quinta-feira, 19 de abril de 2012

OPINIÃO DO DIA – Habermas: democracia e bem comum

O que mais me inquieta é a injustiça social, que consiste no fato de que os custos socializados oriundos da pane do sistema atingem da forma mais dura os grupos sociais mais vulneráveis. Assim, solicita-se da massa composta por aqueles que, de qualquer modo, não pertencem aos que lucram com a globalização que ela de novo pague pelas conseqüências, em termos da economia real, de uma falha funcional previsível do sistema financeiro. Também em escala mundial, esse destino punitivo efetua-se nos países mais fracos economicamente. Esse é o escândalo político. Mas apontar agora bodes expiatórios, isso, sem dúvida, considero hipocrisia. Também os especuladores comportaram-se de forma conseqüente, nos limites da lei, de acordo com a lógica, aceita socialmente, da maximização dos ganhos. A política se torna ridícula quando moraliza, em vez de se apoiar no direito coativo do legislador democrático. Ela, e não o capitalismo, é responsável pela orientação voltada ao bem comum.

HABERMAS, Jürgen (Düsseldorf, 18 de Junho 1929) é um filósofo e sociólogo alemão, entrevista . Folha de S. Paulo/Mais, 10/11/2008.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Sob pressão oficial, bancos privados reduzem os juros
BC também corta; poupança ganha
Positivo, operante?
CPI: Lula e Sarney orientam blindagem

FOLHA DE S. PAULO
Bancos privados cedem a Dilma e barateiam crédito
Caso Cachoeira: ‘Vou quebrar’
Empresa abastecida por Cachoeira fez doação para governador tucano
Brasil alertará turistas sobre violência na Venezuela

O ESTADO DE S. PAULO
Selic cai para 9%; País deixa de ser líder em juros reais
Rede abastecida pela Delta fez doações eleitorais

VALOR ECONÔMICO
Desempenho das receitas barra novas desonerações
BC sustenta altas seguidas do dólar
A receita de Peluso para o mensalão
Lei do Bem começa a dar resultados

CORREIO BRAZILIENSE
Senado votará fim de privilégio histórico
PMDB dá as cartas na CPI
Crédito: BC e bancos privados voltam a cortar juro
Pela 1ª vez, uma mulher preside o TSE
Petróleo: Cresce a pressão contra os argentinos

ESTADO DE MINAS
Enfim, grandes bancos reduzem juros
9%: É a nova Selic, cortada em 0,75 ponto pelo BC
PMDB traça estratégia para controlar a CPI
Mesa aprova fim de 14º e 15º salários

ZERO HORA (RS)
Produção de soja deve cair pela metade no RS
BC reduz taxa a 9% ao ano
Proposta reduz gasto com a União

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Juro cai em mais bancos
Será instalada hoje a CPI do Caso Cachoeira

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

De uma CPI seletiva contra a oposiçãoa outra ampla e temida pelo governo :: Jarbas de Holanda

Longo encontro no início de abril, entre Lula e seu ex-chefe da Casa Civil José Dirceu – do qual a imprensa deu notícia – teve como conclusão que uma CPMI sobre as relações do contraventor Carlos Cachoeira com políticos e algumas autoridades cumpriria importante papel para o ex-presidente e seu partido: esvaziar ou propiciar o adiamento da decisão do STF sobre o mensalão, às vésperas de julgamento. Desviando a indignação da sociedade para outro escândalo, inclusive com o bloqueio das mobilizações populares que começam a ser feitas de cobrança dessa decisão, ou ao menos servindo para diluir os crimes dos seus réus (assim tipificados pela Procuradoria Geral da República), nivelando-
os, pluripartidariamente, aos de integrantes de várias legendas, sobretudo de oposicionistas.

Tal conclusão foi articulada a instruções com dois objetivos: a garantia de seletividade da CPMI por meio da restrição dela às relações de Cachoeira no Congresso e no estado de Goiás (no máximo com a extensão ao Distrito Federal), e a capitalização política da iniciativa pelas lideranças petistas no Senado e na Câmara. Instruções postas em prática logo nos dias seguintes – sem necessidade de acerto prévio com a presidente Dilma Rousseff, em viagem ao exterior – para surpresa da direção do PMDB e demais partidos da base governista.

Eis, porém, que o desencadeamento das diretivas lulopetistas coincidiu com novas e mais significativas revelações públicas a respeito de negociatas, tráfico de influência e fortes vinculações empresariais do esquema de Cachoeira. Revelações que puseram em xeque a seletividade antioposicionista do inquérito legislativo a ser instaurado. A principal delas indicando que a maior fonte das receitas ilegais do esquema teria sido a construtora Delta, que no governo Dilma passou a concentrar os contratos mais vultosos de obras do PAC.

O conjunto da mídia reflete a mudança do tratamento e da percepção social do escândalo protagonizado por Carlos Cachoeira, com o deslocamento para plano menor do senador Demóstenes Torres. Seguem-se manchetes e abertura de reportagens de ontem de alguns jornais. Da Folha de S. Paulo – “PT agora tenta
adiar CPI do caso Cachoeira”. “O temor de que as investigações... passem a respingar em membros do partido ou do Palácio do Planalto fez integrantes do PT começarem a trabalhar pelo adiamento da CPI no Congresso”. Do Estadão: “Diante do alerta do Palácio do Planalto sobre os riscos de desgaste do governo, tomou corpo no Congresso, com ajuda base governista, uma ‘operação abafa’ na CPI a ser instalada nos próximos dias”. Mais adiante: “A ‘operação abafa’ é resultado de pressão da presidente Dilma Rousseff para que setores do PT defensores da CPI do Cachoeira tenham calma e não usem a Comissão como palco de vingança, o que poderia causar danos políticos ao Palácio do Planalto”. Por seu turno, o Globo divulgou gravação, que não consta do inquérito da Polícia Federal sobre o caso Cachoeira, de um diálogo com um ex-sócio no qual o presidente da Delta, Fernando Cavendish, “fala dos milhões necessários para se ter abertas as portas políticas” para contratos. E o Jornal Nacional da Globo, de anteontem, levou ao grande público informação de outro ex-sócio da Delta vinculando um salto das receitas da construtoras com obras federais à contratação do ex-ministro José Dirceu como consultor.

Com a avaliação, predominante, de que não há mais como impedir sua convocação, essa CPMI – com o sucesso ou não da ‘operação abafa’ – provavelmente frustrará o grande objetivo do lulopetismo de usá-la para esvaziar o mensalão, podendo ao invés disso ensejar ao Congresso um significativo papel de combate à corrupção (com o que, como assinalou ontem a coluna de Raymundo Costa, no Valor “Dilma perderia a exclusividade da faxina moral”, trabalhada para denegrir e debilitar o Legislativo diante do Executivo). Mas a tentativa de manipulação da CPMI com tal objetivo (ainda não inteiramente afastado) foi, ou é, apenas um dos vários estratagemas que o lulopetismo está pondo em prática para neutralizar ou inviabilizar o julgamento este ano das ações do mensalão (segundo os dois últimos Procuradores Gerais da República, a “organização criminosa” denunciada e interrompida no primeiro governo Lula. Estratagema objeto da reportagem de capa da Veja desta semana: “Mensalão. A cortina de fumaça do PT para encobrir o maior escândalo de corrupção da história do país. Do qual a peça-chave são as pressões que estão sendo feitas sobre os membros do STF para protelação do julgamento e, sobre alguns, para absolvição dos mensaleiros, ou pelo menos de parte deles.

Jarbas de Holanda é jornalista

PMDB dá as cartas na CPI

Enquanto um abatido Demóstenes vagava pelo senado, o PMDB decidia: quer pôr Jucá (RR) na presidência da CPI do Cachoeira, que será instalada hoje, e escalar Eduardo Braga (AM) para defender o governo na Comissão. No PT, reinava a indefinição. Um grupo defende que a relatoria seja entregue a Vaccarezza (MG), outro prefere Odair Cunha (MG)

A cartada do PMDB

Cúpula peemedebista quer o senador Romero Jucá como presidente da CPI do Cachoeira. Já o líder do governo, Eduardo Braga, ficará com a tarefa de defender o Planalto durante as investigações. PT não se entende na escolha do relator da comissão parlamentar de inquérito

Paulo de tarso Lyra, Erich Decat

Enquanto o PMDB define sua estratégia para perturbar o governo na CPI Mista que investigará os negócios do bicheiro Carlinhos Cachoeira com agentes públicos e privados, o PT não se entende sequer para escolher o relator da comissão. O PMDB deve indicar o senador Romero Jucá (RR), ex-líder do governo na Casa, para presidir a Comissão e o atual líder, Eduardo Braga (AM), para desincumbir o partido da tarefa de defender no Planalto. Já na Câmara, o clima de tensão entre as diversas correntes do PT, adormecido desde a escolha do líder da bancada em fevereiro, voltou a aflorar nos bastidores da Casa. O partido não consegue definir se o relator será Cândido Vaccarezza (PT-SP) ou Odair Cunha (PT-MG).

Jucá será o vetor político de atuação do grupo ligado ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e Renan Calheiros (PMDB-AL). Particularmente, ele resiste à ideia de presidir a comissão. Mas o partido sonha com isso e, para não parecer uma afronta tão grande ao Planalto, alega que Jucá tem "bom conhecimento de leis, é estudioso e não vai se enrolar em uma CPI que pode transformar-se em guerra". E mais: os peemedebistas indicaram Eduardo Braga, justamente o substituto de Jucá, para a CPI. Como líder do governo, ele tem assento automático na comissão, mas não tem poder de voto. "Vai que alguém resolve convocar um ministro para depor? Braga só poderia discursar contra, agora ele vai também poder votar", ironizou um peemedebista.

