sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

OPINIÃO DO DIA – Aécio Neves

O Roberto Freire disse que é importante consolidar a candidatura de Campos, para estarmos todos juntos no segundo turno.

Aécio Neves, Correio Braziliense, 13 de dezembro de 2013

Mensalão - Defesa diz que dieta de Jefferson tem de ter salmão

Numa tentativa de convencer o presidente do STF, Joaquim Barbosa, a deixar Roberto Jefferson em prisão domiciliar, a defesa apresentou a dieta que precisa ser seguida pelo ex-deputado, condenado no mensalão. Dela constam itens como salmão defumado, omelete de claras e geleia real. Outro condenado no mensalão, o advogado Rogério Tolentino teve prisão decretada e deve se apresentar hoje à PF.

Dieta exige que Jefferson fique em casa, diz defesa

Advogados apresentam ao Supremo regime nutricional especial do delator do mensalão, que tratou de um câncer; Corte ordena prisão de Rogério Tolentino

Salmão defumado, omelete de claras, geleia real... os advogados do ex-deputado federal Roberto Jefferson apresentaram ao Supremo Tribunal Federal a dieta prescrita para o ex-congressista para tentar convencer o presidente da Corte, Joaquim Barbosa, a deixá-lo em prisão domiciliar.

Os advogados do ex-parlamentar afirmam que ele sofre de doença metabólica em razão de recente tratamento para câncer no pâncreas e necessita de cuidados nutricionais e higiênicos indisponíveis em todo o sistema prisional brasileiro.

Na petição entregue ao Supremo, a defesa reconhece que atualmente não existem sinais de câncer no organismo de Jefferson, mas afirma que ele precisa ter uma dieta regrada. Por esse motivo, pede que seja autorizada aprisão domiciliar no município de Comendador Levy Gasparian, no Estado do Rio de Janeiro. "Parece claro, pois, que o sistema prisional não terá condições de prover todo o acompanhamento nutricional necessário para a manutenção da vida do requerente", afirmou a defesa.

Prisão. O STF expediu ontem um mandado determinando a prisão do advogado Rogério Tolentino, também condenado no mensalão. Tolentino era advogado do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza e foi condenado a 6 anos e 2 meses de prisão por lavagem de dinheiro e corrupção ativa.

O advogado Paulo Sérgio Abreu e Silva, que representa Tolentino, afirmou ontem que entrou em contato com a Polícia Federal informando que seu cliente vai se apresentar hoje espontaneamente. Tolentino apresentou embargo infringente ao Supremo contra a sentença. Sua intenção é cumprir a prisão em regime semiaberto na Penitenciária José Maria Alkmin, em Ribeirão das Neves.

Abreu e Silva disse ainda que pedirá para que seu cliente continue trabalhando no escritório de advocacia que mantém na Savassi, numa área nobre da capital mineira. Quando teve início o julgamento do mensalão, Tolentino trabalhava com Marcos Valério no escritório. O mandado de prisão foi expedido pelo presidente do STF, Joaquim Barbosa, após o ministro decretar o trânsito em julgado da condenação dele e do deputado Pedro Henry (PP-MT) - que não teve o pedido de prisão expedido ontem.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Mensalão - Ex-advogado de Valério se apresenta à polícia em BH

Rogério Tolentino não cumprirá pena no DF

Paulo Peixoto

BELO HORIZONTE - O advogado Rogério Tolentino, ex-sócio e ex-advogado de Marcos Valério, também condenado no processo do mensalão, se apresentou ontem à noite à Polícia Federal em Belo Horizonte.

O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Joaquim Barbosa, expediu ontem à tarde o mandado de prisão contra Tolentino. Também ontem, Barbosa deferiu o pedido que Abreu e Silva havia feito para que o advogado pudesse se apresentar em Belo Horizonte e ficar preso na capital mineira, sem necessidade de ir para Brasília, como os demais réus.

Rogério Tolentino foi condenado a seis anos e dois meses de prisão por lavagem de dinheiro e corrupção. Ele vai cumprir a pena no regime semiaberto, como o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.

Renúncia
O mandado de prisão contra o deputado federal Pedro Henry (PP-MT) deve sair ainda hoje. Condenado a sete anos e dois meses de prisão, Henry tem dito a aliados que irá renunciar ao mandato na Câmara dos Deputados.

A assessoria de Henry, no entanto, afirmou que ele ainda estava em dúvidas sobre o seu futuro político. O deputado aguarda a decisão do Supremo em seu apartamento funcional, em Brasília.

Fonte: Folha de S. Paulo

Depois da condenação: PT faz desagravo a mensaleiros presos

No 5° Congresso do PT, com a presença da presidente Dilma e do ex-presidente Lula, líderes e militantes trataram como heróis os mensaleiros.

Desagravo a mensaleiros

Lula diz que partido enfrenta campanha de difamação; Falcão fala que História absolverá os presos

Fernanda Krakovics, Luíza Damé

BRASÍLIA - Enquanto o Palácio do Planalto tenta virar a página do escândalo do mensalão, o PT fez questão de lembrar e festejar, na abertura do 5° Congresso do partido, na noite de ontem, em Brasília, os expoentes petistas presos após condenação no julgamento feito pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Do discurso do presidente do PT, Rui Falcão, a gritos de guerra, adesivos e camisetas vendidas por militantes, o clima era de desagravo a José Genoino, José Dirceu e Delúbio Soares no ato que contou com a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula.

Logo que Lula e Dilma chegaram ao auditório, a plateia gritou em coro: “Dirceu, guerreiro do povo brasileiro”, “Genoino, guerreiro do povo brasileiro e “Delúbio, guerreiro do povo brasileiro”. Também abriram uma faixa ‘Anulação da Ação Penal 470’ numa referência ao processo do mensalão no Supremo, e gritaram “julgamento de exceção, queremos anulação”.

Queixas a diferenças de tratamento
Apesar dos apelos da militância petista, o ex-presidente Lula abriu seu discurso avisando que não falaria sobre o mensalão: — Tenho dito publicamente que não falarei da ação penal 470 enquanto não terminar a última votação. É uma decisão minha, acho prudente e temos coisas para discutir pela frente.

Quando ele iniciou o discurso, a plateia gritou, em coro: — Lula, guerreiro, defende os companheiros! o ex-presidente não resistiu e se referiu indiretamente ao mensalão: — Eles tinham medo do Lula, agora têm que enfrentar a Dilma e o Lula, agora têm que enfrentar um partido que, na maior campanha de difamação, faz um PED (Processo de Eleição Direta) e coloca mais de 400 mil militantes para votar. Lula afirmou que o PT recebe tratamento diferente da imprensa. — Nosso partido tem sido vítima das suas virtudes e não só de seus defeitos.

Somos criticados pelas coisas boas que fazemos, não só pelos erros. Se for comparar o emprego do Zé Dirceu no hotel com a quantidade de cocaína no helicóptero... Pelo menos houve uma desproporcionalidade na divulgação do assunto — disse Lula, referindo-se à apreensão pela Polícia Federal de aeronave da empresa do filho do senador Zezé Perrela (PDT-MG), com 400 quilos de cocaína.

A presidente Dilma faria seu discurso depois de Lula, que começou a falar após 21h, e manteria sua tradição de também não falar sobre o julgamento do mensalão. Além dos discursos e homenagens, o evento empossou Rui Falcão para um novo mandato como presidente do partido. Ele foi reeleito em novembro.

“Processo nitidamente político”
No discurso de posse, o presidente do PT disse que os mensaleiros foram condenados sem provas e cobrou providências da Justiça contra os adversários do PT, ao falar que há dois pesos e duas medidas, em referência ao mensalão mineiro, do PSDB. E também usou o termo “trensalão” para se referir à suposta formação de cartel e pagamento de propina em licitações do metrô nos governos tucanos de São Paulo.

Classificando o processo do mensalão como um “tsunami de manipulação”, Rui Falcão discursou, para delírio da plateia, que o aplaudia repetidamente: — É o típico caso da manipulação realimentando a mentira e da mentira realimentando a manipulação. A história vai provar que nossos companheiros foram condenados sem provas, em um processo nitidamente político, influenciado pela mídia conservadora.

Falcão Também reforçou o que considera diferença de tratamento entre os casos que envolvem o PT e outros partidos, como o PSDB: Surpreendentemente, o suposto sentimento de punição e justiça continua sem alcançar determinados setores e partidos, o que caracteriza uma inegável situação de dois pesos e duas medidas.

Por que o silêncio de mais de uma década, no martelo dos juízes, no famoso mensalão do PSDB mineiro? Por que o tratamento diferenciado de certos setores da grande imprensa em relação ao “trensalão” do governo tucano de São Paulo? o presidente do PT exaltou ainda que os governos de Lula e de Dilma foram os que mais combateram a corrupção no país, e que os adversários não serão tratados como foi o PT: — Não faremos uma campanha no estilo mar de lama como nossos adversários estão acostumados, e na qual, aliás, foram treinados por seus ancestrais.

Mas se enganam os que pensam que vamos levar injustiça e desaforo para casa. Além das manifestações de solidariedade de ontem, a direção do PT preparou para a manhã de hoje, quando Dilma e Lula não estarão presentes, um ato de apoio a Genoino, Dirceu e Delúbio, sob o título “Solidariedade aos companheiros injustiçados”, com participação de parentes dos condenados.

Fonte: O Globo

Camisetas defendem Genoino, Dirceu e Delúbio

Fernanda Krakovics

Camisetas em solidariedade a José Genoino, José Dirceu e Delúbio Soares, condenados no julgamento do mensalão e presos, estão sendo vendidas a R$ 20 no Congresso do PT, aberto ontem. O objetivo, segundo militantes petistas, é arrecadar recursos para financiar o grupo acampado em frente ao STF e que antes estava na porta do Complexo Penitenciário da Papuda. “Resistência e Luta — Em defesa dos presos políticos” é o nome do grupo que assina as camisetas.

