns ministros, nunca encontrei gente de relevância entusiasmada com a atual presidente. Não existem dilmistas. Há lulistas. Na oposição é possível encontrar saudosistas de FHC. Mas Dilma tem escassos torcedores reais a seu favor.

Todos esses elementos somados são um prenúncio ruim para o futuro do dilmismo. Embora dilmismo, como se observa, nem exista de fato.

Fonte: Folha de S. Paulo

IBGE prevê IPCA acima do teto da meta em junho

Altas das tarifas de ônibus, trem, água e esgoto em algumas cidades vão influenciar índice do mês

Fernanda Nunes e Maria Regina Silva

RIO - A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços Consumidor Amplo (IPCA) tende a ultrapassar em junho o teto da meta do governo, de 6,50%, no acumulado em 12 meses. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), neste mês, há uma série de altas de preços administrados e questões metodológicas que permitem prever uma alta relevante na inflação de junho.

Para a formação do IPCA em 12 meses, o instituto irá desconsiderar uma alta de 0,08% relativa a junho de 2012 para utilizar outra maior, de 0,43% relativa a julho. Entre os preços administrados, o índice de inflação deste mês sofrerá influência das altas das tarifas de ônibus urbano no Rio de Janeiro (7,27%), e em São Paulo (6,75%); da água e esgoto em Belo Horizonte (5,25%) e Fortaleza (8,51%); e do trem em São Paulo (6,75).

O IPCA de maio ficou em 0,37% em maio ante 0,55% em abril. Em abril, ele já havia ficado praticamente no teto da meta do governo, em 6,49%.

Na divulgação, o IBGE destacou o comportamento dos alimentos e bebidas, "que apresentou forte desaceleração ao passar de 0,96% em abril para 0,31% em maio, trazendo o impacto para o índice de 0,24 para 0,08 ponto porcentual, respectivamente". O grupo, porém, na avaliação de especialistas teve impacto sazonal e nos próximos meses pode voltar a pressionar a inflação.

Mesmo com a desaceleração de maio, a dinâmica inflacionária não é das melhores. Ao excluir dos cálculos os preços dos alimentos, o índice de difusão de maio (que representa o porcentual de preços de itens em alta do IPCA) teria uma taxa de 67,60%, frente a um aumento de 67,10% anteriormente, de acordo com o Besi Brasil.

"Acreditamos que será um movimento temporário e o IPCA tende a acelerar daqui para frente, voltando para 0,50% no quarto trimestre. Não acreditamos em melhora consistente da dinâmica da inflação no médio prazo", avaliaram o economista-sênior do banco, Flávio, Serrano, e o economista-chefe, Jankiel Santos, em relatório.

De acordo com os economistas, mesmo considerando a avaliação mais "hawkish" (conservadora) do Banco Central, o governo já sinalizou a intenção de manter a expansão de gastos correntes, na tentativa de impulsionar o crescimento econômico, o que também tende a elevar a inflação, segundo eles.

"Recentemente, elevamos nossa projeção de fim de ano para a taxa básica de juros para 8,75%, mas o ajuste da política monetária não seria suficiente para trazer a inflação para 4,5% (centro da meta) em um futuro próximo. Prevemos 6,0% em 2013 e 5,7% em 2014 para o IPCA", estimaram.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Inflação: o legado de Dilma

Aparentemente, a presidente percebeu que há um processo inflacionário disseminado no Brasil. Ao liberar o BC a aumentar a Selic em 0,5 ponto porcentual, passou a impressão de que há uma preocupação verdadeira com a inflação.

Mas, convenhamos, continua sendo apenas uma impressão» Afinal, o IPCA médio se mantém em 6% por ano desde 2008, com exceção do ano recessivo de 2009. De repente, Brasília ficou sensível.

Controlar a inflação hoje no Brasil vai além de permitir um aumento moderado de juros. Acreditar que a Selic possa ir a 9,5% ainda este ano como apostamos não trará a inflação de volta para a meta simplesmente porque o problema hoje não é apenas de ajuste de ciclo, mas de ajuste de credibilidade e, para isso, exigiria uma reação muito mais agressiva do BC para a sociedade acreditar que o governo está de fato trabalhando pelos 4,5%. Considerando que 2014 será um ano eleitoral, fica difícil acreditar que o BC terá muita liberdade de ação. Vai ter de aceitar uma inflação maior, conivente como tem sido já há algum tempo» A política monetária virou o que e a política fiscal, ninguém mais acredita que funciona. Por isso, mantemos firmemente 6% de IPCA este ano e 6,5% ano que vem.

