sábado, 11 de agosto de 2012

OPINIÃO DO DIA – Antonio Fernando de Souza: o mensalão maculou a República (VII)

"Toda aquela movimentação financeira, pagamentos na calada da noite, às escondidas, em dinheiro vivo, à margem do sistema bancário, revela algo ilícito que não poderia ser à luz do dia. "

Antonio Fernando de Souza, ex-procurador-geral da República, O Estado de S. Paulo, 10/8/2012

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Greves de servidores já afetam abastecimento
Para defesa, mensalão é imoral, mas não ilegal
Cotas influenciarão o Enem deste ano
Povos indígenas crescem 205%

FOLHA DE S. PAULO
Dilma diz a grevista que tem outras prioridades
Servidores de SP são convocados a ato de campanha de José Serra
País se preocupa com Olimpíada e 'Avenida Brasil', diz líder do PT
Emprego industrial tem a quarta queda mensal consecutiva
Bancos iniciam novos cortes de juros para imóveis

O ESTADO DE S. PAULO
Dilma quer isolar CUT e abrir negociação direta com servidores
Erro processual pode atrasar julgamento de réu do mensalão
40% dos índios estão fora de terras
Trem-bala é incluído em pacote de concessões

CORREIO BRAZILIENSE
STJ desmembra o caso Pandora
Governo culpa “aliados” pela radicalização
Mello vê chance de Valério obter delação premiada

ESTADO DE MINAS
Marcação cerrada nas organizadas
Recado direto aos grevistas
No azul: Empregos nas fábricas de MG mantêm alta
Cotas sociorraciais: Autodeclaração de cor desafia universidades

ZERO HORA (RS)
Chip de vigilância será obrigatório para carros novos a partir de 2013
Sinal ruim: A conta que não fecha na telefonia
Transparência: Quais são os 50 maiores salários do governo

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Ranking dos melhores planos de saúde
Censo revela que há 896 mil índios no País
Refinaria de Suape
Senadores declaram 14º e 15º como ajuda de custo, driblando tributação

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Para defesa, mensalão é imoral, mas não ilegal

Advogado de Valdemar admite acordo financeiro entre PL e PT, em 2002

O advogado de Valdemar Costa Neto, ex-presidente do PL (hoje PR), admitiu no STF que o processo do mensalão envolve uma conduta imoral, mas que, no caso de seu cliente, não foi ilegal. Disse que José Alencar, ex-vice-presidente, foi avalista do acordo financeiro em que o PT daria R$ 20 milhões para o PL pagar despesas de campanha, em 2002.

Defesa: foi imoral, não ilegal

Advogado de Valdemar admite que PL fez acordo financeiro com PT para apoiar Lula em 2002

Evandro Éboli, André de Souza

UM JULGAMENTO PARA A HISTÓRIA

BRASÍLIA A defesa do ex-presidente do PL (hoje PR) Valdemar Costa Neto admitiu ontem no Supremo Tribunal Federal (STF) que o processo do mensalão envolve uma conduta imoral, mas que, no caso de seu cliente, não foi ilegal. Marcelo Bessa, advogado de Valdemar, citou José Alencar, ex-vice-presidente da República filiado ao PL, como avalizador do acordo financeiro fechado com o PT, em 2002, que garantiria R$ 20 milhões para o PL pagar despesas de campanha.

Alencar participou de reunião na casa do então deputado Paulo Rocha (PT-PA), em 2002, em que estavam presentes Lula, Valdemar, José Dirceu e Delúbio Soares. Nela, foi discutido o repasse financeiro do PT para o PL. Bessa definiu a distribuição do dinheiro como partilhamento do caixa de campanha.

- José Alencar disse que não se faz campanha sem gastar dinheiro. Para fazer santinho, viajar, fazer camiseta. Dinheiro de campanha não é errado, não. Não foi errado isso não, disse Alencar, o que demonstra que tratou-se de um acordo eleitoral - afirmou Marcelo Bessa no STF.

Apesar de afirmar que Valdemar é inocente, o advogado reconheceu:

- Havendo dúvida razoável, não pode haver condenação de ninguém. Ninguém aqui pode pretender ser absolvido para ganhar uma medalha no peito. A questão (mensalão) envolve fatos, sob o ponto de vista moral, extremamente graves, mas, sob o ponto de vista penal, que é estrito, no caso de Valdemar, está suficiente demonstrado que ele não cometeu o crime de corrupção passiva.

PGR: Valdemar recebeu R$ 8,9 milhões

Bessa também argumentou que o PL não recebeu o dinheiro prometido pelo PT em 2002, quando da formação da aliança e da chapa presidencial. Segundo a defesa, a alternativa sugerida pelo PT foi que o PL contraísse um empréstimo. Delúbio teria assegurado que seu partido pagaria o financiamento mais adiante. Esse dinheiro, então, foi pego com um doleiro, Lúcio Funaro, que deu R$ 5 milhões ao PL. Funaro foi excluído da denúncia do Ministério Público. Ganhou o benefício da delação premiada, mas responde a processo em instância inferior.

- Esse empréstimo é confirmado, há uma divergência de valores, mas ele é confirmado, por uma espécie de réu fantasma ou informante, o Lúcio Funaro. Ele é doleiro, segundo palavras do Ministério Público, mas, nas nossas, é agiota. Essa pessoa empresta valores ao PL e diz expressamente, em todos os seus depoimentos, que foi em razão da campanha eleitoral - disse Bessa.

Para explicar o acordo financeiro, Bessa relembrou a necessidade e o desejo de Lula de escolher um vice que acalmasse os mercados e afastasse de receios uma vitória petista.

Segundo a Procuradoria Geral da República, Valdemar recebeu do esquema R$ 8,9 milhões, que foram sacados pelo então tesoureiro do partido, Jacinto Lamas. O presidente do PL, segundo o Ministério Público, valeu-se de dois mecanismos diferentes para o recebimento da vantagem indevida. "O objetivo era dissimular origem dos recursos, seu destino e sua natureza".

Esses mecanismos foram receber da empresa Garanhuns Empreendimentos, de Funaro, e fazer saques nas agências do Banco Rural. Valdemar é acusado pelo procurador-geral, Roberto Gurgel, de cometer os crimes de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e corrupção passiva.

A defesa também alegou que Valdemar negociava com o PT na condição de presidente do PL e não como deputado federal. Essa diferença é importante para caracterizar que se tratava de um acordo eleitoral e não de propina em troca de apoio em votações.

- Minha tarefa não é demonstrar se houve mensalão ou não. Valdemar não votou em várias matérias. Das quatro medidas provisórias, não votou em duas, outra foi simbólica e, em outra, o PL votou com o governo, mas alinhado com o PSDB, que não está sendo acusado. Demonstra que não tem relação com pagamento. E, sim, vinculação com campanha eleitoral - disse Bessa.

A defesa de Valdemar buscou demonstrar que o PL fazia parte de um projeto de governo ao lado do PT e que, por isso, não precisaria ter seus deputados comprados em votações.

Na defesa de Jacinto Lamas, tesoureiro do PL (atual PR) na época do mensalão, o advogado Délio Lins e Silva argumentou que o cliente era um mero mensageiro do partido e jogou toda responsabilidade para Valdemar:

- Quem mandava naquele partido e desmandava, como manda e desmanda até hoje, é o senhor Valdemar Costa Neto. Desde a venda de um café até nas reuniões políticas. O Jacinto era apenas um mensageiro. E não se pode confundir mensageiro com mensaleiro.

FONTE: O GLOBO

Na conta do Além

Opinião / O Globo

É CONHECIDA, e até folclorizada, a artimanha usada por policiais sem escrúpulos de responsabilizar suspeitos mortos por crimes não esclarecidos, para, com isso, esvaziar arquivos.

O CURIOSO é que esta prática parece ter chegado à mais alta Corte do país, com advogados, na defesa de clientes, debitando da conta de ilustres falecidos os malfeitos de vivíssimos mensaleiros.

Defesa critica ausência de Lula na ação

Advogados de dois réus questionam no STF por que a Procuradoria Geral da República deixou o ex-presidente fora da denúncia do mensalão, mesmo tendo sido citado por testemunhas

Helena Mader, Diego Abreu

Pela primeira vez desde o início do julgamento do mensalão, advogados questionaram na tribuna do Supremo por que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não foi denunciado pela Procuradoria Geral da República, mesmo tendo sido citado por testemunhas no processo. O presidente do PTB, Roberto Jefferson, já havia anunciado que sua defesa questionaria a ausência de Lula na acusação. Mas os advogados Délio Lins e Silva e Délio Lins e Silva Júnior, que representam os irmãos Antônio e Jacinto Lamas, se anteciparam e apresentaram a questão diante dos ministros do STF e do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que estava no plenário no momento das sustentações orais.

Jacinto Lamas era tesoureiro do PL (hoje PR) na época do escândalo e foi acusado de lavar recursos do esquema de Marcos Valério. Seu advogado diz que ele era "um mero subalterno" que cumpria ordens e, portanto, não deveria responder pelo mensalão. "Não digo que o presidente Lula deveria figurar nessa denúncia. O que questiono é a ausência de critério do MP. Se entre quatro paredes do Planalto eram feitas tratativas, como dito pelo procurador, quem seria o maior beneficiário desse suposto esquema? O chefe da nação, do palácio de governo", afirmou Silva Júnior. "Faço essa comparação para questionar: por que é tão fácil acreditar no presidente Lula, que afirmou nada saber, e é tão difícil acreditar em Jacinto Lamas, que nada sabia e era um mero subalterno?", acrescentou.

