sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Fernando Abrucio* - Alimentar o ódio é minar a nação

Eu & Fim de Semana / Valor Econômico

A frente ampla é a única forma de salvar a nação da doença que cresce no país, e ela será feita de grandes decisões e de pequenos atos

A construção de nações foi uma das tarefas mais complexas da história da humanidade. O primeiro passo é estabelecer os limites territoriais dos países, algo ainda inacabado em parte do mundo, tendo muitas vezes a guerra como solução. Mas o aspecto mais complicado está na produção da identidade nacional. Constituir um povo que conviva com suas diferenças não é nada trivial. Mesmo sendo escandalosamente desigual, o Brasil conseguiu edificar uma sociedade razoavelmente tolerante, com espaços de convívio e respeito mútuo. Só que o ódio entre brasileiros tem sido alimentado cotidianamente. Isso pode afetar o destino de curto e longo prazo da nação.

O ódio social nunca foi uma bússola para construir civilizações. Nos casos mais extremos, produziu-se a barbárie. Assim foi na Alemanha nazista, com a perseguição de vários grupos sociais, especialmente os judeus, com 6 milhões de mortos. O Brasil atual está longe disso, mas o crescimento do neonazismo nas redes sociais e manifestações declaradamente nazistas em universidades e até em escolas particulares de educação básica revelam que há sementes totalitárias sendo plantadas em nossa nação.

Mas o ódio pode ter uma forma mais branda e duradoura, com divisões sociais marcadas pelo rechaço completo entre as forças políticas, transformando a atividade da política em um jogo de mágoas perpétuas. A Argentina tem trilhado essa história desde a Segunda Guerra Mundial, com períodos autoritários muito violentos e com momentos democráticos em que o diálogo tem pouco espaço entre os diferentes. O fato é que o desenvolvimento econômico e social argentino foi barrado por um grau de polarização que dificulta qualquer decisão que resulte da negociação e do respeito mútuo. Esse é o efeito Orloff que o Brasil mais deveria temer.

José de Souza Martins* - Infiltrações autoritárias na democracia brasileira

Eu & Fim de Semana / Valor Econômico

Os diferentes grupos organizados de referência na reprodução da intolerância com o outro, política ou religiosa, desenvolveram uma sociabilidade autoimune

O curto regime bolsonarista fez e continua fazendo muitas revelações do que é o Brasil político. Mostrou-nos que o que imaginávamos ser o país utopicamente democrático da Constituição de 1988 é, na verdade, um país de democracia híbrida infiltrada por estruturas autoritárias e por uma cultura acentuadamente intolerante.

O descuido pós-ditatorial, dos que lutaram pela democracia contra a ditadura de 1964, em relação a essa infiltração, permitiu que o autoritarismo crescesse e se multiplicasse nutrido pelos direitos do regime democrático. E criasse as bases sociais do que Theodor Adorno, em famoso estudo por ele coordenado nos EUA, chamou de personalidade autoritária. Bolsonaro a expressa e aglutina os dela dotados.

A mudança de governo não mudará essa realidade, a menos que leve em conta que é preciso identificar e neutralizar os focos dessa vulnerabilidade.

César Felício - O verdadeiro risco para Lula não está nas ruas

Valor Econômico

Ofensiva contra teto pode fazer mercado mudar premissas

As duas primeiras semanas pós-eleição já deixaram claro que a oposição a ser forjada contra o governo Lula, em um primeiro momento, estará longe do Congresso, da cúpula do Poder Judiciário e da comunidade internacional.

Os primeiros contatos de Lula em Brasília e na conferência de Sharm el-Sheikh mostraram que, no mínimo, deverá haver disposição nestas três searas de não se emparedar o petista.

O clima entre Lula e os presidentes das casas legislativas é de cooperação. É muito possível que o presidente eleito não consiga do Congresso toda a licença para gastar livremente acima do teto em transferência de renda, como pleiteou nesta quarta-feira, mas desde a redemocratização há uma tradição no Brasil, quebrada apenas no governo Dilma Rousseff em 2015, do Legislativo não criar problemas para o chefe do Executivo no primeiro ano de seu governo.

