O Globo
Setores militares que pensavam em controlar
Bolsonaro, um capitão de passado questionável, acabaram controlados por ele.
A campanha presidencial de Bolsonaro em
2018, que a princípio parecia um exotismo sem maiores consequências, fazia
parte de uma estratégia de militares da ativa e da reserva para a retomada do
poder pelo voto.
Bolsonaro convenceu esse grupo, que tinha
no General Villas Boas, então comandante do Exército, o articulador principal.
O núcleo militar reunia-se em um escritório em Brasília, e dava apoio técnico e
estratégico à campanha, sob a articulação do General Augusto Heleno. Esse
núcleo militar considerava que Bolsonaro era o único capaz de derrotar o PT,
aproveitando que o então ex-presidente Lula estava na prisão.
Os encontros de Bolsonaro com seus
seguidores, em todos os aeroportos em que chegava nas viagens de campanha,
viralizaram pouco a pouco na internet, e de ações orquestradas com o
recrutamento de militares de escalões inferiores transformaram-se em eventos
espontâneos. Na aparência a estratégia deu certo, pois Bolsonaro foi eleito, e
colocou militares em postos chave.
Ao agradecer de público ao General Villas Boas, dizendo, com a sutileza que o caracteriza, que jamais revelaria o que conversaram, Bolsonaro deixou explícita a ajuda que recebera do militar, um ícone entre os seus. “Ele é incontrolável”, disse-me certa vez o próprio General Villas Boas, entre risos, justificando certos comportamentos de Bolsonaro ainda na campanha.