Acordo

Já a defesa do deputado federal Valdemar Costa Neto (PR-SP) sustentou que todo o dinheiro que o extinto Partido Liberal recebeu do PT teve como origem um acordo financeiro entre as legendas para a campanha eleitoral de 2002, quando Lula foi eleito presidente da República, tendo como vice o já falecido José Alencar, que era filiado ao PL. O advogado Marcelo Bessa admitiu que Lula, Alencar, Valdemar e outros políticos se reuniram na casa do então deputado Paulo Rocha (PT-PA) para acertar os termos da aliança, ocasião em que ficou acordado, segundo ele, que o PT repassaria um quarto do que fosse arrecadado na campanha para o PL.

Relacionando a acusação contra Valdemar ao julgamento do ex-presidente Fernando Collor, em 1994, o advogado Marcelo Bessa frisou que, tanto no mensalão quanto no julgamento ocorrido em 1994, a acusação não conseguiu provar o chamado ato de ofício, quando há uma contrapartida em troca do que é oferecido no caso de corrupção. Dezoito anos atrás, o Supremo absolveu Collor por falta de provas. O ex-presidente era acusado de corrupção passiva pelo suposto envolvimento no chamado esquema de corrupção capitaneado pelo tesoureiro PC Farias. "O que se colocava naquele momento é que o procurador-geral na época não apresentava o corruptor, mas só o corrompido", disse ontem em plenário o defensor de Valdemar.

Análise da notícia

A política de vale tudo - Ana Maria Campos

Na tentativa de evitar uma condenação, advogados têm se valido de todo tipo de argumento no processo do mensalão. Acordos que atropelam a ética são descritos como justificativas para o recebimento de dinheiro. Fica tudo na conta da política. O advogado Marcelo Leal, que representa o ex-deputado Pedro Corrêa (PE), contou o seguinte: dinheiro de Marcos Valério teria sido repassado pelo PT ao PP para bancar honorários de um advogado contratado para defender um deputado acusado de vários crimes pelo próprio PT. Por que petistas fariam isso? Porque o parlamentar foi acusado quando era adversário. Virou aliado e ganhou uma grana para escapar das denúncias que antes os petistas consideravam graves. Aos olhos do advogado, tal atitude não é cooptação nem corrupção. Apenas um acordo entre partidos. E na política, vale tudo.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

País se preocupa com Olimpíada e 'Avenida Brasil', diz líder do PT

O presidente do PT, Rui Falcão, tentou minimizar o impacto de uma eventual condenação de réus do partido no julgamento do mensalão, em andamento no Supremo Tribunal Federal.

“A população nesse momento está mais voltada para ‘Avenida Brasil’ e Olimpíada do que para esse processo escandaloso que tentaram nos imputar.”

Para petista, novela chama mais atenção

"Avenida Brasil" e Olimpíada monopolizam interesse da população neste momento, afirma o presidente do PT

Rui Falcão procura minimizar eventual impacto eleitoral do julgamento do mensalão no Supremo

Marília Rocha

CAMPINAS - O presidente nacional do PT, Rui Falcão, procurou minimizar o eventual impacto eleitoral do julgamento do mensalão ao afirmar ontem que a população está mais interessada na Olimpíada de Londres e na novela "Avenida Brasil", da TV Globo.

"A população neste momento está mais voltada para "Avenida Brasil" e Olimpíada do que para esse processo escandaloso que tentaram nos imputar", afirmou Falcão, que esteve em Campinas (a 93 km de São Paulo) em evento de apoio ao candidato do partido à prefeitura da cidade, Marcio Pochmann.

O petista disse ainda não ver até agora "qualquer vinculação do julgamento com a campanha eleitoral".

Campanha

Falcão afirmou que acompanha o julgamento pela TV e que espera que os petistas "injustamente denunciados" sejam absolvidos pelo Supremo Tribunal Federal por "ausência total de provas".

Aos militantes e candidatos a vereador que acompanharam caminhada em Campinas Falcão disse que a vitória de Pochmann, novato em eleições que aparece com 1% em pesquisa de intenção de voto, é uma prioridade do partido e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O dirigente do PT pediu que não haja preocupação com pesquisas agora porque, segundo ele, a maior parte dos votantes "ainda não se ligou na eleição".

Pesquisa Ibope divulgada no dia 20 mostrou Jonas Donizette (PSB) com 43% das intenções de voto, seguido pelo atual prefeito, Pedro Serafim (PDT), com 17%.

Pochmann, Rogério Menezes (PV) e Campos Filho (PRTB) tiveram 1% cada um.

Na resposta espontânea (sem indicação de nomes pelo pesquisador), 63% dos entrevistados disseram que não sabiam em quem vão votar ou não quiseram responder.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Erro processual pode atrasar julgamento de réu do mensalão

Um erro no processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal pode atrasar o julgamento do réu Carlos Alberto Quaglia, um argentino acusado de lavar dinheiro do esquema. As testemunhas de defesa não foram ouvidas e o depoimento das de acusação não foi presenciado pelos advogados. Segundo o defensor público-geral da União, Haman Moraes, os réus ligados a seu cliente, como parlamentares do PP, deveriam ser ouvidos novamente.

Defensor público pede anulação de atos do processo e julgamento pode atrasar

Felipe Recondo 

BRASÍLIA - Um erro no processo do mensalão pode atrasar o julgamento do réu Carlos Alberto Quaglia, um argentino acusado de lavar dinheiro para integrantes do esquema e provocar uma rea¬ção dos advogados que defen¬dem políticos do PP denuncia¬dos como mensaleiros.

O defensor público-geral da União, Haman Tabosa de Mo¬raes, que passou a defender Quaglia no ano passado, afirmou aos ministros que, por um erro na ação penal relatada por Joaquim Barbosa, os advogados que en¬tão defendiam o réu não foram notificados dos atos do proces¬so, como depoimento de teste¬munhas e interrogatório de réus.

Com isso, as testemunhas de defesa arroladas por Quaglia não foram ouvidas. As testemu¬nhas de acusação que o Ministé¬rio Público Federal arrolou con¬tra ele foram ouvidas sem que a defesa do réu estivesse presente e pudesse contestar alguma afir¬mação que o comprometesse.

Em razão disso, o advogado de Quaglia pediu que o Supremo anule todos os atos do processo praticados desde que ocorreu o erro. "Não foi um erro do relator do processo. Foi um erro do tri¬bunal", afirmou o defensor públi¬co. Para que o problema fosse corrigido, ele argumentou, os cinco réus ligados ao PP e quatro testemunhas de defesa deve¬riam novamente ser ouvidas. Ou¬tros 13 depoimentos em que o no¬me de Quaglia é citado também precisariam ser refeitos.

Novos depoimentos. Na sessão de ontem e em conversas reservadas, ministros indicaram que o erro deve levar o tribunal a ordenar que sejam repetidos todos os depoimentos das testemu¬nhas de acusação relacionadas a Quaglia. Também que sejam ou¬vidas as testemunhas de defesa e que os réus que com ele são acu¬sados de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro prestem novo depoimento.

De acordo com um ministro ouvido pelo Estado, o processo contra Quaglia poderia ser des¬membrado e encaminhado para julgamento em separado na pri¬meira instância. Há resistência a essa solução, pois os ministros rejeitaram o desmembramento do processo. Outros ministros afirmavam que o erro deveria ser corrigido, mas mantendo no STF o processo contra Quaglia, já que os crimes que teria pratica¬do têm relação com as condutas de outros réus do mensalão.

Por qualquer uma dessas saí¬das, o julgamento contra os de¬mais réus do mensalão prossegui¬ria normalmente. Somente as acu¬sações contra Quaglia ficariam à espera de correção para depois serem julgadas. Porém, um dos inte¬grantes da Corte disse que os réus relacionados a Quaglia - como os donos da corretora Bônus Banval ou parlamentares do PP - podem pedir a suspensão do processo até que os equívocos sejam repa¬rados. Mas para isso, ressaltou o ministro, é preciso que os outros réus demonstrem que o erro tam¬bém os prejudicou.

Cronograma. Para não atrasar o processo, ministros do Supremo já debatiam ontem uma alternativa para "isolar" o problema e preservar o cronograma do julga-mento dos outros mensaleiros.

O erro teria ocorrido, confor¬me Moraes, porque Quaglia mudou de advogado em janeiro de 2008, e a troca do nome não foi devidamente feita no STF, mesmo tendo sido juntada ao processo a procuração do novo defen¬sor. Sem a alteração, todas as no¬tificações feitas pela Secretaria Judiciária do STF eram encami¬nhadas para o advogado que já não defendia Quaglia.

Um dos integrantes da Corte adiantou que Quaglia pode ter agido de má-fé, tanto é que no correr do processo teria dito oficialmente ao STF que desconhecia o advogado que o defendia e depois foi descoberta uma procuração assinada por ele para que esse advogado o defendesse.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

'Picuinha' afetaria um processo tão complexo? - Dimitri Dimoulis

O sétimo dia de julgamen¬to trouxe um elemento surpreendente. O defen¬sor dativo do réu Carlos Alberto Quaglia sustentou que, durante três anos, es¬se réu não teve advogado, sendo recente a nomea¬ção de defensor público. Surpresa em dois sentidos. Primeiro, por¬que um processo tão cuidadosamente pre¬parado parece ter tido uma falha grave. Se¬gundo - e mais importante - porque essa fa¬lha pode comprometer o andamento do julgamento, gerando sua nulidade absoluta.

