domingo, 24 de setembro de 2017

Opinião do dia – Luiz Werneck Vianna

IHU On-Line — Há espaço para reativar o sindicalismo nos dias de hoje?

Luiz Werneck Vianna — Temos que reativá-lo, isso cabe aos trabalhadores. O problema é que a esquerda brasileira está em frangalhos, ela viveu muito tempo abraçada com esse Estado que está aí, com as estruturas do Estado. Esse é o país da estadofilia. Precisamos criar um país da sociedade civil, da energia dos que vêm de baixo. Nós temos que recriar a esquerda no Brasil. O que aconteceu com a Teologia da Libertação, que era um movimento que favorecia a animação dos que vinham de baixo? A hierarquia católica a escondeu. Nós vivemos nos anos 80 um mundo de associativismo, inclusive nas camadas médias. O PT era um partido que estimulava o associativismo, que criticava as estruturas sindicais corporativas. Mas hoje ficamos sem a Teologia da Libertação e sem o PT autonomista, só ficamos gravitando em torno do Estado e deu nisso aí. Isso precisa ser recriado, reconstruído, nós precisamos de tempo, de liberdade e de serenidade.

---------------------
Luiz Werneck Vianna é sociólogo e professor da PUC-Rio. Entrevista em 22/9/2017

Democracia em xeque | Merval Pereira

- O Globo

A mistura explosiva de crise econômica, desmoralização da classe política pela prática sistemática da corrupção e violência urbana, como vem acontecendo em todo o país nos últimos anos, tem no Rio de Janeiro seu ponto mais vistoso.

A intervenção das Forças Armadas na Segurança Pública, justamente pela falência do poder político, devido à corrupção e à incompetência, que desmantelou um programa de pacificação das favelas inicialmente bem-sucedido, é exemplar para o entendimento do fenômeno conhecido como “desmonte da democracia”, que se espalha não apenas pelos países em desenvolvimento como o nosso, mas também pelos Estados Unidos e pelas democracias da Europa Ocidental.

O caso brasileiro foi objeto de um artigo no blog Polyarchy, produzido pelo centro de estudos (think thank) independente baseado em Washington New America Foundation, em reportagem sobre o declínio da confiança nas instituições políticas no mundo.

Eles focam a tendência crescente de soluções autoritárias no Brasil, como o surgimento da candidatura de Jair Bolsonaro à presidência, com apoio inimaginável. E poderiam também citar o apoio que o general Hamilton Mourão vem recebendo nas redes sociais depois que defendeu uma intervenção militar. O povo está com tanta raiva dos políticos que, se o general Mourão for para a reserva, presidir o Clube Militar e continuar a sua pregação, pode se tornar candidato na base de uma plataforma de lei e ordem, tomando o espaço de Bolsonaro.

Um moderado radical | Helio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

Em tempos de Donald Trump, Nicolás Maduro, Rodrigo Duterte, Viktor Orbán, é legítimo perguntar onde foi parar a moderação. Hoje ela parece uma virtude esquecida ou, pelo menos, relegada a um centro político cada vez menos saliente. Não é que careçamos de grandes nomes que possam ser carimbados como moderados. Para ficar apenas nos teóricos, eles incluem Aristóteles, Montesquieu, Hume e Tocqueville. O problema é que a moderação nunca chegou a firmar-se como um conceito autônomo ou como parte de uma tradição política digna de ser cultivada.

É para mudar isso que o cientista político Aurelian Craiutu (Universidade de Indiana) escreveu "Faces of Moderation" (faces da moderação), no qual tenta entender os motivos da baixa popularidade da moderação (ela tende a ser vista como um refúgio para os fracos e indecisos) e busca definir melhor o conceito.

