segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Opinião do dia: Aécio Neves

A chegada de Marina constrói aquilo que é essencial, um novo momento da nossa candidatura. De forma definitiva, com a chegada de Marina, dos seus valores, amor ao Brasil e história de vida, a minha candidatura não é mais a candidatura de um partido ou de uma aliança partidária. É uma candidatura que representa o profundo sentimento de mudança que hoje se alastra pela sociedade. Saberei conduzir essa bandeira com dignidade, retidão e coragem porque o que está em jogo não é a eleição de um candidato e a derrota de outra. É algo muito mais valioso, a possibilidade de o Brasil se reencontrar com seu próprio futuro.

Aécio Neves, senador (MG) e candidato a presidente da República.

Doleiro tinha 'acordo de sigilo' com estatal, diz PF

• Arquivo de Youssef contém contrato de confidencialidade entre CSA, dona de duas sócias da BR Distribuidora, e a subsidiária da Petrobrás

Ricardo Brandt, Fausto Macedo - O Estado de S. Paulo

Nos computadores de Alberto Youssef, alvo da Operação Lava Jato, a Polícia Federal encontrou um "acordo de confidencialidade" entre a Petrobrás Distribuidora e a CSA Project Finance Ltda., controlada pelo ex-deputado do PP José Janene (que morreu em 2010) e pelo doleiro e usada para lavar R$ 1,15 milhão do mensalão.

Para os investigadores, a minuta do acordo indicaria que Youssef e Janene, envolvidos no esquema acusado de desviar recursos da obra da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, também atuaram no leilão para erguer e operar a Usina Termelétrica Suape II, em terreno ao lado da área onde, em 2008, começaria a construção da unidade petrolífera.

O arquivo no computador do doleiro também coloca sob suspeita a versão da estatal, uma subsidiária da Petrobrás, de que desconhecia a ligação de duas de suas sócias no empreendimento da usina com a CSA. O documento tem data de janeiro de 2007 e o leilão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) ocorreu em outubro daquele ano. Movida a óleo combustível e com capacidade total de fornecer 350 MW para a refinaria, Supae II previa investimento de R$ 590 milhões.

O consórcio vencedor foi formado pela MPE Montagens e Projetos Especiais, BR Distribuidora, Ellobras Infra-Estrutura e Participações, Genrent Participação Ltda. e Genpower Energy Participações.

A Ellobras e a Genpower são controladas pela CSA, empresa de Janene e Youssef. As duas somam 40% das cotas do consórcio. As outras três tinham 20% cada, incluindo a BR. Após 40 dias, Ellobras e Genpower negociam com um outro consórcio de infraestrutura a venda de seus 40% na termelétrica. A CSA e uma instituição financeira levaram cerca de 3% do valor bruto da transação.

Em 2011, a Petrobrás assumiu o controle da termelétrica, depois de o consórcio ter deixado o controle da concessão.

Em agosto passado, quando a denúncia da Procuradoria foi divulgada, informando que a BR Distribuidora tinha sido sócia de duas empresas ligadas à CSA, a estatal negou a parceria com a Ellobras e Genpower.

"Desconhecemos haver qualquer relação da Ellobras e Genpower nesse negócio da termelétrica Suape II, com a empresa CSA Project Finance, relacionada ao sr. Alberto Youssef", dizia a nota.

Representantes. Para os investigadores, a análise nos computadores de Youssef comprovaria que a própria CSA elaborou a minuta do termo de confidencialidade com a BR Distribuidora. No documento, que não está assinado, constam um representante da estatal e um da empresa.

De acordo com a PF, o texto diz que as partes acordam que "iniciarão relacionamento comercial envolvendo aspectos operacionais estratégicos de suas atividades (...) deverão trocar informações confidenciais sobre dados, pesquisas, estratégia, resultados financeiros, segredos comerciais e similares, de forma oral, escrita, ou eletrônica, de propriedade e interesse, conforme o caso, da CSA e da BR". A Petrobrás foi procurada e não respondeu à reportagem.

Campanha de Dilma tentará frear divulgação de depoimentos da Lava Jato

Raymundo Costa, Andrea Jubé e Andre Guilherme Vieira - Valor Econômico

BRASÍLIA e SÃO PAULO - A campanha da presidente Dilma Rousseff vai recorrer ao ministro Teori Zavascki e ao Procurador Geral Eleitoral, Rodrigo Janot, para tentar conter a divulgação dos depoimentos dos implicados nas denúncias de corrupção na Petrobrás. A divulgação do vídeo com esses depoimentos causaram forte impacto na campanha petista, que não esperava pela decisão do juiz Sérgio Moro, relator de processos relativos à Operação Lava Jato. O comitê de Dilma reclama especialmente da coincidência da tomada dos depoimentos com ao início do segundo turno da eleição presidencial.

Na avaliação do comitê eleitoral da presidente, a divulgação dos vídeos pode ter efeitos bem mais prejudiciais à campanha da presidente do que o noticiário dos meios de comunicação sobre os depoimentos do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef. Agora as confissões ganharam voz, imagens, dinheiro no exterior, cifras e percentuais de comissão e nomes de partidos, tendo à frente o PT, ao qual é filiada a presidente da República, e os aliados PP e PMDB.

Surpreendido pela decisão do juiz Moro de divulgar os depoimentos, o comitê da reeleição da presidente decidiu empreender uma reação simultânea em diversas frentes. Nos programas e comerciais do rádio e da televisão a tônica será o ataque ao PSDB e seu candidato, Aécio Neves; nos debates, que recomeçam esta semana, a ideia do comando da campanha é que Dilma chame Aécio para debater programas de governo, segundo informou ao Valor um dos integrantes da coordenação da campanha.

Essa pelo menos era a intenção do comitê até a última sexta-feira, que pode mudar se as denúncias de corrupção na Petrobras continuarem provocando grande estrago na candidatura da presidente. O tema corrupção, desde a reabertura do horário eleitoral gratuito, vem ganhando espaço na campanha de Dilma, com a reapresentação das propostas que a presidente da República apresentou sobre o assunto e das denúncias de ‘malfeitos’ de integrantes de governos do PSDB.

Um deles é o caso Alstom (pagamento de propinas por empresas contratadas pelo governo de São Paulo para obras e venda de equipamentos para o metrô). O outro é o chamado “mensalão mineiro”, esquema de financiamento de campanha que teria sido montado em Minas Gerais na eleição do ex-governador Eduardo Azeredo e servido de inspiração para o mensalão do PT. O “mensalão tucano”, como também é conhecido, até hoje não teve um julgamento definitivo, como aconteceu com o do PT.

O PT também diz que o aparecimento de denúncias já se tornou recorrente, às vésperas das eleições em que o partido chega à reta final com chances de vencer. A própria presidente Dilma disse que “é estranho e muito estarrecedor” que as denúncias surjam durante a campanha eleitoral, muitas vezes sem provas.

“Em toda campanha há denúncias que depois não se comprovam”, e após a eleição “ninguém se responsabiliza por elas”. “Não basta alguém falar que ouviu dizer, não lembra quando, pode ser que foi, e assim você condena a pessoa. Eu não varro para baixo do tapete, nunca varri”, protestou a presidente.

O alvo de Dilma e de outros petistas que nos últimos dias falaram em “vazamento” dos depoimentos é o juiz Sérgio Moro. Ele é o responsável pelo processamento das ações decorrentes da operação Lava Jato. Em nota, a Justiça Federal do Paraná saiu em sua defesa: "Referidas ações penais não tramitam em segredo de justiça e, portanto, por força dos mandamentos contidos nos artigos 5º, inciso LX, e 93, inciso IX da Constituição Federal de 1988, estão sujeitas ao princípio da publicidade".

A nota esclarece também que "permanecem sob sigilo os termos da delação premiada, que não se confundem com as declarações prestadas ou a serem ainda prestadas na ação penal, que é pública. O compromisso da Justiça Federal do Paraná é exclusivamente em relação à transparência, celeridade e efetividade do processo”, diz a nota. O relator do processo de delação premiada é o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), pois o processo envolve o nome de pessoas com foro privilegiado de julgamento. Daí a intenção do PT de procurá-lo, na tentativa de brecar a divulgação dos depoimentos.

O Valor apurou que a campanha de Dilma tem um problema a mais em relação às denúncias contra a Petrobras. Teme-se que, a exemplo do que aconteceu no mensalão, pessoas que desmentiram ter algum envolvimento com o escândalo apareçam depois em um dos depoimentos. Questionado pelo PT e a campanha, o tesoureiro do partido, João Vacari, por exemplo, negou envolvimento com Roberto Costa e Alberto Youssef. Seu nome apareceu depois, num dos depoimentos. Nada que provasse sua participação em algum esquema, mas certamente algum relacionamento dele com os acusados. São fatos que geram insegurança na campanha.