O tribunal decidiu que o problema será enfrentado mais tarde. Mas a alegação de nulidade gerou comoção, tendo tomado de imediato a palavra cinco ministros. Isso nos permite refletir sobre a natureza do proces¬so. Supondo que houve um erro burocráti¬co, devemos nos comover com isso? Justifi¬ca-se a nulidade para esse acusado e, even¬tualmente, para outros? Certamente, o réu em questão teve pouquíssima importância no caso e a eventual anulação não afetará os demais. Mas independentemente disso, a opinião pública que acompanha o processo protestará se uma "picuinha" vier a afetar um processo de crucial relevância política, cujo veredito é aguardado ansiosamente.

A visão de parte da opinião pública dá pre¬ferência ao conteúdo em detrimento da for¬ma e desconfia do formato do processo pe¬nal que parece "favorecer" os réus com um infinito número de formalidades, de recur¬sos e de "brechas". Também questiona se esse processo penal, garantista, coriiplexo e cauteloso, é o caminho certo para obter res¬postas sobre conflitos e desvios políticos. Para o especialista do direito, porém, o di¬reito do réu não é "picuinha". É a essência do Estado de direito, um imperativo de igualdade e respeito pelo direito de todos.

É professor de Direito Constitucional

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

PT quer convocar procurador para explicar cartilha

A fim de constranger o procu¬rador-geral da República, Rober¬to Gurgel, o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) quer convo¬car o responsável pela denúncia do mensalão a depor na Comis¬são de Fiscalização Financeira da Câmara, para explicar se e quanto de dinheiro público foi usado na edição de uma cartilha sobre o mensalão voltada para crianças, publicada na internet. Se ele for convocado, será ques¬tionada a legalidade de usar o site para publicar o material - que, para o petista, não passaria de "propaganda política de Gur¬gel".

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Um caso inusitado - Merval Pereira

Quando se pensa que já se viu tudo nesse processo do mensalão, as maneiras mais explícitas de tentar adiar ou atrasar o julgamento, surge o caso desse argentino Carlos Alberto Quaglia, acusado de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, que pede a nulidade de seu processo pois seu advogado não participou dos atos da instrução do processo a partir de 2008.

Acontece que Quaglia mudou de advogado no meio do processo, e as intimações continuaram indo para o advogado antigo.

Ontem, o defensor público da União, designado para defender Quaglia, pediu a nulidade do processo contra ele, alegando que não tivera direito à ampla defesa e ao contraditório.

Várias testemunhas que depuseram contra ele não foram questionadas por seu advogado, e sim por defensores públicos nomeados na sua ausência.

Dois dias antes do julgamento, o novo advogado aparece e pede que o processo seja considerado nulo, e a ministra Rosa Weber indefere monocraticamente, sem nem mesmo encaminhar ao plenário.

Ontem, vários ministros do Supremo questionaram o defensor público sobre o caso. Eles terão que decidir a questão na hora da votação, segundo determinação do presidente Ayres Britto, que mandou o julgamento prosseguir, preocupado em não atrasá-lo ainda mais.

Outra preocupação do Supremo é com o direito de defesa, tanto que advogados de peso foram convocados para atuar na eventualidade da ausência de advogados dos réus.

Está evidente que Carlos Alberto Quaglia, acusado, como sócio da Natimar Ltda., de lavar o dinheiro recebido por dirigentes do Partido Progressista, teve seu direito constitucional prejudicado.

Podem ser anulados também todos os procedimentos de réus que tiveram envolvimento direto ou indireto com Quaglia.

Mas será que o advogado ignorava que esse processo estava andando?

Ele não deveria ter tomado à frente e exigido ser intimado?

O "Clube Nextel"

Enfim, chegou na CPMI do Cachoeira a lista de 45 usuários dos rádios Nextel cadastrados no exterior pela organização criminosa. Além do número do "Capo", que a Polícia Federal classifica como "The Boss", pode-se dividir esse grupo dirigente em vários núcleos:

O dos maiores sócios nas atividades ilegais (bicho, bingo, caça-níqueis) tem 5 nomes; o da expansão dos negócios para a área legal tem 3, sendo dois diretores da empreiteira Delta, do Centro-Oeste e de SP/Sul.

O grupo da defesa jurídica tem 2 advogados; o do governo de Goiás inclui 4 autoridades; o dos servidores públicos, com 6 telefones; o da proteção policial tem 4 nomes, sendo 3 militares e um federal; o das articulações políticas tem 4 nomes, com destaque para Demóstenes; o dos assessores diretos do chefão tem 6 nomes; o de parentes, "famiglia" consanguínea e mafiosa, tem 5 nomes.


Há ainda 5 nomes com funções não identificadas pela Polícia Federal.

O deputado federal Chico Alencar, líder do PSOL, diz que, como a CPI cada vez mais tem que trabalhar com documentos, sem esperar algo mais substantivo dos depoimentos, "nessa sucessão de silêncios ridículos e cúmplices", há aí mais um meio de aprofundar as diligências, examinando a irradiação de cada um desses núcleos e o papel que cada um dos da "diretoria" exerceu e exerce, e junto a quem.

Vale lembrar, diz ele, que estamos na posse também da agenda do "Capo", com seus 460 telefones anotados, muitos deles reveladores.

São 15 deputados, diretores da Delta, são vários números do Rio de Janeiro, vários de Marconi Perillo, são hotéis, artistas (como Bruno e Marrone e Amado Batista).

Claro que estar registrado lá não atesta cumplicidade com os esquemas criminosos, mas muitos nomes são importantes para o cruzamento de dados, comenta Alencar.

Segundo o deputado do PSOL, as "senhoras Cachoeira", a ex e a atual, também se revelaram, "pelas informações concretas que temos e pelo silêncio que sustentaram na CPI, verdadeiras comparsas".

FONTE: O GLOBO

Baranga ou mequetrefe - Ruy Castro

Um dos advogados de defesa do mensalão, na tentativa de inocentar sua cliente Geiza Dias, ex-secretária do publicitário Marcos Valério, da acusação de formação de quadrilha, procurou desqualificá-la como uma funcionária menor, sem poder de decisão. Para isso, chamou-a de "mequetrefe".

Mequetrefe está no Houaiss e, de fato, significa "indivíduo sem importância, inútil, insignificante, borra-botas, joão-ninguém". Em outra situação, uma funcionária chamada de mequetrefe iria para casa chorando, vergada de dor e humilhação. Mas Geiza ficou radiante. "Ela me ligou duas vezes", revelou o advogado. "E dava risada. Disse que adorou. Espero que também tenha agradado aos ministros".

Acontece que inútil, insignificante etc., é apenas o terceiro sentido de mequetrefe no dicionário. Antes disso, mequetrefe quer dizer: "1. Indivíduo intrometido, dado a meter-se no que não é de sua conta; enxerido. 2. Indivíduo de caráter duvidoso, patife, mariola, biltre". Suponha que, aos ouvidos dos ministros, sabedores de seu latim, o mequetrefe do advogado obedeça a uma dessas acepções -lá se vai a defesa de Geiza para o espaço.

O advogado contou depois que sua primeira ideia fora classificar Geiza como uma "funcionária baranga". E, voltando ao Houaiss, lá está realmente a definição de baranga: "1. [Mulher] de baixa qualidade, de pouco ou nenhum valor". Idem ibidem, não parece algo de que uma mulher gostasse de ser chamada, exceto para salvar a pele. Mas pior ainda é a segunda acepção de baranga, de vasto uso popular: "2. Mulher feia, deselegante, mal-ajeitada". Aquilo que o povo chama, vulgarmente, de bagulho.

Nelson Rodrigues diria que não se chama uma baranga de baranga, jamais. Nem sei se é o caso de Geiza. Mas, mequetrefe ou baranga, não faz diferença, desde que passe por sinônimo de inocente.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Dilma diz a grevista que tem outras prioridades

O governo endureceu o tom contra os servidores federais em greve. Dilma Rousseff enfrentou protesto e vaia em Minas e disse que a prioridade é garantir emprego a quem não tem estabilidade. "Tem de olhar o que é mais importante no país, e aí atendê-lo. (...) O que o meu governo vai fazer é assegurar empregos para aquela parte da população que é a mais frágil, que não tem direito à estabilidade."

Em meio a protesto, presidente diz querer serviço público de qualidade

Sob vaias, apitos e assobios, Dilma afirma que vai assegurar empregos à população mais frágil

AGU defende corte de salário de grevistas; para sindicalista, o governo "tenta apagar fogo com gasolina"

Paulo Peixoto

Em meio a uma greve de vários setores do funcionalismo público federal, a presidente Dilma Rousseff enfrentou ontem protesto de servidores em Minas Gerais e respondeu dizendo que sua prioridade é garantir emprego a quem não tem estabilidade.

"Tem de olhar o que é mais importante no país (...). O que o meu governo vai fazer é assegurar empregos para aquela parte da população que é a mais frágil, que não tem direito à estabilidade, que sofre porque pode e esteve, muitas vezes, desempregada."

Ela fez as afirmações em Rio Pardo de Minas (a 685 km de Belo Horizonte), sem citar diretamente as greves. "Queremos todos os brasileiros empregados, ganhando os seus salários e recebendo serviços públicos de qualidade."

Durante os 12 minutos em que discursou, Dilma foi vaiada por cerca de 35 docentes, alunos e servidores de instituições federais de ensino.

