sexta-feira, 8 de maio de 2015

Opinião do dia – Rubens Bueno

O Partido dos Trabalhadores está só no nome. Na verdade, o PT tira dinheiro do trabalhador brasileiro para cobrir o rombo da incompetência do governo Dilma e a conta da campanha eleitoral de 2014.

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Deputado Rubens Bueno (PR), líder do PPS na Câmara,

Governo ‘congela’ cargos de aliados que votaram contra medida do ajuste fiscal

• Após obter vitória apertada na aprovação da MP que restringe acesso a seguro-desemprego, Palácio do Planalto põe ‘no fim da fila’ pedidos de indicação feitos por partidos como o PDT e o PP; petistas rebeldes não serão punidos internamente pela sigla

Erich Decat e Daniel Carvalho - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Com o mapa de votação em mãos, integrantes da cúpula do governo e lideranças do PT vão tratar de forma distinta as traições e ausências ocorridas no plenário da Câmara na discussão da Medida Provisória 665. Partidos como o PDT, que se aliou a parte da oposição e votou integralmente contra a proposta, terão como represália o represamento das indicações dos cargos do segundo e terceiro escalões do governo federal.

Na legenda do ex-ministro Carlos Lupi – que recentemente foi flagrado dizendo que os petistas “exageraram no roubo” –, todos os 19 integrantes da bancada votaram contra a MP que integra o pacote de ajuste fiscal do governo Dilma Rousseff. Atualmente, o PDT ocupa o Ministério do Trabalho, comandado por Manoel Dias.
Segundo integrantes da cúpula do governo, a lista de demandas por espaço dos pedetistas, agora, “vai para o final da fila”.

“A base ficou muito incomodada”, afirmou o líder do governo, José Guimarães (PT-CE).

Outro aliado que deve ter cargos “congelados” é o PP. Dos 39 parlamentares que votaram, 18 disseram não à MP do ajuste. O PP ocupa hoje o Ministério da Integração Nacional.

Sob pressão do Planalto e intervenção do PMDB, o PT, por sua vez, não deverá punir representantes do partido que votaram contra a MP. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), usou o episódio para criticar o aliado. “Alguns fugiram ontem (quarta-feira) e fugiram hoje (quinta) de novo. Tem um grupo de nove, dez que não compareceram para votar”, disse Cunha. O PT deu 54 votos a favor, um contra e teve nove ausências.

Em 2003, o PT expulsou quatro parlamentares que se recusaram a apoiar a reforma da Previdência do governo Lula. “Não haverá punição. O fechamento de questão foi mais um gesto político da bancada para poder assegurar a votação da MP”, afirmou Paulo Teixeira (PT-SP), integrante da Executiva Nacional da sigla.

Apesar da tendência de não haver punições, o deputado Weliton Prado (MG), único a votar contra a MP, deverá ser isolado das atividades do partido na Casa. O sentimento dentro da bancada é de que a posição dele foi “oportunista” e que, mesmo contrária à proposta – que restringe o acesso a benefícios trabalhistas –, a maioria dos deputados da legenda “foi para o sacrifício”. “Fui coerente com minha trajetória e com o compromisso com os trabalhadores”, disse Prado ontem, quando tornou a votar em desacordo com o PT nos destaques da MP. Para o parlamentar, o ajuste fiscal proposto pelo governo não deveria se restringir aos trabalhadores.

“Você pode até ter ajustes, mas não é certo fazer ajuste só com o trabalhador. Por que não fazer com os bancos?”

Justificativas. Não estavam na Câmara ontem os petistas Assis Couto (PR), Professora Marcivania (AP) e Ságuas Moraes (MT). Outros seis deputados do partido chegaram a marcar presença, mas não votaram: Erika Kokay (DF), Luizianne Lins (CE), Marcon (RS), Padre João (MG), Pedro Uczai (SC) e Zé Geraldo (PA).Luizianne Lins afirmou, via nota oficial, ter se retirado do plenário por não concordar com o mérito da matéria. “Foi uma decisão política”, disse a deputada e ex-prefeita de Fortaleza.

Marcon disse, também por nota, ter se ausentado por entender que as novas regras prejudicam os trabalhadores. “Não votei contra em respeito ao governo e à bancada do Partido dos Trabalhadores”, disse.Padre João também falou por escrito: “Votar em favor da MP era votar contra os trabalhadores que me concederam quatro anos de mandato como deputado. (...) Votar contrário à MP era votar contra a minha bancada e contra o próprio governo. Diante deste contexto, optamos por não votar”.

Destaques. A MP 665 faz parte do pacote de ajuste fiscal encaminhado pelo Executivo ao Congresso e foi aprovada na noite de anteontem por 252 a 227 votos em meio a bate-boca e panelaços. A deputada Jandira Feghali (PC do B-RJ) chegou a publicar em sua página no Facebook uma acusação segundo a qual ela teria sido agredida fisicamente pelo opositor Roberto Freire (PPS-SP) – “pegou meu braço com força e puxou para trás”. No meio da confusão no plenário, o deputado Alberto Fraga (DEM-DF) afirmou a Feghali: “Mulher que participa da política e bate como homem tem que apanhar como homem”.

Ontem, todos os destaques que causariam alterações na proposta foram rejeitados. O próximo desafio do governo estará na votação de segunda proposta do ajuste fiscal, a MP 664, prevista para entrar em discussão no plenário na próxima semana.

Renan Calheiros (PMDB-AL) já sinalizou que o governo terá dificuldades na aprovação do pacote no Senado. “Enquanto o Executivo prejudica o trabalhador em busca de R$ 18 bilhões, o Congresso dá sua contribuição ao ajuste”, afirmou o presidente da Casa, em referência à aprovação da emenda constitucional que amplia a idade-limite para aposentadoria de juízes de tribunais superiores – a PEC da Bengala. Segundo Renan, ela gera economia em razão do atraso das aposentadorias dos juízes.

Governistas cobram 70 cargos por apoio ao ajuste

Aliados cobram a fatura

• Partidos da base do governo exigem cargos de segundo escalão para apoiar outra MP do ajuste

Júnia Gama e Isabel Braga - O Globo

Velhas práticas

BRASÍLIA - Em meio a um escândalo de corrupção que se iniciou com a indicação de aliados de políticos para cargos de direção na Petrobras, o governo e sua base aliada lançaram mão de fisiologismo explícito para aprovar a primeira das duas Medidas Provisórias (MPs) do ajuste fiscal. Enquanto o Palácio do Planalto fez negociação aberta de nomeações para o segundo e terceiro escalões, já tendo encaminhado 70 cargos para a Casa Civil, os parlamentares cobraram abertamente a fatura da votação, inclusive ameaçando derrotar o governo na próxima semana caso o palácio não publique as nomeações no Diário Oficial.

Uma longa lista de indicados políticos aguarda liberação do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que recebeu ontem, assim como outros articuladores do governo, como o vice-presidente Michel Temer e o ministro Eliseu Padilha (Aviação Civil), diversos parlamentares para que fossem sacramentadas as nomeações. Entre os cargos almejados, estão aqueles que lidam com volume significativo de recursos ou que têm influência política local, como as agências de desenvolvimento regionais, as ligadas a Transportes e Saúde, além de diretorias em bancos e representações federais, como delegacias do Ministério da Agricultura.

As mensagens dos parlamentares foram claras no sentido de que, após a aprovação da MP 665, que endurece as regras para concessão de seguro-desemprego e abono salarial, os partidos esperam a prometida recompensa até o início da próxima semana. Caso contrário, alertaram, o governo poderá ser derrotado na votação da MP 664, prevista para terça-feira, que dificulta o acesso à pensão por morte e ao auxílio-doença.

Dilma vai avaliar votação de cada partido
O próprio Michel Temer - que pela manhã foi recebido pela presidente Dilma Rousseff, que o parabenizou pelas articulações que possibilitaram a vitória - vocalizou a situação ao chegar a um evento do PMDB em Brasília. O vice afirmou que a presidente irá avaliar a posição de partidos aliados que votaram contra a MP 665, como o PDT, que não deu nenhum voto favorável à medida. No PP, de 39 deputados, 17 votaram contra; no PRB, de 19, 8 a rejeitaram; e no PTB, de 24, 11 votaram não.

- A presidente Dilma vai examinar depois (se haverá troca no Ministério do Trabalho, que é do PDT), não há nenhuma cogitação agora. O que há no governo é o seguinte: quem ganhou a eleição, quem apoiou o governo, quem ajudou a presidente Dilma vai governar junto - afirmou o vice.

Na manhã de ontem, o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), e mais 18 deputados do partido se reuniram com o ministro Eliseu Padilha para conversar sobre os pleitos de cargos no segundo e terceiro escalões. Padilha ligou para assessores da Casa Civil para repassar os pedidos. Também repassou ao ministro Aloizio Mercadante o recado da bancada: parte das nomeações deveriam ser formalizadas até segunda-feira ou a bancada poderia não apoiar a votação da MP 664.

Mercadante, segundo peemedebistas presentes ao encontro, pediu que Padilha colocasse o telefone no viva voz e fez questão de agradecer o apoio na votação da primeira MP do ajuste. Disse ainda que o governo iria prestigiar os aliados. Com a garantia de nomeações, as votações dos destaques ontem foram mais tranquilas que o sufoco na quarta-feira, com o governo derrubando todos os destaques que tentavam alterar o texto.