Uma delas tem a foto, com a montagem de imagens dos três, de punhos erguidos, e a frase “Não aceitamos a humilhação, preferimos o risco e a dignidade da luta”. A camiseta dedicada só a Dirceu diz “Estamos com você”. No encontro do PT, alguns militantes usam ainda um adesivo escrito “Liberdade para os presos políticos, anulação da AP 470”, ação que julga o mensalão. Militantes de um grupo autointitulado Trincheira de Resistência distribuíram um panfleto em defesa dos petistas presos, que também ataca o STF e a imprensa.

“Somos solidários pela libertação dos companheiros José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares, injustamente condenados. Somos contra a articulação da mídia burguesa nacional. Somos contra a farsa da Ação Penal 470. Somos contra a injustiça no Brasil”, diz o texto..

Fonte: O Globo

Com Dilma e Lula, evento do PT vira desagravo aos condenados

Ex-presidente criticou cobertura da imprensa sobre os erros do partido; ela não falou nada

'Dirceu, guerreiro, do povo brasileiro', era o grito da plateia para recebê-los na posse da nova direção da sigla

Bernardo Mello Franco, Tai Nalon e Mariana Haubert

BRASÍLIA - "Se comparar o emprego do Zé Dirceu com a quantidade de cocaína no helicóptero, a gente percebe que pelo menos houve uma desproporciona-lidade no assuntoLULAem discurso na posse da nova direção do PT

Com a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula no palco, o PT transformou ontem a posse de sua nova direção nacional em ato de desagravo a condenados no processo do mensalão.

Lula e Dilma tiveram reações distintas. O ex criticou o peso dado pela imprensa na cobertura dos erros do PT em comparação com os de outros partidos. Dilma, que discursou por 46 minutos, não fez menção ao escândalo.

Nos últimos dias, o Planalto atuou nos bastidores para tentar afastá-la de um ato de desagravo aos condenados, programado para hoje.

Lula e Dilma, porém, foram recebidos por um coro em homenagem ao ex-ministro José Dirceu, preso desde o dia 15. Na plateia, uma faixa pedia a anulação do processo.

"Dirceu, guerreiro, do povo brasileiro", gritava a plateia, num centro de convenções em Brasília. O coro foi repetido para o ex-deputado José Genoino e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.

O presidente reeleito do partido, Rui Falcão, deu o tom da noite ao atacar o STF (Supremo Tribunal Federal) e dizer que o julgamento foi um "tsunami de manipulação".Em tom de desafio ao STF, disse que "a história vai provar" que os petistas não cometeram os crimes pelos quais foram condenados.

"Repito, sem titubear: nenhum companheiro condenado comprou votos no Congresso Nacional, não usou dinheiro público, nem enriqueceu pessoalmente", afirmou.

Lula ouviu apelos para defender os aliados, mas disse que só falaria do caso quando todos os recursos estivessem esgotados.

Depois, mudou de ideia e saiu em defesa de Dirceu, que pediu autorização à Justiça para trabalhar em um hotel controlado por um laranja no Panamá.

"Se for comparar os erros do PT com os erros dos outros partidos políticos... Se comparar o emprego do Zé Dirceu com a quantidade de cocaína no helicóptero, a gente percebe que pelo menos houve uma desproporcionalidade no assunto", disse Lula.

Antes da fala, os petistas gritaram palavras de ordem contra o PSDB, acusando os tucanos de serem financiados pelo tráfico de drogas: "Sou brasileiro e não me engano, a cocaína financia os tucanos", entoou a plateia.

A referência foi à apreensão de meia tonelada de cocaína num helicóptero de empresa do deputado estadual Gustavo Perrela (SDD-MG), filho do senador Zezé Perrela (PDT-MG), aliado do pré-candidato do PSDB ao Planalto, Aécio Neves (MG).

A Polícia Federal isentou a família Perrela de responsabilidade pela droga.

Fonte: Folha de S. Paulo

Dilma e Lula são vaiados em evento de direitos humanos

Para uma plateia dividida entre vaias e aplausos, a presidente Dilma Rousseff lembrou ontem, durante a entrega do Prêmio Direitos Humanos 2013, que foi torturada e que só quem já passou por esse tipo de violência sabe o desrespeito à Humanidade que significa. Em discurso, ela reconheceu que ainda há tortura sendo praticada no Brasil. Dilma comemorou a regulamentação da lei que cria o Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura. Entre os participantes do 1° Fórum Mundial de Direitos Humanos havia índios protestando contra mudanças da demarcação de terras indígenas e opositores do governo.

Em palestra após a entrega dos prêmios, o ex-presidente Lula foi vaiado, principalmente pelos representantes de entidades de defesa dos índios e por indígenas. Enquanto discursava, defendendo as ações dos governos petistas, alguns manifestantes chamavam Lula de “ladrão e traior”. e tem uma coisa que não me assusta, é protesto. Eu nasci assim. Mas nós, governantes, precisamos ter consciência de que a democracia exige muito de nós — disse o ex-presidente.

Paulo Apurinã, um dos líderes indígenas presentes, acusou: — o governo do PT mata mais índio que as ditaduras militares. A Polícia Federal virou uma polícia política. Dilma não se referiu às manifestações, e admitiu que ainda há tortura no país: — É necessário reconhecer que a tortura continua existindo no país. Eu, que experimentei a tortura, sei o que ela representa de desrespeito à mais elementar condição de humanidade de uma pessoa. Estamos determinados a mudar esse quadro. Pessoas empunhavam cartazes, e um dizia “Dilma assassina". Alheia às críticas, ela fez um balanço das ações de seu governo na área de direitos humanos.

Fonte: O Globo

Exaltação aos mensaleiros

Esforço da cúpula do PT para evitar constrangimento a Dilma fracassou: o congresso do partido, em Brasília, se transformou em cobrança à presidente e a Lula para que defendam os petistas Dirceu, Genoino e Delúbio, condenados pelo STF no processo do mensalão e presos

Desagravo aos companheiros

Militância transforma congresso do PT em ato de defesa de condenados na AP 470, mas Dilma e Lula silenciam

Paulo de Tarso Lyra, Amanda Almeida

Apesar dos esforços da cúpula do PT para evitar constrangimentos à presidente Dilma Rousseff com menções diretas ao julgamento do mensalão, reservando para a manhã de hoje um ato de desagravo aos petistas presos, ela e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram confrontados, durante a abertura do 5º Congresso do partido, com cobranças para defender os correligionários condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Uma faixa aberta pela militância pedia a anulação da Ação Penal 470. José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares foram chamados de “guerreiros do povo brasileiro”. Nesse momento, embaraçados, Lula e Dilma trocaram palavras e beberam água.

O auge da pressão aconteceu quando Lula iniciaria seu discurso. “Lula, guerreiro, defende os companheiros”, bradava a militância. O ex-presidente manteve a estratégia e saiu pela tangente. “Eu tenho dito que não vou me pronunciar sobre a Ação Penal 470 enquanto o último recurso não for julgado. Vou manter essa minha posição até porque acho que temos outras coisas mais importantes para discutir”, enfatizou, silenciando a audiência.

Mesmo assim, Lula citou Dirceu, em uma das várias reclamações feitas sobre o tratamento que o PT recebe da imprensa. “Quando eu vejo a diferença na cobertura dada entre o emprego do Dirceu no hotel e a cocaína no helicóptero, lembro que eles nunca vão nos aceitar só porque somos do PT”.

Empossado ontem como presidente reeleito do PT, Rui Falcão optou por repetir as palavras escritas por ele próprio na nota oficial divulgada no dia da prisão dos petistas. “Não houve compra de votos, não houve desvio de recursos públicos e nenhum de nossos companheiros enriqueceu pessoalmente”.

Críticas
Falcão politizou o debate ao cobrar o mesmo tratamento dado às denúncias envolvendo o PSDB. “Não entendemos porque o silêncio de uma década sobre o mensalão mineiro. Nem porque não se comenta o trensalão tucano (denúncia de cartel nas licitações de trens e metrôs de São Paulo). Nem tampouco porque desviaram o foco da máfia do ISS denunciada pela prefeitura de São Paulo”, enumerou Falcão.

Dilma não citou o assunto diretamente. Lembrou a participação nos funerais de Nelson Mandela e elogiou a militância, dizendo que “nesses momentos difíceis” não pode se esquecer o que o PT representa. Falcão afirmou que é o momento de o PT passar por “renovação, autocrítica e evolução”. Tanto ele quanto Lula defenderam uma política ampla de alianças para ajudar na reeleição da presidente Dilma em 2014 e para garantir uma grande bancada de apoio no Congresso. “Seria bom se pudéssemos ser tudo do PT. Presidente, governador, senador, deputado. Imaginou Dilma? Se a bancada do PT, ao invés de 89 deputados, tivesse 300, você teria muito mais problema que tem hoje”, brincou.

A política de alianças foi definida em uma resolução do Diretório Nacional de quarta-feira: as negociações locais precisarão ser referendadas pela cúpula nacional. Isso vale para locais estratégicos para o PT, como Pernambuco, Maranhão, Pará e Rio de Janeiro (veja quadro ao lado).

No Maranhão, os petistas não querem apoiar Luiz Fernando Silva, candidato da governadora Roseana Sarney; em Pernambuco, a cúpula quer o apoio ao senador Armando Monteiro (PTB) e a militância quer candidatura própria. No Rio, a disputa está entre Lindbergh Faria (PT) e Luiz Fernando Pezão (PMDB).

Vaias e aplausos
A presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram vaiados ontem, durante a entrega do Prêmio Direitos Humanos 2013, em Brasília, por grupos de manifestantes, principalmente integrantes de entidades em defesa dos índios. Os gritos de reprovação foram abafados por aplausos de outros participantes do ato. “Se tem uma coisa que não me assusta é protesto. Eu nasci assim. Mas nós, governantes, precisamos ter consciência de que a democracia exige muito de nós”, afirmou Lula.

