quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Opinião do dia: Rubens Bueno

Quando há mensaleiro e criminoso ligado ao PT, é tratado pelo partido como herói. Quando há gente séria no país, como o juiz Sérgio Moro, o que o PT faz? Desqualifica um juiz para manter a sua sanha de continuar no poder a qualquer preço. É um terrorismo que o PT tenta fazer com a Justiça como fez na época do mensalão com o Supremo Tribunal Federal.

Rubens Bueno, deputado federal (PR) e líder do PPS na Câmara, em entrevista, Brasília, 15 de outubro de 2014.

Disputa fica estável apesar de agressões

• Apoio de Marina a Aécio e troca de acusações entre ele e Dilma não alteraram intenção de voto

Sérgio Roxo e Júnia Gama – O Globo

SÃO PAULO e BRASÍLIA - Depois de dez dias de segundo turno, marcados por anúncios de apoio e uma intensa troca de acusações entre os candidatos - com destaque para as denúncias de corrupção na Petrobras contra a presidente Dilma Rousseff (PT) e a tentativa de desconstrução da gestão de Aécio Neves no governo de Minas -, pesquisas de intenção de voto divulgadas ontem mostraram cenário de estabilidade na disputa presidencial.

Tanto o Ibope quanto o Datafolha apontaram queda de um ponto percentual para cada um dos candidatos. Assim, a vantagem numérica do tucano de dois pontos, dentro da margem de erro, se manteve em relação aos levantamentos dos dois institutos divulgados na quinta-feira da semana passada. Há também números que sugerem consolidação do voto nos dois presidenciáveis e aproximação no índice de rejeição. Nenhuma pesquisa, portanto, captou tendência de mudança nos últimos sete dias.

As duas pesquisas trazem Aécio com 45% das intenções de voto e Dilma, com 43%, se considerado o total de votos. Na semana passada, o tucano aparecia com 46%, e a petista, com 44%. Quando são levados em conta apenas os votos válidos, sem os eleitores que estão indecisos e os que pretendem votar em branco ou nulo, o candidato do PSDB soma 51%, e Dilma, 49%, mesma pontuação dos levantamentos anteriores.

As duas pesquisas foram realizadas após o anúncio de apoio a Aécio por parte de Marina e de Renata Campos, viúva do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos. O Datafolha ainda conseguiu captar parte da repercussão do primeiro debate do segundo turno, realizado na noite de terça-feira pela TV Band.

O Datafolha também apurou o grau de convicção do voto do eleitor. De acordo com a pesquisa, Aécio e Dilma empatam nesse critério, com 42% dos eleitores de cada um deles declarando ter certeza da opção. Há 18% que dizem talvez votar no tucano (contra 22% na semana passada). Na petista, esse grupo representa agora 15% (era 14% na pesquisa anterior).

A rejeição aos dois candidatos também se aproximou, segundo os dois institutos. Para o Datafolha, o total dos que dizem não votar em Aécio de jeito nenhum passou de 34% para 38%. Os que rejeitam Dilma eram 43% e agora, 42%. Já o Ibope mostra queda na rejeição à petista de 41% para 36% e crescimento na do tucano de 33% para 35%.

Desconfiança tucana e alívio petista
O resultado das pesquisas foi recebido com desconfiança pela campanha tucana e com alívio pelos petistas. Aliados de Aécio acreditam que os apoios declarados nos últimos dias, de Marina Silva e da família do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, falecido em agosto, ainda não tiveram efeito sobre as intenções de voto dos eleitores. Já os petistas comemoram, uma vez que os fatos positivos para Aécio não parecem ter influenciado os resultados.

Integrante da campanha de Aécio, o deputado Duarte Nogueira (PSDB-SP) diz acreditar que a mais recente pesquisa não teria captado ainda os efeitos do apoio de Marina e da família do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, declarados no último fim de semana. O deputado diz que o PT está usando uma estratégia agressiva porque está "desesperado" e que, mesmo assim, Aécio se mantém estável nas pesquisas. Duarte lembra, porém, que é preciso usar "sandálias da humildade" e evitar euforia de vitória antecipada.

- As pesquisas não captam o ato reflexivo do eleitor na reta final. A pesquisa que antecedeu a eleição mostrou isso claramente. Aécio vai crescer muito mais porque tem a seu lado o eleitor indignado com a corrupção, a inflação, o país que não cresce - afirmou.

O presidente do PSDB de Minas Gerais, deputado Marcus Pestana, afirma que, apesar da campanha de "vale-tudo", segundo ele feita pelo PT, Aécio irá subir nos próximos levantamentos. Ele destaca que a campanha tucana continuará investindo em temas para polarizar contra o PT, como mudança na forma de fazer política, situação da economia, corrupção, em particular na Petrobras, gestão e liderança para executar reformas necessárias.

- Acho que os institutos estão com uma postura conservadora de não apostar em viés de decisão, mas temos notícia de uma situação mais favorável para o Aécio. Tivemos uma semana ainda não totalmente drenada pela sociedade, com o anúncio de apoio de Marina e da família Campos, o PSB, que ainda vai produzir um efeito grande. E teve uma pancadaria do PT em cima do Aécio, uma campanha extremamente radical, raivosa, mostra que eles sabem que estão muito atrás - pontuou Pestana.

Dilma não falou tudo ainda, diz petista
O líder do PT na Câmara, deputado Vicentinho (SP), afirmou que o resultado da pesquisa traz alívio para os petistas, que tinham uma expectativa de que os recentes anúncios de apoio a Aécio tivessem uma repercussão já neste levantamento. O deputado dá o tom de que o PT deverá continuar partindo para o ataque contra o tucano.

- Esta eleição vai se definindo a cada momento, a recomendação à militância é trabalhar até o último minuto a eleição da Dilma. Os dados trazem um alívio, pelo que se ouvia dizer por aí parecia que Aécio estava com 70, e Dilma com 30. Se está empatado, então é bom. Mostra que tem gente do PSB e da Marina se dividindo. Aécio está usando a mesma postura da Marina, tentando se colocar como vítima, e isso é ruim para ele. O povo não é bobo, o que a presidente Dilma fala tem comprovação, documentos, e o debate serve para isso. E ela não falou tudo ainda! - ameaça o petista.

O senador Humberto Costa, líder do PT no Senado, também comemorou o resultado. Para Costa, o acúmulo de fatos positivos ocorridos nos últimos dias para Aécio (com o anúncio de apoios) e os fatos negativos para Dilma (com mais denúncias de corrupção na Petrobras) poderiam ter produzido uma vantagem para o tucano, o que acabou não ocorrendo neste último levantamento:

- Achei excelente o resultado, pode até ser estranho, mas, ao longo da última semana, Aécio só acumulou fatos positivos e nós, alguns negativos. Tudo que aconteceu semana passada foi favorável a ele. E mais: a rejeição dele cresceu. Acho que, após o debate de ontem, a tendência é a gente abrir vantagem - disse.

Aécio mantém 51% das intenções de voto, ante 49% de Dilma, diz Datafolha

Ricardo Mendonça – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - A 11 dias do segundo turno, a disputa pela Presidência da República continua extremamente acirrada, mostra pesquisa Datafolha feita na terça-feira (14) e nesta quarta (15). O senador Aécio Neves(PSDB) tem 51% dos votos válidos, a presidenteDilma Rousseff (PT) alcança 49%.

É um empate técnico, com exatamente os mesmos percentuais de voto válido da primeira pesquisa Datafolha do segundo turno, feita nos dias 8 e 9 deste mês. Nos dois casos, a margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos.

Em votos totais, Aécio tem 45%; Dilma, 43%. Na rodada anterior, cada um tinha um ponto percentual a mais. Os eleitores dispostos a votar nulo ou em branco oscilaram de 4% para 6%. Os indecisos continuam sendo 6%.

O instituto investigou ainda o grau de decisão dos eleitores. Aécio e Dilma também estão empatados na taxa de convicção: 42% afirmam intenção de votar nele "com certeza", o mesmo valor para Dilma.

Há 18% que "talvez" possam votar no tucano (eram 22% na pesquisa anterior) ante 15% para Dilma (eram 14%). Já os que não votam em Aécio "de jeito nenhum" são 38% agora (eram 34% no dia 9), enquanto 42% rejeitam votar em Dilma (eram 43%).

O Datafolha ouviu 9.081 eleitores em 366 municípios. O nível de confiança do levantamento é 95% (em 100 pesquisas com a mesma metodologia, os resultados estarão dentro da margem de erro em 95 ocasiões). O registro do estudo no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) é BR 01098/2014.




Números parecidos escondem eleitorados cada vez mais diferentes

Jose Roberto de Toledo – O Estado de S. Paulo

A divisão do eleitorado vai além dos 51% para Aécio Neves (PSDB) a 49% de Dilma Rousseff (PT). É a oposição Nordeste versus São Paulo, dos centros ricos das metrópoles versus suas periferias, dos contrários ao Bolsa Família versus os beneficiários do programa. Desde 2006 que essa divisão é visível no mapa do Brasil. Em 2014, a polarização está mais forte. Virou cisão.

Quanto mais diferentes se tornam seus respectivos eleitorados, mais parecidos ficam os números dos candidatos a presidente. Aécio e Dilma estão tecnicamente empatados em intenção de voto, e há uma convergência tanto das suas taxas de rejeição (a de Aécio cresce e se aproxima da de Dilma) quanto dos seu potencial de voto. Tudo aponta para a disputa mais apertada da história. E a mais tardia também, com muitos eleitores decidindo só na urna.

