quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Opinião do dia – Eliane Cantanhêde

Tem-se, portanto, que o mundo governista, empresarial e financeiro se move para um lado – o de manter Dilma a qualquer custo para evitar um eventual mal maior – e a oposição se move em sentido contrário, com PSDB, DEM, PPS e Solidariedade entrando em sintonia e a favor das pesquisas e das ruas que pedem o afastamento de Dilma.

O que muda no estado de coisas e na situação de Dilma com essa nova postura do PSDB? Difícil saber, até porque ninguém sabe mais nada. Mas a unificação do discurso tucano a favor da renúncia e admitindo o impeachment não é nada bom para Dilma e pode ser muito bom para o futuro do próprio PSDB. Além de atiçar a cobiça do PMDB de Temer
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Eliane Cantanhêde é jornalista - ‘Ruas 'destucanizam' PSDB’. O Estado de S. Paulo, 19 de agosto de 2015.

Cunha será denunciado ao STF na Lava Jato e diz que fica no cargo

• Mesmo acusado de maneira formal pelo procurador-geral da República de ter cobrado ao menos US$ 5 milhões do esquema de desvios na Petrobrás, presidente da Câmara dos Deputados afirma que não deixará o cargo e se diz vítima de um complô político

Por Andreza Matais, Fábio Fabrini e Talita Fernandes – O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A Procuradoria-Geral da República vai denunciar o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por envolvimento no esquema de corrupção na Petrobrás. A denúncia deve ser remetida ainda nesta quinta-feira, 20 ao Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou as investigações contra o peemedebista há cinco meses.
Cunha deve ser acusado pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Uma das possibilidades é de que a denúncia venha acompanhada de um pedido de afastamento de Cunha da presidência da Câmara.

O peemedebista foi citado pelo ex-consultor da empresa Toyo Setal Julio Camargo em depoimento de delação premiada como beneficiário de suborno de US$ 5 milhões. O valor teria sido pago para facilitar a assinatura de contratos de afretamento de navios-sonda entre a Samsung e a Diretoria Internacional da estatal, controlada pelo PMDB.

Na quarta, Cunha afirmou que não deixará o cargo. “Eu não farei afastamento de nenhuma natureza. Vou continuar exatamente no exercício pelo qual eu fui eleito pela maioria da Casa. Absolutamente tranquilo e sereno com relação a isso”, disse. Cunha nega as acusações e se diz vítima de um complô.

Caso Cunha deixe a presidência da Câmara, o cargo passa a ser automaticamente exercido pelo primeiro vice, Waldir Maranhão (PP-MA), também alvo de inquérito no âmbito da Lava Jato. Conforme o regimento, ele tem de convocar novas eleições, no prazo máximo de cinco sessões.
As investigações em curso apontaram dezenas de operações de lavagem de dinheiro com remessas ao exterior, dinheiro em espécie e até depósito para uma igreja evangélica indicada por Cunha utilizando a empresa de Júlio Camargo.

Pressão. A denúncia também vai apontar o uso de requerimentos da Câmara para pressionar uma empresa a pagar propina ao peemedebista. A tese do afastamento ganhou força quando Janot escreveu em parecer que a Câmara atuou em “exclusivo interesse particular” de Cunha ao ingressar no STF para anular provas contra o peemedebista.
Juristas consultados pelo Estado consideram que, a depender dos argumentos apresentados pela Procuradoria, há respaldo jurídico para o pedido de afastamento no momento em que a denúncia for recebida.

O oferecimento de denúncia consiste em uma acusação formal feita pelo Ministério Público Federal contra os políticos por entender que já há indícios de provas suficientes para que eles respondam uma ação penal. Eles só se tornam réus após o Supremo aceitar a acusação feita pela Procuradoria. No caso de Cunha, a decisão sobre a abertura da ação penal deve ser tomada pelo plenário do STF, que continua responsável por analisar investigações criminais de presidentes das Casas Legislativas – os demais parlamentares são julgados por uma das duas turmas do tribunal.

Cunha será um dos primeiros denunciados entre os 53 políticos sob investigação por suspeita de envolvimento com o esquema descoberto pela Lava Jato. Em julho, ele rompeu com o governo após a delação de Camargo vir à tona – alegou um conluio entre o Planalto e a Procuradoria para denunciá-lo e, com isso, enfraquecê-lo.

Em delação premiada, Camargo relatou um encontro com Cunha no Rio no qual o peemedebista teria cobrado o pagamento de propina por um contrato da Petrobrás. Outro delator da Lava Jato, o doleiro Alberto Youssef, já havia afirmado à Justiça Federal que o presidente da Câmara era um dos “destinatários finais” de pagamentos.

Procuradoria denunciará Cunha

• Presidente da Câmara será acusado de lavagem de dinheiro e corrupção na Petrobras; STF vai decidir se deputado se tornará réu

Cunha será denunciado ao STF por suspeita de corrupção

• Presidente da Câmara se torna réu se ação proposta pela Procuradoria for aceita

• Peemedebista diz a aliados que governo fez acordo com Ministério Público para salvar Renan e persegui-lo

Andréia Sadi, Gabriel Mascarenhas, Márcio Falcão – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A Procuradoria-Geral da República vai denunciar nesta quinta (20) ao Supremo Tribunal Federal o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), sob acusação de envolvimento com o esquema de corrupção descoberto na Petrobras pela Operação Lava Jato.

A apresentação da denúncia, que tornará o deputado do PMDB réu se for aceita pelo STF, tende a aumentar a temperatura da crise política. Cunha, que rompeu com o governo Dilma Rousseff em julho, impôs aos petistas sucessivas derrotas em votações na Câmara desde o início do ano.

O Ministério Público também apresentará denúncia contra o senador e ex-presidente da República Fernando Collor (PTB-AL).

Cunha e Collor serão acusados pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. A denúncia será assinada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Os termos do documento estavam sendo finalizados pelos procuradores nesta quarta-feira (19).

Cunha afirmou que só se manifestará sobre o assunto após tomar conhecimento do teor da denúncia. "Só vou comentar quando houver fatos. Suposições eu não comento", disse, ao ser questionado por jornalistas na Câmara.

Em conversas com aliados, Cunha voltou a acusar o governo de patrocinar uma operação para torná-lo alvo das investigações da Lava Jato. Segundo ele, o Palácio do Planalto fez um "acordão" com a Procuradoria para persegui-lo e salvar aliados como o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que também é alvo de um inquérito.

As investigações conduzidos pela Procuradoria envolvem 37 políticos de seis partidos, incluindo deputados, senadores e dois governadores. Integrantes do PT, incluindo o ex-ministro José Dirceu e o ex-tesoureiro João Vaccari Neto, estão presos por suspeita de envolvimento com a corrupção na Petrobras.

Cunha disse aos jornalistas que reagirá com "tranquilidade" e "serenidade" à denúncia, e que não pretende se afastar da presidência da Câmara. "Não farei afastamento de nenhuma natureza. Vou continuar exatamente no exercício para o qual fui eleito pela maioria da Casa", afirmou no início da noite.

Como Cunha é o presidente da Câmara, a denúncia contra ele será analisada pelo plenário do STF, formado por 11 ministros.

Renan também tem a mesma prerrogativa, como presidente do Senado. No caso dos outros congressistas, a decisão caberá aos ministros Teori Zavascki, relator dos inquéritos associados à Operação Lava Jato no STF, Cármen Lúcia, Celso de Mello, Dias Tóffoli e Gilmar Mendes, que compõem a Segunda Turma do tribunal.

Propina
O primeiro a ligar Cunha à corrupção na Petrobras foi o doleiro Alberto Youssef, um dos principais operadores do esquema, que fez acordo de delação premiada no ano passado e, desde então, colabora com as investigações.

Youssef apontou o deputado como um dos políticos que teriam recebido propina de empresas que tinham negócios com a Petrobras.

Segundo o doleiro, Cunha foi o destinatário de pagamentos feitos pelo lobista Julio Camargo para manter um contrato de aluguel de navios-sonda para a a Petrobras, em 2006.

Camargo, que também fez acordo de delação premiada, negou em seus primeiros depoimentos ter pago propina a Cunha. Em novos depoimentos à Procuradoria, em julho, o lobista disse ter pago US$ 5 milhões e narrou uma reunião em que o deputado teria cobrado o pagamento.

Segundo Youssef e Camargo, os pagamentos a Cunha foram feitos por meio de outro lobista, Fernando Soares, mais conhecido como Fernando Baiano. Atualmente preso em Curitiba, Baiano é apontado pelos investigadores como o principal operador do PMDB no esquema.

Cunha também é acusado pelos delatores de patrocinar na Câmara dos Deputados requerimentos para pedir informações a empresas que tinham contratos na Petrobras, para pressioná-las a colaborar com o esquema.

Como a Folha mostrou em abril, Cunha aparece nos registros eletrônicos da Câmara como o autor de requerimentos apresentados por seus aliados para pressionar empresas que eram representadas por Julio Camargo.

Atrito
O peemedebista teve vários atritos com o governo Dilma antes mesmo de assumir a presidência da Câmara. Como líder do PMDB, ele se desentendeu com o governo durante a votação da medida provisória que mudou as regras para exploração de portos no país.