Ainda assim, o comitê de Dilma decidiu pagar para ver. A palavra de ordem a ser difundida pelas redes sociais foi dada pelo ministro licenciado Miguel Rosseto, em artigo divulgado pelo site Muda Mais. “Nada disto não é novo para nós”, disse Rossetto. “Tivemos o caso Abílio Diniz, a manipulação das eleições de Lula em 1989, a falsa ficha de Dilma, a falsa matéria das Farc” .

O primeiro caso ocorreu nas eleições de 1989, quando a polícia libertou o empresário Abílio Diniz, do grupo Pão de Açucar, que havia algumas semanas fora sequestrado. Um dos presos usava uma camiseta do PT e o caso acabou sendo explorado politicamente contra o partido. Por “manipulação das eleições” o ministro se refere ao debate entre Lula e Fernando Collor, no segundo turno de 1989, editado pela TV Globo de forma a beneficiar Collor, segundo os petistas. Naquela eleição ocorreu um dos piores casos de baixaria política nas campanha presidenciais brasileiras: a denúncia feita pelo programa de Collor de que Lula aconselhara a mãe de sua primeira filha a fazer um aborto.

Rossetto refere-se à denúncia de que a guerrilha colombiana deu U$ 5 milhões à campanha de Lula em 2002, quando fala em Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). A denúncia refere-se a um documento supostamente confeccionado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que em 2002 chegou a ser oferecido à campanha de José Serra (PSDB) e nunca utilizado. A ficha falsa de Dilma é um prontuário reproduzido por ex-agentes dos órgãos de segurança com as acusações que a ditadura fazia à guerrilheira Dilma. A ficha, de fato, é uma montagem, mas atualmente é usada pela campanha do PT. A campanha petista preferiu ignorar outros assuntos ocorridos na reta final de eleições, mais incômodos ao partido, como os “aloprados”, em 2006, ou a denúncia de tráfico de influências da ex-ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, em 2010.

“Dilma é candidata à beira de um ataque de nervos”, diz Aécio

Eduardo Laguna –Valor Econômico

APARECIDA (SP) - O candidato do PSDB à presidência, Aécio Neves, subiu hoje o tom na resposta aos ataques sofridos nos últimos dias pela presidente Dilma Rousseff (PT), sua adversária na corrida ao Palácio do Planalto.

“O que nós estamos vendo é uma candidata desesperada, à beira de um ataque de nervos”, disparou o tucano em entrevista a jornalistas durante passagem pelo santuário de Aparecida, no interior paulista.

Questionado sobre as declarações da petista condenando sua nomeação por um tio ao cargo de diretor de loterias da Caixa Econômica Federal, em 1985, Aécio também foi duro no contra-ataque, ao dizer que sua adversária construiu toda a vida pública por indicações.

Afirmou, porém, não ver demérito em ocupar cargos públicos por indicação. “Ocupei todos os cargos públicos com extrema dignidade, tanto aqueles pelos quais fui nomeado como todos os outros que, durante trinta anos, eu ocupei por voto popular”, ressaltou.

“A grande diferença é que todos os cargos que ocupei, fossem eleitos ou por indicação, eu os honrei, agi com dignidade e decência. Não podemos dizer a mesma coisa dos indicados da presidente da República”, acrescentou.

Marina anuncia apoio a Aécio

• Ex-senadora, que ficou em terceiro lugar no primeiro turno, disse que a 'alternância de poder fará bem ao Brasil'

Eulina Oliveira e Edgar Maciel - O Estado de S. Paulo

Uma semana após o primeiro turno da eleição presidencial, a candidata derrotada pelo PSB, Marina Silva, declarou neste domingo, 12, em São Paulo, seu apoio a Aécio Neves (PSDB) no segundo turno. No pronunciamento, Marina afirmou que "uma semana não é um longo tempo para tomada de decisão".

"Alternância de poder fará bem ao Brasil", disse. "Aécio retoma o fio da meada virtuoso e corretamente manifesta-se na forma de um compromisso forte, a exemplo de Lula em 2002, que assumiu compromissos com a manutenção do Plano Real, abrindo diálogo com os setores produtivos."

No Twitter, Aécio festejou o apoio. "Vamos juntos com Marina? É isso aí!! Valeu, Marina! Juntos, para mudar o Brasil!", escreveu ele.

Ao lado de seu candidato a vice-presidente, Beto Albuquerque (PSB), Marina disse que o documento divulgado no sábado, 11, no Recife, por Aécio é "carta-compromisso" com os brasileiros. No texto, o tucano anunciou quais compromissos propostos pela terceira colocada na disputa vai assumir neste segundo turno. Entram questões ambientais e indígenas, mas a principal divergência entre eles - a discussão sobre maioridade penal - ficou de fora.

"Doze anos depois, temos um passo adiante, uma segunda carta aos brasileiros", disse Marina. 

"Rejeito a interpretação de que o documento seja dirigido a mim em busca de apoio", afirmou a ex-candidata. "Votarei em Aécio e o apoiarei, votando nesses compromissos, dando um crédito de confiança à sinceridade de propósitos do candidato e de seu partido e, principalmente, entregando à sociedade brasileira a tarefa de exigir que sejam cumpridos", acrescentou.

Telefonema. Segundo a ex-candidata, os dois tiveram apenas uma conversa por telefone antes do anúncio feito neste domingo. "Conversei com Aécio por telefone durante seu almoço em Pernambuco e apenas anunciei que o apoiaria e daria minha posição publicamente neste domingo", explicou.

Para Marina, o documento apresentado por Aécio contempla o que ela considera necessário "para mudar o Brasil", mas descartou a possibilidade de assumir um cargo no governo do tucano, caso ele vença a eleição.

"Quero, de início, deixar claro que entendo esse documento como um compromisso aos brasileiros, com a nação.

Rejeito qualquer interpretação de que seja dirigida a mim, em busca de apoio", afirmou. "Seria um equívoco absoluto de me tomar por detentora dos poderes que são do povo", complementou.

Na carta, Aécio não fez referência a uma mudança da proposta de maioridade penal. A ex-senadora salientou que isso não foi decisivo para firmar sua posição de apoio. "Nós não apresentamos nossa proposta como imposição. Apresentamos aquilo que era o mais interessante. Ele abriu um espaço para o debate sobre esse debate e isso atendeu as minhas expectativas e dos partidos", explicou.

Sobre a forma que vai participar da campanha de Aécio no segundo turno, Marina disse que a decisão ainda não está tomada e que deve conversar com o candidato nos próximos dias. "A forma como vou participar da campanha isso eu vou discutir com o candidato e ele comigo."

Por fim, Marina foi questionada sobre uma possível incoerência de seu apoio ao tucano não ir de encontro ao que a ex-candidata defendeu durante a campanha como "a nova política". "Mantivemos nossa coerência e estou feliz e tranquila com isso. O que nós estamos fazendo é construir a nova política e a mudança proposta por Aécio vai de encontro a isso, de forma coerente."

Antes de fazer o anúncio, Marina agradeceu "a Deus e ao povo brasileiro". Ela obteve 22.176.619 votos (ou 21,32% dos válidos) no primeiro turno e ficou em terceiro lugar, atrás de Dilma Rousseff (PT) e Aécio.

Leia a íntegra do texto lido por Marina:

"Ontem, em Recife, o candidato Aécio Neves apresentou o documento “Juntos pela Democracia, pela Inclusão Social e pelo Desenvolvimento Sustentável”.

Quero, de início, deixar claro que entendo esse documento como uma carta compromisso com os brasileiros, com a nação.

Rejeito qualquer interpretação de que seja dirigida a mim, em busca de apoio.

Seria um amesquinhamento dos propósitos manifestados por Aécio imaginar que eles se dirigem a uma pessoa e não aos cidadãos e cidadãs brasileiros.

E seria um equívoco absoluto e uma ofensa imaginar que me tomo por detentora de poderes que são do povo ou que poderia vir a ser individualmente destinatária de promessas ou compromissos.

Os compromissos explicitados e assinados por Aécio tem como única destinatária a nação e a ela deve ser dada satisfação sobre seu cumprimento.

E é apenas nessa condição que os avaliei para orientar minha posição neste segundo turno das eleições presidenciais.

Estamos vivendo nestas eleições uma experiência intensa dos desafios da política.

Para mim eles começaram há um ano, quando fiz com Eduardo Campos a aliança que nos trouxe até aqui.

Pela primeira vez, a coligação de partidos se dava exclusivamente por meio de um programa, colocando as soluções para o país acima dos interesses específicos de cada um.