O fato de Aécio aparecer em quatro pesquisas com dois pontos a mais do que Dilma é uma arma psicológica para o tucano. Mas três fatores podem acabar ajudando a presidente na reta final.

1) Apesar de todos os apoios ao tucano – como os de Marina Silva e da família de Eduardo Campos -, Aécio não cresceu. É sinal de que a campanha negativa é o que pesa no segundo turno. Aécio tinha passado incólume até agora, com as baterias petistas voltadas a Marina no primeiro turno. Agora ele é o único alvo.

2) A avaliação do governo Dilma está melhorando: seu saldo positivo chegou a 18 pontos no Ibope e a 19 pontos no Datafolha.

3) No segundo turno, há menos votos nulos, porque há menos erro do eleitor na hora de votar. Os erros foram maiores nas regiões onde Dilma teve mais votos no primeiro turno. Se não se repetirem no dia 26, Dilma pode crescer ainda mais nessas áreas.

O PT às voltas com a Justiça – O Estado de S. Paulo / Editorial

A esta altura dos acontecimentos, diante das devastadoras evidências que se tornaram de conhecimento público, talvez nem o mais fanático dos petistas tenha dúvida de que a bandalheira rolou solta na Petrobrás. São evidências tão robustas que é inútil tentar negá-las.

Por essa razão, nem Dilma Rousseff nem o PT se atrevem a fazê-lo. Mas procuram minimizar os efeitos eleitorais do escândalo apelando para jogo de cena, deliberada confusão de informações e outras manobras diversionistas. Não contestam as acusações, mas o fato de terem sido divulgadas. E por esse crime de que se dizem vítimas, culpam a Justiça.

À frente de um grupo de deputados petistas que chegaram pisando duro, o presidente do partido, Rui Falcão, protocolou na Procuradoria-Geral da República e no Supremo Tribunal Federal (STF) pedidos de acesso à integra da delação premiada do ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa. Argumentam que conhecer o inteiro teor dessas declarações é indispensável para que o partido possa "fazer o exercício mínimo do contraditório".

Mero pretexto, já que o verdadeiro objetivo da iniciativa é desviar a atenção do escândalo, fazendo pesadas acusações contra o juiz Sérgio Moro, da 13.ª Vara da Justiça Federal do Paraná, responsável pela condução dos processos decorrentes da Operação Lava Jato. Sem citar o magistrado, o PT denuncia como violação da lei o fato de aquele juiz ter permitido, com motivação política, em pleno processo eleitoral, o vazamento de depoimentos sigilosos.

"Esta divulgação", afirmam os petistas, "é uma forma transversa de violar o sigilo da colaboração premiada" e significa "divulgação irresponsável de declarações graves e levianas desacompanhadas até agora de qualquer prova". Com isso, o argumento do PT escamoteia o fato de que Paulo Roberto Costa já obteve o benefício do abrandamento da pena, o que indica que cumpriu o acordo de apresentar provas de suas acusações.

Mas o que, de fato, importa é que as acusações contra Moro não têm o menor fundamento. Uma coisa são as dez ações penais resultantes da Lava Jato que correm na 13.ª Vara da Justiça Federal do Paraná. São processos públicos a que qualquer pessoa pode ter acesso, inclusive às audiências. Outra coisa são os depoimentos prestados por Paulo Roberto Costa no processo decorrente de acordo de delação premiada, que se desenvolve em segredo de Justiça, sob supervisão do STF.

Daí que classificar de vazamento a divulgação legítima dos depoimentos e atribuir dolo ao comportamento do juiz Sérgio Moro só pode ser produto de má-fé.

Moro é conhecido e respeitado pelo rigor com que trabalha e que demonstrou ao assessorar a ministra Rosa Webber no julgamento do mensalão. As acusações de que foi alvo por parte dos petistas foram veementemente repudiadas, em nota oficial conjunta, pela Associação dos Juízes Federais (Ajufe) e pela Associação Paranaense dos Juízes Federais.

A atitude do PT, decidida em articulação com o comando da campanha reeleitoral de Dilma, da qual Rui Falcão é o coordenador-geral, é a repetição do mesmo desrespeito ao Poder Judiciário que o partido demonstrou quando assacou aleivosias contra outro magistrado, o ministro e depois presidente do STF Joaquim Barbosa, durante e após o julgamento do mensalão. É como o lulopetismo, que se considera dono do Estado, trata a Justiça e seus agentes sempre que sente seus próprios interesses contrariados.

Esse lamentável episódio demonstra também muito claramente o que é a "guerra sem trégua" à corrupção na qual a presidente Dilma Rousseff e o PT se declaram empenhados. Em todas as suas manifestações públicas nas últimas semanas, a candidata em campanha não deixou passar nenhuma oportunidade para se declarar "a pessoa mais empenhada do País na rigorosa punição de corruptos e corruptores".

A medida da seriedade com que os donos do poder tratam as denúncias de corrupção na Petrobrás está expressa na debochada manifestação de Lula, dias atrás, quando confrontado com o assunto: "Estou com o saco cheio disso".

PF vê ligação de tesoureiro do PT com propina em fundo da Petrobrás

• Suspeita é de que tesoureiro do PT intermediou mau negócio fechado por diretores com doleiro

Ricardo Brandt - O Estado de S. Paulo

A Polícia Federal acredita ter conseguido fechar o ciclo de uma transação que teria envolvido o pagamento de propina de R$ 500 mil a dois diretores do fundo de pensão dos funcionários da Petrobrás, feito com empresas do ex-deputado federal José Janene (PP-PR), morto em 2010, e do doleiro Alberto Youssef - um dos alvos centrais da Operação Lava Jato - e que causou prejuízo de R$ 13 milhões ao órgão.

No computador de Youssef, há uma pasta com 12 arquivos referentes aos negócios do doleiro com a Petros.

O negócio teria sido intermediado, segundo suspeita a PF, pelo tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e tratado diretamente com dois diretores da Petros - indicações petistas, entre eles o ex-presidente do fundo Luiz Carlos Fernandes Afonso (2011-2014).

A PF registra a possível interferência de um político não identificado "de grande influência na casa" na liberação de um seguro, em órgão do Ministério da Fazenda, que era condicionante para a transação.

"Esse recurso foi desviado para pagamento de propina para funcionários da Petros", afirmou Carlos Alberto Pereira da Costa, advogado que, segundo a PF, atuava como testa de ferro de Alberto Youssef.

Costa tinha em seu nome pelo menos duas empresas usadas pelo doleiro, uma delas envolvidas nessa transação com a Petros, a CSA Project Finance. Ele afirmou ao juiz Sérgio Moro que na operação foi retirada uma propina de R$ 500 mil que serviu para pagar os dois diretores da Petros.

Citados. Os diretores são petistas e já citados em outros dois escândalos, segundo registra a PF. "As negociações eram realizadas pelo lado da Petros pelo senhor Humberto Pires Grault Vianna de Lima, gerente de novos projetos da Petros, e pelo senhor Luis Carlos Fernandes Afonso, diretor financeiro e de investimentos."

Afonso foi nomeado diretor em 2003 e depois nomeado presidente da Petros, em 2011, cargo que ocupou até fevereiro de 2014. Lima era diretor de Novos Projetos e foi nomeado diretor de investimento da Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal (Funpresp).

O ex-presidente da Petros foi condenado em primeiro grau por improbidade sob a acusação de ter cobrado 'pedágio' de uma fundação para que ela ganhasse um contrato na Prefeitura de São Paulo, em 2003. Na época, ele era secretário de Finanças do governo Marta Suplicy (PT). A condenação é de 2012 e está em fase de recurso.

Ferro velho. A transação na Petros envolveu a compra de título de crédito emitido por uma empresa falida que havia sido adquirida por Janene e por Youssef. A Indústria de Metais Vale (IMV) foi criada para reciclar ferro velho e vender o material para siderúrgicas, mas estava parada. Ela foi registrada em nome do advogado Carlos Alberto Pereira da Costa, réu da Lava Jato.

Com a empresa falida, o grupo aportou nela R$ 4 milhões em 2007 e firmou contrato com a CSA Project Finance, que é do doleiro e está em nome de Costa também - para que essa fizesse um projeto de recuperação e captasse recursos antecipados. Para isso, fechou um contrato de venda com recebimento antecipado de uma grande siderúrgica nacional. "Com o objeto de antecipar recebíveis oriundos de um contrato de compra e venda de ferro gusa (sucata), celebra entre a IMV e a Barra Mansa, assim adquirindo investimento necessário para a instalação de uma planta industrial, a IMV emitiu Cédula de Crédito Bancário, no montante total de R$ 13.952.055,11", diz a PF.

Os termos da cédula de crédito estão no HD do computador de Youssef. Com o título de crédito emitido pelo Banco Banif Primus, o grupo, via CSA e coligados, passou a tratar com os diretores da Petros a compra pelo fundo de pensão.

Documento apreendido pela Lava Jato com o grupo mostra que eles teriam sido recebidos na Petros pelo então diretor, que depois virou presidente.

Vaccari é suspeito de ser o intermediador dos negócios do grupo com a Petros. No capítulo sobre a compra do título de crédito da empresa IMV há um histórico sobre suas relações com o partido. Seu nome foi citado na confissão dos réus como elo de pagamentos de propinas em outras áreas e especificamente na Petros em um e-mail interceptado entre os alvos da Lava Jato.