TSE mantém Rosalba no cargo
A ministra Laurita Vaz, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), concedeu uma liminar ontem à noite a Rosalba Ciarlini (DEM) permitindo que ela permaneça no cargo de governadora do Rio Grande do Norte. Na terça-feira, o Tribunal Regional Eleitoral do estado havia condenado Rosalba por abuso de poder econômico e político, e determinado seu afastamento. Ela, no entanto, não chegou a deixar o mandato. A governadora ficará no exercício do mandato até que o TSE julgue o mérito do recurso apresentado pela chefe do Executivo Potiguar.

Na mira
Maranhão
» O PT local cansou de apoiar o PMDB da família Sarney. Tampouco tem nome forte para lançar ao governo local, já que o histórico Domingos Dutra deixou a legenda. Os petistas querem apoiar a candidatura do comunista Flávio Dino (PCdoB). Mas, durante encontro na Granja do Torto, o senador José Sarney (AP) cobrou apoio a Luiz Fernando Silva, chefe da Casa Civil da governadora Roseana Sarney.

Pernambuco
» O PT insiste na crise interna que se arrasta desde as eleições municipais de 2012, quando parte da legenda não quis apoiar a reeleição de João da Costa e optou pela candidatura própria do senador Humberto Costa. Acabaram derrotados em primeiro turno por Geraldo Júlio (PSB). Agora, parte da militância defende novamente candidatura própria. Mas a direção nacional sinaliza que é simpática a uma aliança com o senador Armando Monteiro (PTB).

Rio de Janeiro
» O PT lançou a pré-candidatura do senador Lindbergh Farias e anunciou que os petistas desembarcariam do governo de Sérgio Cabral. O governador fluminense apoia a candidatura do vice, Luiz Fernando Pezão (PMDB), e apostava na manutenção da aliança. Ela é cada vez menos provável, mas, atendendo a um pedido do governador, Lula convenceu Lindbergh a deixar para o início do ano que vem o desembarque da administração fluminense.

Fonte: Correio Braziliense

PPS pede à Comissão da Verdade que investigue Lula

Andreza Matais

O PPS enviou ofício Comissão Nacional da Verdade sugerindo que seja investigado a suposta colaboração do ex-presidente Lula com o regime militar nos anos 1980. Em entrevista à revista "Veja", o ex-secretário nacional de Justiça no governo Lula Romeu Tuma Júnior afirmou que Lula teria sido informante de seu pai, o ex-delegado Romeu Tuma, junto ao Dops (Departamento de Ordem Política e Social), polícia política da ditadura.

Na entrevista, Tuma Junior sugeriu que há documentos nos arquivos que comprovariam sua versão. "Não excluo a possibilidade de algum relatório do Dops da época registrar informações atribuídas a certo informante de codinome Barba". O líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR), afirmou à comissão, em ofício, que "espera que sejam tomadas as providências cabíveis para que sejam os fatos devidamente averiguados, a fim de que seja estabelecida a verdade histórica". E justificou: "O Brasil precisa saber se é verdade que o ex-presidente era um informante da polícia política da ditadura militar e, ainda, com qual finalidade. Teria sido Lula um delator de seus companheiros? Quem ele teria delatado? Quando isso teria ocorrido?." A Comissão Nacional da Verdade investiga episódios sobre violações dos Direitos Humanos no Brasil no século 20, em períodos de Ditadura Militar.

O PPS e o PSDB também analisam convidar Tuma Júnior a participar de um debate na Câmara no próximo dia 18. Para furar o bloqueio do governo, que não aprova o convite para que ele fale oficialmente às comissões da Casa, os partidos estudam fazer um evento paralelo no auditório da Câmara.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Aécio: ‘Se alguém do PSDB tiver feito algo errado, que vá para a cadeia também’

Apesar de acusações contra tucanos, senador se mostra otimista com o cenário das eleições de 2014

Paulo Celso Pereira, Ilimar Franco

BRASÍLIA. Em meio às acusações de que integrantes do PSDB teriam recebido propina do cartel montado por multinacionais para fraudar licitações em São Paulo, e apesar da possibilidade de o mensalão mineiro ser julgado no próximo ano, o pré-candidato do partido à presidência, senador Aécio Neves, diz estar decidido a colocar a ética no debate eleitoral. Em um encontro com jornalistas na noite desta quarta-feira, o tucano mostrou-se otimista com o cenário do próximo ano, exaltou o crescimento do número de eleitores que pedem mudanças no governo e disse que não se sente nada desconfortável com as acusações que atingem tucanos.

- Eu vou falar muito de ética. Muito. Se alguém do PSDB tiver feito algo errado, se recebeu propina, que vá para a cadeia também. Se alguém cometeu erros, isso não tira um milímetro da minha autoridade para falar de ética. Governei um estado por oito anos e tenho 30 anos de vida pública - afirmou Aécio.

Embora haja grande ansiedade em setores da oposição com os números das pesquisas mais recentes, mostrando que a presidente Dilma Rousseff venceria hoje no primeiro turno, Aécio disse acreditar que esse cenário só deve começar a mudar a partir de abril, quando houver maior equilíbrio na exposição dos pré-candidatos. Hoje, nas palavras do senador, o que existe é um "monólogo" da presidente.

- Eu e Eduardo (Campos) sabemos que teremos de atravessar o Rubicão (ou seja, tomar uma decisão difícil e audaciosa, como fez o imperador romano Júlio César, ao cruzar esse rio da Itália e desencadear uma guerra) até chegar à comunicação de massa, o que só deve acontecer entre março e abril. Até lá, vai ser uma travessia no deserto. Não tenho ilusão de mudar isso (números da pesquisa) antes de terminar a Copa - declarou, lembrando os números da presidente na eleição passada:

- Nessa mesma época, última semana de novembro, primeira de dezembro, a Dilma tinha 17% e estava em campanha aberta, rodando o Brasil nas asas do Aerolula. Ela só foi passar o Serra em julho.

Em meio à finalização das linhas mestras de seu plano de governo, que serão reveladas oficialmente na próxima terça-feira, Aécio vem se reunindo nas últimas semanas com grandes empresários e representantes de setores organizados. Hoje à noite, será a vez de um encontro com 30 executivos do setor financeiro e industrial em São Paulo.

Mais do que apresentar propostas, esses encontros servem para o candidato mostrar em termos práticos quem o acompanha - e que, provavelmente, estará ao seu lado em um eventual governo. O exemplo de hoje é didático: acompanharão o tucano no evento o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, o governador de Minas Gerais, Antônio Anastasia, e o senador paulista Aloysio Nunes Ferreira - cotado para ser seu vice.

- O que estou fazendo é mostrando quem é o meu grupo. Essas são as pessoas com quem ando - explicou.

- O ano de 2015 será um ano muito difícil, sem dúvida. Há aí uma crise de confiança e o que esperamos é que a nossa eleição crie uma reversão de expectativa e nos dê fôlego para atravessar esse momento.

O espectro de interlocutores é diverso. Na semana passada, o tucano participou de jantares com alguns dos principais representantes nacionais do agronegócio na casa do pecuarista Jovelino Mineiro. Já nesta segunda-feira, esteve com os representantes dos principais grupos ambientalistas nacionais e internacionais, como Greenpeace e WWF, em um jantar organizado pelo ex-deputado federal Fábio Feldman. Amanhã, volta a se reunir com representantes do setor agrícola, desta vez, com os ex-ministros da Agricultura Roberto Rodrigues e Alysson Paulinelli, e, na segunda-feira, terá reunião com empresários cariocas e, em seguida, com José Júnior, do Afroreggae.

O foco dos tucanos será o eleitorado que quer mudanças de fato, em uma evidente contraposição ao governador Eduardo Campos, que apoiava o governo Lula até setembro. Sua afirmação mostra que, a despeito do seu esforço para combinar o jogo com o socialista, haverá também confronto entre os dois durante a pré-campanha e a campanha eleitoral.

- Vamos ser a mudança de verdade e segura para o Brasil. Não somos meia mudança. Quem quiser meia mudança talvez não fique conosco.

Fonte: O Globo

A exemplo de Dilma, Aécio se descola de escândalos do PSDB

Provável candidato em 2014, senador diz não temer impactos do mensalão mineiro ou do cartel de trens: 'Não tenho nada com isso'; estratégia lembra fórmula adotada pela petista em 2010

Débora Bergamasco e João Domingos

BRASÍLIA - O presidente do PSDB e provável candidato à Presidência da República, Aécio Neves, pretende fazer sua campanha blindado dos problemas do PSDB, a exemplo do mensalão mineiro e do cartel dos trens de São Paulo. A fórmula é a mesma adotada pela então candidata Dilma Rousseff, em 2010, que dizia não ter nada a ver com os escândalos petistas. "Se tiver alguém do PSDB que recebeu propina e se isso ficar provado, tem que ir para a cadeia também", afirmou o senador durante jantar ontem no restaurante Piantella, com cerca de 30 jornalistas, em Brasília.

Aécio disse que vai insistir muito nas questões éticas durante a campanha. E que, diferentemente do PT, segundo ele, jamais vai proteger ou acobertar aqueles que estiverem envolvidos em irregularidades. Por essa razão, afirmou, não tem receio de que as questões relacionadas ao mensalão mineiro - que tem entre os envolvidos o deputado Eduardo Azeredo, ex-presidente do PSDB - e com o cartel dos trens o atinja. "Chegar em mim? Zero. Não tenho nada com isso", disse ele. O senador tucano lembrou ainda que o PT vai usar o congresso do partido, que começa hoje, em Brasília, para fazer um ato de desagravo aos mensaleiros. No PSDB, segundo ele, o tratamento é diferente. "Se alguém cometeu ilícitos, vai responder".

