sábado, 13 de setembro de 2014

Opinião do dia: Dora Kramer

Está claro, pois, que a campanha do PT achou um atalho mais fácil para travar o atual combate: no lugar de tentar convencer, prefere enganar o eleitor. Campo no qual se sente bastante à vontade.

Dora Kramer, jornalista. Iludir é preciso, O Estado de S. Paulo, 12 de setembro de 2014.

‘Em todos os partidos tem gente corrupta’, diz Dilma

• Candidata do PT criticou sua principal adversária, Marina Silva, e disse que denúncias sobre Petrobras não afetam a ela nem a pessoas de confiança

O Globo

RIO — A presidente Dilma Rousseff (PT), que fechou nesta sexta-feira a série de sabatinas do GLOBO com os presidenciáveis, criticou sua principal adversária, Marina Silva (PSB), e se defendeu das denúncias de desvio de recursos da Petrobras. Ao falar sobre as alianças partidárias costuradas em seu governo, afirmou que "em todos os partidos tem gente corrupta e gente que não é corrupta". E defendeu que a democracia "não pode prescindir de partidos":

- Eu não acho que a democracia possa prescindir de partidos. Toda vez que isso aconteceu, nós caímos na mais negra ditadura. Ou tem alguém muito poderoso por trás disso - declarou. - Em todos os partidos, tem gente corrupta e gente que não é corrupta. Tem partidos que tem compromissos históricos. O meu partido, o PT, tem uma história de luta, de militâncias. O PMDB é um partido que lutou pela redemocratização. Eu sou da época em que ia-se para a cadeia.

Em referência à candidata do PSB, Dilma disse que quem "chega no governo e acha que não tem que negociar, está no mau caminho".

- No governo, você tem que fazer suas coisas: uma coisa é propor e a outra é negociar. Se você acha que chega no governo e não tem que negociar, você tá no mau caminho. Para ser presidente, tem que ter coluna vertebral. Errar, você erra 24 horas por dia - disse Dilma, quando perguntada sobre arrependimentos em seu mandato, em que apontou a falta de especialistas na área da Saúde e ausência de uma reforma no Ensino Médio.

Petrobras
Durante a sabatina, a candidata comentou as denúncias de corrupção na Petrobras e disse que pediu a descontinuidade do ex-diretor Paulo Roberto Costa, investigado por operar um esquema de desvio de recursos da estatal, porque "não tinha afinidade com ele".

- Há corrupção em todas as empresas públicas ou privadas. A Petrobras tem órgãos internos e externos de controle. Mas quem descobriu foi a Polícia Federal. Se eu tivesse sabido qualquer coisa sobre o Paulo Roberto, ele seria demitido e investigado. Eu tirei o Paulo Roberto com 1 ano e 4 meses de governo. Eu não sabia o que ele estava fazendo. Eu tirei, porque não tinha afinidade nenhuma com ele.

Sobre as investigações, a candidata afirmou que não afetará nem ela nem pessoas de sua confiança. Segundo a petista, "não é fácil de achar" as irregularidades que envolvem o ex-diretor da estatal.

- Isso não afeta nem a mim nem pessoas que têm a minha consideração. Tudo o que emergir dessa investigação, eu tenho certeza que será algo que transformará o Brasil em um país que pune e que investiga. A corrupção tem um compadre, um amigo, um protetor: a impunidade. Essa história que aumentou a corrupção é que quando você não investiga, não aparece - disse Dilma - Isso que aconteceu na Petrobras, não é facil de achar, não é fácil de investigar. Eles estão investigando há mais de um ano.

A colunista Míriam Leitão questionou Dilma sobre um parecer técnico emitido pela Petrobras, publicado pelo GLOBO, que dizia que, se a construção da refinaria Abreu e Lima fosse superior a R$10 bilhões, não deveria ser feita.

- A diretoria na Petrobras tem autonomia para o dia a dia dela. São eles que decidem o que tem que continuar ou não. Na época, achamos que precisava fazer - argumentou - Eu não tenho condição de avaliar tecnicamente. Não sei de cabeça quais foram as justificativas da empresa para continuar a fazer a refinaria. O Brasil tem que ter refinaria, porque temos que ser exportadores de petróleo. Se eu produzo petróleo bruto e não refino, eu condeno o Brasil a virar uma commoditie.

Banco Central
A candidata do PT comparou a independência do Banco Central à instituição de um "quarto poder", que ela chamou de questionável. "Poder tem que ser eleito pelo povo", alegou Dilma:

- O quarto poder, que é o poder da independência do Banco Central, é algo extremamente questionável. Uma coisa é autonomia operacional. Outra coisa é independência do Banco Central - Independência é de poder. O banco central não é um poder. O Banco Central é uma instituição. Poder tem que ser eleito pelo povo, como o Legislativo ou o Executivo. Ou como o Judiciário, que tem um mandato durante a vida. Um presidente do Banco Central poder sair e servir um banco, ir para uma instituição de crédito lá fora.

Dilma negou ter defendido, em 2010, a independência do Banco Central. Ela explica que era a favor da "autonomia" da instituiçao, que ela disse ter mantido ao longo de seu mandato.

- Independência do Banco Central é o que está sendo proposto.Autonomia não precisa de lei nenhuma. Eu acredito que o Banco Central teve autonomia. Como teve autonomia no governo Fernando Henrique Cardoso, sabe por quê? Quantos presidentes do Banco Central o Fernando Henrique demitiu? Dois. Isso é autonomia relativa. Eu sou a favor da autonomia do Banco Central e pratico. Porque nos Estados Unidos, pra ser independente sabe qual é o mandato? Máximo emprego. Estabilidade de preço. Juros moderados de longo prazo. Esse é o mandato.

Ataques a adversários
Dilma justificou a intensa onda de ataques à candidata Marina Silva, dizendo que todas as suas críticas são baseadas em programas de governo ou programas partidários em rádio ou TV.

- Tudo sobre Aécio e Marina que nós discutimos é sobre o que eles fizeram ou falaram. É muito perigosa a vitimização. Não estamos atacando pessoalmente, até porque a Marina é bem intencionada. Eu disse que ela estava sendo financiada por banqueiros, eu falo em cima de fatos. Disse sobre o que vocês (imprensa) estão divulgando. Se são inverdades, eu não tenho nada a ver com isso.

A petista, que critica Marina por "ter recebido doação de dinheiro de banqueiros", explicou que as contribuições que recebeu de bancos foram para o seu partido e não em seu nome.

- Eu recebi para a minha campanha. Minha campanha é uma campanha institucional. Ninguém nunca se aproximou de mim para dizer "agora eu quero que você faça isso". A Marina disse que eu tinha pago uma bolsa banqueiro. Eu disse: eu não só não paguei bolsa banqueiro como também não recebi.

Comissão da verdade
Uma das perguntas foi sobre a cooperação das Forças Armadas com as investigações da Comissão da Veradade. Dilma foi questionada se tomaria alguma atitudo em relação a isso, na posição de presidente.

- Vamos aguardar o relatório da Comissão da Verdade'. Sem isso, nós ficamos na especulação. Se a comissão revelar atitudes negativas, nós vamos ver o que fazer - declarou Dilma - Houve um grande passo que foi criar a Comissão da VerdadeFoi um grande avanço. Vou tomar todas as medidas cabíveis para resolver sobre o que faltou e o que não faltou. Esse vai ser um momento excepcional do desvendamento da verdade.

Reforma política
Ao falar de reforma política, a presidente voltou a defender uma consulta popular. Após as manifestações em junho do ano passado, ela tentou aprovar um plebiscito para a realização da reforma política.

- Não estamos conformados com essa diferença que existe entre o Brasil e seu sistema político. Incluímos milhões de pessoas, o país mudou, mas do ponto de vista do seu sistema político, ele ficou atrasado. Eu não acredito que nós faremos uma reforma política como aquela, mandando simplesmente um projeto para o Congresso. Eu acredito que o único jeito de ter sustentação é fazer uma consulta popular. Só a consulta popular dá legitimidade e força para aquilo que a população resolver. Mandar para o Congresso e dizer que são os bons que vão fazer é muita ingenuidade.

Religião
Dilma falou sobre sua opção religiosa. Ela disse que "o Estado é laico, o Estado não tem religião e não deve ter", mas contou que segue a religião católica desde que estudou em um colégio de freira, em Minas.

- Fui aluna de um colégio de freiras e comecei a fazer política com o Grupo Gente Nova. Depois, em Porto Alegre, eu tive uma relação mais ou menos desse tipo com um grupo religioso. Eu sou uma pessoa que acredita nos princípios da religião católica. Eu acredito em todos que creem, porque a religião tem uma base ética entre as pessoas. Isso, para mim é um valor. Eu acho que tem um sentido também humano fundamental - afirmou - O Estado é laico, o Estado não tem religião, não deve ter. E é inconstitucional transformar qualquer religião em religião do estado.

A candidata aproveitou para elogiar o Papa Francisco.

- Eu considero que o Papa Francisco vai dar uma contribuição a muitas coisas no mundo. Ele prega e faz isso. Ele é um dos fatores de maior valorização na Igreja católica nos últimos 100 anos. Respeito muçulmano, respeito evangélico, respeito todas as religiões, mas tenho imensa admiração pelo Papa Francisco.

LGBT
Após a polêmica envolvendo a mudança do programa de governo da rival, Marina Silva, Dilma disse ter compromisso com a criminalização da homofobia.

- Tenho integral compromisso com a criminalização da homofobia. O projeto [que tramitava no Congresso, que criminalizava a homofobia] não tem só o artigo de criminalização de homofobia, tem outros artigos. Nem todos os artigos do projeto o governo é favorável.