Impedidos de entrar na praça portando faixas, os manifestantes retiraram dos bolsos cartazes com dizeres como "Negocia, Dilma". Entre vaias, apitos e assobios, gritavam: "Ô Dilma, a culpa é sua. A greve continua".

Fora da praça, servidores ostentavam faixas que tinham inscrições como: "Dilma, não deixe a falta de diálogo sepultar a esperança".

A onda de greves e protestos, iniciada em maio, atinge quase 30 categorias, como docentes universitários, policiais federais, auditores fiscais e policiais rodoviários.

As manifestações têm afetado universidades, portos, aeroportos e rodovias, além de serviços ao cidadão, como a emissão de passaportes.

Ontem, os servidores da PF aprovaram em assembleias pelo país a continuidade da greve, com novas operações-padrão em aeroportos como o de Cumbica (Guarulhos) para a próxima quinta-feira.

Corte de salários

Também ontem, o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, disse que os reitores das universidades federais podem ser processados por improbidade administrativa por não cortarem os salários dos professores, que estão em greve há três meses.

Apesar de elevar o tom ontem, membros do governo, como o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral), tem dito que há espaço para negociar. Uma proposta deve ser feita na próxima semana.

O secretário-geral do Sindicato dos Servidores Federais do DF), Oton Pereira Neves, disse que ameaçar cortar salário é comum, mas que, agora, há um desgaste maior.

"O governo lança mão disso porque é um trunfo muito forte, que mexe com a estabilidade emocional da gente. A novidade é que o governo Dilma está com uma intolerância muito grande. Está indo pelo caminho errado. Tenta apagar o fogo com gasolina."

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Greves de servidores já afetam abastecimento

Paralisação também prejudica comércio exterior e arrecadação de impostos

Apesar dos avisos do governo de que não será possível dar reajustes generosos, movimento parte para o confronto nas negociações

A paralisação de funcionários das agências reguladoras, da Polícia Rodoviária Federal, da Polícia Federal e fiscais agropecuários está prejudicando a rotina das empresas e afetando a produção. Ontem, a concessão de passaportes ficou suspensa no país. O sindicato da indústria de carnes de Santa Catarina disse que os prejuízos já somam US$ 5 milhões por dia. Há alimentos importados, remédios, vacinas, equipamentos para soro, material radiológico e outros produtos farmacêuticos retidos em portos e aeroportos.

Sob fogo cerrado

Servidores prometem intensificar greves na semana que vem para pressionar governo

Vivian Oswald, Flavia Pierry, Cristiane Bonfanti e Lino Rodrigues

Serviços parados

BRASÍLIA e SÃO PAULO Os movimentos de greve do funcionalismo público que vão se espalhando pelo país já atingem em cheio setores-chave da economia, afetando do comércio exterior à arrecadação de impostos, passando pela emissão de passaportes e o trânsito de passageiros nos aeroportos. Depois dos repetidos recados da equipe econômica de que não será possível ceder aos pedidos dos grevistas, os servidores públicos federais decidiram enfrentar a presidente Dilma Rousseff e avisaram que vão radicalizar na próxima semana, com manifestações ainda maiores.

Preocupados com o prazo para o envio da proposta orçamentária ao Congresso Nacional, que vai até 31 de agosto, os servidores vão montar acampamento na terça-feira em frente à Catedral de Brasília e, na quarta, prometem parar a Esplanada dos Ministérios. Na segunda-feira, o primeiro item da agenda da presidente é uma reunião com a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, para discutir as greves.

Só a paralisação dos funcionários do Ministério da Agricultura, que começou na segunda-feira, pode ter um impacto de US$ 10 bilhões por mês sobre as exportações, segundo dados elaborados pela Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) a pedido do GLOBO. Antes mesmo da greve, o mercado já previa queda em comparação a 2011, em função da crise financeira global. O prejuízo mensal equivale a cerca de metade dos benefícios concedidos pelo Executivo ao setor produtivo no programa de estímulo Brasil Maior.

Em vista dessa ameaça, o governo obteve liminar na Justiça obrigando todos os servidores da Agricultura a voltarem ao trabalho. O sindicato recorreu. Esse setor ainda não havia sido afetado pela greves da Receita Federal e da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), que começaram há mais tempo. Isso porque 90% do que o país exporta sai pelo chamado canal verde, ou seja, não depende desses órgãos.

A AEB garante que também é negativo para a indústria brasileira o impacto sobre as importações. Em julho, quando a greve se limitava à Receita e à Anvisa, cerca de US$ 2,3 bilhões teriam deixado de ingressar no país. Esta poderia ser um boa notícia para ajudar a manter o superávit comercial em meio à queda das exportações. No entanto, 65% do que o país importa são bens de capital, usados na indústria de manufatura, e matérias-primas. A média diária das importações em julho foi a segunda pior do ano. E na primeira semana de agosto caiu ao menor nível de 2012: US$ 785 milhões.

Pelas contas do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Sindifisco), a operação-padrão deve provocar prejuízo de R$ 7 bilhões em apenas um mês - R$ 6 bilhões em autos de infração e R$ 1 bilhão que deixou de ser lançado nas contas do Fisco nas operações de comércio exterior. A Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef) orientou os dirigentes sindicais nos estados a intensificarem a mobilização. Isso deve prejudicar ainda mais as fiscalizações nos portos e o trânsito nos aeroportos.

- Cobramos diariamente o governo, mas ele ainda não sinalizou com uma proposta. Vamos fazer mais uma semana de protestos - afirmou o secretário-geral da Condsef, Josemilton Costa.

Nas contas dos sindicatos, hoje há 350 mil trabalhadores de 36 categorias parados. Mas o governo calcula que esse número não ultrapassa 80 mil.

Segundo o Sindifisco, dos 11.500 servidores em todo o país, os 2.400 que trabalham nas aduanas não pararam. Mas, com ritmo menor de trabalho, a inspeção e liberação de uma carga, que levava em média 24 horas, demora até 5 dias. O sindicato garante, porém, que cargas perecíveis, itens hospitalares e medicamentos não entram na fila.

O Sindicato Nacional dos Fiscais Federais Agropecuários (Anffa) afirmou que cerca de 70% dos 3.200 fiscais aderiram à greve. E admite que isso pode emperrar as exportações. O trabalho dos fiscais não se resume à inspeção e liberação de produtos nos portos, aeroportos e fronteiras. Parte do contingente atua dentro dos frigoríficos e produtores de alimentos, fiscalizando e concedendo o carimbo do Serviço de Inspeção Federal (SIF). Na PF, o sindicato da categoria estima que estejam parados 80% dos quase 9 mil policiais federais (entre agentes, escrivães e papiloscopistas).

A paralisação dos fiscais agropecuários afeta a produção e causa perdas aos frigoríficos de Santa Catarina, o maior produtor e exportador de aves e suínos do país. O Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados do estado (Sindicarne) estima perdas de US$ 5 milhões ao dia. Há mais de uma semana, apenas 30% dos produtos destinados à exportação das unidades fabris catarinenses estão sendo liberados nos portos.

- Se a situação persistir até segunda-feira, as 23 empresas de Santa Catarina terão de parar a produção - advertiu ontem o presidente do Sindicarne, Clever Pirola Ávila.

Os produtores já sofriam com a suspensão de importações pela Argentina e pela Rússia, com a greve dos caminhoneiros e com a alta dos preços de milho e soja. Somados, esses fatores elevaram os custos de produção em 50%, alta que está sendo repassada aos produtos.

A BRF Brasil Foods, maior exportadora brasileira de frango, está tendo que estocar os produtos nas fábricas e nos seus terminais nos portos. Além do custo para manter esses estoques, a empresa teme reflexos em toda a cadeia. A Aurora Alimentos, com sede em Chapecó (SC), por sua vez, já reduziu os abates de frangos e suínos.

Além dos prejuízos financeiros a empresas e consumidores, a greve dos servidores afeta estudantes de todo o país. Willian Carvalho, coordenador-geral do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe), estima que, nos institutos federais, trabalhadores de 280 dos cerca de 300 campi do país estão parados. Mas segundo o secretário de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação, Marco Antônio de Oliveira, cem unidades não estão funcionando e outras 160 trabalham parcialmente.

No que diz respeito aos professores, mesmo com a proposta de reajustes entre 25% e 40%, ainda há 80 mil servidores parados. Oliveira garantiu, no entanto, que não haverá nova oferta:

- Orientamos as universidades a reunirem os conselhos e estabelecerem um calendário de reposição das aulas.

FONTE: O GLOBO

Dilma quer isolar CUT e abrir negociação direta com servidores

Para a presidente, central radicaliza e deveria compreender momento econômico do País

Vaiada nas ruas e com manifestantes em frente ao Planalto, a presidente Dilma Rousseff quer isolar a CUT e outras centrais que comandam as greves em 30 setores do governo federal e negociar em separado com servidores, informa o repórter João Domingos. A presidente está irritada com a CUT, o braço sindical do PT, por entender que a central deveria ser a primeira a compreender o momento de crise mundial e de queda na arrecadação de impostos. Mas a CUT e, principalmente, a Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal fugiram do controle do governo e têm radicalizado nas reivindicações. Ontem, o STJ determinou a volta ao trabalho dos fiscais agropecuários.

Dilma tenta isolar centrais e negociar direto com grevistas

João Domingos

Pressionada pela série de paralisações pelo País, a presiden¬te Dilma Rousseff pretende isolar a CUT e outras centrais que comandam as greves em 30 setores do governo federal com as negociações em separa¬do com os servidores. A estra¬tégia é neutralizar o poder de mobilização das entidades.