Informado sobre a votação do Supremo Tribunal Federal (STF), que caminha para restringir a doação de empresas privadas para campanha eleitoral, Aécio lamentou: "É a volta do caixa dois vindo aí. Ou melhor, o caixa dois vindo com ainda mais força".

O jantar foi realizado no Espaço Ulysses Guimarães, do Piantella, que fica no andar de cima do restaurante. "Foi aqui que Ulysses Guimarães e Tancredo Neves (avô de Aécio) fizeram todas as negociações que resultaram na redemocratização do Brasil. Foi aqui que eles fizeram o acordo que possibilitou a Tancredo ser candidato a presidente da República", disse Marco Aurélio, dono do restaurante. Para em seguida acrescentar: "É aqui, neste jantar, que está o futuro presidente do Brasil".

O senador tucano disse que deverá se mostrar como candidato a partir de março, mês que considera ideal para dizer que vai disputar a Presidência e quando vence o prazo do acordo que fez com o ex-governador José Serra para fazer o anúncio. Ele afirmou que está preparando "vacinas" para a campanha. A primeira delas foi o projeto que torna lei o programa Bolsa Família, uma das oficinas de votos do PT, e a defesa das privatizações. "O PT só acerta nas privatizações quando copia nossa fórmula e jamais vamos renegar o sucesso de nossa proposta", afirma. Lembra ainda o programa Mais Médicos, considerado por ele um forte ativo do governo. Aécio acredita que a ação deve ser mantida, mas com algumas mudanças. "Os médicos cubanos têm de receber salário [hoje o governo brasileiro paga ao governo cubano pela prestação de serviço deles]. Eu reformularia esse contrato."

Cenário eleitoral. Aécio Neves acredita que haverá segundo turno em 2014. Enquanto discute alianças regionais e apoio mútuos na segunda etapa do pleito com o pré-candidato do PSB, governador de Pernambuco, Eduardo Campos, ele elaborou sua estratégia para tentar diferenciar sua campanha da do socialista: "Não existe meia mudança, nós seremos a mudança", disse ele durante o jantar. Diante da última pesquisa realizada pelo Datafolha, segundo a qual 66% da população quer mudança nos rumos do Brasil, os tucanos apostam que o pernambucano não poderá assumir esse discurso, já que ele e o PSB participaram do governo petista nos últimos dez anos.

Ele chegou a brincar sobre a situação do PT na cidade de São Paulo, onde o prefeito Fernando Haddad não está bem avaliado. "Dizem até que nosso estrategista lá foi o Lula", em referência ao ex-presidente, padrinho da candidatura de Haddad.

Pelas contas do tucano, o PSDB pode ganhar nos Estados de São Paulo, Minas Gerais e tem chances no Rio de Janeiro. "Na Bahia as coisas não vão tão bem para o PT". "O segredo será tentar perder de menos possível no Norte e no Nordeste do País", diz o senador sobre regiões em que os petistas são mais fortes.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Aécio diz que apoiará Campos se não chegar ao 2o turno em 2014

Jeferson Ribeiro

O provável candidato do PSDB à Presidência, o senador Aécio Neves (MG), disse que caso não chegue ao segundo turno da disputa pelo Planalto apoiaria a candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que também deve estar no páreo do ano que vem.

O senador não tem convicção sobre a reciprocidade do apoio por parte do presidente do PSB, mas disse que "acredita cada vez mais" nessa possibilidade, porque Campos terá que adotar um "discurso de oposição" durante a campanha eleitoral.

Ele e Campos encontraram-se no fim de semana no Rio de Janeiro e discutiram cenários eleitorais e possíveis alianças em alguns Estados, mas o tucano evitou dar detalhes do que ficou acertado. Ao longo do ano, os dois conversaram várias vezes e têm feito alguns movimentos conjuntos como oposição ao governo.

Aécio, que reuniu a imprensa na noite de quarta-feira em Brasília, mostrou-se confiante numa chance de vitória nas próximas eleições, mesmo tendo que enfrentar a presidente Dilma Rousseff, líder nas pesquisas eleitorais, que indicam ainda uma possibilidade de reeleição em primeiro turno.

Segundo o senador mineiro, Dilma não tem uma bandeira expressiva de sua gestão e haverá entre o eleitorado uma fadiga depois de 12 anos da administração petista no governo federal. Além disso, ele aposta no sentimento de mudança captado recentemente pelas pesquisas.

Aécio tem certeza também que os movimentos políticos do ex-governador de São Paulo José Serra, que ainda poderia tentar disputar a Presidência em 2014, não prejudicarão a unidade do PSDB para o pleito do próximo ano.

Segundo ele, a candidatura dos tucanos já estará definida em março, e Serra não trará dificuldades ao partido.

"O que vocês acham que é um limão, vai se tornar uma boa limonada", disse a jornalistas sobre a possível insistência de Serra em se candidatar pela terceira vez à Presidência pelo PSDB, depois de ser derrotado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por Dilma.

Aécio avalia que a oposição termina o ano bem posicionada nas pesquisas e que a cobertura desigual da mídia e a força de propaganda do governo não permitem um desempenho melhor nesta altura. Ele aposta que a partir de abril, quando as candidaturas ficam mais claras, é possível um novo avanço nas sondagens eleitorais.

Mas o tucano aposta que uma virada, ou mudança drástica, no cenário eleitoral só ocorrerá depois da Copa do Mundo, entre junho e julho. E aí reside, na sua avaliação, uma dificuldade para as candidaturas de oposição.

Como a competição é no Brasil, a população só ficará atenta ao debate político entre agosto e setembro, o que na prática cria uma campanha eleitoral muito curta e torna o jogo mais difícil para quem está na oposição.

Ética e mais médicos
Aécio afirmou ainda que pretende falar "muito" de ética durante a sua campanha, mesmo que o Supremo Tribunal Federal (STF) julgue a ação penal que trata do chamado "mensalão mineiro" ou acate pedido de investigação da Polícia Federal sobre um suposto cartel no sistema de trens e metrôs de São Paulo, que pode atingir integrantes de governos tucanos do Estado.

Segundo ele, se algum tucano cometeu irregularidades terá que pagar.

Apesar de apontar a falta de uma bandeira forte para o governo Dilma, Aécio admite que o programa Mais Médicos pode se transformar num trunfo eleitoral para a petista. O tucano afirmou, porém, que se chegasse ao Planalto mudaria seu formato.

"Eu não faria o contrato com essa organização (Organização Pan-Americana da Saúde)", disse sem dar mais detalhes.

O tucano deve apresentar, na próxima semana, um conjunto de prioridades que considera os principais problemas do país e como devem ser enfrentados. "Não é um programa de governo, mas são as nossas prioridades", disse o senador.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Aécio já conta com Eduardo

Para o pré-candidato tucano, é natural que as oposições conversem sobre 2014, mas avisa: "Estaremos no segundo turno"

Denise Rothenburg

Em suas conversas com deputados e senadores de outros partidos, em especial, aliados do governo Dilma Rousseff, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (PSDB-MG) tem apresentado uma contabilidade potencial de votos para tentar convencer essas legendas a não apostar todas as fichas no PT em 2014. Ontem, ele fez a mesma conta em um jantar com jornalistas em Brasília e deu ainda um motivo a mais para que os partidos se voltem para ele: a possibilidade de o PSDB ter o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB, em seu palanque num eventual segundo turno. “Eduardo não conseguirá fazer uma campanha que não seja de oposição. Não teria lógica”, disse Aécio. “Se ambos estamos no campo oposicionista, se estamos negociando composições nos estados, creio que a convergência é natural. Nós, naturalmente, o apoiaríamos. Não vamos fazer isso porque acredito que estaremos no segundo turno”, completou.

O senador mineiro destacou ainda que a campanha de 2014 terá um elemento que não apareceu em outras eleições: conversas entre os oposicionistas. “Na campanha passada, isso não aconteceu”, diz ele, sem mencionar, entretanto, os nomes do ex-ministro José Serra (PSDB-SP) e Marina Silva (PSB-AC). Feito isso, o senador tucano elencou as razões que lhe permitem acreditar que o embate final de 2014 será entre ele e a presidente da República, Dilma Rousseff. Em primeiro lugar, ele considera possível repetir a expressiva votação em Minas que o fez governador por dois mandatos e, depois, senador. “O PSDB é bem estruturado em São Paulo e está bem posicionado no Sul”, diz, citando a perspectiva de reeleição do governador do Paraná, Beto Richa. No Rio Grande do Sul, Dilma perdeu em 2010 e, dadas as dificuldades do atual governador, Tarso Genro (PT), o PSDB tem mais chances de tirar votos por ali.

O Norte do país, visto como um reduto petista intransponível em 2010 — “no Amazonas foi 90% a 9%”, lembrou ele — não repetirá, na visão de Aécio, o mesmo percentual pró-Dilma em 2014 porque, hoje, o prefeito de Manaus é o tucano Arthur Virgilio. “E no Pará, conquistamos a prefeitura de Belem”, completou, ao discorrer sobre a estrutura tucana país afora.

De onde viria o candidato a vice da chapa tucana? Aécio apenas sorri e, eis que de repente, chega o senador Aloysio Nunes Ferreira, líder do partido no Senado. Passou para dar um olá ao grupo 30 jornalistas, convidado para o jantar com Aécio, no mezanino do restaurante Piantella, uma sala hoje transformada em adega, decorada com fotos e ensinamentos políticos de Ulysses Guimarães. Participaram ainda do encontro informal o secretário-geral do partido, Bruno Araújo, e os senadores Álvaro Dias (PR) e Cássio Cunha Lima (PB). Ontem, Aloysio participaria de um encontro de Aécio com empresários, em São Paulo.