Como resposta a essa economia com inflação persistentemente mais elevada há duas alternativas. Ou se faz um ajuste doloroso, ortodoxo, em 2015 ou se ajusta a meta de inflação para cima, justificando essa escolha pela mudança do cenário de política monetária nos EUA. Lá atrás o BC já usou crises cambiais para justificar aumentos temporários na meta. Naquele momento o BC tinha credibilidade* Desta vez? será um ajuste oportunista, como tem sido o plantei de política econômica até agora.

A aposta de quem acredita numa virada do governo é de que a situação vai se deteriorar tanto que não haverá escolha para Dilma» Não creio. Creio que, sim, vai piorar muito ainda. Mas acreditar que políticas realmente ortodoxas serão usadas depende de acreditar em mudança radical da equipe econômica e da própria Dilma, artífice de erros atrás de erros na política econômica e de um pensamento atolado em equívocos.

Por isso, caro leitor, contente-se em conviver com inflação alta e crescimento baixo. Não há muito mais que esse governo possa oferecer.

Sérgio Vale, economista

Fonte: O Estado de S. Paulo

Doralice, eu bem que te disse - Paulo Paiva

Doralice é presidente de um país fantasia onde tudo parece perfeito a seus olhos e aos de seus súditos mais próximos. Nesse país, economia e política se fundem e se confundem. Tanto que alguns economistas omitem a conjunção e tratam a fusão como economia política - a arte de entender a economia no âmbito dos processos políticos. Tudo parece dar certo nesse país. Todos estão empregados. Quem não está trabalhando recebe uma bolsa do governo para o sustento de sua família - o Bolsa Família, a menina dos olhos de Doralice. Sem desempregados, consumo em expansão e milhares de famílias pobres cobertas, pelo programa de transferência de renda, a popularidade do governo está nas nuvens. Nunca antes nesse país a aprovação do governo e de sua presidente foi tão alta. No próximo ano haverá eleições e, se tudo continuar como está, a oposição será derrotada mais uma vez.

Graças à política econômica da última década, foi incorporado ao mercado de consumo um volume de pessoas comparável àpopulação francesa. Mas o crescimento da economia anda muito baixo. Seu assessor econômico lhe aconselha: "É preciso estimular ainda mais a demanda". Gomo fazer? "Retire impostos de bens duráveis, aumente o crédito nos bancos públicos, dê subsídios à produção de automóveis", manda a presidente. Não se pode descui-d ar, é preciso manter o nível de emprego e de consumo, pois a oposição está de olho. Não se pode esquecer que haverá eleições no ano que vem. Seu assessor econômico lhe diz, ainda, que a culpa do baixo crescimento é do câmbio. Mas, se o real for desvalorizado para estimular a indústria, a classe C não poderá mais sonhar com as férias na Disney se a moeda for valorizada para evitar impacto sobre a inflação, os exportadores gritam. O câmbio é um pesadelo para a presidente. Gomo fazer, se haverá eleições no ano que vem?

Ah, mas e a inflação? Os preços estão subindo. Ora é culpa do tomate, ora do feijão. Um de seus assessores lhe diz a inflação de base neste país gira em torno de 5% a 6%, não se preocupe". Doralice manda pôr álcool na gasolina e congelar seu preço, segurar as passagens de ônibus, tirar impostos da cesta básica. Aumentar juros, jamais, pois haverá eleições no ano que vem.

"Cuida-te, Doralice. Não confie demais no que dizem os que estão muito peito de você", alerta seu conselheiro-mor, um pragmático ex-presidente que conhece como ninguém a alma do povo e os meandros do poder. Enfim, é ele quem a orienta nas veredas da política. E haverá eleições no ano que vem.

Num belo rim de semana, ela estava em visita a um país amigo bem distante do seu quando recebeu ligação de seu Palácio, informando que o Bolsa Família sofreu um ataque terrorista, partido de seus inimigos. Divulgo ram que o programa acabaria e uma multidão de beneficiários coitcu para remar sacar o que podia, Pânico, caixas eletrônicos quebrados e grande tumulto naquele sábado de horror, principalmente nas regiões mais carentes do pais. Um diretor da Caixa, banco responsável pelos pagamentos, se apressou, a explicar que foi espalhado um falso boato e que ele havia mandado liberar os recursos para acabar com a crise. Eis o herói do dia! Assessores próximos da presidente imputaram a responsabilidade pelo ato à oposição, pois haverá eleições no ano que vem. Ela, ainda em viagem, classificou o fato de desumano e criminoso. No seu regresso, a policia foi chamada para investigar o crime.

