domingo, 11 de setembro de 2011

Opinião do dia – Salvador Allende: último discurso (11/9/1973)

"Seguramente, esta será a última oportunidade em que poderei dirigir-me a vocês. A Força Aérea bombardeou as antenas da Rádio Magallanes. Minhas palavras não têm amargura, mas decepção. Que sejam elas um castigo moral para quem traiu seu juramento: soldados do Chile, comandantes-em-chefe titulares, o almirante Merino, que se autodesignou comandante da Armada, e o senhor Mendoza, general rastejante que ainda ontem manifestara sua fidelidade e lealdade ao Governo, e que também se autodenominou diretor geral dos carabineros.

Diante destes fatos só me cabe dizer aos trabalhadores: Não vou renunciar! Colocado numa encruzilhada histórica, pagarei com minha vida a lealdade ao povo. E lhes digo que tenho a certeza de que a semente que entregamos à consciência digna de milhares e milhares de chilenos, não poderá ser ceifada definitivamente. [Eles] têm a força, poderão nos avassalar, mas não se detém os processos sociais nem com o crime nem com a força. A história é nossa e a fazem os povos.

Trabalhadores de minha Pátria: quero agradecer-lhes a lealdade que sempre tiveram, a confiança que depositaram em um homem que foi apenas intérprete de grandes anseios de justiça, que empenhou sua palavra em que respeitaria a Constituição e a lei, e assim o fez.

Neste momento definitivo, o último em que eu poderei dirigir-me a vocês, quero que aproveitem a lição: o capital estrangeiro, o imperialismo, unidos à reação criaram o clima para que as Forças Armadas rompessem sua tradição, que lhes ensinara o general Schneider e reafirmara o comandante Araya, vítimas do mesmo setor social que hoje estará esperando com as mãos livres, reconquistar o poder para seguir defendendo seus lucros e seus privilégios.

Dirijo-me a vocês, sobretudo à mulher simples de nossa terra, à camponesa que nos acreditou, à mãe que soube de nossa preocupação com as crianças. Dirijo-me aos profissionais da Pátria, aos profissionais patriotas que continuaram trabalhando contra a sedição auspiciada pelas associações profissionais, associações classistas que também defenderam os lucros de uma sociedade capitalista. Dirijo-me à juventude, àqueles que cantaram e deram sua alegria e seu espírito de luta.

Dirijo-me ao homem do Chile, ao operário, ao camponês, ao intelectual, àqueles que serão perseguidos, porque em nosso país o fascismo está há tempos presente; nos atentados terroristas, explodindo as pontes, cortando as vias férreas, destruindo os oleodutos e os gasodutos, frente ao silêncio daqueles que tinham a obrigação de agir. Estavam comprometidos. A historia os julgará.

Seguramente a Rádio Magallanes será calada e o metal tranqüilo de minha voz não chegará mais a vocês. Não importa. Vocês continuarão a ouvi-la. Sempre estarei junto a vocês. Pelo menos minha lembrança será a de um homem digno que foi leal à Pátria. O povo deve defender-se, mas não se sacrificar. O povo não deve se deixar arrasar nem tranqüilizar, mas tampouco pode humilhar-se.

Trabalhadores de minha Pátria, tenho fé no Chile e seu destino. Superarão outros homens este momento cinzento e amargo em que a traição pretende impor-se. Saibam que, antes do que se pensa, de novo se abrirão as grandes alamedas por onde passará o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

Viva o Chile! Viva o povo! Viva os trabalhadores! Estas são minhas últimas palavras e tenho a certeza de que meu sacrifício não será em vão. Tenho a certeza de que, pelo menos, será uma lição moral que castigará a perfídia, a covardia e a traição."

Salvador Allende, ex-presidente do Chile. O último discurso no dia do golpe de Estado (11/9/1973) que implantou a sanguinária ditadura militar comandada pelo general Pinochet.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Rio passa São Paulo e já atrai mais investimentos
Lei Seca abordou 415 mil e condenou 6

FOLHA DE S. PAULO
Ministério Público teme explosão de gastos com a Copa
Cheias atingem Itajaí (SC) e moradores temem saques
ONG quer parto anônimo para evitar abandono
Ricos do mundo pedem mais impostos para atenuar crise

O ESTADO DE S. PAULO
Indústria brasileira está sem crescer há três anos
Chuva diminui e SC começa reconstrução
PSD de Kassab é governo em 18 Estados
Crack: Rio interna 85 meninos viciados

CORREIO BRAZILIENSE
Álcool seduz jovens e até crianças no DF
Prepare a vela e a paciência. Lá vem o apagão

ESTADO DE MINAS
Sofrimento sem fim
Senadores rejeitam a nova CPMF

ZERO HORA (RS)
A profecia se confirmou: os EUA mudaram – para pior

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
11 nordestinos 10 anos depois

Reforma política continua longe de se concretizar

Líderes descartam votação de qualquer mudança este ano

Isabel Braga

BRASÍLIA. O novo governo propagou a ideia e os parlamentares chegaram para a posse dos seus mandatos, em fevereiro, reafirmando promessas de enfrentar o debate da reforma política, mas caminha para o fracasso mais uma tentativa de serem aprovadas no Congresso Nacional mudanças no sistema político-eleitoral brasileiro. No Senado, alguns projetos foram aprovados em comissões, mas, dificilmente, serão votados em plenário até o fim do ano. Na Câmara, a comissão especial discute propostas alternativas de mudança no sistema de eleição dos deputados e vereadores, com votação marcada para 21 de setembro. Mas os próprios líderes descartam a votação em plenário de qualquer reforma política ainda este ano.

- Está longe o entendimento, a reforma só vai amadurecer em plenário, mas temos que cumprir a etapa da comissão para votarmos em 2012 - afirmou o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN). - Só vai valer (se aprovada) para 2014.

O líder tucano, Duarte Nogueira (SP), também reconhece as dificuldades:

- Cada um dos 513 deputados tem a reforma política dos sonhos. É muito difícil aprovar, mas o PSDB vai insistir.

"Ninguém quer mudar porque teme ser prejudicado"

Especialistas afirmam que o principal obstáculo para a votação da reforma é o fato de ela afetar os interesses dos que estão hoje no sistema político. E, como os temas em debate - o voto em lista ou mesmo um sistema híbrido, como propõe o relator na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS), e o financiamento público das campanhas eleitorais - são de difícil compreensão, a pressão da sociedade não se materializa.

- A reforma política sempre esbarra no fato de que ninguém quer mudar porque teme ser prejudicado - afirma o cientista político Murillo de Aragão, presidente da Arko Advice.

Deputados avaliam que a proposta alternativa de reforma, de Fontana, enfrentará grande resistência. A proposta do sistema político-eleitoral híbrido para a eleição de deputados e vereadores não conquistou apoio de PMDB, PSDB e DEM.

Ao defender o fim das coligações partidárias nas eleições proporcionais, o petista comprou briga com os partidos menores de esquerda. E as legendas que sempre se posicionaram contra a reforma política (PTB, PR e parte do PP) também não devem apoiar o texto.

O líder do DEM na Câmara, ACM Neto (BA), dá a receita para vencer a barreira e aprovar a reforma política na Casa:

- A única maneira de aprovar uma reforma política é postergando a validade dela para daqui a duas, três eleições, afastando os casuísmos e permitindo a aculturação da sociedade com o novo sistema.

