O Globo
Tudo indica que o próximo presidente será
definido no photochart, mas estamos assistindo ao maior escândalo de abuso do
poder econômico e político já visto em eleições
A pergunta de um milhão de dólares (talvez
valha até mais) é da antiga, porém atualíssima, piada política eternizada por
Marco Maciel, ex-vice de Fernando Henrique e político de respeito de
Pernambuco. Numa de suas disputas majoritárias, o marqueteiro disse a ele,
satisfeito, que as curvas dele e do adversário estavam se cruzando, a sua
ascendente, a do outro descendente. Maciel calmamente perguntou:
— Elas se cruzarão antes ou depois da
eleição? Quando as curvas vão se aproximando, diz-se no jargão das pesquisas
eleitorais que “a boca do jacaré está se fechando”. É o que parece estar
acontecendo na disputa entre o presidente Bolsonaro e o ex-presidente Lula, mas
esse jacaré é um tanto preguiçoso, fecha a boca devagarinho, pontinho a
pontinho. No momento já existe um empate técnico no limite da margem de erro,
de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Como os institutos de pesquisas fazem questão de ressaltar, pela primeira vez em anos, que o resultado não é um prognóstico, mas uma fotografia da realidade no momento em que são realizadas, não há mais favoritismo na corrida presidencial. Essa situação deve-se a que os eleitores estão obrigados a escolher entre os dois candidatos mais rejeitados da campanha, uma situação instável que pode ser abalada por qualquer movimento de última hora. Mesmo que 94% dos pesquisados declarem não pretender mudar de voto, tanto em Lula quanto em Bolsonaro.
É inegável que estamos assistindo ao maior escândalo de abuso do poder econômico e político a favor de um incumbente já visto desde os tempos da República Velha. Bolsonaro criou tal clima de suspeição contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que se tornou inimputável. Por muito menos já se cassou o mandato de prefeitos e governadores eleitos, e isso poderá vir a acontecer caso Bolsonaro se reeleja, mas só que tarde demais.