O líder do PMDB, Leonardo Picciani, chegou a orientar contra um destaque apresentado por sua própria bancada. Segundo peemedebistas, o desejo do partido são cargos na Companhia Docas e delegacias do Ministério da Agricultura nos estados. No caso do Rio, cargos na Infraero. Estavam presentes no encontro com Padilha deputados de estados como Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Alagoas, Piauí e Paraíba. A expectativa da bancada é que pelo menos seis indicações que já passaram pelo crivo da ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) se concretizem até segunda-feira à noite.

PDT diz que sai "sem problema"
O PP, que se dividiu na votação depois de ter cogitado ficar contra o governo, cobiça cargos na Agência Nacional de Vigilância Sanitária, na Agência Nacional de Transportes, no Cade, entre outros. O partido também espera obter nomeações até o início da próxima semana para ajudar na votação da MP 664. Já entre os parlamentares do PR, há diversas nomeações liberadas, como a diretoria do Dnit e o comando das unidades regionais do órgão no Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Norte. O partido pretende manter o que ocupa e ampliar o número de estados nos quais comanda cargos ligados ao Dnit. Em 2011, indicados do partido foram retirados desses cargos por suspeita de corrupção, em meio à chamada "faxina ética" que a presidente Dilma promovia.

As negociações explícitas, no entanto, provocaram reações entre aqueles que não acompanharam o voto do governo.

- Votei contra porque não aceitei a ingerência do líder do governo na nossa reunião, prometendo espaços e transformando o encontro da bancada na Câmara em balcão de permuta - justificou o deputado Danilo Fortes (PMDB-CE).

- Se quiser tirar o Ministério Trabalho, não tem problema nenhum, se ela achar que não precisa do PDT, saímos sem problema. Não vamos nos submeter a qualquer pressão indevida. Agora, acho deselegante o líder do governo (José Guimarães) oferecer o ministério ocupado pelo PDT para outros partidos - afirmou o líder do PDT, André Figueiredo, cujo partido votou integralmente contra a MP 665. (Colaborou Simone Iglesias)

Infidelidade une inimigos figadais PT e DEM

• Entre os petistas, nove deputados se ausentaram da votação do ajuste fiscal e um votou contra; no opositor, oito foram favoráveis à medida

Isabel Braga, Simone Iglesias, Patrícia Cagni e Mayara Mendes – O Globo

Polêmico e impopular, especialmente entre as bases sindicais, o ajuste fiscal deixou PT e DEM, há doze anos adversários figadais, em posição semelhante. Os dois tiveram de lidar com forte dissidência em suas bancadas. Da bancada petista de 64 deputados, nove se ausentaram da votação da MP 665, e um votou contra. Dos 22 deputados do DEM, oito votaram a favor da medida.

Cinco petistas decidiram se ausentar do plenário por não concordarem com o mérito da medida: Luizianne Lins (CE), Marcon (RS), Padre João (MG), Pedro Uczai (SC) e Professora Marcivania (AP). Eles resistiram ao fechamento de questão na bancada e, votos vencidos, resolveram reagir politicamente. Os deputados Erika Kokay (DF) e Zé Carlos (MA) também estavam na Câmara e optaram por não ajudar o governo. Apenas Assis do Couto (PR) e Ságuas Moraes (MT) não estavam em Brasília por motivos de saúde.

- Temos uma discordância de mérito com a MP, não tínhamos condições de votar o que estava sendo proposto. Também não queríamos votar contra o governo e com os nossos inimigos, então, nos retiramos - disse Luizianne.

O deputado Welinton Prado (PT-MG) votou contra o governo, mas o partido não deverá puni-lo.

- Mantive a coerência com tudo que sempre defendi. Acho que não é certo você fazer um ajuste só para o trabalhador. Porque os bancos estão de fora se são os que mais lucram? - questionou.

Já no DEM, o líder na Câmara, Mendonça Filho (PE), classificou a atitude dos dissidentes como opção de cunho "técnico e ideológico". Integrantes do partido, no entanto, reconhecem que a votação foi reforçada pelas negociações entre o vice-presidente Michel Temer com o prefeito de Salvador e uma das principais lideranças do partido, ACM Neto, para enviar recursos federais à capital baiana.

O deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ) - um dos que votou a favor do ajuste - disse que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, mostrou a importância do ajuste.

- Se nós olharmos o que tem escrito sobre o que o partido pensa, pode ter certeza que tem muito mais a ver com o que pensa o Joaquim Levy do que o contrário. Preferi ficar com o placar, com o Brasil, do que ficar apenas pisando em uma presidente que do fundo do poço não sai mais - justificou.

O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), defendeu que o partido peça desculpas à sociedade pela traição. "Foi deprimente ver o partido agir assim. Cabe a nós pedirmos desculpas por essa traição ao sentimento da população brasileira", disse em nota.

O presidente do DEM, Agripino Maia disse que o partido não voltará a apoiar o governo.

- Eu fui surpreendido com os votos. Como não tinha um fechamento de questão, vencida essa etapa, nada mais será votado sem a decisão da bancada, com a anuência do partido. Eu não concordo com esse posicionamento.

Articulação de Temer foi 'à moda antiga'

• Sucesso de vice-presidente deveu-se a ouvir demandas, garimpar votos na oposição e cobrar ministros políticos

• Parte dos aliados votou na confiança, já que nomeações acertadas no balcão de negociação precisam ser efetivadas

Valdo Cruz, Ranier Bragon – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O vice-presidente Michel Temer (PMDB) obteve sucesso em sua primeira grande missão com o estilo de articulação política "à moda antiga" --marcação cerrada nos ministros políticos, diálogo para atender demandas de aliados e busca de votos até na oposição--, um modelo em desuso no governo Dilma.

Na noite de quarta (6), ao fim da sessão da Câmara e com a medida aprovada, a equipe de Temer respirava aliviada admitindo que, sem os votos da oposição, o governo teria saído derrotado.

E que boa parte dos aliados votou na base da confiança de que o novo articulador político, na função há 30 dias, entregará o que prometeu, diferentemente do que ocorreu com seus antecessores. Afinal, mais de 150 nomeações acertadas no balcão de negócios da votação ainda não foram efetivadas porque aguardam o trâmite da Casa Civil.

Ao todo, o governo conseguiu 19 votos entre oposicionistas, sendo 8 do DEM, 7 do PSB, 3 do PV e 1 do Solidariedade. O vice-presidente buscou votos em quase todos os partidos adversários de Dilma, até no PSDB. Segundo assessores, conversou com amigos tucanos, mas ouviu um "educado não". A bancada tucana votou toda contra.

Temer obteve mais sucesso na garimpagem de votos no DEM, que contou inclusive com um almoço no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente, no dia da votação. Participaram oito deputados do partido --exatamente os que votariam mais tarde com o governo.

Presente ao almoço, o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM) --interessado em verbas e, por isso, com a necessidade de manter bom relacionamento com o governo--, estava acompanhado de quatro deputados baianos.

Parabéns
Temer foi parabenizado pela presidente Dilma logo cedo nesta quinta (7), antes de a Câmara retomar a sessão para votar emendas ao texto básico aprovado no dia anterior. A petista disse que estava muito "feliz" e que o trabalho de Temer tinha sido "fundamental" para a vitória.

Na condição de articulador político do Planalto, o vice-presidente da República montou uma operação de guerra em seu gabinete para garantir a aprovação da MP 665, que restringe acesso a benefícios trabalhistas, como seguro-desemprego e abono.

Acompanhado de três ministros de seu partido --Eliseu Padilha (Aviação Civil), Henrique Eduardo Alves (Turismo) e Kátia Abreu (Agricultura)--, o peemedebista coordenava uma equipe que disparava ligações para ministros políticos do governo pedindo ação direta em seus partidos para garantir votos.

Um deputado disse que há muito não via isso ocorrer: ministros dos partidos governistas atuando durante toda uma votação. Segundo ele, foi uma verdadeira "marcação cerrada", comum nos tempos dos ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010).

Agora, diz um auxiliar de Temer, o trabalho do vice será entregar tudo o que foi prometido e ainda está em andamento. Caso contrário, afirma ele, a confiança demonstrada por deputados aliados na votação desta semana vai ruir e o governo sofrerá derrotas em votações futuras.

Até um parlamentar petista reconheceu que o clima mudou. Segundo ele, Temer é aberto ao diálogo para as demandas da base, algo que estava em falta no Palácio do Planalto nos últimos tempos.

Aliados defendem demissão de ministro de partido infiel

• Dilma é pressionada a punir Manoel Dias, do PDT, que votou contra Planalto

• Câmara conclui votação da primeira medida do pacote fiscal do governo rejeitando emendas feitas por deputados

Ranier Bragon, Valdo Cruz, Bruno Boghosian – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Concluída a votação da primeira medida do ajuste fiscal, líderes da base governista e assessores presidenciais decidiram pedir nesta quinta-feira (7) a Dilma Rousseff a saída do ministro Manoel Dias (Trabalho), do PDT.

Na avaliação de aliados e ministros, a posição do ministro ficou insustentável depois que todos os 19 deputados do partido presentes à votação de quarta (6) traíram a presidente e votaram contra o texto básico da medida provisória 665, que restringe o acesso a benefícios trabalhistas.

A insatisfação foi transmitida pelo vice-presidente Michel Temer (PMDB) a Dilma, que ficou de avaliar a questão nos próximos dias. A expectativa no Palácio do Planalto é que a presidente opte pela demissão de Manoel Dias para usar o caso como exemplo.