Luiz Carlos Azedo - A transição de Lula parece a Democracia Corinthiana

Correio Braziliense

A equipe de transição conta com 31 grupos temáticos, cada um empenhado em ter o seu próprio ministério, e mais de 300 pessoas indicadas para esses grupos de trabalho

Uma das páginas mais interessantes da história do futebol brasileiro foi o surgimento da Democracia Corinthiana na década de 1980, um movimento que marcou a história do Timão paulista e representou, àquela época, o engajamento de um clube de futebol na luta pela redemocratização do país, com a participação dos craques do time, principalmente Sócrates, Wladimir, Casagrande e Zenon, na campanha das Diretas, Já.

Internamente, o futebol do Corinthians passou a ser administrado de forma revolucionária, num modelo de autogestão no qual todas as decisões importantes do dia a dia, inclusive contratações e escalações, eram tomadas por toda a equipe, na base do "cada cabeça um voto", do roupeiro do time ao técnico Mário Travaglini. O sociólogo Adilson Monteiro Alves, diretor de futebol do clube na época, foi o pai dessa criança. O filho dele, Duílio Monteiro Alves, ocupa o mesmo cargo atualmente e pode ser candidato à Presidência do clube.

Vera Magalhães - Cargos e Orçamento não são ilimitados

O Globo

É perigosa a ideia de que o caminho é contar com uma Esplanada dos Ministérios inchada e com uma gastança desenfreada

O Brasil precisará ser reconstruído a partir de escombros deixados pelo período Jair Bolsonaro em praticamente todas as áreas da administração pública, nas relações entre os Poderes e nos marcos básicos civilizatórios que pautam a convivência entre os diferentes na sociedade. Mas, para isso, é ilusória e perigosa a ideia de que o caminho é contar com uma Esplanada dos Ministérios inchada e com uma gastança desenfreada que não se preocupe em cortar gastos e mostrar de onde virão as receitas. Esses são dois vetores preocupantes da transição até aqui.

É muito difícil encontrar propósito técnico nas 300 nomeações para uma passagem de bastão de 60 dias, dos quais quase 20 foram gastos só com listas de nomes que não terminam jamais.

Garantir representatividade, diversidade e pluralismo de ideias é uma meta desejável em se tratando da formação do futuro governo. Mas é uma tarefa espinhosa, que requer liderança e autoridade para dizer muitos “nãos” e desagradar interesses conflitantes.

Bernardo Mello Franco - As vivandeiras e o agrogolpismo

O Globo

Investigação da PF lista empresas suspeitas de bancar atos contra resultado das urnas

Quando os bolsonaristas começaram a fechar rodovias, o procurador Mário Sarrubbo avisou que havia uma organização criminosa por trás dos protestos contra o resultado das urnas. Investigações da Polícia Federal mostram que o chefe do Ministério Público paulista tinha razão.

Em ofício enviado ao Supremo, a PF identificou dezenas de suspeitos de financiar os atos golpistas. Com base no relatório, o ministro Alexandre de Moraes mandou bloquear as contas bancárias de 43 pessoas físicas e jurídicas.

A lista é dominada por empresários e empresas agrícolas e de transporte de cargas. Uma delas tem nome sugestivo: Berrante de Ouro Transportes Ltda. Sua sede fica em Sorriso (MT), que reivindica o título de capital nacional do agronegócio.

Vinicius Torres Freire - Como Lula 3 ainda pode dar muito certo

Folha de S. Paulo

Transição verde e conjuntura mundial são estradas abertas; dívida ilimitada é desastre

Luiz Inácio Lula da Silva fez grande sucesso de público na COP27, a conferência do clima da ONU. Também pode fazer grande sucesso de crítica.

mudança necessária para conter o desastre climático é uma rara oportunidade para o Brasil embarcar em um trem avançado da economia mundial. Por acasos da conjuntura internacional, há outras estradas abertas, no comércio e no investimento.

Para começar, o mero fato de dar cabo da era de trevas (2019-2022) pode trazer de volta investimentos que estavam travados porque empresas interessadas têm, por qualquer motivo, compromissos ambientais. A coisa vai além.

Um programa bem pensado de "transição verde" pode ser um plano de progresso social e tecnológico. Do que se trata?

Reinaldo Azevedo - Lula enfrenta a real herança maldita

Folha de S. Paulo

Gritaria sobre responsabilidade fiscal é histérica, precoce e infundada

Fosse a Presidência da República uma distinção apenas pessoal, Lula poderia estar a flanar de felicidade, não é? A forma como foi recebido na COP27, o seu discurso impecável, a reação do mundo à sua fala... "Exuberante", "rockstar", "herói".