Os demais nomes do bloco também deverão estar ligados a Renan. Dentre eles, o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) e Ciro Nogueira (PP-PI). Não está descartada a inclusão do próprio Renan e de Eunício Oliveira (PMDB-CE). A principal resistência à composição do bloco vem do senador Roberto Requião (PMDB-PR). Dissidente do grupo de Renan, ele trabalha para garantir uma das cadeiras na CPI, o que não agrada ao Palácio do Planalto.

A estratégia do PMDB é linear, sem tergiversações em nenhuma instância partidária. Ontem, durante visita a Sarney, que se recupera de uma angioplastia e de um cateterismo em São Paulo, o vice-presidente da República, Michel Temer, concordou que a CPI tem que ser "justa, completa e sem jogadas espalhafatosas". No Senado, a tese levantada é "não politizar a comissão, atendo-se às informações contidas nos inquéritos e em seus desdobramentos".

Nas entrelinhas, significa que o partido não vai proteger ninguém que se envolva nas denúncias, independentemente se for um integrante da oposição, um aliado da presidente Dilma Rousseff ou um integrante direto do governo. Segundo afirmaram interlocutores do PMDB ao Correio, Sarney, que sempre agiu como bombeiro em crises políticas anteriores, não atuará da mesma maneira agora. "Ele está tranquilo. O Congresso instaurou a CPI arquitetada pelo ex-presidente Lula. Não era isso o que ele queria?", afirmou um aliado do presidente do Senado.

Atrito

O PMDB está uníssono, mas o PT está em descompasso. Caberá ao partido na Câmara indicar o nome que será responsável por elaborar um relatório que poderá culminar no pedido de cassação de colegas. Segundo o líder do PT na Casa, Jilmar Tatto (SP), a decisão pode sair até a próxima terça-feira, prazo definido para que os partidos indiquem os integrantes da CPI.

Um dos nomes cotados para o posto, que inclusive teria o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é o de Cândido Vaccarezza (SP). "Eu não sou candidato, ficam levantando o meu nome e, se não sai, aí dizem que foi mais uma derrota minha", despistou Vaccarezza. Apesar das negativas, nos bastidores, aliados do parlamentar começam um movimento de aproximação com a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, com quem manteve um relacionamento de muitos atritos quando era líder do governo.

Segundo petistas ouvidos pelo Correio, Ideli e o atual líder do governo, Arlindo Chinaglia (SP), são contra a indicação de Vaccarezza. Acham que ele, a exemplo de Jucá no Senado, guarda mágoas por ter sido afastado do cargo de líder do governo na Câmara e poderia usar a função para se vingar do Planalto. No grupo de Chinaglia, do qual fazem parte Tatto e o presidente da Câmara, Marco Maia (RS), a opção seria Odair Cunha (MG), que atuou na CPI do Mensalão e conta, atualmente, com um cargo na diretoria de Furnas — Luiz Fernando Paroli, diretor de Gestão Corporativa.

Os defensores de Vaccarezza alegam que ele levaria vantagem sobre Cunha pelo fato de ter mais "trânsito" entre os integrantes da base. Para tentar desfazer o impasse, cogitou-se uma terceira opção: o ex-presidente do PT Ricardo Berzoini (SP). Um possível entrave, no entanto, seria o fato de ele presidir a Comissão de Constituição e Justiça, o principal colegiado da Câmara. Também foi ventilado o nome do ex-líder da bancada Paulo Teixeira (SP), que nega a possibilidade de assumir o posto. "Estou em Roma para o encontro dos partidos progressistas. Estou longe dessas articulações", alegou. "Eu não sou candidato, ficam levantando o meu nome e, se não sai, aí dizem que foi mais uma derrota minha", diz Cândido Vaccarezza (PT-SP), deputado, sobre a indicação para ser o relator da CPI do Cachoeira

Dúvida

A cautela de peemedebistas e petistas para indicar os presidentes das Comissões de Constituição e Justiça do Senado e da Câmara — respectivamente Eunício Oliveira (PMDB-CE) e Ricardo Berzoini (PT-SP) — tem caráter mais jurídico do que político. Não existe a certeza se questionamentos contra a CPI Mista terão que ser analisados pelas duas CCJs, o que inviabilizaria a participação dos parlamentares como integrantes da comissão e, eventualmente, juízes em caso de recurso às comissões que presidem.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

CPI: Lula e Sarney orientam blindagem

O ex-presidente Lula, que convalesce do tratamento contra um câncer, e o presidente do Senado, José Sarney, que se recupera de uma cirurgia cardíaca no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, acompanham, mesmo de longe, os movimentos da CPI do Cachoeira. A orientação de Lula a quem o visita é para que PT e PMDB blindem o governo Dilma, indicando pessoas de confiança para a CPI que será criada hoje: 70 senadores e 337 deputados assinaram o requerimento. Os líderes tem até terça-feira para indicar os integrantes da comissão. Ontem, Lula e Sarney receberam no hospital um grupo de políticos do PMDB, entre eles, o vice-presidente Michel Temer e o presidente do partido, Valdir Raupp

Blindagem à distância

Lula e Sarney orientam estratégia da CPI para evitar impacto no Planalto

Maria Lima

TENTÁCULOS DA CONTRAVENÇÃO

A mais de mil quilômetros de Brasília, a dupla formada pelo ex-presidente Lula e pelo presidente do Senado, José Sarney, está orientando a estratégia da CPI Mista do Cachoeira _ que será criada hoje no Congresso, em sessão marcada para às 10h30m, pela vice-presidente do Congresso, deputada Rose de Freitas (PMDB-ES). Ontem, Lula e Sarney, em tratamento no Sírio-Libanês, receberam mais um grupo de políticos do PMDB. O mesmo Lula que incentivou a criação da CPI, a despeito dos alertas do próprio PMDB e de setores do PT, deu uma ordem expressa: os dois maiores partidos da base devem se unir e usar a maioria para blindar o governo Dilma Roussef e não deixar que a CPI respingue no Planalto.

Estiveram ontem com Lula e Sarney no hospital o vice-presidente da República, Michel Temer, o presidente do PMDB, Valdir Raupp (RO), o líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), e o ministro da Previdência, Garibaldi Alves. Na segunda-feira, Lula e Sarney - que já anunciou uma licença médica de 15 dias - receberam os líderes no Senado do PMDB, Renan Calheiros (AL), e do PTB, Gim Argelo (DF), e o do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), além do ex-líder Cândido Vaccarezza (PT-SP).

Segundo relato de um dos participantes da reunião de ontem, Lula, ao discutir a estratégia, mostrou preocupação com o direcionamento que a oposição pretende dar, priorizando as investigações na empreiteira Delta e no ex-ministro José Dirceu. Pediu que PT e PMDB usem a maioria para tratorar e impedir a aprovação de "requerimentos inconvenientes".

- Temos que usar a maioria para evitar o que for inconveniente. Vocês têm que unir os partidos aliados, colocar gente de confiança nos postos-chave, e não podem deixar que a CPI desvie do foco e contamine a área do governo - orientou Lula, conforme relatou ao GLOBO um dos interlocutores da dupla.

CPI só deve ser instalada na quarta

Na análise feita no que já está sendo chamado de o "QG do Sírio", Lula avaliou que o foco vai ficar restrito ao Centro-Oeste: os governadores Marconi Perillo (PSDB), de Goiás; Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e outros envolvidos com o esquema de Cachoeira. Um dos presentes alertou:

- O único risco é estourar alguém via Delta.

Politicamente, os partidos querem, com o ato de hoje, dar uma sinal de que a CPI não ficará no papel. Mas os líderes têm até terça-feira para indicar seus representantes. Assim, a CPI só deve ser instalada na próxima quarta-feira. A realização da sessão foi acertada em reunião de Rose de Freitas, à tarde, com os líderes dos partidos.

- Espero que todos compareçam. A tradição das CPIs é de muita eficiência nesta Casa. E esta foi criada em tempo recorde, com a coleta das assinaturas. Por isso, não acredito que os líderes fizeram tudo isso para fazer uma encenação. Há fatos concretos para serem investigados. Acredito que na quarta-feira a CPI seja instalada - disse a deputada.

Segundo a Secretaria Geral da Mesa do Senado, que confere as assinaturas, a CPI contava com o apoio de 70 senadores e 337 deputados, sendo que mais 24 deputados estavam tendo suas assinaturas checadas. Os parlamentares têm até a meia-noite da data de leitura do requerimento, portanto, meia-noite de hoje, para retirar assinaturas ou aderir ao pedido.

O PT deve utilizar todo o prazo regimental para formalizar os nomes que farão parte da CPI. O líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), que indicará três titulares e três suplentes, afirmou, mais uma vez, que o governo não vai interferir nos trabalhos:

- Tem que haver seriedade na investigação, e sem cerceamento. Não acredito que o governo vá interferir. Não é uma CPI contra o governo, contra a oposição, mas é para apurar o crime organizado que usou o Estado brasileiro de forma ilegal.

No Senado, o líder do PT, Walter Pinheiro (BA), disse que o partido ainda analisa os nomes, mas a ideia também é esperar até terça-feira. Sobre o processo de escolha dos nomes do PT na CPI, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), brincou que faz parte do DNA do PT debater muito. Sobre a investigação, disse que não pode ser palco de disputa política:
- A CPI não é para fazer mais um espetáculo. Àqueles que quiserem fazer apenas a disputa política, peço que não se escalem.