Qual o quê. Dias depois, o presidente da Caixa, com aparente desconforto, reconheceu os erros e disse que, em razão da duplicidade no cadastro de mais de 900 mil beneficiários, determinou a antecipação dos pagamentos e o depósito dos recursos nas respectivas contas. Naquela sexta-feira todos já poderiam sacar seus benefícios, tato que antecedeu o boato. Pediu desculpas. O telefone do Palácio toca. E o canselheiro-mor chamando, preocupado com o rumo da economia, pois haverá eleições no ano que vem: ""Doralice, agora você tem de me dizer como é que nós vamos fazer",

Professor da Fundação Dom Cabral, foi ministro do Trabalho e do Planejamento e Orçamento no governo FHC

Fonte: O Estado de S. Paulo

Sem espaço para velhas soluções - André Lara Resende

Uma expansão monetária agressiva dos últimos anos evitou uma nova depressão mundial. As lições da década de 1930 foram aprendidas. O fim das bolhas financeiras não é o momento para apego à ortodoxia monetária. Houve um consenso sobre o uso dos balanços dos bancos centrais para absorver a dívida privada e monetizar a dívida pública. Hoje, mais de cinco anos após o início da crise, as economias desenvolvidas continuam estagnadas. Quando a questão passa a ser como promover a recuperação, o consenso se rompe e as velhas controvérsias ressurgem sob novos disfarces.

Em função dos custos sociais elevados de uma depressão, não se deveria poupar esforços para evitar o colapso da economia. No entanto, há nisso um aspecto negativo. Com um colapso, o endividamento excessivo teria desaparecido, mas como a depressão foi evitada, o fardo do endividamento excessivo continua aí para ser digerido. As empresas estão conseguindo se ajustar mais rapidamente, mas as famílias continuam desconfortavelmente alavancadase o endividamento público está muito maior do que antes da crise.

As propostas sobre como promover o crescimento estão divididas em três campos. No primeiro estão aqueles que acreditam que o mesmo experimento monetário que conseguiu evitar o colapso também acabará promovendo a recuperação. Para isso, é necessária uma posição ainda mais agressiva dos bancos centrais. Aqueles que defendem o afrouxamento quantitativo [QE, na sigla em inglês] como meio para sair da estagnação seguem a velha escola monetarista. Isso não deveria ser uma surpresa, já que o QE foi originalmente sugerido por Milton Friedman em uma visita ao Japão no fim da década de 1990. Assim como os Estados Unidos e a Europa hoje, o Japão já estava estagnado havia mais de cinco anos, as taxas de juros estavam próximas de zero, mas as pressões deflacionárias continuavam fortes. Coerente com a crença da vida inteira na proporcionalidade da renda nominal sobre os agregados monetários, Friedman sugeriu que o Banco do Japão deveria simplesmente imprimir dinheiro. A renda nominal em algum momento seguiria a expansão da base monetária. Friedman sempre acreditou que - embora não muito bem especificados - os chamados canais de transmissão da política monetária não estavam restritos ao papel das taxas de juros, sendo muito mais difusos. O Japão implementou a sugestão de Friedman e cunhou a expressão afrouxamento quantitativo. Mais de uma década depois, com sua economia ainda estagnada, o Japão decidiu insistir no remédio. A abenomics [nome dado à política expansionista do primeiro-ministro Shinzo Abe] é o experimento monetarista em dose maciça. Conforme recentemente citado por Walter Munchau no "Financial Times", John K. Galbraith certa vez disse que "o azar de Friedman é que suas políticas foram testadas". Podemos acrescentar que sua sorte é que as crenças em teorias simples podem desafiar as evidências.

A experiência monetarista com o QE não leva em consideração uma das mais importantes contribuições de Keynes ao entendimento de uma economia deflacionária: a armadilha da liquidez. Quando há um endividamento excessivo e a expectativa é de uma queda nos preços, a proporcionalidade entre o dinheiro e a renda nominal, estabelecida pela teoria quatitativa da moeda, se rompe. Dois de seus parâmetros críticos - a chamada velocidade de circulação da moeda e o multiplicador bancário -, que deveriam ser estáveis sob condições normais, caem quando o banco central imprime dinheiro em um cenário deflacionário. Franco Modigliani, um dos críticos mais ácidos do monetarismo de Friedman na década de 1970, costumava dizer a seus alunos no MIT que a renda nominal mantém sua proporção fixa em relação à base monetária da mesma maneira que a velocidade de um carro em movimento mantém uma relação fixa com sua antena: é verdade, contanto que você não tente parar o carro segurando na antena.