FONTE: O GLOBO

PSD de Kassab é governo em 18 Estados

PSD de Kassab nasce para exercitar vocação governista em 18 dos 27 Estados

Luciana Nunes Leal e Bruno Boghossian

RIO - Além de partido "colaborador, mas independente" em relação à presidente Dilma Rousseff, o PSD nasce aliado de 18 dos 27 governadores e, na maior parte dos casos, ainda tende a segui-los nas eleições das capitais. O arco de alianças não tem preconceitos: vai do PT ao DEM, passando por PSB, PSDB e PMDB. A legenda criada pelo prefeito paulistano Gilberto Kassab será "independente" em cinco Estados, inclusive São Paulo, e no Distrito Federal. Estará na oposição em apenas três.

Com dois governadores - Raimundo Colombo, de Santa Catarina, e Omar Aziz, do Amazonas -, cinco vice-governadores, 49 deputados federais e dois senadores, o novo partido não vê motivos para vetos na escolha dos parceiros. "Não tivemos dificuldades de nos aliar às pessoas que facilitaram nossa formação. E não saímos por aí arrumando inimigos", diz o futuro secretário-geral do PSD, Saulo Queiroz, ex-tesoureiro do DEM.

Entre os 18 governadores aliados, há um grupo de parceiros - patronos, até - que tiveram participação direta na estruturação do PSD nos Estados. Cederam aliados e, em contrapartida, fortaleceram suas bases.

Estão nesse grupo a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB); o tucano Simão Jatene, do Pará; os petistas Jaques Wagner, da Bahia, e Marcelo Déda, de Sergipe; e o presidente nacional do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos.

Outro socialista, o cearense Cid Gomes, também apoiou a formação do PSD, coordenado no Estado por um de seus principais auxiliares, o gestor de gabinete do governo, Almircy Pinto.

Nas eleições de 2012 em Fortaleza, o PSD vai seguir a orientação de Cid Gomes. O mais provável é que o governador cearense mantenha o apoio ao PT da prefeita Luizianne Lins. Outra opção, se forem agravadas as divergências internas dos petistas, seria o lançamento de um candidato do PSB.

A situação se repete na sucessão de Recife. Eduardo Campos deverá manter a aliança com o PT, mas ainda há muita dúvida sobre a candidatura à reeleição do prefeito petista João da Costa. De qualquer maneira, o PSD será fiel à orientação do governador pernambucano.

Campos aproximou-se de Kassab desde o início de sua empreitada pelo novo partido, quando ainda se especulava sobre uma possível fusão do PSD com o PSB, mais tarde descartada. Além de decisivo na formação do novo partido em Pernambuco, o governador ajudou na aproximação do PSD com aliados de vários Estados e com a própria presidente Dilma Rousseff. "Não que o partido vá para a base do governo amanhã, mas vai ajudar a presidente Dilma nos momentos em que ela mais precisar. Essa é a disposição que ouço dos dirigentes do PSD: estar com a presidente quando ela tiver necessidade de apoio político no Congresso", diz Eduardo Campos.

Rio. Para as eleições de 2012, uma das primeiras alianças anunciadas pelo PSD foi no Rio, pela reeleição do prefeito Eduardo Paes (PMDB).

Coordenados pelo ex-deputado Indio da Costa, candidato a vice-presidente na chapa do tucano José Serra em 2010, os pessedistas já se anteciparam também no apoio ao candidato do governador Sérgio Cabral (PMDB) em 2014, provavelmente o vice Luiz Fernando Pezão. Cabral é outro governador parceiro do PSD: ajudou na formação do partido na capital e em vários municípios do interior e liberou aliados para o ingresso na nova legenda.

Em outro grupo, estão os governadores que, nas palavras dos futuros dirigentes do PSD "não ajudaram, mas também não atrapalharam" a estruturação do partido. Nesse rol são citados os tucanos Antonio Anastasia, de Minas Gerais, e Beto Richa, do Paraná. O PSD é aliado dos dois governadores e deverá estar ao lado deles nas eleições municipais das capitais - nos dois casos, em apoio a prefeitos do PSB: Márcio Lacerda em Belo Horizonte e Luciano Ducci em Curitiba.

"Não é só o PSD que tem, nos Estados, alianças diferentes do plano nacional. As realidades locais são muito próprias", argumenta o vice-governador da Paraíba, Rômulo Gouveia, que migrou do PSDB para o PSD, com a aprovação do governador Ricardo Coutinho (PSB).

"O PSD nasce eclético e novo na forma de fazer política", define outro vice-governador, Robinson Faria, do Rio Grande do Norte, ex-PMN.

Saia justa. A criação do PSD no Estado criou constrangimento para a governadora Rosalba Ciarlini, filiada ao DEM e aliada do presidente nacional do partido, senador José Agripino (RN), que chegou a ingressar com ação judicial contra a nova legenda. Rosalba optou por manter distância da formação do PSD em seu Estado, mas não criou barreiras.

"A governadora me deu liberdade para formar o partido. Não foi protagonista, mas não se opôs. E agora ampliaremos a base da governadora", explica Faria. De acordo com o vice, é Rosalba quem vai conduzir as negociações para as eleições municipais no Estado.

Horizontes

RÔMULO GOUVEIA (VICE-GOVERNADOR DA PARAÍBA)
"Não é só o PSD que tem, nos Estados, alianças diferentes do plano nacional. As realidades locais são muito próprias"

ROBINSON FARIA (VICE-GOVERNADOR DO RN)
"O PSD nasce eclético e novo na forma de fazer política"

EDUARDO CAMPOS (PRESIDENTE DO PSB)
"Não que o partido vá para a base do governo amanhã, mas vai ajudar a presidente Dilma nos momentos em que ela mais precisar. Essa é a disposição que ouço dos dirigentes do PSD"

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Legenda já detém postos dentro da máquina de Estados

Luciana Nunes Leal e Bruno Boghossian

RIO - Em parte dos Estados, o PSD já nasce ocupando espaço nos gabinetes de governo. O partido criado pelo prefeito Gilberto Kassab tem, em Goiás, três secretários do governador Marconi Perillo (PSDB) - inclusive o da Casa Civil. No Maranhão, os titulares de três pastas do secretariado da governadora Roseana Sarney (PMDB) prometem se filiar ao PSD.

Em São Paulo, contudo, as pretensões eleitorais em 2014 afastam o PSD do governador do Estado. Isso ocorre porque Kassab pretende enfrentar Geraldo Alckmin (PSDB) na disputa pelo comando do Palácio dos Bandeirantes ao fim do primeiro mandato do tucano, daqui a três anos.

Por enquanto, o novo partido deve se manter neutro em relação ao governo do Estado. Alckmin, no entanto, já antecipou um lance no xadrez político: tirou do vice-governador Guilherme Afif Domingos a Secretaria de Desenvolvimento Econômico depois que ele anunciou a troca do DEM pelo PSD.

Caminhos opostos levaram o PSD à oposição em Mato Grosso do Sul e no Acre. No primeiro caso, os pessedistas se aproximaram do PT, adversário do governador André Puccinelli (PMDB). Presidente do PSD no Estado, o empresário da comunicação Antônio João Hugo Rodrigues ocupou o posto de suplente do senador Delcídio Amaral (PT-MS).

