• Caderneta de Paulo Roberto Costa contém iniciais de deputados e de ex-ministro ao lado de valores
Ricardo Brandt, Julia Affonso e Fausto Macedo – O Estado de S. Paulo
Na agenda pessoal de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás e primeiro delator da Operação Lava Jato, a Polícia Federal encontrou indícios que reforçam as suspeitas sobre o suposto repasse de recursos a políticos.
São anotações manuscritas que se destacam em algumas páginas da caderneta de Costa, apreendida pela PF em março de 2014, na residência do ex-diretor, no Rio, quando foi deflagrada a missão que desmantelou esquema de corrupção na estatal petrolífera.
Os registros são de 2010. À esquerda, uma coluna de números que, segundo o delator, sugerem valores em dinheiro. Na coluna à direita, iniciais que remetem a nomes de parlamentares citados pelo ex-diretor em seus depoimentos à força tarefa do Ministério Público Federal.
Em troca de redução de pena, ou até mesmo o perdão judicial, Costa relatou como operava o esquema de corrupção na Petrobrás e citou 28 políticos como supostos beneficiários de dinheiro, inclusive para financiamento de campanhas eleitorais. Sua delação, realizada entre agosto e setembro, foi homologada pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Costa apontou 8 políticos do PMDB, 10 do PP, 8 do PT, 1 do PSB e um do PSDB. Mencionou ex-ministros e um ministro do governo Dilma Rousseff (PT), deputados, senadores, ex-governadores e um governador. As iniciais lançadas na agenda de Costa se referem, segundo ele, a alguns desses políticos. Os investigadores da Lava Jato não puderam avançar na identificação completa dos nomes porque poderiam esbarrar em uma questão sensível do caso – autoridades com foro privilegiado não podem ser rastreadas, exceto pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que detém competência exclusiva para processar parlamentares.
Em uma página, aparece a sigla PP ao lado do número 28,5 – ou R$ 28,5 milhões, em uma avaliação preliminar dos investigadores. O PP dominava a Diretoria de Abastecimento, na gestão Costa. Ele foi indicado em 2004 para o posto por seu padrinho político, o ex-deputado José Janene (PP/PR), morto em 2010.
Abaixo desse primeiro apontamento aparece o número 5,5, ou R$ 5,5 milhões, ao lado das letras Piz, uma referência ao sobrenome do deputado João Alberto Pizzolatti Jr (PP/SC), segundo o delator. Na linha seguinte, 5,0 Mn, supostamente Mário Negromonte, ex-ministro das Cidades do governo Dilma. Adiante, 4,0 e as letras Nel que, de acordo com Costa, é citação ao deputado Nelson Meurer (PP/PR). Há o lançamento 1,0 BL. iniciais do deputado Benedito Lira (PP/AL), 0,3 Tvian, ou Tião Viana, governador do Acre pelo PT, e, também, 0,5 WR que seria Valdir Raupp, segundo o delator.
Costa afirmou não ter cuidado dos pagamentos dos políticos ao juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações da Lava Jato. O juiz questionou Costa, em interrogatório, como ele sabia que os políticos recebiam valores do esquema que arrecadava de 1% a 3% dos contratos da estatal.
“Esses políticos, por exemplo, esses agentes públicos, que eles recebiam a parcela deles, como é que o senhor tinha conhecimento sobre isso?”, perguntou o magistrado.
“Nós tínhamos reuniões com uma certa periodicidade com esse grupo político, né? E essa periodicidade então se comentava “ó recebemos isso, recebemos aquilo”, etc”, respondeu Paulo Roberto Costa.
O ex-diretor da Petrobrás citou então as anotações da agenda pessoal. “Na minha agenda que foi apreendida na minha residência, tem uma tabela que foi especificamente detalhada junto ao Ministério Público, e essa tabela revela vários valores de agentes políticos de vários partidos que foram, relativo à eleição de 2010. Essa tabela eu copiei no escritório do Alberto (Youssef), em uma reunião que eu tive lá com ele.”
O ex-ministro Mário Negromonte negou que tenha recebido propina. “Jamais, zero, nunca Costa pode afirmar que fez negócios comigo. Durmo tranquilo.” O senador Valdir Raupp (PMDB-RO) disse “nunca” ter pedido “um centavo” a Costa. O petista Tião Viana disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que “não conhece e nunca teve qualquer tipo de relação” com o ex-diretor. Pizzolatti, Meurer e Lira não foram localizados.
