Horizontes Democrático / Estado da Arte/ O Estado de S. Paulo
Eleito fazendo do que chamou de “nova
política” uma de suas bandeiras eleitorais, apesar de ter sobrevivido em vários
mandatos parlamentares recorrendo aos métodos tradicionais da “velha política”,
o presidente Jair Bolsonaro está terminando seu mandato de modo patético. Não
só terceirizou a gestão da máquina pública para o Centrão, como ainda assinou
um decreto em que conferiu ao chefe da Casa Civil a última palavra em matéria
de execução orçamentária.
O que é o Centrão? Com cerca de 230
deputados na Câmara, em uma casa legislativa com 513 parlamentares, ele é um
agrupamento de políticos sem ideologia, preocupados com seus próprios
interesses e acostumados a negociar apoio ao governante de plantão em troca de
cargos. O que importa no Centrão são ganhos patrimonialistas propiciados pelo
tráfico político de funções públicas e acesso às chaves dos cofres
governamentais. O ethos do Centrão é conformado pelo fisiologismo
como método no âmbito de um presidencialismo de coalizão. Responsável por
algumas determinantes que condicionam o sistema político e o próprio Estado,
especialmente o funcionamento de sua máquina administrativa e a alocação de
recursos públicos, o Centrão resulta de uma patologia na formação histórica
brasileira.
Como o país não dispõe de partidos grandes, ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos, quando um presidente da República é eleito ele não tem base partidária para apoiar sua gestão. Por isso, precisa formar uma coalisão, muitas vezes fora do espectro de partidos com que tenha algum alinhamento ideológico. Nas últimas décadas, houve uma explosão de partidos, quase todos criados apenas para vender esse apoio. Isso explica porque a Câmara e o Senado acabam, por vezes, sendo dirigidos por parlamentares medíocres. Político cuja base eleitoral se situa numa cidade onde seu pai é prefeito, além de pecuarista, o atual presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) é só um exemplo. Guardadas as diferenças de recursos financeiros, não discrepa muito de um Severino Cavalcanti, que também militou no mesmo partido de Lira e presidiu a Câmara, em 2005.