Já a oposição se organiza para ficar unida na CPI. O líder do DEM na Câmara, ACM Neto (BA), confirmou o que Lula e Sarney temem. Para ele, o alvo é o governo, e não apenas o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO):

- Temos que estar com os olhos abertos, com nível máximo de cobrança para que não acabe em pizza. Inicialmente, tinha como alvo a oposição, mas agora o alvo mudou.

Já prevendo o rolo compressor, os senadores Pedro Taques (PDT-MT), Pedro Simon (PMDB-RS) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) foram ontem à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para pedir que a instituição, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e o Movimento de Combate à Corrupção acompanhem os trabalhos da CPI.

- A ideia é montar uma comissão com entidades organizadas da sociedade civil para acompanhar e fiscalizar a CPI - disse Randolfe.

O líder e presidente do DEM, senador José Agripino (RN), disse que a sociedade não vai aceitar que a CPI investigue os adversários do governo e proteja os seus:

- A base governista não terá condições políticas de ocultar investigações perante a sociedade.

FONTE O GLOBO

Temer defende investigação com 'sobriedade'

SÃO PAULO. O vice-presidente da República, Michel Temer, disse ontem que a CPI Mista de Carlinhos Cachoeira não deve ser "local de discussão política". Para Temer, a investigação tem que ser pautada pela "sobriedade".

- A CPI, se se instalar, deverá agir com sobriedade, aquilo que cabe à CPI. Apurar fatos com muita sobriedade, com muita isenção, sem transformar a CPI num local de discussão política - disse Temer, ao deixar o Hospital Sírio-Libanês, pela manhã, em São Paulo.

Temer visitou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que estava no hospital para uma sessão de fonoaudiologia, e o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que se recupera de uma cirurgia cardíaca.

Segundo Temer, na conversa que tiveram Sarney não opinou sobre a CPI. Com Lula, o vice-presidente afirmou que também não tratou do assunto. Para Temer, o governo federal "não entrou nessa história" de CPI, "nem a favor e nem contra".

- Essa é uma matéria que cabe ao Congresso - disse.

O vice-presidente alertou para a imprevisibilidade da CPI:

- Sabemos que a CPI é sempre assim: começa com um fato determinado, e depois de alguma maneira, se indetermina, se espalha.

O senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) visitou Sarney no hospital. Segundo a assessoria de imprensa de Sarney, ambos tiveram uma conversa rápida, o teor não foi divulgado. (com G1)

FONTE: O GLOBO

Bancada fluminense a favor da CPI

No entanto, peemedebistas dizem que investigação pode respingar no governo

Maiá Menezes

BRASÍLIA. A maioria dos parlamentares do Rio, governistas ou de oposição, afirma que apoiou a criação da CPI Mista do Cachoeira e que a investigação é "irreversível". Entre os do PT, a ordem é seguir a orientação do ex-presidente Lula, que aposta na comissão como uma maneira de desmontar o que consideram "a farsa do mensalão". No PMDB, a opção pela CPI é vista com preocupação, mas considerada inevitável, a despeito de o estado, governado pelo peemedebista Sérgio Cabral, ter hoje R$ 1,4 bilhão em obras com a Delta Construções, investigada pela Operação Monte Carlo.

- O esquema Cachoeira era muito grande, alimentou setores que eram contra o governo, fazendo escutas ilegais. De 2003 até agora, houve uma articulação golpista. A gravação dos Correios (que originou a investigação do mensalão) foi feita de forma intencional por esse grupo. Quem se beneficiou das escutas ilegais vai defender que o passado não seja investigado - disse o deputado Edson Santos (PT-RJ), ex-ministro do governo Lula.

O deputado Nelson Bornier (PMDB-RJ) disse que, em 20 anos de Casa, nunca viu tanta unanimidade em torno de uma CPI.

- A partir do momento que chega a tal unanimidade, quem vai deixar de assinar? - disse Bornier.

Mesmo oficialmente fiéis ao governo, os deputados do PMDB do Rio têm previsão pessimista: com liberdade para quebrar sigilo, a CPI achará munição contra o governo. Um deles, o ex-prefeito de Caxias Washington Reis, disse ter assinado o documento de criação da CPI, mas admite que a comissão acaba perdendo "os horizontes e as fronteiras". Ex-contratante da Delta, como prefeito (R$ 29,8 milhões em sua gestão), Reis defendeu a empreiteira:

- Quem faz um grande volume de obras tem os melhores contratos. A empresa tem know-how e estrutura. No meu caso, reduzi em 40% o valor do contrato com o lixo.

Para Leonardo Picciani (PMDB-RJ), a CPI é "suprapartidária". Ele afirma que não recebeu qualquer orientação de Sérgio Cabral para não assinar a CPI:

- A empreiteira tem contrato em mais de 20 estados, feitos dentro da legalidade. Como integrante da base, digo que não há irregularidades nas obras do PAC. Agora, quem pretende discutir assuntos do passado, como o mensalão, vai acabar forçando a barra.

FONTE: O GLOBO

Rede abastecida pela Delta fez doações eleitorais

Investigação da Polícia Federal mostra que a Alberto e Pantoja Construções, empresa de fachada cuja única fonte de renda identificada era a Delta Construções, repassou recursos a companhias que fizeram doações a campanhas em Goiás, área de influência da organização do contraventor Carlinhos Cachoeira. Duas empresas, que embolsaram R$ 210 mil da Pantoja, doaram R$ 800 mil para candidatos, informa Alana Rizzo. Entre eles, o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e o deputado federal Sandes Júnior (PP), citados nas investigações da PF por manter relações com o grupo. A CPI do Cachoeira será aberta hoje pelo Congresso. A oposição tem como alvo o Planalto. O governo quer vincular Cachoeira ao PSDB, a setores da imprensa, do Ministério Público e até do Judiciário

"Deltaduto" financiava campanhas eleitorais, aponta investigação da PF

Empresa de fachada repassou verba a pessoas jurídicas doadoras em 2010; Perillo foi beneficiado

Alana Rizzo

BRASÍLIA - O rastreamento do dinheiro injetado pela Delta Construções em empresas de fachada, segundo a Polícia Federal, e ligadas ao esquema do contraventor Carlos Cachoeira, revela que a empreiteira carioca montou um "deltaduto" para irrigar campanhas eleitorais. A CPI do Cachoeira, que será instalada na quinta-feira, 19, no Congresso, vai investigar os negócios do contraventor e seus elos com a construtora e políticos.

Empresas que receberam recursos da Alberto e Pantoja Construções Ltda., cuja única fonte de renda identificada pela Polícia Federal era a Delta Construções, abasteceram cofres de campanhas em Goiás, área de influência da organização criminosa de Cachoeira.

Segundo as investigações da Operação Monte Carlo da PF, a construtora de fachada (a Alberto e Pantoja) registrou operações atípicas durante o ano eleitoral, período em que movimentou R$ 17,8 milhões.

Duas empresas, que embolsaram R$ 210 mil da Pantoja, doaram R$ 800 mil a candidatos. Entre eles, o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e o deputado federal Sandes Júnior (PP-GO), ambos citados nas investigações da PF por supostas relações com a quadrilha.

Registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que, um mês depois das eleições, Perillo recebeu R$ 450 mil da Rio Vermelho Distribuidora, de Anápolis (GO). A empresa também doou R$ 30 mil para a candidata a deputado federal Mirian Garcia Sampaio Pimenta (PSDB).

A Rio Vermelho é citada em laudos da PF que mostram, a partir da quebra de sigilo bancário, transferências feitas pela Alberto e Pantoja em 2010 e 2011. O atacadista recebeu R$ 60 mil da empresa, que tem como procurador Geovani Pereira, homem de confiança de Cachoeira.

De acordo com a Rio Vermelho, a doação para Marconi foi legal e está registrada no TSE. Com relação ao repasse da Alberto e Pantoja, a empresa afirma que o valor é referente à venda de um carro para Cachoeira.

Marconi Perillo. Este não é o primeiro elo entre o governador de Goiás e as investigações da Monte Carlo. A então chefe de gabinete de Perillo, Eliane Pinheiro, pediu demissão depois que escutas telefônicas mostraram a servidora passando informações sigilosas sobre as operações policiais que tinham como alvo o esquema do contraventor. Perillo, que já confirmou ter se encontrado com Cachoeira, também é citado em conversas de integrantes da quadrilha que mostram a influência do grupo em seu governo, incluindo nomeações para cargos-chave.

Doadora de R$ 300 mil para a campanha do deputado federal Sandes Júnior (PP), a Midway International recebeu R$ 150 mil da construtora investigada pela PF. A empresa de suplementos alimentares transferiu o dinheiro em duas parcelas de mesmo valor (R$ 150 mil) em 22 e 28 de setembro de 2010.

Sandes Júnior também é citado em grampos da Monte Carlo. A Midway doou ainda R$ 20 mil para o ex-senador Leomar Quintanilha (PMDB-TO).