No Acre, o PSD foi montado pelo senador Sérgio Petecão (ex-PMN), que é adversário do governador Tião Viana (PT). No Rio Grande do Sul, o novo partido também estará na oposição ao governador Tarso Genro (PT). No entanto, não conseguiu levar para suas fileiras nenhum nome de peso nem do DEM, nem do PMDB, tradicionais adversários do petista no Estado.

À espera do registro

A vice-procuradora eleitoral, Sandra Cureau, terá mais 10 dias de prazo para dar parecer sobre a legalidade do processo de criação do PSD. A decisão foi tomada pela ministra Nancy Andrighi, do TSE, ao negar pedido para conversão do processo em diligência.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Repasse de verbas beneficia reduto eleitoral de ministro

Prefeituras do PP, partido de Negromonte, têm maior parte dos convênios. Programa destinado a redução de acidentes de trânsito financia obras em cidades sem histórico de acidentes

Breno Costa

BRASÍLIA - Dinheiro reservado pelo Ministério das Cidades para projetos que reduzam acidentes de trânsito foi usado para financiar obras em cidades sem histórico de problemas sérios nessa área, mas que são redutos eleitorais do ministro Mário Negromonte.

O ministério já liberou neste ano R$ 16 milhões para essa finalidade, beneficiando 102 prefeituras. O partido de Negromonte, o PP, administra 43 desses municípios. O PMDB, que aparece em segundo lugar na lista de beneficiários, conseguiu recursos para apenas 23 prefeituras.

O orçamento do ministério prevê que os recursos reservados para "fomento a projetos destinados à redução de acidentes no trânsito" sejam repassados para que as prefeituras promovam campanhas educativas e melhorias das "condições viárias".

Mas o ministério vem usando o dinheiro para firmar convênios com prefeituras e financiar obras exclusivamente, incluindo pavimentação de ruas, construção e reforma de ciclovias e calçadões.

Das 102 prefeituras beneficiadas pelo ministério, apenas seis aparecem entre os 150 municípios apontados num estudo recente da Confederação Nacional dos Municípios como os que apresentam índices de mortes no trânsito mais preocupantes.

Um exemplo é Glória, cidade baiana que fica a 404 km de Salvador e é administrada pela mulher do ministro, Ena Vilma Negromonte. Apenas sete pessoas morreram em acidentes de trânsito em Glória entre 2001 e 2009, segundo o Ministério da Saúde.

A prefeitura, que foi a segunda maior beneficiada pelo programa, recebeu R$ 975 mil para construir uma ciclovia e uma pista de cooper. Entre os beneficiários, Glória ficou atrás apenas de Manaus, única capital na lista.

Outros sete municípios baianos receberam dinheiro do ministério. Em três deles, Negromonte foi o deputado federal mais votado nas eleições de 2010. Em outras duas, o campeão de votos foi seu filho, o deputado estadual Mário Negromonte Júnior.

DESAFETOS

Disputas de poder regionais provocaram neste ano uma crise no PP. No início de agosto, elas levaram à destituição do líder do partido na Câmara, o deputado Nelson Meurer (PR), aliado de Negromonte, que não se entende com boa parte da bancada.

Negromonte foi acusado por desafetos de oferecer mesadas de R$ 30 mil a deputados que se alinhassem com seu grupo na disputa partidária. Ele nega a acusação.

Cidades que são redutos eleitorais de deputados do PP aliados ao ministro, como Meurer, João Pizzolatti (SC), José Otávio Germano (RS) e Luiz Fernando Faria (MG), foram especialmente beneficiadas pelos recursos destinados à redução de acidentes.

Levantamento feito pela Folha com base na lista de prefeituras que receberam dinheiro do ministério e nos resultados das últimas eleições mostra que, em 45 municípios beneficiados, integrantes da turma de Negromonte figuraram entre os três mais votados no ano passado.

Não aconteceu a mesma coisa com os desafetos do ministro, como o deputado Espiridião Amin, campeão de votos do PP em Santa Catarina. Dos 16 municípios catarinenses beneficiados pelo ministério, somente dois são da base eleitoral de Amin.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Contra a corrupção, mobilização em formato 2.0

Para analista, movimento do Sete de Setembro pode crescer com novas bandeiras comuns, como a reforma do processo penal

Tatiana Farah

SÃO PAULO. O que começou timidamente nas redes sociais e refletiu-se em caras-pintadas no Sete de Setembro pode ganhar contornos de um forte movimento da sociedade brasileira contra a corrupção, uma espécie de mini-Diretas Já. A opinião é do cientista político Claudio Couto, da FGV, para quem se desenha uma mudança do clima político no país - demonstrando uma intolerância dos brasileiros com atos de corrupção em qualquer esfera de governo.

Os milhares de jovens que protestaram pelo país afora na última quarta-feira já marcaram um novo encontro nas ruas no feriado de 12 de outubro. No Rio, a mobilização volta cedo, já em 20 de setembro.

- Pode ser cedo para dizer, mas essas mobilizações mostram um processo de mudança do clima político brasileiro. Nos últimos anos, a corrupção aumentou muito, embora os instrumentos de controle também tenham aumentado. Esse movimento pode crescer como uma versão das Diretas Já, mas em menor proporção- avalia o cientista político.

Perfil apartidário aproxima movimento das Diretas

Para Couto, o que aproxima o movimento atual das Diretas Já é "seu caráter mais difuso, sem perfil partidário". Esse movimento anticorrupção nasceu longe dos tradicionais movimentos sociais e acabou fazendo frente a um protesto histórico brasileiro, o Grito dos Excluídos, realizado em todo o país no mesmo Sete de Setembro.

- É um movimento mais difuso, sem lideranças definidas. Tem bandeiras difusas também, mas pode se fortalecer buscando uma bandeira comum - explica Couto.

O cientista político aponta o que considera uma "bandeira comum" possível:

- A reforma do Código de Processo Penal. Todos querem punição para os corruptos e sabem que isso para nas inúmeras possibilidades que os criminosos encontram nos recursos judiciais.

A reforma do sistema de processos criminais não tem sido a única meta defendida pelo novo movimento contra a corrupção. Os jovens têm divulgado textos na internet e pintaram cartazes pedindo o fim do voto secreto e outros pontos da reforma política, como o voto distrital. Mas essa reforma, de acordo com o cientista político, não é uma bandeira que una as pessoas:

- A reforma política é muito mais controversa. Há quem defenda o voto em lista como forma de diminuir os gastos eleitorais, assim como o voto distrital. É uma bandeira que mais desagrega do que agrega as pessoas. Já a reforma do Código de Processo Penal atinge o interesse de todos, combatendo a impunidade.

Para Claudio Couto, o movimento apartidário contra a corrupção, essa espécie de "Diretas Já 2.0", está longe de ser comparado ao falecido movimento Cansei, de 2007. O Cansei juntava lideranças empresariais e alguns políticos, chegou a realizar passeatas na rua, mas foi um balão de ensaio. Rapidamente se desfez:

- O Cansei era um movimento antipartidário, contra o PT e o governo Lula. Isso contribuiu para uma deslegitimação. Tinha lideranças definidas do meio empresarial. Agora, trata-se de um movimento mais difuso, descentralizado, impulsionado por uma parcela muito jovem do país que está se articulando pelas redes sociais. Isso pode ser importante para que esse movimento ande.