PSDB alimenta Bolsonaro | Vera Magalhães

- O Estado de S.Paulo

PSDB agoniza em praça pública e não consegue se apresentar como opção viável de poder

Imerso em sua eterna crise existencial, sem conseguir decidir o que pensa sobre o governo Michel Temer, sem ser capaz de definir um calendário para a escolha de seu candidato a presidente e assistindo inerte a uma disputa que ainda é velada, mas tende a se tornar explícita, entre seus dois nomes mais viáveis para 2018, o PSDB vai perdendo relevância política nacional e alimentando o crescimento de Jair Bolsonaro.

Os tucanos parecem ter ficado aturdidos com a debacle do PT. Diante da revelação pela Lava Jato de que o PT, juntamente com seus aliados nos governos Lula e Dilma, ergueu um esquema para se perpetuar no poder à custa de contratos com estatais, o PSDB, em vez de se mostrar capaz de ser uma alternativa àquele modelo de clepto-estatismo, resolveu chafurdar na lama junto com seus arquirrivais.

A disseminação do instituto das delações premiadas fez com que, instados a falar de suas traficâncias com partidos e governos, empreiteiros dissessem o óbvio: que as práticas eram as mesmas no governo federal e em Estados governados por siglas de A a Z, inclusive e em grande medida o PSDB.

Presidente Michel Fora Temer | Fernando Gabeira

- O Globo

A segunda denúncia contra Temer vai à Câmara e, como a primeira, deve ser rejeitada. É possível, portanto, prever uma situação bizarra: Temer, que só tem 3,4% de aprovação, segundo as pesquisas, ruma para um desgaste ainda maior, com a repetição de cenas da mala de Rodrigo Rocha Loures, a fortuna encontrada no apartamento usado por Geddel. Toda aquela dinheirama passará de novo pelas telas e aprovação de Temer deve encolher. Mas ele continuará na presidência e, se chance houver, vai querer ser candidato de novo.

Não é provável uma grande manifestação popular. Afinal, o impeachment derrubou uma quadrilha para colocar outra no topo do poder. São muito modestas as razões para lutar pela ascensão de uma nova quadrilha. O sistema se autoimunizou, não há salvação dentro dele.

Como a grande maioria acha que houve corrupção e Temer já era impopular, vamos ouvir, aqui e ali, gritos de “fora”. Um escritor na Bienal do Livro, ao se apresentar, disse: “Antes de tudo, fora Temer”. O grito será incorporado ao nosso universo das ruas, do vendedor de pamonha, os gritos de gol nas tardes de domingo.

O humorista José Simão antecipou, brilhantemente, essa situação bizarra ao imaginar a faixa com que o presidente foi recebido na China: Welcome Mister Fora Temer.

Quando a barbárie é popular | Clóvis Rossi

- Folha de S. Paulo

A barbárie é popular, mostra pesquisa do respeitado Pew Center, dos Estados Unidos, a respeito das Filipinas: quase oito de cada dez filipinos (78% exatamente) aprovam a licença para matar acusados ou suspeitos de tráfico/consumo de drogas concedida pelo presidente Rodrigo Duterte.

Desde que assumiu, em junho de 2016, o governo anuncia, orgulhosamente, 3.400 mortes (até julho), mas a respeitada Human Rights Watch eleva o número para mais que o dobro (7.000).

A reação internacional a esse flagrante desrespeito ao devido processo legal não é acompanhada nas Filipinas: 86% dos consultados pelo Pew têm uma visão favorável do presidente. Talvez porque a grande maioria (78%) diz que a sua situação econômica é boa.

Quando a economia vai bem, o governo de turno recebe boas notas.

É um clássico, em qualquer país, mas passa a ser uma patologia social quando a satisfação com a economia leva a fechar os olhos para a barbárie.

Otimismo pontual | Míriam Leitão

- O Globo

Pela primeira vez desde o início da era do real, o Brasil pode ter alguns anos seguidos de inflação baixa e juros em níveis que quebram o recorde. Isso está na base do otimismo que cerca a conjuntura brasileira, apesar das ameaças econômicas e políticas. Na semana passada, alguns bancos e consultorias refizeram os cálculos das projeções de crescimento para este ano e o próximo.