Wilton Batos Colle, da Midway, informou que pediu um empréstimo para uma empresa de Anápolis para fazer a doação. "Queria doar dinheiro para um grande amigo nosso, o deputado Sandes Júnior, mas estávamos sem dinheiro no caixa naquela época." Segundo o empresário, a empresa escolhida para a operação foi a Libra Factoring, de um irmão de Cachoeira, também investigada no inquérito da PF. "Foi uma operação legal e declarada. Só não sabíamos que quem estava fazendo o negócio era essa Pantoja", argumentou.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Empresa deve prosseguir com obras, diz Aldo

Ministro defende que Delta, investigada na CPI, continue com trabalhos para a Copa de 2014

Marcelo Portela

BELO HORIZONTE - O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, descartou ontem a possibilidade de prejuízo aos trabalhos de preparação do País para a Copa do Mundo de 2014 por causa das investigações da Polícia Federal em torno da Delta Construção. A empreiteira será um dos alvos da Comissão Parlamentar de Inquérito, a CPI do Cachoeira, que deve ser instalada hoje no Congresso.

A Delta é a empresa que mais recebe recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para fazer obras nas cidades-sede do Mundial. "Não vejo por que a investigação tenha que significar paralisia das obras", disse Rebelo, Na capital mineira, a Delta é responsável, com a Cowan, por obras nas Avenidas Antônio Carlos e Pedro I. Relatório técnico do Tribunal de Contas do Estado encontrou indícios de superfaturamento de R$ 6 milhões nas obras. A corte enviou ofício à prefeitura e à Superintendência de Desenvolvimento da Capital para que se manifestem sobre as irregularidades e, caso a resposta não seja satisfatória, o tribunal pode determinar a suspensão ou cancelamento do contrato.

Rebelo visitou ontem o Mineirão, a poucos metros de uma das obras nas quais o TCE apontou irregularidades. Ao lado de Rebelo, o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), disse que os projetos para a Copa são fiscalizados por órgãos federais e estaduais e classificou os indícios de irregularidades como "apenas uma discordância técnica" que "não vai prejudicar o andamento das obras". "Nos próximos dias encaminharemos as explicações ao TCE e, se tivermos que fazer ajustes, faremos." Rebelo espera que a CPI não prejudique outros preparativos necessários ao evento, como a aprovação da Lei Geral da Copa pelo Senado. "A CPI não pode significar paralisia das outras atividades."

Caça-níqueis. Aproveitando o embalo das investigações em torno da relação de políticos com Cachoeira, o deputado estadual Sargento Rodrigues (PDT) protocolou ontem na mesa da Assembleia Legislativa de Minas pedido de instalação de outra CPI, desta vez para investigar o envolvimento de policiais e "outros agentes públicos" com a exploração de caça-níqueis em Minas.

É a quarta vez que Rodrigues apresenta o requerimento. "Assim que apresento o pedido, a base do governo pega a lista e assedia os deputados para que eles retirem as assinaturas", disse. O Estado tentou falar com o presidente da Assembleia e o líder do governo na casa, os tucanos Dinis Pinheiro e Bonifácio Mourão, sem sucesso. Os dois tucanos que haviam assinado o pedido, Leonardo Moreira e Rômulo Viegas, retiraram as assinaturas antes da apresentação do requerimento.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Rio diz que Delta pode ficar sem contratos no Estado

Claudia Antunes e Paulo Gama

RIO, SÃO PAULO - O governo de Sérgio Cabral (PMDB-RJ) anunciou que examinará a possibilidade de declarar a construtora Delta inidônea, punição que a impediria de disputar licitações e fazer contratos com o Estado.

A base do exame é a gravação, divulgada no site do jornalista Mino Pedrosa, em que o dono da Delta, Fernando Cavendish, diz que é possível ganhar contratos públicos subornando políticos.

Cabral e Cavendish são amigos há anos. Em 2011, foram juntos no jato do empresário Eike Batista para o aniversário do dono da Delta na Bahia.

O secretário da Casa Civil, Regis Fichtner, disse que a Delta será notificada em breve e terá dez dias para se defender "em relação à possível declaração de inidoneidade".

A Delta disse em nota que a gravação, "clandestina e manipulada", foi captada ilegalmente numa discussão com os antigos controladores da Sygma Engenharia, hoje processados por ela.

Segundo Fichtner, a comissão que estudará o caso vai rever todas as licitações vencidas pela Delta em busca de sinais de irregularidade. Desde 2007, quando Cabral assumiu, a Delta recebeu do Rio R$ 1,16 bilhão, mais do que o triplo do valor recebido nos cinco anos anteriores.

Levantamento do deputado Luiz Paulo Correa da Rocha (PSDB) mostra que mais de 20% do valor empenhado para pagar a construtura em 2010 e 2011 corresponde a contratos sem licitação.

Fichtner disse que todas as construtoras receberam mais sob Cabral porque o Estado ampliou os investimentos e que os serviços contratados só com consulta de preço resultaram das chuvas de 2011.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Agnelo reúne aliados e consegue adiar CPI no Distrito Federal

Segundo parlamentares, houve oferta de cargos e negativa de que tenha havido grampo contra adversários

Governador negocia texto genérico, que exclua o seu nome e o de Cachoeira como alvos da investigação

Lúcio Vaz

BRASÍLIA - Após intensa negociação, o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), conseguiu impedir ontem a criação de uma CPI destinada a investigar grampos ilegais supostamente feitos pelo seu governo.

A oposição vai tentar agora instalar a comissão parlamentar de inquérito na próxima terça-feira.

Até lá, será negociado um novo texto, ampliando o período de investigação.

Em vez de se restringir ao atual governo, a apuração deverá começar a partir de 2002, como exigiu o governador em reuniões com os parlamentares aliados.

Os governistas também exigiram que sejam excluídos do requerimento de criação da comissão os nomes de Agnelo Queiroz, de Carlos Cachoeira e do chefe da Casa Militar, tenente-coronel Rogério Leão, acusado de ser o responsável por quebrar o sigilo de adversários do governador.

Ex-integrantes do governo de Agnelo também são acusados de ter relação com o suposto esquema de Cachoeira.

A sessão para criar a CPI estava marcada para ontem à tarde. Mas uma reunião na residência oficial do governador com os deputados foi estendida até às 17h, exatamente o horário em que a sessão da Câmara Legislativa foi encerrada por falta de quórum.

Agnelo, segundo parlamentares, ofereceu cargos e tentou convencer os aliados de que não houve espionagem.

As articulações haviam começado já na noite de terça, quando o governo foi surpreendido com o apoio consensual de 22 de 24 deputados à CPI proposta pela deputado Celina Leão (PSD), principal liderança da oposição.

O governador recebeu parlamentares no Palácio do Buriti até a madrugada de ontem.

Dentre os motivos identificados pelo governo para a rebelião estão a irritação da maioria dos deputados com o fato de terem sido supostamente espionados por agentes do governo.

Além disso, segundo o governo, o presidente da Câmara Legislativa, Cabo Patrício (PT), aproveitou para dar o troco em Agnelo, depois de ver um afiliado político perder o cargo de comandante-geral da Polícia Militar. Ele alega que não foi ouvido pelo governador.

Na reunião de ontem, Agnelo também manifestou irritação com a decisão de Celina Leão de pedir ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) a decretação da sua prisão preventiva sob a argumentação de que ele estaria atrapalhando as investigações.

A assessoria de comunicação do governo afirmou que Agnelo apoia a CPI, desde que o período de investigação seja ampliado.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Quem não queria a 'CPI do PT' – Editorial – O Estado de S. Paulo

Dizem os cínicos que o máximo que se pode esperar dos políticos é que os seus interesses coincidam com a vontade geral da sociedade. Se assim é, está-se diante de um desses raros casos. A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre as ligações do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com agentes públicos e privados nasceu da conjunção dos interesses contraditórios do PT, do DEM e do PSDB. O primeiro queria se desforrar do seu mais respeitado detrator no Congresso, o senador por Goiás Demóstenes Torres (DEM), ao se descobrir que o implacável Catão estava atolado até o pescoço em negócios com o chefe da batotagem no seu Estado. Também queria - acicatado pelo ex-presidente Lula - vingar-se do governador goiano Marconi Perillo, por ter o tucano tornado público que o alertara para a compra de votos de deputados em favor do governo antes que o escândalo eclodisse, com o rótulo de "mensalão". E queria a investigação, por fim, para ter algo com que ofuscar o julgamento dos delitos dos seus principais companheiros, previsto para os próximos meses deste ano eleitoral.

Para o DEM, por sua vez, era uma questão de sobrevivência ir a fundo na apuração das malfeitorias do senador, que se desligou da legenda para não ser expulso, e uma demonstração de coerência com a sua conduta diante de outros correligionários flagrados em lambanças. Além disso, achou uma bela oportunidade para levar ao pelourinho outro suspeito de relações espúrias com Cachoeira, o governador petista do Distrito Federal (DF), Agnelo Queiroz. Já o que abriu o apetite do PSDB pelo inquérito foi a chance de atingir o governo federal pela interposta pessoa jurídica da empreiteira Delta, detentora de R$ 3,6 bilhões - muito mais do que qualquer outra do ramo - em contratos de obras do PAC, a menina dos olhos de Lula e da gestora do programa, a ministra Dilma Rousseff, que ele guindou à sua cadeira. A Delta, uma empresa tentacular com serviços em 23 Estados e no DF, tinha uma alentada folha corrida no Tribunal de Contas da União (TCU) e na Controladoria-Geral da União (CGU) antes que as gravações da Polícia Federal descortinassem a sua rentável proximidade com o chamado sistema Cachoeira.