A decisão só deve ser tomada depois de concluída a votação das demais medidas do ajuste fiscal na Câmara. O governo precisa ainda votar a MP 664, que restringe benefícios previdenciários, e o projeto de lei que reduz as vantagens da política de desoneração da folha de pagamento.

Segundo um assessor palaciano, é admissível que haja traições em alguns partidos, como ocorreu em todas as siglas governistas, mas não é tolerável uma votação em bloco contra o governo, como ocorreu com o PDT.

"Não me cabe dizer qual é o futuro da bancada do PDT. Me cabe dizer o seguinte: base é base, tem que ser base de manhã, de tarde e de noite", disse o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE).

O PT pretende assumir a pasta do Trabalho se Manoel Dias for demitido. O ministro mandou dizer, por meio de sua assessoria, que o voto contra o governo foi uma decisão da bancada, e não do partido. E que ele continua a favor da aprovação da MP.

Após muita confusão, a Câmara concluiu a votação da MP 665 nesta quinta, rejeitando todas as emendas que tentavam alterar o texto. A vitória governista ocorreu com margem mais folgada do que a de quarta, quando o texto principal da MP 665 foi aprovado por uma diferença de apenas 25 votos e com a ajuda de votos da oposição.

A MP segue agora para o Senado. A principal emenda desta quinta, do DEM, tentava anular o endurecimento das regras do seguro-desemprego. Por 258 votos a 195, o plenário manteve o texto. Assim como na quarta, o DEM registrou oito traições na votação de sua própria emenda.

'Deprimente'
Entre as defecções estão dois dos mais enfáticos críticos do PT, o ex-presidente da sigla Rodrigo Maia (RJ) e o ex-líder da bancada José Carlos Aleluia (BA), que votaram novamente a favor do governo.

O senador Ronaldo Caiado (GO), líder do DEM no Senado, divulgou nota pedindo desculpas aos eleitores e classificando a atitude dos deputados como "deprimente" e uma "traição ao sentimento da população brasileira".

No lado governista, as traições se mantiveram nos padrões da quarta, com leve redução. As maiores defecções, proporcionalmente, ocorreram no PDT, no PP e no PTB.

Dos 67 deputados do PMDB, 17 não votaram a favor do governo. Na bancada do PT, 10 dos 64 deputados não votaram a favor da MP mesmo após a pressão do Palácio do Planalto e dos aliados por fidelidade total.

Questionado por que não votou com o governo, o deputado Padre João (PT-MG) riu e disse: "Prefiro me conter, o governo vai compreender que eu contribuí com o processo. Fico com minha consciência tranquila. Não traí nem trabalhadores nem o governo".

Colaboraram Gabriela Guerreiro, Marina Dias e Eduardo Cuculo, de Brasília

Petistas rebeldes dizem que votar Medida Provisória seria trair trabalhador

• Um membro da bancada votou contra; outros nove não apareceram, apesar de seis estarem presentes na Câmara

Ricardo Brito e Itaan Arruda - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Os deputados petistas que não apoiaram a medida provisória que integra o pacote fiscal disseram ontem que votar pela restrição de acesso ao seguro-desemprego seria votar contra o trabalhador.

Weliton Prado (MG), único a dar seu voto contrário à MP 665 - outros nove petistas se ausentaram -, foi chamado de "oportunista" pelos colegas, mas respondeu. "Fui coerente com minha trajetória e com o compromisso com os trabalhadores", disse Prado ontem, quando tornou a votar em desacordo com o PT nos destaques da MP. Para o parlamentar, o ajuste fiscal proposto pelo governo não deveria se restringir aos trabalhadores. "Não é certo fazer ajuste só com o trabalhador. Por que não fazer com os bancos?"

Entre os nove que não apareceram para votar, três não estavam, de fato, na Câmara anteontem: Assis Couto (PR), Professora Marcivania (AP) e Ságuas Moraes (MT). Outros seis deputados do partido chegaram a marcar presença, mas não votaram: Erika Kokay (DF), Luizianne Lins (CE), Marcon (RS), Padre João (MG), Pedro Uczai (SC) e Zé Geraldo (PA).

Luizianne Lins afirmou, via nota oficial, ter se retirado do plenário por não concordar com o mérito da matéria. "Foi uma decisão política", disse. Marcon declarou, também por nota, ter se ausentado por entender que as novas regras prejudicam os trabalhadores. "Não votei contra em respeito ao governo e à bancada do Partido dos Trabalhadores." Padre João também falou por escrito: "Votar contrário era votar contra a minha bancada e contra o próprio governo".

No Acre. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem o ajuste fiscal do governo em evento no Acre. "Quando se fala em ajuste fiscal, todos se assustam, mas é uma coisa que até a dona de casa faz."

CUT diz que deputados traíram 'classe trabalhadora'

• Sindicalista afirma, porém, que a briga é com o governo, não com o PT

Julianna Granjeia - O Globo

SÃO PAULO - A Central Única dos Trabalhadores (CUT) divulgou texto em seu site com o título "Deputados traem a classe trabalhadora". Nele, o presidente da central, Vagner Freitas, lamenta a posição do governo em relação à "classe trabalhadora que lutou pela eleição de um governo democrático".

O presidente da CUT-SP, Adi Santos Lima, afirmou que a relação da central com o PT continua a mesma, apesar da aprovação da medida provisória do ajuste fiscal:

- Nossa briga é com o governo e não com o PT. Os parlamentares do PT agiram conforme decisão da bancada, que não votou de acordo com os trabalhadores, e sim segundo a vontade do governo.

O secretário sindical nacional do PT, Angelo D"Agostini Júnior, responsável do partido pela articulação com os sindicalistas, disse que a sigla considera legítima a manifestação da CUT.

- Entendemos as questões colocadas pelos sindicados, que restringem os direitos dos trabalhadores. Defendemos que seja aberto canal de diálogo entre governo e sindicalistas para discutir políticas daqui da frente, como a questão da rotatividade dos trabalhadores nos empregos - disse Júnior.

Renan já antecipa oposição às medidas do ajuste no Senado

• No PSDB, Serra quer debater com bancada texto que sair da Câmara

Maria Lima e Cristiane Bonfanti – O Globo

BRASÍLIA - Vencida a batalha da Câmara, o vice-presidente Michel Temer, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e outros articuladores do governo já começam a preparar o terreno para a votação do pacote de ajuste fiscal no Senado. Embora haja confiança dos governistas de que as dificuldades com a bancada do PT serão menores, com dissidências isoladas, o maior problema será administrar a oposição ferrenha do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Ele tem feito críticas diárias ao pacote por cortar investimentos e direitos trabalhistas, sem reduzir gastos e a máquina.

Em reunião ontem com uma frente de 50 entidades sindicais, Renan foi aplaudido várias vezes ao repetir que as medidas serão bastante debatidas e que ele se colocará contra qualquer retrocesso para os trabalhadores.

- Enquanto o Executivo castiga os trabalhadores em busca de R$18 bilhões, nós, do Legislativo, demos nossa contribuição para o ajuste, que não pode ser chamado de ajuste fiscal, mas ajuste trabalhista, com a aprovação da emenda que vai gerar uma economia de R$ 4 bilhões por ano (referindo-se à PEC da Bengala) - disse Renan na solenidade de promulgação da PEC.

Se na Câmara o PT hesitou em apoiar as MPs, o líder do partido no Senado, Humberto Costa (PE), vai tentar fechar questão. Ele diz que o relator Paulo Rocha (PT-PA) já flexibilizou o que foi possível e isso acalmou os petistas, com exceção de Paulo Paim (RS), adversário do ajuste, que vai apresentar quatro emendas. Mas Paim diz ter aliados no PT:

- Tenho conversado com o Lindbergh (Farias) e o Walter Pinheiro, que se aproximam mais da minha posição e me disseram que assinariam as emendas comigo.

Na oposição, o líder do PSDB, Cássio Cunha Lima (PB), diz que o partido vai votar fechado contra as medidas do ajuste, com exceção do senador José Serra (SP), que quer discutir o texto que vier da Câmara com a bancada.

- Vamos fazer um trabalho para unificar a bancada. O Serra tem a preocupação com questões macroeconômicas, mas tem uma hora que temos que ter uma posição em defesa da sociedade - disse Cunha Lima.

Levy defende tripé do ajuste
Serra argumentou que nessas questões não se trata de ficar contra ou a favor do governo e citou o economista José Roberto Afonso, que disse que o ajuste passa mais por corte de investimentos do que de custeio.

- O que tem em pauta é corte de investimento. Vou trocar ideia com a bancada, que pode até liberar ou unificar uma posição -disse Serra.

Em um debate sobre os 15 anos da Lei de Responsabilidade Fiscal, o ministro Joaquim Levy (Fazenda) voltou a fazer apelos para sensibilizar os parlamentares. Ele afirmou que o maior risco que o Brasil corre é de um desequilíbrio fiscal. O ministro lembrou que o governo não gera dinheiro, que os recursos são limitados e não se pode continuar aumentando permanentemente a carga tributária. E ressaltou que "não se pode entrar numa trajetória de que todo imposto é ruim, de que tem de baixar imposto sem pensar o que está acontecendo do lado do gasto".

- Para a economia, se não tiver equilíbrio, você tem custos crescentes e entra num impasse fiscal que é ruim para a sociedade e a atividade econômica Se começa a haver desequilíbrio, todo o cenário começa a se deteriorar, a começar pela inflação - advertiu.