FONTE: O GLOBO

'Foi um movimento espontâneo', diz Caio Túlio Costa

O jornalista e consultor em mídias digitais Caio Tulio Costa diz que as manifestações contra a corrupção demonstram a força das redes sociais. O desafio é fazer esse movimento crescer.

Silvia Amorim

As manifestações contra a corrupção foram um grande teste para as redes sociais?

CAIO TÚLIO COSTA: O Brasil já passou por alguns testes em relação ao poder de mobilização da internet ou da nova mídia. O primeiro, de maneira espontânea, foi em 2006, quando os paulistanos atenderam a um toque de recolher que nunca existiu oficialmente por conta da onda de ataques na cidade. Então, que a internet tem esse poder de mobilização é inegável. Naquela época, a organização se deu muito pelo e-mail, messenger e SMS. Agora foi diferente. A mobilização foi basicamente pelo Facebook e Twitter. Foi um grande teste, mas não significa que a gente esteja fazendo um movimento fantástico contra a corrupção. Estamos ainda longe disso.

O que falta?

COSTA: O que vimos foi um movimento extrapartidário, extramídia, é um movimento espontâneo e sem coordenação. Temos que ver agora se ele vai conseguir crescer, seja na forma espontânea como na adesão de instituições. Se isso vai virar um grande movimento de massa e como ele será capitalizado politicamente não temos condições de avaliar hoje.

Um tema genérico como a corrupção dificulta a mobilização?

COSTA: Sim. Quanto mais aberto o tema, mais dificulta. Ao mesmo tempo uma parte dos brasileiros saíram às ruas hoje com um tema geral. Evidente que, quanto mais precisa é a causa mais fácil é a mobilização, segundo as teorias tradicionais da mobilização de massas.

Ainda há uma parte do Brasil sem acesso à internet. Isso pode dificultar o crescimento das redes sociais como esse instrumento de mobilização?

COSTA: A internet no Brasil está crescendo muito. Já temos mais de 80 milhões de brasileiros conectados. Isso é quase metade da população, o que é pouco comparado aos Estados Unidos e a outros países desenvolvidos. Nesse sentido, a resposta é sim. Pode ser um entrave. Mas, ao mesmo tempo, há um projeto de levar a banda larga para todas as cidades e, se o governo Dilma, levar isso a ferro e fogo, nós podemos crescer exponencialmente essa penetração.

FONTE: O GLOBO

Todos juntos contra a corrupção - manifestação

Data: 20/9/2011 – terça-feira
Local: Rio de Janeiro – Cinelândia
Hora: 18.30 às 20.00

Charge do dia: o mensalão

Miguel - JC- PE

Voto consciente: Merval Pereira

Não é a primeira vez que um fato isolado expõe com crueza a separação entre o que quer a sociedade e o que fazem os políticos. A absolvição da deputada federal Jacqueline Roriz, flagrada em filme recebendo uma propina do esquema do então governador Arruda em Brasília, foi um tapa na face da opinião pública e explicitou a necessidade de uma mudança na representação congressual para aproximá-la do sentimento da sociedade.

A proposta de reforma política apresentada pelo relator da comissão especial, o petista Henrique Fontana, dá, com a lista fechada, uma força às direções partidárias que elas não estão a merecer.

A proposta de voto distrital, em contrapartida, dá ao eleitor a chance de fiscalizar de perto a atuação de seu escolhido e, por isso, a adesão ao manifesto se amplia.

A legitimidade do Congresso Nacional como instituição estaria ameaçada por práticas fisiológicas que já são nossas velhas conhecidas: clientelismo, malversação, promiscuidade.

Os defensores do voto distrital alardeiam pesquisas que mostram que um mês após a eleição, 30% dos eleitores já não se lembram em quem votaram, pois votam sem conhecer bem os candidatos.

Este número aumenta para 70% em relação às eleições anteriores. O mesmo processo aconteceria em relação ao candidato, que, tendo uma votação fragmentada, não se sentiria ligado ao eleitor e, por outro lado, os eleitos por votos corporativos só se sentiriam responsáveis por aqueles nichos em que atuam.

O voto distrital é um sistema de voto majoritário no qual um estado (ou cidade) é dividido em pequenos distritos com aproximadamente o mesmo número de habitantes. Cada partido indica um único candidato por distrito e cada distrito elege um único representante pela maioria dos votos.

O movimento #euvotodistrital defende o sistema majoritário de dois turnos, ou seja, o voto distrital puro. Essa modalidade, alegam seus coordenadores, além de trazer todos os benefícios do distrital como conhecemos, preserva os interesses das minorias ao exigir segundo turno, caso o candidato não tenha 50%+1 dos votos.

Já está em tramitação um projeto de lei que determina que as eleições para as câmaras em municípios com mais de 200 mil habitantes sejam feitas pelo sistema majoritário, proporcionando aos eleitores a experiência de viverem um sistema eleitoral diverso, para que, no futuro, possa ser adotado em outras eleições legislativas.

Uma das características do voto distrital seria possibilitar ao eleitor trabalhar contra um candidato, o que, no atual sistema brasileiro, simplesmente não existe.

Um parlamentar corrupto em busca da reeleição dispõe, no sistema atual, de caminhos para contornar resistências e continuar fraudando o mandato popular. Como é o caso do deputado Valdemar da Costa Neto, que se elegeu às custas das sobras de votos de Tiririca.

As vantagens do sistema distrital majoritário são muitas, segundo os formuladores do projeto: é um sistema simples e de fácil implantação; incentiva a participação do eleitor, que exerceria maior vigilância e fiscalização sobre o representante eleito do seu distrito, e permitiria diminuir o custo das campanhas eleitorais para o país como um todo.

Cada partido só poderá apresentar um candidato por distrito, reduzindo drasticamente o número de candidatos nos estados e no país.

Além disso, o candidato concentrará sua campanha no distrito no qual concorre, tendo fim as campanhas eleitorais milionárias em que os candidatos, no sistema atual, se veem obrigados a fazer campanha em todo o estado.

Uma campanha milionária num distrito, por sua vez, será escancarada perante o eleitor, podendo criar constrangimentos.

Na definição do cientista político Amaury de Souza, que também está envolvido na campanha, o voto distrital, ao adensar a relação do eleitor com o deputado, fortalece o Poder Legislativo face ao Executivo.

A acusação de que o voto distrital é paroquial é rejeitada pelos coordenadores da campanha, que afirmam que, ao contrário, o voto distrital majoritário é muito menos provinciano e paroquial do que o sistema atual.

Um deputado que disputa uma eleição majoritária num distrito que pode ter 250 mil eleitores é obrigado a compor com todos os interesses daquela comunidade, não pode ser paroquial.

Ao contrário do paroquialismo, o voto distrital majoritário modernizaria, tornaria cosmopolita a representação na Câmara.

Para Amaury de Souza, o distrital majoritário torna a eleição mais inteligível, o eleitor vê melhor a relação entre seu voto, seu candidato e o vencedor.

Uma projeção das bancadas partidárias, respeitando-se o número de cadeiras existentes para cada estado na Câmara dos Deputados, e criados tantos distritos quantas cadeiras estarão sendo disputadas, mostra um quadro de perdas e ganhos para os partidos.