Tentar controlar a inflação elevada com o controle da base monetária- conforme nós, brasileiros, aprendemos da maneira mais dura nas décadas de 1980 e 1990 - não apenas é impossível, como também representa o caminho mais curto para uma crise bancária. Estimular uma economia deflacionária com a expansão da base monetária é tão ineficaz quanto tentar empurrar um carro morro acima por sua antena. Como Ben Bernanke também foi aluno de Modigliani, acredito que deve se lembrar da analogia da antena. Provavelmente, ele está ciente da ineficácia do QE para tirar a economia da armadilha deflacionária, mas como essa política também não é nociva - pelo menos no curto prazo -, por que não usá-lo como um placebo para acalmar os mercados?

O segundo campo é o neokeynesiano. Michael Woodford, embora não seja um participante muito ativo do debate público, é a voz mais influente entre os acadêmicos e os banqueiros centrais. É o principal nome por trás do atual modelo de referência macroeconômica. Em um estudo singularmente longo, apresentado na reunião dos bancos centrais em Jackson Hole no ano passado, ele explicitou os motivos da ineficiência do QE monetarista e defendeu o uso da política de taxas de juros além do chamado limite inferior. Seu argumento é que os bancos centrais podem continuar estimulando a demanda mesmo depois de as taxas de juros estarem próximas de zero, se conseguirem criar expectativas inflacionárias. Isso se faz por meio de "orientação futura", no jargão dos bancos centrais. Estes deveriam estimular as expectativas inflacionárias e garantir, por meio da "orientação futura", que não aumentarão as taxas de juros quando essas expectativas se materializarem. A ideia é garantir taxas de juros reais negativas.

A proposta neokeynesiana de estimulo à recuperação é baseada na hipótese implícita de que juros reais mais baixos continuam estimulando a demanda mesmo quando se tornam negativos. Em termos do modelo macroeconômico IS-LM [que explica decisões do investidor em função da sua disponibilidade de dinheiro e juros esperados], pressupõe-se que não há descontinuidade na forma de curva IS quando nos movemos para o quadrante das taxas de juros reais negativas. Essa continuidade é uma hipótese altamente questionável. É verdade que os juros negativos são capazes de estimular a demanda, mas não é a demanda que aumenta a oferta e promove o crescimento. Os juros reais negativos estimulam a demanda pelo que é percebido como reserva de valor, pelos bens não reproduzíveis, como obras de arte, propriedades extraordinárias e até mesmo "relíquias bárbaras", como o ouro [no dizer de Keynes]. É a demanda por ativos em que poupanças podem ser estacionadas sem serem corroídas pela inflação, e não a demanda por bens de capital ou de consumo.

Os brasileiros e outros cidadãos de países que experimentaram a inflação crônica até poucas décadas atrás estão bem conscientes dos efeitos perturbadores e distorcivos da repressão financeira e dos juros reais negativos. Não é necessário passar por uma hiperinflação aberta, como aconteceu na Alemanha na década de 1920, para continuar traumatizado com a possibilidade da corrosão das economias de uma vida inteira.

Se o novo monetarismo do QE é ineficiente e o neokeynesianismo dos juros reais negativos é distorcivo e perigoso, resta-nos o campo keynesiano clássico. Os keynesianos ortodoxos alegam que o neokeynesianismo não é, na verdade, keynesiano, uma vez que esquece as principais lições da "Teoria Geral": a armadilha da liquidez e a função do consumo. Para os keynesianos ortodoxos, a única maneira de sair da atual estagnação é aumentar os gastos do governo. Na expressão de seu principal representante, Paul Krugman, os gastos públicos deveriam ser usados como uma "ignição" da economia. Mas as atuais circunstâncias são diferentes das de uma economia em pós-depressão, das quais a "Teoria Geral" se ocupava.

Com os lares ainda desconfortáveis com seus altos graus de endividamento, a propensão marginal ao consumo continua singularmente baixa. O mundo está hoje mais integrado e nem mesmo uma economia continental como a dos Estados Unidos pode ser pensada como uma economia fechada. A menor propensão marginal ao consumo e a maior propensão marginal à importação reduzem a eficácia do multiplicador de renda keynesiano. Mesmo que ele fosse eficiente, o keynesianismo ortodoxo desconsidera o fato de que, hoje, o endividamento público não está apenas alto demais, mas está aumentando rapidamente. Os keynesianos ortodoxos afirmam que, com juro zero, isso é um almoço grátis. No curto prazo, provavelmente eles estejam certos, mas desprezam demais os riscos de uma alta dos juros no futuro. O endividamento público poderá subitamente ser percebido como não financiável. Esta é uma possibilidade especialmente ameaçadora para países como os Estados Unidos, onde, diferentemente do Japão, os estrangeiros mantêm uma parcela significativa da dívida.

