Sem citar nomes, ministro do STF falou de forma irônica sobre uma 'nova profissão' no Brasil, a de políticos que se dizem não políticos
Célia Froufe | O Estado de S.Paulo
LISBOA - O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes, afirmou há pouco que o Brasil passa por um momento de "falseamento" da democracia partidária. "Temos 28 partidos no Congresso Nacional, 18 na base no governo, 35 registrados na Justiça Eleitoral e 50 candidatos a serem registrados", enumerou durante palestra nesta terça-feira, 18, na capital de Portugal, gerando burburinho entre os presentes por causa dos grandes números.
O ministro explicou que essa infinidade de partidos é fruto do bipartidarismo, do período de autoritarismo pelo qual passou o País. "Pervertemos o modelo proporcional, que já é singular, e permitimos essa soma de letras com consequências gravíssimas para o todo. O modelo faz com que as eleições tenham as distorções que todos conhecemos", considerou.
Mendes fez críticas a vários partidos. Citou, por exemplo, que Marina Silva não conseguiu o número de assinaturas necessário para criar a sua legenda e que acabou integrando a chapa com Eduardo Campos para a campanha de 2014 - o líder da chapa acabou falecendo antes da eleição. "Nessa leva de partido criados, foi iniciado o Partido da Mulher, que não tem mulher", ressaltou, tirando risos da plateia na capital portuguesa.
Para o ministro, há tantos partidos e com tantos interesses que alguns não deveriam estar cadastrados na Justiça Eleitoral, mas, sim, inscritos na Junta Comercial. "Acabam que passam a ser partidos com acesso a fundos, acesso a [tempo] de rádio e televisão, o que precisa ser corrigido. E logo, pois tem que ter impacto nas eleições de 2018."
Para quem critica a possibilidade de se esconder candidatos num processo de votação com lista fechada, Mendes argumentou que, no modelo de lista aberta, já se tem esse modelo: "Se votou em Tiririca e se elegeu Valdemar da Costa Neto. É mais fácil esconder nesse sistema de lista aberta", defendeu.