Herói? Pois é. A resposta "Duzmercáduz", como se percebe, não é boa. E já que se empregou aqui a palavra "herói", a imprensa antevê o pior e decide atuar como o coro a comentar o desfecho trágico daquele que há de ser punido por sua "húbris", que é a soberba de afrontar os deuses olímpicos. Ocorre que Lula só está confrontando a herança maldita de Jair Bolsonaro e um Orçamento de mentira.

Como sabem os especialistas da área, ninguém consegue parar o sistema punitivo do drama trágico. O subgênero tem um propósito didático. A catarse existe para restaurar a ordem. E convenham: esse tal Lula está aí há muito tempo a arrostar com a máquina do mundo. Seu último feito foi ficar 580 dias preso em razão de uma condenação sem prova e saltar da cela para a Presidência.

Ruy Castro - A cultura estará de volta

Folha de S. Paulo

Os quatro anos de massacre, sabotagem ou asfixia podem ter chegado ao fim

Começou, sem exagero, um minuto depois do fim da apuração e dos primeiros fogos: uma explosão coletiva, comparável à notícia do fim de uma guerra — e foi mesmo uma guerra. Os telefones dispararam, e não apenas para a troca de gritos eufóricos, suspiros de alívio e desabafos comovidos.

As vozes do outro lado já falavam de projetos reprimidos, sabotados ou asfixiados e que talvez possam agora se materializar. Palavras como edital, concorrência, bilheteria, elenco, ensaio, estreia, que se temia extintas da língua, reapareceram nas frases empolgadas de pessoas loucas para trabalhar. Era o teatro, o cinema, a música, as artes plásticas, a literatura, a poesia e tantas formas de expressão voltando à vida.

Bruno Boghossian - Duas semanas a menos

Folha de S. Paulo

Novo governo tem pressa, mas articulação para votar PEC anda a passos lentos

Na primeira passagem por Brasília, no início do mês, a equipe de transição avisou que tinha pressa. Geraldo Alckmin afirmou que era preciso aprovar até 15 de dezembro uma proposta para contornar o teto de gastos e garantir o pagamento do Bolsa Família em 2023. Aloizio Mercadante foi mais ambicioso: disse que o limite era o fim de novembro.

Desde então, o time de Lula perdeu duas semanas. Enquanto o calendário corria, as articulações para votar a PEC da Transição andavam a passos lentos. Anunciada no dia 3, a proposta só teve uma minuta apresentada no dia 16, e a primeira reunião com partidos aliados para discutir o texto foi marcada para o dia 23.

Hélio Schwartsman – A sabedoria de César

Folha de S. Paulo

Embora Lula não deva mais nada à Justiça, ele tem uma história que enseja dúvidas

Gaius Julius Caesar tinha o coração duro. Em 63 a.C. ele se tornou "pontifex maximus", sumo-sacerdote da religião de Estado de Roma, posto que atribuía algumas incumbências também para Pompeia, sua segunda ou terceira esposa. No ano seguinte ela organizou em sua residência um festival em honra a Bona Dea (boa deusa), no qual a presença de homens era terminantemente proibida. Mas um jovem patrício de nome Publius Clodius Pulcher se vestiu de mulher e conseguiu acesso à casa. Seu objetivo era seduzir Pompeia.

Clodius foi descoberto por uma criada e acusado do crime de sacrilégio. Num julgamento conturbado, o jovem acabou inocentado, e César, que não se esforçou muito por sua condenação, pediu divórcio de Pompeia dizendo "minha mulher nem deveria ter ficado sob suspeita".

Eliane Cantanhêde - Bateção de cabeça

O Estado de S. Paulo

Na Defesa, tensão. Na Economia, suspense. Na Articulação Política, confusão

O tempo corre e o burburinho da transição, as disputas por espaço e a ansiedade do mercado e da sociedade crescem e atingem as áreas mais sensíveis. O melhor que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva tem a fazer é anunciar, ao menos sinalizar, os rumos na economia, defesa e articulação política. Se ele não apresentou um programa de governo e pretende uma união nacional, com muitas frentes e divergências, precisa reduzir a pressão e amenizar o clima.