Levy considerou que a votação da MP 665 representou a primeira etapa do "tripé do ajuste fiscal", que inclui a MP 664 (que altera as regras de benefícios previdenciários) e o projeto de lei que eleva as alíquotas da tributação sobre a folha de pagamento das empresas.

Dilma desiste de participar de evento militar no Rio

• Após vaias e panelaços, presidente tem evitado se expor a protestos

Catarina Alencastro – O Globo

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff cancelou sua participação na cerimônia de comemoração dos 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, hoje no Rio, e transferiu o evento para o Palácio do Planalto. A solenidade em Brasília foi preparada de última hora, tanto que somente no início da tarde de ontem o cerimonial da Presidência se reuniu para organizá-lo. Uma equipe já havia sido enviada ao Rio para preparar a chegada de Dilma quando houve a mudança de planos.

Oficialmente, a justificativa foi o fato de a presidente estar concentrada na elaboração do Plano de Investimentos em Logística, que pretende lançar na próxima semana. Ao longo do dia de hoje, Dilma deve manter reuniões com ministros que participam da elaboração.

Evitando "exposições"
Fontes do Planalto, porém, afirmaram que a Presidência foi informada de que havia o risco de Dilma sofrer algum constrangimento durante a comemoração da vitória no Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, conhecido como Monumento dos Pracinhas, no Aterro do Flamengo. A plateia prevista é formada por militares da ativa e da reserva, e seus parentes, segmento com muitos críticos à presidente.

Desde que enfrentou vaias em eventos e panelaços durante um pronunciamento na TV em março, Dilma vem evitando "exposições desnecessárias", nas palavras de assessores. Nos últimos meses, ela tem escolhido participar de eventos limitados a simpatizantes e beneficiários de programas do governo.

De 14 viagens que fez pelo Brasil este ano, cinco foram para entregar casas do programa Minha Casa Minha Vida. Será para um evento desse tipo que ela viajará ao Rio e ao interior de Minas, na semana que vem. Na semana passada, Dilma desistiu de fazer o tradicional pronunciamento do Dia do Trabalho, optando por postar vídeos na internet, e não quis aparecer no programa do PT, veiculado na última terça-feira. (Colaborou Luiza Damé)

Mantega tentou esconder conta de perda da Petrobras

• Gravação de reunião do conselho mostra que então ministro da Fazenda travou batalha com Graça Foster

• Divulgação de perdas de R$ 88,6 bi no patrimônio irritou Dilma; ex-ministro afirma que publicação dos dados é o que importa

Andréia Sadi, Rubens Valente, Raquel Landim – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA, SÃO PAULO - O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega tentou impedir a divulgação de um cálculo encomendado pela própria Petrobras que indicava perdas de R$ 88,6 bilhões no patrimônio da estatal.

A Folha teve acesso ao áudio da reunião do conselho da estatal realizada no dia 27 de janeiro deste ano. Mantega, que presidia o conselho de administração, diz que o cálculo, feito pela consultoria Deloitte e pelo banco BNP Paribas, era uma "temeridade" e confrontou-se com a então presidente da empresa, Graça Foster.

A executiva defendia que o mercado fosse informado, o que acabou ocorrendo.

A atitude de Graça desagradou à presidente Dilma Rousseff e ela perdeu o cargo oito dias depois, sendo substituída por Aldemir Bendine, ex-presidente do BB.

"Acho uma temeridade divulgar esse número. Vai afetar o nosso rating, custo financeiro, a solidez da empresa por algo de que não temos certeza. Cria a possibilidade de que a Petrobras tenha um endividamento muito maior em relação a seu patrimônio", diz o ministro no áudio.

Durante essa reunião, que durou oito horas, Graça pediu a divulgação do número e contou com o apoio dos representantes dos acionistas minoritários. A então presidente da Petrobras estava preocupada em ser responsabilizada por omitir informações do mercado.

"E se a CVM me pergunta sobre esses números? Se existe, por que não divulgaram? Quem está escondendo esse número? De quem é a responsabilidade? Da diretoria ou do conselho?", diz Graça, ressaltando que tinha receio de vazamentos, porque "mais de cem pessoas tiveram acesso".

Em resposta a Graça, Mantega diz que a empresa "faz vários relatórios e nem todos são revelados".

Ele afirma ainda que "o que discutimos aqui está sob regra de sigilo. Somos todos pessoas responsáveis. [O número apurado pela consultoria] não deveria vazar".

A proposta da diretoria da Petrobras na época não era reconhecer os R$ 88,6 bilhões em perdas no balanço da empresa, mas informar o cálculo em uma nota explicativa.

Quando finalmente divulgou seu balanço, três semanas atrás, a estatal desprezou esse valor e admitiu ter perdido R$ 44,6 bilhões em patrimônio, principalmente pela má gestão e pela corrupção na construção de refinarias.

Comperj de fora
Durante a reunião, técnicos da Petrobras esclarecem que, na avaliação da Deloitte, a explosão de gastos na construção do Comperj foi tão grande que seu valor estava negativo em US$ 2,5 bilhões. "Não há valor de mercado. Se continuar a investir, vai afundar mais alguma coisa [perder dinheiro]", diz o técnico.

Na discussão com Mantega, Graça revela outro motivo para divulgar os números. No dia seguinte à realização do encontro, a Petrobras corria o risco de que 27 credores pedissem a antecipação do vencimento de US$ 19,3 bilhões em dívidas, porque a estatal não conseguia divulgar o balanço, uma obrigação estabelecida em contrato.

"Temos que negociar com esses credores. Pode ter chinês batendo na nossa porta cobrando todo tipo de coisa. Agora, quanto mais informação você mostra, mais chance tem de ser bem-sucedido."

Batalha
A gravação mostra que o debate foi inflamado. Mantega teve o apoio do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, da ex-ministra do Planejamento Miriam Belchior e do professor da FGV Sérgio Quintela.

Já Graça contou com o aval dos representantes dos acionistas minoritários, Mauro Cunha e José Monforte, e do representante dos funcionários, Silvio Sinedino.

"Se não divulgarmos os dados, estaremos mentindo. Estamos vendo uma mudança de 180 graus no que foi discutido dois dias atrás, o que reflete mais uma vez a interferência do acionista controlador da companhia [o governo]", disse Cunha.

A ata da reunião, à qual a Folha também teve acesso, reflete o embate que ocorreu no áudio. No documento está escrito que Mantega "pontuou seu entendimento de que o valor justo dos ativos mostra-se inadequado".

Ao fim do encontro, Mantega acaba concordando com a publicação do cálculo. Nos bastidores da reunião, o governo tomou conhecimento de que os representantes dos acionistas minoritários pretendiam protocolar o número na CVM caso ele não fosse divulgado.

Foi só nesse momento, às 22h, que Mantega permitiu que o cálculo fosse divulgado. Na ata, apenas Quintella registrou formalmente sua posição contrária a divulgação.

Procurado, o ex-ministro informou que "o que importa é que, sob sua presidência, o conselho divulgou os dados e que discussões internas fazem parte do processo de decisão da companhi

A confissão de Lula, segundo Mujica

Mujica, em livro, relata confissão de Lula sobre mensalão

• Segundo líder uruguaio, petista disse, ao se referir ao esquema, que "era a única forma de governar o Brasil"

Cristina Tardáguila – O Globo

Um livro-reportagem lançado no Uruguai esta semana, e que conta os cinco anos do governo de José Mujica a partir do ponto de vista dele, traz à tona uma "confissão" que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lhe teria feito em 2010. Em "Una oveja negra al poder" (Uma ovelha negra no poder, em tradução livre), escrito pelos jornalistas uruguaios Andrés Danza e Ernesto Tulbovitz, ainda sem data para chegar ao Brasil, Mujica relembra um dos encontros que teve com Lula. Relata que, ao falarem sobre o escândalo do mensalão, que consistia na compra de apoio político, o petista lhe teria dito que aquela era "a única forma de governar o Brasil".

"Lula não é um corrupto como (Fernando) Collor de Mello e outros ex-presidentes brasileiros", disse Mujica aos jornalistas da revista "Búsqueda" em uma das cem horas de entrevistas que lhes concedeu. "Mas viveu esse episódio (do mensalão) com angústia e um pouco de culpa".

De acordo com o relato de Mujica, quando o assunto veio à tona, numa reunião feita em Brasília nos primeiros meses de 2010, Lula lhe teria dito textualmente: "Neste mundo tive que lidar com muitas coisas imorais, chantagens". Para logo em seguida, emendar: "Essa era a única forma de governar o Brasil". Segundo Mujica, o ex-vice-presidente uruguaio Danilo Astori estava na sala e também ouviu a "confissão" do petista.

Lula sempre negou saber do escândalo do mensalão. Em agosto de 2005, pouco depois de o caso vir à tona, o então presidente fez um discurso dizendo que se sentia "traído por práticas inaceitáveis das quais nunca tivera conhecimento" e que estava "tão ou mais indignado do que qualquer brasileiro" diante do episódio. Depois, passou a afirmar que a existência do esquema nunca havia sido comprovada e que seus colegas de partido tiveram uma punição política.

Procurado no fim da tarde de ontem pelo GLOBO para comentar o conteúdo do livro, o Instituto Lula informou que não teria "como encaminhar um comentário a essa hora" e pediu que as palavras de Mujica não fossem reproduzidas parcialmente. Na obra, o uruguaio também diz que admira Lula e que ele é um "baixinho bárbaro".

- Mujica sempre viu Lula como uma espécie de padrinho. Sempre pensou que o Uruguai deveria seguir o rumo do Brasil, que é o grande protagonista da região - disse o jornalista Andrés Danza ao GLOBO. - Mujica sempre afirmou que Lula não é corrupto, mas que o Brasil vive na corrupção.