Em curto espaço de tempo, e sofrendo os ataques destrutivos de uma política patrimonialista, atrasada e movida por projetos de poder pelo poder, mantivemos nosso rumo, amadurecemos, fizemos a nova política na prática.

Os partidos de nossa aliança tomaram suas decisões e as anunciaram.

Hoje estou diante de minha decisão como cidadã e como parte do debate que está estabelecido na sociedade brasileira.

Me posicionarei.

Prefiro ser criticada lutando por aquilo que acredito ser o melhor para o Brasil, do que me tornar prisioneira do labirinto da defesa do meu interesse próprio, onde todos os caminhos e portas que percorresse e passasse, só me levariam ao abismo de meus interesses pessoais.

A política para mim não pode ser apenas, como diz Bauman, a arte de prometer as mesmas coisas.

Parodiando-o, eu digo que não pode ser a arte de fazer as mesmas coisas.

Ou seja, as velhas alianças pragmáticas, desqualificadas, sem o suporte de um programa a partir do qual dialogar com a nação.

Vejo no documento assinado por Aécio mais um elo no encadeamento de momentos históricos que fizeram bem ao Brasil e construíram a plataforma sobre a qual nos erguemos nas últimas décadas.

Ao final da presidência de Fernando Henrique Cardoso, a sociedade brasileira demonstrou que queria a alternância de poder, mas não a perda da estabilidade econômica.

E isso foi inequivocamente acatado pelo então candidato da oposição, Lula, num reconhecimento do mérito de seu antecessor e de que precisaria dessas conquistas para levar adiante o seu projeto de governo.

Agora, novamente, temos um momento em que a alternância de poder fará bem ao Brasil, e o que precisa ser reafirmado é o caminho dos avanços sociais, mas com gestão competente do Estado e com estabilidade econômica, agora abalada com a volta da inflação e a insegurança trazida pelo desmantelamento de importantes instituições públicas.

Aécio retoma o fio da meada virtuoso e corretamente manifesta-se na forma de um compromisso forte, a exemplo de Lula em 2002, que assumiu compromissos com a manutenção do Plano Real, abrindo diálogo com os setores produtivos.

Doze anos depois, temos um passo adiante, uma segunda carta aos brasileiros, intitulada: “Juntos pela democracia, a inclusão social e o desenvolvimento sustentável”.

Destaco os compromissos que me parecem cruciais na carta de Aécio:

O respeito aos valores democráticos, a ampliação dos espaços de exercício da democracia e o resgate das instituições de Estado.

A valorização da diversidade sociocultural brasileira e o combate a toda forma de discriminação.

A reforma política, a começar pelo fim da reeleição para cargos executivos, que tem sido fonte de corrupção e mau uso das instituições de Estado.

Sermos capazes de entender que, no mundo atual, a ampliação da participação popular no processo deliberativo, através da utilização das redes sociais, de conselhos e das audiências públicas sobre temas importantes, não se choca com os princípios da democracia representativa, que têm que ser preservados.

Compromissos sociais avançados com a Educação, a Saúde, a Reforma Agrária.[

Prevenção frente a vulnerabilidade da juventude, rejeitando a prevalência da ótica da punição.

Lei para o Bolsa Família, transformando-o em programa de Estado

Compromissos socioambientais de desmatamento zero, políticas corretas de Unidades de Conservação, trato adequado da questão energética, com diversificação de fontes e geração distribuída.

Inédita determinação de preparar o país para enfrentar as mudanças climáticas e fazer a transição para uma economia de baixo carbono, assumindo protagonismo global nessa área.

Manutenção das conquistas e compromisso de assegurar os direitos indígenas, de comunidades quilombolas e outras populações tradicionais. Manutenção da prerrogativa do Poder Executivo na demarcação de Terras indígenas

Compromissos com as bases constitucionais da federação, fortalecendo estados e municípios e colocando o desenvolvimento regional como eixo central da discussão do Pacto Federativo.

Finalmente, destaco e apoio o apelo à união do Brasil e à busca de consenso para construir uma sociedade mais justa, democrática, decente e sustentável.

Entendo que os compromissos assumidos por Aécio são a base sobre a qual o pais pode dialogar de maneira saudável sobre seu presente e seu futuro.

É preciso, e faço um apelo enfático nesse sentido, que saiamos do território da política destrutiva para conseguir ver com clareza os temas estratégicos para o desenvolvimento do país e com tranqüilidade para debatê-los tendo como horizonte o bem comum.

Não podemos mais continuar apostando no ódio, na calúnia e na desconstrução de pessoas e propostas apenas pela disputa de poder que dividem o Brasil.

O preço a pagar por isso é muito caro: é a estagnação do Brasil, com a retirada da ética das relações políticas.

É a substituição da diversidade pelo estigma, é a substituição da identidade nacional pela identidade partidária raivosa e vingativa.

É ferir de morte a democracia.

Chegou o momento de interromper esse caminho suicida e apostar, mais uma vez, na alternância de poder sob a batuta da sociedade, dos interesses do pais e do bem comum.

É com esse sentimento que, tendo em vista os compromissos assumidos por Aécio Neves, declaro meu voto e meu apoio neste segundo turno.

Votarei em Aécio e o apoiarei, votando nesses compromissos, dando um crédito de confiança à sinceridade de propósitos do candidato e de seu partido e, principalmente, entregando à sociedade brasileira a tarefa de exigir que sejam cumpridos.

Faço esta declaração como cidadã brasileira independente que continuará livre e coerentemente, suas lutas e batalhas no caminho que escolheu.

Não estou com isso fazendo nenhum acordo ou aliança para governar.

O que me move é minha consciência e assumo a responsabilidade pelas minhas escolhas."

Aécio: ‘hoje é um dia glorioso para nossa caminhada'

• 'Agora somos um só corpo em favor do Brasil', diz candidato do PSDB sobre declaração de apoio de Marina Silva

Elizabeth Lopes e José Maria Tomazela - O Estado de S. Paulo

APARECIDA - O candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, comemorou neste domingo, 12, o apoio que recebeu da ex-senadora Marina Silva neste segundo turno. Segundo ele, a declaração de Marina em favor de seu nome constrói um novo momento em sua candidatura ao Palácio do Planalto. "Com as bênçãos de Nossa Senhora, digo que hoje é um dia glorioso para nossa caminhada. A partir de agora somos um só corpo e um só projeto em favor do Brasil e dos brasileiros", disse o tucano, em coletiva concedida na Basílica Nacional de Aparecida.

Ao falar de Marina, ele disse que a ex-senadora, derrotada no primeiro turno desta corrida presidencial, "tem valores e um imenso amor pelo Brasil". Além disso, destacou que ela representa uma parcela significativa da população brasileira. "Minha candidatura não é mais de um partido político, mas representa um profundo sentimento de mudança que se alastra pela sociedade brasileira e seu saberei conduzir este momento com honradez e coragem."

O presidenciável tucano disse que soube do apoio de Marina no sábado, 11, à noite, quando os dois conversaram por telefone. "Mas não cabia a mim antecipar a decisão dela", disse ele, que iniciou a coletiva após o anúncio de Marina, em entrevista na capital paulista. Ele não disse como será a participação da ex-senadora em sua campanha e nem se ela vai subir em seu palanque. "Não cabe a mim solicitar absolutamente nada", disse, descartando que tenha feito alguma concessão para receber este apoio. "Fico muito feliz com está decisão dela, que só me engrandece."

Na coletiva, Aécio agradeceu também o apoio de Renata Campos, viúva do ex-governador Eduardo Campos, que era o candidato do PSB. "Uma manifestação dessa dimensão me deixa extremamente feliz". Indagado se mantém sua proposta de mandato de cinco anos com o fim da reeleição, Aécio disse que "sempre defendeu essa tese". E disse também que defende o Estado laico.

Aécio, que por problema de teto na decolagem do Rio de Janeiro não conseguiu assistir à missa em celebração à padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, chegou à Basílica apenas para a coletiva de imprensa, que concedeu ao lado do governador reeleito de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e do senador eleito José Serra (PSDB). Ele estava acompanhado da mulher Leticia e, antes da entrevista, disse que é católico e, se eleito, pretende dar um impulso ao turismo religioso, não só na propagação da fé, mas também do ponto de vista econômico.