O mercado oscila em fases de otimismo e pessimismo. Não por ciclotimia, mas por interesse. Os ganhos se realizam muito mais nas mudanças de humor do que nas fases de alta. Mas desta vez os economistas apontam os fatos que não são comuns na vida brasileira. Normalmente, a inflação caía para logo em seguida subir. Com os juros, acontecia o mesmo sobe e desce. Agora muitos calculam que há uma grande chance de se quebrar esse paradigma.

A inflação caiu de forma impressionante e puxada pelos alimentos. Houve uma reversão de mais de 16 pontos na inflação de alimentos quando se compara o ano passado, em agosto, com o agosto deste ano, em que o Brasil está com deflação em alimentos. A queda não foi causada pela recessão, mas sim por uma extraordinária oferta neste ano em que o país está tendo a vantagem de um crescimento de 13% no PIB agrícola e abundância de safra.

Doria murcha um pouco, Meirelles brota | Vinicius Torres Freire

- Folha de S. Paulo

João Doria desinflou. Não tanto quanto o preço de batatas e feijões, que baixou quase 50% em um ano, animando os sonhos de supremo poder de Henrique Meirelles, a flor de candidato deste início de primavera. Mas o prefeito de São Paulo murchou um tanto.

Ironia à parte, o desencanto precoce com Doria reanima a feira de candidaturas: um ex-ministro do Supremo, o ministro da Fazenda ou qualquer um que queira ao menos fazer nome em eleição nacional e faturar a lembrança em disputas futuras.

Doria brotou rápido, no Carnaval. Nos 15 dias finais de fevereiro, passou de rumor em festas de ricos a nome para bater Lula. Não tinha dois meses de prefeitura.

Mas o prefeito não disparou nas pesquisas. Na prática, anda empatado com Geraldo Alckmin, que é carne de pescoço e resistiu à onda de deslumbre doriano. Tem máquina e 40 anos de política. Ao fim do mandato, terá sido governador por quase 14 anos, uma Angela Merkel do conservadorismo paulista, mal comparando.

Juro baixo à frente | Samuel Pessôa

- Folha de S. Paulo

O Banco Central (BC) divulgou na quinta-feira da semana que passou o Relatório Trimestral de Inflação, o famoso RTI. Nesse documento, o BC divulga suas principais projeções e sua análise do cenário macroeconômico doméstico e internacional, que pautam as ações do órgão regulador do sistema financeiro e tutor da estabilidade monetária.

O item mais aguardado do RTI são as simulações que o BC apresenta, considerando diversos cenários, para a inflação futura.

Nessa edição do RTI o Banco Central inovou, aumentando muito a transparência do relatório. Corajosamente, o BC divulgou suas projeções para um horizonte muito mais longo do que habitualmente fazia. Em vez dos nove trimestres habituais, o horizonte de projeção foi alongado para 14 trimestres.

Fora da UTI, a economia enfrenta o risco político | Rolf Kuntz*

- O Estado de S.Paulo

Devagar, o País volta a se mover com o mundo, mas há o perigo dos populistas e salvadores

Depois de afundar 7,2% em dois anos, na pior recessão registrada nas contas nacionais, o Brasil, ainda em convalescença, poderá avançar 0,7% em 2017 e 2,2% em 2018, segundo as novas projeções do Banco Central (BC), apresentadas em seu relatório trimestral de inflação. Bom augúrio, nesta altura, é qualquer estimativa acima de 0,5%, expectativa anunciada no relatório anterior, em junho. Na onda de otimismo, com previsões de 0,6% para 2017 e 1,6% para o período seguinte, entrou também o pessoal da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Esses números podem justificar a queima de alguns foguetes: se validados pelos fatos, confirmarão a saída do País da UTI.

