No momento em que faltam ser validadas cerca de 150 mil assinaturas para a criação do partido da ex-senadora Marina Silva, a Rede Sustentabilidade, a fotografia da sucessão presidencial é de uma disputa com três candidatos de oposição - Aécio Neves, pelo PSDB, Eduardo Campos, pelo PSB, além da própria Marina - contra Dilma Rousseff.
Aécio já é o pré-candidato tucano. Hoje Eduardo Campos, governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, também está com a foto na urna eletrônica. Ele não deve anunciar logo o cargo que deve disputar, mas certamente não deixará para março de 2014. Tem que ser antes.
Quando e se Eduardo Campos assumir a candidatura a presidente da República, ele será um candidato de oposição. "Se estivesse de acordo com o governo, não seria candidato", diz o primeiro-secretário nacional do PSB, Carlos Siqueira. O lugar da situação é de Dilma, já em campanha pela reeleição.
Três candidatos de oposição disputam uma vaga em 2014
O momento, portanto, é de decisão para a oposição, dona de um espaço eleitoral estreito para três candidatos do tamanho de Aécio, Marina e Eduardo ou - pela ordem atual das pesquisas de opinião - Marina, Aécio e Eduardo.
A julgar pelo resultado do primeiro turno da eleição de 2010, trata-se de um espaço com algo em torno de 51% do eleitorado, em números redondos a soma das candidaturas de José Serra (32%), pelo PSDB, e Marina Silva (19%), então candidata do PV. Dilma teve 46% dos votos (56% no segundo turno).
Nesse espaço couberam Serra e Marina. O governador Eduardo Campos tem potencial para bem mais que o dígito que atualmente registra nas pesquisas. O convívio nessa arena talvez seja o primeiro dos desafios de uma oposição que tenta entender o difuso sentimento de mudança expresso em junho, nas grandes manifestações.
Nesse cenário, Carlos Siqueira reconhece: "Os candidatos de oposição têm que ter um acordo - tácito ou explícito - de que o inimigo é comum, até certo momento (da eleição). Claro que o inimigo comum dos três é o candidato mais forte, supostamente mais forte. Um dos três vai disputar com a senhora Rousseff".
Siqueira vê nesse cenário uma vantagem potencial para as oposições: "Ao mesmo tempo em que é um espaço apertado, também pode garantir um segundo turno para qualquer um desses três". Essa é mais ou menos a base do acordo de convivência mútua entre PSDB e PSB, firmado por Aécio e Eduardo, ao qual pode se incorporar Marina quando estiver definido o registro da Rede Sustentabilidade.
Definir exatamente o "certo momento" é o segundo e decisivo desafio. Será o momento em que Rede Sustentabilidade, PSDB e PSB deixarão de ser "a oposição" para voltar ser "as oposições", como realmente são hoje - e disputar a única vaga disponível no segundo turno.
O discurso atual dos tucanos, por exemplo, é mais moderado que o do PSB, que está no governo Dilma. O PSDB percebe que Marina ameaça tomar do partido o lugar até agora cativo no segundo turno. Está literalmente com um olho no peixe e outro no gato.
O PSDB exerceu a Presidência por oito anos e esteve no segundo turno em três eleições presidenciais vencidas pelo PT. Nem mesmo sua crônica divisão interna serve de explicação para não dispor, à esta altura do calendário eleitoral, de um claro discurso de oposição e de um projeto alternativo de poder ao PT. Se tivesse, certamente não estaria tão preocupado em encontrar um discurso para recuperar o que perdeu para Marina.
Marina, por seu turno, terá de explicitar até onde levará a convivência com partidos tradicionais, nos quais estão alojados alguns dos setores mais conservadores da política brasileira. Nem mesmo o PSB de Eduardo Campos escapa das contradições inerentes às associações políticas brasileiras. O que distingue o PT do PSB, quando este último recepciona os Bornhausen em Santa Catarina, família da mais legítima cepa liberal?
Siqueira reconhece o PT na origem da questão: "Se tem alguém hoje que perdeu a condição de fazer uma crítica por aliança à direita, inclusive que impedem o governo de avançar, esse alguém se chama PT", diz. "O que não se pode abrir mão é de um programa e de ter o controle da situação, o que não é o caso do PT. Na verdade o PT fica refém dessa gente".
"O que existe hoje? Setores mais conservadores, como não têm mais projeto nacional, regionalmente se agregam, aqui e ali, a um projeto nacional. Diferente de um PMDB, que tem uma bancada que manda no Congresso, para o lado que pende (a bancada) carrega o governo".
Ou seja, a filiação da seção Jorge Bornhausen seria algo pontual restrito a Santa Catarina, e o verdadeiro esforço do PSB, agora, seria "ampliar à esquerda, tanto é que nós temos como meta atrair o PDT para esse fim. Já tem setores e pode vir o restante. Difícil é alguém que está aliado a Collor, a Sarney, a Renan, a Eduardo Cunha e a toda essa gente ter alguma moral para fazer qualquer crítica em relação à política de alianças".
Esse é o cenário mais provável hoje na oposição, ter três candidatos na disputa contra Dilma. Mas não se pode descartar a hipótese desse quadro evoluir para uma situação diferente e que um dos três possa deixar a disputa. É mais provável que o ingresso de um quarto candidato de oposição. José Serra, no caso.
As oposições trabalham com a perspectiva de desejo de mudança por parte do eleitorado, expectativa reforçada com as grandes manifestações de junho. A tendência do eleitorado, em casos de reeleição, em geral é pela manutenção do status quo. E depois do susto de provocado pela perda de 30 pontos nas pesquisas, Dilma paulatinamente recupera terreno.
Como reconhece o próprio Siqueira, "quem quer a mudança tem que saber por que quer, para que quer e como vai fazer para mudar. Se não se demonstrar competência nessa situação, a mudança não acontece, por mais que as condições do ambiente político sejam potencialmente favoráveis, como são agora". Ou seja, uma operação que requer protagonismo político eficiente e determinado.
Fonte: Valor Econômico