Marina Silva anuncia apoio à candidatura de Aécio Neves

• Candidata do PSB, derrotada no primeiro turno, nega que tucano tenha lançado documento apenas para ter seu apoio

Ronaldo D’Ercole – O Globo

SÃO PAULO - Candidata derrotada no primeiro turno da corrida presidencial, Marina Silva (PSB) anunciou na manhã deste domingo apoio ao tucano Aécio Neves. O anúncio já era esperado e foi feito em São Paulo. A definição do apoio se deu depois de Aécio divulgar, no sábado, uma carta na qual se compromete com a incorporação em seu programa de governo de tópicos que envolvem reforma agrária, questões indígenas e ambientalismo, consideradas cruciais por Marina. Ontem, Aécio já havia recebido apoio da viúva de Eduardo Campos, Renata, e dos filhos do ex-governador de Pernambuco.

- Prefiro ser criticada lutando por aquilo que acredito que é melhor para o Brasil - disse Marina, ao lado de seu vice Beto Albuquerque, citando os tópicos do documento de Aécio alinhados às suas ideias para justificar o apoio. - Declaro meu voto e meu apoio à sua candidatura. Faço essa declaração como cidadã brasileira - completou, descartando que o anúncio é “acordo ou aliança para governar”.

Em 2010, quando disputou a eleição presidencial pelo PV, Marina não anunciou apoio a nenhum dos dois candidatos que disputavam o segundo turno: Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB).

A ex-ministra disse ainda que o documento publicado às vésperas de seu anúncio pelo tucano não foi para convencê-la. Ela disse rejeitar "qualquer interpretação que (a carta) seja dirigida para mim em busca de apoio". No entendimento de Marina é um "compromisso com os brasileiros".

- Quero, de início, deixar claro que entendo esse documento como uma carta-compromisso com os brasileiros, com a nação. Rejeito qualquer interpretação de que seja dirigida a mim, em busca de apoio. Seria um amesquinhamento dos propósitos manifestados por Aécio imaginar que eles se dirigem a uma pessoa e não aos cidadãos e cidadãs brasileiros. E seria um equívoco absoluto e uma ofensa imaginar que me tomo por detentora de poderes que são do povo ou que poderia vir a ser individualmente destinatária de promessas ou compromissos. Os compromissos explicitados e assinados por Aécio têm como única destinatária a nação e a ela deve ser dada satisfação sobre seu cumprimento - afirmou Marina.

Logo após a divulgação do resultado do primeiro turno, Marina sinalizou que anunciaria apoio Aécio, desde que ele se comprometesse com propostas defendidas por ela nas áreas social e de sustentabilidade. Na carta apresentada neste sábado, o tucano faz referência à candidata que se lançou pelo PSB ao dizer que “é natural que contemos, nesta etapa, com as sugestões dos que, comprometidos com a mudança, se lançaram à campanha e, mesmo não obtendo votos suficientes para chegar ao segundo turno, contribuíram com suas ideias, propostas e debates para melhorar a qualidade de nossa democracia”.

Uma das bandeiras do PSDB, a redução da maioridade penal para 16 anos em caso de reincidência por crimes considerados graves, foi citada como um entrave para a oficialização do acordo, já que a Rede Sustentabilidade, partido que Marina tentou criar ano passado, é contra a proposta. Na sexta-feira, aliados de Marina já haviam mostrado que poderiam flexibilizar essa exigência.

A carta-compromisso do tucano caminha no sentindo de um meio-termo, ao propor que a sociedade seja convocada para “debater e encontrar soluções generosas para nossa juventude”. Diz o texto: “podemos, juntos, evitar que os problemas relacionados aos jovens sejam encarados apenas sob a ótica da punição. Essa seria uma forma injusta de penalizá-los, nas ponta do processo, por erros e omissões que são de todos nós”.

Carta de Aécio foi considerada satisfatória
Fontes próximas a Marina, que esteve reunida com seu grupo político, a Rede Sustentabilidade, afirmaram que a ex-ministra considerou "satisfatório" o gesto de Aécio de divulgar um documento no qual assume compromissos da plataforma da Rede, condição imposta por Marina para apoiá-lo no segundo turno.

O coordenador-geral da campanha de Marina, Walter Feldman, considerou o documento de Aécio um "avanço".

Um dos pontos mais importantes, segundo o deputado Alfredo Sirkis (PSB-RJ), é o que trata da demarcação de terras indígenas. No texto divulgado hoje, Aécio diz que o governo da presidente Dilma Rousseff (PT) "tem sido negligente" e afirma que vai se posicionar pela manutenção da prerrogativa do Poder Executivo de demarcar as terras indígenas, o que já é assegurado pela Constituição Federal.

Outros pontos considerados essenciais para Marina foram a manutenção da política social e o avanço na política de sustentabilidade.

Embora Marina tenha se posicionado firmemente contra a redução da maioridade penal, hoje seus aliados afirmavam que esse ponto não era inegociável.

- Não vejo divergências reais em torno dessa questão - disse Sirkis.

No texto, Aécio não diz se, em um eventual governo, vai reduzir ou garantir a maioridade a partir dos 18 anos, mas fala que vai "convocar a sociedade brasileira a debater soluções generosas" para a juventude e "evitar que os problemas sejam encarados apenas sob a ótica da punição".

Adesão a Aécio divide políticos da rede
Políticos ligados à Rede passaram a última semana debatendo se oferecer apoio a um candidato à Presidência no segundo turno está dentro do programa do grupo, que tenta combater a polarização entre PT e PSDB. Algumas pessoas dentro do partido acham que seria melhor manter a neutralidade, segundo interlocutores.

-A Rede é uma proposta de nova política, mas o segundo turno leva necessariamente a uma polarização. Tentamos ser uma terceira via a essa polarização; não deu certo. E como o partido fica neste segundo turno? — disse Feldman, após reunião no apartamento de Marina em São Paulo.
Segundo Feldman, apesar das opiniões divergentes, a possibilidade de apoiar Aécio não provocou crise dentro do partido:

- Não há crise. Alguns acham que deve continuar batalhando a despolarização e não participar (do segundo turno). Outros acham que, dada a dramaticidade da desconstrução democrática e do retrocesso ambiental, social e econômico do governo Dilma, você não tem muita escolha a não ser tomar uma opção.

Aécio agradece apoio e diz que Marina inaugura 'novo momento' da candidatura tucana

• Candidato do PSDB contou que recebeu confirmação do apoio pela ex-adversária por telefone na noite de sábado

Silvia Amorim – O Globo

APARECIDA (SP) — Do Santuário de Nossa Senhora Aparecida, no interior paulista, o candidato à Presidência da República Aécio Neves (PSDB) agradeceu neste domingo o apoio da candidata derrotada Marina Silva (PSB) e disse que a adesão dela leva a candidatura tucana a um “novo momento”.

— Hoje vou iniciar as minhas palavras agradecendo, de forma muito sincera, a manifestação que acaba de ocorrer em São Paulo de Marina Silva de apoio à nossa candidatura. Marina representa o sentimento de uma parcela muito expressiva da população brasileira que quer voltar a acreditar na política como instrumento de transformação — disse ele

Aécio foi informado ontem à noite por Marina, via telefone, de sua decisão.

— A chegada de Marina constrói aquilo que é essencial, um novo momento da nossa candidatura. De forma definitiva, com a chegada de Marina, dos seus valores, amor ao Brasil e história de vida, a minha candidatura não é mais a candidatura de um partido ou de uma aliança partidária. É uma candidatura que representa o profundo sentimento de mudança que hoje se alastra pela sociedade. Saberei conduzir essa bandeira com dignidade, retidão e coragem porque o que está em jogo não é a eleição de um candidato e a derrota de outra. É algo muito mais valioso, a possibilidade de o Brasil se reencontrar com seu próprio futuro — afirmou o tucano.

O presidenciável não descartou um encontro nos próximos dias para retribuir o gesto de Marina. Mas disse que, por enquanto, não há nada marcado. Aécio evitou comentar se a ex-senadora terá alguma participação na campanha do segundo turno.

— Não cabe a mim solicitar absolutamente mais nada (a ela) — disse.

Aécio não chegou a tempo para acompanhar a missa de comemoração do dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, em Aparecida. A celebração começou às 9 horas, mas, por conta de más condições do tempo, o avião do candidato não pôde decolar do Rio de Janeiro na hora marcada. Ele chegou ao Santuário de Aparecida por volta das 11 horas e concedeu uma entrevista coletiva. Aécio estava acompanhado da mulher, Letícia, do governador Geraldo Alckmin e do senador eleito, José Serra.

Ausência de Dilma
Segundo o bispo auxiliar de Aparecida, dom Darcy José, a presidente Dilma Rousseff foi convidada para a missa, mas ela alegou incompatibilidade de agenda para justificar a ausência. O religioso considerou por bem fazer a ressalva já que entre as autoridades que participaram da coletiva de imprensa organizada pela igreja havia somente políticos do PSDB.