Em fevereiro, com a posse dos congressistas eleitos no ano passado, ele derrotou o petista Arlindo Chinaglia (SP) na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados.

Apesar da sua disposição de permanecer no cargo, um grupo de deputados de diferentes partidos prepara manifesto para pedir seu afastamento. A bancada do PSOL anunciou também que pretende ingressar com representação no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados para propor a cassação do mandato de Cunha.

Se o peemedebista mudar de ideia e decidir renunciar à presidência da Câmara para se defender, o primeiro vice-presidente, Waldir Maranhão (PP-MA), assumirá o cargo temporariamente para conduzir os trabalhos.

Conforme o regimento interno, ele tem cinco sessões deliberativas para convocar novas eleições.

Colaboraram Gustavo Uribe e Débora Álvares, de Brasília

Denúncia ao STF amplia isolamento de Cunha

• Presidente da Câmara pode virar réu por corrupção e lavagem de dinheiro

• Acusado de receber US$ 5 milhões de propina por contrato de aluguel de navios-sonda para a Petrobras, peemedebista afirma que não deixará o cargo; grupo de deputados pretende pedir seu afastamento

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), será denunciado ao STF por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, ampliando o seu isolamento político, que se aprofundou após a decisão do peemedebista de migrar para a oposição. Acusado de receber US$ 5 milhões de propina por contratos de aluguel de naviossonda para a Petrobras, ele se tornará réu em ação penal caso a denúncia seja aceita pela Justiça. Um grupo de deputados pretende pedir o afastamento de Cunha da presidência da Câmara, possibilidade negada por ele. “Vou continuar no exercício para o qual fui eleito”, afirmou. Os detalhes da denúncia serão conhecidos hoje. O caso deverá ser apreciado pelo plenário do STF em um mês.

A caminho do banco dos réus

• Janot denunciará hoje por corrupção Eduardo Cunha, ampliando seu isolamento político

Jailton de Carvalho, Simone Iglesias, Fernanda Krakovics e Cristina Tardáguila - O Globo

-BRASÍLIA- O Ministério Público Federal envia nas próximas horas ao Supremo Tribunal Federal (STF) denúncia contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), segundo integrantes do grupo que prepara o texto. O presidente da Câmara será acusado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, como antecipou O GLOBO em seu site. A denúncia a ser apresentada ao STF tem como base a acusação do empresário Júlio Camargo, que confessou em juízo ter pago US$ 5 milhões em propina para o deputado, mas não se limita a depoimentos de delação premiada. Segundo investigadores, trará indícios contundentes contra o presidente da Câmara. Cunha nega envolvimento com Camargo. Também devem ser denunciados o senador Fernando Collor (PTB) e o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI).

A denúncia enfraquece o presidente da Câmara e aumenta seu isolamento político, ampliado por sua decisão de se declarar oposição ao governo federal, apesar de integrar um dos principais partidos da base. Um grupo de deputados de diversos partidos pedirá o afastamento de Cunha da presidência da Câmara assim que a denúncia da Procuradoria-Geral da República for para o STF.

Um dos principais delatores da Lava Jato, Camargo teria pago o suborno para facilitar a assinatura de contratos de afretamento de navios-sonda entre a Samsung Heavy Industries e a Petrobras. Pelo aluguel de dois navios, a Petrobras teria desembolsado US$ 1,2 bilhão. O pagamento de propina para Cunha e outros envolvidos nas transações seria superior a US$ 40 milhões.

Ajuda do ministério público da Suíça
À época da assinatura do primeiro contrato, no valor de US$ 586 milhões, a diretoria Internacional estava sob o comando de Nestor Cerveró, condenado no início da semana a 12 anos e 3 meses de prisão pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba. O negócio teria sido intermediado pelo lobista Fernando Soares, o Baiano, também condenado a 16 anos e 1 mês de prisão.

Os procuradores concluíram pela responsabilização criminal de Cunha por corrupção e lavagem. Na investigação da primeira instância, liderada pela força tarefa de Curitiba, procuradores obtiveram provas da movimentação do dinheiro da propina no exterior com a ajuda do Ministério Público da Suíça. “A cooperação jurídica com a Suíça foi fundamental para a comprovação do fluxo do dinheiro no exterior e comprovação documental dos fatos. Por meio dela, obteve-se documentos irrefutáveis que comprovaram a transferência do dinheiro da Samsung para as empresas de Júlio Camargo e, em seguida, para as de Fernando Soares e Cerveró, bem como para a contas de terceiros indicadas por eles”, informou a força-tarefa em nota divulgada na segunda-feira.

A Câmara passou o dia de ontem em suspense com a notícia de que o presidente da Casa seria denunciado pelo MP. Cunha avisou que não comentaria suposições, mas em reunião com deputados que o apoiam, segundo relatos, estava tenso. O presidente da Câmara avisou que fica:

— Eu não faria afastamento de nenhuma natureza, vou continuar no exercício para o qual fui eleito pela maioria da Casa. Estou absolutamente tranquilo e sereno em relação a isso.

Mesmo com a denúncia contra Cunha, tucanos na Câmara devem manter neutralidade e afiançar sua permanência no comando da Casa. Logo que terminou o recesso parlamentar, Cunha recebeu em sua residência oficial lideranças do PSDB e procurou saber como o partido se comportaria no desenrolar da operação Lava-Jato.

Segundo relatos feitos ao GLOBO, tucanos afirmaram que o PSDB apoia as investigações, mas não irá atacar Cunha. Entre os deputados do PSDB há uma avaliação de que Cunha é a única chance para viabilizar a discussão sobre o impeachment da presidente Dilma.

No cálculo tucano, mesmo que a denúncia seja apresentada agora, levará alguns meses até que o STF decida acatá-la. Nesse meio tempo, pretendem garantir a permanência de Cunha no comando da Casa.

Um grupo de 13 deputados de partidos diferentes se reuniu para debater o assunto. Além dos quatro representantes do PSOL — Ivan Valente (SP), Chico Alencar (RJ), Jean Wyllys (RJ) e Edmilson Rodrigues (PA) —, estavam quatro deputados do PSB — Luiza Erundina (SP), Glauber Braga (RJ), Heitor Schuch (RS) e Julio Delgado (MG); uma do PPS, Eliziane Gama (MA); um dos PROS, Leônidas Cristino (CE); um dos PSC, o vice-líder do governo Silvio Costa (PE) e dois do PT: Henrique Fontana (RS) e Alessandro Molon (RJ).

— Nos reunimos e elaboramos uma minuta da manifesto. Estamos esperando para ver o teor da denúncia. Mas defenderemos que ele se afaste para não prejudicar as investigações — disse Valente.

Na opinião de cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO, a imagem do presidente da Câmara sairá arranhada desse processo assim como sua posição de líder no Congresso. Cunha, no entanto, não deve regredir nem baixar o tom em suas aparições. Renúncia não será uma opção no horizonte. A aposta dos especialistas é que o atual presidente da Câmara fará exatamente o oposto: reagirá ferozmente, detonando novas pautas-bomba e criticando ainda mais o governo Dilma.

— Ser denunciado será uma mácula enorme na imagem de Cunha. Ele vai ter que se defender, e essa é a pior coisa que pode acontecer a um político — diz Eugênio Giglio, professor da ESPM Rio. — A pressão para que ele renuncie à presidência da Câmara será muito grande, mas é bastante improvável que ele adote essa saída. Pelo contrário, acho que sua ruptura com o governo será total.

— Cunha não vai renunciar de jeito nenhum — acredita David Fleischer, professor do Instituto de Ciência Política da UnB. — Ele vai continuar comandando a Câmara com mais raiva e mais vigor. A dose de ódio dele com o governo deve aumentar. Podemos esperar mais pautas-bomba.

No Planalto, a expectativa é que Cunha coloque de pé uma “agenda de vingança” contra Dilma.
Apesar das dificuldades neste primeiro momento, a aposta do Planalto é que, no médio prazo, a denúncia será boa para o governo. Ministros próximos à presidente acreditam que, com as acusações, a tendência é que o presidente da Câmara se enfraqueça politicamente.

— É imprevisível quanto tempo ele aguenta. Muitos deputados vão permanecer ao seu lado, mas a Casa sofrerá um desgaste por ter um réu como presidente. Isso passa a contaminar os parlamentares — avaliou um auxiliar palaciano.

Para o cientista político e coordenador do Grupo de Investigação Eleitoral da Uni-Rio, Felipe Borba, a notícia da denúncia é "muito boa" para o governo.

— Ela enfraquece seu principal opositor e pode até levá-lo a deixar a Mesa da Câmara — afirmou. — É bem provável que Cunha se transforme no alvo das manifestações pró-governo que estão agendadas para acontecer hoje, por exemplo. Isso divide o foco das atenções.

No PMDB, o clima é de cautela.

— Qualquer cidadão pode ser alvo de inquérito, pode ser denunciado e tem a presunção de inocência. O presidente da Câmara não está nem acima nem abaixo disso — afirmou o líder do PMDB, deputado Leonardo Picciani (RJ), aliado de Cunha.

Um integrante da cúpula partidária disse que desde que ele foi citado na Lava-Jato e, posteriormente, rompeu com o governo, peemedebistas impuseram um distanciamento. A tendência é que em um primeiro momento, o PMDB se solidarize e dê tempo para ele se defender, mas busque deixar claro que os eventuais erros foram cometidos por Cunha e não pelo conjunto do partido.