Danza e Tulbovitz, editor-geral e repórter de uma das revistas semanais mais respeitadas do Uruguai, acompanham a carreira de Mujica desde 1998. Viram-no ser eleito deputado e senador, se transformar em ministro da Pecuária, Agricultura e Pesca, e, depois, em presidente.

- São 17 anos de convivência com encontros pessoais semanais - contou Danza. - Quando ele assumiu a Presidência, no dia 1º de março de 2010, começamos a fazer registros oficiais da Presidência e combinamos que só publicaríamos esse material depois que ele deixasse o cargo. Todas as conversas estão gravadas.

Dilma, Lugo e Mercosul
Em "Una oveja negra al poder", publicado pela editora Sudamericana, os jornalistas ainda relatam que a proximidade de Mujica e Lula era tão grande que o uruguaio "soube que Dilma seria a candidata (à Presidência) muito antes que isso se tornasse público" e também que, depois, Lula apoiaria sua reeleição.

"(Mujica) Entendeu perfeitamente essa jogada", escreveram os jornalistas. "Lula preferia ser o poder nas sombras e, depois do mensalão, não ficar exposto demais".

- Mujica vê Dilma como uma mulher executiva, que resolve tudo muito rápido. Como uma administradora melhor do que Lula, mas sem o carisma dele - afirmou Danza.

Durante os cinco anos de trabalho que levaram ao livro, Danza e Tulbovitz reconstruíram episódios marcantes da vida política do Cone Sul, como a suspensão que o Mercosul aplicou ao Paraguai em 2012, após a destituição do presidente Fernando Lugo. Segundo contam, Mujica e Dilma tiveram papel definitivo. Ele era contra o veto, mas ela, evitando qualquer contato pessoal, teria feito chegar a ele um pedido para que apoiasse a decisão.

"Um encontro tão fugaz e repentino entre presidentes levantaria suspeitas, então o governo brasileiro resolveu enviar um avião a Montevidéu para transladar o emissário de Mujica à residência de Dilma, em Brasília", escreveram os autores. "Assim se fez, e, quando o uruguaio chegou, Dilma estava esperando no escritório".

- Vamos ao caso - teria dito a presidente, enquanto o emissário pegava um caderno. - Não. Sem anotações. Esta reunião nunca existiu.

Nota técnica do Senado aponta que dupla atividade de Fachin violou a lei

• Documento elaborado a pedido do senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) aponta que o advogado assumiu cargo de procurador no Paraná e exerceu a advocacia quando isso não era mais permitido

Beatriz Bulla - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Uma nota técnica do Senado, elaborada a pedido do senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) e publicada nesta quinta-feira, 7, aponta que a dupla atividade exercida por Luiz Fachin no Paraná, quando ocupou cargo de procurador do Estado e exerceu a advocacia ao mesmo tempo, “viola o ordenamento legal”.

O fato foi debatido na reunião da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da semana passada, quando Ferraço afirmou que Fachin continuou advogando quando ocupou o cargo de procurador, entre 1990 e 2006. Indicado pela presidente da República para assumir a vaga aberta com a aposentadoria de Joaquim Barbosa no Supremo Tribunal Federal, o advogado gaúcho deve ser sabatinado pelo Senado na terça-feira.

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que era governador do Paraná quando Fachin foi nomeado para o cargo de procurador, afirmou na última semana que o exercício da advocacia estava amparado por uma lei estadual de 1985. O parecer solicitado por Ferraço traz complicações ao indicado para o Supremo.

A sabatina do advogado Luiz Edson Fachin, indicado para a vaga de ministro no Supremo Tribunal Federal, foi adiada e deve ocorrer somente no dia 13 de maio

A nota, elaborada pelo consultor legislativo João Trindade Cavalcante Filho, aponta que Fachin realizou concurso público em 1989, mas tomou posse apenas em 1990 e, portanto, após edição da Constituição Estadual de 1989 que proibiu que procuradores exercessem a advocacia. Ficaram liberados dessa imposição apenas aqueles que já eram procuradores do Estado na data da promulgação da Constituição do Paraná o que, segundo o consultor do Senado, não era o caso de Fachin. “É consabido que, com o advento de uma nova Constituição, restam revogadas (por ausência de recepção) todas as normas infraconstitucionais com ela materialmente incompatíveis”, escreveu o consultor, que é funcionário concursado do Senado.

Ordenamento. O servidor destaca que não sabe a data em que o advogado tomou posse no cargo de procurador, mas certamente, diz, foi após 12 de fevereiro de 1990, data em que a nomeação de Fachin foi publicada no Diário Oficial. “Tendo o sr. Luiz Edson Fachin tomado posse após janeiro de 1990, quando já se encontravam em vigor as proibições de advogar constantes tanto da Constituição do Paraná quanto da Lei Complementar n.º 51, de 1990, a atuação no âmbito da advocacia privada, concomitantemente com o exercício do cargo de Procurador do Estado, viola, prima facie, o ordenamento legal”, escreveu o consultor legislativo.

O técnico descarta ainda a possibilidade de falar em “direito adquirido” a exercer a advocacia, pois a jurisprudência do Supremo reconhece “não haver direito adquirido a regime jurídico, muito menos se levar em conta que o Procurador já tomou posse sob a égide das regras que proibiam a advocacia fora das atribuições institucionais”.

Previsto para ser sabatinado na próxima semana, Fachin encontra resistência no Senado por parte de parlamentares da oposição e de peemedebistas. Ontem, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), criticou a politização de indicações no STF durante a promulgação da PEC da Bengala, que muda de 70 para 75 anos a idade de aposentaria compulsória nas Cortes superiores do País.

Roberto Freire - O tamanho da crise

Ao contrário do que fazem crer os áulicos do PT e defensores do atual governo, a grave crise econômica do país ainda não chegou ao ápice. Como se já não bastasse sofrer com o desemprego, a inflação e o endividamento das famílias, o brasileiro também vê diminuir o seu poder de compra, em uma trajetória que está na contramão daquilo que acontece em países emergentes de diferentes regiões do mundo.

Segundo dados divulgados pelo Fundo Monetário Internacional com base no PIB per capita dos países, o poder aquisitivo dos brasileiros recuou em 2014 pela primeira vez em três anos. A chamada Paridade do Poder de Compra (PPC) é calculada em relação à renda americana, que serve como referência para comparações globais. O índice do Brasil, que em 2011 havia ultrapassado o patamar de 30% do nível americano pela primeira vez desde o fim da década de 1980, recuou levemente para 29,5% no último ano.

De acordo com o levantamento, o nível de renda do Brasil tem avançado bem menos que o de países como Chile, Uruguai, Coreia do Sul, Taiwan, Polônia e Estônia, só para citar exemplos de outros emergentes. É importante lembrar que a Pesquisa Mensal de Emprego divulgada em abril pelo IBGE já havia apontado um recuo de 2,8% no rendimento médio dos trabalhadores entre fevereiro e março. Se compararmos com 2014, esse percentual chega a 3%, a maior queda em 11 anos.

O país vem pagando a fatura pela irresponsabilidade dos governos de Lula e Dilma Rousseff nos últimos 12 anos, sobretudo na área econômica. Ao desprezar um projeto nacional de desenvolvimento, descuidar da política industrial e optar pelo incentivo ao consumo exacerbado, pois isso lhe dava popularidade, o governo Lula levou as famílias a um endividamento recorde, revelado em levantamento recente da Serasa Experian. Nada menos que quatro em cada dez brasileiros adultos (ou 55,6 milhões de consumidores) estão inadimplentes, impedidos de obter créditos e com dívidas que, somadas, alcançam R$ 235 bilhões. Trata-se do segundo maior patamar de inadimplência desde o início da série histórica do Serasa.

Enquanto a propaganda enganosa do PT fala em “pleno emprego”, o próprio IBGE aponta que mais de 280 mil trabalhadores deixaram seus postos de trabalho no último ano, o que corresponde a um aumento de 23,1% em março em relação ao mesmo mês de 2014. Não deixa de ser emblemático que a fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo (SP) tenha dado férias coletivas para 8 mil funcionários da linha de produção, alegando que precisava ajustar a produção à baixa procura por veículos novos. Em todo o país, já são mais de 13 mil metalúrgicos afastados pelas montadoras.

Lula e Dilma são os grandes responsáveis pelo panorama sombrio da economia brasileira, cujos indicadores negativos se acumulam a cada dia. A crise é grave e, infelizmente, se aprofundará nos próximos meses, especialmente se o malfadado ajuste fiscal for aprovado da forma como o governo defende. Enquanto o sistema financeiro tem seus interesses atendidos pela política econômica em curso no país, a conta a ser paga recai sobre os ombros da sociedade brasileira. Se a crise não tem fim, a incompetência do PT não tem tamanho.

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Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

Fernando Gabeira - Sábado na Boca Maldita

- O Estado de S. Paulo

Alguns dias em Curitiba, onde visitei a Boca Maldita. É um lugar tradicional, um café com grupos de aposentados, de modo geral, discutindo política. Um ônibus de turistas passa diante da calçada, sinal de que a Boca é conhecida além-fronteiras.
Eles falam sem censura e ouvi muitas críticas ao Supremo Tribunal por ter libertado os empreiteiros, impondo uma derrota à Operação Lava Jato, que também ocorre em Curitiba.