De acordo com a candidata, a união civil de homossexuais é uma questão "solucionada", mas o Estado não tem como impor a aprovação do casamento gay porque isso seria assunto das religiões.

- O Supremo aprovou o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, e reconheceu os direitos das relações estáveis. O que eu acho é que o Estado não tem condições de impor o casamento religioso. Mas o Estado, como é laico, tem dever de reconhecer todos os direitos do casamento entre um homem e mulher tem para as pessoas do mesmo sexo. Essa é uma questão solucionada. A discussão central é a questão a respeito da homofobia. É absolutamente necessário, assim como foi necessário criminalizar a violência contra o negro e contra a mulher.

Economia
Na área da economia, Dilma respondeu sobre a saída do ministro da Fazenda, Guido Mantega, caso ela seja reeleita.

- Eu tenho grande respeito pelo trabalho do Guido Mantega. Ele está passando por uma fase difícil da vida pessoal dele. Me comunicou que em função disso não pretende seguir no próximo mandato.

Perguntada sobre a estagnação econômica, a candidata do PT usou o argumento de que a crise internacional abalou a criação de empregos no mundo o que não aconteceu no Brasil, segundo argumentou.

- Nós tivemos uma política nesse momento defensiva. Uma política defensiva é de proteção do país para enfrentar a crise. Política defensiva em que você constrói o alicerce da retomada - explicou Dilma - É impossivel enfrentar a crise fazendo esse modelito. Paro de investir e não tem futuro. Não desempregamos, nós não cortamos salários - disse.

Dilma ressaltou que o relatório da OCDE apontou uma tendência de que haveria uma crise de empregos "que tem comprometido a demanda desses países".

- É muito difícil falar qual é o número que é a tendência. Eu acredito que o segundo semestre será muiro melhor que o primeiro semestre. Essas comparações pontuais são grandes armadilhas. O que está acontecendo no mundo todo e é reconhecido é que houve uma queda oferta. No caso dos EUA atribuíram a um inverno muito tenso. No segundo trimestre, houve queda de vários países. Pela primeira vez, na Alemanha, houve uma grande queda. Não é uma questão de produtividade , porque se tem indústria tecnológica é a Alemanha - afirmou - o G20 tem 100 milhões de desempregados. Nós estamos enfrentando uma crise que não é só nossa. É uma crise que começa no centro do mundo.

Dilma se defendeu, afirmando que não reduziu salários e investiu em infraestrutura.

- Alguns reagiram cortando drasticamente os salários. Nós não fizemos assim. Nós reagimos garantindo aumento salarial. Nós reagimos garantindo investimento na infraestrutura do país.

Segurança
Sobre o tema da Segurança, a candidata afirmou que a situação do Brasil piorou. E criticou a fragmentação da atuação na área, que cabe aos estados.

- Eu acho que de fato a situação no Brasil em relação à Segurança piorou. O crime organizado age de forma coordenada em todo o território nacional . E os estados agem de forma fragmentada. A União tem que também se tornar responsável pela segurança pública, que hoje é atribuição dos estados. Sempre houve um lavar as mãos.

A candidata elogiou o sistema de segurança adotado durante a Copa do Mundo, em que as forças de segurança atuaram de forma integrada.

- Na Copa, não podiíamos deixar uma quebra na segurança pública. Então o que fizemos? Centros de comando e controle. Nesses centros, conseguimos um grau de integração extremamente elevado. Por isso, estamos querendo mudar a Constituição e fazer centros de comando e controle nos 26 estados, além de tratar as fronteiras dos estados como fronteiras reais.

Colunistas avaliam desempenho de Dilma na sabatina do Globo

• Candidata fecha a série de entrevistas com os presidenciáveis

O Globo

RIO — Para os colunistas do GLOBO que participaram da sabatina com a presidenciável Dilma Rousseff (PT), realizada no Palácio da Alvorada nesta sexta-feira, a candidata foi firme em defender as políticas implementadas pelo governo federal, mas se esquivou de perguntas específicas sobre a estagnação da economia e a alta da inflação. Para Ancelmo Gois, há uma diferença entre a Dilma do contato pessoal e a Dilma durante entrevistas:

— No contato pessoal, ela parece outra pessoa. Mais amável, mais humana a ponto até de se emocionar em alguns momentos. Do ponto de vista do conteúdo, ela não consegue convencer sobre a questão das alianças e de tantos acordos políticos. Aí ela não é convincente.

Ilimar Franco, da coluna Panorama Político, entende que a presidente demonstrou entendimento sobre temas técnicos:

— A candidata defendeu vários pontos de vista e de programas de sua campanha, no qual tem sustentado sua plataforma de reeleição. Ela demonstrou grande entendimento sobre diversos temas técnicos.

Já para Miriam Leitão, Dilma se omitiu em dar explicações sobre de que forma retomará o crescimento da economia brasileira.

— Ela não explicou como vai tirar o país da estagnação e da inflação alta, que foi a primeira pergunta que fiz. Optou por falar da crise internacional e do que conseguiu fazer, como manter emprego. É uma preocupação grande porque, como foi no governo dela que a economia chegou a esta situação, queremos saber como ela vai reverter. Falou da crise internacional, mas os países que foram atingidos já estão saindo dela. Então a explicação internacional não é suficiente. E sobre o setor elétrico, eu também não achei que ela deu uma resposta satisfatória.

Segundo Merval Pereira, a candidata à reeleição driblou as perguntas espinhosas, como negociações do PT com outros partidos.

— Ela está muito convicta de suas razões e conseguiu driblar todas as perguntas relacionadas ao PT e ao seu governo, sobretudo nas negociações com os partidos, cujo ponto é o mais fraco do seu governo. É a velha política. Este será o debate que vai pautar o segundo turno.

Ricardo Noblat compreende que Dilma se excede na duração de suas respostas para evitar maior variedade de abordagem de assuntos.

— A candidata falou demais por duas razões: ela só sabe falar demais e, também, por esperteza, para não responder a mais perguntas e correr mais riscos. Pelo fato de ela falar muito, a variedade de assuntos não foi tão grande. Mas acho que, ainda assim, o público se sentiu satisfeito

Dilma precisa lançar programa de governo: O Globo - Editorial

• A presidente anunciou que em um segundo mandato trabalharia com uma equipe renovada. E também novas ideias. Mas ainda é muito pouco para satisfazer os eleitores

Como candidata à reeleição e uma das favoritas até agora nas pesquisas eleitorais, a presidente Dilma Rousseff deve uma definição de suas propostas, especialmente na área econômica, para um possível segundo mandato. Sua mais forte concorrente, Marina da Silva (PSB), já lançou o seu programa e Aécio Neves (PSDB) promete o dele para breve. A candidata à reeleição, porém, se limita a dar balanços, favoráveis, de sua polêmica gestão — principalmente na economia — e anuncia que divulgará propostas em tópicos, na propaganda eleitoral. O resto são platitudes e definições óbvias e consensuais, como o apoio à Educação. O que teme a candidata? O máximo que avançou foi anunciar, de forma implícita, o afastamento do ministro da Fazenda, Guido Mantega, em eventuais novos quatro anos de Planalto: “governo novo, equipe nova”.

O resultado foi esvaziar o cargo do Ministro da Fazenda e reforçar o temor de que persistirá nos erros cometidos até aqui. Na entrevista ao GLOBO, ontem, transmitida ao vivo pela internet, lançou nova variação do mesmo: “governo novo, ideias novas”. Continua insuficiente para eleitores e a sociedade como um todo. De aviso prévio, Mantega diz que será necessária uma política fiscal mais austera no ano que vem, com a busca de um superávit primário da ordem de 2% a 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Com isso, observa o esvaziado ministro, a política monetária poderá ser mais flexível (leia-se: redução nas taxas básicas de juros e menos aperto no crédito) no combate à inflação.

Dilma poderia comentar as declarações de Mantega e jogar alguma luz sobre o que pensa para o futuro, considerando que a inflação se mantém alta, as contas públicas desequilibradas e sob absoluta desconfiança dos analistas, dada a contabilidade criativa. E nada faz prever uma consistente retomada do crescimento. Nem o bom resultado da estimativa de evolução do PIB, em julho, feita pelo Banco Central (1,5% de expansão). Por enquanto, apenas um fato isolado. A presidente precisa deixar claro se manterá ou não a política fiscal expansiva e o que pensa da gestão futura do Tesouro Nacional, com seus repasses bilionários para bancos oficiais e a maneira criativa de contabilizar despesas. Há, ainda, o problema dos preços públicos artificialmente contidos. A julgar pela entrevista ao GLOBO, a Petrobras — e os acionistas minoritários, dentro e fora do país — não terá atendida a reivindicação de deixar de subsidiar o consumidor de combustíveis.

Nem tampouco deve-se esperar qualquer maior autonomia do Banco Central, dada a virulência dos ataques da campanha da candidata à adversária Marina Silva, por esta defender a formalização desta autonomia, como fazem nações desenvolvidas. Mas tudo são inferências, deduções de pronunciamentos e entrevistas. O país necessita é de definições formais, claras. Manter no ar dúvidas como essas não favorece sequer a própria candidata.

Aécio: 'eu não bebo desse cálice do PT'

• Tucano criticou a presidente Dilma Rousseff, que afirmou, durante sabatina do Globo, que todos os partidos têm corruptos

Silvia Amorim – O Globo

SÃO PAULO - O candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, reagiu nesta sexta-feira à declaração da presidente Dilma Rousseff, que, durante sabatina realizada pelo GLOBO, disse que todos os partidos têm corruptos. O tucano, que cumpriu agenda nesta tarde na capital paulista, disse que o PSDB é diferente do PT e acusou o partido adversário de ser "leniente" com a corrupção na Petrobras.

