quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Opinião do dia - Carlos Fernando dos Santos Lima

Quando falamos que estamos investigando esquema de compra de apoio político para o governo federal através de corrupção, estamos dizendo que os casos Mensalão, Petrolão e Eletronuclar são todos conexos porque dentro deles está a mesma organização criminosa e as pessoas ligadas aos partidos políticos. Não tenho dúvida nenhuma de que todos ligados à Casa Civil do governo Lula, tudo foi originado dentro da Casa Civil.
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Carlos Fernando dos Santos Lima é O procurador regional da República. O Estado de S. Paulo, 22 de setembro de 2015.

Governo vence, e Congresso mantém fator previdenciário

• Planalto apelou até à oposição para garantir vetos a projetos que elevam gastos

Dilma e ministros pressionaram aliados, e Levy pediu apoio aos tucanos Aécio e Serra, conseguindo confirmar 25 vetos; PMDB recebeu oferta de dois novos ministérios, inclusive o da Saúde

No dia em que o dólar atingiu patamar histórico, o governo mudou a estratégia anunciada na véspera e jogou todas as fichas para tentar garantir a manutenção de vetos a projetos que elevariam ainda mais os gastos públicos. A presidente Dilma e ministros pressionaram aliados e, por telefone, falaram com líderes da oposição em busca de apoio. O ministro Joaquim Levy ( Fazenda) ligou para o presidente do PSDB, Aécio Neves, e o também tucano José Serra pedindo colaboração. Na madrugada, o Congresso aprovou a manutenção de 25 vetos, inclusive o que evitará mudanças no fator previdenciário. Para agradar ao PMDB, Dilma ofereceu os ministérios da Saúde e de Infraestrutura.

Congresso mantém fator

• Governo preserva 25 vetos e impede mudanças no cálculo previdenciário e no PIS/ Cofins

Júnia Gama, Cristiane Jungblut, Isabel Braga e Simone Iglesias - O Globo

- BRASÍLIA- Em sessão do Congresso que entrou pela madrugada de hoje, os parlamentares mantiveram vetos da presidente Dilma Rousseff a projetos aprovados pelo Congresso que tinham potencial de provocar forte impacto nas contas públicas, como o que acabava com o fator previdenciário e estabelecia a regra 85/ 95 para aposentadoria, e o que garantia isenção de PIS/ Cofins para óleo diesel.

O fim do fator previdenciário era um dos pontos que mais preocupava o governo, já que poderia aumentar as despesas do Regime Geral da Previdência Social em R$ 883 bilhões até 2050. Já as alterações sobre a tributação ao óleo diesel poderiam provocar um impacto de R$ 64,6 bilhões até 2019, segundo cálculos do Ministério do Planejamento.

O veto mais polêmico, ao reajuste do Poder Judiciário, não havia sido analisado até o fechamento desta edição, assim como o veto à correção das aposentadorias pelo índice de reajuste do salário- mínimo. Ao todo, foram mantidos 25 dos 32 vetos em votação na sessão da madrugada de hoje. Os sete vetos ainda em votação ainda tinham o poder de provocar forte impacto nas contas públicas.

O texto que estabelecia a regra 85/ 95, aprovado como emenda a uma das medidas provisórias do ajuste fiscal, permitia a aposentadoria integral quando a soma da idade e do tempo de contribuição atingisse 85 anos no caso das mulheres ou 95 anos para os homens. Para compensar o veto, Dilma enviou ao Congresso medida provisória criando uma regra de progressividade para cálculo das aposentadorias, baseada na mudança de expectativa de vida.

A manutenção dos vetos foi uma vitória para o governo, que até segunda- feira tentava adiar a votação, temendo ser derrotado. Somente na manhã de ontem, o governo mudou sua estratégia de adiar a votação dos vetos a projetos com potencial de agravar o déficit na contas públicas e decidiu enfrentar a questão no plenário. Encorajada pela sinalização positiva da bancada do PMDB na Câmara, e temendo uma piora no quadro que levou o dólar a disparar, Dilma entrou em campo pessoalmente para evitar a derrota do governo e acionou seus ministros para que telefonassem aos parlamentares da base e da oposição, apelando pela manutenção dos vetos.

Aos parlamentares com quem conversou, a presidente disse estar preocupada com a alta do dólar, que ontem passou de R$4, a maior cotação da história do Real. Disse também que tem preocupação com novos rebaixamentos do grau de investimento do Brasil por outras agências de risco. A alguns parlamentares, a presidente disse que a derrubada dos vetos causaria uma situação de extrema dificuldade para o país. O rombo calculado pelo governo em caso de queda dos vetos é de R$ 127,8 bilhões.

Segundo líderes aliados, que consideravam arriscada a votação, Dilma ligou para o presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), para dizer que o melhor seria enfrentar de uma vez a questão no Congresso. O presidente do Senado, Renan Calheiros ( PMDB- AL), esteve com Dilma à tarde e passou a defender a votação dos vetos. Mais cedo, antes do encontro com Dilma, Renan havia defendido o adiamento. Ele se reuniu com os líderes aliados e contava com a fidelidade dos senadores para manter os vetos.

— Se houver uma maioria que desfaça qualquer possibilidade de desarrumar ainda mais a economia, acho que pode apreciar — afirmou.

A derrubada do veto ao aumento dos servidores do Judiciário causaria um rombo de R$ 36,2 bilhões em quatro anos. O reajuste médio é de 56%, mas pode chegar a 78,56% em alguns casos. Dilma chegou a telefonar para uma senadora da oposição, Ana Amélia ( PP- RS), para pedir ajuda. Mas, acabou ouvindo um “não”. A senadora disse que havia assumido um compromisso com o Judiciário, mas que poderia avaliar sua postura em relação aos demais vetos.

PMDB garantiu 45 votos
A presidente argumentou, segundo relato de um senador que conversou com ela, que é preciso suspender a onda de notícias negativas e manter o veto ao projeto que reajustou os salários do Judiciário. Além da preocupação com a alta do dólar, a manutenção do veto, segundo Dilma, fará com que ela viaje aos Estados Unidos, amanhã, “mais tranquila”, e o governo consiga “respirar” em meio à crise.

O senador Blairo Maggi ( PR- MT) chegou a aconselhar Dilma a trabalhar pelo adiamento da votação. Alertou que o governo “estaria acabado” se perdesse. A tendência dos parlamentares, tanto na base, quanto na oposição, era de manter os vetos. Pesou nos cálculos oposicionistas a perspectiva de poder em um futuro próximo e o tamanho do problema que o próximo governo poderia herdar com a derrubada dos vetos.

— Eu defendia antes que os vetos fossem derrubados para acabar logo com esse governo. Mas agora acho que o governo está tão perto de acabar, que estou achando melhor manter esses vetos para não comprometer quem vier depois — explicou um senador da oposição.

Além do veto presidencial ao projeto que garante reajustes aos servidores do Judiciário, outros vetos também preocupavam o governo. Entre eles, está o veto à extensão do reajuste do saláriomínimo a todos os benefícios do INSS, ou seja, aos aposentados e pensionistas.

A garantia da bancada do PMDB na Câmara de que ao menos 45 deputados do partido votariam a favor da manutenção dos vetos encorajou a presidente a defender a análise imediata. O apoio foi conseguido a partir do compromisso de Dilma de nomear dois deputados da bancada para a Esplanada dos Ministérios. O líder do partido, Leonardo Picciani ( PMDB- RJ), que vai levar a Dilma hoje as indicações de nomes o ministério, deixou claro que as mudanças no governo servirão para conquistar os votos necessários para manter os vetos.

— É fundamental que a reforma ministerial sirva para isso. Ela está sendo feita com dois objetivos. O primeiro é cortar gastos. O segundo é reorganizar a correlação de forças dentro da base de apoio do governo — disse.

Os servidores do Judiciário pressionaram os parlamentares a derrubar os vetos. Um grupo de servidores fez um corredor polonês na entrada do plenário da Casa. Já no lado de fora do Congresso, servidores do Judiciário ocuparam o gramado em frente à Câmara com vuvuzelas, bastões e piscando luzes dos celulares. Por alguns momentos, foi aberta uma grande faixa com a inscrição “impeachment”, depois fechada.

Congresso encerra análise de vetos após 5 horas sem votar o reajuste do Judiciário

Congresso mantém vetos sobre fator previdenciário e isenção de Pis/Confins para óleo diesel

• Sessão foi encerrada antes de votar a principal pauta, a do ajuste do Judiciário; o Governo conseguiu manter 26 dos 32 vetos presidenciais

Carla Araújo e Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Após mais de cinco horas de sessão, o Congresso encerrou a apreciação dos vetos presidenciais na madrugada desta quarta-feira sem votar um dos vetos mais importantes para o governo: o do reajuste do Judiciário. A proposta de um reajuste de até 78% dos funcionários do Judiciário pode ter o impacto de R$ 36,2 bilhões nas contas públicas até 2019. A sessão foi interrompida por falta de quórum e não há prazo definido para que a votação seja retomada.

O governo conseguiu manter 26 dos 32 vetos presidenciais em sessão do Congresso que se estendeu pela madrugada desta quarta-feira. A principal vitória foi a manutenção do veto que tratava da flexibilização do fator previdenciário. Caso a adoção da regra 85/95 anos para o cálculo da aposentadoria fosse usada como alternativa ao cálculo do fator previdenciário haveria um impacto de R$ 135 bilhões para as contas do governo até 2035.