TCU vê irregularidades em mais uma obra da Petrobras

• Contratos de r$ 7,6 bilhões sem licitação foram firmados durante gestão de Paulo Roberto Costa na Petrobras

Eduardo Bresciani – O Globo

BRASÍLIA - Auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) encontrou indícios de irregularidades em contratos sem licitação no valor de US$ 7,6 bilhões para a realização de parte das obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), da Petrobras. Segundo o relatório do ministro José Jorge, os acordos foram firmados durante a gestão de Paulo Roberto Costa na diretoria de Abastecimento da Petrobras.

Em voto apresentado ontem no plenário do TCU, o ministro questionou a compra de equipamentos que não serão usados devido a mudanças no projeto original, e os aditivos de R$ 1,5 bilhão incluídos no contrato pelo fato de as empreiteiras estarem esperando equipamentos que não chegaram ao Comperj por falta de vias de acesso que suportem o peso.

Custo multiplicado
O ministro destaca ainda que há números divergentes dentro da própria Petrobras sobre o custo do complexo. A previsão inicial era de US$ 6,1 bilhões. Mudanças no projeto já levaram a companhia a ampliar o orçamento para US$ 30,5 bilhões. Um documento da área de Estratégia Corporativa da própria empresa estima em US$ 47,7 bilhões.

José Jorge quer explicações da Petrobras sobre os indícios de irregularidades, e que haja uma fiscalização específica sobre um contrato de US$ 3,8 bilhões, também feito sem licitação, com empresas citadas na Operação Lava-Jato. Um pedido de vista do ministro Bruno Dantas adiou a decisão.

O Comperj foi concebido inicialmente como uma petroquímica a ser construída em parceria com a Braskem, empresa que tem a Petrobras e a Odebrecht como sócias. Foi alterado posteriormente, passando a incluir também uma refinaria. Por fim, decidiu-se construir inicialmente uma área de refino, seguida de mais uma área totalizando uma capacidade de refino de 465 mil barris de petróleo por dia, além de uma petroquímica independente, a ser levantada no futuro e operada basicamente com gás natural.

A primeira fase, segundo dados da Petrobras, tinha 75% de execução física em julho passado. Ainda não foi firmado qualquer contrato de participação da Braskem no negócio. Segundo o relatório da auditoria do TCU, documentos internos da Petrobras afirmam que o projeto não é viável economicamente da forma como é realizado.

José Jorge observou que somente em agosto de 2012 passaram a ser feitas análises de risco relativas ao Comperj. Foi nesta data que se verificou ser impossível cumprir os prazos previamente estabelecidos.

Antes dessa data, porém, foram assinados os contratos de US$ 7,6 bilhões sem licitação. Dois deles já são objeto de auditoria. O terceiro, de US$ 3,8 bilhões, foi celebrado em dezembro de 2011, na gestão de Costa, para a construção da Central de Utilidades do complexo, que reúne casa de força e estações de tratamento de água e efluentes. O Consórcio TUC Construções, formado por UTC Engenharia, Construtora Norberto Odebrecht e Projeto de Plantas Industriais (PPI), foi contratado sem licitação. PPI foi a empresa que realizou o projeto original dessa central, enquanto as empreiteiras foram citadas por supostamente pagar propinas a Costa dentro do esquema de corrupção na companhia.

- A questão que considerei mais grave foi a verificação desses contratos de US$ 7,6 bilhões sem licitação, e justamente na diretoria de Abastecimento na época de atuação do diretor Paulo Roberto Costa, que está sub judice. Por isso, precisamos investigar se há superfaturamento nesses contratos - disse o relator.

Pagamento pode ser suspenso
Durante a sessão, o ministro substituto André Luís de Carvalho sugeriu que fossem suspensos, de forma cautelar, os pagamentos relativos ao contrato de US$ 3,8 bilhões até que se investiguem as irregularidades. José Jorge ficou de avaliar a medida. Ele observou que, na licitação para outras obras do Comperj, a Petrobras conseguiu um deságio médio de 14,27%. Por isso, em sua visão, é preciso verificar se não houve sobrepreço na celebração dos contratos sem licitação, ainda mais verificando que os prazos não foram cumpridos. A Petrobras não respondeu os questionamentos, enquanto a UTC, empresa que lidera o consórcio, não quis se manifestar.

PSB intensificará ajuda a Aécio, diz Beto Albuquerque

Ana Fernandes e Elizabeth Lopes – O Estado de S. Paulo

O deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), que foi vice na chapa presidencial de Marina Silva e um dos principais articuladores para o apoio da legenda ao tucano Aécio Neves, disse nesta quarta-feira, 15, ao Broadcast Político, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, que PSB e PSDB vão intensificar a troca de informações sobre agenda para potencializar a campanha de segundo turno. "Estamos trocando informações de agenda e onde o PSB puder vai ajudar na coordenação da campanha de Aécio."

Beto explicou, no entanto, que, nesse ponto já adiantado do segundo turno esse trabalho conjunto entre as legendas será mais "informal" e que a estrutura como a montada em Pernambuco não deve se replicar em outros Estados.

Na terra de Eduardo Campos, o governador eleito em primeiro turno, Paulo Câmara (PSB), e o prefeito de Recife, Geraldo Julio, do mesmo partido, passaram a coordenar a campanha de Aécio. Segundo Beto, a situação em Pernambuco foi peculiar por causa da relação com a família de Campos.

 Mas o deputado disse que se empenhará pessoalmente na campanha de Aécio e do candidato a governador no Rio Grande do Sul José Ivo Sartori (PMDB). "Aécio vai conquistar uma votação expressiva no Sul e também no Sudeste. Essa estratégia do PT de bater na votação em Minas vai se voltar contra eles nas urnas."

O deputado, que integra também a Executiva Nacional do PSB, voltou a comentar o mal-estar com o antigo presidente nacional da legenda, Roberto Amaral. Após ser afastado da presidência, Amaral declarou apoio individual a Dilma Rousseff (PT), contrariando a decisão do partido. "O Amaral está criando todas as condições para sair do PSB, mas nós não vamos expulsá-lo."

Beto avaliou que a situação da deputada Luiza Erundina, que era da Executiva Nacional do PSB e deixou o posto por não concordar com o apoio a Aécio, é diferente. "A Erundina discorda, mas respeita a decisão do partido. Ela não tem uma postura totalitária", afirmou Beto.

O deputado, assim como outros quadros do PSB, participa de evento de campanha que reúne milhares de pessoas na zona norte da capital paulista.

Campanha de Aécio será em grandes centros de PE, diz Câmara

• Eleito governador do Estado, Paulo Câmara (PSB) espera transferir votos de Marina para Aécio nas regiões mais populosas de Pernambuco

Erich Decat e Irany Tereza - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Com o maior porcentual de votos assegurados no primeiro turno (68%) entre os candidatos aos governos estaduais, o governador eleito de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), acredita que o grupo político de Eduardo Campos conseguirá migrar os votos conquistados no Estado para a candidatura presidencial de Aécio Neves (PSDB). Câmara, inclusive, acredita que deve haver migração de votos de Marina para Aécio em todo o Nordeste.

Em entrevista ao Broadcast Ao Vivo, serviço em tempo real da Agência Estado, Câmara ressaltou que a estratégia será concentrar atos políticos nos grandes centros urbanos, onde Marina Silva (PSB), derrotada no primeiro turno da disputa presidencial, conquistou a maior parte dos votos. No Estado de Pernambuco, Marina foi a primeira colocada, com 48% dos votos, contra 44% da presidente Dilma Rousseff (PT) e 5,9% do tucano.

"A campanha de Aécio em Pernambuco será concentrada nos grandes centro urbanos. Tivemos expressivas votações com a Marina na região metropolitana, na Zona da Mata, nos grandes centro urbanos, nas maiores cidades dos Estados. Nossa campanha está concentrada nesse seguimento, onde houve uma maior aceitação de Marina. Isso será feito com presença na rua. Também estamos fazendo entrevista em rádios e conversando com lideranças políticas", ressaltou.

Segundo ele, outros líderes locais próximos ao ex-governador Eduardo Campos, que morreu em agosto em um acidente aéreo em São Paulo, também deverão fazer corpo a corpo. Entre eles, o prefeito de Recife, Geraldo Júlio (PSB) e o senador eleito Fernando Bezerra (PSB). A expectativa é que cerca de 130 prefeitos também façam parte da campanha em a favor dos tucanos. Quanto à participação da viúva de Eduardo Campos, o governador eleito ressaltou que deverá ser mais restrita, após a declaração de apoio à Aécio feita por ela.

"Ela já deu a declaração de apoio Aécio. Ela não deve participar de eventos de Aécio porque está tendo as atribuições de mãe. Deve fazer uma militância mais em casa, participando como já participou, dando as declarações necessárias. E os meninos (filhos de Campos) estão participando. Estão militantes e pedindo voto para Aécio", disse Câmara.

Alçado à vice-presidência nacional do PSB na segunda-feira, 13, Paulo Câmara afirma que a adesão à campanha presidencial do PSDB não passou por discussão sobre cargos num futuro governo dos tucanos, mas considerou como natural um possível convite aos quadros da legenda. "O PSB não apoiou Aécio pensando em cargos, mas a participação não está descartada. É natural do processo político".

Evento de Aécio em São Paulo reúne prefeitos de 16 partidos

• No ato, que contou com a presença de filiados a siglas da base aliada da presidente, havia até um prefeito do PT

Elizabeth Lopes, Ana Fernandes e Ricardo Chapola - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - O ato político realizado em torno da candidatura do senador Aécio Neves (PSDB) à Presidência da República nesta quarta-feira, 15, em São Paulo, reuniu prefeitos e apoiadores de 16 partidos, incluindo legendas que estão na base aliada da adversária neste segundo turno da presidente e candidata à reeleição pelo PT, Dilma Rousseff.

