Uma das preocupações mais sentidas entre os estudiosos chineses nestes dias de seminários aqui em Pequim, que já havia ficado registrada nos debates em Xangai, é fazer com que o mundo ocidental conheça a genuína cultura chinesa e entenda o espírito de seu povo.
A preocupação parece fazer parte de um projeto maior de inserção cada vez mais profunda da China no mundo, mais além do puro crescimento econômico, que já não satisfaz por si mesmo e precisa ser incorporado ao contexto mais amplo que inclui a divulgação cultural.
O interesse pelo Brasil, escolhido parceiro preferencial dentro dos Brics - acrônimo para Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, grupo de países emergentes que serão dominantes no mundo futuro, segundo previsões da Goldman Sachs assumidas como verdade já nos grandes fóruns internacionais -, é evidente, e agora também na arrancada cultural, que tem muito a ver com o projeto dos Estados Unidos que deu certo do ponto de vista pragmático da política internacional, ao levar para o mundo, inclusive para a China, seu modo de vida e seus valores.
O festival de filmes chineses que um grupo de investidores quer fazer no Brasil, com a correspondente exibição de filmes brasileiros aqui na China, é um exemplo desse tipo de iniciativa que deve ser cada vez mais frequente daqui para a frente.
Dentro desse espírito, um trabalho sobre a necessidade de se ter uma historiografia mais acurada da China, que suplante os erros cometidos no passado e mostre às futuras gerações as verdadeiras faces do país, foi apresentado pelo professor da City University de Hong Kong Zang Longxi, que se utilizou de um famoso poema sobre o Monte Lu, na província de Jiangxi, de um dos maiores autores chineses, Su Shi, do século XI.
"Nós não conhecemos a verdadeira face do Monte Lu porque estamos todos dentro", diz um de seus versos mais conhecidos.
Para Zang Longxi, a metáfora da montanha funciona bem porque eventos históricos acontecem em locais específicos, com definição geográfica precisa e uma materialidade própria que os condicionam.
O poema de Su Shi indicaria que a simples descrição da montanha não é suficiente para compreendê-la, assim como para o historiador não bastam a descrição e os registros históricos, mas, sim, abrir-se para diferentes ângulos, aceitar diferentes perspectivas, e esse é o desafio chinês para a sua historiografia.
Mais uma vez os senadores Randolfe Rodrigues, do PSOL, e Pedro Taques, do PDT, e o deputado Miro Teixeira, também do PDT, colocaram em evidência o que já não se preocupa em esconder na CPI do Cachoeira: o acordo de partidos da base governista, como o PT e o PMDB, e o PSDB para proteger seus governadores.
O adiamento para terça-feira da votação para a quebra do sigilo nacional da empreiteira Delta e convocação dos governadores de Goiás, Marconi Perillo, do PSDB, Agnelo Queiroz, do PT do Distrito federal, e Sérgio Cabral, do PMDB do Rio de Janeiro, revela a tentativa de reorganizar as forças políticas que querem que a CPI não produza resultados concretos nem tenha consequências políticas, já que não foi possível ao governo até agora fazer com que a oposição sofra perdas seletivamente.
O PSOL detalhou, através do senador Randolfe Rodrigues, o que apurou na farta documentação à disposição da CPI: transferência de R$ 40 milhões da Delta para contas laranjas de Cachoeira e outras empresas a ele vinculadas, efetuada em agências bancárias do Rio de Janeiro (agências Rio Branco e Assembleia), com muitas parcelas menores que R$ 100 mil - para evitar análise do Coaf.
Compulsar os recebedores desses recursos - até aqui há 34 listados - com doações de campanha será muito importante. "A indisponibilidade dos bens dessa empreiteira corrupta, pedida por integrantes da CPI, é um imperativo" para o deputado Chico Alencar, que participa da CPI na condição de líder do PSOL.
Os próximos dias serão de amplas negociações e avaliação das blindagens possíveis, embora esteja claro que, mesmo tendo a maioria da CPI, os aliados do governo não têm a maioria moral para impedir decisões quando elas se tornam inevitáveis. O risco é o da desmoralização completa.
Do ponto de vista do método de investigação da CPI, esses dados confirmam que a tarefa primordial dos seus membros é examinar os documentos disponíveis, minimizando a importância dos depoimentos.
Para Chico Alencar, a linha do silêncio absoluto inaugurada pelo capo Carlos Cachoeira foi quebrada por Wladimir Garcez, figura-chave na organização por seus vínculos negociais e políticos (ele presidiu a Câmara Municipal de Goiânia).
Na sua defesa inicial, único momento em que falou à CPI, Garcez, que é "expressão viva do consórcio empresarial e criminoso Cachoeira/Delta", segundo o deputado, declarou, textualmente, que tinha contrato para prestar "assessoria" à Delta - por ter contatos com os governos municipal (Goiânia), estadual (Goiás) e federal - e também era contratado para "assessorar" Cachoeira.
Ele reconhece a prática de amplo tráfico de influência, orientando e dando informações às pessoas que compunham os vários órgãos.
Para Chico Alencar, "a fantástica transação imobiliária" da mansão de R$ 1,4 milhão do governador Marconi Perillo merece análise acurada, "tamanha a rede de negócios e favores que envolve", dos patrões de Garcez (Cláudio Abreu/Delta e Carlos Cachoeira/Vitapan e outras) à nova senhora Cachoeira, passando pelo milionário professor Walter Paulo, dono de universidade, com cheques nominais ao governador.
FONTE: O GLOBO