O Congresso manteve o veto que tratada da isenção do PIS/Cofins para óleo diesel, que impactaria até 2019 R$ 64,6 bilhões. As duas propostas foram votadas em bloco. “Já tivemos importantes vitórias”, disse o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE).

Resposta ao mercado. Na tentativa de aplacar o mercado no dia em que a agência de risco Fitch reuniu-se com a equipe econômica e o dólar atingiu o recorde histórico de R$ 4,05, o Palácio do Planalto decidiu mudar a estratégia e deflagrou uma operação para manter todos os 32 vetos presidenciais da pauta do Congresso Nacional. O governo, que queria inicialmente adiar mais uma vez a sessão, preferiu ir para a votação, ofereceu cinco ministérios ao PMDB e até pediu apoio do PSDB para não derrubar os vetos. E, após uma sessão com mais de 5 horas de duração, a ação deu parcialmente certa.

O Palácio do Planalto temia que a aprovação das pautas-bomba dos vetos comprometesse o esforço de atingir a meta de superávit primário de 2016 de 0,7% do PIB. Com a manutenção dos vetos, o governo evitou um aumento das despesas públicas de pelo menos R$ 127,8 bilhões até 2019 e tenta passar um recado ao mercado de austeridade, mesmo após ter perdido o selo de bom pagador concedido pela agência Standard & Poor´s e ter enviado inicialmente ao Congresso um orçamento deficitário para o próximo ano em R$ 30,5 bilhões.

O maior receio do governo era com a derrubada do veto da presidente Dilma Rousseff ao reajuste de até 78% aos servidores do Poder Judiciário. Até o fim da sessão, funcionários da carreira fizeram buzinaços do lado de fora do Congresso. Os protestos começaram durante o dia com servidores abordando parlamentares, fazendo “corredores-poloneses”, para lhes cobrar o apoio.

A presidente Dilma e seus principais ministros envolveram-se pessoalmente nas negociações. Dilma conversou com os presidentes da Câmara, os peemedebistas Eduardo Cunha (RJ), e do Senado, Renan Calheiros (AL), e líderes partidários das duas Casas. Embora Cunha, Renan e o vice Michel Temer, que é presidente do PMDB, tenham dito que não iriam indicar nomes para a reforma ministerial, a bancada peemedebista da Câmara deve ficar com a Saúde e outro para uma pasta da área de infraestrutura, a do Senado dois ministros e o quinto ministro, um nome de consenso entre as bancadas das duas Casas.

“O Brasil não pode evoluir para virar uma Grécia”, disse o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE). “O governo dá uma demonstração que está rearrumando a Casa e dá mais solidez ao cenário político”, disse o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ).

Os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), José Eduardo Cardozo (Justiça), Ricardo Berzoini (Comunicações), Edinho Silva (Comunicação Social) e o assessor especial Giles Azevedo fizeram a contagem dos votos necessários no Congresso, na tentativa de desarmar a pauta-bomba. Para derrubar qualquer um dos 32 vetos da pauta eram necessários o voto de pelo menos 257 deputados e 41 senadores conjuntamente. O governo centrou inicialmente esforços no Senado, Casa em que avaliava ter votos para manter os vetos, mas conseguiu um apoio também da Câmara. O corpo-a-corpo do governo entre os deputados ajudou nessa virada.

Cardozo procurou o senador tucano Aloysio Nunes Ferreira (SP) para pedir uma conversa com a bancada do partido a fim de evitar votos do partido a favor da pauta-bomba. O tucano declinou do convite, mas indicou que senadores do partido seriam favoráveis a manutenção dos vetos, o que de fato ocorreu como no caso do reajuste do Judiciário. O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), liberou a bancada para apreciar essa última proposta. O partido avaliou reservadamente não ser possível derrubar os vetos porque, se eventualmente vier a assumir o Palácio do Planalto, pegaria o País numa situação mais delicada. (Colaboraram Daniel Carvalho, Andreza Matais e Vera Rosa)

Congresso mantém maioria de vetos e não analisa reajuste do Judiciário

• Deputados e senadores mantiveram 26 dos 32 vetos de Dilma em análise, incluindo o que barrou a alternativa ao fator previdenciário; não há data para retomada da votação

Congresso encerra sessão sem analisar veto de Dilma a reajuste do Judiciário

Débora Álvares, Mariana Haubert e Ranier Bragon – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Após pressão do governo e negociação de ministérios com o PMDB, o Congresso Nacional manteve na madrugada desta quarta (23) parte dos vetos da presidente Dilma Rousseff a projetos da chamada pauta-bomba, que ao todo poderiam resultar em gastos extras de R$ 128 bilhões até 2019.

Por falta de quórum, porém, a sessão foi encerrada às 2h19 desta quarta sem que fosse analisado um dos pontos mais polêmicos, o veto ao projeto quereajusta o salário dos servidores do Judiciário em 59,5%, em média, nos próximos quatro anos.

Os governistas queriam votar o tema e manter o veto de Dilma, mas não conseguiram assegurar o quórum necessário durante a madrugada. Já a oposição queria derrubá-lo, mas avaliou que não tinha força suficiente caso o tema fosse de fato à votação. Por isso, esvaziou a sessão.

Entre os vetos de Dilma mantidos por deputados e senadores está o quebarrou a alternativa ao fator previdenciário (mecanismo que desestimula aposentadorias precoces) e o que isenta a cobrança de PIS e Cofins para óleo diesel.

Ao todo, dos 32 vetos em análise, os parlamentares mantiveram 26 –o fator previdenciário entre eles. Parte da votação foi feita em bloco e em papel. O resultado exato só deve ser divulgado na manhã desta quarta. Para que as decisões de Dilma fossem revogadas era preciso o voto de pelo menos 257 dos 513 deputados e 41 dos 81 senadores.

Além do reajuste dos servidores do Judiciário, não foi votado o que estende a todos os aposentados a política de valorização do salário mínimo. Não há data para que seja realizada nova sessão para análise dos vetos de Dilma.

"Temos condições de manter essa mobilização. Houve uma demonstração da Câmara de força hoje, isso é inegável", disse Delcídio do Amaral (PT-MS), líder do governo no Senado, para quem o veto do reajuste do Judiciário poderá ser mantido.

A oposição ironizou as negociações do governo Dilma para evitar que suas decisões fossem derrubadas. "Se o PMDB conseguiu os ministérios da Saúde e Infraestrutura, vamos adiar essa votação por mais 30 dias que eles conseguem o Palácio do Planalto", disse o líder da bancada do DEM, Mendonça Filho (PE).

Dólar
A decisão de realizar a sessão de vetos foi tomada pelo governo durante a tarde desta terça-feira (22) quando líderes da base governista começaram a indicar que havia uma margem de segurança para que os vetos fossem mantidos. Até então, o Planalto atuava para que a sessão não fosse realizada porque, somados, os vetos provocam um impacto de R$ 127,8 bilhões nos próximos quatro anos.

Diante da disparada do dólar, que superou hoje a barreira dos R$ 4, o Planalto mudou então de estratégia com o objetivo de sinalizar mais confiança no reequilíbrio das contas públicas.

A presidente, que pela manhã estava trabalhando para adiar a sessão do Congresso, entrou em contato com os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e também com líderes para pedir apoio à manutenção dos vetos.

O mais preocupante é o que derruba o reajuste de cerca de 59,5%, nos próximos quatro anos, dos salários dos servidores do Judiciário. O impacto calculado pelo governo é de R$ 25,7 bilhões até 2018, praticamente o mesmo valor de corte proposto agora por Dilma para equilibrar as contas públicas.

Por votos, Dilma oferece dois ministérios a deputados do PMDB

• Parlamentares do partido querem Saúde e Infraestrutura, que uniria outras pastas

Simone Iglesias, Júnia Gama, Chico de Gois e Cristiane Jungblut - O Globo

- BRASÍLIA- De olho nos votos da bancada do PMDB na Câmara, decisivos para a aprovação do ajuste fiscal e de um eventual pedido de impeachment, a presidente Dilma Rousseff ofereceu ontem dois ministérios aos deputados do partido. Recebeu como contraproposta os pedidos dos ministérios da Saúde, um dos mais importantes da Esplanada, e de Infraestrutura, que uniria Portos e Aviação Civil. Deputados diziam que, se Dilma recusar, deverão fazer oposição automática ao governo.

A bancada definiu uma lista tríplice para cada ministério e caberá a Dilma escolher o nome. Para a Saúde, hoje ocupada pelo PT, as indicações são Marcelo de Castro ( PI), Manoel Júnior ( PB) e Saraiva Felipe ( MG), que já foi ministro no primeiro mandato do ex- presidente Lula. Para Infraestrutura, os indicados são Newton Cardoso Júnior ( MG), Mauro Lopes ( MG) e José Priante ( PA). Como primeiro gesto de boa vontade, a bancada decidiu decidiu apoiar ainda ontem a manutenção dos vetos da presidente a projetos que aumentam despesas.

A expectativa no partido é ficar com cinco ministérios: os dois indicados pela bancada da Câmara; a manutenção de Kátia Abreu ( Agricultura) e Eduardo Braga ( Minas e Energia), ambos senadores licenciados, na cota da bancada do Senado; além da manutenção do ex- presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves no Ministério do Turismo, nome que seria da cota pessoal da presidente.