Na defesa, tensão. Na economia, suspense. Na articulação política, confusão. Não há nomes para o comitê de defesa na transição, os da economia não palpitaram na PEC do Bolsa Família e a articulação política está fracionada, com a velha “bateção de cabeça”.

Laura Karpuska* – A realidade

O Estado de S. Paulo

Esquerda tem de parar de pensar que responsabilidade fiscal é uma questão de direita

Ampliar gastos com transferências sociais deixou de ser uma bandeira exclusiva da esquerda brasileira. O Congresso, com políticos posicionados em todo o espectro ideológico, criou o auxílio emergencial no começo da crise sanitária. Este foi posteriormente apropriado pelo governo Bolsonaro na forma do Auxílio Brasil. O gasto com programas sociais saiu de R$ 33 bilhões com o Bolsa Família para R$ 150 bilhões estimados para 2023 – dos quais, R$ 105 bilhões estão orçados.

Isso seria inimaginável há alguns anos. A ampliação de programas sociais era recebida com resistência por diversos setores políticos e econômicos. A pandemia, portanto, normalizou o gasto com o social, um desejo latente da esquerda.

Alckmin diz que governo Lula terá responsabilidade fiscal e que novo arcabouço será discutido

Vice-presidente eleito afirma que futuro governo terá responsabilidade fiscal e que corte de gastos e reforma tributária serão prioridade

Por Fabio Murakawa, Valor Econômico

BRASÍLIA - O vice-presidente eleito Geraldo Alckmin classificou nesta quinta-feira como “momentânea” a reação do mercado à PEC da Transição e às declarações do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva sobre responsabilidade fiscal e com críticas ao teto de gastos. O vice eleito afirmou também que corte de gastos e reforma tributária estarão entre as prioridades da gestão econômica.

Em conversa com jornalistas nesta noite, Alckmin disse ainda que um novo arcabouço fiscal será discutido ao longo do governo, mas que a prioridade é assegurar o pagamento do Auxílio Brasil de R$ 600, com R$ 150 adicionais por criança de até seis anos, contemplados na PEC – o que implica gasto extrateto de R$ 175 bilhões.

Alckmin chamou um grupo de jornalistas para conversar após a reação negativa do mercado. Ele disse não ver razão para tanto “estresse”. “Eu acho que é uma reação momentânea [do mercado]. Isso vai ser esclarecido e superado. O presidente Lula já foi presidente da República por oito anos, dois mandatos. Teve responsabilidade fiscal absoluta”, afirmou.

“É bom deixar claro que o governo do presidente Lula tem compromisso com a responsabilidade fiscal. Isso não pode ser argumento para não atender o social.”

Ao comentar sobre o novo arcabouço fiscal a ser implementado em lugar do teto de gastos, Alckmin disse que a prioridade agora é aprovar a PEC. Para o vice, retirar o Auxílio Brasil do teto neste momento não "exclui" responsabilidade fiscal e a expectativa é que "no médio prazo" menos pessoas precisem receber o auxílio. "Mas isso não é em 24 horas."

Flávia Oliveira - Teto de gastos é cloroquina fiscal

O Globo

A âncora proposta meia década atrás sucumbiu

O teto de gastos é uma ficção fiscal comparável à cloroquina no enfrentamento à Covid-19. Instituído em 2017, não atravessou um solitário ano sem gotejar. Nas contas da economista Vilma da Conceição Pinto, diretora na Instituição Fiscal Independente (IFI), já no biênio inicial, ainda no governo de Michel Temer, foi arrombado em R$ 45,7 bilhões. Na dobradinha Jair Bolsonaro-Paulo Guedes, desmoronou. Em 2019, foram R$ 77 bi fora da regra estabelecida pela Emenda Constitucional 95/2016. No ano seguinte, o primeiro da pandemia, meio trilhão de reais (R$ 538 bi); em 2021, R$ 146,6 bi. Neste 2022, até setembro, as despesas extras alcançaram R$ 95,9 bilhões.

É espantoso que, diante de tamanha desmoralização, o mercado e boa parte da opinião pública ainda entrem em modo histeria quando o Orçamento, igualmente fictício, apresentado pelo presidente derrotado não comporta o teto. A âncora fiscal proposta meia década atrás sucumbiu tal qual a do navio São Luiz, que, negligenciado pela Marinha, ficou à deriva e foi dar num dos pilares da Ponte Rio-Niterói.