Aécio reafirmou fé em valores cristãos e não poupou Dilma. Ele voltou a dizer que a adversária está “desesperada” ao reagir a declaração feita ontem por ela de que os tucanos não poderiam criticar loteamento político no governo federal porque o primeiro cargo público de Aécio havia sido uma indicação política para a Caixa Econômica Federal.

— Estamos vendo uma candidata desesperada e à beira de um ataque de nervos. Os ataques que ela faz estão no meu currículo. Eu ocupei todos os cargos públicos com extrema dignidade, aqueles para os quais fui nomeado e todos os outros que ocupei pelo voto popular, numa trajetória oposta a dela , que construiu sua vida pública quase toda por indicações. Não considero isso um demérito. Talvez a grande diferença seja que, em todos os cargos que ocupei, eu os honrei, agi com dignidade e decência. Não podemos dizer o mesmo dos indicados da presidente.

Para PT, apoio da viúva de Campos é pior

Andréia Sadi – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O comitê petista recebeu "sem surpresa" a declaração de apoio de Marina Silva a Aécio Neves (PSDB) neste domingo (12). Para assessores de Dilma Rousseff, preocupa mais o gesto da família Campos pró-Aécio do que a manifestação de Marina.

Coordenadores da campanha disseram à Folha que o apoio de Renata Campos, viúva de Eduardo Campos, pode abrir a "janela" no Nordeste que o tucano precisa para conseguir votos na região.

A avaliação é que familiares de Campos podem garantir vantagem ao tucano em Pernambuco, base eleitoral do ex-governador do Estado, morto em um acidente aéreo no dia 13 de agosto.

Já Marina, afirmam, perdeu protagonismo porque demorou a declarar seu apoio, visto por petistas como "troco" à campanha de desconstrução de sua candidatura capitaneada pelo PT no primeiro turno.

Mas os petistas reconhecem que as duas manifestações de apoio criam uma "agenda positiva" para Aécio. "Principalmente em uma semana coroada por depoimentos da [investigação da PF] Lava Jato e o avião envolvendo assessor de Fernando Pimentel", analisa um ministro da presidente Dilma Rousseff.

Na última quarta (8), um colaborador da campanha de Pimentel foi levado à Polícia Federal para prestar esclarecimentos sobre dinheiro suspeito encontrado em um avião.

Apoio reforça simbologia da mudança, avaliam especialistas

• Marina ajuda Aécio a manter eleitores, enquanto família Campos pode garantir votos que tucano dificilmente conseguiria sozinho no Nordeste, afirmam

Eduardo Bresciani – O Globo

O apoio de Marina Silva (PSB) a Aécio Neves (PSDB) no segundo turno reforça a simbologia da mudança, defendida pelo candidato, e serve para consolidar a vontade manifestada pela maioria do eleitorado da candidata derrotada, medida pelas pesquisas de intenção de voto. Na visão de cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO, o posicionamento de Marina ajuda Aécio a manter eleitores que já tenderiam a apoiá-lo, enquanto o respaldo anunciado no sábado pela família de Eduardo Campos, morto em agosto, pode trazer para o tucano votos que ele dificilmente conseguiria em Pernambuco, onde teve seu pior desempenho no primeiro turno, e no restante do Nordeste.

Doutora em Ciências Políticas e professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Vera Chaia afirma que o peso político da declaração de voto de Marina fica esvaziado devido ao processo criado pela candidata derrotada para anunciar seu posicionamento, mas não deixa de ser importante.

- Ela demorou tanto, colocou tantas exigências que eu sinceramente não sei se haverá uma repercussão direta em voto. Mas claro que, para o Aécio, isso é importante do ponto de vista político e simbólico, ainda que não pareça ser um apoio tão verdadeiro e que no PSB já existam divergências declaradas - afirmou.

Murillo de Aragão, da consultoria Arko Advice, observa que a movimentação manteve uma agenda positiva para o tucano. Para ele, a posição de Marina pode ajudar Aécio a manter o apoio de eleitores de centros urbanos identificados com Marina que já tinham indicado voto no candidato do PSDB neste segundo turno (64% do total dos votos em Marina, segundo o Ibope).

- A declaração de Marina, ainda que tenha sido desvalorizada pela demora, é importante porque cria mais um fato positivo para Aécio. Vale ressaltar que Marina tem muitos votos em centros urbanos, e esse apoio endossa a decisão que a maior parte dos eleitores dela já vinha manifestando nas primeiras pesquisas - destaca.

O professor João Paulo Peixoto, da Universidade de Brasília (UnB), disse que o apoio de Marina agrega à campanha de Aécio também por refletir a repulsa dela aos ataques feitos pela campanha da presidente Dilma Rousseff (PT) no primeiro turno:

- Esse movimento era esperado, até por causa dos ataques que ela sofreu de Dilma e do PT, enquanto Aécio maneirou nas críticas. Ela colocou muitas exigências, algumas até descabidas, mas é um fator positivo e que pode ajudar na decisão do eleitor que permaneceu com ela até o final.

Os analistas consideraram extremamente valioso o anúncio da família de Campos a favor de Aécio. Foi em Pernambuco que ele teve no primeiro turno seu pior desempenho no estado, com apenas 5,93% dos votos, enquanto Marina Silva foi vitoriosa com 48,05% do eleitorado, mais de 2,3 milhões de votos.

- Esse apoio da mulher e dos filhos de Eduardo Campos é importante. Marina teve mais de dois milhões de votos em Pernambuco e este capital político é mais da família do que da candidata - avaliou Aragão.

Para Vera Chaia, esse apoio tem ainda a vantagem de parecer mais verdadeiro:

- Aécio teve o seu pior desempenho neste estado e, agora, pode resistir mais à força do PT.

Peixoto vai além e acha que o endosso da família Campos pode auxiliar o tucano em outros estados do Nordeste, por trazer de volta o clima de comoção que impulsionou Marina em parte da campanha:

- A família de Campos conseguiu eleger o governador no estado, Paulo Câmara, e alavancar Marina. Avalio que isso pode se espalhar pelo Nordeste, porque o nordestino é muito sentimental e emotivo. Por isso, é um apoio que pode extrapolar Pernambuco e ajudar Aécio em toda a região.

Meta do PSDB paulista é 60% de votos

Fernando Taquari – Valor Econômico

SÃO PAULO - Animados com a votação de Aécio Neves em São Paulo no primeiro turno, integrantes do diretório estadual do PSDB apostam que o presidenciável tucano pode conquistar 60% dos votos válidos no Estado no segundo turno da eleição presidencial. Esse resultado representaria o melhor desempenho de um candidato a presidente do partido em terras paulistas desde pelo menos 2002. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não disponibiliza em seu site informações mais detalhadas sobre as eleições presidenciais de 1994 e 1998, quando Fernando Henrique Cardoso (PSDB) foi o vitorioso na esfera nacional.

A projeção dos tucanos supera a votação obtida no Estado por José Serra e Geraldo Alckmin, as duas principais lideranças do PSDB paulista, em disputas anteriores ao Palácio do Planalto. Em 2002, Serra teve no segundo turno 44% dos votos válidos e acabou derrotado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ficou 55%. Com 52%, Alckmin deu o troco e derrotou o petista (47%) no maior colégio eleitoral do país em 2006. Já em 2010, Serra venceu a presidente Dilma Rousseff (PT) por 54% a 45%. Nas três oportunidades, porém, a vitória no âmbito federal ficou com o PT.

Tucanos paulistas, portanto, acreditam que caberá a um mineiro impor aos rivais petistas sua maior derrota em São Paulo desde 2002. A aposta, por outro lado, também serve para pacificar o clima no PSDB em meio às especulações sobre o engajamento de Serra e Alckmin na campanha de Aécio. Isso porque um fracasso do presidenciável em 2014 colocaria os dois tucanos paulistas como candidatos naturais a presidente na eleição de 2018. Aliados do governador reeleito rechaçam a tese sobre a de falta de empenho.

"Alckmin teve um papel fundamental na votação do Aécio (44% dos votos válidos) no Estado", disse o presidente do diretório estadual, deputado Duarte Nogueira. O presidenciável venceu a disputa em 564 dos 645 municípios paulistas, inclusive, em 83% das cidades administradas pelo PT. "O governador adotou ao longo de toda campanha uma postura de militante. E faz o mesmo neste segundo turno", acrescentou José Aníbal (PSDB), primeiro suplente de Serra, eleito para o Senado.

Na realidade, Alckmin demorou para incluir o presidenciável nos programas de TV e permitiu a criação dos comitês conjuntos com PSB que pediam voto nele para governador e em Eduardo Campos para presidente. A ideia naufragou depois da morte do então candidato do PSB em um acidente aéreo em agosto. O engajamento dos paulistas, segundo um dirigente tucano, cresceu de forma gradativa e atingiu seu ápice neste segundo turno com a perspectiva real de vitória, o que não ocorreu nas eleições de 2002, 2006 e 2010, quando os candidatos tucanos pouco ameaçaram a vitória do PT.