O PT, por exemplo, perderia oito cadeiras na Câmara, enquanto o PMDB ganharia nada menos que 14. O PSDB ganharia cinco deputados federais, enquanto o DEM perderia dois. PP, PR, PDT e PCdoB seriam os partidos mais prejudicados: cada um perderia cinco deputados federais. Entre os nanicos, o PSC perderia seis deputados federais.

- Evidentemente, esse cálculo foi feito com base em resultados de uma campanha proporcional. Com o voto distrital, os critérios de escolha do candidato têm que ser outros, daí a vantagem do sistema, que aproxima o eleito do eleitor - defende Amaury de Souza.

FONTE: O GLOBO

Receio e otimismo das ruas:: Valdo Cruz

Gilberto Carvalho desceu do palanque ao final do desfile de Sete de Setembro, foi em casa, trocou de roupa e decidiu conferir de perto aquela "novidade" que passava ali bem perto: a Marcha contra a Corrupção.

Antes, informado por assessores, avisou a presidente Dilma que a manifestação, encoberta por um tapume que dividia a Esplanada dos Ministérios em duas alas, reunia mais gente do que o previsto.

"Dava para ver apenas as bandeiras e faixas, mas era possível ter a dimensão de que algo positivo e de impacto acontecia ali", diz o ministro responsável pelo diálogo com os movimentos sociais.

A previsão do governo era que não mais do que mil pessoas estariam na marcha. "Mas foi brotando gente de tudo que é lado e foram mais de 12 mil manifestantes."

Ao final, Gilberto Carvalho voltou a falar com a presidente. Relatou o que viu, destacou uma faixa com os dizeres "Limpa, Dilma, Limpa", e ouviu da chefe que aquilo era "bom e positivo" para o país.

Para ele, não há por que temer esse tipo de ato. Acredita que pode até ajudar a presidente ao criar um bom tensionamento dentro do governo e obrigar "todo mundo a ser muito mais cuidadoso" com o patrimônio público.

Apesar de ser ainda cedo para dizer onde tudo isso vai dar, alerta que pode estar surgindo um novo tipo de movimento social, que não se enquadra no figurino da velha política, com o qual o governo precisa aprender e dialogar.

Visão não compartilhada por gente graúda do Congresso, que fez questão de "alertar" a presidente para os riscos de uma marcha despolitizada, que prega até o fechamento do Legislativo. Dilma não concordou, mas a velha raposa disse que assim começou a ditadura.

Reação típica de quem teme pela própria pele, afinal não há campo fértil para a proliferação de movimentos radicais no país. A não ser que os donos da velha política sigam dando motivos para tal.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

O Brasil do PT :: Gaudêncio Torquato

A leitura não deixa dúvidas: o diagnóstico é mais pertinente que as soluções. Fotografar a paisagem que se vê, convenhamos, é tarefa menos passível de distorções que desenhar um cenário do futuro. É o que se enxerga no documento Resolução Política, aprovado no 4.º Congresso do Partido dos Trabalhadores, na semana passada. Ali está expressa a visão do PT sobre o estado do mundo e do Brasil, um desfile de múltiplas abordagens, dentro das quais se pinça a tese de que o País, ator central na "crescente hegemonia da esquerda na América Latina", tem condições de se transformar na "alternativa ao próprio modelo neoliberal", em crise nos países centrais. A indicação dos nossos trópicos tupiniquins como marco de um novo processo civilizatório é recorrente em diversas passagens, não sem o crédito concedido às administrações sob comando do PT, o que, evidentemente, pressupõe a continuidade de conquistas do ciclo Lula e que caminham para "a construção histórica de um novo Estado democrático, republicano e popular". A modelagem desse ente "popular" (o adjetivo democrático não abriga o povo?) só seria possível por meio de "amplo e profundo ascenso dos partidos de esquerda". Essa é a engenharia para a implantação do socialismo por estas bandas, que propiciaria ao País participar da "disputa global contra o modelo neoliberal".

Utopias e refrãos à parte, o documento merece atenção por explicitar o ideário de um ente que convoca militantes ao engajamento político, impõe normas de conduta, pratica uma liturgia comparável à dos credos evangélicos, incluindo o dízimo, define metas de médio e longo prazos, estabelecendo, assim, um diferencial no espectro partidário. Ancorado em disciplina, o PT consegue taxas de adesão mais altas que outros, como indicam seus 32% de preferência pelo eleitorado. Trata-se de um partido centrado na conquista e manutenção do poder. Se não age conforme o figurino que desenha, pouco importa. O mensalão, por exemplo, bate de frente com a moral proclamada pelo "modo petista de governar". Para dele se livrar alega que o pacote mal-ajambrado não existiu. Ao argumentar que é "o único partido brasileiro a ter estatutariamente estabelecido prévias para consulta de seus filiados", pode dar o dito pelo não dito ante a decisão do técnico de escalar seu jogador predileto para bater o pênalti. A não ser que Lula se curve à decisão de submeter Fernando Haddad às prévias para a Prefeitura de São Paulo. No campo da expressão, espalham-se na Resolução Política algumas dissonâncias, a denotar que pensadores e obreiros não comungam o mesmo ideário.

Veja-se o capítulo sobre a democratização da comunicação. Ali está a defesa do marco regulatório. É plausível regular o aparato eletrônico que depende de concessões estatais, como os sistemas de radiodifusão e de telecomunicações. É até razoável debater o domínio de meios eletrônicos e impressos por grupos políticos ou sob a égide de conglomerados numa mesma região, questões da propriedade cruzada. Tais abordagens não podem, contudo, ser inseridas no compartimento da liberdade de imprensa e do controle de conteúdos. O PT diz repudiar tentativa de censura ou restrição à liberdade de imprensa. Aplausos. Ao criticar, porém, o que cognomina de "jornalismo marrom e suas práticas ilegais", sob a fundamentação da inexistência de uma lei de imprensa e "desrespeito aos direitos humanos" pela mídia, levanta o véu da censura. Conceitos como verdade, pluralidade de fontes e versão única de fatos integram os escopos editoriais. Alguém se sente prejudicado por teor informativo "falseado ou distorcido"? Escude-se na Constituição, artigo 5.º, inciso V (que assegura direito de resposta proporcional ao agravo), ou no Código Penal (crimes de injúria, calúnia e difamação). São comuns os casos de pessoas e entidades que recorrem à Justiça para veicular suas versões. A proposta do controle social entra, portanto, no território dos conteúdos, por maior que seja o esforço para escamotear tal tentativa.

Na seara da reforma política, as abordagens defendidas apontam para a moralização de práticas, a partir da adoção parcial da lista preordenada nos pleitos parlamentares (metade dos eleitos) e fim das coligações proporcionais, que evitaria a eleição de nomes não escolhidos diretamente pelo eleitor. É evidente que o voto em lista beneficia partidos de mando vertical, como o PT, na medida em que parcela expressiva dos eleitos rezaria pela cartilha do comando partidário. Quanto ao financiamento público de campanha, em substituição a recursos privados, é ingenuidade pensar que o poder econômico se retrairá, retirando o aval a candidatos. Ao contrário, a distância entre economia e política estreita-se cada vez mais na onda da interpenetração de interesses do Estado e dos negócios privados. Já na frente dos movimentos sociais, é inegável a abertura de diálogo, sob o ciclo do PT, com as organizações do terceiro setor. Se entidades passaram a ser protagonistas de políticas públicas, como as centrais sindicais, não se pode deixar de registrar certa estática, de efeitos danosos, como o fato de, até o momento, o setor da terceirização, que abriga cerca de 10 milhões de trabalhadores, ainda não receber a chancela normativa do Estado.