Um dias depois de falar com eles, leio que a Polícia Federal (PF) revelou gravações que indicam um grau de amizade entre o ministro Dias Toffoli e empresário da OAS chamado Leo Pinheiro. O resultado do julgamento foi 3 a 2 e o voto de Toffoli, portanto, decisivo.

É bom que a PF divulgue o que sabe. Mas essas coisas são um pouco como casamento, é preciso anunciar antes que o padre declare os noivos marido e mulher. Se os vínculos afetivos de Toffoli com o diretor da OAS tivessem sido revelados antes do julgamento, ele sofreria pressão para se declarar impedido.

Outro juiz poderia ter votado pela libertação. Mas aí é um jogo limpo. Perder de 3 a 2 pelo voto de um juiz amigo do preso é um perder com um gol roubado.
As revelações sucedem-se num ritmo tão rápido que deixam pouco tempo para pensar na saída. Uma delas aponta uma triangulação BNDES, Lula e Odebrecht em projetos no exterior. Lula prometia a obra, o BNDES financiava e a Odebrecht realizava.

O tema deve ser discutido no Congresso, onde se prepara uma CPI do BNDES. Mas já repercutiu no exterior.

Lula sentiu o golpe com a divulgação do inquérito no Ministério Público.

Respondeu afirmando que os jornalistas das duas revistas semanais não tinham, juntos, 10% de sua honestidade. Medir a honestidade com porcentagens não é uma imagem feliz num momento em que elas invadem o noticiário do escândalo como indicativos da corrupção: 3% para o PT, 1% para o PP.

Como previ num artigo, ia sobrar até para o marqueteiro. E eis que João Santana terá de explicar o repatriamento de US$ 16 milhões ganhos na campanha eleitoral de Angola. Campanha cara.

A Operação Lava Jato acionou uma série de outras inquietações, uma delas com o próprio BNDES. Qual o papel que o banco teve no governo, que empresas fortaleceu com seus empréstimos e que vínculos elas têm com o partido dominante? Essa demanda de transparência às vezes é vista como hostilidade pelo PT, como se fosse parte de uma campanha para liquidá-lo.

Outro dia, vi no Roda Viva Demétrio Magnoli lembrar que o PT faz parte da História do Brasil e, portanto, não acabaria. Mas este pertencer à História do Brasil não dá garantias de eternidade. O Partido Comunista da Itália era um pedaço da História do país, era até certo orgulho internacional por sua visão singular do comunismo. Acabou.

O que vai definir o futuro do PT não é apenas inserção na História, mas resposta sincera a algumas questões presentes. Se a administração petista na Petrobrás deu um prejuízo maior do que o terremoto no Nepal, não é possível ignorar esse feito histórico.

O que o escândalo da Petrobrás iluminou não foi apenas a corrupção, mas a incompetência que dava à empresa um prejuízo de R$ 726 mil por hora, segundo cálculo do repórter José Casado. Durante seis anos e seis meses, uma perda de R$ 17,4 milhões por dia.

Tive a oportunidade de visitar Bolonha sob a administração comunista. Era uma atração internacional. Os comunistas fizeram-se confiáveis para governar. A experiência terminou em 1999, mas deixou sementes, como o estímulo à pequena e à média empresas.

As duas acusações que pesam sobre o PT, corrupção e incompetência, são difíceis de superar. Reconhecê-las é uma tarefa que parece distante, a julgar pela maneira como o partido se move na crise.

Inspirado pela Boca Maldita, penso que seria necessário um vínculo melhor entre o movimento de rua e o Congresso. E seria preciso também que alguns deputados independentes se unissem, buscassem o contato e tentassem levar algumas ideias ao lado do impeachment. Uma delas poderia ser usada no contexto do ajuste fiscal: a máquina do governo o que é, o que gasta e onde se pode racionalizá-la? Os cargos de confiança são 40 mil? Por que não reduzi-los por lei?

Vivemos duas agendas: uma é a da transparência, iniciada pela Operação Lava Jato, mas que acaba jogando luz também em outras caixas-pretas, como BNDES, estatais, fundos de pensão, enfim, todo o universo econômico sob a influência do PT.

O desejo da sociedade é que a apuração seja concluída e os culpados, punidos. Mas isso leva tempo.

Estamos também no meio de uma crise econômica, perdendo poder aquisitivo e empregos. A política de austeridade do governo certamente é um desses pontos em que as crises se entrelaçam. Ela terá o esforço da sociedade, mas qual o peso do governo?

Outro dia o Ministério da Saúde publicou edital convocando Helder Barbalho porque não conseguia encontrá-lo. Ele é ministro da Pesca e trabalha num prédio vizinho. O Ministério da Saúde não sabia da existência de Barbalho. Poderia ter sido salvo pelo Google. Pelo menos lançou um pedido de socorro: salvem a gigantesca máquina da sua irracionalidade!

Em 2013 as pessoas saíram às ruas porque estavam insatisfeitas com os serviços do governo. Em 2015 as manifestações focam em Dilma Rousseff e no PT. Os serviços públicos não melhoram, o PT e Dilma continuam agarrados ao poder.

O que fazer nesse período? É necessário um pequeno roteiro aberto a alterações, produzidas pelo avanço da transparência e pela possibilidade do impeachment.
Pelo que vi em Curitiba, com cem feridos na praça, a política de austeridade será um momento delicado: muitas variáveis em jogo. Mas é o nosso cenário imediato. É nele que serão plantadas as sementes do futuro.

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*Fernando Gabeira é jornalista

Marcus Pestana - O lugar do fato

• Aécio não utilizou aeronaves do governo de Minas Gerais na condição de ex-governador, mas, sim, no exercício do cargo de senador pelo Estado

- Folha de S. Paulo

Há determinadas abordagens da mídia que causam prejuízos inestimáveis à imagem de quem acaba vítima de imprecisões. É o caso da notícia veiculada, que mereceu coluna deste jornal, afirmando que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) teria utilizado de forma indevida um helicóptero e um avião do governo de Minas Gerais para deslocamentos em agendas oficiais de trabalho.

Certamente fui uma das muitas pessoas que leu e releu a reportagem para tentar entender o que havia de errado com deslocamentos realizados em data, hora e percursos rotineiros de agenda de autoridade pública entre endereços de trabalho.

O senador Aécio Neves usou o helicóptero do governo de Minas para traslado entre a residência do então governador, Antonio Anastasia, e a sede administrativa do governo e, uma vez, um avião no deslocamento entre Belo Horizonte e Brasília. Em todas as oportunidades para tratar de matérias de interesse do Estado e pelo qual tem representação política como senador.

Não havendo dúvida, portanto, do caráter oficial dos traslados, o combate político nas redes sociais derivou para a acusação de que Aécio utilizou uma aeronave do governo de Minas na condição de ex-governador. Isso não é verdade.

Aécio o fez como autoridade pública, na condição de senador pelo Estado e em demandas devidamente autorizadas, como ocorreu em outras casos e ocasiões no transporte de ministros, deputados e presidentes de estatais. Há uma diferença enorme entre as duas situações.

Para tirar a dúvida, basta considerar o conteúdo do decreto que estabelece os procedimentos legais para uso das aeronaves do Estado.

O texto é claro ao afirmar que as aeronaves podem ser usadas por autoridades públicas em cumprimento de missão oficial. É também claro em determinar que algumas, no caso específico um helicóptero, são destinadas ao atendimento do governador. Ou seja, não podem ser utilizadas sem autorização dele.

Mas o decreto não condiciona o uso exclusivo do governador. Refere-se, sim, ao atendimento de demandas do governador e de nenhuma outra autoridade do governo.

A mim chamou especial atenção o tratamento de denúncia dado ao fato, mesmo estando disponível a informação de que outras autoridades fizeram uso das mesmas aeronaves, nos mesmos trajetos e condições de trabalho. Inexplicavelmente, essa informação não foi considerada como relevante.

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e o deputado federal Arlindo Chinaglia (PT-SP) usaram em Minas as mesmas aeronaves que o senador Aécio e em iguais percursos. Por que só Aécio foi notícia?

É incompreensível a comparação feita entre a utilização de aeronaves por um senador com a feita em 2005 de um avião da FAB para transportar amigos de um dos filhos do então presidente Lula para gozar férias.

Quero repor a verdade sobre um fato: o senador Aécio Neves utilizou as aeronaves do governo de Minas de forma regular, no cumprimento de agendas oficiais, assim como o fizeram outras autoridades.
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Marcus Pestana, 54, deputado federal, é presidente do PSDB de Minas Gerais

Merval Pereira - Maioria desgovernada

- O Globo

A oposição perdeu uma grande oportunidade de desestabilizar o governo da presidente Dilma ao dar 16 votos essenciais para a aprovação do texto-base da Medida Provisória 665, que endurece as regras para concessão de seguro-desemprego e abono salarial, na noite de quarta-feira.

Com apenas 25 votos de diferença a seu favor, o governo teria sido derrotado se todos os votos oposicionistas tivessem sido contra a reforma, co mo fizeram PPS e PSDB. Como 7 votos do PSD, 8 do DEM e 1 do Solidariedade foram para o governo, salvou-se a primeira parte do ajuste fiscal, essencial para uma tentativa de reverter a crise econômica. A explicação do deputado Rodrigo Maia, um dos votos do DEM pró-governo, é razoável: disse que votou a favor do país, que entraria num caos econômico caso o ajuste fosse derrotado. Atitude louvável, mas destoante do momento político, que é de confronto. E, no frigir dos ovos, uma vitória do governo é derrota da oposição.