Diante da possibilidade do "volta Lula em 2018", tucanos vislumbram nesta eleição a melhor chance de voltar ao Planalto depois de 12 anos. Neste sentido, o esforço concentrado por Aécio representa uma questão de sobrevivência política do partido, revela o dirigente. O PSDB não quer correr o risco de esperar mais 12 anos para voltar a comandar o país, considerando uma possível reeleição de Lula em 2022. Isso representaria no total 24 anos de oposição, fora a possibilidade de ver minguar neste processo sua representação no Congresso.

Por isso, Alckmin e Serra estariam dispostos a esquecer o 'corpo mole' de Aécio nas eleições presidenciais de 2002, 2006 e 2010, quando o mineiro, com alto índice de aprovação e envolvido em disputas locais, foi acusado internamente de ter feito pouco esforço para eleger os correligionários, então candidatos à Presidência. Por outro lado, os dois tucanos de São Paulo esperam acenos do presidenciável pelo fim da reeleição. O tema é tratado de forma cautelosa no ninho tucano.

Ao ser cobrado sobre o assunto por Marina Silva (PSB), Aécio desconversou. Disse que era a favor da medida, mas que caberia ao Congresso aprovar a mudança.

Carlos Melo - Eleitorado da terceira colocada se decidiu antes dela

• Cientista político analisa impactos da decisão da ex-ministra de apoiar tucano

- O Estado de S. Paulo

Eleição é fenômeno dinâmico: repleto de acontecimentos, adesões, críticas, ataques e contra-ataques cotidianos. No 2.º turno, o processo é ainda mais vertiginoso. Tudo se precipita. Longe vai o tempo em que caciques procrastinavam e, por fim, conduziam as bases ao rumo pretendido. O processo de transferência é controverso e duvidoso, há cada vez menos condutores naturais de votos. O eleitor vota de acordo com o líder, ou é o líder que se antecipa ao eleitor? Leonel Brizola, que na campanha presidencial de 1989 apoiou Luiz Inácio Lula da Silva contra Fernando Collor, é exceção, não a regra. Na maioria das vezes, a definição do eleitor se impõe.

Claro que a adesão de Marina Silva à candidatura do PSDB é importante para Aécio Neves: não se despreza apoio, menos ainda de uma adversária que, no 1.º turno, teve 21,3% dos votos válidos. A adesão reforça o tônus positivo da campanha tucana e isola Dilma Rousseff, dá boas imagens ao programa de TV e propicia a fixação de um discurso mudancista, permitindo a utilização de metáforas grandiloquentes, mas não é exatamente assim. Os principais aliados e assessores da ex-senadora Marina já haviam se posicionado e, como uma maré, a levaram ao mar de ondas do ex-surfista Aécio.

Positivo para Aécio, mas, nesta altura, possivelmente neutro para Dilma: de acordo com as pesquisas, também o eleitorado de Marina, independentemente da opinião dela, já se posicionou majoritariamente em favor de Aécio e, em menor medida, em relação a Dilma. Fatos e áudios vindos de escândalos na Petrobrás talvez sejam mais efetivos que o pronunciamento da ex-senadora. Dilma não pode perder o que nunca teve, nem Aécio ganhar o que já conquistara.

Quem parece ter perdido mais foi mesmo Marina. Não pela decisão - de resto, legítima -, mas pela demora, pela espera, pela aparente indefinição e por ter retirado de Aécio menos do que exigiu "programaticamente", para usar sua expressão favorita. Políticos mais sagazes sentem mais cedo o pulsar das ruas e se antecipam a eleitores. Marina, atropelada pelo fatos, mais uma vez foi a reboque das circunstâncias. Seu apoio é quase um romance de outono: pode-se senti-lo, é claro, mas mais proveitoso seria se o vivesse mais cedo.

*Cientista político e professor do INSPER

Ricardo Noblat: Lula está de saco cheio. Eu também!

- O Globo

"A candidata Dilma deveria respeitar mais a inteligência dos brasileiros e o nível da campanha eleitoral" - Aécio Neves

Cuidado! Nada de acreditar no que disseram à Polícia Federal e à Justiça Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, e Alberto Youssef, doleiro, sobre o esquema de desvio de R$ 10 bilhões da empresa para beneficiar políticos em geral e alguns partidos em particular - PT, PMDB e PP. Os dois podem estar mentindo. Quando comprovada de fato, a verdade deverá ser muito pior. Duvida?

GABA-SE A presidente Dilma Rousseff — e Lula também — da liberdade com que atua a Polícia Federal. Sempre que se descobre um novo escândalo envolvendo o PT e seus aliados mais fiéis, Dilma corre a exaltar as virtudes republicanas do seu governo e dá a entender que a Polícia Federal só procede assim porque ela deixa. Como se a Polícia Federal fosse um órgão de governo e não de Estado.

AQUI CABEM pelo menos duas perguntas: se é marca da Era PT o empenho dos governos em colaborar nas investigações de malfeitos, por que há sete meses a Polícia Federal tenta ouvir Lula em um processo sobre restos do mensalão e simplesmente não consegue? Lula está para ser interrogado na condição de eventual testemunha — jamais de réu. Como ex-presidente, escolherá hora e local para depor. Não o faz.

A SEGUNDA PERGUNTA: se Dilma repele com veemência a insinuação de que possa não se interessar pelo combate à roubalheira, por que então barra qualquer iniciativa das duas CPIs da Petrobras de apurar o que se passou na empresa nos últimos 12 anos? Só a Polícia Federal pode ser livre? "Eu sou a favor de, doa a quem doer, as pessoas têm que responder pelo que fazem , seja de que partido for", prega Dilma. Não convence.

ARRISCO-ME A ser impiedoso com a presidente por entender que o jornalismo não cobra piedade de quem o exerce, mas senso de justiça. Dilma posa de incorruptível, e deve ser. Nada se conhece que indique o contrário. Quanto a ser conivente com a corrupção... Ela o é, assim como a maioria dos governantes por toda parte. Paulo Roberto roubou desde que foi nomeado por Lula diretor da Petrobras.

LULA IGNORAVA o que Paulo Roberto fazia por lá a serviço do PP? O que fazia meia dúzia de diretores nomeados também por ele a pedido de PP, PT e PMDB? Dois anos antes de se eleger presidente, Dilma convidou Paulo Roberto para o casamento de sua filha. Não sabia que ele era ladrão? Demitiu-o, "a pedido", em 2012. Paulo Roberto deixou a Petrobras cercado de elogios. Dilma desconhecia seu prontuário? Ora, faça-me o favor!

NA SEMANA PASSADA, Dilma cogitou demitir Sérgio Machado, um economista cearense que há mais de dez anos preside a Transpetro, subsidiária da Petrobras. Paulo Roberto contou à Justiça que recebeu de Sérgio R$ 500 mil em espécie. O padrinho de Sérgio é Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, citado por Paulo Roberto como envolvido com a corrupção na Petrobras. Além de cogitar, o que mais fez Dilma?

DE VOLT A DE um comício em Maceió, onde, ao lado do senador Fernando Collor, segurou no microfone para que discursasse Renan Filho, governador de Alagoas, Dilma esbarrou na oposição de Renan, o pai, à demissão de Sérgio. E deixou de cogitá-la. Para demitir Sérgio, seria preciso que Dilma conseguisse o afastamento de João Vaccari Neto do cargo de tesoureiro do PT, argumentou Renan. Vaccari é outro emporcalhado pela lama da Petrobras.

LULA DISSE QUE está de "saco cheio" com denúncias de corrupção contra o PT feitas às vésperas de eleições. Eu também estou. E você?

José Roberto de Toledo: Governo de (des)união

- O Estado de S. Paulo

O eleitorado está dividido como nunca esteve em uma eleição presidencial brasileira (não creia em nada além de 51% a 49%). O Congresso Nacional virou uma S.A. de 28 acionistas minoritários. A eleição de governador é a volta dos que não foram. Ou seja, o poder federal ainda mais disperso frente ao poder concentrado dos caciques regionais. O que esperar do(a) presidente nesse cenário? Depende de quanta decepção se está disposto a sofrer.
Em caso de eleição de Aécio Neves (PSDB), muitos de seus eleitores se darão por satisfeitos em apear o PT do poder. À comemoração do setor empresarial e promessas de investimento se seguirão alguns meses de "boom" do mercado financeiro.