— O teto é disfuncional. Desde 2019, tem sido submetido a excepcionalidades — diz Vilma.

Em nome de um mecanismo fracassado de controle das contas públicas, o mercado, o país e o futuro governo desperdiçam a oportunidade de travar um debate de alto nível sobre como conjugar responsabilidade social com previsibilidade fiscal. O presidente eleito dá sinais de que não se renderá à queda de braço imposta pelos agentes financeiros, expressa em queda na Bolsa e disparada do dólar.

Pedro Doria – Equilíbrio de contas

O Globo

Inflação.  Esse é o problema, puro e simples. E, sim, pessoas perdem seus empregos, a economia se contrai

Os sinais vindos do Vale do Silício não são bons e apontam para a pior crise do mundo da tecnologia desde o estouro da bolha das ponto-com em 2000. A esta altura, já fizeram grandes demissões Snpachat, Netflix, Twitter e Meta (Facebook). A elas se juntaram a Stripe, de pagamentos, a Salesforce e a Lyft, concorrente da Uber. Nesta semana, foi a vez da Amazon. Todas demitiram mais de 10% da tropa. No início do ano, já havia entrado em colapso a WeWork. Agora foi a FTX, terceira maior corretora de criptomoedas — que, aliás, no fim agia menos como corretora e mais como esquema de pirâmide. Não é só. Mesmo empresas que não sinalizaram demissões, como Apple e Google, pararam de contratar.

A comparação com a bolha de 2000 não é referência gratuita. Quem estava no Vale naquele tempo e lá continua repete com frequência: a sensação é a mesma.

Ruth de Aquino - A Isabel fora das quadras

O Globo

Você foi uma inspiração para todas nós, mulheres

O texto de hoje não será meu. Mas de Isabel Salgado. Não a Isabel do vôlei. E sim a carioca passional que se jogou sem medo em todos os lances da vida. Ela adorava escrever, foi minha colunista uns anos e sua avó foi jornalista. Isabel era uma inspiração para nós, mulheres. Ela se posicionava. Por liberdade, igualdade e justiça. Contra o racismo e o machismo. Aos 27 anos, já era mãe de quatro filhos, de três homens diferentes. Teve cinco netos, todos meninos. Seu idioma favorito era o francês.

A única coisa que ela me pediu, na entrevista em 2020 para a revista Ela, foi. “Ruth, ao me apresentar não diga que adotei ‘um adolescente negro’ . Diga apenas que adotei um adolescente, o Alison”. Esse cuidado diz muito da Isabel de fora das quadras. Ela tentava não parecer o máximo, mas era. Quando a entrevista saiu, Isabel me mandou vários áudios, que escutei ontem aos prantos, naquela voz potente. “Ruth, você é foda. Encheu minha bola. Valeu. Você é generosa, qualidade rara nos dias de hoje. Minha amiga, foi muito bom dividir um pouco da minha vida com você. Como se batêssemos um papo, diante da praia”.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Lula testa a paciência ao ignorar críticas

O Globo

Em vez de ouvir os aduladores, ele deveria prestar atenção à bomba fiscal prestes a ser lançada sobre o país

Faltando seis semanas para a troca de poder em Brasília, tem sido decepcionante a reação do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva às críticas. Animado pela vitória, ele tem preferido ouvir as vozes dos aduladores a encarar a realidade da bomba fiscal prestes a cair sobre o país. Ao comentar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, que amplia de forma irresponsável o gasto do governo a partir de 2023, Lula se saiu mais uma vez com um despropósito: “Se eu falar isso, vai cair a Bolsa, o dólar vai aumentar? Paciência”.

Paciência, o novo governo tem testado não apenas a dos mercados, mas a de todos os brasileiros que sabem fazer contas. Aumentar gastos sem amparo de receitas nem gestão do passivo levará a um ciclo bem conhecido no Brasil: aumento descontrolado do endividamento, juros elevados, dólar mais caro, inflação alta e menos crescimento econômico. Como sabe qualquer um que já tenha contraído dívidas, países que gastam sem limites têm mais dificuldades para rolar seus compromissos.

Poesia | Carlos Drummond de Andrade - Os Velhos

 

Música | Roberta Sá - Nosso Plano