Segundo Edson Aparecido, que foi coordenador-geral da campanha de reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB), vitorioso no primeiro turno, e agora atua na campanha de Aécio, alguns dos partidos da base do governo Dilma que estiveram no ato em São Paulo, são: PR, PP, PSD, PMDB e PDT. No evento, havia ainda a presença de um prefeito do PT.

"Reunimos cerca de 500 prefeitos, do nosso partido, do PSB, como o de Campinas (SP), Jonas Donizette, e do PPS, dentre outros", destacou Aparecido. Ele avaliou como muito positivo o evento e disse estar confiante na vitória de Aécio neste segundo turno. Outra liderança do PSB, deputado Beto Albuquerque, que foi vice na chapa presidencial de Marina Silva e um dos principais articuladores para o apoio da legenda ao tucano, disse que seu partido e o PSDB vão intensificar a troca de informações sobre agenda para potencializar a campanha de segundo turno. "Estamos trocando informações de agenda e onde o PSB puder vai ajudar na coordenação da campanha de Aécio."

Na terra do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, o governador eleito em primeiro turno, Paulo Câmara (PSB), e o prefeito do Recife, Geraldo Julio, do mesmo partido, passaram a coordenar a campanha de Aécio. Segundo Beto, a situação em Pernambuco foi peculiar por causa da relação com a família de Campos. Mas o deputado disse que se empenhará pessoalmente na campanha de Aécio e do candidato a governador no Rio Grande do Sul José Ivo Sartori (PMDB). "Aécio vai conquistar uma votação expressiva no Sul e também no Sudeste. Essa estratégia do PT de bater na votação em Minas vai se voltar contra eles nas urnas."

Dois presidenciáveis que disputaram o primeiro turno deste pleito contra Aécio também estavam no ato desta quarta em São Paulo, que reuniu milhares de pessoas, José Maria Eymael (PSDC) e Levy Fidelix (PRTB). Questionado se a polêmica em que se envolveu ao fazer declarações consideradas homofóbicas pela comunidade LGBT, em debates do primeiro turno, poderia prejudicar a relação de apoio com PSDB, Levy disse que não. "Não fui candidato de uma pauta só, eu discuti a redução de impostos, a questão dos juros bancários. Essa história (de atrito com a comunidade LGBT) foi um ponto fora da curva, um acidente de percurso", afirmou, destacando que Aécio representa a "mudança de verdade" e que por isso tem recebido apoio de forças distintas. O evento realizado em um clube na zona norte de São Paulo reuniu também tradicionais aliados de Aécio.

Aécio diz que Dilma tem que sair do ‘gueto da calúnia’

• Tucano rebate as críticas da petista sobre sua gestão em Minas, e diz que é preciso ‘discutir o Brasil’

Silvia Amorim – O Globo

SÃO PAULO — Ao reagir à estratégia da presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) de criticar sua gestão em Minas Gerais, o candidato à Presidência da República Aécio Neves (PSDB) disse nesta quarta-feira que a adversária ainda tem, segundo ele, a chance de tirar a campanha dela do “gueto da calúnia”. O tucano participou nesta tarde de um encontro com prefeitos na capital paulista e retomou o discurso de que, se os paulistas derem a ele uma vitória nas urnas no estado, ele vencerá a eleição no país.

— Convido a presidente da República, ainda é tempo, tire a sua campanha do gueto da calúnia e da infâmia que escolheu, talvez influenciada pelo seu marqueteiro — afirmou Aécio, referindo-se a João Santana.

Para rebater às críticas referentes ao período em que foi governador de Minas, o tucano adotou o discurso “vamos discutir o Brasil”. Ele endureceu as críticas contra a campanha petista, acusando-a de pregar o “ódio, rancor e a desconstrução”.

— Foi assim com o Eduardo Campos, Marina Silva e com dois companheiros que estão ao meu lado hoje, Geraldo Alckmin e José Serra. É o modos operandi do PT. Minas Gerais tem a melhor educação fundamental do Brasil.

Aécio contra-atacou às declarações de Dilma no debate na TV realizado ontem à noite sobre o desempenho dele em Minas.

— A presidente conhece muito pouco o estado onde apenas nasceu.

O tucano defendeu que, para o Brasil sair do “buraco”, é preciso que o PT saia do poder.

— Um provérbio antigo me vem sempre a mente nesses tempos de campanha. Dizem que quando você cai num buraco, é o caso do Brasil, a primeira coisa que você tem que fazer é parar de cavar. A primeira coisa que temos que fazer para sair do buraco é tirar o PT do governo.


Para especialistas, eleição será das mais acirradas e polarizadas

• Cientistas políticos dizem que detalhes farão a diferença e que, a menos que surja um fato novo, incerteza sobre o vencedor permanecerá até o final

Mariana Sanches – O Globo

SÁO PAULO - Especialistas ouvidos pelo GLOBO são unânimes em afirmar que, diante de um cenário de empate técnico a 11 dias do segundo turno, a eleição presidencial deste ano se mostra como uma das mais acirradas e polarizadas da História do Brasil. Para eles, a cristalização das intenções de voto indica que nem o apoio de Marina Silva (PSB) ao tucano nem a divulgação das denúncias na Petrobras conseguiram provocar alterações do quadro.

Segundo cientistas políticos, o apoio de Marina e de Renata Campos, viúva de Eduardo Campos, veio tarde demais, e Aécio acabou não angariando nenhum efeito positivo dos anúncios:

- O eleitor de Marina foi mais decidido do que sua candidata e tomou posição já na semana passada, por isso não se vê alteração na pesquisa atual - disse o cientista político Fernando Abrúcio, da Fundação Getúlio Vargas.

A baixa influência de Marina na definição dos votos não surpreende, segundo o analista Carlos Melo, do Insper.

- Não existem mais condutores de votos. Isso só aconteceu em 1989, quando Brizola transferiu todos os seus votos para Lula - afirmou Melo.

Apesar da grande estabilidade do cenário eleitoral, um dado chamou a atenção dos cientistas políticos: a rejeição do candidato Aécio Neves aumentou, apontam os dois institutos. O percentual de eleitores que afirmava não votar no tucano de jeito nenhum passou de 34%, no dia 9, para 38%, de acordo com o Datafolha. Com isso, a taxa de rejeição de Aécio se aproximou à da presidente Dilma. Hoje, 42% dos eleitores se recusam a escolher a candidata. No dia 9, eram 43%, como mostrou o Datafolha.

- Isso sugere que a campanha negativa petista surtiu um efeito no aumento da rejeição do tucano - analisou o cientista político Fernando Antônio de Azevedo, da Universidade Federal de São Carlos, que continuou: - Além disso, Aécio vinha numa trajetória ascendente tanto no primeiro turno como na primeira pesquisa do segundo turno. Agora, ele parou de subir na preferência do eleitor.

Os analistas, no entanto, não arriscam dizer se o uso de uma artilharia constante contra o tucano funcionará a ponto de reverter o cenário atual e derrubar os índices de intenção de voto de Aécio. A mesma tática foi usada contra Marina, e tida pelos especialistas como causa de sua derrota. A estratégia de desconstrução da candidatura funciona bem no curto prazo, segundo eles. Mas há semanas o PT tem adotado a ferramenta.

- O eleitor pode cansar disso porque percebe que só mudou o personagem, mas o teor das críticas é sempre o mesmo. Fica cansativo - afirmou Melo.

Para especialistas, as pesquisas apontam para uma impressionante semelhança tanto nas intenções de voto quanto nas rejeições dos dois candidatos. Isso faz com que a decisão do pleito recaia sobre os cerca de 6% dos eleitores que hoje se declaram indecisos. Nesse contexto, aumenta a importância dos debates televisivos. Serão três até a eleição.

- Em uma eleição tão dividida, os detalhes farão a diferença. E a audiência alta dos debates mostra o interesse dos eleitores pelas discussões dos candidatos - afirmou Azevedo.

Carlos Melo, do Insper, resume o cenário atual. Para ele, se nenhum grande fato novo surgir, o pleito será definido apenas às vésperas da votação, uma situação historicamente incomum na recente democracia brasileira:

- Ficamos acostumados com eleições fáceis. FHC, Lula e Dilma não tiveram dificuldade para vencer, mas não vai ser sempre assim. A eleição atual vai ser decidida por um focinho.

Empate técnico no RJ acende alerta na campanha de Dilma

Luciana Nunes Leal – O Estado de S. Paulo

Pesquisas internas encomendada por partidos aliados tanto da presidente Dilma Rousseff quanto do tucano Aécio Neves indicam empate técnico entre os dois candidatos no Rio de Janeiro e acenderam sinal de alerta na campanha petista. Para tentar frear o crescimento do adversário, Dilma fará duas grandes visitas ao Estado, concentradas em áreas de baixa renda, no próximo sábado e no dia 22 ou 23. Na segunda visita é esperada a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O Rio é o terceiro colégio eleitoral do País, com 12 milhões de votantes. O PT comemorou a vitória de Dilma no Estado, no primeiro turno, com 35,6% dos votos, mas causou preocupação o fato de que a presidente teve a menor votação proporcional de um candidato petista a presidente desde 1998. Pela primeira vez nesse período o eleitorado fluminense deu menos de 40% dos votos ao candidato do PT.