Há uma bolha de crédito barato no mundo, esperando uma janela de oportunidades se abrir em algum canto. Se Dilma Rousseff (PT) perder, a vidraça vai ser pequena para a quantidade de dólares que deve assolar o País. A Bolsa vai subir e o dólar deve cair. Mas, como diz um dos maiores investidores na Bovespa, toda vez que se dá muita moleza para o mercado a coisa não acaba bem.

Passados os 100 dias de lua-de-mel a que todo novo presidente tem direito, será a hora de arrumar a casa, colocar as contas em ordem, como prometido em campanha. É aí que as coisas complicam. Eleitor de Aécio e especialista em gasto público, Mansueto Almeida não se cansa de repetir que a margem de manobra para o ajuste das contas federais é menos do que estreita.

Cortes de investimento e custeio têm lá o seu apelo simbólico, mas são insuficientes para produzir o tamanho do ajuste que os próprios defensores desse ajuste julgam necessário. Para isso, só com reformas estruturais: tributária, previdenciária, trabalhista. O tipo de reforma que precisa ser aprovada pelo Congresso. Na Câmara, onde o PSDB terá 54 dos 513 deputados. No Senado, onde haverá 10 tucanos e 73 aves de plumagens diversas.

Impossível? Fernando Henrique Cardoso (PSDB) provou que quando o presidente quer muito alguma coisa - no seu caso, aprovar o direito à reeleição -, ele é capaz de consegui-la. Tudo depende do preço que se está disposto a pagar. Com o PMDB no comando das duas Casas parlamentares, não será nenhuma pechincha.

Também é bom lembrar que o poder presidencial não é ilimitado. Ao eleger-se, ele ganha um cacife que tem que durar quatro anos. Se gastar muitas fichas de uma vez só, arrisca-se a ficar descoberto e depender de empréstimos dos caciques que comandam os partidos aliados - a juros que fariam Armínio Fraga corar. Tudo isso sem falar do Brasil real, onde vai continuar faltando água, energia e - se der azar - sobrando gás lacrimogêneo.

E se Dilma for reeleita? Esqueça o "boom" do mercado financeiro e descarte a comemoração do empresariado. O resto é quase igual.

Quando uma eleição presidencial fica muito polarizada, como esta e tantas que a antecederam, o foco vai todo para os defeitos do adversário. Os dois lados começam a acreditar na própria propaganda negativa: o problema é o outro, basta tirá-lo de cena que tudo se resolve. Se fosse assim, não estaríamos onde estamos, pois os dois lados já passaram pelo poder.

Os entraves no caminho do Brasil não são fulano ou beltrano. São as estruturas que reproduzem milhares de fulanos e beltranos. A começar por um sistema eleitoral que estimula a multiplicação partidária via aparelho excretor. Não há risco de dar certo. A eleição para deputado federal aumentou de inacreditáveis 22 para impossíveis 28 os partidos com representação na Câmara. É a fisiologia do fisiologismo. A progenitora do toma lá dá cá.

Para começar a reverter esse processo, basta proibir coligações partidárias nas eleições para a Câmara. Pelas contas de Daniel Bramatti e Rodrigo Burgarelli, do Estadão Dados, seis legendas não teriam eleito deputados sem pegar carona nos votos dos partidos coligados, e a Câmara ficaria com 22 partidos. Inacreditável, mas não impossível.

Valdo Cruz - O vento de cada um

A duas semanas da eleição, o vento sopra a favor de Aécio Neves, enquanto a presidente Dilma Rousseff enfrenta tempestades.

Fato novo nas eleições recentes. Desde 2002, o PT ditou o tom da reta final da campanha, enquanto os tucanos buscavam fugir das cordas. Os papéis, agora, estão invertidos.

O tucano obteve apoios vitais no fim de semana. Da família de Eduardo Campos, essencial para melhorar sua votação no Nordeste. E de Marina Silva, que desta vez frustrou petistas e não ficou neutra.

Dilma Rousseff, do seu lado, entrou numa agenda negativa. Tenta se livrar do escândalo da Petrobras e da inflação, que voltou a subir e fez sua equipe dar munição ao PSDB ao sugerir tirar o filé mignon da mesa do almoço e do jantar.

Na visão de um amigo da presidente, ela precisa sair rápido da defensiva no caso Petrobras. Sua receita é seguir a linha "a Justiça vai cuidar dos criminosos; eu, do Brasil".

Afinal, diz ele, Dilma não tem o que temer. Deveria se descolar do Petrogate, reconhecer que houve desvios, insistir que os culpados terão de pagar e virar a página. Só que este caminho complica seu partido.

Pior, em sua visão, é que ela tem adotado um tom que causa efeito contrário. Atrai a crise para seu colo. Por exemplo, desqualificar os depoimentos do ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa, que acusa PT, PMDB e PP de lucrarem com a petropropina, é uma missão inglória.

Afinal, difícil não crer em boa parte do que o ex-diretor diz quando ele vai devolver R$ 70 milhões frutos da roubalheira. Sem falar que suas delações só terão valor, reduzindo sua futura pena, se forem robustas.

Enfim, Dilma entra na defensiva na fase dos debates, que têm tudo para ser decisivos, enquanto Aécio busca avançar no Nordeste petista e terá o voto de Marina. Da maioria de seus seguidores, veremos no final.

É bom lembrar, porém, que esta eleição já teve toda sorte de favorito e de derrotado. Nada está decidido.

Renato Janine Ribeiro: Confronto de surdos

• Ver bem qual a marca registrada dos candidatos

- Valor Econômico

Um dos fatores que inibem o bom debate nesta campanha eleitoral - e talvez em todas as nossas - é a tendência a reduzir a complexa escolha do candidato a uma única questão. Tucanos questionam petistas: como vocês votam em nomes de um partido culpado pelo mensalão? Ora, uma pergunta destas, de uma linha só, suscita respostas de páginas inteiras. O eleitor de Dilma dirá que os governos petistas apuraram muito mais casos de corrupção do que o tucano, que denúncias mais graves contra o PSDB ficaram por isso mesmo e que, tudo somado, os ganhos sociais e econômicos do governo atual e do anterior superam o de FHC. E o questionador ficará convencido de que o PT é um partido de gente desonesta. Assim como o eleitor petista não terá a menor dúvida de que o PSDB sacrificará sem dramas os interesses do Brasil e de nosso povo, em favor dos caprichos norte-americanos e de uma elite endinheirada. Ficamos num confronto de surdos.

Deveríamos, em vez disso, reconhecer que na democracia a decisão do voto é complexa. Conversando com muita gente, de várias classes sociais e Estados, noto que a maior parte tem restrições a todos os candidatos, a todos os partidos. Termina escolhendo o mal menor. Ouço criticarem o lado improvisado e religioso de Marina, a crise econômica legada pelo PSDB em 2002 e a má administração da água em São Paulo, a soberba e a crise hoje divisada no âmbito federal. Votam no nome que consideram menos ruim. Não são votos entusiastas. Provavelmente assim age a maioria. Num país que se polarizou, que parece rachado pela metade, inúmeros se decidem logo antes de votar.

Isto deveria levar-nos a um cuidado maior. Há realmente um racha político no Brasil? Ou o racha se dá só entre os que falam, respiram, sonham política - que são uma minoria, uns do PT, outros do PSDB? Porque um bom terço é mais ou menos indiferente ou, pelo menos, indeciso. No dia de votar os números dão a impressão de que a sociedade quer ou Dilma, ou Aécio, ou Marina. Mas será assim mesmo? Afinal, a segunda maior votação foi a dos que não escolheram nenhum deles, de modo que rola na Internet a piada de que o turno final deveria se dar entre Dilma e Ninguém...

O que fazer? Primeiro de tudo, é preciso um cuidado cognitivo. É facílimo reduzir o adversário à caricatura. Fotos são uma festa para isso. Dilma de rosto fechado ou Aécio com um copo na mão são um presente para o lado oposto. Mas, se as imagens insinuam muito, nada dizem de consistente. Só reforçam o estereótipo. E esse jogo de estereótipos leva muitos a ver o PT como corrupto e o PSDB como traidor do povo.

As acusações usuais ao PT o condenam por suas alianças, esquecendo que são as mesmas, com as mesmas pessoas, que o PSDB firmou quando esteve no governo, e a corrupção, omitindo que há denúncias inquietantes de malfeitos dos dois partidos. Quem quer ir mais fundo deveria procurar a marca registrada de cada partido. Tento destacar as duas.