A sequência deve ser outra história, ainda obscurecida tanto pela fragilidade estrutural da economia brasileira, depois de muitos anos de erros e desmandos, quanto pela incerteza associada a fatores políticos. A recuperação do País parece quase nada quando se leva em conta o desempenho da maior parte do mundo. A economia global deve crescer 3,5% neste ano e 3,7% no próximo, segundo a OCDE. Para os Estados Unidos, os cálculos apontam 2,1% e 2,4% nestes dois anos. Para a zona do euro, 2,2% e 2,1%. Para a China, em reestruturação, 6,8% e 6,6%.
Para a Índia, atualmente o mais dinâmico dos emergentes, 6,7% e 7,2%. Para a Rússia, recém-saída de uma recessão, 2% e 2,1%.

O cerco à Rocinha | Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

Os traficantes cariocas dispõem de uma topografia favorável, enraizamento social e fonte permanente de financiamento: a venda de drogas

Quem leu Os Sertões (1902), de Euclides da Cunha, e Abusado (2003), de Caco Barcellos, traça um inevitável paralelo entre a iniquidade social que deu origem ao povoado de Canudos, no sertão baiano, e a do Morro Dona Marta, na encosta de Botafogo, no Rio de Janeiro. Os Sertões conta a história de Antônio Conselheiro, um líder messiânico; Abusado, a de Marcinho VP, um traficante carioca. O soldado do tráfico é um jagunço urbano. Euclides de Cunha fez a cobertura da quarta campanha de Canudos (1896-1897) para o jornal O Estado de São Paulo. Seu livro, porém, escandalizou a opinião pública. Além de revelar a miséria e o abandono dos habitantes do interior do país, desnudou o despreparo do Exército para lidar com a situação.

Na terceira campanha contra Canudos, o coronel Moreira César, que havia reprimido a Revolução Federalista (1893-1895) e fora enviado pelo presidente Prudente de Moraes para acabar com a rebelião, liderou um desastre. Com canhões Krupp e armas de repetição, seus 1.300 soldados invadiram o arraial de 5 mil casebres com facilidade. Os jagunços não ofereceram resistência, bateram em retirada para os arredores, na caatinga, de onde fustigaram as tropas federais durante a noite. Moreira César foi morto por uma bala traiçoeira e a tropa se desorientou, perdida entre palhoças incendiadas. O tenente-coronel Tamarindo, que assumira o comando, ordenou a retirada: “É tempo de murici; cada um cuide de si!”. A fuga virou carnificina:

Flores do mal | Cacá Diegues

- O Globo

Aos ricochetes, a favela se tranca, os meninos não vão para a escola, os pais não saem para o trabalho, as mães choram, como já vi tantas chorarem

É primavera! O sol capricha e brilha de cara para a linha do Equador. Por uns dias, os dias serão iguais nos dois hemisférios, com a mesma duração das noites para igual curtirem trabalhadores e boêmios, atletas madrugadores e poetas crepusculares. Embora, como Verissimo diria, não seja hora para poesia, a cidade floresce, pelo menos a nossos olhos, a pedir para que não seja abandonada.

A primavera chegou, está aí mesmo. Tem bosta no mar, tem lixo na rua, tem o homem armado a pedir seu celular. Mas essa lua é sua e só você a sabe usar, gente dessa cidade.

De arma em punho, o punho cerrado, os bandidos passeiam armados e os soldados os repetem. Ambos se protegem atrás de nós, somos a barreira inútil que impede o fracasso de suas missões. O tiroteio entre a mata e a estrada só atinge a quem está no meio das duas. E dos dois.

Aos ricochetes, a favela se tranca, os meninos não vão para a escola, os pais não saem para o trabalho, as mães choram, como já vi tantas chorarem, mesmo diante de uma câmera. Tudo isso se tornou normal, desinteressante para quem pode se desviar do horror pela hipnótica beleza da Vista Chinesa e, se tiver mais tempo, pelo encanto das Paineiras. A Rocinha que se dane, ninguém tem nada a ver com isso. Nem mesmo seus próprios moradores.

Partidos desafiam TSE e mantêm estrutura que dá poder a cúpulas

Joelmir Tavares | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Partidos políticos descumprem uma decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e mantêm estruturas de direção pelo país que fortalecem o poder dos líderes nacionais e estaduais das legendas.