Dentro do governo, as informa¬ções de bastidores são de que a presidente está muito irritada com a CUT, braço sindical do PT, por entender que, de todas as en¬tidades representativas de traba¬lhadores, deveria ser a primeira acompreender o momento de crise econômica mundial e a queda na arrecadação de impostos.

A CUT, porém, "fugiu do controle", na avaliação de integran¬tes do governo. A central sindi¬cal é ligada à Confederação dos Trabalhadores no Serviço Públi¬co Federal (Condsef), um dos principais pilares da greve. A en¬tidade tem entre seus associa¬dos os sindicatos de servidores federais e os que controlam as grandes agências reguladoras.

No caso dos professores e servidores universitários, os primei¬ros a entrar em greve, ainda em maio, a central que comanda a mobilização é a Conlutas, controlada pelo PSTU e pelo PSOL, partidos de oposição a Dilma.

Esperado. Segundo auxiliares da presidente, desde o ano passa¬do era sabido que esse seria um ano difícil. Tanto é que o gover¬no agiu intensamente dentro do Congresso a fim de desarmar projetos que dão aumento para servidores do Judiciário, do Mi¬nistério Público e para dezenas de categorias da chamada carrei¬ra de Estado - justamente as mais mobilizadas, como os inte¬grantes de agências reguladoras, auditores fiscais, Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal.

Aintenção era anunciar algum porcentual de aumento em ju¬nho, o que poderia desarmar as mobilizações dos servidores. Acontece que as respostas esperadas pelo setor econômico não apareceram, segundo o governo. Com isso, o anúncio que deveria ser feito em junho foi adiado pa¬ra julho e depois para agosto.

Segundo a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, as reu¬niões com as 30 categorias em greve vão começar na semana que vem. As propostas serão fei¬tas setor por setor. Ela disse quenem todos serão atendidos.

O problema, de acordo com au¬xiliares do Planalto, é o tempo. A Lei de Diretrizes Orçamentárias estabelece que só pode haver aumento de salário no ano seguin¬te se os projetos forem apresen¬tados até o dia 31 deste mês. O que for enviado ao Congresso de¬pois disso só valerá para 2014.

Razão da radicalização. Como resultado, o mês de agosto foi transformado numa espécie de data-base única, levando categorias organizadas a radicalizarnas suas reivindicações, pois sa¬bem que, se não conseguirem nada agora, poderão dar adeus a qualquer esperança de reajuste em 2013. A situação incentivou a criação de uma entidade paralela, a União das Entidades Repre¬sentativas das Carreiras de Esta¬do, que representa advogados da União, auditores e delegados da Polícia Federal.

Com medo de ficar isolada, a CUT radicalizou o discurso para não ser considerada excessiva¬mente governista. Foi então que a central sindical, que manteve estreito contato com o governo Luiz Inácio Lula da Silva e deu pouco trabalho a ele, decidiu se contrapor ao governo Dilma.

Na atual gestão, a central liga¬da ao petismo ensaiou alguns movimentos mais sectários, che¬gando a denunciar o governo à Organização Internacional do Trabalho (OIT) por ter feito em julho o Decreto 7.777, que permi¬tiu à União requisitar servidores dos Estados em casos de greve em agências fundamentais para a liberação de mercadorias, co¬mo a Agência Nacional de Vigi¬lância Sanitária (Anvisa) e o De¬partamento de Controle Sanitário do Ministério da Agricultura.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Governo culpa “aliados” pela radicalização

Fontes do Planalto avaliam que no centro da crise aberta pela explosão de greves do funcionalismo estaria a perda de poder da CUT e da Força Sindical no governo Dilma. Ontem, ao ser vaiada por grevistas, a presidente disse que sua prioridade, em meio à crise mundial, é garantir o emprego dos trabalhadores que, ao contrário dos servidores, não têm estabilidade.

Dilma: governo não é só para servidores

Sob vaias de grevistas, presidente diz que a sua missão é proteger empregos privados. Indústria corta 1,2% das vagas

Luiz Ribeiro

Rio Pardo de Minas — Tudo estava programado para ser uma grande festa, sem transtornos, mas a presidente Dilma Rousseff foi surpreendida e teve de encarar a fúria de servidores públicos que não aceitam a sua resistência em conceder reajustes ao funcionalismo no ano que vem. Um grupo de grevistas da área educacional vaiou a maior parte de seu discurso. Dilma não se intimidou, apesar da aparente contrariedade, e mandou o recado: governa para a maioria do país e não para uma classe específica, no que foi aplaudida pelo público. "Este é um país que tem de ser feito para a maioria de seus habitantes. Não pode ser feito só para uma parte deles. Tem de olhar o que é mais importante para o país atender", afirmou.

Segundo a presidente, em um momento de crise internacional tão grave e com a economia brasileira tentando manter as forças, é preciso garantir os empregos de trabalhadores da iniciativa privada, mais vulneráveis às tempestades que vêm de fora. "Nós, hoje, enfrentamos uma crise no mundo. O Brasil — porque tem os pés no chão — sabe enfrentar a crise e vai passar por cima dela, assegurando emprego para todos. E o que o meu governo vai fazer é assegurar empregos para aquela parte importante da população que é mais frágil, que não tem direito à estabilidade, que sofre porque, às vezes, pode ficar desempregada. E não queremos isso. Nós queremos todos os brasileiros empregados, ganhando seus salários e recebendo serviços públicos de qualidade", afirmou, a cerca de 40 metros do local onde gritavam os manifestantes, cercados por policiais militares e seguranças.

Sem recuperação

Na avaliação de Dilma, é preciso deixar claro que os servidores públicos não perderão o emprego em caso de um agravamento da situação econômica — o país crescerá menos de 2% neste ano e há dúvidas sobre uma recuperação mais forte no ano que vem. Por isso, a prioridade do governo está sendo buscar recursos no Orçamento de 2013 para dar incentivos ao setor produtivo. As medidas de apoio, sobretudo à indústria, começarão a ser divulgadas na próxima semana, em encontro da presidente com 30 dos maiores empresários do Brasil. Se atender aos pleitos dos servidores, que exigem aumento salarial linear de 22%, o setor público teria de comprometer mais R$ 92,2 bilhões das receitas para pagar pessoal.

A justificativa de Dilma foi sustentada pelos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) pouco antes de ela discursar. A despeito de a produção industrial ter crescido 0,2% em junho, o total de empregados no setor caiu 0,2%. Foi o quarto recuo seguido. No primeiro semestre, as empresas fecharam 1,2% dos postos. "Não poderia ser diferente. Um único resultado positivo de produção na indústria não seria suficiente para alterar o cenário de contratação imediatamente. O mercado de trabalho reflete, com atraso, o aumento da produção. Precisa de um movimento mais consistente da indústria para gerar efeito no emprego", disse André Macedo, do IBGE.

Disfarces

Os argumentos de Dilma não convenceram os manifestantes. Enquanto ela discursava, eles gritavam: "A greve continua. Dilma, a culpa é sua". Os grevistas, por sinal, driblaram o esquema de segurança montado pela Presidência da República. Impedidos de portarem faixas ou camisetas do movimento na área reservada ao público, apelaram para a discrição. Entraram sem alarde e, quando a presidente começou a falar, passaram a entoar frases de protesto e estenderam cartazes, improvisados com tinta hidrocor e papel, que levaram escondidos. Os ativistas disseram ser do câmpus avançado da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) de Montes Claros, do Instituto de Educação Tecnológico do Norte de Minas e do Sindicato Nacional dos Servidores Federais de Educação.

Dilma foi a Rio Pardo de Minas, a 685 quilômetros de Belo Horizonte, no norte de Minas, lançar a expansão do Programa Brasil Sorridente, para garantir tratamento odontológico, incluindo dentaduras, à população mais carente. Segundo ela, quando se faz política governamental, é preciso ver as pessoas como um todo, sem esquecer elementos fundamentais, como a identidade. "No passado, ninguém olhava para as pessoas de forma completa. A gente tratava no Brasil de muitas coisas, mas esquecia um dos elementos fundamentais. No (Programa) Brasil Sorridente, olhamos as pessoas não como uma parte, não como uma pessoa que tem uma doença, mas olhando como se pode dar saúde integral para ela", disse.

De acordo com números da Secretaria de Saúde de Rio Pardo, 20% dos moradores da zona rural do município precisam das próteses dentárias (dentaduras). Ou seja, são 20% de desdentados na área rural, onde reside 67% da população da cidade ( 28,7 mil habitantes).

Marco Aurélio critica Executivo

O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), criticou ontem o governo por não dar aos servidores a garantia de reposição salarial. Ele afirmou que os funcionários públicos têm o direito legítimo de exigir reposição do poder aquisitivo, acrescentando que é natural a ocorrência de greves quando esse direito não é respeitado. "Temos uma onda de paralisações do serviço público. Por culpa de quem? Por culpa do Estado, que tripudia com o servidor", afirmou. "O Estado não faz a reposição salarial que a lei garante e então os diversos segmentos começam a fazer barulho." O ministro lembrou que ele mesmo está há seis anos sem reajuste. "O que ganho hoje não compra as mesmas coisas que seis anos atrás", disse.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

A casa da mãe joana - Fernando Rodrigues

Quando Fernando Henrique Cardoso tomou posse no Planalto, em janeiro de 1995, o governo federal não tinha como apertar um botão e saber quantos funcionários públicos havia.