Cartel e mensalão
As perspectivas de julgamento do caso que envolve o PSDB de Minas Gerais, chamado de mensalão mineiro, e as denúncias de cartel no metrô e nos trens de São Paulo também entraram na conversa. “Se ficar alguma coisa provada contra alguém que seja do PSDB, (o culpado) tem que ir para a cadeia também. Vou falar muito sobre ética na campanha”, prometeu. O senador tucano lembrou que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, lidera as pesquisas apesar de o caso do cartel estar diariamente na mídia. “Isso não é algo que contamine o Geraldo. Ele não é desonesto. Vou duas vezes por semana a São Paulo. Não pega. Ninguém toca nesse assunto”, assegurou o pré-candidato, que não deixou de mencionar o PT ao se referir ao episódio de Minas: “Vamos aguardar o julgamento. Mas não vamos cometer o equívoco do PT de acobertar, de transformar (o escândalo) em coisa política. Isso não tira um milímetro da minha autoridade para falar de ética. Vou falar. Tenho 30 anos de vida pública. Se alguém do PSDB cometeu ato ilícito, vai responder.”

De repente, alguém diz que a presidente Dilma também repisa sempre que não compactua com “malfeitos”. Aécio, inspirado no Congresso petista, responde: “Qual é o PT da Dilma? É o PT que a homenageia ou é o PT que faz desagravo, inocentando politicamente o pessoal do mensalão? Ela é refém de uma estrutura”, avaliou.

O presidenciável tucano atribui os bons números de Dilma nas pesquisas ao fato de a presidente ser a única candidata que já esta nas ruas. Afinal, ela é a presidente e tudo o que fala tem peso, mas ele acredita no sentimento da mudança que, na avaliação dele, tende a “se amplificar”. Aécio considera que o pais vive o fim de um ciclo político, em que a presidente fará uma campanha defensiva. “É a economia, as obras não entregues. Não tem nada de estruturante para ser entregue.”

“Eduardo não conseguirá fazer uma campanha que não seja de oposição. Não teria lógica”
Senador Aécio Neves (MG), pré-candidato do PSDB à Presidência

Fonte: Correio Braziliense

Campos trabalha para ganhar apoio do Nordeste

Por Murillo Camarotto

RECIFE - Intensificando paulatinamente o discurso de candidato ao Palácio do Planalto, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), disse ontem que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lhe garantiu que não vai disputar as eleições do ano que vem. Claramente disposto a assumir a posição de candidato oficial do Nordeste, Campos também pediu a união do eleitorado da região e endureceu as críticas à gestão da presidente Dilma Rousseff.

As declarações foram dadas durante uma longa entrevista concedida a uma rádio da Paraíba. Questionado se poderia recuar da candidatura caso Lula substituísse a presidente Dilma na disputa, Campos foi taxativo: "Essa hipótese não existe. Ouvi do próprio ex-presidente Lula que a candidata é Dilma", disse o pernambucano, que aproveitou para alfinetar a adversária. "Todo mundo sabe que, do jeito que está aí, o Brasil piora", disse.

Campos negou ter recebido qualquer pedido de Lula para que desistisse da postulação presidencial. O governador mencionou, no entanto, comentários atribuídos ao ex-presidente por líderes petistas, de que Eduardo Campos seria o candidato apoiado pelo PT ao Palácio do Planalto em 2018.

"Mas as coisas não andaram como a gente esperava. Se eu tivesse pensando apenas na minha questão pessoal, poderia cumprir meu governo, depois estar em um ministério; ou teria 82% dos votos para o Senado, com o segundo colocado com 6%", estimou o governador, confiante de sua popularidade em Pernambuco.

Apesar de ainda não falar abertamente como candidato à Presidência da República, Campos confirmou que deixará o governo de Pernambuco em abril de 2014 para se dedicar à campanha eleitoral. "A partir de abril, não tenho nenhuma função, tenho o sentimento do povo", disse.

Disposto a minar a aceitação que os presidenciáveis do PT costumam ter no Nordeste, o governador pediu união dos conterrâneos. "Precisamos sair daquele jogo que tentaram nos levar, de dispersar as forças, como se cada Estado fosse adversário. A gente pode juntar nossas forças, porque o Nordeste precisa melhorar. O Brasil precisa fazer mais pelo Nordeste", disse Campos, que recebeu o título de cidadão de João Pessoa. Antes, Campos já havia sido condecorado em Sergipe e no Piauí e se tornará cidadão baiano nos próximos dias.

O governador criticou os resultados da política econômica do governo federal e disse que o Brasil "foi um até 2010 e desde de 2011 [quando assumiu a presidente Dilma Rousseff] está de outro jeito". Na sua avaliação, o baixo crescimento da economia nacional tem prejudicado o Nordeste, o que teria levado a região a retomar o processo de concentração de renda.

No discurso aos nordestinos, sobrou até para a imprensa. Campos disse haver um sentimento de "incômodo" com o tratamento dado pelos jornais "do sul" aos nordestinos, que na sua avaliação são mencionados "apenas como eleitores, como se só servissem para votar". "A gente quer ser tratado com humanidade. Não queremos favor nem migalha", completou.

O Nordeste tem sido o fiel da balança em favor do PT nas últimas eleições presidenciais. Tanto Lula quanto Dilma tiveram vitórias folgadas na região, cenário que Campos pretende mudar em 2014. Batendo na mesa do estúdio da Rádio Correio, disse o governador: "O Nordeste unido faz a vitória em 2014. Agora, se dispersar, é outra história...".

Após o indicativo de apoio anunciado pelo PPS no fim de semana, Campos já se referiu ao partido como parte do grupo que sustentará sua candidatura ao Planalto, ao lado do Rede Sustentabilidade e do nanico PPL.

Em relação à Paraíba, Campos defendeu a manutenção da aliança entre PSB e PSDB no Estado governado por Ricardo Coutinho (PSB). Caso se mantenha a parceria, será mais um palanque que Campos vai dividir com o senador mineiro Aécio Neves (PSDB) nas eleições presidenciais.

A aliança, entretanto, está ameaçada pelos planos do senador Cássio Cunha Lima (PSDB), que avalia a possibilidade de se candidatar ao governo, posto que ele ocupou entre 2003 e 2009, ano em que teve o mandato cassado pela Justiça Eleitoral.

Fonte: Valor Econômico

Lula critica empresários que se queixam da economia

Por Raphael Di Cunto

BRASÍLIA - Em discurso no 5º Congresso Nacional do PT ontem, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deu um recado para empresários que na quarta-feira criticaram o ambiente de negócios do país em evento onde estava a presidente Dilma Rousseff e cobrou que eles expliquem "quem é que está melhor do que nós". "Qual é o defeito da nossa economia? Estamos cumprindo há 10 anos a meta de inflação do governo", afirmou.

Anteontem, no Encontro Nacional da Indústria (Enai), em Brasília, Dilma ressaltou as virtudes de seu governo, como o programa Ciências Sem Fronteiras, que dá bolsas de estudo no exterior. Logo depois que a presidente saiu, empresários fizeram críticas aos programas e à imagem do Brasil no exterior, que tem assustado investidores.

Um destes relatos foi de Luiz Tarquínio, presidente da Fundição Tupy, multinacional brasileira do ramo de metalurgia, que foi ao mercado de ações para ampliar o capital este ano e disse ter ouvido dos investidores elogios ao projeto, mas reclamações de que o Brasil tem muito mais problemas de mão de obra do que o México. "A escassez é muito mais grave por aqui. A verdade é que temos andado de lado em termos de crescimento e produtividade", disse, conforme publicou o Valor na edição de ontem.

"Eu vou chamar esse empresário para conversar para perguntar: qual é o país que está crescendo mais que o Brasil? Os que cresceram mais não foi algo tão significativo, e os que estão melhor [em infraestrutura] é porque construíram isso há 50 anos", afirmou Lula ontem. "Não tem nenhum país emergente que tem mais responsabilidade fiscal do que nós. A nossa irresponsabilidade está em dizer que o pobre não vai pagar a conta, como sempre pagou, das crises [econômicas]", disse o ex-presidente.

A presidente Dilma foi na mesma direção e disse que o PT mostrou que é possível crescer distribuindo renda. "Mostramos que era perfeitamente possível combinar responsabilidade social com responsabilidade fiscal. Uma não faz sentido sem a outra. [Foi uma] Nova proeza do PT", disse. O discurso de responsabilidade econômica também foi reforçado pelo presidente do PT, Rui Falcão, que ontem foi empossado para um novo mandato.

Fonte: Valor Econômico

Para Aécio, oposição unida fará a diferença

Por Raymundo Costa e Rosângela Bittar

BRASÍLIA - O pré-candidato do PSDB a presidente, Aécio Neves, vai lançar na terça-feira, 17, "um conjunto de diretrizes" no qual deve assentar as bases de um futuro programa de governo. "É mais do que um conjunto de princípios", afirmou Aécio. "É um conjunto de prioridades". A palavra chave será "mudança".

O presidenciável não quis antecipar algumas dessas diretrizes. O que Aécio considera fundamental é que desde já começou a "sinalizar" qual é a sua turma - inclusive na economia - e consequentemente o que pretende fazer no governo federal, na hipótese de vencer as eleições de outubro do próximo ano.

Ontem à noite Aécio participou de um jantar com cerca de 30 grandes empresários, em São Paulo. Na segunda-feira, haverá outro grande encontro com empresários do Rio de Janeiro. Organizados pelo economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Armínio é o denominador comum desses encontros, o que não quer dizer que ele será necessariamente ministro da Fazenda ou czar da Economia num futuro governo do PSDB. Mas se Aécio Neves for eleito presidente de um novo governo tucano, certamente será influenciado pelas ideias econômicas professadas por Armínio Fraga.

