O Estado de S. Paulo
O poderoso tirânico cerca-se de cópias de
si mesmo, incompetentes, ignorantes, vulgares
Seja no Estado, no mercado ou na sociedade
civil, o poder arrebata. Não há quem escape de seu fascínio. Ele oferece
vantagens e recompensas, mesmo que também traga sacrifício e sobrecarga.
São as recompensas que seduzem. Ver-se
obedecido, admirado e elogiado faz brilhar os olhos de muita gente. É o que
leva a que se cometam excessos e estripulias, cresçam as ilusões e os
autoenganos. O poderoso nunca está sozinho. Seu círculo mais próximo é fonte
permanente de intrigas, inveja e cobiça, o que provoca atritos e colisões. O
poder não pode tudo. Numa democracia, tem de se haver com o povo livre, a
sociedade civil, o sistema de controles, os demais poderes.
O poder fascina anjos e demônios, pessoas com vocação para o bem público e pessoas mesquinhas, agarradas aos próprios interesses. Quando um anjo se deixa seduzir pelo poder, ele perde integridade e pujança reformadora. Seus planos e projetos deixam de ser factíveis e se tornam dependentes de acordos espúrios, batendo às portas da corrupção. Quando um demônio chega ao poder, ele se realiza como excrescência perversa. Exala maldade por todos os poros e trafega pelos becos escuros da sociedade, onde vicejam a boçalidade, a ignorância, a violência, o desregramento. Alia-se a quadrilhas e redes corruptas, na ilusão de conseguir com elas uma base sólida de apoio e financiamento. Apela para manobras populistas para chegar ao povo, mas o seu é um populismo regressista, malévolo, mais nefasto que qualquer outro.