No sábado, 18, Dilma vai a São Gonçalo (região metropolitana), segundo colégio eleitoral do Estado, para uma caminhada com o candidato a governador Marcelo Crivella (PRB). Depois, participa de carreata e de um encontro com prefeitos na zona oeste da capital, ao lado do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), adversário de Crivella no segundo turno. Na véspera, uma grande mobilização pró Dilma e Pezão vai ocupar ruas de bairros carentes e favelas da zona norte, onde a vantagem de Dilma sobre Aécio é pequena.

No dia 22 ou 23, Dilma deve participar com Lula de um comício na Cinelândia. Também estão previstas visitas à Feira de São Cristóvão, da comunidade nordestina, e ao município de Duque de Caxias (Baixada Fluminense).

"Aécio tem captado o sentimento de mudança. Nossa reação será ampliar a vantagem da presidente Dilma nas áreas mais populares e mostrar como as parcerias da União com o Estado e o município do Rio foram importantes para a população", diz o deputado reeleito Pedro Paulo (PMDB-RJ), um dos responsáveis pela mobilização da campanha de reeleição da presidente e do governador Pezão. "O encontro com prefeitos e líderes comunitários será um chamamento para o pessoal ir para a rua na última semana da campanha", diz o deputado.

Segundo pesquisas não registradas encomendadas por partidos, Dilma tem grande vantagem sobre Aécio na região metropolitana, excluída a capital, onde os dois estão em empate técnico. O tucano está na frente com folga no interior.

No primeiro turno, Aécio ficou tem terceiro lugar no Estado, com 26,9%, e a candidata do PSB, Marina Silva, que anunciou apoio ao tucano no segundo turno, chegou em segundo, com 31%. Para os aliados do tucano, boa parte do eleitorado de Marina, em especial de baixa renda, já se decidiu por Aécio.

"Aécio está crescendo no interior e em áreas mais pobres, o que mostra que virou uma onda", comemora o presidente do PMDB-RJ, Jorge Picciani, líder do movimento "Aezão", que prega o voto em Pezão e Aécio. Picciani liderou a dissidência do partido e retirou apoio a Dilma no fim do ano passado, quando o PT-RJ decidiu lançar candidatura própria para o governador. O petista Lindbergh Farias ficou em quarto lugar na disputa, com 10%, e agora apoia Crivella. Parte do PT, porém, aliou-se a Pezão no segundo turno.

Fragmentação acelera fusões de siglas

• Ao todo, 28 legendas saíram das urnas com ao menos um deputado eleito; nove nanicos tentam se unir e PSB e PPS podem virar ‘PS40’

Erich Decat e Nivaldo Souza - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A fragmentação partidária recorde na Câmara dos Deputados gerou uma série de negociações entre as 28 legendas que saíram das urnas no dia 5 com pelo menos um deputado eleito. As conversas envolvem as possibilidades de fusões partidárias, quando dois partidos se juntam para criar uma nova legenda; incorporação, quando uma sigla passa a fazer parte de outra já existente; e a criação de blocos parlamentares.

Em comum, o objetivo de se fortalecerem para a próxima legislatura e, assim, disputar os principais os principais postos, como a Mesa Diretora e as presidências das comissões temáticas. Além disso, para o caso de fusão ou incorporação, o aumento da bancada é acompanhado pelo crescimento do tempo de TV e das cotas do Fundo Partidário.

Nove partidos (PTN,PRP, PSDC, PRTB, PEN, PTdoB, PSL, PMN, PTC e PHS) considerados nanicos e que elegeram cinco ou menos deputados tentam se unir em torno de uma bancada com 24 parlamentares, a 8.º maior da Casa, à frente de legendas tradicionais como DEM (22), PDT (19) e PPS (10).

“As negociações estão superaquecidas. Independentemente do presidente que seja eleito estamos todos negociando”, afirmou ao Estado o presidente do PHS, Eduardo Machado. “É importante para ter força administrativa, ter um papel nas atividades parlamentares. Estando num bloco maior começamos a ter vida política”, afirmou o presidente do PRP, Ovasco Resende. O grupo se reuniu ontem em São Paulo e um novo encontro para bater o martelo será realizado na próxima semana.

Com uma bancada com 25 deputados federais, integrantes do PTB também têm buscado se articular com outras legendas, entre elas o PROS, que caiu de 20 para 11 deputados federais. “Estamos analisando as possibilidades. O PDT e o PHS também sinalizaram para uma conversa conosco”, afirmou o presidente do PTB, Benito Gama.

‘PS40’. Dentre as fusões, o processo mais avançado é a do PSB com o PPS. As conversas começaram antes mesmo de Eduardo Campos lançar sua candidatura a presidente da República, mas foram suspensas depois da morte do ex-governador, em agosto,e retomadas depois da derrota da ex-ministra Marina Silva no primeiro turno da eleição presidencial. Caso venham mesmo a se fundir, formariam a quarta maior bancada da Câmara, com 45 deputados, atrás apenas de PT, PMDB e PSDB. O novo partido poderá manter o nome de PSB ou passar a se chamar PS40.

Outro caso que voltou à tona com os resultados das eleições é a fusão do PSDB com o DEM, cujas chances de ocorrerem são maiores se a presidente Dilma Rousseff (PT) for reeleita. Isso porque o DEM elegeu 22 deputados. Em 1998, quando ainda se chamava PFL, foram 105 eleitos. Junto com o PSDB formariam a maior bancada da Casa, com 76 deputados. “Tudo vai depender do resultado da eleição para o Palácio do Planalto. Mas não dá para termos 28 partidos. É uma fragmentação excessiva”, afirmou o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE).

Se Aécio Neves (PSDB), a expectativa é de que, sendo base aliada, a sigla consiga ganhar força nos próximos anos, o que descartaria a necessidade de união.

Partido maior tem peso menor com coligações

• Sem elas, bancada das principais siglas seria mais ampla na Câmara dos Deputados, segundo mostra o ‘Estadão Dados’

Daniel Bramatti e Rodrigo Burgarelli - O Estado de S. Paulo

A existência de coligações nas eleições para deputado federal - um subproduto do “mercado” do tempo de propaganda na TV - é uma das principais responsáveis pela fragmentação das bancadas partidárias na Câmara dos Deputados, fenômeno que atingiu níveis inéditos na eleição deste ano. Cálculos feitos pelo Estadão Dados mostram que, se as coligações fossem proibidas, o número de partidos com assento na Câmara na próxima legislatura cairia de 28 pra 22.

Além disso, haveria uma ampliação do peso dos maiores partidos. PMDB, PT e PSDB, que elegeram pouco mais de um terço dos deputados, ganhariam nada menos que 84 cadeiras e controlariam 53% da Casa. Dezoito partidos perderiam vagas sem a existência das coligações. O principal beneficiado por essa mudança - já cogitada em discussões sobre reforma política - seria o PMDB: sua bancada cresceria de 66 eleitos para 102. O PT ficariam com 31 representantes a mais, passando de 70 para 101. E o PSDB, em vez de 54 deputados, elegeria 71.

Os números evidenciam que as alianças nas eleições para deputados são sempre um mau negócio para os partidos grandes e uma bênção para os médios e pequenos. O que leva então as maiores legendas a aceitar esse tipo de acordo?

Aí é que entra o fator tempo de televisão. A única forma de candidatos a governador ou presidente ampliarem sua presença no palanque eletrônico é fechar alianças com outros partidos, absorvendo, assim, o tempo de propaganda a que cada sigla tem direito. Como contrapartida, os nanicos costumam exigir que a aliança para o cargo majoritário se reproduza na disputa proporcional.

Isso acontece porque os partidos menores têm dificuldades para atingir o quociente eleitoral, número de votos necessários para ganhar uma vaga na Câmara. Sozinho, um partido só elege um deputado se sua lista de candidatos obtiver o equivalente ao dobro do quociente eleitoral. Em São Paulo, onde o quociente eleitoral foi de 299 mil votos, seriam necessários 600 mil votos para conquistar duas vagas, por exemplo.

A regra das coligações, porém, permite que esse total de votos seja obtido não apenas pelos partidos, mas também por coligações. Assim, tomando novamente o exemplo de São Paulo, uma legenda pode eleger dois representantes mesmo sem alcançar 600 mil votos - basta que sua coligação o faça.

Distorções. Além de contribuir com a fragmentação partidária, as coligações na eleição para deputado também geram distorções na representação da vontade do eleitor. Como é comum que elas sejam feitas sem critérios programáticos ou partidários, alguém pode votar em um partido de esquerda e ajudar a eleger um parlamentar de direita, ou vice-versa. O gráfico ao lado mostra que, em seis Estados, por exemplo, um voto no DEM poderia ter ajudado a eleger um parlamentar do PC do B e vice-versa.

BC: Economia brasileira desacelera em agosto e no ano avança apenas 0,04%,

• No mês, IBC-Br subiu apenas 0,27%. Índice foi divulgado nesta quinta-feira pela autoridade monetária

Gabriela Valente – O Globo

BRASÍLIA - A economia brasileira cresceu 0,27% em agosto, nas contas do Banco Central, resultado muito abaixo do IBC-Br (índice da autoridade monetária que mede a atividade no Brasil) de julho, que havia subido 1,52%. Também foi menor que a previsão dos economistas do mercado financeiro, que era de alta de cerca de 0,5%. No ano, crescimento registrado pelo BC é de apenas 0,04%. Em 12 meses, o IBC-Br avança 0,93%. Os dados foram divulgados nesta quinta-feira pela autarquia.

Em agosto, as vendas do comércio voltaram a crescer. O varejo restrito (que não leva em consideração as atividades de veículos e motos, partes e peças e de material de construção) cresceu 1,1% no mês, já descontados os efeitos sazonais, segundo Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) divulgada ontem pelo IBGE. Essa alta foi puxada pelas vendas de equipamentos e material para escritório, informática e comunicação e de tecidos, vestuário e calçados.