A "turma" a que se refere Aécio é integrada pelo ex-presidente Fernando Henrique, Armínio, o governador de Minas Gerais, Antônio Anastasia (que deve ser peça-chave em eventual governo de Aécio) e o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), cotado para compor a chapa como candidato a vice-presidente, na hipótese de os tucanos concorrerem com chapa pura - a ideia seria dar densidade para Aécio em São Paulo, já que espera sair de Minas com uma grande votação.

"Se houver o mesmo empenho em São Paulo que nós tivemos em Minas Gerais [o ex-governador José Serra ganhou da presidente Dilma Rousseff a eleição em Belo Horizonte, em 2010], nós ganhamos a eleição", disse.

Na conversa que teve com repórteres e colunistas de jornais, televisão, rádio e portais da internet, na quarta-feira, Aécio registrou alguns "fatos novos" na eleição de 2014 e que justificam seu otimismo, apesar do favoritismo da presidente da República, segundo apontam as pesquisas de opinião pública.

Aécio acredita que um fato diferencia a campanha de 2014 das campanhas anteriores, desde que o PT venceu em 2002: "Nas outras, as oposições em nenhum momento construíram algum tipo de entendimento". Agora ocorre exatamente o oposto. "O Eduardo [Campos, do PSB] não conseguirá fazer uma campanha que não seja de oposição. Haverá uma convergência natural". Segundo o presidenciável, "nós temos 80% de afinidade [PSDB e PSB] no Brasil hoje".

Aécio disse que apoiará Campos se ele for para o segundo turno e se diz "cada dia mais convencido de que Eduardo o apoiará", em caso contrário. Com a ressalva de que será ele, Aécio, quem estará no segundo turno.

O segundo "fato relevante" destacado por Aécio, que também é presidente do PSDB, é a ressurreição do partido no Nordeste. "Uma fênix mesmo", disse. "Nós renascemos das cinzas, tínhamos sido dizimados, não tínhamos nada. Tínhamos Maceió", afirmou, referindo-se às duas últimas eleições no Nordeste. Agora, "ganhamos muito mais que o PT, as capitais mais pobres. A periferia mais pobre do Brasil é a de Salvador, nós ganhamos do PT [com ACM Neto, do Democratas e provável aliado na eleição]. Aracaju (SE), Maceió (AL) e Teresina (PI), nós ganhamos nas três, Campina Grande, na Paraíba"

Segundo Aécio, 35% dos domicílios desses cidades, em média, recebem o Bolsa Família. "E votaram no PSDB". No Norte, nas duas principais capitais - Belém (PA) e Manaus (AM) "nós ganhamos, sendo que o Pará tem mais eleitores do que o conjunto da Amazônia. Lá ganhamos o governo e a prefeitura da capital. Ganhamos Manaus". Aécio lembrou que a diferença a favor obtida por Serra nos três Estados do Sul do país, perdeu "só no Amazonas - foi 99% a 1%". De fato, Serra não conseguiu desfazer a versão disseminada de que acabaria com a Zona Franca de Manaus. "Nós vamos diminuir a diferença nas regiões mais pobres. Deixou de ser o ativo que era do PT", disse.

Por via das dúvidas, Aécio também tratou de fazer uma "vacina" e aprovou um projeto, em comissão técnica da Câmara, que classifica o Bolsa Família como política de Estado. Pura precaução, pois diz que as acusações de insensibilidade social dos tucanos já estão "precificadas".

O terceiro fato novo em relação a 2014, de acordo com Aécio, é a mudança na qualidade da candidatura da presidente Dilma Rousseff. A presidente se elegeu em 2010 com o "figurino da continuidade", analisou. "Hoje o sentimento é claramente de mudança e não acho que vá ser revertido, mas ampliado", afirmou, numa alusão às pesquisas segundo as quais dois terços do eleitorado apontam para a necessidade de mudanças no próximo governo. "Estamos vivendo um fim de ciclo. A presidente fará uma campanha na defensiva na questão da economia, na questão das entregas de obras. A marca da ineficiência vai crescer durante a campanha".

Aécio escolheu um local sugestivo para o jantar com os jornalistas: o salão no segundo andar do restaurante Piantella em que seu avô, o presidente Tancredo Neves, falecido em 1985 antes de tomar posse, e o deputado Ulysses Guimarães, ambos à época do PMDB, conspiraram contra o regime militar e articularam o fim da ditadura dos generais. Na conversa, o tucano não fugiu dos temas mais espinhosos para o PSDB.

No momento em que ex-dirigentes do PT estão na cadeia e começam a ser reveladas relações perigosas de tucanos com o cartel que operava licitações de trens e metrô em São Paulo, Aécio assegura que "a ética" será um tema que vai permear sua campanha às eleições de 2014.

Em sua opinião, só tem o que temer quem está envolvido. "Para mim é zero". Tanto no que se refere ao escândalo Siemens / Alstom, em São Paulo, como no suposto "mensalão mineiro", assim chamado mais por associação com o escândalo do PT que pela natureza das acusações - um inquérito se referiu claramente à compra de votos; o outro trata do financiamento da campanha a governador do atual deputado Eduardo Azeredo, um ex-presidente do PSDB, como um clássico caso de caixa dois eleitoral. "Se tiver alguém do PSDB que cometeu irregularidade, que recebeu propina, e isso ficar provado, tem que ir para a cadeia também".

"Se alguém do PSDB cometeu ato ilícito, vai responder", disse. Mas, garantiu, não transformará os casos em questão política.

O presidenciável do PSDB encarou com bom humor todas as questões propostas pelos jornalistas, inclusive a mal resolvida relação com o ex-governador José Serra - para muitos tucanos e até adversários, Serra atrapalha o bom desenvolvimento da campanha de Aécio, ao se manter candidato. Afirma não se preocupar com as viagens de Serra pelo país. "Se ele estivesse viajando para falar bem do governo, me preocuparia", disse. E garantiu: "Vamos fazer desse limão uma limonada". Aécio espera anunciar o entendimento em março.

Fonte: Valor Econômico

As 20 horas em que os presidentes voaram juntos, no relato de FHC

"Não podemos levar a relação política a estado de beligerância. Foi um momento de distensão, tendo em vista as posições ali"

Por Cristian Klein

SÃO PAULO - Foi uma viagem "alegre", "amável", com uma presidente Dilma Rousseff muito à vontade, falante, contadora de causos - longe da imagem de "rabugenta" que é apresentada ao público. Foi também uma viagem mais bem organizada do que a primeira, que levou ex-presidentes ao funeral do papa João Paulo II, em 2005. "[Naquela] o clima foi menos descontraído. Porque não eram só os ex-presidentes. Entrava gente. Conhece o estilo do Lula, né? Ministros e mesmo assessores, enfim... Enquanto desta vez - a Dilma é mais formal - éramos só nós, que ficamos juntos o tempo todo", afirma Fernando Henrique Cardoso, que relatou ao Valor PRO, serviço em tempo real do Valor, como foram as 20 horas de "conversas, de brincadeira, de contar causo, de se lembrar de coisas, observações sobre terceiras pessoas, terceiros países", durante os voos de ida e volta da África do Sul, onde ele, Dilma, Lula, José Sarney e Fernando Collor presenciaram, na terça-feira, o funeral de Nelson Mandela, líder da luta contra o apartheid no país.

O ex-presidente tucano conta que as conversas entre os pares se davam na cabine presidencial com duas mesas com quatro poltronas em cada. Dilma, de vez em quando, se retirava para os seus aposentos, onde havia uma cama. Entre os ex-presidentes, ninguém dormiu. Só na volta. Mesmo assim, "uma soneca", sentados mesmos. Collor era o mais formal. Lula e FHC, afirma o tucano, formavam a dupla que tinha mais "memória em comum". Perguntaram sobre o destino de antigos colegas e "das coisas de São Bernardo de Campo", das quais "eu participei muito e Lula, lá, era o líder".

Na volta para São Paulo, quando ficaram só os dois, houve uma conversa mais íntima, porém sem cobranças por eventuais críticas feitas um contra o outro. No funeral, FHC conta que lhe chamou atenção o clima festivo, com música, e a impopularidade do presidente sul-africano, Jacob Zuma, a todo momento vaiado quando sua imagem aparecia no telão do estádio Soccer City.

Sobre as eleições de 2014, FHC afirma que não se preocupa com a possibilidade de que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ofereça palanque duplo e apoie tanto o pré-candidato do PSDB à Presidência, o senador Aécio Neves, quanto o adversário do tucano, o governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB). "O eleitor não vai ver se o palanque é duplo ou não. Na televisão, está com quem? É isso que vai contar. Porque a lei é clara: você, sendo de um partido, não pode apoiar pessoa, na televisão, de outro partido", diz. A seguir, trechos da entrevista concedida ontem ao Valor:

Valor: O senhor gostou da viagem?

Fernando Henrique Cardoso: Gostei, foi boa, porque foi amável, foi alegre. E é até importante destacar que a despeito de tanto antagonismo é possível manter um diálogo positivo, com respeito. Foi bom. A Dilma comigo foi muito atenciosa, e eu, naturalmente, com ela também. Claro que evitamos entrar em qualquer assunto que pudesse levar a discórdias maiores.

Valor: Foi Lula que chegou a pedir que se evitassem polêmicas?

FHC: Não, não falou, não. E todos estavam muito bem dispostos. A Dilma estava muito solta e alegre, e o Lula também. Mas não houve. Procuramos falar sobre as coisas em comum. Todos demonstraram preocupação com vários acontecimentos.

Valor: Por exemplo.

FHC: A questão da reforma partidária, da reforma política, essa questão do financiamento de campanha, todo mundo percebe que está na hora de dar outro rumo, mas ninguém quis aprofundar nada porque não estávamos ali nessa função. Mas acho que foi positivo, foi mantido um contato cordial. Lembramos de muita coisa do passado, coisas de São Bernardo [do Campo], das quais eu participei muito e Lula lá era o líder. Perguntávamos muito sobre pessoas daquela época, o que estão fazendo... E dali dos presentes os que tinham mais memória em comum éramos nós dois.