— Nós somos muito diferentes do PT. Eu não bebo desse cálice do PT. O PT permitiu que a maior empresa pública brasileira fosse instrumento de uma organização criminosa — afirmou o tucano.

Aécio também questionou as declarações de Dilma de que ela desconheceria os feitos na estatal.

— Esse diretor que hoje está preso e começa a denunciar para onde ia esse dinheiro era alguém que convivia com alguma intimidade com o governo, como um todo, e com ela própria (Dilma) quando presidente do conselho (da Administração da estatal).

Em seguida, o tucano afirmou que considera o governo conivente com supostos desvios de recursos da Petrobras.

— Não há como tapar o sol com a peneira.O governo do PT foi absolutamente leniente com todas as estruturas que se montaram dentro do estado brasileiro.

O candidato do PSDB comentou a afirmação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que disse nesta quinta-feira, em Manaus, ser "amigo" do tucano.

— O Lula era um bom reserva da lateral esquerda do meu time quando éramos deputados em Brasília. Depois, quando presidente, tivemos uma relação institucional correta e republicana. Não trato meus adversários como inimigos e fico feliz que o presidente Lula, diferente do que disse em outras ocasiões, vem nessa mesma direção.

Aécio voltou a criticar o tom adotado por Dilma na campanha e disse que a adversária "baixou o nível do debate". Por outro lado, o tucano acusou a candidata Marina Silva (PSB) de "não querer o debate".

— Temos uma candidata que baixou o nível do debate e uma outra que não quer o debate e que se ofende simplesmente com a lembrança de que ela militou por mais de 20 anos no PT.

Dilma defendeu autonomia do BC na campanha presidencial de 2010

• Petista, que hoje critica proposta de Marina Silva, já apoiou liberdade do órgão na fixação de juros

• Na TV, presidente acusa candidata do PSB de tentar entregar a banqueiros o controle da política econômica

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Embora critique a proposta de independência do Banco Central feita pela campanha da candidata rival Marina Silva (PSB), a presidente Dilma Rousseff (PT) já defendeu, no passado, que a autonomia da autoridade monetária é "importantíssima".

Em entrevista à rádio CBN, quando ainda era candidata em 2010, Dilma disse que achava "importantíssima a autonomia operacional que o Banco Central teve no governo do presidente Lula". "Sempre tivemos uma relação muito tranquila com o BC", acrescentou.

Após a eleição, o então nomeado presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, declarou que recebeu a determinação da presidente de atuar com "total autonomia" no controle da inflação e no estabelecimento da política monetária (fixação dos juros).

Em entrevista coletiva, Tombini afirmara que Dilma havia dito a ele que "nesse regime [de metas de inflação] não há meia autonomia. É autonomia total".

Marina propõe conceder autonomia, assegurada por lei, ao BC, com mandatos fixos a seus dirigentes.

Em comerciais na televisão, a campanha de Dilma acusa a adversária de tentar entregar aos banqueiros o controle da política econômica, "um poder que é do presidente e do Congresso, eleitos pelo povo".

Na última quarta-feira (10), a presidente disse, em entrevista no Palácio da Alvorada, que a proposta da adversária reflete uma visão econômica "que não está dando certo no mundo".

Refere-se aos EUA e a outros países que estiveram no centro da crise global em 2008/2009, em parte causada pela falta de regulamentação sobre alguns investimentos feitos no mercado financeiro. Na crise, bancos quebraram, como o Lehman Brothers, e outros foram socorridos pelo governo ou vendidos a concorrentes.

Dilma afirmou que é preciso escutar todos os setores da sociedade, incluindo os bancos, mas disse que deixá-los ditar a política monetária do país é outra história.

"Nós não achamos necessário a autonomia do Banco Central", afirmou. "Entre isso [ouvir o setor] e eu achar que os bancos podem ser aqueles que garantem a política monetária, fiscal e cambial vai uma diferença".

Nesta sexta (12), a Folha informou que empresários reclamam de estarem sendo vítimas de um processo de "satanização" nas propagandas do PT usadas para desconstruir a imagem de Marina.

"Santa Sé"
Durante a campanha presidencial de 2010, Dilma respondeu a uma afirmação feita pelo adversário José Serra (PSDB), de que "o Banco Central não é a Santa Sé".

Nas eleições deste ano, o senador e candidato à Presidência Aécio Neves (PSDB) defende, em um eventual governo, a autonomia operacional do BC (sem a necessidade de formalização em lei).

Equipe de Marina muda propaganda para poupar Aécio

• Anúncio original criticava tanto o tucano quanto Dilma; nova versão só mantém menção à petista

• Nos últimos dias, aliados de Marina reclamaram dos ataques com pessoas vinculadas ao PSDB

Daniela Lima – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - A campanha da presidenciável Marina Silva (PSB) mudou na última hora um anúncio produzido para o horário eleitoral, para centrar críticas na presidente Dilma Rousseff (PT) e poupar Aécio Neves (PSDB-MG), que aparece em terceiro lugar nas pesquisas.

O anúncio que a pessebista vai exibir na TV a partir deste fim de semana diz que "os jornais mostram que Dilma e o PT estão se desesperando e começando a apelar".

O texto é ilustrado com uma série de reportagens de diferentes veículos que mostram a ofensiva petista sobre Marina nos últimos dez dias.

Filme quase idêntico havia sido registrado na quinta-feira (11) na Justiça Eleitoral pela campanha de Marina.

A primeira versão incluía Aécio Neves entre os "desesperados". "Os jornais mostram que os adversários da Marina estão se desesperando e começaram a apelar", dizia o texto original.

Assim como na versão final, reportagens publicadas em jornais emolduravam a frase, mas, neste caso, os textos também traziam relatos da ofensiva tucana contra Marina Silva.

O final dos dois comerciais é o mesmo: "Tome muito cuidado com o que dizem por aí. Porque quanto mais a Marina subir, mais o nível dos adversários vai descer". As duas peças foram antecipadas pelo site da Folha.

Trégua
A alteração na propaganda ocorre no momento em que Marina reclama que os adversários estão trabalhando para "desconstruir" a sua imagem com ataques pessoais e que integrantes da cúpula de sua campanha trabalham para dissuadir o PSDB de dar continuidade aos ataques à ex-senadora.

Na última semana, diversos aliados de Marina fizeram contato com pessoas vinculadas à campanha de Aécio reclamando que, ao atacar a ex-senadora, o tucano estaria, na verdade, favorecendo a candidatura de Dilma.

Integrantes do comitê tucano responderam que Aécio briga pela vaga no segundo turno e não tem outra opção a não ser debater e estabelecer comparações entre a trajetória dele e a das rivais.

O tucano está quase 20 pontos percentuais atrás de Dilma e Marina nas pesquisas de intenção de voto.

Nesse cenário, a mudança no anúncio de Marina tem duas utilidades. Primeiro, faz um ajuste de foco mirando apenas Dilma, contra quem ela hoje efetivamente trava uma disputa. Segundo, faz um gesto público pela trégua com o mineiro.

Bandeira branca
O movimento dos marineiros pela bandeira branca tem incomodado alguns tucanos. A interlocutores Aécio se queixou do que chamou de "plantação excessiva" de notícias sobre acenos que o PSDB teria feito a Marina, prometendo apoio no segundo turno se Aécio ficar fora.

Publicamente, o tucano externou a contrariedade de outra forma. Disse, em sabatina do jornal "O Globo", na quarta-feira (10), que só enxerga dois caminhos: ou vence as eleições, ou será oposição.

Marina cobra programas de governo de Dilma e Aécio: 'assinar cheque em branco é perigoso'

• A presidenciável pelo PSB falou para empresários na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro

Juliana Castro – O Globo

RIO - Em discurso para empresários do Rio, a candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, manteve o tom de críticas à presidente Dilma Rousseff (PT), lembrando o escândalo da Petrobras, e citando que o programa da petista no horário eleitoral mostra uma ilha de fantasia onde tudo funciona. Marina cobrou de Dilma e, também de Aécio Neves, candidato pelo PSDB, a apresentação de seus programas de governo.

— Assinar cheque em branco é perigoso. Onde estão os programas dos meus adversários? Que apresentem para que possamos fazer comparação — cobrou a candidata do PSB, durante o evento na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan).

Acompanhada do vice na chapa, Beto Albuquerque, Marina disse que está em jogo algo grandioso e que o eleitor vai escolher se vai votar em quem tem programa ou naqueles que têm promessas genéricas:

— Nesse momento, o que está em jogo é algo muito grandioso: se vamos ou não eleger um presidente com base em um programa ou com base apenas em promessas e diretrizes genéricas. Os dois candidatos não apresentaram programa e repetem que leram minuciosamente o nosso. Mas, por que não apresentam suas ideias para que possamos fazer o debate?

Marina disse ainda que o país está vivendo um caos no setor elétrico:

- Acho que o lugar mais simbólico desse colapso (na infraestrutura) é o setor de energia, porque se temos a pessoa mais importante nos postos mais importantes da República cuidadando deste setor e, desde 2010, ele vive à beira de um apagão, vamos imaginar o que acontece com os demais. A presidente dilma foi ministra de Minas e Energia, chefe da Casa Civil, e presidente da República e estamos vivendo um caos no setor elétrico.

'Dilma usa comigo a mesma tática que Collor usou com Lula'
Marina disse que a campanha do PT está usando com ela a mesma tática que Fernando Collor usou na campanha de 1989 contra Lula.