Cacoetes são retomados, como as "privatarias que legaram ao País o fardo de uma herança maldita", possivelmente referência a áreas, como a das telecomunicações, vendidas na "bacia das almas". No subtexto, leia-se o conceito de "privatização decente" (as aspas são minhas), do tipo que se começa a fazer na frente dos aeroportos. Há, convém destacar, trechos bastante apropriados, particularmente sobre meio ambiente, emprego com carteira assinada, distribuição de renda (a maior já feita no País), inclusão social, igualdade de gêneros e minorias. No mais, filtrada a camada de grandiloquência inerente a documentos de congressos, a inexorável constatação: fora do PT não há salvação.

Jornalista, professor titular da USP e consultor político e de comunicação

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Dia sem fim:: Míriam Leitão

O panorama visto do Brasil mostra que os Estados Unidos são hoje um país menor e menos importante para nós do que era há dez anos. Em 2001, os americanos compravam um de cada quatro dólares exportados pelo Brasil; hoje, compram apenas um em cada dez. A China virou nosso maior parceiro comercial. O 11 de Setembro até hoje produz reflexos na economia do mundo.

O atentado às torres gêmeas foi como uma pedra grande lançada num lago: até hoje os círculos que se formam e se espalham têm a ver com o impacto inicial. Pode-se traçar uma linha entre os eventos que nasceram no dia que nunca terminou.

Depois das cinzas e do espanto veio o medo de uma depressão mundial. O pânico não é um ambiente em que a economia prospere. O risco era de as seguradoras quebrarem pelo peso do sinistro a ser pago; de as companhias aéreas tombarem sob o peso dos novos custos; de a paralisia contaminar toda a economia. Se, como dizia Dionísio Dias Carneiro, 2001 foi o ano em que os fantasmas chegaram todos de uma vez, o atentado de Bin Laden foi o maior deles.

O ambiente de vingança se espalhou nos EUA e alavancou o gasto militar para sustentar duas guerras. Um levantamento feito por Raphael Martello, da Tendências consultoria, mostrou que as despesas militares mais que dobraram: de US$315 bilhões para US$704 bilhões. Isso erodiu o superávit orçamentário deixado por Bill Clinton, que virou um déficit de 4,8% do PIB já em 2004. Este ano, o déficit público chegará a 11%.

Para evitar a recessão, os maiores países derrubaram os juros vertiginosamente e irrigaram o mercado financeiro. Os administradores de fundos e bancos correram com seus empréstimos atrás de quem não podia pagar. Por uma rentabilidade maior, a liquidez escorreu para todos os ativos de alto risco.

A economia retomou o crescimento e por cinco anos o mundo cresceu fortemente. Nesta onda o Brasil surfou elevando as reservas cambiais a partir de 2003. As commodities que o Brasil exporta começaram um ciclo de alta que ainda não acabou. Os juros baixos e os estímulos criaram lendas, como a da infalibilidade de Alan Greenspan. A falta de regulamentação do mercado financeiro incentivou a criatividade do mercado. Sem freios, com liquidez e muita ganância, fundos e bancos criaram exóticas criaturas. Esses papéis formatados sob conselhos, em alguns casos, das agências de classificação de risco tiravam boas notas dessas mesmas agências. Por isso, títulos arriscados, mas classificados como bons para investimento, começaram a entrar até na carteira de fundos conservadores.

O excesso de dinheiro no mercado, os juros baixos, e a valorização de todos os ativos, inclusive imóveis, criaram bolhas, principalmente no mercado imobiliário. O 15 de setembro de 2008, quando quebrou o Lehman Brothers, nasceu no 11 de setembro de 2001. O Lehman, ao quebrar, testou no limite o mercado financeiro americano e europeu. E a resposta foi negativa. Vários bancos e seguradoras quebraram em seguida e foram socorridos por gordos empréstimos concedidos sem exigências nem punição.

Começou aí uma armadilha em círculos: os bancos foram salvos pelos governos, que ficaram muito endividados, e por isso os bancos passaram a exigir mais juros de alguns países para rolar suas dívidas. Isso alimentou a desconfiança de calote de dívida dos governos, e por isso teme-se que os bancos quebrem, porque são eles que compraram esses títulos impagáveis. Nessa armadilha está a Zona do Euro neste momento.

Os EUA cresceram empurrados principalmente pelas bolhas e pelos gastos com as guerras. Uma parte da alta se deve sempre à inovação, um forte da economia americana. Mas a quebra do Lehman Brothers e os gastos necessários para resgatar a economia revelaram o tamanho do pântano que o desequilíbrio do gasto público havia criado. Aconteceu o impensável: a dívida americana foi rebaixada da melhor nota onde sempre tinha estado.

De 2001 a 2011, segundo o levantamento da Tendências, a participação dos Estados Unidos no PIB mundial caiu de 23% para 19,8%. No comércio mundial, caiu de 16% para 11%. Nas exportações brasileiras, eles caíram de 24% para 9,9%. Os Estados Unidos ficaram menores e não apenas para nós.

Quem mais cresceu nesse vácuo foi - todos sabem - a China. Aproveitou-se do boom para alavancar suas exportações para o mundo inteiro a preços baixos, permitidos pelo câmbio colado ao dólar. A relação dólar/real que era de US$1 para R$2,60 está hoje em US$1 para R$1,60. Nesse meio do caminho foi até a R$4, mas era o período anormal da incerteza criada na transição política.

Para recuperar-se da queda da economia, que ocorreu após a crise bancária e a crise de confiança que se abateu sobre empresários e consumidores, a solução foi mais injeção monetária. O presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, que sucedeu Alan Greenspan, parecia ser o homem certo no lugar certo. Afinal, ele estudou sempre o que fazer diante do risco de depressão. Evitou o pior, mas suas injeções de dinheiro têm dado alívio momentâneo, não conseguem tirar a economia da paralisia e, mais importante, não criam emprego.

Há outras causas paralelas que ajudaram a fomentar a complexa crise atual, mas não há explicação possível sem passar por aqueles aviões que abateram duas torres no coração de Nova York.

FONTE: O GLOBO

Ousadia e responsabilidade :: Pedro S. Malan

"Nunca a conjuntura foi tão pouco conjuntural", diz André Lara Resende. De fato, os Estados Unidos, a Europa e o Japão, por exemplo, não retornaram ainda, passados quatro anos, ao nível de renda real por habitante que haviam alcançado em 2007. E terão, no futuro próximo, um crescimento ainda mais baixo do que o projetado até há pouco, dadas as consequências tanto da crise de 2007-2008 como das respostas a ela, que levaram à expansão vertiginosa de suas dívidas públicas.

A crise nos países desenvolvidos não era - como foi dito por aqui - uma "marolinha" para o resto do mundo. Sempre me pareceu equivocada a ideia de que os países emergentes houvessem adquirido uma dinâmica própria, que lhes asseguraria a capacidade de seguir crescendo de forma sustentada, o que quer que acontecesse no mundo desenvolvido.