Leia trechos do depoimento do doleiro Alberto Youssef ao Juiz Federal Sérgio Moro
Defesa de Alberto Youssef: – As empresas sabiam que esses dinheiros, que esse dinheiro que estava sendo pago, também ia para agente público?
Interrogado: – Sim.
Defesa de Alberto Youssef: – Elas tinham convicção de que esse dinheiro ia financiar políticos e campanhas políticas.
Interrogado: – Certamente. Sim, a resposta é sim.
Defesa de Alberto Youssef: – Ou seja, esse esquema, me perdoe a expressão, mas já foi usada aqui, de propina, era também usado para financiar políticos brasileiros e o esquema de campanha de políticos.
Interrogado: – A resposta é sim.
Defesa de Alberto Youssef: – Em 2010 o senhor disse que esse esquema financiou campanhas políticas?
Interrogado: – Sim.
Defesa de Alberto Youssef: – Várias campanhas?
Interrogado: – Várias.
Defesa de Alberto Youssef: – Inclusive majoritárias?
Juiz Federal: – Não, aí nós vamos entrar nessa questão, doutor. Não, nós estamos, não, aí…
Defesa de Alberto Youssef: – Eu só disse a campanha, doutor, não disse de quem era.
Juiz Federal: – Doutor, está indeferida a questão, doutor.
Defesa de Alberto Youssef: – Eu concordo com ela que esse sistema acaba prejudicando um pouco o meu cliente, porque…
Juiz Federal: – Bem, mas seu cliente é um político ou é o senhor Alberto Youssef?
Defesa de Alberto Youssef: – A partir do momento que ele tem a…
Juiz Federal: – Está indeferido, doutor.
Defesa de Alberto Youssef: – Essa defesa de competência é complicada, Excelência.
Juiz Federal: – Bem, não foi eu que criei doutor, essa competência.
Juiz Federal: – Outros diretores da Petrobrás também recebiam valores 1 pagos dentro desse 1%?
Interrogado: – Dentro deste 1% só Paulo Roberto Costa e a parte dos agentes públicos, dos agentes políticos.
Juiz Federal: – E o senhor mencionou, tinha outros percentuais eram destinados a outros operadores? Não sei se ficou claro isso.
Interrogado: – Porque na verdade o Paulo Roberto fatiava um pouco essa questão de recebimento de obras, porque ele também tinha que atender PMBD e às vezes alguém do PT, então outra pessoa fazia o recebimento ou muitas vezes ele repassava pra mim próprio fazer esse pagamento.
Juiz Federal: – O senhor chegou a fazer pagamento pra outros diretores da Petrobrás?
Defesa de Alberto Youssef: – O senhor disse no início, quando inquirido pelo doutor Sergio, se não me falhe a memória, posso ser corrigido, que o senhor participou de algumas reuniões com empreiteiras, nas empresas. Eu gostaria que o senhor descrevesse, se o senhor pode descrever, como eram feitas essas reuniões e qual era o objetivo disso e quem eram essas pessoas e as empresas que estavam?
Interrogado: – Na verdade, essas reuniões eram feitas às vezes com empresas individualmente ou às vezes com as empresas junto com o diretor Paulo Roberto e o próprio agente político que estava comando a situação, pra se discutir exatamente questão 1 de valores, questão de quem ia participar do certame, esse tipo de situação. E outros problemas que também que se encontravam nas obras que pediam pra ser solucionados, esse tipo de assunto. Isso era feito uma ata, nessa reunião participava o agente político, o Genu, eu, o Paulo Roberto.
Juiz Federal: – Mas desculpe era feito uma ata formal disso?
Interrogado: – Era feito uma ata escrita.
Juiz Federal: – Mas constavam esses detalhamentos?
Interrogado: – Constava os detalhamentos, Vossa Excelência.
Defesa de Alberto Youssef: – Inclusive algumas dessas atas se comprometeu a entregar?
(incompreensível), se tiver o acesso.
Interrogado: – É, está na mão de interposta pessoas, de terceiro, que ficou de me entregar pra poder eu entregar ao processo.