- Não vale tudo para ganhar uma eleição. Vi o Collor de Mello ganhar uma eleição do Lula usando a mesma estratégia que a presidente Dilma está usando e não foi um resultado bom para o país, porque dividiu o país. Quero ganhar uma eleição com base no debate, nas propostas e não na indústria da calúnia e da mentira, do boato, do preconceito, da difamação. Lutei muito quando faziam a mesma coisa que estão fazendo comigo na época que o Lula era candidato. O mesmo punhal enferrujado está sendo usado contra mim - afirmou.

Tecnicamente empatada com Dilma nas pesquisas, Marina centrou suas críticas mais na presidente do que em Aécio. A candidata do PSB disse que com o tempo de TV de Dilma dá para fazer um curta-metragem.

— Mas o discurso num programa eleitoral de onze minutos, que dá para fazer um curta-metragem, é onde se cria uma ilha da fantasia em que tudo funciona — criticou. - Foi dito para as mulheres que teriam 6 mil creches para seus filhos. Apenas 400 foram feitas em quatro anos e estão sendo feitas 700.

Meus adversários estão desesperados, diz Marina

Sem citar o PT, Marina declarou que aqueles que diziam querer proteger as empresas estatais da privatização faziam o discurso dissociado da prática porque depois envolveram a Petrobras em um escândalo. A candidata afirmou ainda estar sofrendo todo tipo de calúnia. E chegou a se comparar a líderes como o ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela e Martin Luther King, dizendo que ninguém lembra de seus algozes.

- Estas eleições estão difíceis, mas nunca tive tão animada. Mandela ficou 25 anos na prisão. Eu pergunto a vocês: vocês sabem os nomes dos algozes? Não sabemos. É preciso pesquisar, mas todo mundo sabe quem é Mandela. Houve um tempo em que ele era vendido como se fosse o supremo mal. Luther king a mesma coisa, Gandhi a mesma coisa - afirmou.

— Estou sofrendo todo tipo de calúnia, mas estou tranquila e serena porque eles estão apavorados pela possibilidade de perder e estamos apenas animados, mobilizados com a possibilidade de ganhar.

Marina lembrou também o escândalo na Petrobras para criticar Dilma:

- Não pode ter alguém para ter apenas pedaço do estado ou fazer o que esta sendo feito com a Petrobras. Queremos governabilidade programática.

A candidata disse querer governar com brasileiros tendo assumindo compromisso de que ficará apenas por quatro anos e "sabendo que vamos dialogar com aqueles que deveriam ter responsabilidade com nova república.

- Vai ser mais fácil dialogar com Fernando Henrique, com Lula, do que deve ter sido com o Antônio Carlos Magalhães, com (José) Sarney. A velha república precisa ser aposentada e nova república precisa assumir responsabilidades.

Comitê de buscas
Para o empresariado fluminense, Marina falou sobre o modelo de comitê de buscas para acabar com as denúncias de corrupção nas agências reguladoras. No comitê de buscas se inscreveriam técnicos experientes para exercer funções importantes nas agências. Com isso, os profissionais não teriam que se submeter às indicações políticas.

- O que vamos fazer é aperfeiçoar o sistema com a nomeação de pessoas que sejam quadros técnicos, que possam ir para esses postos pelo mecanismo do comitê de busca, onde poderemos, assim, colher quadros competentes, independente e com a visão republicana na função que a sociedade está reclamando que é a melhoria da qualidade dos serviços, para que os investimentos possam ser feitos adequadramente.

Aos empresários, a candidata disse ainda que o país vive um apagão de inovação, sendo preciso investir nas áreas de pesquisa, inovação e tecnologia.

Vice de Marina cita Goebbels ao falar de Dilma
O vice de Marina, Beto Albuquerque, citou Joseph Goebbels, ministro da Propaganda do Reich na Alemanha de Adolf Hitler, ao falar da presidente Dilma.

— Precisamos virar esse jogo onde Goebbels é o principal marqueteiro ao transformar a mentira numa afirmação permanente. Como poderia uma mulher como a Marina, que nasceu na floresta, teve cinco malárias, fez o Mobral, acabar com o Bolsa Família, como diz a Dilma?

Albuquerque afirmou também que ele e Marina vieram ao Rio para dizer que não são contra o pré-sal:

- Viemos ao Rio para dizer em alto e bom sol aos brasileiros que somos a favor do pré-sal. Seria impensável algum brasileiro ser contra o pré-sal. Viemos ao Rio dizer que somos favoráveis a indústria naval, vamos seguir fazendo contratos, fazendo leilões. Mas somos contra a corrupção.

Aliados de Marina articulam frente anti-PT

• Objetivo é ter apoio de candidatos a governos estaduais que enfrentarão petistas no segundo turno

Sérgio Roxo – O Globo

SÃO PAULO - Aliados da candidata do PSB à Presidência da República, Marina Silva, já começam a articulação de uma frente anti-PT para o segundo turno da eleição. A ideia é ter apoio de candidatos que enfrentarão petistas nos estados e contar com essas estruturas para a campanha presidencial.

A proposta é defendida por lideranças do PSB e do PPS e vem sendo tratada com cuidado para evitar problemas com a presidenciável. Caso a frente seja formada, Marina teria que subir em palanques como o de Ana Amélia (PP), candidata ligada ao agronegócio, no Rio Grande do Sul.

Eduardo Campos, que era o candidato do PSB a presidente e morreu no dia 13 de agosto num acidente aéreo em Santos, chegou a negociar uma aliança com Ana Amélia, mas o acordo foi rejeitado no final, em parte por pressão dos aliados de Marina, então vice da chapa, e a legenda optou pelo candidato do PMDB, José Ivo Sartori. Pelas pesquisas, o segundo turno no Rio Grande do Sul deve ter Amélia e o atual governador, o petista Tarso Genro.

Caso não aceite a frente anti-PT, Marina deve ficar sem nenhum palanque, no segundo turno, nos dez maiores colégios eleitorais do país.

Publicamente, os aliados da presidenciável do PSB negam que já estejam cuidando das articulações, mas reconhecem que o eleitor que optar por um adversário do PT nos estados deve acabar escolhendo Marina na disputa presidencial.

- Mesmo sem aliança formal, a tendência é que o eleitor polarize as disputas. Quem for contra o PT no estado, deve escolher a Marina - afirma Roberto Freire, presidencial nacional do PPS, segundo maior partido da aliança.

Aliados cogitam apoio a PSDB
A torcida no PSB é pelo maior número de segundo turnos nos estados. A avaliação é que isso ajuda a manter a eleição mais presente, principalmente nas cidades de interior. Sem a disputa estadual, a campanha nesses locais fica restrita aos programas de rádio e televisão. Para colaborar com essa estratégia, a presidenciável deve intensificar agendas em estados em que o candidato do PSB tem chance de crescer. É o caso de Minas, por exemplo.

No estado, a disputa está polarizada entre Fernando Pimentel (PT) e Pimenta da Veiga (PSDB). Hoje, as pesquisas indicam vitória do petista no primeiro turno. Mas, se Tarcísio Delgado (PSB) subir, pode provocar segundo turno. Um eventual apoio de Marina ao candidato do PSDB poderia entrar nas negociações para adesão dos tucanos no segundo turno da campanha presidencial.

As lideranças do PSB e do PPS também sonham com uma adesão de Marina ao tucano Beto Richa no Paraná num eventual segundo turno contra Roberto Requião (PMDB). No Mato Grosso do Sul, haveria chance de uma união com Reinaldo Azambuja (PSDB), possível adversário de Delcídio Amaral (PT).

O apoio a candidatos do PSDB poderia pavimentar a aproximação com a lideranças nacionais da legenda. Há uma preocupação sobre os termos dessa união no segundo turno.

Na avaliação de aliados, uma adesão tradicional, com subida no palanque, pode enfraquecer o discurso de renovação política. Já uma rejeição aos tucanos pode reforçar a imagem junto ao eleitor de que Marina tem dificuldade para composições e se isolaria num possível governo. Daí, a cautela dentro do partido para tratar do assunto.

No momento, a liderança tucana que tem mais chance de declarar apoio a Marina no segundo turno, na avaliação dos aliados da candidata do PSB, é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Além da união com os tucanos, os articuladores da frente anti-PT acreditam que podem até provocar deserções em candidatos que hoje estão com Dilma.

No Ceará, o sonho é de uma aproximação com Eunício Oliveira (PMDB), que deve enfrentar Camilo Santana (PT) no segundo turno. Os dois apoiam a petista na eleição presidencial. Há, no entanto, dúvidas no PSB sobre a disposição de Marina de se unir ao peemedebista.

No Rio, com os quatro principais candidatos muito ligados a Dilma, as chances de Marina optar por algum candidato no segundo turno são quase nulas.

Em São Paulo, o segundo turno por enquanto é improvável. Mas, caso Geraldo Alckmin enfrente Paulo Skaf (PMDB), Marina, mesmo tendo criticado rotineiramente o governador tucano, teria que se unir a ele, já que o vice da chapa, Márcio França, é do PSB.

BA, PE, SC: 2º turno improvável
Entre os maiores estados, Bahia, Pernambuco e Santa Catarina não devem ter segundo turno. No Pará, as chances de Marina optar por algum candidato no segundo turno são remotas.

A construção dos palanques é apenas uma das questões a serem definidas para o segundo turno. A campanha de Marina divulgou ontem uma nota para afirmar que o argentino Diego Brandy permanece no comando de "comunicação audiovisual".

O GLOBO mostrou ontem que há entre os aliados da presidenciável a intenção de contratar um novo marqueteiro para o segundo turno, quando o tempo de propaganda da candidata passará de dois minutos e três segundos para dez minutos. "Não procedem as especulações de mudanças nessa chefia", afirma a nota.