Acredito que não só nos Estados Unidos, na Europa e no Japão, mas também em vários outros países, dentre os quais o Brasil, como poucas vezes na História, a resolução dos problemas mais urgentes nunca esteve tão dependente da perspectiva de equacionamento de problemas e desafios estruturais, de médio e longo prazos. E quero ilustrar a observação acima com um comentário sobre a recente decisão do nosso Banco Central (BC) de reduzir os juros. Decisão que teria sido baseada em quatro hipóteses básicas.

Primeiro, a possibilidade de deterioração adicional das expectativas quanto à evolução da economia mundial e maiores riscos e incertezas quanto ao comércio internacional, e aos mercados de capitais, de dívida soberana e de intermediação financeira.

Segundo, em parte por conta disso, a possibilidade de uma desaceleração da economia brasileira mais acentuada do que aquela que já vinha ocorrendo - e que já era maior do que a antes prevista pelo governo para 2011-2012.

Terceiro, a hipótese de que, apesar de a inflação brasileira acumulada nos últimos 12 meses se encontrar acima de 7%, esta, a partir do último trimestre de 2011, entraria numa trajetória declinante (em grande parte devida aos efeitos combinados das duas hipóteses anteriores), o que permitiria uma gradual convergência para o centro da meta de inflação (4,5%) ao final de 2012.

Quarto e último, mas não menos importante, uma avaliação positiva do BC sobre a firmeza do compromisso da presidente e do Ministério da Fazenda com maior controle fiscal não só em 2011, como em 2012 e 2013. Compromissos que seriam expressos em metas críveis (que o BC teria incorporado), e não em declarações de intenções.

As duas primeiras hipóteses das quatro acima não devem ser descartadas e podem exigir, dentre outras respostas, redução de juros que, diga-se de passagem, muitos no mercado já antecipavam, embora a maioria para outubro. A terceira envolve percepções sobre o grau de compromisso do BC e do governo com o regime de metas de inflação e com a convergência para o centro da meta estabelecida pelo governo. Se ensaios de antecipação pública, pelo governo, do que deveriam ser as decisões futuras do BC se tornarem rotina, não há dúvida de que a credibilidade do Banco Central - que existe - será erodida. E com isso também se esvairá a credibilidade do regime de metas como mecanismo de formação de expectativas quanto ao curso futuro da inflação.

Mas é a quarta das hipóteses acima que é a mais fundamental das apostas do BC. E a mais problemática, a mais difícil de ser alcançada e a mais controvertida, como sabem os que se deram ao trabalho de procurar entender a questão. A propósito, há um trabalho imperdível do ilustre ex-ministro Delfim Netto intitulado A Agenda Fiscal, no belo livro organizado por Fabio Giambiagi e Octavio de Barros O Brasil Pós-Crise: Agenda para a Próxima Década. Esse artigo deveria ser de leitura quase obrigatória para aqueles que, no governo ou fora dele, acham que a resolução do problema dos juros no Brasil depende da "estatização do Banco Central".

Aliás, desculpe-me o ilustre ex-ministro, mas, com todo o respeito, considerei uma enorme injustiça, para dizer o mínimo, a afirmação de que, "pela primeira vez em duas décadas, o BC é efetivamente um órgão de Estado...". Uma enorme injustiça para com servidores públicos exemplares da instituição e para com pessoas decentes e de espírito público que lá trabalharam e não viam a instituição como outra coisa que não um órgão de Estado.

E, como disse muito corretamente o ex-ministro no mesmo artigo, referindo-se à política monetária, "ela é uma arte que comporta visões alternativas diante dos problemas do futuro. Como os efeitos monetários se fazem sentir ao longo do tempo, só este é capaz de dizer a posteriori se a perspectiva escolhida foi certa ou errada".

Mas uma coisa é apoiar a decisão recente do BC. Outra, diferente, é saudar sua pretensa "estatização" (sem a qual a decisão não teria sido tomada?). E outra, ainda mais controvertida, é afirmar desde agora que há uma definida política fiscal de longo prazo do governo Dilma Rousseff. Pode ser que haja. Esperemos que sim. O tempo dirá. Em breve. Mas sem responsável ousadia nessa área não será possível assegurar o desejado declínio, sustentado ao longo do tempo, das taxas de juros na economia brasileira, por mais "estatizado" que seja o Banco Central.

Vale concluir com o ex-ministro Delfim Netto no artigo do livro citado: "A única forma possível para que a agenda fiscal dê uma contribuição decisiva para a política econômica (...) será o compromisso do poder incumbente eleito em 2010 de realizar um longo, paciente, responsável e cuidadoso programa de controle do aumento das despesas de seu custeio...". As sugestões do ex-ministro para uma nova política previdenciária e orçamentária, bem como uma nova política de pessoal, estão reunidas em apenas duas páginas ao final de seu artigo.

Vale lê-las. Ou relê-las.

Economista, foi Ministro da Fazenda no governo Fernando Henrique Cardoso

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Caminhos diferentes contra Cristina

Sem acordo para enfrentar unidos a presidente argentina nas urnas, candidatos opositores têm esperanças de chegar ao 2º turno

Janaína Figueiredo

Não foi fácil para Ricardo Alfonsín digerir o resultado das eleições primárias argentinas, realizadas em 14 de agosto. O filho do ex-presidente Raúl Alfonsín (1983-1989) e candidato à Presidência da União para o Desenvolvimento Social (Udeso, aliança entre a União Cívica Radical e setores do peronismo dissidente) era uma das grandes promessas da oposição e acabou ficando em segundo lugar, com apenas 12,2%, contra 50,2% da presidente Cristina Kirchner. O ex-presidente Eduardo Duhalde (2002-2003), que ajudou Néstor Kirchner (2003-2007) a chegar ao poder e depois tornou-se um de seus principais inimigos, ficou em terceiro lugar, com 12,12%. O resultado das primárias desanimou a grande maioria dos opositores argentinos, que, faltando um mês e meio para as presidenciais do próximo dia 23 de outubro, continuam sem saber como enfrentar a sólida liderança da viúva e sucessora de Kirchner. Uma das poucas exceções é o governador da província de Santa Fé, o socialista Hermes Binner, que terminou se transformando na principal novidade eleitoral do país.

Depois de apenas cinco semanas de campanha, Binner obteve 10,18% dos votos. Segundo analistas, o candidato da Frente Ampla Progressista (FAP), um médico socialista de 68 anos, é a opção opositora com mais chances de crescer e até de ficar em segundo lugar em outubro. Ciente deste cenário, nos últimos dias Alfonsín direcionou seus ataques ao candidato socialista, aprofundando ainda mais as divisões numa oposição que vive um de seus momentos mais difíceis.

Em entrevista ao GLOBO, o candidato da Udeso, de 60 anos, admitiu que "não será fácil" reverter o resultado de agosto, mas lembrou que "nada é impossível". Um pouco mais otimista, Binner mostrou-se confiante e assegurou que os argentinos que votaram na FAP, movimento inspirado no PT e na Frente Ampla uruguaia, são pessoas que "não querem uma volta ao passado (em referência a Duhalde e Alfonsín) e não se sentem identificadas com o atual governo".

'Precisamos discutir o reequilíbrio do poder'

Por que um governo que o senhor costuma acusar de ter tendências autoritárias é respaldado por 50% dos argentinos?