Valor: O senhor e o Lula sentaram-se juntos para conversar?

FHC: Sentamos todos juntos. Só os presidentes ficaram ali, naquela cabine presidencial, para almoçar, para jantar.

Valor: Ninguém dormiu?

FHC: Não, foi todo mundo no embalo. Na volta é que tiramos uma soneca, porque cansou, né? Mas não de dormir, sentado mesmo. A Dilma é que, de vez em quando, ia para os aposentos dela, para a cama. Nesse avião, a cabine tem duas mesas com quatro poltronas em cada. E lá atrás é que tem várias cadeiras, poltronas, para o resto da comitiva. E na frente, também, para o pessoal técnico, militar. Se fossem oito, os oito poderiam participar da conversa, porque não há separação maior. E fomos alternando as posições de cada um. Não é por nada, mas porque cansa.

Valor: E o Collor, único que foi afastado da Presidência, ficou à vontade?

FHC: Talvez ele tenha menos intimidade com os outros ali. Comigo [tem] um pouco mais porque eu era senador e ele, deputado, e na campanha dele para governador [de Alagoas, em 1986], o [ex-governador de São Paulo] Mário] Covas e eu o apoiamos. Até me surpreendi, porque ele está agora com 64 anos, e parece mais moço. Mas é uma pessoa educada. Ele é mais formal, digamos, do que os outros.

Valor: Mais que a Dilma?

FHC: A Dilma não é formal no contato assim. Ela é agradável. Toda imagem que existe dela - como a vi só neste tipo de ocasião, nunca trabalhei com ela - nunca vi a Dilma que é apresentada ao público, rabugenta e tal. Comigo, não.

Valor: Ela puxou papo?

FHC: Ah, sim, ela contava causo, puxou papo, claro, muito à vontade.

Valor: Alguma conversa que achou marcante?

FHC: Que eu me recorde não, mas acho que foi um momento de distensão, tendo em vista as posições ali, e as trajetórias. Mas aí tem um dado também. Por razões várias, todos aqueles personagens em momentos distintos, se encontraram. Primeiro, na questão da redemocratização. Todos ali presentes ficaram do mesmo lado. O Sarney rompeu lá [com o regime militar], para fazer a Frente Liberal. Anteriormente a isso, tanto o Lula quanto eu tínhamos muito trabalho em comum, fizemos muitas coisas juntos. Depois eu vim sozinho com o Lula para São Paulo.

Valor: E como foi o voo?

FHC: Aí foi mais íntimo, nós dois temos mais história em comum, foi mais fácil. Conversamos como duas pessoas maduras, sem guardar reserva e procurando ser ao mesmo tempo cordato e franco. Passamos em revista o que vivemos.

Valor: Não houve cobrança em relação a críticas mais fortes feitas pelo outro?

FHC: Cobrança não houve não.

Valor: E como foi o clima no funeral do Mandela?

FHC: Era uma coisa festiva, porque a África é festiva. Então tinha muita música. O que mais me chamou a atenção é que o [Jacob] Zuma, o presidente [sul-africano], mal ele aparecia no telão, a vaia era generalizada. Isso era constante. Era um estádio enorme, bonito, e organizado. Agora, no lugar em que nós estávamos, o lounge dos VIP, estava todo mundo ali. Foi bom porque encontrei colegas, os "Elders" [grupo que reúne líderes e ex-presidentes de diversos países]: o arcebispo [sul-africano e Nobel da Paz de 1984 Desmond] Tutu, o [ex-secretário-geral da ONU] Kofi Annan, a [ex-presidente da Irlanda] Mary Robinson, além disso estavam lá [os ex-primeiros-ministros britânicos] Tony Blair e Gordon Brown. Na saída, cruzamos com o [presidente da França François] Hollande e o [antecessor dele Nicolas] Sarkozy.

Valor: E sua relação com o Mandela, como foi?

FHC: Conheci muito o Mandela. Na primeira vez, ele veio ao Brasil, como presidente, e eu fui à África, também como presidente. Mas depois disso estive muitas vezes na África e fora da África e, como ele criou os Elders - somos dez, ele me colocou neste grupo -, tive uma maior intimidade com ele. E sobretudo com a mulher dele, a Graça [Machel], que é moçambicana. E a Graça era amiga da Ruth [Cardoso, mulher de FHC, morta em 2008] antes de se casar com o Mandela. A Graça veio ao Brasil para inaugurar o Centro Ruth Cardoso, fez um discurso, muito bonito, e mencionou um fato que nem eu sabia. Que antes de casar com o Mandela, conversou com a Ruth sobre o casamento. Enfim, a relação nossa era muito boa. No final, nos últimos dois anos, ele estava praticamente fora do ar. Na última vez em que jantei com ele, em Johannesburgo, com os Elders, ele já tinha alguma dificuldade em manter a conversa.

Valor: Qual foi a diferença entre essa viagem de ex-presidentes e a anterior, para o funeral do papa João Paulo II?

FHC: O Itamar [Franco] era embaixador [em Roma] e eu e o Sarney fomos com o Lula. Primeiro, que eu não voltei com o Lula, pois fui para outro país em seguida. E depois, o clima foi menos descontraído que desta vez. Porque não eram só os ex-presidentes. Entrava gente. Conhece o estilo do Lula, né? Ministros e mesmo assessores, enfim... Enquanto desta vez - a Dilma é mais formal - éramos só nós, que ficamos juntos o tempo todo. Isso produz obviamente depois de... conversamos 20 horas.

Valor: Agora foi formal, porém facilitou mais a conversa, é isso?

FHC: Não foi mais formal, não. Foi mais organizado, digamos. E facilitou. Foi bom, achei positivo. Foram 20 horas de conversas, de brincadeira, de contar causo, de se lembrar de coisas, observações sobre terceiras pessoas, terceiros países. Eu achei positivo - e até disse isso lá - porque não podemos levar nunca a relação política numa democracia a estado de beligerância. Há uma tendência natural. Mas é responsabilidade dos líderes não deixar.

Valor: O senhor se preocupa com a possibilidade de Aécio dividir palanque com Campos em São Paulo?

FHC: Mesmo que o palanque seja duplo o número de propaganda não é duplo. O tempo é do partido. É o 45, no caso do PSDB. O que conta é a TV. O palanque duplo é uma maneira de acomodar uma situação política, mas o efeito eleitoral é pequeno.

Valor: Como assim?

FHC: O eleitor não vai ver se o palanque é duplo ou não. Na televisão, está com quem? É isso que vai contar. Porque a lei é clara: você, sendo de um partido, não pode apoiar pessoa, na televisão, de outro partido.

Fonte: Valor Econômico

Eduardo ataca Dilma e as gestões do PT

Socialista diz que dinheiro do povo não tem partido

Mais recatado nos últimos dias, o governador-presidenciável Eduardo Campos (PSB) voltou a atacar o PT e a presidente Dilma Rousseff. E dessa vez foi ainda mais ácido. A briga pela paternidade de obras em Pernambuco gerou a reação do socialista. Campos destacou que o dinheiro público investido nas esferas municipal e estadual não podem ser tachadas como investimentos de partidos específicos - leia-se PT. "É importante tirar essa visão patrimonialista do governo (federal), de que o dinheiro que vem para Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, ou seja, pra onde vier, pertence a um partido político. O dinheiro é do cidadão, que paga tributo e não tem como o governo federal investir na lua, porque a lua não é território brasileiro", ironizou.

O presidenciável saiu em defesa da sua gestão, alegando que os recursos destinados pelo governo federal a Pernambuco só foram viabilizados graças aos projetos. Chegou a citar as gestões dos ex-prefeitos petistas João Paulo e João da Costa na Prefeitura do Recife. "O PT governou a cidade do Recife por 12 anos, dos quais dez anos tiveram a participação de Lula e Dilma. Você pega o que eles fizeram na cidade e o que nós fizemos (em Pernambuco) e a pergunta está respondida", provocou. "Não basta ser aliado, tem que saber fazer, não pode botar um monte de incompetente porque é do partido A, B ou C", completou.

Eduardo também criticou os índices econômicos do governo Dilma e sugeriu que a petista não sabe governar o País. "A gente tem que conhecer o que governa. Tem muita gente governando no Brasil que não conhece nem o Nordeste, só conhece governando nas casas dos políticos e nos palanques", comentou. "Tem muita gente mofada, precisando ir pra casa em Brasília", emendou. As declarações foram dadas a uma rádio da Paraíba. O governador esteve em João Pessoa na manhã de ontem, onde recebeu o título de Cidadão Pessoense. Na ocasião, disse que sua aliança com a ex-ministra Marina Silva (Rede) assustou os adversários. "Eles verão eu e Marina ganharmos o ano de 2014 juntos", disse.

Sem amenizar no ataque, Campos disse que é preciso dar novos rumos ao País, pois "do jeito que está, o Brasil piora". Questionado se seria o PSDB quem poderia piorar a política brasileira, Campos respondeu: "Quem pode continuar pra pior é quem está em Brasília".

Os ex-prefeitos João Paulo e João da Costa foram procurados para comentar as declarações do governador, mas alegaram que só vão se pronunciar depois que tiverem acesso à entrevista de Campos. João Paulo, inicialmente, disse que os posicionamentos causam estranheza, já que Campos o apoiou no segundo turno da eleição de 2000, além da sua reeleição e do pleito que elegeu seu sucesso como prefeito.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Reencontro histórico e um novo rumo para o país - Roberto Freire

A menos de um ano das eleições presidenciais, o Brasil vive um momento crucial em que as forças democráticas têm diante de si enormes responsabilidades. Os onze anos de governos do PT não foram marcados apenas por populismo exacerbado, incompetência na condução da economia ou escândalos de corrupção em série, mas também por um processo contínuo de degradação institucional do país. A ocupação da máquina pública pelos lulopetistas e o loteamento fisiológico de cargos entre seus aliados são facetas de um modelo que já se esgotou.