Uma resolução da corte de 2015 determinou que os partidos reduzissem o número de comissões provisórias –executivas criadas em cidades e Estados onde o partido acaba de se instalar e que devem durar no máximo 120 dias.

A abertura dos comitês temporários é permitida, mas o problema é que muitas siglas abusam do recurso para manter como lideranças locais pessoas nomeadas por seus "caciques", enfraquecendo o papel dos filiados.

Como esses dirigentes não são eleitos nem cumprem mandatos –e ainda podem ser trocados a qualquer momento por decisão de instâncias superiores–, isso contribui para a ausência de democracia interna nas siglas.

A avaliação é tanto do TSE quanto de organizações que cobram mudanças para tornar os partidos menos sujeitos à ação de "donos". As consequências, dizem, vão desde a baixa renovação de quadros até a limitação para lançamento de novos candidatos, já que as cúpulas detêm o poder de escolha.

Os partidos fecharam agosto com 44.008 comissões provisórias. No início do mesmo mês, todos já deveriam ter adequado seus estatutos para deixar claro que as juntas temporárias tenham prazo máximo de funcionamento.

O TSE já havia estendido o prazo dado às siglas. A primeira data para adequação era 3 de março de 2016. Numa concessão, os ministros da corte dispensaram da adesão ao prazo de 120 dias partidos que estipulem em seus regimentos "prazo razoável" para validade das comissões.

Balões para 2018 – Editorial | Folha de S. Paulo

Mostra-se tão intenso o descrédito dos políticos e dos partidos que, com relação às candidaturas presidenciais para 2018, a coisa certa a dizer seria que tudo parece possível, e nada parece provável.

Contando com indiscutível trânsito nos meios empresariais e tendo a oferecer ao eleitorado em geral apenas os resultados até agora obtidos por sua atuação na pasta da Fazenda, Henrique Meirellesestaria longe de constituir, em condições normais, objeto de cogitação numa disputa ao Planalto.

Seja como for, o ministro ensaia alguns passos para além dos círculos financeiros e administrativos. Ei-lo, segurando o que aparenta ser uma Bíblia, numa mensagem gravada em que pede apoio dos "evangélicos cariocas"; o mês de outubro, informa o vídeo, será "de oração pela economia".

A movimentação conta com a bênção, se se pode dizer assim, da bancada de seu partido, o PSD.

Ex-presidente do Banco Central no governo Lula –e, em tempo de vacas gordas, presidente do conselho de administração da holding que controla a JBS–, Meirelles reagiu com "entusiasmo" à proposta de que se lance candidato, segundo Marcos Montes (MG), líder do partido na Câmara dos Deputados.

Um diagnóstico sensato – Editorial | O Estado de S. Paulo

Os tempos de crise colocam obstáculos à reflexão objetiva dos assuntos. Tudo parece ficar distorcido. Nesse ambiente, ganham especial importância as vozes que conseguem jogar luzes sobre os reais problemas nacionais. Sem um diagnóstico claro é difícil construir soluções efetivas. Nesse sentido, merece atenção a análise do Judiciário e de suas instituições que vem sendo feita pelo desembargador federal Fábio Prieto, ex-presidente do Tribunal Regional Federal (TRF) da 3.ª Região e, desde o mês passado, juiz efetivo do Tribunal Regional Eleitoral (TRE).

Em recente participação no programa Roda Viva, da TV Cultura, Fábio Prieto abordou um tema que é considerado tabu na Justiça – as deficiências da reforma do Poder Judiciário. Entre outros efeitos daninhos, a reforma de 2004 gerou um sistema de Justiça com quatro conselhos – Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Conselho da Justiça Federal (CJF), Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT) e Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Essa estrutura é cara e, ainda por cima, disfuncional. “O teto salarial foi fixado, mas até hoje não foi respeitado”, lembrou o desembargador. Além disso, o próprio sistema de controle é pouco transparente. O relatório Justiça em Números, do CNJ, cujo objetivo é justamente apresentar à população a realidade do Judiciário, não divulga os gastos do CNJ e dos outros conselhos.