RICARDO ALFONSÍN: Somos uma democracia jovem, às vezes com uma cultura política não muito sofisticada. Diferentes setores de nossa sociedade não apreciam a relação entre república e progresso. Mas acho que está se produzindo uma mudança. As pessoas estão começando a entender que os governantes devem se comportar de forma exemplar em termos institucionais porque isso afeta nossa confiança, fundamental para receber investimentos e incentivar o desenvolvimento.

A bonança econômica ajudou o governo?

ALFONSÍN: Nos últimos anos, a situação melhorou graças a um cenário internacional favorável. Na minha opinião, este contexto internacional foi subaproveitado, mas a sociedade parece valorizar mais o que foi feito e não tanto o que não foi feito.

Desde as primárias, o clima é de que Cristina já ganhou...

ALFONSÍN: Se o resultado não nos for favorável, é importante discutir em nosso país a necessidade de equilibrar o poder. Em teoria, que um partido controle o Executivo e o Congresso não deveria ser um problema. Mas, na Argentina, o partido que governa não tem dimensão republicana. Temos um governo democrático, mas com uma tendência autoritária.

Antes da morte de Kirchner, em outubro do ano passado, muitos analistas falavam no fim do kirchnerismo, e hoje Cristina é favorita. A morte do ex-presidente favoreceu o governo?

ALFONSÍN: Nunca pensei que o kirchnerismo estivesse no fim. No entanto, acho que Kirchner representava uma série de coisas que a sociedade estava querendo mudar. Sua morte ajudou a melhorar a imagem do governo, porque é como se as coisas ruins da gestão de Cristina tivessem mais a ver com Néstor. Não foi determinante, mas ajudou.

Analistas locais afirmam que um dos principais erros da oposição foi sua fragmentação...

ALFONSÍN: Depois de 2001, os partidos políticos entraram em crise, e todos temos de assumir nossa responsabilidade. Hoje parecemos um país sem sistema de partidos e estamos vivendo as consequências disso. Na Câmara existem 35 bancadas, imagine só.

Se o senhor tivesse se aliado com Binner, o resultado teria sido outro?

ALFONSÍN: (Silêncio.) Sim, mas acho que um setor do socialismo nunca esteve convencido a fazer um acordo com nosso partido.

Alguns de seus aliados dizem que o governo Kirchner é mais corrupto que o governo Menem...

ALFONSÍN: A sociedade tem a sensação de que a corrupção é maior. Existem muitas dúvidas e nós precisamos que as instituições funcionem corretamente. Este é um dos valores que devemos recuperar.

O governo está mergulhado numa guerra com importantes meios de comunicação locais e chegou a dizer que jornais como o "Clarín" e "La Nación" atentam contra a democracia...

ALFONSÍN: Esse tipo de atitude é típica de governos de tendência autoritária. Eles inventam campanhas opositoras, conspirações, enfim, tudo isso me parece uma barbaridade. O mais grave de tudo é que os jornais foram atacados por terem publicado informações sobre denúncias da oposição e da Justiça sobre irregularidades cometidas nas eleições primárias. A Justiça disse que nunca viu tantas irregularidades! Esse clima não vai melhorar, e por isso precisamos de uma oposição forte e de uma cidadania forte. Tem uma frase que diz tudo: a imprensa com liberdade pode ser boa ou ruim, mas a imprensa sem liberdade sempre é ruim. É um direito do qual devemos cuidar.

A presidente tem se mostrado mais conciliadora... O senhor acredita nesta nova Cristina?

ALFONSÍN: Não, acho que é um recurso eleitoral. Em 2007 aconteceu a mesma coisa. Cristina disse que começava a etapa da institucionalidade, e nada disso aconteceu. Vão continuar igual, porque não incorporaram a questão republicana, a independência dos Poderes. (J.F.)

'Alguns já tiveram oportunidade e não souberam aproveitar'

Sua meta é ficar em segundo lugar?

HERMES BINNER: Em cinco semanas conseguimos mais de dois milhões de votos, e vamos continuar trabalhando para ser uma opção na Argentina. Hoje, 50% dos votos estão com o governo, mas existem outros 50%, e é nesse setor que queremos ocupar o melhor espaço possível.

Muitos acreditam que Cristina Kirchner já ganhou...

BINNER: (Silêncio.) Veja bem, nossa frente pensa em seus próprios objetivos, que vão além dos cálculos eleitorais. E temos de pensar em todos os aspectos desta eleição, não somente o presidencial, também o legislativo.

Analistas políticos apontam que o governo pode ser reeleito e, também, passar a ter maioria no Congresso. O senhor vê riscos para a democracia?

BINNER: Prefiro não falar em risco democrático e, sim, na grande responsabilidade que terá a maioria. Porque a maioria deve entender que a democracia é um sistema que deve ser respeitado.

Como o senhor explica o fracasso eleitoral de Duhalde e Alfonsín?

BINNER: Muitos entendem que algumas pessoas tiveram uma oportunidade no passado e não souberam aproveitá-la.

Seu crescimento tem a ver com isso?

BINNER: Sim, um setor da sociedade não estava encontrando um representante político: não queria o passado e não se sentia identificado com o atual governo.

O senhor tentou aliança com Alfonsín, mas terminaram lançando candidaturas separadas. Foi um erro de Alfonsín?

BINNER: Nós pensávamos que o outro caminho era melhor, e hoje lamentamos essa decisão.

Como explica os 50% de Cristina?

BINNER: Acho que o resultado tem muito a ver com a bonança econômica. Em geral, em períodos de bonança ganham os Executivos. A mesma coisa aconteceu em todas as eleições provinciais: venceram os que estão governando.

A morte do ex-presidente Néstor Kirchner favoreceu o governo de Cristina?

BINNER: É muito difícil falar sobre a morte, é uma questão muito delicada. Prefiro pensar na bonança econômica e nas políticas sociais, na política de defesa dos direitos humanos.

O senhor está de acordo com algumas políticas do governo?

BINNER: Claro. Quando estamos de acordo, apoiamos. Quando não, votamos contra. Faz parte do regime democrático.

Qual é sua principal diferença com o governo Kirchner?

BINNER: O socialismo governa a cidade de Rosário há 22 anos sem nenhum caso de corrupção.

Por que os últimos escândalos não afetaram em nada o governo?

BINNER: O governo nunca se envolveu nem deu importância ao assunto. Ninguém do governo se refere aos escândalos, e isso não é bom para a sociedade porque produz um fato repetitivo, que é a impunidade. E a impunidade não é boa. Depois perguntam por que estamos tão mal posicionados nos índices de transparência de organizações internacionais.

A FAP se inspira na Frente Ampla uruguaia e no PT?

BINNER: Sim, claro. Conheço bem o ex-presidente Lula e muitos dirigentes do PT. Temos alguns amigos como o ministro Fernando Pimentel, também Tarso Genro. Também tenho bastante contato com Marco Aurélio Garcia.

O governo disse que, além da oposição, também foram derrotados os meios de comunicação...

BINNER: Essa briga nos prejudicou a todos. A lei de serviços audiovisuais deveria ser modificada, não é uma boa lei, e este clima de conflito tampouco é bom. Mas esse é um estilo de governo. Não se fala sobre casos (de corrupção) que prejudicam sua credibilidade, e sim sobre brigas que põem em risco a sociedade.

Depois das primárias, a presidente se mostrou mais simpática e conciliadora. O senhor acredita na nova Cristina?

BINNER: Vamos ver quanto dura (risos).

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www.politicademocratica.com.br/editoriais.html

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