O DEM está talvez mais empenhado do que o PSDB no impeachment da presidente Dilma, mas derrotar politicamente o governo é mais democrático e eficiente para paralisá-lo do que buscar motivos para o impeachment sem que existam até o momento as condições jurídicas para justificá-lo. O interessante é verificar que a coordenação política do vice-presidente Michel Temer não pode se limitar à base aliada do governo. Tem que fazer acordos por baixo do pano para compensar as faltas da base aliada. Usou prefeitos e governadores em seu apoio — o prefeito de Salvador ACM Neto, do DEM, foi um cabo eleitoral pró-governo importante — e conseguiu reverter votos fundamentais. O governo de Dilma Rousseff não tem mais uma maior ia parlamentar, como ficou provado na votação, na noite de quarta-feira.

Mas, como sempre historicamente tem acontecido, pode contar com votos da oposição para aprovar os projetos que sua própria base repudia. Fo i assim em 2007, no governo Lula, que precisou do apoio do PSDB para aprovar a lei que criou os fundos de pensão par a os servidores públicos, um dos últimos passos para consolidar a re for ma d o regime previdenciário do funcionalismo público federal. A proposta d e emenda constitucional foi enviada ao Congresso em 2003, e só quatro anos depois foi transformada em lei, que o governo Lula desistiu de regulamentar diante da reação da sua base sindical. Somente em abril de 2012, já no governo Dilma Rousseff, esses fundos foram regulamentados.

A partir do racha que se estabeleceu na base aliada, até mesmo dentro do próprio PT — deputados petistas preferiram não comparecer a votar a favor do ajuste fiscal, e um deles votou contra o governo —, não é mais possível identificar quantos são os deputados governistas, e muito menos quais são os partidos governistas. OPDT, que tem o Ministério do Trabalho, votou em peso contra o governo. O PP, o PR e o PTB votaram praticamente divididos. E o governo nem ousa ameaçar retaliações. Uma presidente que não tem condições de aparecer em público, temendo a reação dos presentes, muito menos tem condições políticas para enfrentar dissidentes. Cada votação terá uma história diferente, e a base governista variará de acordo com o momento, quando existir.

Eliane Cantanhêde- Clima de barata voa

- O Estado de S. Paulo

O clima no poder é de barata voa, cada um tentando se “descolar” do outro e se esfalfando para salvar a própria pele. Aliás, esse é o verbo da moda em Brasília: todo mundo tenta se “descolar” de todo mundo.

O PT se “descola” da presidente Dilma Rousseff e se agarra ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Depois de fugir de um pronunciamento pela TV no Primeiro de Maio, Dia do Trabalho, a presidente foi empurrada para fora da propaganda do seu próprio partido, terça-feira à noite. E a grande estrela foi, ou era para ser, Lula. O que é muito estranho.

Afinal, Dilma já bateu no fundo do poço, com seus míseros 13% de aprovação, e nem fazendo muito esforço para errar será capaz de cair mais ainda. Já Lula está em pleno processo de queda. Já perdeu 21 pontos, segundo as últimas pesquisas, e muito possivelmente continua deslizando ladeira abaixo junto com o governo que patrocinou e o partido que criou.

O PT, portanto, parece viver aquela clássica situação: se ficar, o bicho Dilma come; se correr, o bicho Lula pega. Ponha Dilma ou ponha Lula na TV, a sangria e os panelaços continuam.

Se o PT tenta se “descolar” de Dilma, a recíproca é verdadeira. Foi o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, - do PT, frise-se - quem declarou a repórteres que é “um erro” misturar cotidianamente o governo ao partido e que não cabe ao governo, mas ao partido, responder sobre o último panelaço (o de terça, durante o programa petista).

Entre a presidente e o PT, Lula fica com uma terceira entidade: ele mesmo. Tenta se “descolar” das lambanças do PT e dos erros abundantes da sucessora, mas precisa do PT, tanto quanto o PT precisa dele, e não pode bater de frente com Dilma nem com um governo que ele critica há tempos, de manhã, à tarde e à noite. Afinal, o partido é ele, e Dilma só virou o que virou por sua culpa, sua máxima culpa.

O resultado de tanto cola-descola é que o programa de TV do PT ficou sem pé nem cabeça, Lula decidiu satanizar a terceirização da mão de obra e Dilma saiu da tela para virar espectadora, enquanto o PMDB chamou o PT às falas, cobrando que suas bancadas assumissem as restrições trabalhistas e previdenciárias determinadas pela presidente. Ou seja: o PMDB obrigou o partido do governo a se comportar como partido do governo.

E, afinal, contra quem e contra o quê foram os panelaços? Será que o 8 de Março foi só contra Dilma? Será que o da terça-feira, durante o programa do PT, foi só contra o PT? E será que nenhum dos dois foi contra Lula? Ou será que os panelaços passados, presentes e futuros foram, são e serão contra Dilma, Lula e o PT?

Por mais que Lula tente se “descolar” de Dilma, Dilma tente se “descolar” do PT e o PT tente se “descolar” de Dilma, eles estão todos colados, senão para sempre, seguramente hoje, nestes tempos de crise. E não há remédio para esse trio de siameses, a não ser uma cirurgia radical, como a que Marta Suplicy fez e outros estão na fila para fazer.

É nesse clima que o velho PT de guerra passa por situações nunca antes imaginadas, como manifestações históricas, panelaços, buzinaços e o circo no plenário na votação do ajuste fiscal, com a oposição batendo panela e as galerias jogando dólares falsos com as caras de Lula, Dilma e Vaccari. O petista Weliton Prado, que votou contra, corre o risco de virar herói.

Se Lula acha que radicalizar contra a terceirização será suficiente para reverter o clima e reaproximar o PT das bases, dos sindicatos, das massas e da opinião pública em geral, pode estar tremendamente enganado. Pois, se algo realmente se descolou de algo, foi o PT que se descolou da maioria do eleitorado brasileiro.

Fachin. É inacreditável que Dilma tenha levado nove meses para indicar o novo ministro do Supremo e tenha escolhido um procurador que atuava simultaneamente como advogado. É inconstitucional e o STF é justamente o garantidor da Constituição.

Bernardo Mello Franco - Síndrome do pânico da vaia

- Folha de S. Paulo

O cancelamento da ida ao Monumento dos Pracinhas, no Rio, é mais um sintoma do mal que abate a presidente Dilma Rousseff: a síndrome do pânico da vaia.

Dilma viajaria nesta sexta para participar da comemoração dos 70 anos do fim da Segunda Guerra no front europeu. Desistiu há dois dias, com medo de novos protestos.

Apesar do forte esquema de isolamento planejado pelo Exército, assessores alegaram que a presidente enfrentaria uma plateia hostil no Rio. Soou como tentativa de jogar a culpa pela impopularidade da chefe no colo dos nonagenários da FEB.

Para que Dilma não passasse o vexame de ignorar a data histórica, o governo improvisou uma cerimônia no Planalto. Serão convidados militares da ativa, que terão que aplaudi-la, e um ou outro ex-combatente. O povo e as panelas ficarão de fora.

A nova operação antivaia só evidencia a fragilidade da presidente. Apesar do esforço para dizer que o pior da crise passou, sua equipe continua a fazer o possível para evitar qualquer contato com as ruas.

Foi por isso que Dilma cancelou o pronunciamento do Dia do Trabalho, escapou do programa do PT e cortou as aparições públicas. Ela não faz uma viagem oficial há dez dias.

A estratégia de manter a presidente reclusa não elimina todos os constrangimentos. Na quarta, horas depois do último panelaço, ela tentava aparentar normalidade em um ato com agricultores no palácio.

Em determinado momento, o locutor anunciou a assinatura de um termo técnico do Programa Nacional de Controle de Moscas das Frutas. Quem prestava atenção em Dilma notou suas expressões de enfado.

Ao fim da solenidade, a presidente deu uma curta entrevista. Os repórteres pediram uma palavra sobre sua derrota mais recente no Congresso, a aprovação da PEC da Bengala. "Eu não estou escutando, eu estou encerrando. Um beijo para todas vocês", respondeu Dilma, antes de virar as costas em direção ao gabinete.

Míriam Leitão - O custo alto

- O Globo

A ata do Copom fez bancos e consultorias revisarem previsões para os juros. Acham que haverá novo aumento da Selic, apesar de a taxa já estar em 13,25%. O economista-chefe do Bradesco, Octávio de Barros, disse que o BC deveria ter parado: "O BC está aumentando juros com desemprego em massa impressionante, desaceleração forte dos salários e o mundo corporativo em crise."

A visão de Octávio de Barros é que a inflação vai cair para o centro da meta até o começo de 2017, e ele diz que dos "27 países mais importantes que utilizam o regime de metas de inflação, o Brasil é o único que utiliza o ano-calendário como referência". Portanto, na visão dele, a política monetária estaria cometendo um "tremendo exagero" , e defende que o objetivo seja olhado num prazo mais longo do que o ano.

O problema é que o Banco Central está diante de uma inflação que não ficou no centro da meta em nenhum ano do primeiro mandato da presidente Dilma e agora está estacionada acima de 8%. Isso vai se confirmar hoje com a divulgação do IPCA de abril. Pela primeira vez em 2015, a taxa mensal ficará abaixo de 1%, mas o acumulado em 12 meses continuará acima de 8%.