Temer não indicará novos ministros
O nome do ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, ligado ao vice- presidente Michel Temer não foi cogitado pelos deputados do PMDB para representar a bancada. O líder do partido na Câmara, Leonardo Picciani ( RJ), que se reaproximou de Dilma nos últimos dias, a ponto de ser recebido por ela, disse que levaria os nomes à presidente ainda ontem à noite.

— Por ampla maioria, a bancada decidiu que fará a indicação dos nomes à presidente para compor o novo Ministério. A pasta será definida pela presidente. O que está sinalizado seria a indicação de dois deputados, e aguardamos a presidente definir quais serão as pastas — disse.

A bancada do PMDB na Câmara tem votado sistematicamente dividida. A situação melhorou um pouco durante as votações do primeiro pacote de ajuste fiscal, que cortou benefícios previdenciários e trabalhistas — quando Temer e Padilha estiveram à frente da articulação política do governo. Com possibilidade de deixar o governo nos próximos dias, Padilha afirmou que qualquer tratativa entre governo e partidos na reforma ministerial deverá se refletir em apoio no Congresso:

— Nesse caso, ( a sugestão de nomes para o Ministério) está sendo indicada pela bancada inteira e presumo que a bancada vai ter compromisso absoluto com as posições do governo dentro da Câmara — disse Padilha.

No Senado, a posição adotada foi bem diferente. Na mesma linha de Temer, que não indicará ninguém, o presidente do Senado, Renan Calheiros ( PMDB- AL), comunicou a Dilma que não participará das negociações sobre a reforma ministerial e sobre o espaço que o PMDB terá na nova estrutura.

Renan disse que sua função como presidente do Senado é incompatível com esse tipo de negociação. O líder do PMDB na Casa, Eunício Oliveira ( CE), também disse que não indicaria nomes por se tratar de uma decisão da presidente. Apesar de não quererem ficar com a paternidade de nenhuma indicação, os senadores do PMDB avisaram Dilma que não se opõem à manutenção de Eduardo Braga no Ministério de Minas e Energia.

O PMDB ocupa o comando de sete ministérios: Agricultura, Minas e Energia, Turismo, Aviação Civil, Pesca, Portos e Secretaria de Assuntos Estratégicos ( SAE). Na nova estrutura, essas pastas devem ser reduzidas a quatro, com a extinção da SAE e a união da Aviação Civil e Portos e da Pesca à Agricultura.

Planalto isola Temer e oferece cinco pastas para as bancadas do PMDB no Congresso

Dilma divide PMDB e oferece cinco pastas para bancadas no Congresso

Por Raymundo Costa, Raquel Ulhôa e Raphael Di Cunto - Valor Econômico

BRASÍLIA - Em um movimento claramente anti-impeachment, a presidente da República, Dilma Rousseff, pediu para as bancadas do PMDB da Câmara e do Senado a indicação de cinco nomes do partido para o ministério. A presidente foi precisa nas instruções: os nomes deveriam ser de parlamentares, ou seja, com votos no Congresso. A ofensiva do Palácio do Planalto adia, mas provavelmente não impede o desembarque o PMDB da aliança com o PT, previsto para Congresso marcado para 15 de novembro.

Prevendo as reações no interior do PMDB, o vice Michel Temer, que também é presidente do partido, sugeriu a Dilma que ela adiasse o anúncio da reforma. Em princípio, o cronograma da presidente está mantido e os novos ministros serão conhecidos amanhã, antes do embarque de Dilma para os EUA, para a reunião anual da ONU. Temer deve ser o grande perdedor, a curto prazo, de uma reforma que o governo faz para atrair os votos do baixo clero e que talvez não baste para recompor a base política da presidente Dilma.

Nem mesmo a manutenção dos vetos que seriam votados ontem à noite podem ser atribuídos ao movimento anti-impeachment deflagrado pelo Palácio do Planalto. O Congresso passou o dia sob pressão da alta do dólar e ameaças de um novo rebaixamento da nota do país por agências de classificação de risco. Líderes governistas diziam que a moeda norte-americana chegaria a R$ 6, na hipótese de derrubada dos vetos. A tendência da Câmara era rejeitar pelo menos o veto do reajuste do Judiciário, mas o alarmismo econômico e o fato de a oposição liberar os votos de suas bancadas levaram a começar a rever suas posições no final da tarde. "O governo está sendo salvo pelo PSDB", era a avaliação do PMDB no Senado.

A ação da nova coordenação política do Palácio do Planalto foi recebida no PMDB como uma tentativa de rachar o partido. É certo que num primeiro momento a presidente pediu para Michel Temer e para os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Eduardo Cunha, a indicação de nomes para o ministério. Os três se recusaram a fazer indicações. Dilma então fez o pedido diretamente às bancadas. Os dois atuais ministros do Senado, Eduardo Braga (Minas e Energia) e Kátia Abreu (Agricultura), mas a Câmara escolheu três nomes para apresentar, em reunião da bancada à tarde.

As escolhas ampliam o conflito interno do PMDB. Dilma pediu nomes para o Ministério da Saúde, mas vetou a indicação do ex-ministro Saraiva Felipe (MG), cuja nomeação poderia facilitar um projeto acalentado pelo líder Leonardo Picciani (RJ) de ser reconduzido ao comando da bancada. Os pemedebistas indicaram José Priante (PA), Mauro Lopes (MG), Newton Cardoso Júnior (MG) e Celso Pansera (RJ) para a Pasta que resultará da fusão da Aviação Civil e dos Portos e Manoel Júnior (PB), Marcelo Castro (PI) e Saraiva Felipe (MG) para a Saúde.

Segundo aliados de Picciani, a participação direta no governo foi aprovada por 42 votos a 9. Já o
grupo de oposição, e que defende o impeachment da presidente, diz que o apoio foi menor, de 26 a 13, e que parte expressiva dos parlamentares não se manifestou na reunião. Os deputados decidiram também fechar questão pela manutenção de todos os vetos presidenciais.

A indicações da Câmara tendem acentuar os conflitos internos do PMDB. Um exemplo é a indicação de José Priante, sobrinho e ex-aliado do cacique local do PMDB, Jader Barbalho, mais bem cotado para a pasta de Infraestrutura. O que irritou Jader é que sequer foi avisado da reforma e da indicação de Priante, hoje seu inimigo político. Quando Renan Calheiros estava virtualmente na oposição, foi Jader que articulou a defesa de Dilma no Senado.

Frasista de mão cheia, o ex-ministro Geddel Vieira Lima definiu a situação ao colegas: "Antigamente, era o fisiologismo que ia ao Palácio do Planalto; agora é o Palácio do Planalto que vem ao fisiologismo". A maior prova que a nova articulação política do governo tem como prioridade a blindagem do mandato de Dilma é a entrega do Ministério da Saúde, um dos maiores orçamentos do governo, para o baixo clero do PMDB.

O ministro Henrique Alves disse que conseguiu articular o apoio da bancada para sua manutenção no cargo, mas Pansera é cotado para o cargo. Pansera é o deputado que o doleiro Alberto Youssef declarou ser "pau mandado" de Eduardo Cunha, durante um depoimento na CPI da Petrobras.

A manobra de Dilma só foi possível graças à cooptação de Leonardo Picciani e de seu pai Jorge, deputado estadual no Rio, por meio do governador do Estado, Luiz Fernando Pezão. Logo no início da reunião da bancada do PMDB, ao ouvir o relato de Picciani sobre sua reunião com Dilma, o deputado Jarbas Vasconcellos (PE) deixou a sala: "Este governo está por um fio. Ou cai pela renúncia ou cai pelo impeachment. É um retrocesso o PMDB indicar nomes."

No desenho apresentado ontem, os ministros Eliseu Padilha (Aviação Civil) e Henrique Alves (Turismo", dois nomes ligados a Michel Temer, deixariam seus cargos. Os dois estão sem mandato e não têm votos no Congresso. A dúvida entre os deputados era a saída de Padilha, cuja atuação na coordenação política foi considerada leal e elogiada pela própria Dilma. A nomeação da senadora Kátia Abreu como embaixadora de Dilma junto ao PMDB também não teve o agrément da cúpula. Segundo senadores do PMDB, a ministra da Agricultura pediu para ir a um jantar dos dirigentes partidários para explicar suas novas funções.

Segundo três senadores presentes, Kátia disse que nunca foi sondada para ir para a Casa Civil nem tampouco recebeu pedido da presidente para mandar recados ao partido. A avaliação dos senadores é que provavelmente tudo não passou de uma operação do Planalto para consolidar a posição de Aloizio Mercadante (Casa Civil), que vinha recebendo críticas de setores do próprio partido. Com os boatos de que Kátia iria substituí-lo, a preocupação foi tanta no PT que o partido se uniu para manter Mercadante. Segundo apurou o Valor, na conversa que teve com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a presidente Dilma teria dito que concordava tirar Mercadante do Planalto, mas nomearia Kátia Abreu para o lugar.

A curto prazo, a manobra de Dilma no PMDB pode arrefecer o ânimo de alguns setores da bancada, que devem diminuir à medida que os novos ministros perceberem que não têm recursos e nem autonomia no cargo.

Troca- troca é jogo de alto risco para presidente

• Estratégia é seduzir deputados que analisarão impeachment

Alan Gripp e Jeferson Ribeiro - O Globo

Reformas ministeriais são, tradicionalmente, momentos de grande tensão política. Dividir o poder envolve obrigatoriamente desagradar a aliados, lidar com intrigas, resistir a interesses corporativos e, não bastasse tudo isso, tentar montar uma gestão eficaz, capaz de produzir marcas simbólicas para o governo.