Se não há um caminho claro e livre de riscos para uma recuperação rápida, por que é considerado imperativo que o crescimento deve ser perseguido a qualquer custo? O crescimento domina o debate público, define os bons e os maus governos, elege ou derrota candidatos. O ritmo acelerado das economias na fronteira tecnológica definiu o crescimento como um imperativo no século XX. Mas o crescimento é um fenômeno relativamente novo; praticamente, não houve crescimento até a Revolução Industrial do século XVIII. Se alguém pergunta por que crescer, provavelmente a resposta será que o emprego exige isso. É verdade, mas o desemprego é um problema apenas quando a economia cresce menos que a taxa de crescimento da força de trabalho. O que provoca um aumento maior do desemprego são as flutuações do crescimento, especialmente aquelas associadas às crises financeiras. O desemprego está mais correlacionado às flutuações do crescimento do que ao baixo crescimento, contanto que seja pelo menos igual ao crescimento demográfico.

Então, por que, após uma grande crise financeira, depois de conseguirmos por pouco evitar outra Grande Depressão, estamos tão ansiosos por crescer? Por que estamos querendo usar todo tipo de experiência não testada para estimular artificialmente a demanda e correr o risco do estouro de uma nova e mais destruidora bolha no futuro? Uma possível resposta é que o crescimento mais lento é percebido como um fenômeno cíclico, o que hoje, após a síntese keynesiana, é entendido como um sinal de má administração macroeconômica. Uma explicação mais elementar é que queremos crescer simplesmente porque mais é melhor. Precisamos crescer para ficarmos mais ricos. Por que essa necessidade de ficar rico a qualquer custo?

Em um ensaio de 1930, "Possibilidades econômicas de nossos netos", a resposta de Keynes a essa pergunta contradiz o consenso moderno: o motivo para crescer e ficar rico é poder trabalhar menos. O número de horas de trabalho de fato caiu nos países ricos, mas bem menos que o esperado. O trabalho nunca foi considerado tão importante, um componente essencial de nossa vida e personalidade. O próprio Keynes intuiu por quê. No mesmo ensaio, disse que, uma vez garantidas as necessidades básicas, o homem então se depara com esta dúvida eterna: o que fazer com o tempo e a liberdade que os juros acumulados e a ciência lhe deram?

A correlação entre o crescimento e o bem-estar fica muito mais fraca depois de alcançado um nível de renda surpreendentemente baixo. O fato de não haver um substituto claro e quantificável para o crescimento enquanto representante do bem-estar ajuda a explicar por que continua sendo um objetivo tão perseguido. A felicidade, se quantificável como um estado mental objetivo, não pode servir de medida do bem-estar. Se entendida como uma condição existencial, não é quantificável. Quando fica claro que os limites físicos do planeta serão duramente pressionados pela tentativa de proporcionar à população mundial o nível de consumo material dos países avançados, a obsessão em promover o crescimento no curto prazo a qualquer preço é ainda mais questionável.

Hoje, somos todos keynesianos, no sentido que a palavra adquiriu, de um foco excessivo no curto prazo. Horrorizados com a possibilidade de uma demanda insuficiente, interpretamos erroneamente as condições de longo prazo como problemas de curto prazo. A sagacidade de Keynes no debate público é melhor lembrada por sua observação de que "no longo prazo todos estaremos mortos", mas Keynes não se reconheceria nessa indiferença contemporânea pelos riscos de longo prazo. Recentemente, ouvi a história de que, ao sair de uma reunião de economistas keynesianos no Canadá, após o acordo de Bretton Woods, Keynes observou que provavelmente era o único economista não keynesiano na sala.

Parece que esquecemos a lição do modelo neoclássico de crescimento de Solow-Swan: na fronteira tecnológica, o crescimento é uma função do crescimento demográfico e do progresso tecnológico. Não há sentido em forçar artificialmente a demanda. Certa vez, ao falar sobre os anos 1930, Keynes disse que as economias avançadas sofreram as dores do crescimento do passado, e não de problemas da idade avançada. Podemos finalmente ter batido à porta da velhice, mas insistimos em tratar nossos problemas como dores do crescimento acelerado, pois nosso olhar não vão além do curto prazo. (Tradução: Mario Zamarian)

André Lara Resende é economista. O texto, em inglês, foi apresentado em seminário na Casa das Garças, homenagem aos 70 anos do Pedro Malan

Fonte: Valor Econômico