Não se quer dizer com isso que todos os 340 deputados e 67 senadores que subscreveram o pedido da CPMI - um número impressionante, vindo de onde veio - foram movidos por razões menos limpas do que a da busca da verdade no que parece ser um arranha-céu de corrupção com andares inteiros compartilhados pelos Poderes da República, delinquentes profissionais e empresas associadas a uns e outros. Mas não resta dúvida de que o cálculo político foi o que mais pesou na decisão de recorrer à mais poderosa ferramenta de investigação ao alcance do Legislativo - para bem do interesse público. Aliás, não passa dia sem que vazem novas evidências de que são mais estreitos, até do que parecia inicialmente, os vínculos entre o bicheiro Cachoeira, o governador Perillo, o senador Demóstenes e a construtora Delta. Já na esfera política chamam a atenção os fortes sinais de que o PT não recuou propriamente da proposta do inquérito ao se dar conta, segundo o noticiário, de que os seus perigos potenciais para o Planalto seriam maiores do que os ganhos visados pelo partido. Essa posição foi defendida, pelo menos em público, apenas por um punhado de seus parlamentares.

Quem não esconde a ojeriza à "CPI do PT", alegando os riscos imponderáveis que cria para o governo, são os caciques do PMDB. Não deixa de ser verdade, mas é lícito supor que o governo que têm em mente - sabendo que a investigação mergulhará nas operações da Delta - é o do correligionário Sérgio Cabral, amigo íntimo do dono da empreiteira, Fernando Cavendish.

Em 2009, este se jactou de como é fácil ganhar licitações, subornando políticos. No primeiro mandato do governador fluminense, o Estado repassou à empresa R$ 1,1 bilhão, dos quais R$ 148 milhões referentes a contratos sem licitação. No atual segundo mandato, já foram outros R$ 582 milhões. Na terça-feira, Cabral nomeou uma comissão de sindicância para auditar os contratos com a construtora.

Câmara de SP aprova cessão de área a Instituto Lula

Durante a sessão, houve tumulto e xingamento entre vereadores e manifestantes contrários à concessão do terreno

Leonardo Guandeline

SÃO PAULO. A Câmara Municipal de São Paulo aprovou, no fim da tarde de ontem, em primeira votação, o projeto de lei de autoria do prefeito Gilberto Kassab (PSD) que concede ao Instituto Lula, por 99 anos, uma área pública no centro da capital paulista onde hoje está localizada a Cracolândia. No local, será instalado um museu, batizado de Memorial da Democracia. A sessão da Câmara foi marcada por tumulto e xingamentos. Um manifestante contrário à proposta acusou o vereador Roberto Trípoli (PV) de agressão.

Durante o debate, que durou mais de duas horas, o clima esquentou. Trípoli, que é líder do governo na Câmara, subiu até a galeria, onde estavam alguns manifestantes do movimento "Revoltados Online", contrários ao projeto, e chegou a partir para cima do grupo. Houve discussão e troca de ofensas. Um dos manifestantes disse que foi golpeado na boca pelo vereador do PV.

Roberto Trípoli, no entanto, nega a agressão e afirma que houve apenas troca de xingamentos.

A confusão teve de ser apartada pela Polícia Militar (PM). Pouco antes do tumulto, os vereadores Carlos Apolinário (DEM) e Agnaldo Timóteo (PR) já tinham, em plenário, xingado os manifestantes, que gritaram durante a sessão.

Projeto tem um ano para ser apresentado

O projeto foi aprovado com 37 votos a favor, dez contra e uma abstenção, e será, agora, encaminhado para uma segunda votação antes de seguir para a sanção do prefeito.

Pela proposta, a prefeitura cederá um terreno de 4,3 mil metros quadrados, localizado na Rua dos Protestantes, onde o Instituto Lula pretende erguer um museu, batizado de Memorial da Democracia, que abrigaria o acervo documental referente ao mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e também ofereceria cursos para a população.

O Instituto Lula, segundo a Câmara Municipal, tem um ano para apresentar o projeto do edifício, a partir da aprovação da proposta do Executivo pela Casa, e mais um ano para iniciar as obras.

Outras cidades já haviam demonstrado interesse em receber as instalações do Instituto Lula, mas houve um entendimento entre o Executivo paulista e a administração do Instituto.

Kassab fez oferta quando se aproximava do PT

A proposta de concessão do terreno ocorreu em um momento em que Kassab buscava uma aproximação com o PT na disputa pela prefeitura de São Paulo. O prefeito chegou a visitar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no hospital Sírio-Libanês no começo de janeiro. Posteriormente, Kassab declarou apoio a José Serra, depois que o tucano confirmou sua candidatura. O prefeito alegou que sempre deixara claro o seu compromisso inicial com Serra.

Procurada na ocasião, a assessoria do Instituto Lula afirmou que as negociações com a prefeitura para a concessão da área vêm de meados do ano passado, antes de qualquer movimentação eleitoral.

FONTE: O GLOBO

Ex-ministros de Ambiente advertem que Rio+20 segue rumo ao retrocesso

Ambiente. Grupo encaminha relatório para o governo federal com críticas de que a ausência de questões ambientais na agenda da conferência do desenvolvimento sustentável compromete os objetivos de fazer a transição para a tão desejada economia verde

Giovana Girardi

Há um elevado risco de que a Rio+20 seja não apenas irrelevante, mas configure um retrocesso dos avanços alcançados na Rio 92. Esta é a opinião que um grupo de ex-ministros do Meio Ambiente e especialistas na área apresentou ontem, em São Paulo, ao lançar o documento Rio Mais ou Menos 20?. O texto traz críticas e sugestões não só à conferência, como também à atuação do governo brasileiro.

"Em 92, o Brasil estava alavancando uma agenda interna e externa que tem resultados importantes até hoje", lembrou a ex-ministra Marina Silva. Agora, afirma, houve um "exílio" da problemática ambiental na Rio+20.

Em geral, o governo federal e a ONU têm manifestado que a conferência não é de ambiente, que não é mais hora de discutir só esse aspecto, mas sim o desenvolvimento sustentável, o que significa englobar três pilares: social, econômica e ambiental.

A percepção de vários ambientalistas, cientistas, organizações civis e do grupo reunido ontem, porém, é de que, desse modo, não só a agenda está muito diluída, fraca e sem foco, como a parte ambiental está muito aquém do que seria necessário para o mundo de fato trilhar para a tal economia verde.

"Não há desenvolvimento que não tenha de ser pensado no social, econômico e ambiental, mas dizer que meio ambiente não vai ser discutido, no meu entendimento, é um retrocesso sim à visão de 92", diz Marina.

Para o grupo, liderado pelo ex-embaixador Rubens Ricupero, que esteve à frente das negociações brasileiras na Rio 92, há um equívoco, por parte do governo, em se apoiar no que chama de "retórica dos três pilares".

O problema "é não perceber que o pilar ambiental é a condição das possibilidades para os outros dois", diz. "Se falharmos em barrar o aumento de elevação da temperatura a mais de 2°C, não vai ter econômico ou social que resistam. É a base da sustentação física do planeta."

Para o físico José Goldemberg, que era o secretário de Ambiente em 92, quando ainda não havia ministério, a responsabilidade é ter um "desenvolvimento que dure", o que não vai ocorrer, acredita, se o clima desandar.

Segundo Ricupero, a ideia é que o documento, que será enviado à presidente Dilma Rousseff, seja visto como uma contribuição construtiva e possa abrir espaço para mais diálogo antes da realização da conferência. Para Ricupero, ainda dá tempo para negociar, melhorar e deixar mais ambicioso o texto que deve resultar da Rio+20.

Tempo de mudança. Outros signatários do texto acham que o ganho pode ser outro. É a opinião do pesquisador Eduardo Viola, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília e analista internacional desse tipo de negociação.

"Mudar o resultado da conferência, o que parece ser nesse momento um baixo mínimo denominador comum entre os países, é difícil", diz. Mas, para ele, o que pode mudar é a posição do Brasil. "Isso terá impacto na conferência e no futuro, ao aumentar extraordinariamente o prestígio do Brasil como país que aposta na evolução da humanidade, na governança global."

Viola lembra que em 2009 o País mudou repentinamente de opinião sobre uma questão semelhante quando todo mundo já não tinha esperanças de que o faria. Ele se refere à decisão, às vésperas da Conferência do Clima de Copenhague, de adotar metas voluntárias de redução das emissões de gases-estufa, contrariando um "dogma", como definiu Marina, que havia no governo de não fazer isso.

"Forças conservadoras predominavam, mas um processo de emergência e de desenvolvimento de forças reformistas conseguiu ganhar. Ainda é possível que o Brasil se destaque como país responsável", diz Viola.

FONTE : O ESTADO DE S. PAULO

Sob pressão oficial, bancos privados reduzem os juros

Após pressão da presidente Dilma para os bancos reduzirem os juros, o Itaú Unibanco e o Bradesco, as duas maiores instituições privadas do país, anunciaram o corte das taxas em diferentes modalidades de empréstimos para pessoas físicas e empresas, como financiamento de veículos, crédito pessoal e com desconto em folha. Os dois bancos também vão elevar o volume de crédito disponível, seguindo o caminho iniciado por Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. HSBC e Santander já haviam reduzido suas taxas. Segundo analistas, porém, os juros mais vantajosos não serão oferecidos a todos os clientes. Para o vice-presidente da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Miguel Oliveira, as reduções de taxas acontecem em linhas de crédito em que há competição. "É uma estratégia para não perder clientes", diz

Bancos privados jogam a toalha

Após pressão do governo, Bradesco e Itaú cortam juros e ampliam volume de crédito disponível

João Sorima Neto

Sob pressão da presidente Dilma Rousseff, o Itaú Unibanco e o Bradesco, os dois maiores bancos privados do país, anunciaram ontem redução de taxas de juros em diferentes modalidades de crédito para pessoas físicas e empresas. As duas instituições, que também divulgaram que vão elevar o volume de crédito disponível no mercado, seguiram o caminho iniciado por Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal (CEF), ambos bancos públicos, para aumentar a concorrência no setor e estimular o crescimento do país. HSBC e Santander também já haviam reduzido suas taxas. Analistas alertam, contudo, que os cortes mais vantajosos não serão oferecidos a todos os clientes.