— Ninguém quer se contaminar. Deputados próximos se afastaram gradativamente, temendo ser atingidos. Vão esperar para ver as reações de Cunha, do governo e da oposição para definir que caminho seguir — disse um peemedebista da cúpula do partido.

A cúpula do PT também estava cautelosa. Dirigentes petistas afirmavam que ainda é preciso saber se o STF vai acolher a denúncia.

Denúncia contra Cunha deve chegar hoje ao STF

Por Maíra Magro e André Guilherme Vieira – Valor Econômico

BRASÍLIA e SÃO PAULO - O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), está na iminência de ser denunciado ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, dentro do esquema de corrupção da Petrobras. Ontem a Procuradoria-Geral da República (PGR) obteve o documento que faltava para embasar a acusação, que já estava praticamente pronta. Imediatamente surgiram especulações de que a denúncia sairia ontem mesmo, o que deixou Brasília em forte clima de tensão. A expectativa, agora, é que a acusação seja feita hoje.

O suspense aumentou no começo da tarde quando o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deixou a sessão do Supremo mais cedo para finalizar as peças de acusação. À noite, o comandante do Ministério Público e seus assessores continuavam trabalhando no texto. A avaliação de fontes que conhecem o processo é que a denúncia contra o presidente da Câmara está bem embasada e seria uma peça certeira, com pilhas de documentos que implicariam Cunha no esquema desvendado pela Operação Lava-Jato.

Também contribuiu para aumentar o clima tenso a decisão de ontem do ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no STF, de negar uma reclamação da defesa de Cunha. Os advogados pediam para retirar da Justiça Federal no Paraná a ação sobre a contratação de navios-sonda pela Petrobras, operação em que Cunha é acusado de cobrar propina, e anular todas as provas produzidas nesse processo.

Além do deputado, os senadores Fernando Collor de Mello (PTB-AL) e Ciro Nogueira (PP-PI) devem integrar uma primeira leva de acusações da Lava-Jato contra políticos com foro no STF. Após o oferecimento da denúncia, o Supremo precisa avaliar se há indícios suficientes para a abertura de ação penal. Se a ação for aberta, o acusado se torna réu. Depois, novas provas são produzidas para o julgamento principal, que decidirá pela condenação ou absolvição. No caso de Cunha, o julgamento será feito pelo plenário do STF, por envolver o presidente da Câmara. Já parlamentares comuns serão julgados pela 2ª Turma do Supremo.

Parte da denúncia contra Cunha está amparada em provas produzidas a partir do relato do lobista Júlio Camargo, da Mitsui e da Samsung, em acordo de delação premiada com o Ministério Público. Ele afirmou que, em 2011, foi pressionado a destinar US$ 5 milhões a Cunha. O valor teria sido descontado de propina de cerca de US$ 40 milhões operada por Camargo em contratos para fornecimento de navios-sonda da Petrobras.

A cooperação do Ministério Público suíço foi fundamental para a produção de provas contra Cunha, segundo investigadores. Os documentos obtidos são extratos bancários que comprovariam os beneficiários da propina enviada ao exterior por meio de operações de lavagem de dinheiro.
Em meio à expectativa de que seria denunciado, Cunha disse ontem que não vai se afastar da presidência da Câmara e que não está preocupado. Ele voltou a afirmar que só vai fazer eventual comentário sobre a denúncia caso ela seja efetivada: "Não farei afastamento de nenhuma natureza. Vou continuar exatamente no exercício pelo qual eu fui eleito pela maioria da Casa. Absolutamente tranquilo e sereno com relação a isso."

Janot afirmou por sua vez, em ofício redigido na terça-feira, que o deputado "tenta usar como escudo a instituição da Câmara dos Deputados" - e, pela via da desinformação, seus pares - para atacar o Ministério Público Federal. A manifestação foi uma resposta encaminhada ao deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), que questionou Janot formalmente sobre afirmação feita por Cunha durante reunião de líderes de bancadas. Na ocasião o presidente da Câmara disse que uma diligência nas dependências da Casa permitiu o acesso irrestrito a dados de todos os parlamentares. Em sua resposta, Janot se disse surpreso e indignado com as afirmações de Cunha, classificadas por ele como "levianas".

Segundo Janot, a diligência consistia na obtenção de informações limitadas a Cunha e a então deputada Solange Almeida, aliada ao presidente da Câmara.(Colaboraram Letícia Casado e Bruno Peres)

Movimentos sociais miram em Eduardo Cunha

• Protestos programados para esta quinta-feira em 23 Estados terão ainda críticas ao ajuste fiscal e defesa do mandato Dilma

Ricardo Galhardo - O Estado de S. Paulo

Alvo da Procuradoria Geral da República (PGR) por suspeitas de corrupção na Petrobrás, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), também está na mira de uma série de manifestações marcadas para esta quinta-feira em todo o País.

"Estamos torcendo para que a denúncia (da PGR contra Cunha) saia hoje ou amanhã (ontem ou hoje)", disse Raimundo Bonfim, da Central de Movimentos populares (CMP).
Segundo ele, os sindicatos e movimentos sociais que organizam os atos estão incentivando a confecção de faixas e cartazes com a frase "Fora, Cunha".

Manifestações foram programadas em 23 Estados e em alguns deles são uma espécie de contraponto aos protestos de que pediram o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Mais de 20 grupos participam da organização. Os mais conhecidos são a Central Única dos Trabalhadores (CUT), Movimento dos Sem Terra (MST), Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), União Nacional dos Estudantes (UNE) e a CMP. PSOL e PC do B aparecem como apoiadores e o PT usou inserções na TV para divulgar as manifestações.

Devido às diferenças políticas e ideológicas dos organizadores, foi definida uma pauta única enxuta, cujos eixos são a crítica ao ajuste fiscal e à Agenda Brasil, rejeição à pauta conservadora personificada pelo presidente da Câmara e a defesa da democracia.

O último item foi a forma encontrada para abordar a defesa do mandato de Dilma sem causar divergências. A ênfase varia conforme a orientação de cada grupo. O MTST, por exemplo, prioriza as questões econômicas e adota tom crítico ao governo. Já a CUT, UNE e CMP, abertamente contrários ao impeachment da presidente, levarão cartazes com a frase "Não vai ter golpe".

Embora não tenham sido formalmente convidados, políticos são esperados. O presidente do PT, Rui Falcão, é um dos que confirmaram presença.

Em São Paulo, os movimentos esperam levar mais de 50 mil pessoas às ruas. Até ontem estavam confirmados 350 ônibus para o transporte dos manifestantes até o Largo da Batata, local da concentração, às 17h. De lá seguem até a Avenida Paulista, passando pelas Avenidas Faria Lima e Rebouças.

Rio. Estão programados dois atos no centro do Rio hoje. Militantes do MTST se reúnem às 11h na Cinelândia. "Não é um ato em defesa do governo Dilma Rousseff. É um ato contra a ofensiva de direita conservadora", disse Felipe Brito, um dos coordenadores do MTST. Os manifestantes vão caminhar até o Largo da Carioca.

Já a CUT organiza o movimento Mais Democracia e Mais Direitos, a partir das 14h na Candelária e tem como principal bandeira a defesa da legalidade democrática e do Estado de Direito. Sua principal palavra de ordem é: "Contra o Golpe! Fora, Cunha!". Os militantes seguirão às 17h pela Avenida Rio Branco até a Cinelândia.

Minas. Em Belo Horizonte, cerca de 15 mil pessoas são esperadas no ato marcado para as 16h na Praça Afonso Arinos, no centro. O coordenador do MST em Minas, Silvio Neto, nega que o ato seja um contraponto ao protesto realizado no domingo contra a presidente que, segundo a Polícia Militar, mobilizou cerca de seis mil pessoas. "Foi um fiasco tão grande que nem damos mais bola para esses caras", diz Neto.

Colaboram Danielle Villela e Leonardo Augusto

Organizadores racham antes de atos pró-governo

• PSOL e MTST rechaçam tom pró-governo nas manifestações desta quinta (20); CUT e UNE criticarão 'golpismo'

Crítica a impeachment divide líderes de ato

• Para parte dos movimentos, PT tentou 'aparelhar' protestos para defender gestão de Dilma Rousseff

Bela Megale, Bruno Fávero – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Os organizadores dos atos marcados para esta quinta-feira (20), que fazem contraponto aos protestos pró-impeachment de domingo (16), chegarão às ruas divididos sobre a defesa do governo.

Grupos ligados ao PSOL e a Guilherme Boulos, líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), que é visto como dono da maior capacidade de mobilização, alertaram os demais movimentos que não defenderão Dilma Rousseff e que vão mirar temas sensíveis ao governo.

Entre eles estão o ajuste fiscal conduzido pelo ministro da fazenda Joaquim Levy, e a Agenda Brasil, pacto firmado com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) –ambos temas do manifesto assinado pelos organizadores, intitulado "Contra a Direita e o Ajuste Fiscal".

Já entidades com ligação histórica com o PT, como CUT e UNE, no entanto, adotarão um discurso mais ameno em relação ao governo e usarão palavras de ordem contra o impeachment de Dilma.