Marina muda peça de TV e mira em Dilma

Isadora Peron, Ana Fernandes.e Felipe Werneck – O Estado de S. Paulo

O PSB vai começar a veicular na TV uma nova propaganda para defender a candidata da sigla à Presidência, Marina Silva, dos ataques que vêm sofrendo. Num primeiro momento, o comercial registrada pelo partido na Justiça Eleitoral dizia que "os adversários" de Marina estavam "se desesperando" e começavam "a apelar". A segunda versão, porém, trouxe uma pequena mudança e concentra as críticas na figura da presidente Dilma Rousseff (PT).

"Os jornais mostram que Dilma e o PT estão se desesperando e começando a apelar", diz o novo texto da inserção. O final da peça não foi alterado: "Tome muito cuidado com o que dizem por aí. Porque quanto mais a Marina subir, mais o nível dos adversários vai descer". Um spot de rádio também foi produzido pela campanha do PSB, com citação nominal à candidata do PT. "Dilma tem pelo menos 11 minutos no programa de rádio e TV. Você já notou que nesse tempo todo ela só fala mal da Marina?"

A avaliação da coordenação da campanha é que as críticas têm de ser concentradas em Dilma, já que os ataques mais duros contra Marina têm vindo do PT. Nesta semana, a campanha da petista começou a veicular na televisão propagandas que criticam a proposta de independência do Banco Central de Marina e dizem que, se ela for eleita, a exploração do pré-sal será deixada em segundo plano, o que tiraria recursos da saúde e da educação.

"Estamos indignados com a postura do PT de explorar a mentira na TV", disse Walter Feldman, coordenador-geral da campanha do PSB. Segundo ele, que foi filiado ao PSDB antes de aderir ao grupo de Marina, como Aécio Neves está em terceiro lugar e a campanha de Dilma tem sido mais agressiva, é natural que o PSB responda diretamente a Dilma e poupe o tucano.

O próprio Aécio tem amenizado as críticas à adversária do PSB. Ontem, o tucano se disse solidário a Marina "em relação a essas críticas pessoais que têm sido feitas a ela". Um eventual apoio do PSDB a Marina tem sido discutido discretamente pela legenda.

Pesquisas. Feldman admitiu que os ataques do PT surtiu efeito e atingiu as intenções de voto de Marina, mas disse acreditar que a tática do "medo" terá papel limitado. "Nossa teoria é que isso pode ter um efeito rebote para a Dilma", disse.

Temer diz que PMDB será oposição em um primeiro momento, caso Marina seja eleita

• Para candidato a vice de Dilma Rousseff, Marina tem critérios ‘subjetivos’

- O Globo

SÃO PAULO - O vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), candidato à reeleição de Dilma Rousseff, afirmou que, em eventual vitória de Marina Silva (PSB), “a primeira ideia” é que o PMDB seja oposição.

— O que vai acontecer com o PDMB se eles (PSB) ganharem, a primeira ideia é que fique na oposição, porque (o PMDB) vai ter perdido a eleição — afirmou Temer durante sabatina, nesta sexta-feira, do jornal “O Estado de S.Paulo”.

O vice afirmou que o objetivo do partido é continuar no governo, e que isso não deve acontecer caso Marina vença as eleições.

— O que vai acontecer no futuro, eu não vou trabalhar com hipóteses, mas se essa hipótese se verificar (derrota), é claro que o PMDB será procurado (pelo novo governo). A não ser que seja a candidata Marina.

Temer também fez críticas ao PSB e a proposta de Marina de governar com pessoas e não com partidos.

— A candidata Marina parece que não vai utilizar partidos, vai utilizar pessoas. Ou seja, na subjetividade natural dela, ela vai escolher quem são os melhores, por critérios absolutamente subjetivos, e vai escolher pessoas e não partidos. Aí, talvez, nenhum partido participe do governo.

Temer também disse que o PMDB tem sido “fiador da governabilidade” no país e que é difícil governar sem o apoio de sua sigla.

— O PMDB tem sido fiador da governabilidade. Não houve fato enaltecedor da política brasileira que não tivesse a participação do PMDB. O PMDB é um fortíssimo partido congressual e as coisas se fazem com apoio do Congresso. Eu não sei dizer se o PMDB faria base para Marina, eu não sei dizer se ela chamaria partidos ou pessoas, num descrédito absoluto das instituições. O partido é o canal de comunicação entre o povo e poder público.

O vice-presidente também disse que é "impossível" para o PMDB não ter candidato próprio ao Palácio do Planalto em 2018.

Temer afirma que PMDB será oposição 'em primeiro momento' em caso de derrota

• Candidato a vice de Dilma Rousseff afirma que em 2018 partido terá candidatura própria ao Palácio do Planalto

Valmar Hupsel Filho, Mateus Coutinho e Carla Araújo - O Estado de S. Paulo

O vice-presidente Michel Temer (PMDB), candidato à reeleição na chapa da presidente Dilma Rousseff (PT), disse ontem que "a primeira ideia" da legenda seria ir para a oposição em caso de derrota nas eleições. O peemedebista, que reassumiu neste ano a presidência da sigla, lembrou que o PMDB é "o partido da governabilidade". "Não se governa sem o PMDB", afirmou Temer.

"Se essa hipótese (de derrota) se verificar, é claro que o PMDB será procurado (pelo novo governo)", disse o vice-presidente, ao participar da série Entrevistas Estadão. Essa situação só seria incerta, afirmou, se a vitoriosa for Marina Silva (PSB). "Penso que (o PMDB) será procurado, a não ser que seja a candidata Marina, porque, ao que parece, ela não vai utilizar os partidos, vai utilizar as pessoas", disse. "Aí talvez, nenhum partido participe do governo."

Para Temer, a "nova política" pregada por Marina é um "descrédito absoluto das instituições". "Quem não governa com os partidos, quem não governa com o Congresso Nacional, não consegue governar."

Na entrevista, Temer frisou que ele e a maior parte do PMDB trabalham pela reeleição da chapa da qual faz parte. Em discurso alinhado ao de Dilma, o vice-presidente defendeu a condução da economia, um dos principais temas de críticas ao atual governo. Temer elogiou a atuação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que Dilma confirmou em entrevista ao Estado, na segunda-feira, que não continuará no governo em caso de reeleição. "O que a equipe econômica fez deu certo", disse.

Temer também concordou com a ideia de "governo novo, equipe nova" anunciada por Dilma. "Mudanças serão necessárias, mas não em todos os ministérios", disse, esquivando-se de dizer onde deveriam ocorrer as alterações.

O vice-presidente criticou a proposta de Marina de dar autonomia formal do Banco Central. "É preciso ter um certo controle." Segundo Temer, as propagandas do PT, com fortes críticas a Marina, não são ataques pessoais à candidata, mas sim "embate" político.


Para o peemedebista, a autonomia formal do BC oferece o "risco de um determinado grupo da sociedade brasileira tomar conta daquele setor sem nenhum controle e pode prejudicar as políticas sociais". Temer defendeu a manutenção da fórmula adotada pelo governo, chamada de "independência operacional". "Sou a favor de manter a fórmula atual porque é uma independência operacional que tem dado resultado."

Petrobrás. Questionado sobre qual a responsabilidade do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão - que é do PMDB, foi citado na delação feita pelo ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa e nega irregularidades - sobre os recentes escândalos na estatal, Temer disse o titular da pasta não tem "controle geral" do setor.

"Formalmente ele é o responsável, mas na realidade ele não tem o controle geral", argumentou. Para Temer, a responsabilidade sobre os "problemas" na Petrobrás deve ser "compartilhada". "O partido enquanto instituição não tem nada a ver com a história."

Temer disse acreditar que o próximo Congresso terá de promover uma reforma política e deu apoio à proposta de Dilma de convocar um plebiscito para tanto.

O vice-presidente reiterou a defesa de candidatura própria à Presidência na próxima disputa. "Impossível a essa altura o PMDB não indicar candidato em 2018."

Aécio: PT perdeu oportunidade de fazer projeto renovador

Elizabeth Lopes – O Estado de S. Paulo

O candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, afirmou nesta sexta-feira, 12, em sabatina promovida pela Rede TV e portal IG, que já havia denunciado há muito tempo, antes da delação premiada do ex-diretor Paulo Roberto da Costa, as irregularidades na Petrobras. "Não dá mais para vir com essa ideia de que não sabiam de nada, o PT perdeu a oportunidade de realizar um projeto renovador para o País, apenas para realizar um projeto de poder."

Indagado sobre o chamado mensalão mineiro, o presidenciável tucano descartou qualquer semelhança com o escândalo federal e que levou para a prisão ex-dirigentes do PT. Mas, adiantou que se ficar comprovada alguma irregularidade, o PSDB não vai passar a mão na cabeça de ninguém.

Ainda sobre a Petrobras, Aécio disse que não estava fazendo julgamentos baseados apenas na delação premiada de Paulo Roberto. "Não estou acusando os nomes revelados pelo ex-diretor da estatal, mas o que a própria Polícia Federal apurou." E voltou a dizer não crer que Dilma tenha se beneficiado desse imbróglio, mas garantiu que ela ficou refém desse esquema do PT.

Ao falar da dianteira que a adversária do PSB, Marina Silva, está tendo nas recentes pesquisas de intenção de voto, Aécio voltou a falar na crença de que vai disputar o segundo turno porque sua candidatura é a que tem mais condições de fazer as reformas que o Brasil necessita. "Sou realista, claro que eu gostaria de estar em primeiro lugar nas pesquisas. Mas não vejo condições (de Marina administrar a nação), porque vamos enfrentar um momento difícil pela frente."