- É difícil saber quanto da carteira de crédito dos bancos terá acesso às taxas mais baixas. O que se sabe é que nem todos os clientes serão beneficiados. Na ponta do lápis, os bancos nunca perdem dinheiro. Eles vão reduzir a receita num segmento, mas certamente vão ganhar em outro - diz o economista Pedro Galdi, da Corretora SLW.

Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), a reação foi negativa. Os papéis preferenciais (PN, sem direito a voto) do Bradesco caíram 0,13%, enquanto as do Itaú Unibanco se desvalorizaram 0,60%. Os papéis do Banco do Brasil se desvalorizaram 7,6% desde o anúncio da redução de suas taxas, em 4 de abril.

O Bradesco informou que ampliou a oferta de crédito em cerca de R$ 14 bilhões neste ano, sendo R$ 9 bilhões para pessoas físicas e R$ 5 bilhões para empresas. O banco reduziu o juro em quatro modalidades: financiamento de veículos, crédito pessoal, crédito consignado ao aposentado e crédito para aquisição de bens. O juro mínimo dos cartões de crédito emitidos em parceria com grandes redes varejistas, por exemplo, passa a ser de 2,49% para compras até 24 meses. O Bradesco informou ainda que , para ter acesso às taxas, basta ser cliente do banco. Não é exigida nenhuma contrapartida, como receber o salário pela instituição. A taxa mínima do crédito pessoal caiu de 2,66%para 1,97% ao mês. Já nos financiamentos de veículos, o patamar inicial de juros é de 0,97%, contra 1,35% antes.

Taxas dependerão do perfil do cliente

O Itaú Unibanco divulgou que o volume de crédito disponível tanto para pessoa física quanto jurídica chega agora a R$ 200 bilhões. O banco também reduziu o juro para financiamento de veículos, que passará a ter taxa mínima de 0,99% ao mês. Mas, neste caso, o cliente deve ter conta há mais de um ano, dar 50% do bem de entrada e pagá-lo num prazo máximo de 24 meses. O banco reduziu a taxa do crédito consignado para aposentados do INSS (que vai variar entre 0,89% e 2,2%) e criou benefícios para quem recebe o salário necessariamente numa conta da instituição. Essa parcela de clientes terá redução no juro do cheque especial e no rotativo do cartão de crédito. Para empresas, houve redução na taxa mínima do cheque especial, capital de giro e desconto de duplicatas e cheques, além de antecipação de recebíveis de cartões. Nos dois bancos, os cortes valem a partir do dia 23.

O vice-presidente da Associação Nacional de Executivos de Finanças (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira, avalia que tanto o Bradesco como Itaú fizeram reduções em linhas de crédito onde há bastante competição entre os bancos, como o crédito consignado para aposentados e financiamento de veículos.

- É uma estratégia para não perder clientes - diz Oliveira.

Ao vincular a queda de juro do cheque especial e do cartão ao recebimento do salário numa conta da instituição, o Itaú busca atrair novos clientes, afirma Oliveira. Além disso, comenta, as taxas mais vantajosas dependerão do relacionamento com o banco.

O Santander também anunciou ontem uma conta com juro do cheque especial mais baixo para quem recebe o salário pela instituição.

- Reduzimos o juro para pessoa jurídica e há 90 dias vínhamos treinando o pessoal das agências para oferecer o benefício. Hoje (ontem), anunciamos a conta com juro mais baixo para pessoas que receberem o salário pelo Santander. Queremos que as pessoas tenham opção - disse Pedro Coutinho, vice-presidente comercial do banco.

Tanto o Bradesco como Itaú negaram que tenham baixado juro após a pressão do governo, com reclamações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e da própria presidente Dilma Roussef, que disseram publicamente que os bancos cobram juro muito alto e havia espaço para reduções.

"Anunciamos essas inovações graças a modelagem que nos permite precificar com bastante exatidão os riscos de crédito de cada cliente" disse em nota o presidente do Itaú, Roberto Setúbal, enquanto o Bradesco disse que sua decisão estava "em consonância com os objetivos de estímulo ao crescimento econômico".

Mas analistas que acompanham a discussão sobre a redução dos spreads (diferença entre a taxa de captação e a cobrada dos clientes) dizem que os bancos decidiram dar o primeiro passo após o mal-estar da semana passada. O presidente da Federação Nacional dos Bancos (Febraban), Murilo Portugal, foi a Brasília e pediu ao governo a redução de tributos e dos compulsórios embutidos no custo dos empréstimos, que respondem por 26% do spread.

- Pegou mal os bancos fazerem exigências sem levar nenhuma contrapartida - afirmou um analista.

De acordo com Luís Miguel Santacreu, analista de bancos da consultoria Austin Asis, só será possível saber como a redução do juro terá impacto nas margens dos bancos no segundo e terceiro trimestres, quando as instituições divulgarem seus balanços.

FONTE: O GLOBO

Brasil não é mais campeão de juros altos

Banco Central corta a taxa básica para 9% ao ano, como queria Dilma. Rússia assume o posto ocupado pelo país desde 2010

Victor Martins

Diante da necessidade de fazer o país crescer ao menos 4% neste ano — número considerado improvável pelo mercado, que estima avanço abaixo de 3% —, o Banco Central jogou, ontem, mais combustível na atividade econômica. Como prometido ao Palácio do Planalto, o presidente da instituição, Alexandre Tombini, conseguiu o apoio unânime de todos os seus colegas de diretoria e sacramentou o corte de 0,75 ponto percentual na taxa básica de juros, de 9,75% para 9% ao ano. Foi a sexta queda consecutiva desde agosto do ano passado — no total, a redução chega a de 3,5 pontos. Com isso, o Brasil deixou para trás o nada lisonjeiro título de campeão mundial dos juros altos, com taxa real (descontada a inflação) de 3,4%, fato que não se via desde janeiro de 2010. O país foi superado pela Rússia, com 4,2%.

Apesar de um comunicado simples, o Copom sinalizou a possibilidade de pelo menos mais uma baixa da Selic na reunião de maio, de 0,25 ponto, para 8,75% anuais. A porta aberta foi indicada pela visão de que os riscos de inflação, "neste momento, permanecem limitados". Também ressaltou que, "dada a fragilidade da economia global, a contribuição do setor externo tem sido desinflacionaria". Ou seja, o recuo das cotações da commodities (produtos básicos com cotação internacional) tem ajudado a aliviar o custo de vida no Brasil, sobretudo os preços dos alimentos.

O BC também pode fazer uma parada técnica para avaliar o ritmo da atividade e da inflação e, mais à frente, retomar o processo de diminuição da Selic. Por enquanto, as estimativas do mercado para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ainda não são confortáveis: 5,08% para este ano e 5,50% para 2013, bem acima do centro da meta, de 4,5%, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). "Imaginava que o BC faria exatamente isso. Não quis se amarrar dizendo que pararia de cortar os juros e, mais a frente, ser obrigado a reduzir porque a atividade econômica não respondeu a contento. Não quis correr o risco de se contradizer", avaliou Carlos Thadeu Filho, economista da gestora de recursos Franklim Templeton.

Tal avaliação foi endossada por Carlos Kawall, economista-chefe do Banco J. Safra. "O BC quis deixar os rumos da Selic em aberto. Agora, temos de esperar a ata da reunião, que será divulgada na próxima semana, para buscar alguma indicação mais clara do que ocorrerá", disse. Para Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco, a decisão foi acertada. Segundo ele, o cenário global de queda das commodities e a atividade doméstica em recuperação mais lenta do que o previsto deixam o Copom confortável para adotar a estratégia atual: manter os juros próximos do mínimo histórico — de 8,75%, que vigoraram entre junho de 2009 e março de 2010 — por um longo período.

José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, foi além. "Quando se está certo, não há porque mudar a trilha. Não vejo razão para que o BC cortasse menos que 0,75 ponto percentual", destacou. De qualquer forma, assinalou ele, como os juros reais estão muito abaixo do histórico, o melhor a ser feito pela autoridade monetária é parar para ver o que ocorrerá com a economia. Não se pode esquecer o efeito defasado da taxa Selic — entre seis e nove meses. Além disso, vem sendo dados estímulos à indústria e ao crédito, por meio de um forte pressão para que os bancos cortem spreads e juros aos consumidores e às empresas.

"O país vai crescer mais, de fato, ao logo do segundo semestre deste ano. Mas isso também é uma tendência para 2013", disse Homero Guizzo, economista da LCA Consultores. "É bastante possível um crescimento próximo de 5% no ano que vem", calculou Octavio de Barros. Segundo Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos, a economia avançará no segundo semestre do ano a uma taxa anualizada de 5% a 6%, como espera o Ministério da Fazenda. "Isso deve pressionar a inflação", alertou.

Independentemente das indicações do BC, os economistas não descartam a possibilidade de a autoridade monetária levar os juros a 8,75% ou a 8% . "Nada pode ser descartado. Tudo dependerá do ritmo da atividade. Se a economia continuar fraca, teremos mais juros para baixo, com o limite dos 8% que obrigaria a ajustes na rentabilidade da caderneta de poupança", argumentou Barros. "Eu acredito que haverá mais corte, só não dá para saber em que ritmo", apostou Thadeu Filho.