"Há uma disputa política em torno do ato. Há aqueles que gostariam que ele fosse só em defesa da democracia e do governo. Não vamos aceitar", afirmou Boulos, que também é colunista da Folha.

O líder do MTST criticou as propagandas veiculadas pelo PT em rádios e na TV convocando para as manifestações. "Atrelamento partidário não ajuda. As manifestações são por pautas amplas e populares, compartilham de uma insatisfação com o sistema político", disse.

Segundo o secretário-geral do PSOL Fernando Silva, as inserções geraram "mal-estar" porque parte dos organizadores entendeu que o PT "aparelhou o ato para virar uma defesa do governo".

O presidente do diretório estadual do PT de São Paulo, Emídio de Souza, reconhece que a defesa do governo não é unânime, mas defendeu unidade dos grupos.

"Mesmo na direita tem manifestações diferentes dentro de um ato. Alguns defendem o (deputado) Jair Bolsonaro (PP-RJ), outros acham que o Aécio Neves (PSDB-MG) é pouco crítico, mas eles têm uma agenda em comum: fora Dilma, fora Lula, fora PT. Nós temos que ter uma que una também a esquerda."

Racha
Participantes das reuniões de articulação dos protestos do dia 20 relataram à Folha que parte dos movimentos discordou do manifesto assinado pelos organizadores.

A principal divergência foi a ausência de uma menção contra o impeachment de Dilma. A CUT, em especial, teria defendido que o texto explicitasse que o grupo é contra a queda da petista. No entanto, prevaleceu a vontade de grupos como o MTST, PSOL e Intersindical, que querem evitar um tom pró-governo.

Apesar do impeachment não integrar as reivindicações do documento, a ala do PSOL ligada à ex-deputada Luciana Genro desistiu de ir ao ato por achar que o documento defende indiretamente o governo.

Houve, porém, manifestações opostas. O PC do B, aliado do PT, retirou a assinatura do manifesto devido ao tom crítico ao governo.

O presidente da CUT de São Paulo, Adi dos Santos Lima, nega discordâncias. "Colocamos no manifesto a pauta em comum dos movimentos. Achamos melhor focar na questão econômica, mas nas ruas cada movimento vai ter liberdade para defender as bandeiras que quiser."

Os atos acontecerão em mais de 30 cidades e a expectativa é reunir, só em São Paulo, 60 mil pessoas.

Atos em defesa do governo sofrem racha

• Pelo menos cinco cidades devem ter protestos contra a política econômica

Sérgio Roxo - O Globo

- SÃO PAULO- Planejadas pelo PT como respostas aos protestos do último domingo contra o governo federal, as manifestações de entidades sociais programadas para hoje sofreram um racha. Em pelo menos cinco capitais — Rio, Fortaleza, Recife, Salvador e Vitória —, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), responsável pelas maiores manifestações realizadas por grupos de esquerda nos últimos anos, ficou insatisfeito com o caráter chapa branca da mobilização e decidiu organizar atos próprios. Além disso, lideranças petistas poderão enfrentar situações constrangedoras em algumas cidades, inclusive onde não houve desentendimento entre os organizadores da iniciativa.

Em São Paulo, a manifestação, na qual é esperada a presença do presidente do PT, Rui Falcão, deverá ter palavras de ordem contra o ministro da Fazenda, Joaquim Levy.

— Certamente vai ter faixa contra Joaquim Levy — disse Guilherme Boulos, um dos coordenadores nacionais do MTST.

O PT se recusou a assinar o manifesto de convocação para os atos de hoje por causa das críticas à política econômica do governo federal presentes no documento. O texto também se posiciona contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e defende reformas agrária, urbana e educacional. Na noite de ontem, o MTST divulgou uma nova versão do documento com a inclusão de críticas à Agenda Brasil, conjunto de medidas que, proposto ao governo pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-RJ), tem recebido elogios da presidente Dilma Rousseff.

— O PT não assinou o manifesto porque não concorda com isso (críticas à política econômica). Não podemos impor as palavras de ordem. Nós não somos organizadores do ato — afirmou o secretário de comunicação do PT, José Américo Dias.

Segundo dirigentes do MTST, nas cinco capitais em que houve racha, o PT mudou as linhas definidas no manifesto e direcionou os atos para uma defesa enfática do governo. Nessas cidades, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a União Nacional dos Estudantes ( UNE) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) deverão participar das manifestações em apoio ao governo.

No Rio, a manifestação, marcada para as 16h na Candelária, foi batizada de Ato contra o Golpismo. Já o MTST fará sua manifestação na cidade às 11h, na Cinelândia.

— Vamos nos manter fieis à proposta original, com um ato explicitamente crítico ao ajuste fiscal, à Agenda Brasil e à ofensiva conservadora — afirmou Felipe Brito, integrante da coordenação do MTST no Rio.

Procurado para comentar o racha, o presidente do PT, Rui Falcão informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não falaria sobre o assunto porque a organização das manifestações é de responsabilidade exclusiva de movimentos sociais. No entanto, apesar de não se posicionar como organizador, o partido usou comerciais de TV e rádio, na terça-feira, para convocar a população a participar dos atos em todo o país. Dirigentes petistas também utilizaram redes sociais para divulgar as manifestações.

Lula viajará pelo país
O ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva não deverá participar das manifestações de hoje, apesar de estar tentando se reaproximar de movimentos sociais. No próximo dia 27, o líder petista, que se transformou no principal alvo dos protestos de domingo, dará início a uma série de viagens pelo país com o objetivo de resgatar sua imagem e a do partido. O giro começará em Minas Gerais e, no mês que vem, ele planeja ir ao Nordeste.

Marina diz que Dilma 'foi saída' pelas forças políticas tradicionais

• Ex-senadora diz que Dilma sofre as consequências das 'lições que insiste em não querer aprender'

Ana Fernandes - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - A ex-candidata presidencial Marina Silva publicou nesta quarta-feira, 19, um artigo em que comenta as manifestações pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff no domingo, 16. No texto, publicado pelo portal UOL, Marina diz que aqueles que se mobilizam "para além das cartilhas ideológicas de ocasião" não trabalham pelo "Fora Dilma", pois sentem que a presidente já foi "saída". A ex-senadora diz que Dilma sofre as consequências das "lições que insiste em não querer aprender".

"De alguma forma, os que estão se mobilizando para além da velha polarização política e das cartilhas ideológicas de ocasião, entendem que (...) não é estratégico nem correto reduzir seus esforços a um simples 'fora Dilma'. Sentem que de certa maneira ela já foi 'saída' pelas forças políticas tradicionais, entre as quais parte de seu próprio partido. Saída, enfim, pelas lições que insiste em não querer aprender."

A ex-candidata, que em julho criticou aqueles que culpavam exclusivamente a presidente pela corrupção no País, fez no artigo desta quarta ressalvas às manifestações que clamam por impeachment, mas argumentou que, como um termômetro, elas apontam a insatisfação da população. "Podemos concordar com todas as falas, todas as faixas, todas as narrativas? Claro que não, mas a honestidade impõe reconhecer que as ruas mostraram uma monumental e muito relevante insatisfação contra a corrupção e a mentira entranhadas nas instituições e nas relações de poder."

"As manifestações são legítimas. Elas são o termômetro da crise política, e não se pode culpar o termômetro por indicar a gravidade da febre", diz outro trecho.

Em nenhum momento Marina diz ser favorável ao afastamento da presidente e ela chega a criticar novamente políticos que tentam, segundo ela, "instrumentalizar o momento e as instituições" em vez de procurar saídas concretas para a crise. Ela repete defender as investigações. "A responsabilidade dos que receberam um mandato é enorme e, se traíram a confiança da sociedade, precisam se explicar perante a Justiça e se submeterem às penas, caso o ilícito seja comprovado."

Marina também traz novamente, no artigo, a defesa do que chama de "nova política" com uma governabilidade baseada em programa de governo e não em distribuição de cargos. A ex-candidata defende que esse é o único caminho para se institucionalizar conquistas e combater a "corrupção, fragilização e descontinuidade de políticas públicas". "Não pode mais se deixar levar, como aconteceu nas eleições de 2014, pela ditadura do marketing, pela lei do mais forte, pelos slogans vazios e pela agressividade das mentiras", diz o texto.

Ela faz críticas indiretas, porém incisivas, à aproximação do Planalto com o presidente do Senado, Renan Calheiros - que lançou o conjunto de propostas batizado "Agenda Brasil". "Chega de agendas meramente de poder ou de manutenção do status quo, que são positivas apenas para quem as faz e sempre surgem nos momentos de crise para contrabandear acordos e propostas patrocinadoras de retrocessos contrários aos interesses dos mais frágeis", afirma no texto. "Não é hora de manobras de bastidores pactuadas por poucos", argumenta em outro trecho.

Freire saúda decisão do PSDB de buscar PMDB: "É o que precisa ser feito"

Por: Valéria de Oliveira – Portal do PPS

O presidente nacional do PPS, deputado federal Roberto Freire (SP), saudou a decisão do PSDB de procurar o PMDB para conversar sobre a crise e o eventual impeachment da presidente Dilma Rousseff. “Eu estive com Aécio e conversei sobre isso. Acho que está correta essa iniciativa do PSDB. É o que precisa ser feito”, disse Freire.