Não deve haver desentendimentos entre PF e MP – Editorial | O Globo

Há conhecidas divergências entre policiais federais e procuradores, sempre em torno de espaços de poder, mas estas rixas terminam ajudando o crime organizado

Embora seja fator essencial para o enfrentamento bem-sucedido do crime organizado e da corrupção em particular, o relacionamento entre a Polícia Federal e o Ministério Público tem sido uma história pontilhada por desentendimentos.

O conflito entre as duas corporações vem de longe. Delegados da PF não aceitavam, por exemplo, que o MP, robustecido pela Constituição de 1988, tivesse poderes de investigação, como acontece em muitos países, com sucesso. Até que, em 2015, o Supremo reconheceu esta prerrogativa dos procuradores, guardados limites.

Há, agora, a discussão sobre se a PF pode firmar acordos de delação premiada, o que contraria procuradores. Ora, trata-se de uma luta por espaços de poder da qual apenas se beneficiam os criminosos de colarinhos de todas as cores. A começar pelos brancos.

Esquerda já traça cenário para 2018 sem Lula

Partidos de centro esquerda, inclusive tradicionais aliados do PT, devem lançar candidatos próprios à Presidência em disputa ‘pulverizada’

Ricardo Galhardo e Vera Rosa | O Estado de S.Paulo

A incerteza em relação ao futuro político do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz com que os partidos de centro-esquerda, inclusive tradicionais aliados do PT como PC do B e PDT, já adotem estratégias para 2018 com cenários sem a participação do petista.

Se Lula for condenado em segunda instância e não puder concorrer, os antigos aliados do PT não parecem dispostos a se unir. A ideia, nesse caso, será investir na disputa “pulverizada”, com muitos candidatos do mesmo espectro político.

Parceiro histórico do PT, o PC do B, por exemplo, já se prepara para fechar outras composições eleitorais. O receio do partido é esperar Lula indefinidamente – já que a estratégia do PT consiste em levar a candidatura do ex-presidente até o último recurso jurídico – e depois ficar “a ver navios”.

Justiça deve barrar candidatura de Lula, prevê PT

Em contraste com versão oficial do partido, cresce percepção de que a Justiça não permitirá uma sexta candidatura do ex-presidente

Ricardo Galhardo |O Estado de S.Paulo

Oficialmente o PT diz que a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é “irreversível” e “irrevogável”. A presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, afirmou que, mesmo que o Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) ratifique a condenação, Lula pode recorrer às instâncias superiores.

Na realidade, no entanto, a percepção de que a Justiça dificilmente permitirá que Lula concorra pela sexta vez à Presidência é cada vez maior.

Algumas semanas atrás um colaborador próximo do ex-presidente chegou a sugerir que, diante da indefinição do cenário, Lula dedique o restante de 2017 a elaborar um bom programa de governo e deixe para o ano que vem a definição sobre o candidato.

O “conselheiro” ponderou outros fatores além do cerco fechado pela Lava Jato, como as incertezas sobre a reforma política e a Judicialização da campanha. Mas, segundo pessoas próximas, a reação de Lula foi “extremamente negativa”.

Na semana passada, em conversa com deputados estaduais do PT, o advogado Pedro Serrano, referência jurídica da esquerda, disse que, embora considere Lula inocente, acredita que o Judiciário sofre forte influência política e, portanto, a probabilidade maior é de que a condenação seja mantida. Mas também lembrou a possibilidade de recursos.

PT e PMDB negociam alianças em cinco Estados no Nordeste

Rompidos na esfera nacional desde o impeachment, partidos negociam acordos regionais para 2018

Igor Gadelha | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Rompidos no plano nacional desde o impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff, PT e PMDB já negociam alianças para as eleições de 2018 em pelo menos cinco dos nove Estados do Nordeste. A aproximação se dá por uma combinação de fatores. A força que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda tem na região atrai os peemedebistas, ao passo que o fato de o PMDB ser o partido com maior tempo de TV e ter o maior número de prefeituras do País é um atrativo para o PT.