No limbo

O Indicador de Atividade Econômica do Banco Central e estudos semelhantes do setor privado, como os do Itaú Unibanco, comprovam que a autoridade monetária tem acertado a mão. A atividade encolheu tanto em janeiro (0,13%) quanto em fevereiro (0,23%), comprometendo as metas de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano definidas pela presidente Dilma Rousseff.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Hora de música: Leve - Chico Buarque

A verdadeira faxina ética:: Merval Pereira

À medida que o tempo passa e novas denúncias vão surgindo, fica mais claro que a CPI do Cachoeira é uma grande oportunidade para fazer a verdadeira faxina ética que os acontecimentos estão a exigir da sociedade brasileira. Criada por interesses nem sempre os mais transparentes, essa CPI pode se transformar na nossa chance de zerar o jogo político e começar de novo, diante das evidências de que os tentáculos da quadrilha do bicheiro goiano há muito evoluíram para além de suas próprias fronteiras.

Parece claro a esta altura que a CPI dificilmente servirá aos interesses partidários que a geraram, dentro do PT ou até mesmo na oposição, que começou o processo como a grande vítima devido à descoberta das ligações do senador Demóstenes Torres com o bicheiro, e quer virar o jogo trazendo para o centro do ringue o onipresente José Dirceu, ícone de uma ala da esquerda petista que pretendia, nas palavras de um de seus mais importantes seguidores, o presidente do PT, Rui Falcão, usar a CPI para denunciar "a farsa do mensalão".

Todas as indicações são no sentido de que, mesmo antes de se conseguir montar as representações partidárias para compor a CPI, as dissensões na base aliada servirão de pano de fundo da comissão, em torno da qual o governo só terá maioria conjuntural, dependendo de quem estiver no alvo naquele justo momento.

Haverá ocasiões em que o PMDB estará ao lado das oposições para deixar o PT em maus lençóis, haverá outros em que um pequeno partido da base aliada poderá trair o governo, para se vingar de alguma ação pretérita ou para se cacifar para negociações futuras.

Nascida da sede de vingança do ex-presidente Lula contra o governador tucano de Goiás, Marconi Perillo, uma CPI de amplo espectro como esta dará oportunidade a todos de tentar apanhar seus desafetos em algum "malfeito".

Pegue-se o caso da construtora Delta, que, assim como seu parceiro Carlinhos Cachoeira, tem obras em praticamente todos os estados brasileiros, acima dos partidos, tendo como objetivo apenas o lucro imediato. Como expô-la ao escrutínio da CPI exporá também governadores e políticos de diversos calibres e siglas partidárias, dificilmente será possível protegê-la, e sobrará para todos os lados.

Essa briga de foice no escuro, sem uma organização clara, pode, afinal, ser boa para a cidadania, pois apenas os que não estão fazendo militância política não têm nada a perder com ela.

Por uma dessas conjunções de forças que o destino às vezes arma, estamos entrando num momento, a partir de hoje, em que o Poder Judiciário será comandado por dois ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) que já deram mostras, pelos seus votos e posicionamentos anteriores, de que têm a mesma percepção sobre a necessidade de reforçar a ética nas relações políticas e sociais: a ministra Cármem Lúcia assume o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e o ministro Carlos Ayres Britto, o Supremo Tribunal Federal.

Como a Lei da Ficha Limpa tem uma nítida correlação com o julgamento do mensalão, o empenho dos dois será para que o processo entre em pauta a tempo de deixar livre o caminho para a realização das eleições sem questões jurídicas pendentes.

O novo presidente do STF tem até novembro para colocar em julgamento o processo do mensalão, pois naquele mês se aposentará por ter atingido a idade máxima. Por isso ele tem deixado claro nas entrevistas dos últimos dias que fará tudo para que o término do julgamento ocorra até 6 de julho, data em que o processo para as eleições municipais começa oficialmente.

No entanto, o que parecia uma data-limite transformou-se apenas em uma "data ideal", pois o ministro Ayres Britto deixou claro que o julgamento ocorrerá mesmo que concomitantemente ao processo eleitoral.

O ministro Marco Aurélio Mello, que assumirá a vice-presidência do Tribunal Superior Eleitoral, também não vê motivos para que a eleição impeça o julgamento, pois "não estamos engajados em política partidária". Nem mesmo a aposentadoria de um dos membros em meio ao julgamento seria causa de interrupção, considera Marco Aurélio Mello, pois o voto de Minerva do presidente pode decidir eventual empate.

Essa questão surge quando se sabe que o ministro Cezar Peluso se aposentará em setembro, e há quem considere que um processo tão delicado politicamente como o mensalão só poderia ser julgado com os 11 ministros presentes.

O ministro Marco Aurélio Mello só dista da tendência geral quando considera disparatada a ideia de usar o recesso de julho, se necessário, para realizar o julgamento.

O ministro Ricardo Lewandowski, que é o responsável não apenas pelo voto do revisor no mensalão, mas também está com o processo do envolvimento do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) com a máfia do bicheiro Carlinhos Cachoeira, parece já ter entendido a ansiedade da opinião pública e promete dar seu voto em breve.

O ambiente político desencadeado pela convocação da CPI, em vez de neutralizar o julgamento do mensalão, está estimulando o anseio da sociedade pela punição dos responsáveis pela corrupção, venha de onde vier.

FONTE: O GLOBO

Régua e compasso:: Dora Kramer

Se estiver dando para entender direito o que o PMDB anda dizendo sobre a CPI da vez, o partido tem um plano. Posa de bom conselheiro, na certeza de que o PT se enrola todo e acaba deixando o governo em maus lençóis.

Instalada a confusão, usa de sua influência e experiência para salvar a situação abatendo logo dois coelhos: enfraquece o parceiro que identifica como um bom amigo da onça e recupera prestígio no Palácio do Planalto.

Entraria em cena assim como uma espécie de guia genial dos povos.

Na teoria, como sempre, tudo corre bem. O problema dos planos muito bem elaborados é a desobediência da realidade e a insubordinação das consequências.

Em 2005 a oposição projetou o sangramento político do então presidente Luiz Inácio da Silva considerando desnecessário confrontar sua investidura no cargo com a confissão do publicitário Duda Mendonça sobre uso da caixa dois na campanha presidencial.

Em 2010 a mesma oposição planejou com capricho uma vitória e com o mesmo afinco ajudou Lula a construir uma derrota.

Há inúmeros exemplos da distância existente entre a projeção e a execução de empreendimentos.

Até engenheiros considerados muito competentes cometem erros de cálculo. Note-se o ex-presidente Lula agora no papel diverso do acima citado.

Por enquanto seus planos para Fernando Haddad como candidato a prefeito de São Paulo não têm saído conforme o roteiro original, embora essa ainda seja uma obra em aberto e pode haver modificações.

O que não se alteram são os relatos sobre a oposição da presidente Dilma Rousseff à ideia de Lula de incentivar a comissão de inquérito com o propósito de dar o troco em adversários e anuviar o ambiente de julgamento do mensalão.

O senador Delcídio Amaral, do PT, acha o gesto equivocado: "São coisas diferentes, tratadas em foros distintos e, além do mais, misturá-las só serve para enervar o Supremo e complicar em vez de facilitar a situação".

É a tal história dos planos: assim como ninguém garante que o PMDB possa controlar a situação e ficar de fora do que venha por aí, tampouco é possível assegurar que se houver seriedade nas investigações originadas nas relações do senador Demóstenes Torres com Carlos Augusto Ramos, não se tenham escarafunchadas as relações entre governos (federal inclusive) e empreiteiras.

Com repercussão direta e imprevisível sobre o PAC e demais obras públicas. Não é à toa nem por acaso que há anos se tenta sem sucesso e se evita com grande êxito sentar essas senhoras nos bancos de uma CPI.

Cerca Lourenço. De todas as cenas impróprias que a política produz dia sim outro também, entre as recentes a pior é a do deputado João Paulo Cunha, dublê de réu do mensalão e presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, em périplo aos gabinetes dos ministros do Supremo Tribunal Federal.

Por ora pediu audiências a cinco ministros e foi atendido por um, justamente José Antônio Dias Toffoli, assessor jurídico da Casa Civil à época do escândalo e depois advogado-geral da União.

A alegação de que teria ido entregar relatório sobre alterações no Código Penal não faz sentido, pois Cunha além de não ser o relator (era o deputado Sérgio Barradas Carneiro) não tinha delegação para tal.

A motivação óbvia é "sentir o clima" entre os ministros. Uma inconveniência, de parte a parte.

Bendita. Ao contrário do que diz o (a partir de hoje ex-presidente do Supremo Tribunal Federal) Cezar Peluso, Eliana Calmon deixará sim um legado importante como corregedora do Conselho Nacional de Justiça.

Ela pode não ter, como disse o ministro, "apresentado resultados concretos" sobre várias denúncias envolvendo magistrados. Até porque não é senhora do tempo da conclusão dos processos.

Mas contribuiu com atitude, pondo vários pontos em muitos "is". O que não é pouco no ainda obscuro ambiente da Justiça.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Barata tonta::Rogério Gentile

O PT sofreu pela primeira vez, em razão da CPI do caso Carlinhos Cachoeira, os transtornos de uma organização que tem duplo comando. É o chamado dilema da barata tonta. A quem atender quando os chefes divergem?