A leniência no combate à inflação no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff está custando caro ao país. Somente em gastos com juros, foram R$ 365 bilhões pagos pelo Governo Federal nos últimos 12 meses até março, segundo a nota de crédito divulgada recentemente. Essa conta vai ficar maior. Os juros continuarão subindo, de acordo com a ata do Copom, apesar de a economia estar em recessão.

O Itaú acha que os juros subirão de novo, mas apenas mais 0,25 ponto percentual. O BC espalhou pistas, ao longo da ata divulgada ontem, de que o ciclo de aperto monetário ainda não terminou. Disse que "o s esforços de combate à inflação ainda não se mostraram suficientes". A situação do país é realmente difícil. Está em recessão e com inflação alta demais, o que leva o Banco Central a manter juros elevados e crescentes. A situação fiscal está piorando, em parte pelo efeito dos juros altos.

É um círculo de más notícias difícil de ser quebrado. O BC não pode simplesmente baixar os juros, porque, neste momento, fortaleceria a elevação da inflação. Na curiosa linguagem do Banco Central, "o ritmo de atividade doméstica este ano ser á inferior à potencial". E diz que há uma redução de investimentos "influenciada pela ocorrência de eventos não econômicos".

Crescimento abaixo do potencial é gentileza do Banco Central. Na verdade, o PIB fechará o ano encolhendo. E eventos "não econômicos" pode ser lido também como Operação Lava-Jato. Um custo alto dessa conjuntura é a deterioração do mercado de trabalho. O desemprego subiu de 6,5% em dezembro para 7,9% no indicador da Pnad de março, que pesquisa o desemprego em todo o Brasil. A desocupação entre jovens de 18 a 24 anos chegou a 17,6%. O Banco Central escreveu na ata de ontem que "a política monetária pode e deve conter os efeitos de segunda ordem deles decorrentes, para circunscrevê-los em 2015."

O BC explicou que os preços estão subindo pelo aumento do dólar e das tarifas administradas — que ficaram represadas no ano eleitoral — mas re conheceu, logo no primeiro parágrafo da ata, que não é apenas isso. Os alimentos e bebidas subiram 8,19% nos 12 meses até março e os serviços aumentam 8,03%. "Em síntese, as informações disponíveis sugerem certa persistência da inflação, o que reflete, em parte, a dinâmica dos preços no segmento de serviços e, no curto prazo, o processo de realinhamento dos preços administrados", escreveu o BC.

Mesmo alertando que continuará elevando os juros, o Banco Central deve fazer apenas um pequeno movimento porque a redução do nível de atividade vai diminuir o impulso para a inflação continuar subindo. Como grande parte da alta este ano é causada pelo aumento dos preços de energia, que estavam reprimidos pelos equívocos da política energética, parte dessa alta de inflação este ano tem chance de se dissolver no ano que vem. O problema é que o descuido com a inflação foi tão grande que o BC precisa agora elevar os juros para demonstrar que não será leniente. Se não fizesse isso, poderia alimentar o reajuste de outros preços pelos níveis da inflação de 8%. E nesse nível ficaríamos.

Celso Ming - Oposição ao ajuste

- O Estado de S. Paulo

O primeiro passo do ajuste fiscal passou apertado na Câmara dos Deputados, pela contagem de 252 votos a favor e 227 contra. Foi o que aprovou a Medida Provisória 665, que reduz o acesso ao seguro-desemprego e ao abono salarial.

Desta vez, a atitude oportunista e demagógica foi assumida por boa parte da oposição, especialmente pelo PSDB, que votou contra, ou seja, na contramão de sua pregação política e das bandeiras expostas ao longo de sua campanha eleitoral.

Até agora, os tucanos vinham criticando o PT pela condução desastrada das contas públicas, no que têm razão, e pela falta de empenho na política de ajuste. Eis que, na hora de decidir pela distribuição de contas para a sociedade, o PSDB fechou questão contra as primeiras medidas da correção de rumos.

Mostrou que está pouco focado no interesse público e, ao contrário do que espalha, não põe o empenho que lhe cabe no cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal que ajudou a aprovar. Quer mais é ver o governo e o PT sangrando, como já disse o senador paulista Aloysio Nunes Ferreira, do que a economia consertada. E nisso não se comporta de maneira diferente do que se comportou o PT, seu principal alvo de críticas, que também rechaçou os programas de ajuste do governo Fernando Henrique. Quem é que vai agora acreditar na sinceridade dos tucanos quando voltarem a recomendar o equilíbrio das contas públicas?

Paradoxalmente, outros políticos da base do governo tiveram de lembrar ao PT que eles são governo e não oposição. Trabalho consistente foi desta vez feito pelo líder do PMDB na Câmara, deputado Leonardo Picciani (RJ). Ele enquadrou os deputados do PT, que relutavam em assumir os ônus da política fiscal e não tiveram para isso o apoio do ex-presidente Lula, que se omitiu também oportunisticamente, porque pretendeu parecer favorável às posições de curto prazo dos sindicatos.

Esta é uma postura equivocada porque o único objetivo da operação que visa ao reequilíbrio das contas públicas é garantir de maneira sustentável a retomada do crescimento econômico, a recuperação do emprego e do poder aquisitivo do assalariado, queimado pela inflação. Desse ponto de vista, votar contra o ajuste é votar contra os interesses mais importantes do trabalhador.

A alegação de que o pagamento da conta do ajuste deva limitar-se aos ricos não passa de sofisma de quem quer ver piorar tudo, derrubar ainda mais os investimentos e provocar mais desemprego à frente.

Do ponto de vista prático, a aprovação dessa primeira etapa do ajuste pode ajudar na recuperação da economia, que continua em retração. Mas não conta com o apoio de quem historicamente cobra consistência fiscal. Os obstáculos políticos para a volta da racionalidade na administração da política econômica dentro e fora do governo continuam gigantescos.

No mais, o governo Dilma segue falhando na definição de rumos. Por enquanto, está empenhado apenas em sanear as contas. Não foi capaz de explicar como pretende recuperar os investimentos nem como pavimentará a estrada para a retomada do crescimento econômico.

Vinicius Torres Freire - O PT, quase na oposição

• Votação do ajuste fiscal amplia poderes dos vários PMDBs e diminui ainda mais Dilma e seu partido

- Folha de S. Paulo

A câmara aprovou, a muito custo, a primeira parte dos pacotes de arrocho de gastos e aumento de impostos --ficou mais difícil conseguir seguro-desemprego. Parece agora mais provável que passe o resto do plano Levy, ainda que talhado, aparado e atrasado, o que deve reduzir em um terço o total de dinheiro que o governo esperava arrecadar neste ano.

Dilma Rousseff e o PT saíram politicamente arrochados do episódio, um ajuste que evidenciou o corte do orçamento de poder da presidente e de seu partido, que de resto saíram ainda mais estranhados da refrega. Considere-se.

Primeiro, o primeiro pacote do dito ajuste fiscal passou na Câmara só porque parte da oposição cedeu alguns votos, 19 votos. Caso 13 oposicionistas de DEM, PSB, PV ou SD mudassem de ideia, a coisa desandava.

Segundo, o PMDB demonstrou que pode mandar não apenas em parte do governo mas que também manda no PT. Decidiu que apenas aprovaria o primeiro dos pacotes do Ministério da Fazenda caso o PT "fechasse questão", determinasse o comportamento da bancada. Está certo que, dos 64 deputados, do PT, 10 ainda se recusaram a aprovar o primeiro aperto do arrocho. Mas a regra do PMDB era clara: se o PT não dançasse conforme a música do governo, ninguém mais iria ao baile.

Aliás, diga-se de passagem e abstraída a mumunha política do momento, o PMDB fazia uma exigência óbvia e razoável. Se o partido da presidente quer debandar, eles que são vermelhos que se entendam.

Terceiro, a coordenação da vitória, ainda que parcial e precária, foi de Michel Temer, PMDB, vice-presidente, assessorado pelos outros ministros do partido. Enquanto esteve sob o comando nominal do PT, a articulação política do governo Dilma 2 produziu apenas derrota e caos. Ou seja, o PMDB assumiu de fato e, sob certo aspecto, por mérito mais uma parte do poder de governo.

Temer, portanto, pelo menos começou a arrumar a bagunça parlamentar criada pelos petistas entre o final de 2014 e o primeiro trimestre deste ano. Negocia o subministério (os cargos de segundo escalão). Eduardo Cunha, PMDB, presidente da Câmara, define boa parte da agenda parlamentar. Renan Calheiros, PMDB, determina a, por assim dizer, contra-agenda, ao mesmo tempo em que azucrina Dilma Rousseff.

Em suma, Cunha, Calheiros e Temer lideram sublegendas do PMDB, todos os três calculando a seu modo como caminhar sobre as ruínas do governo petista até 2018, sem tropeços que atrapalhem projetos de poder presidencial, plano inédito no partido em quase 30 anos, oportunidade proporcionada pelo PT, saudações. Cunha seria o candidato do PMDB-Oposicionista A, Calheiros poderia inventar José Serra, ora PSDB, como candidato do PMDB-Oposicionista B, e Temer seria o nome do PMDB-Governista.

O que resta do PT, evidenciado nos discursos de Lula e no programa que o partido levou à TV, exime-se de defender o programa básico ou restante de Dilma 2. Tal programa, como se sabe, por ora limita-se ao arrocho para evitar a ruína e ao desmanche da política econômica de Dilma 1, plano elaborado, implementado e governado até politicamente por Joaquim Levy, ministro da Fazenda.

Não é de admirar que o PT esteja à beira de ir para a oposição a si mesmo.