Com muito custo, a equipe do então ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira (Administração Federal) começou a compilar dados. Surgiu em formato impresso e com regularidade mensal o Boletim Estatístico de Pessoal. Hoje na internet, esse trabalho informa on-line quantos são os servidores públicos federais no Poder Executivo -segundo o dado mais recente, há 643.404 civis trabalhando para Dilma Rousseff, além de 356.863 militares.

E quantos desses funcionários estão em greve? Ninguém é capaz de responder a essa pergunta de maneira precisa. É alarmante a falta de controle na gestão de recursos humanos no governo federal.

Os grevistas costumam afirmar que entre 300 mil a 350 mil funcionários estão de braços cruzados. Parece ser exagero, mas o governo não tem como contestar. Apesar de estar há quase dez anos no Planalto, o PT foi incapaz de implantar um sistema informatizado para ter ao final de cada dia uma lista de quem foi e de quem não foi trabalhar.

Seria como se uma grande montadora de automóveis ou uma rede varejista enfrentasse uma greve e o gerente do empreendimento não soubesse exatamente quem havia aderido ao movimento. Uma balbúrdia gerencial se instalaria.

No caso das universidades públicas o cenário é caótico. Trabalham nessas instituições 162.256 funcionários. Como os reitores são eleitos, têm autonomia administrativa a ponto de não dizerem para Brasília quantos servidores participam da atual greve que já dura três meses.

A onda greves atual, por óbvio, um dia acaba. Mas é desolador saber que continuará inalterada falta de gerenciamento que provoca esse clima de casa da mãe joana.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Em S. Paulo, largada eleitoral tem chuva de promessas

Em um mês de campanha oficial, candidatos em São Paulo não economizam nos compromissos; zona leste é alvo de boa parte dos planos

Bruno Boghossian, Bruno Lupion, Felipe Frazão e Ricardo Chapola

No primeiro mês da disputa pela Prefeitura de São Paulo, os quatro candidatos mais bem colocados nas pesquisas fizeram dezenas de promessas para solucionar problemas da capital paulista, como reduzir impostos para empresas se instalarem na zona leste, estabelecer uma tarifa mensal única que permita o uso ilimitado do Bilhete Único, construir ciclovias e operar as unidades de Assistência Médica Ambulatorial (AMAs) 24 horas por dia.

A vedete da campanha, até o momento, tem sido levar empresas para a região da Avenida Jacu Pêssego, com o objetivo de reduzir o deslocamento diário de pessoas entre o extremo leste - onde há muita moradia, mas pouco emprego - e o centro expandido.

Celso Russomanno (PRB), Fernando Haddad (PT) e Gabriel Chalita (PMDB) sustentam a proposta em seus eventos de campanha. José Serra também, com ênfase na construção de um polo tecnológico na região de Itaquera.

A proposta dos candidatos não é inédita: a Prefeitura concede incentivos tributários a empresas que se instalem na região de Itaquera desde 2004, sem que o panorama do bairro tenha se transformado. Para a urbanista Raquel Rolnik, trata-se de uma proposta insuficiente para qualificar o cenário urbano.

A maioria dos candidatos também concorda em investir nos deslocamentos de bicicleta. Serra e Chalita prometem ampliar a malha de ciclovias da cidade para 400 quilômetros. Haddad quer integrar o empréstimo de bicicletas ao Bilhete Único.

Essa não é a única mudança sugerida pelo petista no Bilhete Único, criado na gestão Marta Suplicy (PT). Haddad também prometeu estabelecer uma tarifa mensal fixa de cerca de R$ 150 que permitiria realizar viagens ilimitadas de ônibus pela capital. Para a proposta funcionar plenamente, Haddad teria de combinar o modelo com o governo do Estado, que administra o sistema de trens e o metrô, mas integrantes da campanha de Serra foram unânimes em definir a proposta como um "retrocesso", por contemplar apenas o sistema de ônibus.

Saúde. Munidos de pesquisas que apontam a área da saúde como a mais sensível para o paulistano, os candidatos também apresentaram soluções para o setor. Chalita propõe que cada bairro tenha pelo menos um equipamento de saúde e que as AMAs funcionem 24 horas por dia - esta última proposta também é defendida por Serra. Haddad promete construir, em quatro anos, três hospitais - nas zonas norte, sul e leste - e Russomanno, aumentar o salários dos médicos para melhorar o atendimento.

Ontem, em comício na Praça da República, Haddad também prometeu construir 55 mil moradias populares e beneficiar 75 mil famílias com a urbanização de favelas. Por sua vez, Serra fez caminhada na Rua 25 de Março e propôs construir um shopping popular na região do Pari para abrigar vendedores ambulantes.

Agenda negativa. Adversários tradicionais, nos últimos 20 dias petistas e tucanos têm se acusado mutuamente de fascistas e nazistas. O bate-boca começou em 19 de julho, quando o coordenador da campanha petista, vereador Antonio Donato, chamou de fascistas quatro membros da juventude do PSDB que se fizeram passar por estudantes de universidades federais para protestar contra Haddad. No dia seguinte, Serra afirmou que a militância do PT na internet se assemelhava às tropas nazistas. Anteontem, o site de Haddad veiculou um vídeo produzido por terceiros que comparava Serra a Adolf Hitler.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Kassab pede eleição de Serra em aniversário

Prefeito celebra 52 anos, corta bolo e dá primeiro pedaço ao tucano, que já convida aliado para repetir a festa em 2013

Felipe Frazão

O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), fez ontem um pedido "secreto": que o aliado e candidato a sucedê-lo na Prefeitura, José Serra (PSD), vença as eleições de outubro. Kassab promoveu uma comemoração antecipada de aniversário no Edifício Matarazzo, no centro da capital. O prefeito completa 52 anos amanhã e reservou o dia para a família. Depois de cortar o primeiro pedaço do bolo (entregue a Serra), Kassab revelou o pedido aos correligionários que lotaram a antessala do gabinete.

"Quero tranquilizar o Serra que o pedido é esse mesmo", disse Kassab, depois de ouvir integrantes do secretariado e vereadores da base na Câmara Municipal especularem que o prefeito desejara a eleição do tucano. "Com ele (Serra) aqui do lado, o pedido tinha que ser esse."

Ao lado de Kassab, Serra acompanhou o Parabéns a você puxado pela vice-prefeita Alda Marco Antônio (PSD).

"Ele tem a idade que eu tinha quando disputei a eleição para o Senado. Então tem muita coisa pela frente ainda. Eu pelo menos fui senador, ministro do planejamento, da saúde, governador e prefeito. Ele tem ainda tudo isso pela frente", disse Serra. "No ano que vem, de toda maneira, está convidado para vir aqui comemorar."

Estiveram presentes coronéis da Polícia Militar, subprefeitos, secretários do primeiro escalão e vereadores de PSD, PV, PC do B, PSB e PSDB que concorrem à reeleição.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Vídeo contra tucano causa outra baixa na equipe de Haddad

SÃO PAULO - A publicação de um vídeo no site de Fernando Haddad (PT) com ofensas ao adversário José Serra (PSDB) provocou ontem a segunda baixa na campanha petista à Prefeitura de São Paulo.

O número dois da equipe responsável pela internet deixou o cargo em solidariedade ao chefe, que foi demitido após a Folha noticiar o uso do material contra o tucano.

No vídeo, Serra aparece numa montagem ao lado do ditador nazista Adolf Hitler e é alvo de um gesto obsceno do rapper MC Mamuti 011, que diz ter sido o responsável pela ideia.

Ontem, Haddad disse que seguiu seus princípios ao determinar a demissão do coordenador do site e não quis comentar as críticas do tucano, que o acusou de promover "baixaria" na campanha.

"Detectado o problema, foi tomada a decisão correta."

Questionado se há crise no setor de marketing da candidatura, respondeu: "Nenhuma."

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Em MG, Dilma veta candidatos no palanque e não fala de eleição

Petistas cobram participação maior da presidente em campanhas pelo país

Amanda Almeida, Maria Lima e Fernanda Krakovics

PARDO DE MINAS e brasília Disposta a evitar problemas com a Justiça eleitoral e disputas por seu apoio entre aliados, a presidente Dilma Rousseff adotou estratégias em suas viagens pelo país para evitar que candidatos surfem em sua popularidade. Ao passar por Minas, ontem, ela mandou precursores avisarem que não queria campanha no Aeroporto de Salinas, onde desembarcou antes de seguir para Rio Pardo de Minas. Lá, discursou num palanque composto praticamente por ministros e técnicos da prefeitura.

Candidatos a prefeito e a vereador no Norte de Minas tiveram de manter distância do terminal aéreo e do evento em que Dilma anunciou a ampliação do programa Brasil Sorridente, que oferece tratamento bucal. Ninguém foi convidado a subir ao palco montado em Rio Pardo ou recebeu elogios em tom eleitoreiro. Postura distinta à do antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), multado várias vezes por fazer campanha antecipada.

- Veio uma pessoa da Presidência e avisou que candidatos não deveriam recebê-la no aeroporto. Eu não fui porque sou candidato a vereador. O PT pôde montar uma comissão de cinco pessoas para cumprimentá-la, desde que não incluíssem candidatos - relata o presidente do PT no município, Milton Reis.

O PT tem candidato próprio à prefeitura de Salinas e disputará com uma concorrente do PSB, partido aliado de Dilma no plano nacional. Para evitar a briga por fotos com a presidente, os dois foram proibidos de passar pelo aeroporto.