A reforma em curso no governo Dilma é ainda mais complicada. Ocorre em meio a um recorde negativo de popularidade da presidente, com a base aliada conflagrada e, principalmente, durante a negociação de medidas cruciais para o futuro do governo. Não há espaço para erros.

As mudanças trazem outro complicador. Obrigada a adotar a austeridade econômica para acalmar os mercados, Dilma cortará dez ministérios e fundirá órgãos. Foi instada publicamente a fazer isso pelo próprio PMDB. Mas, como se sabe, cargo é palavra de ordem do principal aliado. Como saciar esse apetite com menos espaço? A conta não fecha.

O discurso austero peemedebista está mais para um jogo de cena. Há quem diga que se trata de uma armadilha. E que o PT mordeu a isca. Cortar ministérios agora é jogo dos mais arriscados, tem efeito apenas simbólico e não representa grande economia.

Ontem, a estratégia do governo ficou mais clara. O objetivo é seduzir a bancada peemedebista da Câmara, arena onde se darão disputas decisivas para Dilma: a votação dos vetos presidenciais, que podem ser fatais para uma economia respirando por aparelhos; as medidas do ajuste fiscal, em especial a CPMF; e, principalmente, o impeachment.

O Ministério da Saúde é um sonho de consumo dos deputados. Seus gastos têm enorme capilaridade e possibilitam que centenas de políticos colham dividendos em suas bases eleitorais.

Mas o jogo é mais complicado. Primeiro, porque o PMDB é muito maior e seus principais líderes têm interesses conflitantes. Há outros oito partidos aliados que também têm suas demandas. E a anunciada perda de espaço do PT pode ampliar o fogo amigo e silenciar quem ainda grita que impeachment é golpe.

Pelo ajuste e contra impeachment, Dilma oferece 5 ministérios ao PMDB

• Crise. Proposta da presidente oferece duas pastas aos peemedebistas da Câmara, outras duas ao Senado e uma quinta a ser indicada em conjunto pelas duas bancadas de aliados; novo arranjo vai deixar PT sem a Saúde, o que gerou descontentamento dentro do partido

Vera Rosa Adriano Ceolin Daniel Carvalho – O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff decidiu oferecer cinco ministérios ao PMDB para atrair o apoio da legenda, aprovar o ajuste fiscal e barrar um possível processo de impeachment. Para tanto, sacrificou uma das principais pastas do PT, a Saúde, o que provocou descontentamento no seu partido. O ministério tem o maior orçamento da Esplanada e é comandado pelo PT desde o primeiro mandato de Dilma. A opção da presidente, porém, foi acalmar o PMDB diante do agravamento crise política.

À noite, o ministro da Saúde, Arthur Chioro, foi chamado pelo chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, no Palácio do Planalto. Na conversa, Mercadante disse a Chioro – homem da confiança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do prefeito de São Bernardo do Campo (SP), Luiz Marinho – que o governo precisava do cargo para manter o PMDB na base aliada.

O governo contava, por exemplo, com o apoio do PMDB ontem à noite para barrar a chamada pauta-bomba do Congresso, que amplia os gastos do Executivo. Até a conclusão desta edição, no entanto, a votação não havia terminado.

Cotados. Um dos deputados cotados para substituir Chioro é Manoel Junior (PMDB-PB), ligado ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDBRJ), que rompeu com o governo,mas tem aos poucos retomado as conversas com Dilma. O outro é Marcelo Castro (PMDB-PI).Dilma vetou Saraiva Felipe (PMDB-MG), que foi ministro da Saúde no governo Luiz Inácio Lula da Silva e teve o nome envolvido no escândalo dos sanguessugas.

Por 42 votos a 9, a bancada do PMDB na Câmara decidiu ontem continuar no governo e indicar nomes para a Saúde e para o novo ministério que deverá ser batizado de Infraestrutura, composto pela fusão de Aviação Civil e Portos.

O PMDB controla hoje na gestão Dilma seis pastas (Minas Energia, Agricultura, Turismo, Aviação Civil, Portos e Pesca). Comandava sete, mas Mangabeira Unger entregou o cargo na Secretaria de Assuntos Estratégicos, que deve ser extinta na reforma ministerial.

Poder. Embora aparentemente o espaço oferecido ao PMDB seja menor, na prática o partido terá bem mais poder e é considerado hoje fundamental para frear o impeachment. Além de ganhar o Ministério da Saúde, deverá dirigir Infraestrutura. A Pesca, por sua vez, será fundida com Agricultura.

Na lista dos cinco ministé- rios que o governo propôs ao PMDB, dois ficarão com a bancada do partido na Câmara, comandada pelo deputado Leonardo Picciani (RJ), e outros dois com a do Senado,liderada por Eunício Oliveira (CE).

O quinto nome deve ser de consenso, mas é aí que reside o problema. Dilma disse a interlocutores que quer manter Eliseu Padilha, hoje na Aviação Civil, na Infraestrutura. Mas a bancada da Câmara rejeita a ideia.

Picciani levará hoje a Dilma os nomes de Newton Cardoso Junior (MG), Mauro Lopes (MG) e José Priante (PA) para Infraestrutura.

O grupo do Senado, por sua vez, está de olho em Integração Nacional, hoje com o PP. Na negociação, o governo chegou a propor ao PMDB o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, hoje comandado por Armando Monteiro (PTB). Armando ficou magoado e pode sair.

Do lado do PMDB, ficam na equipe Kátia Abreu (Agricultura) e Eduardo Braga (Minas e Energia). Henrique Eduardo Alves deve permanecer no Turismo, e a Câmara indicará o titular da Saúde.

O vice-presidente Michel Temer amenizou os problemas. “Vamos dar tempo ao tempo.As bancadas vão se entender”, disse ele.Dilma também mexerá no núcleo duro do governo e o atual ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, assumirá a Secretaria Geral, que fará a articulação política com o Congresso. Além disso, os ministérios da Previdência e do Trabalho serão fundidos. Com as mudanças, o Planalto pretende se reaproximar do PMDB e dos outros partidos da base. / Colaboraram Erich Decat e Isadora Peron

André Vargas é o 1 º político condenado pela Lava- Jato

• Por corrupção e lavagem, ex- deputado do PT tem pena de 14 anos

Cleide Carvalho - O Globo

- BRASÍLIA e SÃO PAULO- A Operação Lava- Jato condenou ontem o primeiro político. O ex- deputado do PT André Vargas recebeu pena de 14 anos e quatro meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele é acusado de ter recebido propinas de contratos de publicidade da Caixa Econômica Federal e do Ministério da Saúde. Pelo mesmo esquema o irmão dele, Leon Denis Vargas Ilário, foi condenado a 11 anos e 4 meses, e o publicitário Ricardo Hoffmann, ex- dirigente da agência Borghi Lowe, a 12 anos e 10 meses.

Na sentença, o juiz Sérgio Moro manteve a prisão preventiva de Vargas e afirmou que há indícios de envolvimento dele em outros crimes. A Borghi Lowe pagou R$ 1,103 milhão em propina a duas empresas de fachada dos irmãos Vargas — LSI Solução em Serviços Empresariais e Limiar Consultoria. A quebra de sigilo bancário mostrou que elas receberam bem mais — R$ 7,4 milhões — o que indica que ainda podem ser descobertos outros crimes.

O Ministério Público Federal vinculou a assinatura de dois contratos da Caixa ( em 2008 e 2013) e um do Ministério da Saúde ( em 2010) aos pagamentos feitos às duas empresas que, para justificar o recebimento, alegaram ter produzido áudio e vídeo para a Borghi Lowe. Outras empresas que prestaram serviços para agência de publicidade também foram usadas como intermediárias de repasses e confirmaram que as empresas de Vargas não tiveram atuação alguma.

Embora o Ministério Público Federal tenha sido favorável a substituir a prisão preventiva de Hoffmann por medidas cautelares, com pagamento de fiança de R$ 957 mil, Moro disse que a conduta dele foi grave, pois pagou propina a um parlamentar que, na época, ocupava um cargo relevante, de vice- presidente da Câmara dos Deputados, o que “revela certa ousadia na prática de crimes”. Por isso, decidiu manter também a preventiva de Hoffmann.

Vargas e Hoffmann estão presos desde abril passado. Leon Vargas havia cumprido apenas quatro dias de prisão temporária. Além da pena privativa de liberdade, os três condenados deverão ter bens e valores confiscados até R$ 1,103 milhão.

Venina depõe na CPI da Petrobras
André Vargas renunciou ao mandato pressionado pelo PT, depois que seu nome apareceu, na primeira fase da Lava- Jato, ligado ao doleiro Alberto Youssef. Ele havia viajado num jatinho do doleiro e foi flagrado intermediando interesses de Youssef no Ministério da Saúde. Na época, veio à tona o escândalo da Labogen, laboratório de fachada que serviu para enviar dinheiro de propina para o exterior.

Em depoimento à CPI da Petrobras, a ex- gerente executiva da diretoria de Abastecimento Venina Velosa da Fonseca acusou o ex- presidente da companhia José Sérgio Gabrielli de saber do sobrepreço na refinaria Abreu e Lima. Ela teve de dar explicações sobre seu relacionamento com o ex- diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa e a troca de e- mails entre eles, além de ser questionada sobre negócios de seu exmarido com a Petrobras.