Na entrevista, o presidenciável tucano disse que não concorda com os ataques pessoais que a campanha do PT faz contra Marina. Mesmo assim, voltou a dizer que a socialista não tem condições de fazer as mudanças necessárias e nem vencer a presidente Dilma na corrida pela reeleição. "Quem tem condições de ganhar da Dilma somos nós (sua coligação)."

"Caras vazias" em ação

Entrevista. Em crise, o presidencialismo cede à personalização da política e ao declínio do debate público, adverte o filósofo italiano Michelangelo Bovero.

• "Não se extrai a substância da posição dos políticos 'caras vazias' sobre temas cruciais. Dilui-se a dicotomia esquerda e direita"

• "Tudo se move no campo da aparência. Fala-se aquilo que é cativante. É a transformação do debate político em marketing"

Jorge Felix – Valor Econômico - Eu & Fim de Semana

SÃO PAULO - Quando o Congresso Nacional debateu as regras para o último referendo ocorrido no Brasil, em 2005, sobre a proibição de venda de armas de fogo e munição, os parlamentares gastaram mais tempo discutindo a formulação da pergunta do que qualquer outra questão relativa àquela consulta popular. Não à toa. Um dos mais renomados filósofos políticos da atualidade, o italiano Michelangelo Bovero, discípulo e sucessor de Norberto Bobbio (1909-2004) na cátedra de filosofia política da Universidade de Berlim, lembra que quem detém o poder num plebiscito ou referendo não é quem vota, mas quem formula a pergunta. Esse é um dos motivos pelos quais ele condena a utilização de plebiscitos como remédio para fortalecer a democracia e solucionar a crise de representatividade política que vivem as sociedades contemporâneas. "O remédio é pior do que a doença. O plebiscito é uma inversão da democracia", diz ele nesta entrevista ao Valor, ao som de passarinhos, na casa onde se hospedou, em São Paulo.

O tom de Bovero, porém, destoa do ambiente idílico quando critica a usurpação do meio político pela esfera econômico-financeira, que, segundo ele, levou o sistema presidencialista, em todo o planeta, a uma crise aguda. A convite do Instituto Norberto Bobbio, Bovero fez palestras em quatro universidades na capital paulista. Em sua visão, o poder econômico reforça os males do presidencialismo ao enfraquecer o Poder Legislativo em benefício do fácil diálogo com o Poder Executivo e, para isso, alimenta a personalização da política, que passa a ser dominada pelos "caras vazias", responsáveis pelo esvaziamento do debate público. "O liderismo é a enfermidade terminal da democracia", sentencia.

Valor: A política tem sido vista, cada vez mais, como espaço aético. O senhor acredita que as pessoas estão dispostas a entrar nesse espaço?

Michelangelo Bovero: Isso não é um sentimento dos tempos recentes. Desde sempre, a maior parte do tempo vivido pelas pessoas é um tempo de desconfiança da política. Os indivíduos ou grupos que se apoderam dos mecanismos das decisões coletivas são considerados maus. "A política é uma coisa suja" é frase recorrente desde os tempos da crise da democracia ateniense, de Roma, dos tempos de Maquiavel e por aí vai. No entanto, são duas as faces da nobre arte da política: a face de sangue e a face de lama. Nós estamos afogados na lama.

Valor: Uma das características das manifestações sociais, como aqui no Brasil, foi a rapidez com que se formaram e se desfizeram, sem muita consequência em termos políticos. Por quê?

Bovero: Em primeiro lugar, é preciso destacar que há uma potencialidade concreta: a era digital. Ela oferece a potencialidade. Sobre isso, me ocorre fazer uma comparação entre o que dizia um grande personagem da revolução russa, opositor dos bolcheviques: "Com a violência se pode liberar o espaço, nada mais do que isso". Com a convocatória digital se pode organizar protestos, liberar o espaço, derrubar ditadores, mas não se organiza nada. Política, qualquer forma de política, no ambiente democrático, requer organização, discussão, segmentação, sujeitos coletivos. Os chamados partidos estão desgastados? Não gostam da palavra partido? Encontremos outra. O que importa são sujeitos coletivos, que tenham uma orientação e capacidade de enfrentar os problemas com uma linha analítica ideal. Isso não emerge da internet e das grandes convocatórias.

Valor: O senhor não vê problema no desmerecimento da denominação "partido"?

Bovero: O que é partido? Parte. Um pedaço de torta. Uma parte do todo. Tem que funcionar como partido. Pode chamar de outra coisa, é mera retórica. Vai funcionar como partido. Para qualquer processo decisório é necessário que existam partidos. Do contrário, sem partidos para articularem as questões importantes ao debate, como desigualdade social, direitos sociais, crise financeira, saúde, educação, vão surgir, vão ocupar espaços esses "caras vazias". O confronto entre eles se transforma em um "canto" para agradar a opinião pública, e não um debate político com consequências. Nas eleições isso se faz mais evidente. Mas no debate público, nos últimos 20 anos, a cara mais vazia consegue obter a atenção maior, acaba aparecendo mais, distorce o debate sobre o essencial. Emerge daí o governo dos piores e não dos melhores. Ou seja, em vez da aristocracia prevalece a "kakistocracia" [conceito do historiador grego Políbio, que Bovero desenvolveu em seu livro "Contra o Governo dos Piores", publicado em 2002 em português, pela Editora Campus].

Valor: Depois das manifestações, aqui no Brasil, e considerada a crise do presidencialismo de coalizão, aponta-se, sobretudo agora, na campanha eleitoral, um remédio: o plebiscito. Como vê esse tratamento para a crise da democracia representativa?

Bovero: O remédio é pior do que a doença. Medicina, em grego antigo, é fármacon. E o primeiro significado de fármacon é veneno. Há vários exemplos na história. O remédio para o presidencialismo é o hiperpresidencialismo à De Gaulle. Podemos acrescentar que o instituto próprio do referendo não é compatível, em si mesmo, com a democracia. Democracia quer dizer autodeterminação coletiva de indivíduos iguais em condição de poder e de participação nas decisões coletivas. O referendo ou o plebiscito, o que é? É uma pergunta sobre temas específicos. Se não é sobre temas específicos é um engano. Um plebiscito tem sentido, em primeiro lugar, quando se coloca uma alternativa clara entre o "sim" e o "não". Quais são exatamente os problemas que podemos reduzir a alternativas simples entre "sim" e "não"? Ademais, a democracia pressupõe a discussão pública - a discussão pública, não como propaganda, mas como elaboração mesma do problema. Quem tem o poder no plebiscito? Não é quem dá a resposta. É quem formula a pergunta. O plebiscito é uma inversão da democracia. A solução dos problemas só pode sair de uma discussão dentro de um órgão plural, no qual se pode concretamente debater. Não há debate entre 100 milhões de pessoas.

Valor: A questão também é o que se debate. Como vê a questão de o debate político ser tomado de temas como sexualidade, religião, aborto?

Bovero: Não quero dizer que estes não sejam temas importantes. Deixo bem claro isso. Mas se verifica uma troca de prioridade, o que vem antes e o que vem depois. Isso, porque não se discutem os problemas verdadeiros da sociedade, os substanciais. Por várias razões. Destaco duas. Uma, porque a própria política, nesses problemas, foi desautorizada pela oligarquia econômico-financeira global. Não há recursos; então, não podemos falar de benefícios. A política foi claramente desautorizada. Vivemos em tempos de "role of capital" [protagonismo do capital] e não de "role of law" [protagonismo do direito]. O "role of capital" destronou o "role of law". Outra razão é o caráter persuasivo e aparente, tudo se move no campo da aparência. A dialética política, sobretudo, mas não só, nos momentos eleitorais. Aquilo que é cativante, que é agradável, então se fala. É a transformação do debate político em marketing. Nesse quadro, emergem pessoas de certas aparências, de certos apelos populares. Os problemas verdadeiros não podem ser enfrentados por aqueles que são ou de direita ou de esquerda, igualitários ou anti-igualitários. E como não se trata desses temas, trata-se de outros. Entram em cena os que chamo de políticos "caras vazias" por trás dos quais não há nada. Não se extrai a substância da posição deles sobre os temas mais cruciais. Dilui-se a dicotomia esquerda e direita.

Valor: Há uma discussão sobre a funcionalidade da ciência política. De que modo a ciência política pode contribuir para enfrentarmos os desafios da democracia contemporânea?

Bovero: A ciência política, sobretudo americana, que é a dominante, se encontra hoje no papel de "conselheira do príncipe". Os filósofos, principalmente da escola à qual pertenço, a escola de Turim, a escola bobbiana, não são "conselheiros do príncipe" mas, sim, "críticos do príncipe". Nossa escola é de teoria política com a perspectiva de análise crítica para ajudar nas coisas concretas. Mas, se formos falar de uma função da teoria política, é, principalmente, a de educação para a cidadania. É a influência sobre a opinião pública. Por exemplo, eu gosto muito, profissionalmente falando, das causas perdidas. Uma delas é a crítica ao presidencialismo. Aos tipos de presidencialismo, incluindo o brasileiro.

Valor: Qual a capacidade da democracia presidencialista para resolver os problemas de crise financeira, de fronteiras, religiosos que se colocam para a humanidade?

Bovero: Qual democracia? Os regimes contemporâneos que estamos acostumados a chamar de democracia são todos, umas mais e outros menos, apenas democracias aparentes. Uma coisa é o problema do tipo de regime de governo, democracia ou não democracia. Os problemas que você coloca são problemas da política. Problemas do papel da política. Seja qual for a forma de governo. O que a política pode fazer para enfrentar os grandes problemas? São duas coisas distintas. Correndo o risco de uma certa simplificação, precisamos ver quais podem ser os cruzamentos, as conexões. A chamada crise financeira não é somente isso. É uma crise econômica e social de proporções gigantescas. O desemprego na Itália, na Espanha, na França e também na Alemanha é um problema social enorme. São efeitos da chamada crise. Isso convida o teórico analítico, o filósofo, a perguntar-se o que é essa crise. O que entendemos ser essa crise? É a quebra do Lehman Brothers? Talvez esse seja o ponto de partida. Mas é algo muito mais profundo. Em linhas gerais, pode-se dizer que o problema é a usurpação do poder político pelo poder econômico. O que pode fazer a política? Várias foram as classes políticas dos últimos 20 anos e todas se colocaram servas do poder econômico-financeiro global. A liberação dos movimentos do capital foi uma decisão política de quem era apontado como o mais progressista dos presidentes americanos, Bill Clinton. Estamos diante de algo que podemos conceituar como a desautorização da política por parte do establishment econômico-capitalista-financeiro.

Valor: Isso aconteceria, portanto, no presidencialismo ou no parlamentarismo...

Bovero: Sim. Antes, é preciso estabelecer as conexões. Essa situação é consequência do que chamo de meta-ideologia do nosso tempo, o neoliberalismo, que foi estabelecido pelo relatório da comissão multilateral de 1975 e, curiosamente, quando lemos um documento pequeno, de apenas oito páginas, publicado no ano passado por economistas-chefes de um grande banco americano, e comparamos, constatamos que a análise e as indicações terapêuticas são, em substância, as mesmas. Primeiro: a política, os dirigentes políticos estão orientados por esse receituário que vem desde 1975. Ele diz que os governantes não devem atender a todas as demandas dos cidadãos. As demandas sociais devem ser, segundo eles, filtradas, selecionadas. Caso contrário, a democracia vai quebrar porque é insustentável atender às demandas. Um segundo ponto: os direitos. Nosso mestre Norberto Bobbio, um otimista, escreveu em 1990, que nossa época é "a era dos direitos". E o que dizem os porta-vozes da meta-ideologia global? Os direitos, especialmente os direitos sociais, não são direitos, são apenas benefícios sociais que podem ser satisfeitos em certa medida, quando se tem recursos abundantes. Quando não temos, não se pode atender a esses benefícios. Aqui, vamos estabelecer as conexões. As próprias classes políticas, como eles dizem, devem ser postas em quarentena. Então, deve-se enfraquecer os órgãos da representação política, como os parlamentos. Os parlamentos, dizem, são um desastre, são veículos de demandas sociais das mais absurdas, que não se pode satisfazer porque não há recursos. De acordo com essa concepção, deve-se fortalecer os poderes de vértice: o Executivo ou as lideranças. O liderismo é a enfermidade terminal da democracia.

Valor: Isso estimula a personalização da política?

Bovero: Exato. A personalização da política tem uma face institucional que se chama presidencialismo.

Valor: Se o plebiscito é um remédio pior do que a doença, quais seriam os melhores remédios para o presidencialismo?

Bovero: Se eu soubesse, seria presidente do mundo [risos]. O que pode dizer um teórico da democracia? Os movimentos de protesto devem ocupar o lugar de não movimentos de decepção. O sentimento de falta de atenção deve ser canalizado para formas de reconquista da cena pública. Isso é muito difícil e, muitas vezes, enganoso. A chamada Primavera Árabe, por exemplo. Sabemos como foi. Engano dentro do engano. A democracia digital tem produzido "caras vazias". Elas emergem dentro desse contexto. A democracia pode ser o único remédio para a crise da própria democracia.

Valor: Há duas correntes entre os pensadores políticos: uma, que detecta uma crise de poder, que é difícil exercer o poder, e outra, em que a questão é que o poder está muito concentrado em determinado segmento, por exemplo, o financeiro. O que o senhor pode dizer a esse respeito?

Bovero: Qual poder? O conceito de poder mais básico é de Thomas Hobbes. O poder são os meios de que uma pessoa ou grupo pode dispor. São três os grandes poderes: o econômico, o que Bobbio chamava de ideológico, que tem controle sobre as consciências - antigamente, as igrejas, hoje os meios de comunicação, ampliado para abranger aqueles que controlam o enorme mundo da internet - e o poder político, a lei ou as normas. Qual poder pesa mais hoje? O econômico, porque as classes políticas que se formaram durante os anos que chamo de "os 40 não gloriosos" [parodiando a denominação "os 30 gloriosos" de Jean Forastié, amplamente aceita pela literatura econômica, para definir o intervalo entre 1945 e 1975, quando o mundo viveu seu período mais longo de crescimento], de 1975 até agora, se transformaram em servos dos grandes poderes econômicos. Como falei, aceitaram a desautorização do poder político. Além da questão de como se organiza o poder político, as formas de articulação do poder político empurram para mais liderismo, personalização e crescimento dos poderes executivos. De um lado, esses executivos deixaram de ser aqueles que executam frente ao parlamento e outras formas da representação coletiva. Por outro lado, só esses executivos executam mais facilmente os mandos funcionais do poder econômico.

Valor: E assim chegamos a uma crise de representação.

Bovero: Sim. Isso conduz a um distanciamento das pessoas, que não se reconhecem em seus representantes. Esse distanciamento, essa decepção generalizada, levou o grau de confiança nas classes políticas a ser um dos mais baixos, em todo o mundo, em todas as épocas. Outro aspecto complementar é a corrosão da qualidade dos representantes. Isso, em geral, é favorecido pelos processos que alimentam o liderismo, enfraquecem os legislativos e dificultam o debate público entre opiniões distintas.

Valor: Entre tantas lições e a imensa herança intelectual de Norberto Bobbio, qual ponto destacaria que pode mais nos ajudar a enfrentar os desafios da democracia?

Bovero: É realmente uma imensa obra e difícil de encontrar apenas um ponto entre tantas coisas brilhantes que ele escreveu. Mas é o que Bobbio chamava das "promessas não cumpridas" da democracia. Uma delas, principalmente, a falta da educação política para a cidadania. A construção do indivíduo enquanto cidadão. Acrescento a isso o termo analfabetismo político. O que fazemos, nós, os professores, os formadores de opinião, os intelectuais para alfabetizar essas pessoas? É a pergunta.

Merval Pereira: Convicções

- O Globo

Embora os ativistas da campanha de Dilma tenham querido transformar os números da pesquisa Ibope divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria em uma demonstração de que Marina está sendo deixada para trás na corrida presidencial, eles são semelhantes aos números prévios de pesquisa do Banco Central que mostrou crescimento mais forte do PIB em julho: a tendência não é o PIB se recuperar no 2º semestre, assim como a disputa presidencial está no mesmo ponto em que começou a semana, com empate técnico das duas candidatas, embora a tendência seja favorável a Dilma neste momento da campanha.

Isso porque a pesquisa do Ibope foi realizada antes da do Datafolha, divulgada um dia antes, que dava Dilma com 36% e Marina com 33%. Os números do Ibope variam na margem de erro em relação à sua pesquisa anterior, registrando tendência de alta de Dilma, mas nada que tire a competitividade de Marina.

É bom registrar, por verdadeiro, que não partiu da presidente Dilma a comemoração dos resultados, ao contrário. Ela recebeu com frieza a informação sobre a nova pesquisa Ibope durante nossa entrevista no Palácio da Alvorada e não moveu um músculo. "Eu não me empolgo com pesquisas, mas também não me abato" disse a presidente — que se mostrou, durante todo o debate com os colunistas do GLOBO, de muito bom humor, a ponto de ter feito uma brincadeira conosco quando teve que repetir um comentário porque houve uma falha no sistema de som: "Quer dizer que houve um apagão no GLOBO" disse ela rindo, pois havia sido questionada sobre os problemas da política energética de seu governo.

Muito convicta de suas razões, conseguiu driblar todas as perguntas relacionadas ao PT e ao seu governo, sobretudo nas negociações com os partidos da base aliada, parte mais frágil do seu governo do ponto de vista institucional. É a prática da velha política, o debate que vai pautar o segundo turno.

Ela não conseguiu explicar, por exemplo, a impossibilidade prática de governar-se apenas "com os bons" quase que admitindo que, para garantir a governabilidade, é preciso aceitar certos desvios. Fez uma defesa dos partidos políticos, mas não criticou o toma-lá-dá-cá que os desmoraliza, aproveitando para criticar Marina indiretamente, quando disse que quem chega ao governo sem disposição de negociar está no mau caminho: "Eu não acho que a democracia possa prescindir de partidos. Toda vez que isso aconteceu, nós caímos na mais negra ditadura. Ou tem alguém muito poderoso por trás disso"

A questão da corrupção incomoda a presidente Dilma, embora ela esteja sempre disposta a afirmar que o que aumentou em seu governo foi o combate a ela. Mas quando se refere à Petrobras, fonte de inúmeras denúncias de corrupção nos últimos anos, ela procura banalizar o ocorrido, afirmando que "há corrupção em todas as empresas, públicas ou privadas. A Petrobras tem órgãos internos e externos de controle"

Sobre o fato de que durante vários anos o ex-diretor Paulo Roberto Costa comandou um esquema de negociatas sem ser descoberto, Dilma tergiversa, alegando que a Polícia Federal foi que descobriu, como se a descoberta se devesse a uma atuação de seu governo, e não de um órgão do Estado brasileiro, acima dos governos.

Ela não disse ontem, mas o espírito é o mesmo de quando disse que seu "telhado de vidro" estava protegido pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, quando essas instituições pertencem ao Estado brasileiro, e não ao seu governo.