- Nós não queríamos fazer campanha. Mas tinha gente que queria se aproveitar... Então, conversaram conosco avisando sobre os problemas com a Justiça eleitoral, e candidatos ficaram do lado de fora - relata o prefeito de Salinas, José Antônio Prates (PTB).

De Salinas, a presidente foi de helicóptero para Rio Pardo de Minas. No município de quase 30 mil habitantes, as restrições a candidatos continuaram. Um dos fatores que levaram Rio Pardo a ser escolhida para o evento foi a impossibilidade do atual prefeito disputar uma reeleição. Antônio Alves (PRTB), o Tonão do Posto, teve de vetar do evento o candidato que apoia:

- Ele nem participou do evento. Houve um trato para que não tivesse uso eleitoral. Até os deputados tiveram que ficar distantes do palco. Para o palanque, foram convidados o governador Antonio Anastasia (PSDB), quatro técnicos da prefeitura, o prefeito e a esposa, e os ministros Alexandre Padilha, Gilberto Carvalho, Helena Chagas, Fernando Pimentel e Tereza Campello.

Em Brasília, Dilma, alegando cautela para não criar problemas com aliados, já avisou ao presidente do PT, Rui Falcão, que só participará de campanhas onde sua presença fizer diferença nas disputas mais acirradas, como Belo Horizonte. Ou seja, candidatos sem chances de vitória e que estão disputando apenas por questões partidárias não contarão com Dilma no palanque.

Mesmo com a pressão dos petistas, Dilma, à exceção da capital mineira - onde Patrus Ananias (PT) tem 27% das intenções de votos, contra 44.4% do atual prefeito Márcio Lacerda (PSB) -, vai analisar a participação direta em outros palanques em setembro, quando o quadro estiver mais definido. O discurso é que ela vai se comportar primeiro como presidente, só em segundo lugar, como integrante do PT. Para esse papel, o partido tem Lula. A preocupação é não criar problemas para o governo.

Aos candidatos, Rui Falcão informou que Dilma pode entrar nas campanhas ainda no primeiro turno, mas não se sabe ainda como, onde ou quando. Nos bastidores do PT, há muitos insatisfeitos, mas a ordem é evitar críticas.

- Não estou correndo desesperado atrás do apoio de Lula ou Dilma. Eu tenho história e aqui não votam porque estou pendurado neles. Lógico que eles têm uma simbologia, mas não posso ficar pendurado em quem quer que seja - afirmou ontem o candidato do PT em Recife, senador Humberto Costa.

Os candidatos do PT e coligados, por enquanto, terão que se contentar com uma foto de Dilma com o ex-presidente Lula que foi disponibilizada no site do partido.

FONTE: O GLOBO

Paes terá mais de 16 minutos no programa eleitoral

Exposição do candidato na TV supera em mais de dois minutos a soma dos tempos de todos seus concorrentes

Cristina Tardáguila

O prefeito do Rio, Eduardo Paes, candidato à reeleição pelo PMDB, terá 16min17s de exposição no programa eleitoral de rádio e televisão que começa no dia 21. O tempo de Paes, um dos anunciados ontem pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ), supera em 2min37s a soma dos tempos de todos os outros candidatos da campanha e será uma das principais ferramentas do prefeito na corrida eleitoral.

Em segundo lugar no ranking de tempo na TV aparece o candidato do DEM, Rodrigo Maia. Segundo anunciou o TRE-RJ, ele somará 3min35s no ar, 17s a mais do que Otavio Leite, do PSDB, que fica em terceiro lugar com 3min18s.

Marcelo Freixo, que concorre pelo PSOL e figura em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, terá apenas 1min22s para apresentar suas propostas. Aspásia Camargo, do PV, vai dispor de 1min40s. Os programas de TV dos candidatos Fernando Siqueira (PPL), Antônio Carlos (PCO) e Cyro Garcia (PSTU) terão 1min15s cada um.

Entre os candidatos a vereador, a coligação formada por PMDB e PSC é a que terá mais tempo no horário eleitoral: 3min52s. Em seguida, segundo o TRE-RJ, vêm os candidatos do PT, com um total de 3 min47s.

FONTE: O GLOBO

Em BH, amigos, amigos palanque à parte

Presidente do PSB aparece pela primeira vez em ato de campanha de Lacerda, mas diz que vai se dedicar ao projeto de eleger 50 prefeitos socialistas no interior

Juliana Cipriani

Mais de um mês depois do início da campanha eleitoral, o presidente do PSB de Minas Gerais, Walfrido Mares Guia, apareceu ontem pela primeira vez em um ato político com o prefeito socialista e candidato à reeleição, Marcio Lacerda. Apontado como um dos responsáveis pelo imbróglio que levou ao rompimento entre seu partido e o PT, o dirigente disse ter ido manifestar "solidariedade", mas que continuará se dedicando às disputas no interior do estado. Ao reunir representantes das 19 legendas de sua coligação, Lacerda disse mais uma vez que seu governo tem enfoque social até quando faz obras.

Ausente desde 30 de junho, quando o PT acabou rompendo com Lacerda por causa da não concretização da aliança proporcional entre os dois partidos, Walfrido – que havia assinado documento prometendo ao PT a coligação, mas foi desautorizado na última hora por Lacerda – disse que tirou 15 dias de férias e estava cuidando da negociação para trazer uma fábrica para Minas Gerais. Ele afirmou também que diante do bom desempenho e da aceitação de Lacerda na capital, vai se dedicar ao projeto de eleger 50 prefeitos do PSB no interior mineiro.

Principal braço do ex-presidente Lula no PSB de Minas e responsável pela articulação que iria unir mais uma vez PT e PSB pela reeleição do prefeito, Walfrido nega constrangimento em fazer campanha para Lacerda, mas não esconde o descontentamento com o fim da aliança. "Eu podia estar mais entusiasmado se todo mundo que eu quisesse estivesse na campanha. Mas isso não significa que eu tenha algum constrangimento", afirmou, depois de dizer que mantém relação de amizade com Lula e o adversário e antigo aliado de Lacerda, o candidato Patrus Ananias (PT).

BALANÇO -  O prefeito fez um balanço positivo do primeiro mês de campanha e afirmou que todos os partidos vão contribuir com seu programa de governo. Ele disse que, apesar de não declarar, o seu governo faz muito pela área social e continuará tendo esse enfoque. A fala é uma resposta ao adversário, conhecido pela atuação no Desenvolvimento Social e Combate à Fome e que foca seu discurso nessa área. Lacerda afirmou que seu governo tem um "componente social inédito e revolucionário" e que sua gestão fez o maior volume de obras da história.

"O cunho social da nossa gestão se deu na prática. Falamos pouco sobre esse assunto, mas fizemos muito na saúde, na educação, no esporte, lazer, todas aquelas áreas nas quais se pode agir para melhorar a qualidade de vida das pessoas", afirmou. Especificamente na área social, Lacerda disse ter ampliado os investimentos da Secretaria de Políticas Sociais em 72% desde 2008. "Belo Horizonte tem de forma capilarizada, espalhada em toda a cidade, uma rede de proteção social, inclusive de média e alta complexidade", afirmou.

Em entrevista coletiva durante a reunião, o prefeito afirmou que pretende dar continuidade à sua gestão e prometeu chegar a 85 mil vagas na educação infantil nos próximos dois anos, caso seja reeleito. "Estaremos na próxima gestão, se assim a população decidir, passando a escola integrada de 60 mil para 120 mil vagas. Começamos com 15 mil vagas em 2009", contabilizou.

FONTE: ESTADO DE MINAS

Em Recife, prefeito João da Costa cada vez mais longe do PT

PT x PT - Prefeito provoca e Humberto reage: é página virada

Bruna Serra

No folhetim petista não há mais espaço para João da Costa. Ontem, durante o “beija mão” realizado no salão de eventos do Centro de Convenções, em comemoração ao aniversário do governador Eduardo Campos (PSB), o prefeito do Recife deixou claro que não subirá no palanque do candidato Humberto Costa (PT), apesar da insistência da direção nacional petista.

“Rochinha (membro da nacional) me ligou duas vezes. Disse a ele que não vou conversar (com Lula) só para tirar foto. Para fazer isso, faço daqui mesmo. Tem um processo político aí que ainda não foi resolvido. As minhas dificuldades já são conhecidas”, afirmou o prefeito, referindo-se ao assédio do dirigente, que recebeu de Lula a incumbência de agendar um encontro entre João da Costa e o ex-presidente.

O prefeito também demonstrou insatisfação com a forma como a sua gestão vem sendo defendida na campanha. “As pessoas não defendem o governo. Às vezes defendem pela metade. Não tem necessidade de subir em palanque, não vou apoiar em troca de pegar uma secretaria. Se outros fazem isso, eu prefiro me preservar”, arrematou, num recado a João Paulo, vice de Humberto.

O senador tem dito à equipe que não vai mais procurar João da Costa. Acompanhado de João Paulo, ele chegou à festa de Eduardo depois que o prefeito já tinha deixado o local. Até então sorridente, Humberto só mudou sua expressão quando questionado sobre as afirmações do prefeito. “Não vou mais ficar falando sobre esse assunto. Não vou mais ficar constrangendo ninguém. Nós já estamos em outra fase, envolvendo parte da militância que estava naquele período das prévias com o prefeito. Para mim, isso é uma página virada”, rebateu o senador.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Trem-bala é incluído em pacote de concessões

O polêmico projeto do trem-bala estará no pacote de concessões que a presidente Dilma Rousseff pretende anunciar na quarta-feira, na tentativa de aumentar o investimento privado e reverter as baixas taxas de crescimento. O governo tenta atrair dinheiro estrangeiro para a infraestrutura.