Assim que surgiram na imprensa as gravações que desmascararam o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), Lula estimulou o PT a pisar no acelerador e abrir uma comissão de investigação no Congresso.

Com "sangue nos olhos", como bem informou Mônica Bergamo, o ex-presidente viu uma oportunidade para acuar a oposição e equilibrar a balança da ética (ou melhor, da falta de ética) na opinião pública num ano eleitoral em que o julgamento do mensalão no STF tende a reavivar constrangimentos para o partido.

Dada a ordem de Lula, a ação foi imediata. Petistas se articularam com os aliados no Congresso e correram para anunciar a criação da comissão antes mesmo de conseguir coletar as assinaturas necessárias.

Bom, aí Dilma voltou do exterior e se deparou com o fato consumado. Contrariada, mas sem ter como engavetar a investigação, colocou um pé no freio a fim de tentar algum controle sobre a CPI. O PT agora corre para viabilizar suas exigências em relação à montagem da comissão e à amplitude da investigação.

A CPI é complicada para a presidente porque paralisa o Legislativo, dá mais força para políticos que ela tenta escantear (Renan Calheiros, Henrique Alves, Romero Jucá etc.) e, sobretudo, ainda tem potencial para respingar no próprio governo em razão do envolvimento da principal empreiteira do PAC com Cachoeira.

Dilma e Lula já conversaram para acertar os ponteiros. O PT como barata tonta não interessa a nenhum dos dois, pois abre uma brecha para a ação da fragilizada oposição. Mas, se não houver uma sintonia fina entre eles, outras divergências tendem a emergir por conta das prioridades de cada um. A de Dilma, claro, é o seu governo. A de Lula, a sua política.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Guinada no Supremo :: Eliane Cantanhêde

Depois de dois anos de discrição na presidência do Supremo, Cezar Peluso passa o bastão hoje com o carimbo de corporativista e chutando o pau da barraca.

A expressão é inadequada? E que tal o que Sua Excelência disse ao site Consultor Jurídico sobre a presidente da República, a corregedora do CNJ, um senador e colegas do Supremo?

Ele acusou Dilma de "descumprir" e "ignorar" a Constituição por não ceder às suas pressões por aumento para o Judiciário, ironizou a gestão da ministra Eliana Calmon no CNJ ("Que legado deixou?"), criticou o ministro Joaquim Barbosa como quem joga para a opinião pública e foi grosseiro ao dizer que o senador Francisco Dornelles defenderia interesses "de bancos e (...) de grandes bancas de advocacia".

Se a gestão de Peluso foi marcada pelo corporativismo, a favor de aumentos que irritavam o Planalto e contra o alcance das investigações do CNJ, a do sucessor, Ayres Britto, corre o risco de cair no populismo, ao sabor de pressões de setores da sociedade que até fazem sentido, mas não estão acima da lei.

Às vésperas de assumir, o novo presidente admitiu que já voltou atrás em alguns votos. Até aí, soa como cândida confissão de humanidade e de humildade. Mas faltou dizer por que mudou, mudou por quê?

No caso Cesare Battisti, Ayres Britto ficou aborrecido quando anunciamos que mudaria o voto. Em longo telefonema, elegante, é verdade, garantiu que "não era homem" de decidir o voto por pressão de ninguém. O voto, ele não mudou, mas fez um contorcionismo técnico interessante que mudou o próprio resultado do julgamento. Battisti ficou.

Na presidência até novembro, Ayres Britto terá a opinião pública com um olho na CPI e outro no "mensalão". O PT comemora sua posse por considerá-lo "aliado", e a oposição, por achá-lo suscetível à pressão pública. Esses meses serão o grande teste de uma vida inteira.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Rumo à plataforma central:: César Felício

O tempo na Colômbia se mede à moda dos Estados Unidos: é comum encontrar cartazes de shows ou anúncios de jornal em que na data coloca-se primeiro o mês e em seguida o dia em que acontecerá o evento. Não há lugar na América do Sul mais influenciado por Washington.

É uma tradição que vem de longe: a Colômbia foi o único país latino-americano arrastado para a Guerra da Coreia, nos anos 50. O ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton, que celebrou com o colombiano Andrés Pastrana em 2000 o plano que garantiu ao país o terceiro maior orçamento de ajuda americana no mundo, desfruta de vez em quando de uma confortável mansão em Cartagena de Indias, no litoral caribenho. Não há ecossistema mais favorável ao conservadorismo político.

Aristocrata no sentido pleno da palavra, o presidente Juan Manuel Santos é sobrinho-neto de um presidente, primo de um vice-presidente e integrante da família que controlava o maior grupo de mídia até 2007. Graduou-se na Universidade de Kansas e tem mestrado em Harvard. Foi chanceler, ministro da Defesa e do Comércio e presidente de uma instituição da ONU. Antes de eleito em 2010, nunca tinha ocupado cargo eletivo. Guardadas as proporções, é tão próximo aos setores populares como é no Brasil o ex-ministro Celso Lafer.

Colômbia se move da direita, com políticas sociais

Por isso mesmo a guinada que o "establishment" proporciona neste país surpreende. Ao se eleger, Santos era ministro de Defesa de Álvaro Uribe, um conservador exacerbado. Participou como ministro da gestão de políticas que sepultou como presidente. Um exemplo foi sua decisão de colocar em fogo morto o acordo militar que permitiria aos Estados Unidos usarem sete bases no país, normalizar as relações com o venezuelano Hugo Chávez e propor uma lei de restituição de terras a famílias atingidas pelos grupos de extermínio alimentados por grupos de extermínio e guerrilhas, terreno em que o narcotráfico transita dos dois lados.

Na Colômbia, a violência política constante foi o maior motor do processo de concentração fundiária. Começou na guerra entre liberais e conservadores que durou de 1948 a 1957. "Nasceram grande fazendas porque, durante a violência, os que tinham homens a seu comando, derramaram o sangue para comprar barato ou invadir a propriedade daqueles que fugiram, deixando para trás pais, filhos ou irmãos mortos na terra dos cafezais", narrou em 1975 o jornalista Germán Castro Caycedo, autor do livro "Colombia Amarga". Nos anos 80, liberais e conservadores foram substituídos por novos chacais.

As estimativas da população que seria beneficiada pela lei de reparação são disparatadas, mas o menor número citado é o de 500 mil famílias (cerca de 2,5 milhões de pessoas), nada inexpressivo para um país de 46 milhões de habitantes. É algo como 5% da população colombiana. Nos últimos 17 anos, a avaliação oficial é que camponeses foram forçados a apenas uma área de 8,5 milhões de hectares. Deste total, 60% estão nas mãos de bandos armados e 40% foram negociado por grileiros para novos proprietários que supostamente agiram com boa fé. Obviamente, a reforma agrária começará por esta fatia menor.

É uma nota de corte brutal em relação ao antecessor Álvaro Uribe, mas não se trata de revolução socialista nenhuma. O presidente colombiano pouco mudou a política de mercado aberto que caracteriza o país desde a década de 90, e que tem como uma de suas principais alavancas a mão de obra barata e a partir de agora, o acordo de livre comércio com os Estados Unidos. "É um oligarca com certa sensibilidade social, eleito por uma base política que rapidamente busca a sustentação em uma base mais ampla. Um processo que não ocorreu apenas na Colômbia", comenta Arlene Ticker, professor de Relações Internacionais da Universidade de Los Andes, em Bogotá.

Santos mantém o modelo econômico e desenvolve políticas sociais, isolando em uma ponta ao antecessor e na outra, à esquerda institucional. Cresce em meio ao vazio partidário. Ao ir para o centro, o presidente colombiano passou a ser o astro que atrai para sua órbita todo o sistema. "Os principais aliados de Uribe hoje estão encarcerados e acusados de corrupção e a esquerda se desmoralizou em função de uma série de escândalos à frente da prefeitura de Bogotá", diz Ticker.

Vindo de outra direção, o presidente colombiano parece fazer o mesmo movimento que o desenvolvido por Luiz Inácio Lula da Silva no Brasil em 2002. Também no Brasil, houve a eleição de um candidato originário de um polo ideológico claro que, uma vez eleito, realizou um movimento em direção a política opostas a que seu apoiadores iniciais sempre defenderam.

Uma das diferenças mais importantes entre um caso e o outro é o fato de que o movimento de Lula para o centro precedeu a eleição, na escolha de um empresário como candidato a vice e na assinatura de uma carta de compromisso com a continuidade econômica. Ao estruturar políticas sociais amplas, por um lado, e manter, ao menos em seu primeiro mandato, a alma da estratégia econômica de seu antecessor, Lula retirou estas vertentes de um espectro ideológico.

Subsiste uma oposição popular considerável ao petismo, que fez com que Lula e Dilma Rousseff não atingissem a maioria absoluta dos votos nas últimas três eleições presidenciais, mas este é descontentamento que não se traduz mais na representação política, etapa em que o DEM parece reverter do estado sólido para o gasoso e o universo etéreo de onde o PSOL nunca saiu.

O Brasil chegou ao centro de forma simultânea ao Uruguai do presidente José Mujica, o ex-tupamaro que preside sua nação no momento em que ela é promovida na classificação de risco das agências. Assessorado por petistas, o peruano Ollanta Humala ganhou a eleição em seu país no ano passado e também promove o mesmo movimento. O mesmo pode-se dizer, pela via da esquerda, em relação ao salvadorenho Mauricio Funes e pela direita, em relação ao guatemalteco Otto Pérez. A lista tende a aumentar.

FONTE: VALOR ECONÔMICO