No entanto, esse resultado não foi suficiente para repor a queda dos dois meses anteriores. Por isso, as apostas continuam de moderação do consumo das famílias ao longo de 2014.

O IBGE também mostrou que a indústria registrou um aumento da sua produção de 0,7% no período. O resultado positivo foi causado por 14 dos 24 segmentos pesquisados. Os destaques foram o crescimento da indústria extrativa e setor de máquinas e equipamentos.

O crescimento da indústria e do comércio são os dois fatores são os que mais influenciam o “PIB (Produto Interno Bruto) do BC. O IBC-Br foi criado pelo Banco Central para ser uma referência do comportamento da atividade econômica que sirva para orientar a política de controle da inflação pelo Comitê de Política Monetária (Copom), uma vez que o dado oficial do PIB é divulgado pelo IBGE com defasagem.

Entenda as diferenças do cálculo oficial do PIB
Tanto o IBC-Br quanto o Produto Interno Bruto (PIB) são indicadores que medem a atividade econômica, mas têm diferenças na metodologia. O indicador do BC leva em conta trajetória de variáveis consideradas como bons indicadores para o desempenho dos setores da economia (indústria, agropecuária e serviços).

Já o PIB é calculado pelo IBGE a partir da soma dos bens e serviços produzidos na economia. Pelo lado da produção, considera-se a agropecuária, a indústria, os serviços, além dos impostos. Já pelo lado da demanda, são computados dados do consumo das famílias, consumo do governo e investimentos, além de exportações e importações.

O IBC-Br não pode ser considerado uma prévia do PIB porque o dado oficial é muito mais complexo. É o que os economistas chamam de proxy, uma aproximação. As divergências com o número do IBGE refletem-se nos números. O número costumava a ter resultados próximos ao dado oficial, mas tem apresentado resultados descolados por causa das diferenças metodológicas.

Economistas apontam, no entanto, que o IBC-Br indica a tendência da atividade econômica, o que ajuda a dar uma avaliação geral do PIB.

País encolheu no segundo trimestre
Pelo cálculo oficial, a economia brasileira registrou recuo de 0,6% no segundo trimestre, na comparação com os três primeiros meses do ano, informou o IBGE no fim de agosto. Em relação ao segundo trimestre do ano passado, o recuo foi de 0,9%.

No primeiro trimestre, o desempenho foi revisado de avanço de 0,2% para recuo de 0,2%, o que caracterizou um quadro classificado pelos economistas como recessão técnica. O IBGE, porém, é cauteloso ao comentar o assunto e diz que só considera avanço ou contrações a partir de 0,5%.

A última vez que o Brasil registrou uma recessão técnica foi no quarto trimestre de 2008 e no primeiro de 2009 na esteira da crise internacional. A economia registrou recuo de 4,2% e de 1,7% respectivamente, na comparação com o trimestre anterior. Apesar de mais forte, ela foi rápida e no segundo trimestre de 2009, o PIB já crescia 1,9%.

Luiz Eduardo Soares - Conversa de segundo turno

• Ao ver que não vou votar em Dilma, meus interlocutores petistas proclamam o diagnóstico letal: "Você não passa de um neoliberal"

- Folha de S. Paulo

Tenho amigos e interlocutores no PT. Os amigos respeitam e calam. Os outros me pedem calma. Acham que estou reagindo com o fígado, por mágoa. Digo a eles que não é mágoa, é indignação. Balançam a cabeça, condescendentes. Ainda têm esperança em minha conversão. Cada voto vale a paciência dos militantes.

Sei que essa indulgência com minha rebeldia tem prazo de validade. Assim que desistirem, empurram-me ao inferno sem piedade.

Quando digo que Marina Silva foi caluniada pelo PT da forma mais torpe, atribuem a selvageria ao marqueteiro. Se reajo cobrando responsabilidades, transferem-na à natureza aguerrida da eleição. Quando afirmo que o governo federal endossou a repressão criminosa aos protestos, vacilam, mas apontam para o futuro: o segundo mandato será melhor.

Se questiono o otimismo, lembrando a proposta da candidata de que as Forças Armadas participarão dos comandos locais da segurança, hesitam, mas justificam: isso é retórica eleitoral, o que vale é a prática. Quando digo que a prática tem sido lamentável, voltam a acenar com um futuro diferente.

Ao afirmar que a desigualdade parou de diminuir, respondem com a crise internacional e a estabilização do emprego. Contestam e dizem que estou hipnotizado pelo discurso terrorista da mídia se digo que o pleno emprego cederá ante a estagflação. Se acuso a regressão na área ambiental, mudam de assunto.

Se aponto a cumplicidade com ameaças a indígenas e seus territórios, atribuem os recuos à garantia da governabilidade. Quando falo da manutenção dos velhos métodos políticos, dizem que a presidente tentou estimular uma reforma política, mas que não dependia dela e, afinal, esse é o custo do poder.

Quando pergunto para que o poder se nada avança, respondem com o futuro de conquistas sociais extraordinárias. Se falo da corrupção na Petrobras, dizem que herdaram a peste dos governos anteriores. Se lembro que já são 12 anos de PT, atribuem o escândalo a maquinações para desmoralizar a empresa e fazê-la presa fácil para a privatização.

Quando cito outras instâncias de poder aparelhadas e sublinho o dano causado aos movimentos sociais pela cooptação, respondem com hostilidade, afirmando que meu olhar está viciado pelo ingênuo encantamento com as manifestações de 2013.

Quando, finalmente, afirmo que o governo Dilma foi medíocre, mostram-se dispostos a aceitar, mas questionam qual poderia ser a alternativa. Digo-lhes, então, para seu desgosto: haveria algo mais conservador e medíocre do que defender a mediocridade conservadora?

Resta-lhes a bala de prata: o medo. A oposição arruinará os programas sociais e aprofundará as desigualdades. Pondero: e se o compromisso de manter os programas for para valer? Duvidam: a política econômica neoliberal os destruirá.

Argumento, lembrando que Lula governou com o tripé neoliberal e com Henrique Meirelles no Banco Central. E, assim, arrumou a casa para investir nos programas sociais. Mas Lula é Lula, proclamam. Minha capacidade de acompanhar o raciocínio de meus interlocutores esgota-se nesse ponto, coincidindo com o limite da tolerância que eles se esforçam por estender.

Percebendo que o voto está perdido, confessam o diagnóstico letal: "Você não passa de um neoliberal".

Luiz Eduardo soares, cientista político e antropólogo. É autor de "Elite da Tropa" (Objetiva) e de "Tudo ou Nada" (Nova Fronteira). Foi secretário nacional de Segurança Pública (governo Lula)

Merval Pereira: Nos detalhes

- O Globo

Inalterados os resultados tanto do Ibope quanto o do Datafolha, ambos os candidatos têm motivos para comemorar, numa eleição que ser á decidida, ao que tudo indica, no detalhe, que é onde mora o diabo . Aécio Neves passou incólume pela 1ª semana de desconstrução desencadeada pelo marqueteiro João Santana. O tempo ficou mais curto para a tarefa de colocar o candidato tucano no micro-ondas de destruir reputações que a campanha petista usa cada vez com menos escrúpulos.

É preciso notar, no entanto, que segundo o Datafolha a rejeição a Aécio subiu um pouco, aproximando-o da presidente Dilma: 38% a 42%, quase um empate técnico, o que pode ser já resultado da ação do marqueteiro petista. A presidente Dilma, por sua vez, também pode comemorar o fato de que a semana em que seu adversário recebeu mais adesões não produziu nenhuma mudança no eleitorado. É certo que os eleitores de Marina já haviam se decidido em sua maioria por Aécio, mas Mauro Paulino, diretor do Datafolha, chama atenção para a migração dos marineiros no Rio de Janeiro, onde parece que eles estão indo em peso para Dilma.

Esse é um movimento natura l, pois a votação no Rio em Marina foi mais de esquerda do que de protesto contra o governo. Se se confirmar que Aécio cresceu no Rio e está empatado com Dilma, pode ser sinal de que essa migração não teve grandes consequências. O cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, do Iuperj , ampliando a análise sobre os dados das pesquisas do Ibope e Datafolha, acha que Aécio surfa numa onda de "mudança com segurança" , que conjuga dados aparentemente inconsistentes entre os 73% que desejam mudanças (Datafolha) e os 80% que se dizem satisfeitos ou muito satisfeitos com a vida que levam hoje (Ibope).

O fato mais paradoxal para ele é que é justamente essa nova classe média, que ascendeu nos 12 anos de governo petista, embora satisfeita com a vida (+ de 5 salários = 84% de satisfação; 25-34 anos = 83%; com curso superior =85%), está desejando mudança no modo de governar , na gestão pública e nos serviços públicos. Geraldo Tadeu Monteiro lembra que, segundo Marx, toda necessidade suprida gera uma nova necessidade. Provavelmente, diz ele, esses setores estejam temerosos não propriamente de perder o que adquiriram nos últimos anos, mas quanto às possibilidades de manutenção dessa condição com o atual modelo de crescimento econômico.

A ideia é que é preciso fazer evoluir esse modelo para que ele mantenha esses setores nos patamares já atingidos. A passagem é estreita tanto para o governo quanto para a oposição, avalia Tadeu Monteiro. As campanhas, munidas de pesquisas quantitativas e qualitativas, naturalmente sabem disso e buscam, cada uma a seu modo, propor mudança. Daí a ideia de "mudança com segurança", que pode ser o fator decisivo neste 2º turno.