Os usos e costumes políticos precisam ser refundados e, sobretudo, é fundamental que seja apresentada à sociedade brasileira uma real alternativa ao atual governo. É neste contexto que o PPS aprovou, em seu 18º Congresso Nacional, no último fim de semana, um indicativo de apoio à pré-candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos(PSB), à Presidência da República.

Trata-se, afinal, da união de forças políticas que se situam no campo democrático de esquerda e defendem um novo projeto para o país, além de um histórico reencontro entre o velho Partido Comunista Brasileiro (PCB), que deu origem ao PPS, e os socialistas. Esse fato nos faz lembrar da Frente do Recife, movimento político formado em Pernambuco no período constitucionalista de 1946, após o fim da ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas.

As forças centrais do grupo eram justamente o PSB e o PCB, que aglutinaram outros partidos em torno de um programa progressista e passaram a disputar as eleições locais. A Frente conquistou a Prefeitura da capitalpernambucanaem1955, elegendo Pelópidas da Silveira com os votos de dois terços do eleitorado. Em1962, um ícone da história política brasileira, Miguel Arraes, foi eleito governador como apoio dos comunistas.

A duradoura união entre PCB e PSB só seria interrompida em1964, como golpe militar, mas muitas das lideranças da Frente do Recife estariam juntas no Movimento Democrático Brasileiro (MDB), em oposição à ditadura que perduraria por mais de 20 anos. O movimento político consolidado em meados dos anos 1950 havia, de fato, ultrapassadoas fronteiras de Pernambuco e alcançado dimensão nacional.

Em uma realidade em transformação e que impõe novos desafios às esquerdas em todo o mundo, o feliz reencontro simbolizado pela Frente do Recife, hoje reeditado sob novas bases, talvez possa nos servir como referência. O panorama desolador do país governado por Lula e Dilma nos últimos onze anos escancara a necessidade urgente de um novo rumo.

O descalabro nas contas públicas, o esfacelamento da Petrobras, a desindustrialização acelerada, a estagnação econômica, a escalada da inflação, o aviltamento de instituições como o Supremo Tribunal Federal (STF) e a sucessão de escândalos que transformam heróis petistas em presidiários fazem parte do funesto legado do PT ao Brasil, do qual precisaremos de alguns anos para nos recuperar.

Às oposições é fundamental contar com mais de uma alternativa no primeiro turno da eleição de 2014, além da igualmente legítima pré-candidatura do senador Aécio Neves (PSDB- MG). O projeto apresentado ao país pelo governador Eduardo Campos, também apoiado pelo grupo liderado pela ex-senadora Marina Silva, é o que melhor representa as bandeiras da nova política e de um pensamento democrático de esquerda em oposição ao superado modelo do PT. O Brasil clama por um novo caminho.

Deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

Fonte: Brasil Econômico

Terapia intensiva - Marina Silva

Quando insistimos na necessidade de uma agenda estratégica, somos contestados pela visão reducionista de que basta ao nosso país uma gerência eficiente. Estamos vendo agora o resultado da separação entre estratégia e gestão: a excelência gerencial que anunciaram naufraga na enchente de problemas derivados da falta de planejamento.

As evidências estão em setores nos quais supúnhamos ter avançado. É o que mostra o relatório do Banco Mundial sobre o Sistema Único de Saúde, noticiado por esta Folha. Analisando mais de duas décadas dessa conquista histórica do povo brasileiro, o SUS, o relatório revela que os problemas da saúde pública não decorrem apenas da falta de verbas. Não esconde essa falta, pois mostra que o investimento público em saúde, de 3,8% do PIB, é inferior à média dos países em desenvolvimento, mas constata que o atendimento pode melhorar com mudanças na gestão.

Vivemos nos extremos. Os grandes hospitais estão superlotados, enquanto as unidades com menos de 50 leitos, que cobrem 65% do sistema, vivem quase sempre vazias, por motivos que incluem a falta de médicos especializados e de condições para atender às populações locais.

Boa parte das emergências poderia ser atendida em unidades básicas, cujo crescimento estagnou nos últimos anos. Conheço o problema na prática, por isso sempre insisti na importância de fortalecer o Programa de Saúde da Família e tornar o sistema mais humano e personalizado. Essa é uma definição estratégica que se traduz em investimentos na formação de médicos generalistas, enfermeiros, assistentes sociais e agentes comunitários que trabalhem de forma integrada junto da população.

A melhoria na gestão inclui necessariamente o combate à corrupção. Reportagens recentes na TV mostraram o desvio de verbas em acordos de cooperativas e Oscips com várias prefeituras. Precisamos de mecanismos que garantam a visibilidade desses processos e o acompanhamento da população e órgãos de fiscalização.

O SUS é uma conquista nossa, devemos cuidar dele e aperfeiçoá-lo. E isso é parte do esforço para reformar o Estado brasileiro. O mesmo combate deve ser travado em atividades como a produção de alimentos e de energia, nas quais muita riqueza se perde no caminho (ou na falta destes) até o usuário.

No final das contas, o Estado deve tornar-se mais responsável no uso dos impostos. E os governos não podem continuar acenando com o chapéu do contribuinte, em prejuízo de seus direitos, repetindo comportamentos perdulários que se agravam, como sabemos, em períodos eleitorais. Em todos os setores, a mudança exige tratamento continuado. Na saúde, terapia intensiva.

Marina Silva, ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente

Fonte: Folha de S. Paulo

Pisa (poucos) avanços - Merval Pereira

Nos últimos dias, dois fatos mostram que não estamos bem nos diversos níveis de nossa Educação. No Pisa (em português, Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), uma avaliação internacional comparada para alunos na faixa dos 15 anos, idade em que a escolaridade básica obrigatória na maioria dos países está encenada, continuamos na rabeira do mundo, apesar de oficialmente termos melhorado em Matemática. E, na relação das melhores universidades do mundo emergente, o Brasil tem só quatro, e na parte inferior da tabela.

Se compararmos com China, Taiwan e outros, estamos realmente bem atrasados. Qual o diagnóstico? O que falta fazer? Procurei vários especialistas em Educação para uma análise da situação, que começo a publicar hoje, iniciando pelo resultado do Pisa. O relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne os países desenvolvidos, afirma que a nota brasileira em Matemática foi a que teve maior aumento entre todos os países.

E destaca que os avanços brasileiros foram conseguidos com a inclusão de alunos, o que é mais difícil. Foi o que bastou para que o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, comemorasse, dizendo que, se a foto do momento ainda é ruim, nosso filme é bom. Mas, aparentemente, para os especialistas, não há razões para comemoração. Desde Arnaldo Niskier, ex-secretário de Educação do Rio e membro da Academia Brasileira de Letras, que lembra que nossa colocação no ranking continua “vexaminosa”: 58° lugar numa lista de 65 nações. E pior, diz: “Em Leitura e Ciências, continuamos na rabeira”.

Irônico, cita um amigo para dizer que “o grande problema da educação nacional é a falta de tempo integral. Inclusive do ministro”. Para alguns, a melhora do Brasil em Matemática se deveu exclusivamente à mudança na composição de idade dos alunos que fizeram a prova (especialmente em 2009, quando houve um aumento maior), e, dentro de cada grupo de idade/série, não houve qualquer aumento. Priscila Cruz, diretora executiva do movimento Todos pela Educação, diz que, se avançamos em Matemática, foi bem menos do que deveríamos.

E lembra que esse avanço tem sido muito questionado: se realmente foi avanço ou fruto de mudança na amostra. Segundo a especialista Ilona Ferrão, seria um caso de “contabilidade criativa”, aplicada à Educação. A questão da amostra continua controversa, com especialistas considerando as mudanças como válidas, e outros vendo problemas de critério. Para o sociólogo Simon Schwartzman, presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, que vem debatendo a questão em seu blog, o que parece pacífico é o seguinte: “Se houve uma melhoria, ela foi muito pequena e se deve, sobretudo, à melhoria do fluxo escolar — o que em si não é mau, mas não há indicações de que o ensino melhorou.”

Há ainda, segundo ele, um número importante de jovens no grupo de idade do Pisa que ficaram fora da prova porque estão abaixo da série que entra na amostra — 18.8% do grupo de idade. “Se eles entrassem na amostra, o resultado seria muito pior.” Por fim, seja como for, “não há como dizer que houve uma melhora na qualidade da educação proporcionada pelas políticas do governo federal”. Já o economista Fernando Veloso, da Fundação Getulio Vargas no Rio, acha que os resultados do Pisa são consistentes com os dados das avaliações nacionais.

“O Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) também mostra urna evolução em relação ao início dos anos 2000, mas uma estagnação recente nos anos finais do ensino fundamental, que correspondem à faixa etária dos alunos que participam do Pisa. A Prova Brasil também revela que o maior progresso ocorreu em Matemática”.

Veloso explica que a principal característica dos países que se destacam no Pisa é que eles oferecem educação de qualidade para todos, independentemente de sua condição socioeconômica. “Isso envolve a combinação de três elementos. Em primeiro lugar, é preciso estabelecer o que todas as crianças e jovens precisam aprender, e organizar o sistema educacional de forma a atingir esse objetivo”.

Outro ponto importante são os instrumentos de avaliação, “que devem ser utilizados de forma sistemática para obter informações sobre o desempenho dos alunos”. São necessárias ainda políticas específicas de apoio aos alunos com pior desempenho. Segundo ele, desde meados da década de 1990, o Brasil avançou nessa direção, com a criação de um sistema de avaliação abrangente e metas do Ideb para as escolas públicas.

Fonte: O Globo