Segundo Roberto Freire, os partidos de oposição devem ficar preparados “para cumprir seu papel” no caso de o impeachment se impor como solução para a crise. A conversa com o presidente do PSDB foi, conforme explicou Freire, “sobre a resposta que as oposições têm que dar ao que a cidadania nas ruas está exigindo das forças políticas, em especial de nós, da oposição”.

Freire classificou de “fato mais alvissareiro de todas as articulações das oposições” a decisão dos tucanos de procurar o PMDB.

Dilma
Na avaliação de Roberto Freire, Dilma não está mais forte por causa das últimas articulações que o governo tem feito. “São acordos palacianos, e a incapacidade do governo para enfrentar a crise não vai ser resolvida com algumas ações. As coisas estão indo de mal a pior”.

Sobre a aproximação do Palácio do Planalto com empresários, Freire afirmou que eles ainda não vislumbraram que o melhor para o país não é a continuidade do que aí está.

“Isso aconteceu também com Fernando Collor. Num determinado momento do processo, o empresariado brasileiro, a banca financeira e a própria imprensa começaram a temer o que poderia vir no pós-Collor, mas chegou o momento em que se avistou que, para o bem do Brasil, era melhor ter um pós-Collor do que continuar com ele”, lembrou.

Para Roberto Freire, as medidas propostas na chamada “Agenda Brasil” não têm nenhum sentido. “Isso foi uma forma que o governo encontrou para se segurar com Renan Calheiros. Um governo que vinha ladeira abaixo e, com essa aproximação, conseguiu uma ligeira oxigenação”.

O presidente do PPS ressaltou que na “agenda” chegou a ter medidas tão absurdas como acabar com o SUS (Sistema Único de Saúde), com a implantação da cobrança por procedimentos. “Dilma e Lula saudaram isso como a oitava maravilha do mundo. Era tão absurdo que depois tiveram que retirar”.

O sinal, segundo Freire, de que não se tratava de algo bom para o país foi sentido quando a sociedade percebeu que se tratava apenas de segurar a queda acentuada do governo. No entender de Freire, a “Agenda Brasil” não dará frutos porque o atual governo já cumpriu com seu papel.

Senado eleva impostos de empresas

Por 45 votos a 27, o Senado aprovou projeto que aumenta os impostos sobre a folha de pagamento das empresas, com exceção de seis setores da economia. A proposta, parte importante do ajuste fiscal, irá agora para a sanção da presidente Dilma.

Senado aprova aumento de impostos da folha de empresas

• Projeto da Câmara é mantido e, agora, depende de sanção de Dilma

Cristiane Jungblut e Chico de Gois - O Globo

-BRASÍLIA- Depois de semanas de impasse, o Senado aprovou ontem à noite, por 45 votos a favor e 27 contra, o projeto que volta a onerar a folha de pagamento de setores da economia. A Casa manteve o texto que havia sido aprovado na Câmara, aumentando a carga tributária de mais de 50 segmentos empresariais e conservando alíquotas menores de tributação para seis áreas: call centers, comunicações, transportes, calçados, confecções e produção de alimentos da cesta básica.

O projeto muda totalmente a política de desonerações lançada pelo governo em 2011. Agora, o projeto vai à sanção da presidente Dilma Rousseff, encerrando o pacote fiscal. As novas regras só entram em vigor em 90 dias, prazo exigido em matérias tributárias.

A proposta original do governo previa mais que dobrar a carga tributária sobre o faturamento de 56 setores que obtiveram o benefício da desoneração em suas folhas de pagamento. Mas, assim como na Câmara, foram concedidos benefícios para alguns segmentos. Para esses, houve oneração menor, de 50%, ou mesmo a manutenção das alíquotas atuais.

Alíquotas reajustadas
No setor de comunicações, a alíquota subiu de 1% para 1,5%. Na área de transportes, passou de 2% para 3%. Para as empresas de call centers, subiu de 2% para 3%. No segmento de produção de alimentos da cesta básica, a alíquota se manteve em 1%, sem alteração. Nos setores que ficaram de fora do pacote de benefícios, as alíquotas passaram de 1% para 2,5% e de 2% para 4,5%.

O governo estava num dilema: queria uma emenda de redação no texto aprovado pela Câmara, mas, ao mesmo tempo, desejava que a votação no Senado fosse concluída ontem. Inicialmente, o Palácio do Planalto calculava que o fim da política de desoneração traria uma arrecadação extra de R$ 12 bilhões ao ano. Mas, com as alterações na Câmara, essa cifra foi reduzida para R$ 10 bilhões. Em 2015, devido ao atraso na votação, o impacto será de pouco mais de R$ 1 bilhão, se houver.

Em uma reunião realizada antes da votação com empresários dos 56 setores que negociavam com o governo a manutenção da desoneração da folha, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou que ‘‘não há mais dinheiro para bancar benefícios’’:

— O dinheiro que tínhamos guardado acabou. E a culpa não é minha. Eu estava bem quieto no setor privado, vim para cá tentar organizar o governo — disse Levy, segundo o relato de um dos participantes do encontro.

Em seguida, o ministro fez um apelo pela união nacional e pediu apoio aos empresários. Os participantes insistiram num acordo para que o governo aceitasse um índice menor de aumento da oneração da folha, que fosse linear e atingisse todos os setores, em vez de apenas seis. Levy justificou que ‘‘não deu tempo de conversarmos’’, mas os empresários responderam que estão desde abril aguardando um encontro e que apresentaram há quatro meses um estudo detalhado sobre as perdas com o fim da desoneração.

Renan garante ‘grandeza e isenção’ na sabatina

• Segundo auxiliares, Janot fará denúncias contra políticos antes de votação

Cristiane Jungblut, Chico de Gois e Germano Oliveira - O Globo

- BRASÍLIA E SÃO PAULO- Apesar do voto contrário do senador Fernando Collor, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que atuará com “grandeza e isenção” na votação da recondução de Rodrigo Janot como procuradorgeral da República.

Ele disse que a sabatina e a votação serão mesmo no dia 26 e não quis comentar o voto em separado de Collor.

— Vou demonstrar completa isenção, grandeza como presidente do Senado. Vamos fazer a sabatina na quarta e vou conversar com os líderes para que votemos no mesmo dia. Isso para que, definitivamente, o Senado possa demonstrar que não vai permitir o amesquinhamento dessa apreciação — disse Renan, que também está na lista dos investigados na operação Lava-Jato.

Na última segunda-feira, Janot se reuniu com o presidente do Senado. Renan garantiu que eles não falaram de LavaJato. Segundo auxiliares, Janot teria decidido apresentar denúncias contra políticos antes da sabatina no Senado justamente para não ser acusado de ter esperado o aval ou a recusa dos senadores para acusar parlamentares de crimes.

Caso Dirceu: mais prazo à PF
O juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava-Jato, decidiu prorrogar por mais 15 dias o prazo para a Polícia Federal concluir o inquérito policial contra o exministro José Dirceu, seu irmão Luiz Eduardo de Oliveira e Silva e a empresa JD Assessoria e Consultoria Ltda.

O prazo para a conclusão do inquérito policial venceu na segunda- feira, mas a PF pediu mais tempo para terminar as investigações, alegando acúmulo de trabalho e a “imprescindibilidade de conclusão dos exames periciais” e dos relatórios de análise da documentação apreendida no dia em que o Dirceu foi preso, 3 de agosto.

No despacho em que decidiu prorrogar a conclusão do inquérito, Moro diz que já há provas do envolvimento dos investigados na prática dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.

Desafetos buscam enfraquecer Cunha

• Denúncia será usada para tentar afastar peemedebista do comando da Câmara; oposição espera novas ações dele contra a presidente

Daniel Carvalho, Pedro Venceslau e Daiene Cardoso - O Estado de s. Paulo

BRASÍLIA - Diante da expectativa de apresentação de denúncia da Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), os adversários do deputado preparam uma estratégia para enfraquecê-lo e afastá-lo do comando da Casa. As demonstrações de apoio foram discretas, mas a oposição quer aproveitar a intensificação da ira de Cunha contra o governo para agilizar o andamento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Cunha soube por volta das 13 horas que a denúncia contra ele estava em vias de ser apresentada. O peemedebista havia acabado de chegar ao restaurante VIP da Câmara para um almoço com parlamentares da América Latina. A informação veio de sua assessoria por mensagem de celular. Ele parou de caminhar, leu rapidamente a notícia, cochichou com uma assessora e seguiu em silêncio para a mesa. Aparentava serenidade, mas se manifestava só quando a senadora mexicana Blanca Alcalá puxava assunto. Deixou o local dizendo que apenas se manifestaria sobre “fato”, e não sobre “especulação”.

A notícia entusiasmou desafetos de Cunha nas bancadas do PT, PSB, PSOL, PSC e PPS, que se reuniram para tratar do assunto. Decidiram que, tão logo fosse apresentada a denúncia, vão redigir um manifesto pedindo seu afastamento da presidência da Casa. Caso o STF acate a denúncia, o PSOL ingressará com uma representação no Conselho de Ética da Câmara pedindo a cassação por quebra de decoro.

“Ele está fragilizado. A denúncia fragiliza a lógica de Cunha de se defender atacando o governo. Essa tática cansou”, afirmou o deputado Ivan Valente (PSOL-SP). “A manutenção do Cunha na presidência da Câmara pode ser ruim para a Casa”, disse a deputada Maria do Rosário (PT-RS).

Os deputados devem se revezar em discursos para constranger Cunha e pressionarão a cúpula da CPI da Petrobrás a convocar tanto o peemedebista quanto o lobista Julio Camargo, que o acusou de cobrar propina de US$ 5 milhões. O presidente da Câmara disse que qualquer partido tem o “direito democrático” de pedir sua saída, mas que não pretende se afastar.

Apoio. A alguns metros da reunião dos adversários, Cunha conversou com cerca de dez aliados na presidência da Câmara. Aferiu o apoio que tinha entre lideranças de PSDB, DEM, SD, PSC e PSB – as bancadas dos dois últimos estão divididas. Participantes desse encontro descreveram Cunha como “tenso” e “indignado”. Disseram que ele reafirmou inocência, já esperava a denúncia e repetiu se sentir vítima de perseguição do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Aliados de Cunha passaram o dia dizendo que, por ora, o apoio ao presidente da Câmara se mantém. A oposição quer aproveitar a reação do peemedebista à denúncia para fustigar o governo e fazer vingar um eventual processo de impeachment de Dilma. “Se ele tiver mais esta motivação, quem sabe não vai fazer o que já deveria ter feito?”, questionou o vice-líder do PSDB, Nilson Leitão (PSDB-MT).

Entre os tucanos, a avaliação é que a denúncia consolida definitivamente o presidente da Câmara no campo da oposição. Apesar do otimismo, o PSDB manterá uma “distância regulamentar” de Cunha. A sigla não deve se manifestar oficialmente, mas seus líderes se colocarão contra o afastamento dele. “Sem sentença não cabe o afastamento”, diz o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), líder da minoria na Câmara.

Deputados da oposição vão defender saída de Dilma

• Siglas preparam documento único em que dizem que a crise 'é gravíssima'

• Nota conjunta é passo para a formação de frente suprapartidária contra a petista no Congresso Nacional

Daniela Lima – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Líderes dos partidos de oposição na Câmara preparam um documento em que afirmam que a crise que aflige o atual governo é "gravíssima" e indicam que não enxergam mais uma saída com a presidente Dilma Rousseff à frente do Planalto.

O texto será assinado de forma conjunta e foi debatido por integrantes do PSDB, DEM, SD, PPS, PSC e PSB. A redação –a cargo de nomes como os deputados tucanos Bruno Araújo (PE) e Carlos Sampaio (SP)– foi alterada diversas vezes e, até a noite desta quarta-feira (19), havia dúvida se a defesa do afastamento de Dilma seria feita também com o uso da palavra "impeachment".

A renúncia –saída pregada nesta semana pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso– certamente será contemplada.

A intenção é divulgar o documento nesta quinta-feira (20). Será o ato mais incisivo das siglas de oposição desde que, em maio, recuaram da decisão de defender a abertura de um processo de impeachment contra a petista.

Segundo a Folha apurou, os deputados defenderão que outros elementos, além de decisões como a do TCU (Tribunal de Contas da União) –que julgará em setembro as chamadas "pedaladas fiscais"–, devem ser levados em consideração pela oposição para pedir o afastamento.

As siglas também exaltarão as últimas manifestações contra o governo, no domingo (16). "O governo está fraco, no chão, e qualquer desfecho precisará de nossa unidade da oposição", disse o líder do DEM, Mendonça Filho (PE). A nota conjunta é o primeiro passo para a formação de uma frente suprapartidária contra o governo.

Integrantes do PMDB já entraram em contato com o senador Aécio Neves (MG), presidente nacional do PSDB.

O tucano esteve com o deputado Lúcio Vieira Filho (PMDB-BA) nesta terça (18), horas antes de dizer, em coletiva, que convidaria peemedebistas dissidentes para falar sobre a crise.

Lúcio é irmão do ex-ministro Geddel Vieira (PMDB-BA), um dos defensores da saída do PMDB da base do governo e do distanciamento do vice-presidente Michel Temer da articulação política.

Indústria terá socorro de até R$ 14 bi

• BB e Caixa facilitarão crédito, e analistas criticam estratégia. Setor automotivo foi o que mais demitiu

Depois da Caixa, ontem foi a vez de o Banco do Brasil anunciar uma linha de crédito em condições especiais para o setor automotivo. As facilidades poderão ser estendidas a outros segmentos e, juntos, BB e Caixa vão liberar até R$ 14 bilhões. O ministro Levy disse que as medidas não terão impacto fiscal, mas especialistas criticaram a estratégia e veem efeitos indiretos nas contas públicas. O setor automotivo foi o que mais demitiu em junho, com 35 mil cortes.

Um socorro de até R$ 14 bilhões

• BB e Caixa vão facilitar crédito à indústria. Analistas veem contradição com política de ajuste

Ana Paula Machado, João Sorima Neto, Cássia Almeida Ana Paula Ribeiro - O Globo

-SÃO PAULO E RIO- Um dia depois da Caixa Econômica Federal, foi a vez de o Banco do Brasil anunciar linhas de crédito especiais para empresas de diferentes setores, que estão com dificuldades para obter financiamento para capital de giro. Em acordo já negociado com o BB, a indústria automotiva (montadoras, fabricantes de autopeças e revendedoras) contará com R$ 3,1 bilhões, que poderão ser desembolsados até o fim do ano. De acordo com o presidente do banco, Alexandre Abreu, existem cerca de R$ 9 bilhões disponíveis no programa, que deverá se estender a “uma ampla gama de setores produtivos”. Se forem considerados os R$ 5 bilhões do programa anunciado pela Caixa na terça-feira, o total de recursos dos dois bancos públicos colocados para irrigar o crédito das empresas chega a R$ 14 bilhões. Caso sejam efetivamente contratados, esse montante corresponderá a desembolsos diários da ordem de R$ 138,6 milhões até 30 de dezembro (são 101 dias úteis de hoje até essa data).

Adotadas para tentar reativar a economia, as medidas foram duramente criticadas por analistas, que viram nelas uma recaída do governo nas ações paliativas de estímulo ao consumo que marcaram o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, além de um contrassenso diante do ajuste fiscal que o governo, a duras penas, tenta implementar. A utilização dos bancos públicos como agentes de fomento da atividade econômica, junto com rumores de aumento da tributação do setor, derrubaram as ações do setor bancário. Os papéis preferenciais (PN, sem direito a voto) do Itaú Unibanco recuaram 2,04%, e os do Bradesco tiveram queda de 2,72%. No caso do Banco do Brasil, o tombo foi de 6,16%.

Levy descarta impacto fiscal
Alexandre Abreu explicou que, diferentemente da Caixa, que oferece taxas de juros mais baixas às empresas que se comprometem a não demitir funcionários, no BB não haverá essa diferenciação, já que o banco não dispõe de meios para fiscalizar as empresas. Na prática, a Caixa também não dispõe de tais mecanismos. O BB já teria “mapeado” 354 grupos empresariais com operações no país que podem ser contemplados pelo programa.

— Não vamos antecipar com quais empresas estamos negociando, porque certamente outros bancos devem ter iniciativa parecida. Mas posso garantir que são os principais setores da economia — disse o executivo.

Para Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria, o crédito mais barato via BB e Caixa é uma “sinalização contraditória de Brasília". Isso porque, enquanto o Banco Central eleva os juros, desestimulando o consumo, e o próprio governo restringe o crédito para ajustar a economia e conter a inflação, os bancos públicos voltam a irrigar o mercado com dinheiro barato.

— Haverá despesa financeira, e alguém vai pagar esse subsídio, mesmo que uma parte dos recursos para os empréstimos seja captada no mercado (caso do BB). Como os bancos públicos são ligados ao governo, essa despesa deve ficar para o setor público, resultando em impacto fiscal — adverte.

Segundo Campos Neto, fica a impressão de que “o governo não foi curado de querer estimular a economia na base do empurrão”. Além disso, diz, não adianta melhorar as condições de crédito de alguns setores, já que o contexto geral é de ajuste. Ele destaca que os cidadãos estão readequando seu orçamento, cortando despesas, adquirindo menos bens duráveis, entre eles automóveis, e, portanto, há menos demanda por produtos.

Outro ponto frágil dessa estratégia, em sua visão, é a contrapartida de não demitir para se ter acesso a linhas mais baratas, como na Caixa. Pois, além de não dispor de meios para fiscalizar esse compromisso, o governo acaba criando mais burocracia, o que aumenta sua ineficiência.

Ao ser perguntado sobre os danos que o aumento dos créditos dos bancos públicos poderiam causar ao ajuste das contas públicas, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse que não haverá impacto fiscal:

— A maior parte são linhas de mercado. É uma operação mais comercial, um arranjo que não tem maiores riscos, pois pressupõe o compromisso do contrato das montadoras. É uma coisa absolutamente normal. Quando você é fornecedor de uma empresa grande, você pode usar recebíveis, a garantia que a empresa grande dá com aquele contrato, para melhorar sua qualidade de crédito. É isso, é um arranjo perfeitamente comercial.

Sobre o argumento de que, ao beneficiar apenas alguns setores, a medida iria contra o princípio da horizontalidade (tributação e medidas que são aplicadas a todos os setores, sem escolher determinado segmento para ser objeto da política), Levy afirmou:

— No caso não, porque você está levando em conta a força e a qualidade de crédito dessas companhias. Na verdade, isso é arranjo que os bancos fazem todos os dias, com os fornecedores.

Segundo o presidente do BB, o objetivo do pacote ao setor automotivo é ajudar montadoras e fabricantes de peças a pagar dívidas, atenuando as dificuldades do segmento. A indústria automotiva enfrenta forte queda nas vendas e vem recorrendo a suspensões de produção e a demissões para ajustar seus estoques.

Para Miriam Belchior, presidente da Caixa, as medidas respondem ao cenário atual do país.

— Estamos em um momento de travessia. Além de medidas de ajuste, temos de ter condição de atravessar esse período... Nós bancos fomos chamados — disse a presidente a Caixa, ao anunciar a linha de crédito para montadoras.

No caso das autopeças, por exemplo, os empréstimos do BB serão concedidos por meio de antecipação de recebíveis, tendo como garantia o próprio contrato de fornecimento de peças às montadoras, explicou o vice-presidente de controle de riscos do BB, Walter Malieni.

— Elegemos 26 empresas âncoras, que devem fornecer a programação de encomendas para cada parceiro. Assim, poderemos conceder o crédito e diluir o risco desse financiamento. Essas âncoras serão fiadoras das empresas menores — explicou Malieni, acrescentando que, com o risco menor, as taxas de juros serão “mais competitivas”.

Ele informou ainda que o limite máximo do BB para a exposição de sua carteira de empréstimos a conglomerados foi elevada em R$ 15 bilhões. Outra diferença em relação ao pacote da Caixa, destacou o presidente do BB, é que os recursos são oriundos de captações no mercado, e não de fundos como o FAT e o BNDES.

Outra medida anunciada ontem pelo BB foi a redução da burocracia na concessão de financiamentos à compra de máquinas agrícolas e caminhões. O processo de concessão do crédito deve cair para 14 dias. Antes, chegava a 57 dias.

Confederações pedem 'correção de rumos'

Por Maíra Magro e Andrea Jubé – Valor Econômico

BRASÍLIA - A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e as confederações nacionais da Indústria (CNI), do Transporte (CNT) e da Saúde (CNS) lançaram ontem uma carta à nação defendendo diálogo em busca de uma correção de rumos que tire o país de uma "crise ética, política e econômica".

"A história do Brasil julgará todos aqueles que neste momento se opuserem a contribuir com a não ocorrência do caos completo", disse o presidente da OAB, Marcus Vinicius Furtado Coelho. "Julgará todos aqueles que não possam contribuir para que o Brasil não tenha segurança jurídica e um ambiente de retomada do crescimento", acrescentou.

A carta diz que "a corrupção não pode seguir como um empecilho para o desenvolvimento do país". Mas evita falar a favor ou contra um impeachment da presidente Dilma Rousseff. "Não queremos ser 'longa manus' do governo nem auxiliar da oposição. É possível ter propostas para o país independentemente disso", disse Coelho.

Segundo o texto, é preciso que "as forças políticas, de diversos matizes, trabalhem para a correção de rumos da nação". As entidades defendem mudanças estruturais como medidas para corte de gastos governamentais e segurança jurídica.

"Independentemente de posições partidárias, a nação não pode parar nem ter sua população e seu setor produtivo penalizados por disputas ou por dificuldades de condução de um processo político que recoloque o país no caminho do crescimento", diz a carta.

O texto acrescenta que a tarefa para um diálogo e uma retomada do crescimento se inicia pelo Executivo, mas exige envolvimento do Congresso, Judiciário e de toda a sociedade. Também defende a necessidade de fortalecer os órgãos de investigação e o Judiciário para que, nos casos de corrupção, inocentes sejam absolvidos e culpados condenados.

A carta pede medidas para melhorar o ambiente de negócios do país e evitar o crescimento do desemprego ou o prolongamento da recessão. Também defende a desburocratização do país, para garantir um ambiente melhor de negócios.

Pede ainda investimentos em infraestrutura, em parceria com a iniciativa privada nacional e estrangeira, a redução do tamanho do Estado e a reforma tributária para eliminar "fontes de cumulatividade e garantir direitos dos contribuintes".

O texto também defende a redução de gastos públicos pelo enxugamento da máquina administrativa, a sustentabilidade de investimentos em saúde e educação. "Esperamos ter a sensibilidade dos políticos eleitos para a implementação de uma agenda que abra caminhos para a superação das crises e para a redução da confiança dos brasileiros", conclui.

As entidades também anunciaram a criação de um fórum permanente para apresentar propostas para "a construção de um Brasil democrático e próspero".

Ao comentar o lançamento da carta, o presidente da OAB destacou que as entidades se opõe a "qualquer tipo de intervenção militar" no Brasil. "Qualquer saída para o país tem que seguir os marcos da Constituição. Não temos saudade da voz única do autoritarismo, da ditadura", afirmou.

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, disse que a população passa por um "pessimismo generalizado" por não saber quando o Brasil sairá da crise e defendeu propostas que possam ir além das pautas corporativas de cada entidade.

Ontem, Dilma Rousseff não conseguiu levar ao Palácio do Planalto os 20 representantes do PIB nacional convidados para uma reunião formalmente convocada para discutir sobre a visita oficial da chanceler Angela Merkel e os acordos internacionais que serão firmados entre Brasil e Alemanha. Apenas 12 compareceram, segundo lista de presentes divulgada pela Secretaria de Imprensa da Presidência da República.

Participaram do encontro Benjamin Steinbruch, da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Carlos Fadigas, da Braskem, Carlos Mariani, da PIN Petroquímica, Gunnar Nebelung e Waldemir Loto, da Amaggi, Ingo Plöger, do Conselho Empresarial da América Latina (Ceal), Marco Stefanini, da Stefanini, Paulo Tigre, da DHB Indústria e Comércio LTDA, Pedro Faria, da BRF, Pedro Wongtschowski, da Ultrapar, Ralph Lima Terra, da Abdib e Rubens Ometto, da Cosan. Não foram a Brasília Jorge Gerdau, Murilo Ferreira, da Vale, Ricardo Marino, do Itaú, e Frederico Curado, da Embraer, que haviam sido convidados.

Acompanharam a reunião os ministros Aloizio Mercadante, da Casa Civil, Armando Monteiro Neto, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Joaquim Levy, da Fazenda, Kátia Abreu, da Agricultura, e Nelson Barbosa, do Planejamento, e Mauro Vieira, das Relações Exteriores.

Governo avalia risco de impeachment com provável denúncia de Cunha

Por Raymundo Costa – Valor Econômico

BRASÍLIA - A eventual denúncia do deputado Eduardo Cunha ao Supremo Tribunal Federal (STF) deve apressar a votação dos pedidos de impeachment do mandato da presidente da República, Dilma Rousseff, protocolados na Câmara dos Deputados. Segundo fontes do governo e do PMDB, a intenção inicial de Cunha era dar seguimento aos pedidos tão logo fosse apresentada a denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, por seu suposto envolvimento na Operação Lava-Jato. O deputado carioca, no entanto, foi aconselhado a primeiro dissecar as acusações e provas da denúncia, antes de tomar alguma atitude.

Na Câmara já está em curso um movimento de pequenos partidos para pedir o afastamento de Cunha da presidência da Casa. Eventualmente algum deputado do PMDB pode pedir a renúncia e a cassação do mandato de Cunha, mas nem a saída do deputado nem a aprovação da abertura do processo de impeachment são fáceis. O PMDB, por exemplo, deve dar a Cunha o mesmo tratamento que deu até hoje a filiados seus levados às comissões e conselhos de ética: a decisão é da Casa a que pertence o acusado - Câmara ou o Senado.

Cálculos feitos no governo e na oposição indicam que, neste momento, apesar de fragilizada a presidente Dilma tem votos em número suficientes para barrar o pedido de abertura do processo de impeachment pela Câmara dos Deputados. Na realidade, a Câmara apenas autoriza o senado a abrir o processo de impeachment. O impedimento seria votado pelos senadores sob o comando do presidente do STF, Ricardo Lewandowski.

O governo avalia que pode contar com até 200 votos seguros em favor de Dilma. Nos cálculos de aliados de Cunha, a presidente teria no máximo 150 votos. Para evitar a abertura do processo de impedimento, Dilma precisa apenas dos votos de 171 deputados - a abertura do processo precisa de 342 votos. Apesar da conta favorável, há desânimo entre os aliados de Dilma, especialmente no PT, onde se avalia que ela salvará o mandato, mas terá de fazer concessões à agenda neoliberal, como é classificada a Agenda Brasil.

Na avaliação de líderes partidários, a crise do governo se agravou, desde a semana passada, quando uma bem sucedida articulação político-empresarial parecia dar fôlego à presidente. Faltava testar os entendimentos no prática. A sucessão de erros começou com a falta de um convite ao vice Michel Temer, que ajudou em muito a costurar o acordo, para uma reunião no Palácio da Alvorada para avaliar as manifestações do domingo.

O governo também tinha dificuldades para votar e aprovar o projeto que reonera a folha de pagamentos da empresa. Os encarregados da negociação entre o governo e o Congresso culparam a equipe econômica pelo malogro das conversas. O vice Michel Temer chegou a ligar para o ministro Joaquim Levy (Fazenda), segundo apurou o Valor, para tentar um acordo que viabilizasse a aprovação do projeto e ao mesmo tempo atendesse interesses do setor de transporte. "Se é assim é melhor o governo perder tudo", respondeu Joaquim Levy, para irritação dos congressistas.

Pesa contra Dilma também a falta de atendimento das promessas acertadas pelo ministro Eliseu Padilha (Aviação Civil), braço direito do vice Temer nas negociações políticas. Dilma, por exemplo, teria prometido aos mais de 200 novos deputados a liberação de verbas do orçamento impositivo. O dinheiro ñão saiu, segundo a versão corrente na Câmara, porque se tratava de uma promessa feita por intermédio de Eduardo Cunha.

A falta de unidade do PSDB, por outro lado, beneficia a presidente Dilma. Temer somente assumiria um governo para "unir o país", para usar uma expressão do próprio vice. Amigos do vice avaliam também ser praticamente impossível, em três anos, reverter o atual quadro de crise econômica. Se assumir, Temer dará apenas argumento para a volta do PT em 2018.

Por enquanto há só um consenso: a tramitação simultânea de um pedido de impeachment e outro de cassação de Cunha vão paralisar a Câmara e agravar a crise.

Roberto Freire – Diversionismo

Ilimar Franco / O Globo

O PPS não vai acompanhar o PSOL na campanha pelo “Fora, Cunha”. Seu presidente, o deputado Roberto Freire, justifica: O PSOL quer trazer a crise para dentro do Congresso. A crise está nas mãos da Dilma e do Lula. Deixa a crise lá.

Merval Pereira - O ocaso de Cunha

O Globo

A acusação concreta fragilizará Cunha, que enfrentará, necessariamente, um movimento por sua renúncia. A partir da denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, o que deve acontecer ainda hoje, o deputado Eduardo Cunha passará de todo-poderoso líder político a investigado na Operação Lava-Jato, o que lhe retira boa parte do poder que esbanjava.

A concretização da acusação fragilizará a posição de Cunha, que enfrentará necessariamente um movimento dentro da Câmara pela sua renúncia ao cargo. Provavelmente ele ainda tem uma maioria que o apoia, mas ficará exposto à execração de um grupo político suprapartidário que tirará de seus atos a legitimidade.

Se, como consequência de sua denúncia, Cunha acelerar o processo de impeachment contra a presidente Dilma, por exemplo, ficará do ato a suspeita de que se trata de uma retaliação pessoal.

Eduardo Cunha tentou nos últimos dias vários movimentos para reverter sua situação e pelo menos retardar o processo contra si, todos infrutíferos. O ministro Teori Zavascki, que é o relator da Operação Lava-Jato no Supremo, não aceitou os argumentos da defesa de Cunha para retirar da Justiça Federal do Paraná a investigação sobre os contratos de navios-sonda pela Petrobras com a Samsung, pelos quais, segundo delação do empresário Júlio Camargo, Cunha teria recebido propina de US$ 5 milhões.

Nesse mesmo processo, Cunha é acusado de ter usado sua influência política para chantagear a Samsung quando a empresa coreana desistiu do negócio. A Procuradoria-Geral da República, investigando o caso, descobriu que saíram do computador da presidência da Câmara textos de projetos que prejudicariam a Samsung, apresentados por uma deputada ligada a ele.

O procurador-geral, Rodrigo Janot, por duas vezes pronunciou- se sobre acusações de Cunha contra a ação de investigação, uma ao Supremo Tribunal Federal e outra à própria Câmara, respondendo a questionamento do deputado do PSOL Chico Alencar. Nos dois casos, Janot acusou Cunha de usar a Câmara em seu benefício próprio, acionando a Advocacia- Geral da União (AGU) ou acusando os procuradores de terem invadido a privacidade dos 513 deputados federais para investigar Cunha.

Alguns parlamentares já preparam o pedido de investigação de Cunha pelo Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Casa, o que pode, em tese, resultar na perda de seu mandato. O hoje presidente do Senado, Renan Calheiros, já teve que renunciar ao cargo quando uma denúncia contra ele foi levada ao Conselho de Ética. Cunha garante que não renunciará, mas o futuro a Deus pertence.

Mesmo que o movimento seja incipiente no momento, Cunha hoje está isolado politicamente e é provável que passe a ser um fardo muito pesado para ser carregado por seus aliados, que lhe devem favores, mas não lealdade. Sua teoria da conspiração de que o governo, mancomunado com o procuradorgeral da República, montou toda a denúncia contra ele e protegeu políticos que estão aliados ao governo num “acordão” para salvar a presidente Dilma — referência indireta ao antigo aliado Renan Calheiros — não tem base real nem fôlego para motivar a oposição a apoiá-lo, nem vai emocionar seus aliados.

Tanto ele quanto Renan Calheiros montaram inicialmente uma estratégia de proteção, depois de surgirem na lista de Janot de investigados. Os dois tiveram um ativismo político para protagonizarem as ações no Congresso e se passarem por vítimas, caso fossem denunciados. No momento da denúncia, Cunha não tem histórico político para se apresentar como vítima de um governo corrupto, e Renan mudou a aposta, mas não é certo que escapará do Ministério Público.

José Roberto de Toledo - Um Congresso incrível

- O Estado de S. Paulo

Quando o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, for denunciado à Justiça por corrupção e permanecer no cargo – argumentando que muitos colegas seus também o foram e nem por isso renunciaram ao mandato –, a atual legislatura se tornará oficialmente a mais inacreditável pós-redemocratização. Mesmo competindo com anões do orçamento e o maníaco da serra elétrica, a atual safra parlamentar supera as anteriores em despudor.

A lista do Janot, como ficou conhecido o rol de políticos sob investigação do procurador-geral da República no âmbito da Operação Lava Jato, tem duas arrobas de deputados federais e uma dúzia de senadores. A eles somam-se mais de uma centena que é alvo de inquéritos variados, além de três dezenas que já se graduaram como réus. Todos seguem firmes e fortes nos seus gabinetes, sem qualquer vestígio de vergonha ou embaraço.

Todo mundo é inocente até prova em contrário. Porém, pululam entre os investigados e denunciados aqueles que vão à tribuna fazer discursos indignados clamando pelo impeachment ou pregando a renúncia de políticos rivais – mesmo quando estes ainda não atingiram formalmente o status de investigados e denunciados. Faça o que eu digo, não faça o que eu faço é o seu mote na vida.

Até aí é palavrório. Faz parte. A conta a ser paga pelo seu, o meu, o nosso só aparece quando essa turma resolve votar. Apenas concedendo aumento de tetos salariais e vinculando a remuneração entre várias carreiras do setor público, somam um par de bilhões por ano às despesas dos governos. Basta-lhes apertar um botão. Se alguém ameaça vetar, unem-se para derrubar o veto – numa mistura de vingança e populismo. Fazem porque podem, e basta.

Quando Cunha for denunciado por Janot ao STF, será curioso acompanhar quantos e quais deputados pedirão que ele renuncie. Formalmente, é legal ele continuar presidindo a Câmara, mas será legítimo? Ou o conceito em moda esta semana não se aplica àqueles que são amigos enquanto forem inimigos dos inimigos?

O Congresso chegou ao ponto em que chegou porque – com raras exceções – só políticos profissionais e seus familiares têm coragem de se candidatar a uma cadeira em qualquer uma das Casas. Se falar mal de deputado e senador virou esporte nacional, por que um líder empresarial ou comunitário vai se arriscar a concorrer? Ainda mais sabendo que o custo de uma campanha eleitoral é impossível para quem não tem patrocinador.

Como regra, o dinheiro é o fator mais determinante para o sucesso em eleições proporcionais. Assim, muito antes de chegar ao Congresso, o candidato a candidato já estará comprometido com os acordos feitos entre partido e empresas financiadoras. Como muitas vezes a doação é intermediada pela direção partidária, o candidato arrisca-se a ser vinculado a uma empreiteira padrão Lava Jato sem nunca ter visto ou conversado com um diretor dessa empresa.

Isso dá enorme poder ao burocrata partidário. Vira ótimo negócio dirigir um partido. Não por outro motivo, há 32 deles, e mais tentam se viabilizar. Pelas mesmas razões, nenhuma mudança no sistema eleitoral mexeu com as doações empresariais de campanha. Ao contrário. O Congresso que aí está certificou-se de que tudo será como antes quando o STF ensaiou quebrar o esquema.

Tudo isso gera um paradoxo do qual o Brasil não consegue sair. Quanto mais critica-se os políticos, mais eles monopolizam a política. E aqueles que se enojam dela são condenados, a cada eleição, a serem governados pelos que têm estômago de aço.
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Este texto foi escrito antes de Janot apresentar denúncia contra Cunha ao STF. Por isso, há uma possibilidade de o procurador ter denunciado o presidente da Câmara e este ter renunciado ao cargo. Esse cenário mudaria algumas vírgulas de lugar, mas não a conclusão nem o problema. E tudo seria ainda mais inacreditável.