O caso mais emblemático é o do Ceará. No Estado, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), vem conversando com o governador Camilo Santana (PT) para estarem juntos na mesma chapa em 2018. Pelas negociações, Eunício apoiaria a reeleição do petista. Em troca, o peemedebista garantiria para ele uma das duas vagas de senador na chapa de Santana. A outra vaga deve ir para o ex-ministro Cid Gomes (PDT), irmão do ex-ministro Ciro Gomes, pré-candidato a presidente da República.

Alckmin x Doria vai ditar rumo político do PSDB

Enquanto governador se apresenta como opção de centro, prefeito encarna discurso mais à direita para 2018

Silvia Amorim | O Globo

SÃO PAULO - O dilema do PSDB entre o governador Geraldo Alckmin e o prefeito João Doria para a vaga de presidenciável em 2018 não se restringe a buscar o candidato mais competitivo. A escolha vai ditar em que campo político o partido se apresentará na próxima eleição: se permanecerá como uma opção de centro ou se vestirá uma roupagem mais à direita. À distância, Alckmin e Doria parecem ter poucas diferenças. Porém, o clima de disputa entre os dois pela vaga de candidato ao Planalto tem evidenciado, a cada dia, profundas divergências.

No campo administrativo, enquanto o prefeito defende publicamente privatizações em larga escala — da Petrobras, da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil —, o governador desconversa sobre o assunto. Perguntado este mês sobre a proposta de Doria, Alckmin encerrou a conversa sem se posicionar: — Não tenho estudos sobre isso. Na eleição de 2006, contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a fama de privatista do PSDB custou caro a Alckmin. Embora o governo paulista seja pioneiro em parcerias público-privadas no país, Alckmin se mostra mais comedido que Doria.

É, entretanto, no discurso político que se revela a diferença mais marcante entre os dois até o momento. A narrativa de cada um para o enfrentamento com o PT, adversário histórico, segue estratégias opostas. O episódio da condenação de Lula na Lava-Jato foi emblemático. Enquanto Doria foi às redes sociais comemorar a sentença do juiz Sergio Moro, se referindo ao petista como “o maior cara de pau do Brasil”, Alckmin, até hoje, não se manifestou.

Doria e Alckmin começam a esboçar trégua

Igor Gielow | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Cientes do risco de implosão do PSDB devido a seu cabo de guerra, Geraldo Alckmin e João Doria apresentaram cartas de conciliação para tentar garantir a parceria entre ambos em 2018.

Tanto o governador paulista quanto seu afilhado político, prefeito de São Paulo eleito no primeiro turno em 2016, querem ser candidatos à Presidênciano ano que vem.

A alta temperatura da troca de farpas entre os dois nas últimas semanas, contudo, colocou em alerta o tucanato, que teme uma cisão que comprometa a posição majoritária do partido no campo governista em 2018 –não por acaso, DEM e PMDB vêm buscando se cacifar falando em candidatos próprios.

A sinalização de trégua veio de parte a parte, embora haja caciques do tucanato que duvidem de sua eficácia.

Alckmin disse a interlocutores que considera legítimo o pleito de Doria de ser candidato, e o prefeito sinalizou que não despreza o desejo de seu padrinho político de vê-lo candidato a governador.

Aliados lembram que Alckmin topou ser secretário estadual do rival tucano José Serra enquanto se preparava para retomar o Bandeirantes, sinalizando desprendimento.

Tristeza | Graziela Melo

Está minha alma,
o tempo,
a vida!!!


no ar
um certo ar
de despedida!!!
Foram-se
os entes
queridos,

restaram
dores,
saudades
e um coração
ferido!

O tempo
corre atrás
do tempo

e o aborda
no meio
do caminho!
A morte
deixou
as dores,
o sofrimento
e uma
triste alma
solitária e
sem carinho

Paulinho da Viola - Meu mundo é hoje