Ao dizer que demitiu Paulo Roberto Costa por não ter nenhuma afinidade com ele, a presidente procurou dar à demissão um caráter rotineiro, como se a nomeação ou a demissão de uma empresa como a Petrobras dependesse da empatia entre os comandantes da empresa e seus dirigentes, e não da competência e da probidade da atuação.

Os argumentos da presidente Dilma são falhos na maior parte das vezes, e seu governo é uma prova viva dessa fragilidade, mas ela tem disposição de defendê-los. A tal ponto que reluta em anunciar mudanças num eventual segundo mandato. Caberá provavelmente a Marina Silva a tarefa de desconstruí-los no debate que travarão de igual para igual no segundo turno.

Fernando Rodrigues:O horário eleitoral é bom

- Folha de S. Paulo

O Brasil tem eleições a cada dois anos e nunca falha: basta começar a propaganda em rádio e TV para que se forme um senso comum contra o horário eleitoral.

Muitos defendem acabar com os comerciais eleitorais neste período. Acho um erro pensar assim. Até porque o problema desse sistema é mais o conteúdo e menos o modelo.

É claro que os comercias dos candidatos, em geral, são um lixo. Informam sobre quase nada. Os políticos se atacam mutuamente. Quem disputa a reeleição mostra na TV um mundo onírico. O céu é mais azul e os pobres estão sempre felizes.

Mas acabar com o horário eleitoral não resolveria o problema. Numa democracia, os políticos têm de se comunicar com seus eleitores.

Abrem-se então duas possibilidades. Manter o horário sendo pago com dinheiro público (as emissoras hoje são compensadas em grande parte pelo espaço cedido) ou criar um sistema no qual o candidato comprar seu tempo no rádio ou na TV.

Nos EUA, os políticos pagam para ir à TV. É mais caro para a sociedade. O abuso do poder econômico impera.

No Brasil, o tempo é dividido por meio de uma fórmula com base no tamanho da bancada de cada partido na Câmara. Aí está a anomalia na qual prosperam os políticos do aerotrem. Basta um deputado para ir à TV e ter seus candidatos convidados obrigatoriamente para debates. É um desserviço à democracia.

O horário eleitoral é bom na sua concepção, pois democratiza o acesso à TV. Só fica ruim porque trata desiguais como iguais e não estimula o debate. Nanicos teriam de ter uma exposição de fato mínima. Os principais candidatos teriam de debater ao vivo, de maneira regular.

Seria educativo assistir a confrontos apenas entre Dilma Rousseff e Marina Silva (e, vá lá, Aécio Neves), sem a intromissão dos sem voto. É curioso, embora compreensível, que ninguém ouse defender essa proposta em nenhuma campanha.

Zuenir Ventura: A política de bom humor

• Lucia Hippolito e Maria Celina D’Araujo concordam que Marina foi a única a canalizar a insatisfação de junho de 2013. Por isso, leva essa ‘surra da propaganda petista’

- O Globo

Mais de dois anos depois que a síndrome Guillain-Barré provocou a paralisia de seus músculos, permitindo que mexesse apenas os olhos e a cabeça, a cientista política, historiadora e jornalista Lucia Hippolito fez sua rentrée anteontem na Casa do Saber, “feliz que nem pinto no lixo” por ter recobrado a fala e quase todos os movimentos (ainda usa a cadeira de rodas para se locomover) e por aquele encontro em que, junto com a colega Maria Celina D’Araújo, discorreu sobre a campanha eleitoral. Não faltou o bom humor que a acompanhou inclusive nos 47 dias durante os quais esteve imobilizada em uma cama de hospital em Paris.

Por várias vezes, a plateia gargalhou. Sem a retórica e a hipocrisia dos discursos de campanha, as duas ofereceram um espetáculo onde, com franqueza e muita graça, desmistificaram os lugares-comuns e as ideias feitas com que os candidatos procuram angariar votos. Se a propaganda usasse na TV os mesmos recursos, a política obteria mais Ibope.

O formato foi o de uma conversa, na qual convergiram mais do que achavam que iriam divergir, a começar pela “perplexidade” diante de um quadro ainda indefinido e que pode mudar a cada dia. Em matéria de adivinhação, elas, como cientistas políticas, preferiam ficar “em cima do muro”, até porque há o acaso ou, como disse Celina sem medo de ser politicamente incorreta, “tem os aviões que caem”. Só para ser mais irreverente nas suas análises é que Lucia confessou brincando ser também jornalista. A sério, ressaltou a semelhança dos três principais candidatos, que teriam um mesmo “núcleo duro” de propostas: crescimento econômico, inflação sob controle e necessidade de programas sociais. Constatou também que há uma “fadiga do eleitorado com o PT”, provocando risos ao dizer que “quem precisa de gerente é supermercado”.

As duas concordam que Marina foi a única a canalizar a insatisfação da jornada de junho de 2013. Por isso, leva essa “surra da propaganda petista”. Mas Lucia acha que a candidata do PSB não é amadora: “O ar de Madre Teresa de Calcutá não tem nada a ver com ela.” O problema seriam as contradições que carrega e o “romantismo” de acreditar que pode governar sem os partidos — sem o PMDB, por exemplo.

Fizeram então uma análise da real importância da “noiva mais cortejada, um partido que, quando perde, a primeira coisa que faz é aderir”. Quanto ao mau desempenho de Aécio nas pesquisas, atribuíram-no ao que todo mundo já percebeu: ele só passou a fazer oposição agora. Nas duas horas em que dialogaram entre si e com o público, Lucia e Maria Celina falaram muito mais do que cabe aqui e, apesar das críticas ao governo, não manifestaram visão maniqueísta ou catastrófica.

Ao contrário, são otimistas, acreditam que o país avançou nos últimos 20 anos.

Cláudio Couto: Por que Dilma se levanta

- O Estado de S. Paulo

Se voltarmos no tempo alguns meses e observarmos o horizonte do segundo semestre do ano passado e da primeira metade deste, veremos que era possível afirmar plausivelmente que teríamos em 2014 as eleições presidenciais mais disputadas desde 1989. As razões para isto eram, por um lado, a avaliação declinante do governo e o anseio difuso por mudança; por outro, o fato de que, mesmo com a piora de sua avaliação, o governo ainda mantinha fiel uma parcela significativa de aproximadamente um terço do eleitorado, que lhe avaliava como ótimo ou bom.

Diante desse cenário, a incógnita residia na capacidade da oposição de apresentar-se aos cidadãos como uma alternativa palatável. Mantido o padrão que marcara as disputas presidenciais desde 1994, novamente PT e PSDB deveriam polarizar a contenda, com eventuais desafiantes apenas coadjuvando. Tal configuração parecia propícia diante da condição estacionária de Eduardo Campos, que perdia até mesmo para indecisos e para os que pretendiam abster-se - anulando ou votando em branco.

Decerto tal situação poderia mudar com o começo da campanha no rádio e na TV, como sempre ocorre. Contudo, a situação de Campos não era das mais fáceis, tendo ele um partido regionalmente restrito e pouco tempo de propaganda, comparado aos adversários. Portanto, era de se esperar um crescimento maior de Aécio \, impulsionado pela contraposição tradicional ao PT, pela maior implantação nacional de seu partido e pelo maior tempo de propaganda. Foi aí que se deu o inesperado.

A trágica morte do candidato do PSB catapultou às alturas sua substituta, Marina Silva. Num primeiro momento, Dilma perdeu mais votos, porém Aécio perdeu o lugar. Comparadas as pesquisas do Ibope de 21 de julho (ainda com Campos) e 26 de agosto, a presidente perdeu 10 pontos entre os eleitores mais pobres (até 1 salário mínimo), setor no qual Aécio ficou estável. No setor imediatamente acima, Dilma perdeu 4 pontos, contra 2 de Aécio. Esses dois segmentos são os mais numerosos do eleitorado. As perdas de ambos se equivaleram no contingente de 2 a 5 salários mínimos, e Aécio perdeu mais que Dilma no eleitorado mais rico - 5 pontos contra 3. Marina, além de abocanhar os votos perdidos por seus adversários em todos esses setores, também arrebanhou o grosso dos que até pouco antes pretendiam se abster ou não sabiam em quem votar - reduzidos de 25% para 15%.

Nas pesquisas subsequentes parecia inevitável a disparada de Marina, suplantando com facilidade a presidente, principalmente no segundo turno. Porém, a partir daí o jogo começou a virar. Novamente evidenciou-se a importância do horário eleitoral gratuito. A avaliação do governo começou a melhorar e, com ela, as intenções de voto na presidente. Juntaram-se a isso a propaganda negativa contra Marina e os próprios tropeços da candidata, que aumentaram as dúvidas a seu respeito e transmitiram uma imagem de inconsistência. Os recuos no plano de governo e as ambivalências de suas políticas brecaram sua ascensão. Mais do que apenas entender com clareza o significado de cada opção de política pública, o eleitorado busca algumas certezas quanto aos rumos a serem seguidos. Na falta delas, desconfia e procura um porto mais seguro - como o governo do dia.

Esse porto poderia ser também o da oposição estabelecida. Mas o estrago na candidatura Aécio foi tamanho que dificilmente haverá tempo para recuperação - exceto no caso de mais algum evento imprevisto de grandes proporções. Da forma como se deu, a entrada de Marina na campanha desorganizou as referências eleitorais estabelecidas até então, imolando o PSDB. Mesmo que fosse outro o candidato tucano, dificilmente teria destino melhor. Caso Marina se mostre mesmo inconsistente, pode propiciar a Dilma uma disputa mais fácil do que a que ela teria com um oponente mais sólido. E isso, depois de tê-lo volatizado.