Venina declarou que, por diversas ocasiões, alertou a diretoria da estatal sobre irregularidades em Abreu e Lima, na compra e venda de bunker ( combustível de navegação) e problemas na gerência de Comunicação do Abastecimento. Perguntada mais de uma vez se Gabrielli e o Conselho de Administração, presidido à época por Dilma Rousseff, tinham conhecimento das denúncias, ela assentiu.

Perguntada pela deputada Eliziane Gama ( PPS- MA) sobre o grau de conhecimento de Gabrielli, Venina foi taxativa:

— Ele tinha consciência não só através do Conselho de Administração, mas também das reuniões de diretoria. Essa inviabilidade foi informada.

PT listava cargos e ‘ padrinhos’ políticos

Renato Onofre - O Globo

SÃO PAULO - Primeiro político punido na Lava- Jato, o ex- deputado do PT André Vargas foi condenado a 14 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro. A Lava- Jato fez acordo de delação com Fernando Moura, ligado ao ex- ministro José Dirceu, que está preso. Olobista Fernando Moura, amigo de José Dirceu, admitiu ter ajudado o PT a selecionar nomes para o governo antes de o ex- presidente Lula assumir, em 2002.

Em delação premiada, ele disse ainda que a nomeação do exdiretor de Serviços Renato Duque foi aprovada pelo então secretário- geral do PT, Sílvio Pereira.

Após a eleição de Lula, Pereira ficou responsável no PT por organizar nomeações políticas que o partido teria que fazer. O ex-secretário fazia as entrevistas e o lobista catalogava as indicações em um sistema informatizado criado pelo PT, que tinha a lista de cargos no governo a serem preenchidos. 

Para a inclusão de um nome era fundamental colocar o “nome do padrinho” político. O PT não vai se pronunciar.

Um dos indicados foi Duque, que chegou através do presidente da empreiteira Etesco, Licínio de Oliveira Filho. Por intermediar a nomeação, o lobista recebia da empresa US$ 30 mil a cada três meses. A Etesco nega a indicação. Moura afirmou que ajudou Pereira a distribuir dinheiro de caixa dois a campanhas petistas em 2004. A delação pode complicar a situação de Dirceu. Moura teria se associado ao exministro para obter propinas.

Delator diz que recebia mesada para ficar calado

• Eram R$ 100 mil/mês, diz Fernando Moura

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O mais novo delator da Operação Lava Jato, o lobista Fernando Moura, afirmou que chegou a receber propinas no exterior de até R$ 100 mil por mês de fornecedoras da Petrobras para manter segredo sobre o esquema de corrupção na estatal.

Na delação autorizada pela Justiça nesta segunda (21), Moura também indicou que o ex-secretário-geral do PT (Partido dos Trabalhadores) Silvio Pereira mandou que ele buscasse propina ligada a obras de uma refinaria da Petrobras em 2004 no escritório de outro lobista.

Apontado pelo Ministério Público como homem de confiança do PT e do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, Moura relatou que deixou o país em 2005 após receber uma "dica" de Dirceu para "cair fora" em razão do escândalo do mensalão.

Segundo a delação, no período de 2006 a 2010 em que morou nos EUA, Moura recebeu propinas de R$ 100 mil mensais das empresas Hope e Personal, suspeitas de envolvimento no esquema de corrupção. O suborno, qualificado de "cala boca" por Moura, diminuiu para R$ 60 mil entre 2010 e 2012.

Sobre a quantia buscada a mando de Pereira em 2004, Moura disse que o valor foi de R$ 350 mil e saiu dos cofres da empreiteira Camargo Corrêa. Segundo o delator, o ex-secretário do PT disse que o dinheiro seria utilizado na campanha eleitoral de 2004.

A Camargo Corrêa informou que colabora com as investigações. Os advogados de Silvio Pereira e os representantes da Hope e da Personal não se manifestaram até o fechamento desta edição.

Governadores do PSDB criticam aumento de impostos proposto pelo governo

• Tucanos se reuniram nesta terça-feira, 22, na capital paulista e não pouparam a proposta encaminhada nesta tarde pelo governo ao Congresso

André Italo Rocha, Igor Gadelha e Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - Governadores tucanos, reunidos, nesta terça-feira, 22, em São Paulo, criticaram o aumento de impostos proposto pelo governo federal para cobrir o déficit de R$ 30,5 bilhões do Orçamento de 2016. "Não adianta subir imposto, porque você resolve um déficit de R$ 30 bilhões agora, mas depois aparece um déficit de R$ 100 bilhões, os problemas não se resolvem assim", disse o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), durante debate no Congresso Brasil Competitivo, organizado pelo Movimento Brasil Competitivo, do empresário Jorge Gerdau.

O governo apresentou nesta terça o pacote de medidas ficais anunciado na última semana. As propostas, publicadas nesta tarde em edição extra do Diário Oficial da União, serão encaminhadas para análise do Congresso. Entre as medidas, está o projeto que trata da reedição da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). A medida foi enviada ao congresso em forma de Proposta de Emenda à Constituição (PEC), segundo publicação do Diário Oficial com a mensagem da presidente.

Para Perillo, é preciso propor uma reforma da Previdência. "É preciso ter eficiência. Precisamos apresentar uma proposta para a questão da previdência. Qual é a idade certa para se aposentar? Está errado um policial se aposentar com 44, 45 anos", disse. "Além disso, eu sou contra a estabilidade no emprego público. Por que a iniciativa privada é mais eficiente? Porque o empresário não é obrigado a conviver com um empregado que não cumpre metas", criticou.

Estatais. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), também disse que, em "momentos excepcionais", pode haver aumento de tributo, mas antes é preciso reduzir as despesas. "O governo precisa apresentar ajuste mais pelo lado da despesa", defendeu. De acordo com Alckmin, há espaço para corte de gastos. Ele ressaltou que, das 142 empresas estatais abertas no Brasil de 1808, 42 foram criadas nos últimos 12 anos, em governos do PT. Um exemplo de estatal que poderia ser fechada, citou, seria a do trem bala. "O trem bala não existe, mas a estatal do trem bala existe", afirmou.

Questionado sobre os movimentos de impeachment da presidente Dilma Rousseff, Alckmin foi cauteloso. Segundo ele, o instrumento está previsto na Constituição Federal, mas só deve ser usado "quando se prova que houve rompimento constitucional". "A prioridade deve ser investigar e depois cumprir a Constituição. Nem começou a investigação do BNDES e dos fundos de pensão", afirmou.

Investimentos. Já o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), fez um apelo para que a confiança seja restaurada no País, principalmente por meio de dois fatores: o cumprimento de regras e a melhora da infraestrutura. "Sem isso, as medidas econômicas não terão efeito e os investidores não terão segurança para investir no Brasil", disse, no mesmo evento.

O governador disse que os Estados têm encontrado dificuldades para se adaptar ao ajuste de contas. "Eu não conheço nenhum governador que não esteja perto do osso em relação a cortes, que não esteja buscando todas as formas de cortar, até mesmo onde não gostaríamos de estar cortando, como no ajuste de alíquotas", afirmou.

PSB deve apoiar impeachment e se opor a novo imposto

Por Raquel Ulhôa - Valor Econômico

BRASÍLIA - Um ano após declarar-se "independente" em relação ao governo Dilma Rousseff - para evitar divisões do partido após a morte do seu então presidente, Eduardo Campos -, o PSB planeja assumir oficialmente na próxima semana a oposição à gestão da petista e colocar-se contra a recriação da CPMF. Além disso, a tendência majoritária das bancadas da Câmara dos Deputados e do Senado é favorável a um processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

A nova postura será formalizada em reunião da Executiva Nacional, mas a opinião majoritária pela oposição ao governo Dilma foi explicitada ontem por deputados federais, senadores e governadores do PSB, ouvidos pela direção nacional. A mudança de comportamento partidário ocorre por dois motivos principais: as pressões (da sociedade e do governo) para que as bancadas se posicionem em relação à CPMF e a avaliação de que o processo de impeachment da presidente está cada vez mais próximo.

A cúpula saiu do encontro certa da decisão a ser oficializada pela Executiva. "Percebi claramente, sem deixar dúvida, que a posição é muito firme em três pontos. Primeiro, que o PSB deve sair da independência para uma posição clara e responsável com o país. Segundo, há tendência bastante forte de que, se o impeachment chegar ao plenário da Câmara, será aprovado também pela nossa bancada. Terceiro, com relação à CPMF a posição é unânime: ninguém aprova", afirmou o presidente nacional da legenda, Carlos Siqueira.

"Um processo de impeachment está em marcha e, se ele entrar na Câmara, ninguém segura. O voto é aberto. Acaba o governo. E evitar que isso ocorra não é tarefa do PSB", diz Beto Albuquerque, vice-presidente da legenda. A avaliação é que o governo Dilma acabou, está sem rumo, sem propostas para os problemas do país e sem apoio do próprio partido da presidente.

Siqueira e Albuquerque sempre tiveram postura mais dura em relação ao governo, mas o que se viu na reunião desta terça-feira foi uma sintonia maior dos parlamentares e governadores com a direção partidária do que se via nas reuniões anteriores.

"Por sorte, hoje as duas bancadas concordam que essa decisão de ir para a oposição e de apoiar o impeachment se faz necessária neste momento. Essa opinião é esmagadoramente majoritária", disse Siqueira, calculando que ela representa mais de 90% da legenda. Segundo ele, o PSB fará oposição de centro-esquerda e não planeja aliança com o PSDB.

Até mesmo os governadores Paulo Câmara, de Pernambuco, e Rodrigo Rollemberg, do Distrito Federal, manifestaram-se favoravelmente à oposição a Dilma, embora mais cautelosos com relação a eventual impeachment. Dos três governadores do PSB, Ricardo Coutinho manteve-se mais moderado quanto ao papel do partido. Mas ficou isolado.

"O país parou. A governança inexiste. Uma posição como nós estamos, de independência, não combina com a situação do país." afirma Câmara. Para o governador de Pernambuco, o PSB precisa ser mais "proativo" e rediscutir a independência, que não combina com o momento atual. "O país precisa reagir, precisa de ações. Está parado hoje. Então a independência, postura em nos colocávamos para apoiar aquilo que é importante e ser crítico das coisas que não estão andando, hoje não combina. Não tem nada sendo proposto, fora esse ajuste que está desconecto." Câmara é contra o impeachment de Dilma e propõe oposição "responsável", como, por exemplo, não votar pela derrubada dos vetos a projetos que aumentem gastos.

Após fazer um relato da "situação dramática" das finanças do Distrito Federal, Rollemberg disse na reunião que o PSB precisa enfrentar o debate político e econômico e ter coragem de assumir as consequências. Também disse não ser favorável ao impeachment, mas disse que a indefinição em relação aos rumos do país está levando o Brasil "para um abismo".

"A presidente Dilma não consegue criar condições para o país melhorar. Está faltando capacidade do governo de retomar as rédeas e governar. E a oposição tem medo de assumir seu papel. Falta um líder com coragem para tomar posição a favor ou contra o impeachment, que tire o Brasil dessa falta de perspectiva. O PSB deve ser o diferencial".

Com relação à CPMF, os participantes da reunião avaliaram que, da forma como a ideia foi lançada, não há chance de aprovação e não deve sequer ser apresentada para tramitação.

O secretário-geral do PSB, Renato Casagrande, engrossou as críticas e endossou a decisão de o partido se assumir como oposição. Segundo ele, o governo não consegue responder às crises vividas pelo país e apresentar propostas aos problemas da população. Para ele, o tempo do governo está acabando. O impeachment pode ser menos traumático e trazer instabilidade menor do que a vivida atualmente pelo país.

"Ninguém gostaria de chegar o momento de discutir o impeachment. Mas, se o governo não consegue responder [aos problemas do país], acaba ampliando muito a instabilidade e as incertezas, por um tempo muito longo. Ou ele responde efetivamente ou as lideranças políticas no Congresso vão ter que dar um desfecho para essa crise".

Carlos Siqueira diz que o governo "acabou" é está "moribundo". Segundo ele, o país não aguenta sangrar por muito tempo mais. "Temos que encontrar um meio de superar esse sangramento em benefício do país e da sua população", diz. Siqueira vai consultar os integrantes da Executiva Nacional para marcar o dia da reunião.

TSE aprova criação do partido de Marina

- Valor Econômico

Brasília - O partido Rede Sustentabilidade, da ex-senadora Marina Silva (AC), teve a sua criação autorizada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e vai poder participar das próximas eleições, começando pela disputa municipal de 2016.

A decisão foi tomada por unanimidade, dois anos depois de o mesmo TSE ter negado o registro ao partido, alegando erros nas assinaturas de apoios à legenda. São necessárias 484 mil assinaturas para aprovar um partido.

O relator do processo, ministro João Octávio de Noronha, concluiu que o registro deveria ser deferido de imediato e que, posteriormente, deverá verificar a questão de apoios recebidos por funcionários públicos que dependem da nomeação de integrantes da legenda. "Isso não tem a ver com a estrutura partidária, mas apenas com contribuições ao partido, de membros do partido", afirmou.

O julgamento foi marcado pela presença de Marina Silva no plenário do tribunal e por aplausos da plateia quando o ministro Gilmar Mendes afirmou que, mesmo perdendo as eleições, ela "ganhou a nossa admiração".

Mendes qualificou como constrangedoras as decisões do TSE que não autorizaram a criação do partido, em 2013, e também que não deram o direito de resposta a Marina, em 2014, quando ela, como candidata do PSB, não pode responder às alegações feitas pela propaganda do PT de que dar autonomia ao Banco Central significaria tirar comida do prato dos brasileiros.

"Nós demos solução errada no caso do BC independente", disse Mendes. "Essa pobre mulher, com apenas um minuto, disputando com 12 minutos da outra candidata [Dilma Rousseff], nesse esquema lamentável que permite que cada minuto custe R$ 12 milhões, e nós dissemos que Marina não tinha direito de resposta. É uma daquelas situações constrangedoras."

Mendes afirmou ainda que a criação da Rede foi "uma autêntica e especial saga". Ele lembrou que Marina teve, por duas vezes, mais de 20 milhões de votos para a Presidência da República, em 2010 e em 2014, que o partido "tem base social sólida" e, mesmo assim, teve "dificuldades para se constituir". O ministro recordou que cartórios em São Bernardo do Campo, cidade onde vota o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, considerada um "berço" do PT, não validaram assinaturas de apoio ao partido. "Transformaram o ABC num triste 'locus', como se fosse um curral do sertão nordestino", comparou o ministro. "Tanto fizeram para que essa mulher não fosse candidata e eis que o destino fez com que ela se tornasse candidata numa situação trágica", continuou, referindo-se à morte do então presidenciável Eduardo Campos, em agosto de 2014, fato que levou Marina, originalmente a vice na chapa, a substitui-lo.

Os ministros Herman Benjamin, Henrique Neves, Luciana Lóssio, Rosa Weber e o presidente do TSE, José Antonio Dias Toffoli, seguiram os votos de Noronha e de Mendes a favor da criação da Rede. No fim da sessão, houve novos aplausos e uma fila de cumprimentos a Marina.

Rede é o mais novo partido do país

• TSE aprova criação da sigla, liderada pela ex- ministra Marina Silva

Jailton de Carvalho - O Globo

- BRASÍLIA- O Tribunal Superior Eleitoral ( TSE) aprovou por unanimidade ontem a criação da Rede Sustentabilidade, partido da ex- ministra Marina Silva. Os organizadores da Rede apresentaram 498.317 assinaturas, número acima do patamar mínimo exigido pelo TSE para autorizar a criação de um partido, hoje fixado em 486.679 assinaturas. Marina disse que a prioridade é organizar a Rede e buscar a renovação da política no país.

— Agora, é a consolidação do partido. Nosso partido está fincado num programa. Na defesa do desenvolvimento sustentável, na renovação política, na melhoria da qualidade das instituições e da representação política, debate, enfim, da atualização da política, que hoje está esgotada — afirmou Marina.

A Rede surge como um partido de oposição em meio a uma intensa crise política. No entanto, o novo partido não deve reforçar o movimento pelo afastamento da presidente Dilma Rousseff. Marina já declarou que não há fato definido que justifique um eventual impeachment.

Pouco antes do início da sessão do TSE, o deputado Miro Teixeira disse que a Rede não endossa o impeachment. Miro se elegeu pelo PROS, mas é um dos fundadores da Rede.

— A questão já foi avaliada. Não há causa para o pedido de impeachment — disse.

Cunha define tamanho de comissão sobre impeachment

• Pedido de afastamento será analisado por 66 deputados, caso receba sinal verde para prosseguir na Câmara

Isabel Braga - O Globo

- BRASÍLIA- O presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), definiu a composição de uma eventual comissão especial que venha a ser criada para analisar pedidos de impeachment. Ela terá o número máximo de integrantes previsto no regimento da Casa: 66 deputados, distribuídos entre os partidos de acordo com a proporcionalidade das bancadas.

A comissão será criada caso Cunha ou o plenário da Câmara decidam dar andamento aos pedidos de impeachment que têm sido enviados para a Casa.

Cunha decidiu também que dará prazo de cinco sessões para que a oposição recorra contra eventual decisão dele de negar seguimento a esses pedidos. Mas avisou que não há prazo para que ele submeta esse tipo de recurso à votação no plenário da Casa. Ou seja, ele decidirá quando levará a plenário a votação que poderá dar ou não andamento ao impeachment. As decisões fazem parte das respostas à questão de ordem sobre tramitação do impeachment na Câmara feita semana passada pela oposição.

Líderes de oposição comentaram que Cunha voltou a sinalizar que deverá dar parecer contra a abertura de um processo dessa natureza, por se basearem em fatos relativos ao mandato anterior da presidente. Cunha avisou que pretende disponibilizar ainda hoje as respostas da questão de ordem para análise prévia dos líderes. Porém, ele só lerá essas repostas, formalmente, na sessão plenária de amanhã. Ontem Cunha tomou café da manhã com líderes do PT e informou que o trâmite do pedido de impeachment seguirá as regras regimentais.

PMDB exalta Temer em programa do partido na TV

• Vice será mostrado como líder da sigla, que se mostrará unida

- O Globo

- BRASÍLIA- O vice- presidente da República, Michel Temer, será a grande estrela do programa de dez minutos do PMDB que irá ao ar amanhã em rede nacional. O partido irá à TV tentar passar a imagem de que está unido e vai enaltecer a figura de Temer como seu grande líder e o responsável pela unificação da legenda.

Segundo peemedebistas que gravaram para o programa, não há citação ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, que levaria Temer ao poder. Porém, o partido deixará claro que está pronto para “assumir suas responsabilidades”.

Serão 50 depoimentos de deputados, senadores, ministros e principais nomes do partido, em alusão aos 50 anos que a sigla completará em 2016. O programa exibirá depoimentos tanto de peemedebistas que apoiam o governo, como de outros que defendem o impeachment. O deputado Lúcio Vieira Lima ( PMDB- BA), por exemplo, criticará o aumento de impostos, uma das soluções que o governo apresentou para resolver as dificuldades econômicas.

A produção do programa escolheu pelo menos um representante de cada estado. Temer também falará. Em seu depoimento, dirá que já conviveu com várias crises e que o país vai superar o atual momento político e econômico. Será uma palavra de equilíbrio e temperança, diz um interlocutor próximo ao vice.

Crise leva dólar a R$ 4,05, maior valor da era do real

• Governo estima recessão maior que a prevista, mas prevê alta da arrecadação

Dólar supera R$ 4, e risco em alta encarece o crédito

• Crise política e incerteza fiscal fazem proteção contra calote brasileiro disparar

• Temor de investidores prejudica empresas que precisam se financiar e deve aprofundar mais a contração econômica

Tatiana Freitas, Anderson Figo e Danielle Brant – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Dúvidas sobre o futuro do governo Dilma, dificuldades no controle das contas públicas e crise global fizeram o dólar superar os R$ 4, pela primeira vez na história do real, e elevaram os juros.

A perspectiva de que os EUA atraiam investimentos que hoje estão em países emergentes também influiu. Das 24 principais moedas emergentes do mundo, 23 se desvalorizaram ontem (só Hong Kong ficou estável).

No Brasil, o dólar à vista, referência no mercado financeiro, subiu R$ 1,58%, e o comercial, 1,80%, ambos para R$ 4,054. É o maior valor nominal da história, mas, corrigidos pela inflação, R$ 4 na época em que o real foi criado seriam hoje R$ 12,75.

Aversão ao risco
O câmbio não é o único sinal da maior percepção de risco em relação ao Brasil. O CDS ("credit default swaps") brasileiro, espécie de seguro para se proteger de um calote em títulos da dívida do país, disparou: fechou a 465 pontos, alta de 8%.

Considerando apenas esse parâmetro, o Brasil seria o quinto país mais arriscado do mundo para investir, atrás só de Venezuela, Grécia, Ucrânia e Paquistão, que atravessam graves crises políticas e econômicas –a Argentina, que é avaliada como "pré-calote", está fora da relação.

Desde o início deste ano, o indicador, o mais usado no mercado financeiro para medir a percepção de risco, mais que dobrou. Em janeiro, estava em torno de 200 pontos.

Apesar de o risco brasileiro ter ultrapassado o de países como a Rússia, ele ainda está longe de sua máxima histórica: mais de 3.500 pontos em 2002, às vésperas da eleição presidencial.

Neste semestre, a pressão sobre o mercado financeiro tem crescido. Indicadores indicam que a economia do país deve encolher em 2015 e 2016 mais que o previsto, e o envio pelo governo de um Orçamento prevendo deficit no próximo ano aumentou os temores de investidores.

Quanto maior o risco percebido por eles, maiores têm que ser os juros para atraí-los. A insegurança também aumenta a procura por dólares, o que eleva a cotação.

Com a rota ascendente da dívida pública brasileira em proporção do PIB, o Brasil corre o risco de perder o grau de investimento –selo de bom pagador– em outras agências de risco além da Standard & Poors, que rebaixou o país neste mês (leia na pág A6). A nota pior tende a elevar ainda mais os juros cobrados por credores e fará com que grandes investidores deixem o Brasil, encarecendo mais o dólar.

Curva de juros
As taxas de juros futuros negociadas na BM&FBovespa voltaram a subir nesta terça, o que indica que empresas brasileiras terão mais dificuldade –ou pagarão mais caro– para se financiar.

O contrato de DI para janeiro de 2021, por exemplo apontou taxa de 16,140%, ante 15,810% na sessão anterior. O Ibovespa recuou 0,70%, para 46.264 pontos.

"Na prática, isso pode levar a uma queda do PIB maior em 2015 e 2016", diz Fábio Silveira, diretor de pesquisa da GO Associados.

"Enquanto não houver solução política, os efeitos da política econômica ficarão muito limitados", diz Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos. "Os preços dos ativos precisam de âncoras. Neste momento, não temos nenhuma."

O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, diz que o risco cresce porque há uma "perspectiva de crise sem fim".

Merval Pereira – Alto risco

- O Globo

A situação brasileira é tão complicada que é possível surgirem as soluções mais estapafúrdias diante da evidência de que, a cada dia, este governo perde um pouco sua capacidade de atuar, o que poderia ser chamado de governança, já que governabilidade ainda existe, pois não foi dissolvida formalmente a base aliada que comanda os ministérios e órgãos públicos

Ontem em Brasília, diante da realidade de que ninguém tinha confiança de garantir que os vetos presidenciais não seriam derrubados por um Congresso Nacional virtualmente fora de controle, partiu- se para adiar a sessão em que eles seriam analisados, numa demonstração clara de que já não existem líderes partidários capazes de responder integralmente por seus deputados e senadores.

A reação do mercado foi imediata, o dólar passou de R$4, e o Palácio do Planalto passou a acionar deputados e senadores com uma orientação oposta: era preciso colocar em votação para dar uma demonstração de força.

Mas, entre colocar para votar e conseguir manter os vetos há uma distância grande, e o próprio ministro da Fazenda, Joaquim Levy, passou a telefonar para líderes tucanos, sua antiga grei, pedindo apoio.

Paradoxalmente, a presidente da República, cuja permanência no cargo está em xeque, colabora para uma instabilidade maior quando resolve fazer uma reforma ministerial em meio a esta cr ise e, rejeitada pelo comando do maior par tido da coalizão, resolve oferecer ministérios diretamente para as bases partidárias.

O PMDB deu seu recado claro por meio do vice- presidente Michel Temer : o melhor seria não fazer reforma nenhuma no momento, e sua direção se recusa a negociar caso a reforma venha a acontecer.

A presidente Dilma Rousseff decidiu, então, par tir para buscar apoios isolados dentro do partido, colocando em um balcão imaginário cargos que estão à disposição de líderes secundár ios — que, se aceitarem, estarão fazendo uso pessoal do que resta do governo enquanto podem, sem condições de garantir o pagamento que o governo federal necessita com mais urgência neste momento, apoio parlamentar.

A presidente Dilma já havia feito coisa semelhante ao pedir que a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, atuasse junto à base do PMDB para garantir um bloco anti- impeachment no Congresso Nacional.

Ora, Kátia Abreu pode ser uma liderança do setor agrícola, mas não é uma liderança política reconhecida no seu próprio partido, e essa tarefa de negociadora dentro do PMDB irritou lideranças mais tradicionais que foram deixadas de fora.

A decisão de correr o risco na votação do Congresso mostra bem o grau de desespero em que se encontra o governo.

Dora Kramer - Rei posto

- O Estado de S. Paulo

O ex-presidente Luiz Inácio da Silva assinou o tratado de rendição do PT à condição de vivente do fundo do poço naquele dia da semana passada em que foi ao encontro do presidente da Câmara apelar por clemência.

Pediu a Eduardo Cunha que impeça a tramitação de pedidos de abertura de processos de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. O presidente da Câmara pode adiar o exame dos pedidos, mas na atual conjuntura, não pode evitar: há a cobrança de fora e a pressão de dentro. Pode rejeitar, mas não pode impedir que a maioria (simples) aprove um recurso em plenário.

A “carteirada”, portanto foi, além de nada republicana, inútil. Praticamente no dia seguinte, a cúpula do PMDB – vice-presidente da República, presidentes da Câmara e do Senado – comunicou que não vai indicar ministros na reforma que se anuncia. Seja por desejo de sair ou de entrar mais no governo, de qualquer jeito o partido ficou dono da situação.

Expôs, assim, a falência da estratégia do PT de construir uma hegemonia política ao custo da sobrevivência dos aliados. Plano este iniciado pelo próprio Lula no início de seu primeiro governo ao vetar o acordo firmado por José Dirceu com o PMDB, por não considerar o partido à altura do PT.

Hoje posa como agregador, o grande e hábil condutor da salvação da aliança, mas foi o primeiro a acreditar que a compra de apoios no varejo poderia substituir a política. A segunda tentativa ocorreu no início do segundo governo Dilma, quando seus conselheiros – vários, não apenas Aloizio Mercadante nem só integrantes do PT – convenceram-na de que poderiam tirar o PMDB de cena.

O máximo que conseguiram foi potencializar a revolta em gestação há tempo no partido e aguçar o tino profissional das velhas, experientes e sagazes raposas. Resultado: os petistas estão hoje inteiramente nas mãos do PMDB. Os anéis já se foram e agora estão prestes a serem entregues os dedos, na forma de ministérios considerados inexpugnáveis pelo PT e de apelos patéticos por caridade, senhor, piedade.

Possivelmente seja tarde. Já não depende da atuação do incrivelmente competente articulador – um mito, cujos pés, como se vê, exibem consistência arenosa. Depende, sobretudo, daquilo que o PMDB vai querer.

Cabeça de juiz. Nem sempre o Supremo Tribunal Federal acerta quando decide sobre questões político-partidárias. Foi o caso de quando aceitou recuar da regra da verticalização eleitoral: por ela as alianças regionais deveriam seguir a coligação nacional. A norma teria impedido os casamentos de jacaré com cobra d’água que a cada eleição desorganizam mais o sistema.

Tampouco o STF tomou a decisão mais acertada ao corroborar decisão do Tribunal Superior Eleitoral de permitir acesso ao fundo partidário e ao horário eleitoral para partidos novos que ainda não tivessem passado pelo crivo das urnas. Isso contrariando a legislação ordinária em nome de uma alegada imposição da realidade. A norma abriu a brecha para criação de mais partidos, favoreceu o PSD de Gilberto Kassab e foi revogada para não beneficiar a Rede, de Marina Silva.

Boas intenções judiciais não necessariamente asseguram o cumprimento da melhor prática no cotidiano da política. É de se ver qual o resultado efetivo da decisão que torna ilegais as doações de pessoas jurídicas. Em tese, ficamos a salvo dos acordos espúrios entre empresas e políticos. Na prática, os órgãos de fiscalização podem ter mais dificuldade em identificá-los.

Bernardo Mello Franco - O tabuleiro treme

- Folha de S. Paulo

As novas condenações da Lava Jato devem servir de alerta aos políticos que discutem o futuro da República em gabinetes refrigerados. A operação está um pouco menos barulhenta, mas não parou. Ainda pode sacudir o tabuleiro da crise e tirar peças importantes do jogo.

O PT voltou a tremer com a caneta do juiz Sergio Moro. Na segunda-feira, ele condenou João Vaccari e Renato Duque por desvios milionários na Petrobras. Na terça, assinou a sentença do ex-deputado André Vargas.

Vaccari é o segundo tesoureiro petista condenado por corrupção em menos de três anos. Acusado de direcionar propinas do petrolão para o caixa da sigla, recebeu uma pena dura, superior a 15 anos de prisão.

Duque, o ex-diretor da Petrobras, foi condenado a 20 anos. No mesmo dia, voltou a se reunir com os procuradores para negociar uma delação. Se falar, pode comprometer ainda mais a cúpula e as campanhas do PT.

O caso de Vargas não é diretamente ligado ao petrolão, mas reacende outro temor no governo: a possibilidade de as investigações se alastrarem por toda a Esplanada. Ele foi condenado por receber propina de uma agência de publicidade que tinha contrato com o Ministério da Saúde e Caixa Econômica Federal.

A Lava Jato também voltou a se mover na direção do PMDB. Moro decretou a prisão de João Augusto Rezende Henriques, apontado como operador do partido no escândalo.

Ao mesmo tempo, cresce a tensão com a delação iminente de Fernando Baiano, homem de múltiplos contatos e negócios na Petrobras. Em depoimento divulgado há um mês, o lobista Julio Camargo disse que ele tinha ligações com três integrantes da linha sucessória: Eduardo Cunha, Renan Calheiros e Michel Temer.

Na ocasião, o vice-presidente afirmou em nota que "não teve ou tem com ele qualquer relação ou contato de irmandade". Assim que fechar o acordo de colaboração com a Justiça, Baiano terá a oportunidade de dar a sua própria versão.

Rosângela Bittar - Dilma arrasta Lula e PMDB para seu labirinto

• Dilma desafiou o Congresso a um teste para o impeachment

-Valor Econômico

O ex-presidente Lula tem consciência do que seria o melhor para ele, e já teve o rompante de ir a público se desculpar e explicar que não deu para seguir adiante com Dilma Rousseff. Dito isso, passaria à oposição, levando consigo a maioria do PT e do PMDB. Já que não consegue ajudar a presidente, apesar das seguidas viagens a Brasília - hoje mesmo virá de novo, chamado para de novo discutir a reforma e de novo acalmar o PMDB - Lula combateria o governo com Dilma no cargo. Um sonho?

É um sentimento diferente, mais que um sonho. Um passo adiante com relação aos ardentes desejos anteriores de, com o impeachment ou a renúncia da presidente, promoverem, ele e o PT, uma mudança para a oposição e, de camarote, seguirem até as eleições de 2018. O descalabro administrativo e as crises econômica, política e moral iriam para a conta de quem assumisse um mandato tampão.

Porém, é na convicção de que a vida de Dilma não se move nem em um sentido nem em outro, que a consciência-sonho de Lula de vez em quando já lhe aponta o caminho da oposição com ela no cargo. Lula fala sobre isso sempre, mas não fará isso. Não tem coragem, a criatura é sua. Está acabrunhado, passa dois dias de aflição depois de cada rodada em Brasília, reclama, critica, insulta, mas não faz o que gostaria. Até porque não tem certeza se só um pedido de desculpas seria suficiente para dissociá-lo de Dilma. Provavelmente, não.

O ex-presidente então volta, na semana seguinte, faz as conversas políticas, repassa recomendações não executadas, desencrespa o PMDB, dá meia volta. Anda em círculo.

Quando em Brasília, Lula trata principalmente do PMDB. Conversa de um lado, de outro, tenta mostrar à presidente cada perfil, quem é quem no partido, os grupos, recomenda atenção a um e outro, reune-se com Sarney, Renan, Cunha, Temer, Jader, vira as costas e a confusão se refaz.

Situação idêntica à que vive o presidente do PMDB e vice-presidente da República Michel Temer. Está sendo tratado mais do que como adversário, como inimigo mesmo, pela presidente e sua entourage. Numa relação de faz e desfaz infinita. Alguém disse a Dilma, e esse alguém sabe quem, que é preciso dividir para governar. O PMDB é reconhecido por suas divisões e a harmonia da convivência entre elas. É organizadamente dividido, cada grupo com negociação em separado dos seus interesses com o governo, naturalmente. Pois Dilma não faz outra coisa senão inventar um confronto.

Tentou jogar o PMDB do Senado contra o da Câmara (eles já são times adversários, há décadas) e nas últimas três semanas está tentando rachar a bancada do Rio investindo no governador Pezão e no líder Picciani, que já formam um grupo, contra um inimigo ainda indefinido: pode ser Michel Temer, ou a parte da bancada que apoia o impeachment, ou sabe-se lá que idiossincrasia outra.

Indicou a ministra Kátia Abreu, que está no governo na sua cota pessoal e não do partido, onde é cristã nova, para negociar os cargos que Temer, Renan e outros refugaram. Forma dramática de resolver um problema criando dez outros. Pelo menos agora já se tem uma noção do que significam essas ações que pareciam total falta de noção.

A presidente optou por um caminho confuso, desafiador, soberbo, de fazer o teste do impeachment e movimentou-se mais ontem do que em todo o primeiro mandato e o início do segundo juntos. De manhã apelou para os presidentes da Câmara e do Senado evitarem a sessão em que seriam votados seus vetos a medidas que criam despesas, pois achava que perderia. De repente, quando o dólar bateu em R$ 4, mandou votar de qualquer jeito em busca de uma arriscada porém boa notícia, se tudo desse certo. A presidente precisava de um alento, um pouco de ar.

Foi assim que tentou encontrar o fio de Ariadne no labirinto para o qual arrasta o ex-presidente Lula e o principal partido da aliança, o PMDB. E onde está cada vez mais enredada. Um labirinto tecido pelas relações com o congresso, com o PMDB, com o PT, com o governo, com o Judiciário, com o Tribunal de Contas, com a Câmara, com o Senado, com os agentes econômicos, com a população e até com suas relações pessoais. As últimas entrevistas do ex-marido Paulo Araújo, que considerou inoportunas, tiveram papel importante na vertigem presidencial. Tem prazo para buscar a saída, precisa resolver cada uma dessas pontas que a tornam prisioneira em seu próprio bunker.

Em menos de cinco meses depois de assumir o cargo, Murilo Ferreira, presidente da Vale, pediu afastamento da presidência do Conselho de Administração da Petrobras. Já está fora do vespeiro há uma semana e até agora a empresa, provando-se ser ainda uma caixa-preta, como mostra diariamente a Operação Lava-Jato, não achou que devesse explicações convincentes sobre o gesto. Murilo Ferreira alegou motivos pessoais temporários até 30 de novembro, uma licença que no mercado se dá como sem volta.

O seu segundo na Petrobras Clovis Torres, que levou também da Vale, para exercer uma espécie de consultoria jurídica, atividade crucial neste momento, também pediu licença. Está no Conselho da BR aguardando desdobramentos. Diz-se, na Petrobras, que Clovis saiu para que o conselho não se julgasse constrangido a indicá-lo para suceder Murilo.

Desculpas pueris. Já se ensaiou explicar, também, que ambos se afastaram porque houve uma pequena discordância quanto à fatia da BR a ser vendida, além de divergências quanto a benefícios aos funcionários.

Em se tratando do presidente executivo de uma mineradora como a Vale, e de uma companhia do quilate da Petrobras que sofreu o abalo que sofreu em seus alicerces, saqueados para criação dos dutos de propina inimagináveis, as justificativas não condizem com os personagens.

Diz-se que a diretoria da Petrobras sabotava o Conselho de Administração, uma razão para Murilo se afastar. Outra que Aldemir Bendine, o novo presidente da empresa, não se dá com Murilo, com quem disputa não os holofotes, esses ninguém quer mais na Petrobras, mas a última palavra nas decisões. Talvez por aí se encontre um caminho para revelar o que aconteceu, de verdade. Transparência é que não foi.