Folha de S. Paulo
Futuro político do ex-presidente pode
misturar impunidade com inelegibilidade
Al Capone acabou em Alcatraz pelo menor de
seus crimes: evasão fiscal. Os crimes comuns que pesam sobre Jair Bolsonaro no caso das joias pouco significam perto
dos crimes constitucionais praticados sistematicamente ao longo de seu mandato.
Mas delineia-se um cenário no qual o ex-presidente terá o destino do mafioso
americano. Seria uma forma de misturar, no liquidificador da demagogia,
impunidade com inelegibilidade.
Durante a pandemia, Bolsonaro sabotou as restrições sanitárias e a campanha de vacinação, operando contra o direito coletivo a saúde pública. Seu governo estimulou a invasão de terras indígenas por garimpeiros e madeireiros, desafiando o compromisso estatal de proteção desses povos. Durante quatro anos, o presidente mobilizou seus apoiadores em persistente agitação golpista, que culminou no 8 de janeiro de Brasília, traindo o dever de respeito às instituições democráticas. Contudo, ao que parece, responderá apenas por peculato, descaminho e abuso de poder.