O candidato que encarnar essa "mudança com segurança" terá grandes chances de captar o voto da classe média intermediária que, segundo Mauro Paulino, decidirá a eleição, já que as classes média alta e média estão com Aécio, e os de mais baixo salário e escolaridade estão com Dilma. Entre os classificados como classe média (Datafolha), Aécio é apontado por 50% como o mais apto a fazer as mudanças necessárias, contra 39% que acreditam que Dilma é a mais preparada para isso.

Conspirações
O raio pode cair mais uma vez no mesmo lugar. O 2º turno será realizado no próximo dia 26, um domingo, e na terça-feira, dia 28, é dia do funcionário público. Não é feriado nacional, mas considerado ponto facultativo. Não seria de estranhar se os governos considerassem ponto facultativo também a segunda-feira, dia 27, como aconteceu na eleição para prefeito no Rio em 2008, também realizada num domingo, dia 26 de outubro.

O governo estadual decretou ponto facultativo na segunda-feira, dia 27/10. Eduardo Paes ganhou com 50,83% dos votos contra 49,17% conferidos a Gabeira. Resta saber quem seria mais prejudicado por uma manobra dessas: Dilma, que tem o voto da maioria dos funcionários públicos, ou Aécio, cujo eleitor de renda mais elevada pode ficar tentado a curtir o feriadão?

Dora Kramer - Ação entre inimigos

- O Estado de S. Paulo

A candidata de fala atrapalhada frente ao adversário com o tique do riso insolente é uma cena que não enseja à decisão do voto de ninguém. Ainda mais quando o conteúdo não ajuda à configuração do que se possa chamar de um debate, aqui entendido como exposição de argumentos contra ou a favor de causas, ideias, projetos.

O primeiro confronto da campanha do segundo turno entre Dilma Rousseff e Aécio Neves, patrocinado pela TV Bandeirantes, deixou claro que o modelo imposto pelos marqueteiros não funciona a contento. É essencial a participação de entrevistadores - sejam jornalistas ou até mesmo eleitores sorteados como uma vez fez a TV Globo - que façam perguntas sobre temas não conhecidos previamente pelos candidatos e com direito a aprofundamento razoável do assunto. Réplica e tréplica, no mínimo.

Há quem tenha visto na noite de terça-feira um debate "quente". Em comparação aos programas do primeiro turno, com aquela limitação de tempo devido à obrigatoriedade de participação de muitos candidatos, sem dúvida foi mais interessante. Mas a "quentura" esteve todo tempo relacionada à forma incisiva com que Dilma e Aécio dirigiam-se um ao outro.

Ambos mostraram capacidade ofensiva - cada um a seu modo de acordo com suas características pessoais -, mas ficaram rodando dentro dos círculos de sempre. Espremendo o que foi dito, a gente se lembra do quê? Da troca de acusações sobre temas que estão todos os dias no noticiário. O senador disse que a presidente é "leviana" e ela o acusou nepotismo. Sim, e daí a discussão evolui para onde? Para lugar algum.

E assim seguiram cada qual atuando em seu quadrado, no terreno que lhes parecia mais seguro e favorável. Ao ponto de a presidente ocupar o precioso tempo com questões relativas a Minas Gerais, deixando de lado o restante do eleitorado nacional. A questão interessava à campanha dela. Mas esse tipo de programa não é feito para servir ao público?

Do jeito que está, não mesmo. E se acharmos que sim, estamos todos num belo exercício de autoengano. Temos pela frente ainda três supostos debates que, a seguirem a regra dos marqueteiros, vão de novo repetir a agressividade enfadonha e sem resultados.

No modelo atual os candidatos têm o controle do programa, conduzem-no como bem entendem, corrigem as falhas ou acentuam acertos conforme lhes indicam os conselheiros nos intervalos e ficam transitando nas suas zonas de conforto, procurando empurrar o oponente para a zona de desconforto.

Isso faz parte do jogo, mas não é todo o jogo. Não se trata de advogar de maneira artificial um diálogo de donzelas. Mas sim de exigir um questionamento sério a fim de que o eleitor não fique fora do debate hoje reduzido a uma ação entre inimigos reciprocamente protegidos.

Crédito das pesquisas. Toda eleição é a mesma coisa: os acertos das pesquisas são esquecidos e seus desacertos superdimensionados. O problema não está na amostragem das tendências - todas captadas nesta eleição particularmente imprevisível -, mas na expectativa de que elas adivinhem o resultado das urnas.

Por mais que se diga que refletem um momento, as pessoas insistem em vê-las como bolas de cristal e desconsideram os demais fatores. O principal deles, as decisões de última hora. Depois de encerrada a propaganda eleitoral, o período de pesquisas e os debates, sobram ainda ao menos 24 horas para as pessoas refletirem e conversarem a respeito de tudo o que se passou na campanha.

A continha de dois pontos para lá três pontos para cá não para em pé diante das condições objetivas e subjetivas da política. Essas é que compõem o cenário que levará ao resultado. Mas é sempre assim, na próxima eleição começa tudo de novo.

Eliane Cantanhêde - Para furar o teto

- Folha de S. Paulo

A eleição continua eletrizante, com o empate técnico entre Aécio e Dilma mantido rigorosamente nos mesmos índices de votos válidos do primeiro Datafolha do segundo turno: 51% do tucano, 49% da petista. Os dois dão sinais de terem batido no teto, mas os dados gerais contêm novidades melhores para Dilma do que para Aécio.

A dura campanha de Dilma na TV, que "desconstruiu" Marina Silva no primeiro turno, conseguiu estancar a ascensão de Aécio e reduzir o seu potencial de crescimento. Ou seja: ele parou de crescer e tem menos margem para coletar novos votos.

Enquanto o índice de rejeição de Dilma oscilou um ponto para baixo, o de Aécio subiu quatro pontos depois dos ataques desferidos pela propaganda eleitoral do PT contra a gestão do tucano em Minas Gerais. E esses ataques foram em cima de um dado real: Aécio foi derrotado duplamente no Estado que governou duas vezes. Ficou atrás de Dilma e perdeu o governo para um petista.

Nesses dez dias até o segundo turno, Dilma aprofundará a estratégia de "desconstrução", intensificando os ataques. Se Aécio repetir a reação passiva de Marina, fazendo muxoxo e acusando a adversária de liderar uma "campanha de ódio", ele deixará Dilma ditar o tom da campanha.

A favor de Aécio: o empate técnico o favorece, não só porque ele está numericamente à frente, mas porque a "quebra" de votos de Dilma tende a ser maior na hora do voto real. Uma coisa é dizer que vai votar em alguém, outra é acertar os botões, os números. O nível de escolaridade do eleitorado de Aécio é bem mais alto do que o de Dilma. Ela tem de passar à frente e ter gordura para queimar.

Em suma, a eleição continua como o diabo e os jornalistas gostam (gostamos), e os debates terão um papel fundamental. Na propaganda, que tem audiência restrita, os candidatos dizem o que bem entendem a seu favor e contra o outro. Nos debates, que estão bombando, dizem não só o que querem, mas o que podem.

Jarbas de Holanda - 2º turno está afirmando questões básicas da economia e da gestão

A última grande surpresa da disputa presidencial, com a chegada de um Aécio Neves muito competitivo ao 2º turno, reflete-se, pelo menos até agora, em espaço bem maior no debate eleitoral (na imprensa e no próprio horário “gratuito”) para os problemas da economia: inflação, queda de investimentos, PIB próximo de zero, desemprego na indústria, aguda crise fiscal. Bem como para as ligadas mais diretamente à gestão do Palácio do Planalto: a precariedade da infraestrutura e dos serviços públicos em geral. Espaço que inviabiliza a centralidade que o marketing da candidata governista esperava conferir às ações e promessas assistencialistas para nova etapa de “desconstrução” do campo adversário. Objetivo que poderia ser facilitado na disputa final com uma Marina Silva debilitada pela grosseira “desconstrução” já sofrida no 1º turno, e provavelmente forçada a submeter-se à pauta populista do lulopetismo.

Ao peso significativo ganho por questões relevantes da economia se soma o debate do gigantismo estatal, do desenfreado aparelhamento partidário e do consequente enorme salto da corrupção em contratos governamentais. Debate mantido e reforçado por mais revelações sobre o megaescândalo da Petrobras. Que coloca a campanha reeleitoral na defensiva.

A culpa é da imprensa ....
Trechos de reportagem do Valor, de ontem, com o título “Para ministro, momento do PT é ‘delicadíssimo’ (Gilberto Carvalho diz que sigla encontra resistência da classe média e é difícil até andar com broche de Dilma)”. “Para Carvalho, há hoje uma batalha no campo da comunicação, que não se pode mais menosprezar. Carvalho chamou Aécio de boneco que, como um ventríloquo, fica repetindo um discurso da década de 40 de que a esquerda é corrompida, incompetente e não sabe gerir o Estado. ‘Isso ganhou um enorme apoio das classes médias porque nós, e vou falar de peito aberto para vocês, fomos brutalmente incompetentes no governo em travar a batalha da comunicação.

Permitimos que financiássemos os veículos que hoje nos apunhalam, que fazem de tudo para construir a realidade de que nós somos os inventores da corrupção”. “Carvalho disse que um discurso de ódio foi plantado e que, em São Paulo está difícil andar com um broche ou uma bandeira de Dilma. ‘O ódio eles foram construindo com a gente sendo chamado (sic) de ladrão com muita frequência, com desprezo, de um grupo de petralhas. Esse é o grau de dificuldade’, disse aos militantes (num encontro realizado no Recife, com o objetivo de reanimá-los para a campanha do 2º turno)”.