Trem-bala vai fazer parte do pacote de concessões para a infraestrutura

Projeto polêmico estará no conjunto de concessões que Dilma pretende anunciar na quarta-feira; objetivo é aumentar o investimento privado e combater o baixo crescimento do País

Tânia Monteiro e Lu Aiko Otta

BRASÍLIA - O polêmico projeto do trem-bala estará no pacote de concessões que a presidente Dilma Rousseff pretende anunciar na próxima quarta-feira, na tentativa de aumentar o investimento privado e combater as baixas taxas de crescimento econômico do País. Para vender os projetos, ela caprichou na lista de convidados, incluindo nela várias empresas internacionais. Dilma quer dinheiro estrangeiro na infraestrutura nacional.

O pacote a ser anunciado na semana que vem inclui mais de 5 mil quilômetros de rodovias e 8 mil de ferrovias, neles incluído o trem-bala.

Numa segunda etapa, deverão ser anunciadas as concessões de aeroportos e dos portos. Somados, os projetos de logística de transporte envolverão investimentos superiores a R$ 80 bilhões e inferiores a R$ 90 bilhões, segundo dados que circulavam ontem no governo.

Além do trem de alta velocidade ligando São Paulo, Campinas e Rio de Janeiro, deverão ser oferecidos à iniciativa privada investimentos no Ferroanel de São Paulo e na Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico), no trecho que sai de Lucas de Rio Verde (MT) e se integra à Ferrovia Norte-Sul em Campinorte (GO).

Em rodovias, estão na lista empreendimentos como as BR-040 e BR-116 em Minas Gerais. "Todos os trechos são de interesse das empresas", disse o presidente da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR), Moacyr Servilha Duarte. Ele acredita que, desta vez, o governo deverá exigir um volume maior de investimentos ao fazer as concessões.

Parcerias. Os leilões de aeroportos, que estão na fila de anúncios, poderão envolver uma novidade: Parcerias Público-Privadas (PPPs). O governo federal até hoje não utilizou essa forma de concessão na qual a participação do setor público é maior do que numa concessão tradicional. Os editais deverão também trazer novas exigências para os candidatos à concessão, pois o governo quer atrair operadores de aeroportos com maior experiência do que os que venceram os leilões de Guarulhos, Viracopos e Brasília.

O pacote de portos está um pouco mais atrasado, dada a complexidade do assunto. O anúncio por etapas das concessões em infraestrutura atende também à necessidade do governo de gerar uma agenda positiva ao longo do mês.

Em seguida, será a vez da desoneração da eletricidade, um conjunto de medidas que deverá baixar a tarifa em cerca de 10%. É possível que o anúncio ocorra só em setembro.

Outras medidas aguardadas pelos empresários, como a ampliação das desonerações tributárias e a reforma do PIS-Cofins, dependem de uma avaliação sobre a evolução das contas públicas. Com a arrecadação abaixo do esperado, Dilma tem dificuldades em aprovar medidas que representarão menos recursos em caixa.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Número de empregados na indústria cai 1,2% no 1º semestre

Resultado para os trabalhadores é o pior desde 2009, auge da crise

Rennan Setti

A contração da atividade industrial já está fechando vagas: o número de empregados do setor caiu 1,2% no primeiro semestre do ano, informou ontem o IBGE. Foi o pior primeiro semestre para os trabalhadores desde 2009, auge da crise global, quando o emprego do setor foi reduzido em 4,8%. Em junho, houve a quarta queda mensal consecutiva no emprego da indústria, de 0,2%.

No segundo trimestre, a quantidade de postos de trabalho caiu 0,8% em relação aos primeiros três meses do ano. Nos últimos 12 meses, a redução foi de 0,6%.

Vagas caem mais em SP: 3,2%

Como o IBGE informou no início do mês, a produção industrial brasileira fechou o primeiro semestre com recuo de 3,8%. Comparado ao mesmo mês do ano passado, o resultado de junho mostra retração de 5,5%, a maior queda desde setembro de 2009.

Segundo dados divulgados ontem, o número de horas pagas também fechou menor no semestre, com queda de 1,9%. A quantidade de horas pagas está diretamente ligada a horas extras, e a queda prenuncia uma atividade mais fraca.

Já a folha de pagamento real reverteu, em julho, uma sequência de quedas: cresceu 2,5%. Mas, segundo o coordenador das pesquisas de indústria do IBGE, André Macedo, junho foi favorecido pela base de comparação depreciada dos últimos meses e pelo pagamento de bônus e participação nos lucros em alguns setores da indústria. Esse foi o único indicador que encerrou o semestre em expansão, de 3,5%.

- O mercado de trabalho está acompanhando o ritmo mais moderado da produção industrial. Não tinha como ser outra coisa. Mesmo que o dado de produção tenha sido positivo em junho (0,2%), ele não muda o comportamento geral de perdas no semestre - afirmou Macedo.

O semestre foi de perdas generalizadas na comparação com o mesmo período de 2011. Houve contração em nove dos 14 locais pesquisados e em 12 dos 18 setores investigados. São Paulo, que concentra cerca de 40% da indústria nacional, cortou 3,2% das vagas e foi o principal impacto negativo nos números da indústria. Depois vêm Nordeste, (-2,0%), Santa Catarina (-1,5%), Ceará (-3,2%) e Bahia (-2,8%). No Rio, houve queda de 0,6%. Já Paraná teve expansão de 3,3% no número de vagas, e em Minas Gerais, de 1,2%.

Entre os setores, a principal contribuição negativa veio do vestuário (redução de 7,6% nos empregos), produtos de metal (-5,2%), calçados e couro (-6,5%) e têxtil (-5,3%). Impediram uma queda maior os setores de alimentos e bebidas (expansão de 3,8% nos postos de trabalho), máquinas e equipamentos (2,2%) e indústrias extrativas (4,3%).

Sobre o segundo semestre, o economista do IBGE observou que ainda não está claro o cenário para o emprego.

FONTE: O GLOBO

Para Malan, crise vai durar muitos anos

Ex-ministro da Fazenda diz que existe o risco de as turbulências afetarem o potencial de crescimento dos países emergentes

Vinicius Neder

RIO - A crise internacional é grave e levará muitos anos para ficar para trás, atingindo países emergentes, com risco de afetar o crescimento potencial de longo prazo de muitos deles. Esse foi o cenário traçado ontem pelo ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, que defende reformas estruturais como única garantia de crescimento para a economia brasileira.

"Não era uma marolinha", disse Malan, lembrando definição usada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no início da crise, em 2008. O ex-ministro foi um dos palestrantes do seminário "Para onde vai a América Latina", organizado pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio. Ele não concedeu entrevista, mas foi bastante enfático durante seu pronunciamento.

Segundo o economista, o cenário envolve dois riscos para todos os países. O primeiro, mais cíclico, está relacionado ao processo de redução das dívidas pública e privada. Será "superado um dia" e pode ser atenuado.

O segundo risco, de longo prazo, é mais grave e estrutural, segundo Malan. "É o risco de essa crise afetar a própria taxa de crescimento do produto potencial", afirmou. "Esse segundo risco, de efeito sobre a taxa de crescimento sustentável no longo prazo, tanto no mundo desenvolvido quanto no em desenvolvimento, é muito maior, porque envolve questões estruturais."

Entre os desafios estruturais, o ex-ministro citou problemas conhecidos, como questões ligadas à produtividade, ao custo do trabalho, à competitividade internacional, à tecnologia, ao capital físico e humano, aos marcos regulatórios e à eficiência do setor público.

A essas reformas, o economista Edmar Bacha, diretor do Instituto de Estudos de Política Econômica Casa das Garças, acrescentou mais uma: abrir mais a economia. Em palestra no mesmo seminário, Bacha, um dos formuladores do Plano Real, sugeriu como hipótese que a falta de abertura externa pode explicar a dificuldade de a economia brasileira crescer de forma sustentada acima de 4%.

Segundo o economista, o Brasil importa o equivalente a 11% ou 13% do PIB, menos do que seus pares latino-americanos, países como China, Rússia e Índia e também do que a média mundial, de 23% a 28% do PIB.

Milagre. "A menos que haja um "milagre brasileiro" da reabertura da economia, que foi frustrada, vamos continuar crescendo a 3,5%", declarou Bacha na palestra. "Aproveitamo-nos muito pouco do comércio internacional para aumentar a produtividade da economia", completou, após a apresentação.

Bacha citou o fato de a Embraer importar cerca de 70% dos componentes dos aviões que exporta. "A Embraer é o exemplo típico de algo que deu certo depois da privatização. Mas deu certo porque não tem essa política estúpida de componentes nacionais que estão aplicando na indústria do pré-sal. Essa política vai impedir que a gente chegue ao pré-sal", explicou Bacha.

Para o economista, o modelo histórico de industrialização no Brasil, com protecionismo, contribuiu para a redução da produtividade da poupança. Em sua palestra, marcada pela comparação entre o crescimento econômico da década de 1960 à de 1980 e o avanço de 2004 a 2011, Bacha disse que o problema crônico da economia brasileira não são as baixas taxas de poupança e de investimento, mas, sim, o pouco que se investe com os recursos disponíveis.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO