Embora ainda seja muito cedo para uma definição de posições eleitorais, mais de um ano antes da eleição presidencial de outubro de 2010, as pesquisas que vêm sendo divulgadas permitem uma análise das tendências que parecem confirmar a previsão do presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, de que a eleição deve ser decidida já no primeiro turno, entre o candidato do governo, hoje a ministra Dilma Rousseff, e o provável candidato da oposição, o governador de São Paulo, José Serra, pelo PSDB. Uma corrida curta, não uma maratona.
Alcançando a casa dos 20% do eleitorado, Dilma mostrase uma candidata competitiva ou, pelo contrário, difícil de ser carregada pelo presidente Lula e pelo PT? A tese de Montenegro é que a capacidade de transferência de votos de Lula para qualquer candidato petista é limitada.
Para conferir sua suspeita, ele incluiu na recente pesquisa que fez para a CNI um quesito que não foi divulgado: a avaliação do ministro da Justiça, Tarso Genro, como “candidato do presidente Lula”. Tarso saiu de um nível de 2% a 3% para 12% da preferência quando avaliado na condição de candidato oficial.
Para Montenegro, fenômeno semelhante acontece com Dilma, que há dois anos está sendo apresentada pelo presidente Lula como a “mãe do PAC” e sua candidata oficial.
Chegando a um índice que vai de 18% a 20% das intenções de voto, Dilma teria atingido o teto da transferência de votos de Lula, que seria, na avaliação de Montenegro, de cerca de 15%.
Na análise de Fabiano Santos, cientista político do Iuperj, o PT tem uma oscilação no apoio do eleitorado, mas continua sendo o partido mais citado como o preferido pelos eleitores. Dependendo do instituto e da metodologia, tem por volta de 20%.
Já não é mais possível misturar o índice petista com o índice de Lula, que historicamente tinha 30% dos votos, por conta do eleitorado de esquerda, e não apenas do PT.
O que demonstraria que, no momento, a candidata petista não conseguiu nem mesmo chegar ao nível de votação que a esquerda tradicionalmente tem.
Fabiano Santos lembra que, no momento em que Lula tinha um veto no eleitorado por conta de seu perfil extremamente popular, se dizia que ele tinha esse teto de 30%. Agora, esse perfil popular acabou sendo a marca dele para justamente superar esse limite da votação de esquerda.
Montenegro acha que as pesquisas vêm indicando que a “era PT” teve fim com o episódio do mensalão, e que a partir daí começou a era Lula, que se descolou do PT para ganhar sua própria dinâmica.
Fabiano Santos concorda que existe uma clara diferença entre Lula e o PT hoje, o que dá para ver por vários indicadores, entre eles a votação que Lula tem tido e a do PT nas eleições locais, como também a taxa de apoio ao PT e a de aprovação da pessoa de Lula, que são muito discrepantes.
Nessa rodada da pesquisa do Ibope, 76% disseram confiar em Lula, e a sua aprovação subiu para 80%. Nada que se compare ao índice do PT como partido político.
O presidente do Ibope considera que, a partir de agora, a candidata do PT terá que ganhar força eleitoral a partir de sua própria história política, o que, na sua avaliação, a fará perder na comparação com o provável candidato tucano, José Serra.
Nas pesquisas, a experiência anterior é bastante valorizada pelo eleitor, e a história de Serra como secretário estadual, deputado federal, senador, ministro, prefeito e governador de São Paulo, além de candidato à Presidência em 2002, forma um conjunto muito sólido na opinião de Montenegro, ao contrário de Dilma, cuja primeira experiência política é como administradora, seja como secretária estadual ou ministra, sem ter disputado uma eleição.
O fato de a ministra não ter podido ir ontem ao lançamento do PAC da Drenagem porque, segundo o presidente Lula, ficou em casa “para descansar” chamou a atenção dos políticos da base do governo, que temem que os problemas de saúde a impeçam de prosseguir na campanha.
O cientista político Fabiano Santos acha que um dos segredos da candidatura petista será conseguir atrair a base aliada e lutar pela marca do governo, para que o fluxo de informações sobre as atividades do governo chegue aos diversos cantos do país. “Se descolar do PT e ao mesmo tempo manter o PT”, esta seria a tarefa de Dilma Rousseff para ampliar sua votação.
Ele fez “um exercício de observação” sobre a eleição de 1994, nessa mesma época do ano anterior, pois considera que era uma situação mais ou menos análoga à de hoje: um candidato que tem um recall grande — Serra hoje, Lula naquela ocasião —, e ao mesmo tempo um governo que era bem avaliado, tinha o Plano Real.
Tanto Fernando Henrique, na ocasião, como Dilma, hoje, eram ministros que não tinham grande história política.
Fernando Henrique estava até mesmo pensando em se candidatar a deputado federal, porque não tinha chance de se reeleger senador.
Em 1993, Lula tinha 30% de apoio e Fernando Henrique, 10%. “É muito cedo, portanto, para dizer que o candidato governamental está indo bem ou mal com 17%, um pouco mais, um pouco menos”, comenta Santos, mesmo admitindo que o candidato da oposição naquela ocasião, Lula, não tinha tanto apoio quanto tem hoje Serra, que se mantém estável nessa faixa de 40%, “muito sólido”.
Uma diferença importante é que, naquela ocasião, o ministro da Fazenda, Fernando Henrique, era mais identificado como autor do Plano Real do que o próprio presidente Itamar Franco, enquanto hoje a tentativa é convencer o eleitorado de que Dilma “é Lula outra vez”.
Montenegro acha que não é possível essa transferência, “Lula tem nome e sobrenome na política”. Fabiano Santos acha que há uma discussão sobre o índice de Serra: esse é o tamanho da oposição ao PT hoje? Quem vai dar o tom da campanha?