Quadro do governo Dilma de estrita confiança do ex-presidente Lula, Gilberto Carvalho antecipa o que, no caso de derrota da candidata governista à reeleição, deverá ser apontado como razão básica do insucesso: a ampla liberdade de imprensa existente no país. Que, certamente, será posta em xeque no cenário – que segue sendo possível – de mais um mandato do PT no Palácio do Planalto. Através do projeto do partido para o “controle social” da mídia, ou da recente proposta da própria presidente para a “regulação econômica” das empresas do setor a partir das de televisão. Seguindo os passos do governo de Cristina Kirchner, da Argentina, para o desmonte do grupo Clarin.

Jarbas de Holanda é jornalista

Luiz Carlos Azedo - Como a luta no Zaire

• Até agora, Aécio manteve-se a salvo dos duros golpes de Dilma. Restam ainda nove dias de campanha eleitoral, nos quais a pancadaria pode se tornar ainda mais intensa.

Correio Braziliense

A luta (Companhia das Letras), de Norman Mailer, com 232 páginas, é um daqueles pequenos livros de tirar o fôlego. Uma obra-prima do jornalismo e, ao mesmo tempo, um belo exemplar da literatura norte-americana. É também um case de gerenciamento de crise e uma lição de marketing político. A edição brasileira é uma tradução de ninguém menos do que Cláudio Abramo. Trata-se, na verdade, de uma grande reportagem sobre aquela que foi chamada a luta do século passado, pois essa história se passou há 40 anos. É a seguinte:

Muhammad Ali era o campeão mundial dos pesos-pesados, mas perdeu o título porque se recusou a lutar no Vietnã. Em 1974, o empresário Don King, que era o mandachuva do boxe norte-americano, ofereceu-lhe uma chance de recuperar o título, que então pertencia a George Foreman. Seria numa luta monumental, que aconteceria em Kinshasa, a capital do Zaire. Mailer foi cobrir essa luta. Acompanhou os treinamentos e narrou com brilhantismo seus detalhes.

A ferocidade de Foreman, a resistência de Ali, o furor da mídia, a confusão política que o Zaire evocava, a rivalidade entre os dois lutadores e o ânimo do chamado córner de cada lutador — tudo foi descrito, inclusive a disputa política subjacente entre Ali, que era um contestador, e Foreman, o representante do establishment norte-americano. Na terceira pessoa, o narrador coloca-se como personagem, um torcedor a favor de Ali, mas que não acreditava na sua vitória contra Foreman.

Quem quiser assistir à luta pode recorrer ao YouTube, onde há um excelente documentário, mas o que interessa aqui é a estratégia adotada por Ali. Foreman era um lutador fabuloso, no auge de sua forma e prestígio, a lógica era ser o vencedor. Ao contrário de todas as lutas anteriores, nas quais procurara nocautear os adversários nos primeiros assaltos, Ali preparou-se para uma luta longa, na qual precisaria resistir aos potentes socos do adversário. Passou oito assaltos junto às cordas, protegendo-se com esquivas, clinchs e a guarda muito fechada. Quando Foreman cansou de tanto bater, no oitavo assalto, Ali provocou o adversário enraivecido e depois reagiu de forma fulminante: meia dúzia de golpes levaram o dono do título à lona (https://www.youtube.com/watch?v=XGukWJPtA_c).

O embate eleitoral
O segundo turno das eleições presidenciais lembra a luta no Zaire. Não só por causa do debate de terça-feira na TV Bandeirantes, verdadeiro pugilato, mas em razão também do contexto eleitoral, que inclui os programas de tevê e rádio dos candidatos, suas entrevistas e a participação enlouquecida das respectivas torcidas nas redes sociais. Aécio Neves (PSDB) conseguiu chegar ao segundo turno e lidera a disputa, com a presidente Dilma Rousseff (PT) em empate técnico. Na pesquisa Datafolha divulgada ontem, o tucano tinha 51%, contra 49% da petista, considerando apenas os votos válidos. A pesquisa foi feita na terça-feira e ontem.

Considerando-se os votos nulos e brancos, porém, ambos perderam um ponto. Aécio tem 45%; Dilma, 43%. Na pesquisa anterior, ambos tinham um ponto a mais. Os votos nulos e brancos oscilaram de 4% para 6%. Os indecisos continuam sendo 6% dos eleitores. Tanto o tucano quanto a petista têm 42% de votos consolidados; os demais ainda podem mudar. A queda de um ponto percentual está dentro da margem de erro, mas pode ser um indicador de que a pancadaria entre os candidatos no horário eleitoral e nos debates está surtindo o efeito de desgastar a ambos. Parece um jogo de perde-perde.

Não é bem isso, porém, o que está na cabeça do marqueteiro de Dilma, João Santana, que optou por uma linha focada na imagem do candidato Aécio, contra o qual a petista desfere ataques pessoais com propósitos demolidores. Repete-se a estratégia adotada contra Marina Silva, cuja candidatura era a favorita em todas as pesquisas de segundo turno e chegou a liderar o primeiro, mas foi esvaziada na semana de campanha antes do primeiro turno. A ordem é golpear Aécio até o tucano desabar, atacando sobretudo a gestão dele em Minas Gerais, cujo governo deixou com 92% de aprovação. Mas isso foi há mais de quatro anos…

Até agora, Aécio manteve-se a salvo dos duros golpes de Dilma, mesmo quando é levado às cordas, graças à guarda fechada e a boas esquivas. Restam ainda nove dias de campanha eleitoral, nos quais a pancadaria pode se tornar ainda mais intensa. O candidato tucano apresenta-se mais preparado para esse tipo de confronto do que Marina estava no primeiro turno, mas vai depender de muita musculatura para resistir aos novos ataques nos próximos dias. E precisará reunir forças para desferir meia dúzia de golpes certeiros contra Dilma se quiser chegar ao dia da eleição como favorito.

Míriam Leitão - Campo de corrupção

- O Globo

O escândalo na Petrobras é como um grande campo exploratório com muitos poços de prospecção. A cada dia aparece um furo novo de onde jorrava dinheiro para financiamento político. A resposta da presidente Dilma de que divulgar isso é um "golpe" é a mesma que apareceu na época do mensalão. Que golpe é a Polícia Federal, o Ministério Público e a Justiça apurarem crimes contra cofres públicos?

Se os fatos têm aparecido em época inconveniente para a candidatura à reeleição, nada se pode fazer. O combate à corrupção não pode parar por causa do calendário eleitoral. Os órgãos que receberam a denúncia, apuram, descobrem, tomam os depoimentos da delação premiada, e divulgam o que não está sob segredo de Justiça. Nada fizeram de errado; cumpriram seu dever. A Petrobras é muito maior do que o campo de corrupção que está sendo descoberto. Ela tem 60 anos, uma história de serviços prestados ao país e funcionários em sua imensa maioria comprometidos com os objetivos do desenvolvimento econômico. As investigações fortalecem a empresa e não o contrário. Quem enfraquece a Petrobras é quem foi leniente na fiscalização dos negócios feitos em nome da companhia.

Novos poços de prospecção nesse campo de corrupção aparecem em bases diárias. Na relação com fornecedores, fundos de pensão e empreiteiras. Onde se fura, acha. Ontem foi a vez do Comperj. Antes, nesta semana, descobriu-se que na termelétrica construída ao lado da refinaria Abreu e Lima, a BR Distribuidora entrou como sócia minoritária junto com duas empresas de José Janene e Alberto Yousseff, o doleiro preso e que está depondo em delação premiada. Poço muito mais rentável foi a própria construção da refinaria, cujo custo explodiu com aditivos que ignoraram até os alertas dos técnicos da empresa. Eles achavam que acima de US$ 10 bilhões o negócio era in viável. O orçamento original era US$ 2,5 bilhões e está em US$ 18 bilhões.

Desse poço jorrou muito combustível aditivado para o esquema. O GLOBO informou que a compra de combustíveis no exterior alimentou três contas secretas mantidas lá fora e administradas por genros do réu Paulo Roberto Costa. Para se ter ideia da profundidade desse poço: o Brasil importou US$ 40,5 bilhões de combustíveis em 2013. As compras cresceram muito nos últimos anos. Outro poço de extração vinha do fretamento de navios para trazer o produto. A refinaria de Pasadena foi também uma jazida promissora. Bastou fechar os olhos para o evidente sobrepreço do ativo, comprado pela Astra a US$ 42 mi e adquirido dela por US$ 1,18 bilhão.

Nem os conselheiros impediram. As empreiteiras que fizeram operações com diretorias ligadas aos negócios da prospecção de corrupção irrigaram esse campo e agora terão que se explicar à Justiça. Os áudios dos depoimentos do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, divulgados pelo juiz Sérgio Moro mostram a proliferação dos poços de exploração desse imenso campo de corrupção.

O esquema de prospectar dinheiro para os partidos na maior empresa brasileira é estarrecedor . A divulgação é esclarecedora e há chance de correção do roubo. O Juiz Moro deu publicidade ao que devia dar e não divulgou o que está sob sigilo: o que os réus disseram na delação premiada. A tentativa da presidente Dilma de condenar a divulgação, e não o crime, foi rechaçada pelo Ministério Público e pela Associação dos Juízes. A Petrobras será beneficiada quando desativarem esse campo de prospecção de financiamento partidário porque poderá se dedicar ao que sempre soube fazer tão bem: explorar petróleo.