O PT é o grande partido da inclusão social. Ela nunca se deu em escala comparável neste País. Com ele, ela se tornou política de Estado, irrenunciável. Serra e Alckmin preferiam ressaltar o papel do Plano Real para a inclusão social, mas, se ele foi um pré-requisito para tanto, as estatísticas mostram que a inclusão mesmo veio nos governos petistas. Aécio Neves, aliás, foi o primeiro presidenciável tucano a perceber isso, ao contrário de seus predecessores na candidatura. Suas chances eleitorais estão ligadas a esse reconhecimento. E a força do PT está no fato de continuar trabalhando pela inclusão social, que avançou muito, mas não está concluída. Reverter o estrago de séculos é tarefa de décadas.

Já o PSDB é o grande partido da preocupação econômica. Não quer dizer que o PT seja um bando de malucos irresponsáveis com a economia, nem que os tucanos sejam indiferentes à política social. Mas cada um tem sua ênfase. E o problema é que isso gera dois monólogos de surdos. Um fala de programas sociais, o outro de economia. Os dois temas são necessários, mas se discursa como se cada um excluísse o outro.

E o mesmo, no plano da ética. Para uma parte da sociedade, que está na oposição, a maior ofensa à ética está nos atos de corrupção atribuídos ao PT. (Como desde 2006 sempre surgem denúncias severas a poucos dias da eleição, entende-se que os petistas desconfiem delas.) Para outra parte, que vota no PT, a maior chaga ética está em convivermos com tanta miséria e alta pobreza. Mas é raríssimo eu ler na mídia denúncias a esta mácula constitutiva de nossa sociedade. Não por acaso, neste período eleitoral, o artigo mais forte sobre a miséria saiu na edição brasileira de "El País", não na imprensa propriamente nacional ("A busca pelos 'excluídos do Bolsa Família' encontra os brasileiros invisíveis", em 20 de setembro). "El País", se tem simpatia por um dos lados em confronto, não é certamente pelo PT... Mas, europeu, ele percebe que há algo intolerável aqui. Se denuncia a corrupção, que seguramente é inadmissível e deve ser extirpada de nossos costumes, também ataca a miséria.

Infelizmente, até na ética somos seletivos. E isto só nos prejudica, porque agendas que precisam ser combinadas acabam se hostilizando. Talvez o repentino sucesso de Marina se tenha devido à compreensão de que essa polarização faz mal à sociedade. No anseio de destruir o adversário (que um velho publicitário chamou, outro dia, de "inimigo"), dificulta-se a convivência, suprime-se o diálogo e reduzem-se as chances de resolver os problemas do País. Por isso têm sido pouco fecundas nossas campanhas eleitorais.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

Simon Schwartzman - A contribuição de Marina

• Existe muito espaço e possibilidades de uma real aliança dos "bons", que cabe agora a Aécio articular

- Folha de S. Paulo

A campanha de Marina trouxe à luz questões centrais, que o candidato da oposição tem a tarefa de incorporar e levar adiante.

A primeira é a grave questão ambiental e climática, inseparável do problema da energia, que está longe de ser, simplesmente, um amor romântico pelo verde das florestas.

Estamos vivendo uma seca sem precedentes, com os paulistas ameaçados de ficar sem água, o petróleo substituindo as hidroelétricas e a poluição do ar das cidades se agravando, enquanto o governo desorganiza a economia do setor de energia, passando a conta para a população, incentiva a produção de automóveis que não cabem mais nas ruas, subsidia a gasolina, leva à falência a indústria do álcool e perde o controle do desmatamento.

A questão ambiental já consta do programa de governo de Aécio Neves, mas não teve ainda destaque na campanha. É de se esperar que, com a contribuição de Marina e sua equipe, ela adquira a prioridade que precisa ter.

A segunda é a crise do sistema político-partidário, que Marina prometeu superar ao dizer que faria um governo com "os bons" de todos os partidos, e ao insistir na necessidade de fortalecer a participação da sociedade na vida política do país.

Muitos consideraram a primeira proposta ingênua. Como governar sem fazer concessões aos bandidos de sempre? Sobre isto, é importante lembrar que grande parte da degradação da política brasileira dos últimos anos foi resultado da opção do PT de declarar o PSDB como seu principal inimigo e buscar aliados entre as oligarquias mais retrógadas do país, compradas por debaixo do pano. Com isto o governo perdeu não somente a possibilidade de ter o apoio do PSDB para políticas econômicas e sociais apropriadas, que não seria negado, como alienou muitos que apoiaram o PT em seu início, acreditando que ele seria, de fato, o partido da ética e dos valores sociais. Existe muito espaço e possibilidades de uma real aliança dos "bons", que cabe agora a Aécio Neves articular.

O tema da participação da cidadania é mais difícil, mas estava presente nos protestos de junho de 2013, que Marina procurou encarnar. A ideia de que a democracia requer não somente partidos, mas formas ativas de participação, é antiga e está presente na Constituição de 1988. Ela se perverte, no entanto, quando organizações da sociedade civil se transformam em ONGs profissionais financiadas com dinheiro público, ou quando o direito de organização sindical é substituído por sindicatos financiados com o imposto sindical. O primeiro Lula, ainda dos anos da ditadura, surgiu como oposição ao peleguismo sindical, mas se transformou, depois, em seu principal defensor. É um tema que precisa ser reaberto.

Já é hora, também, de questionar os mandatos de quatro anos, as reeleições, o financiamento das campanhas e os partidos de aluguel, como parte de uma reforma mais ampla do sistema eleitoral, para que os governantes tenham tempo de governar e a sociedade se sinta representada por eles.

Rubens Ricupero - Destruição sem retorno

• É terra arrasada: degradação atinge Petrobras, Correios, Ipea, IBGE, Embrapa... Fora o Itamaraty, que definha

- Folha de S. Paulo

A degradação da Petrobras, da Eletrobras e do BNDES nada tem em comum com a "destruição criativa" de Schumpeter. É pura terra arrasada, demolição sem criação. Custa a crer que um governo com pretensão de herdeiro de Getúlio se encarregue de dilapidar os três mais importantes legados institucionais do segundo governo Vargas.

A sanha exterminadora está longe de se deter nos três. Sofrem do mesmo efeito desagregador instituições como o Ipea, o Tesouro, até o IBGE, fundado no primeiro governo Vargas, afetado por escassez de recursos e divisões internas. Problemas similares comprometem a Embrapa e a vigilância sanitária do Ministério da Agricultura, setores vitais para manter a vantagem comparativa brasileira na exportação.

A lista poderia ser ampliada com os Correios, entre outros, mas esses exemplos bastam para mostrar que o fenômeno é generalizado. As causas é que não são as mesmas. Onde existe muito dinheiro, na Petrobras ou no Ministério do Transporte, a fartura de queijo é que atrai os ratos.

Às vezes, o problema se origina no aparelhamento partidário, na incompetência de indicados políticos e na intromissão excessiva como nas agências reguladoras, que nem chegaram a se consolidar.

O Itamaraty é caso à parte. Sem projetos e obras tentadoras, sem verba para pagar luz e água de embaixadas prematuramente criadas, o velho ministério definha na austera, apagada e vil tristeza da desmoralização programada pelo governo.

Três flagelos o devastaram ao mesmo tempo. O primeiro foi a expansão megalomaníaca de embaixadas sem meios de utilizá-las de modo produtivo. Criamos anos seguidos cem vagas de diplomata como se as vacas gordas fossem durar para sempre. Não surpreende agora que mais de trezentos jovens diplomatas se revoltem frustrados ao descobrir a falta de perspectivas que os aguarda.

O segundo golpe desmoralizador provém de presidente sem apreço pela diplomacia e pelos diplomatas, aos quais não perde ocasião de demonstrar seu desdém. Nem na fase caótica da proclamação da República tivemos chefe de Estado que deixasse mais de 20 embaixadores estrangeiros esperando para apresentar credenciais como se fossem rebanho de gado.

Cerca de 230 acordos internacionais dormem na Casa Civil aguardando a providência burocrática de decreto de promulgação ou mensagem de envio ao Congresso. Foi preciso a grita dos empresários para promulgar os acordos comerciais com o Chile e a Bolívia.

O erro original coube aos diplomatas da cúpula que decidiram pôr de lado o conselho de Rio Branco e promoveram a subordinação ao partido no poder de política externa que deveria estar a serviço da sociedade brasileira como um todo.

O Barão se recusou envolver nas paixões partidárias por saber que "seria discutido, atacado, diminuído [...] e não teria a força [...] que hoje tenho como ministro para dirigir as relações exteriores".

Ao desprezar a lição, os dirigentes do Itamaraty perderam "o concurso das animações de todos meus concidadãos". Perderam mais: a proteção e o respeito da sociedade, que os abandonou à sanha do partido que pretenderam servir.

Sérgio C. Buarque - A nova polarização

Revista Será?

Nas últimas décadas, a política brasileira esteve fortemente polarizada com o PSDB-Partido da Social Democracia do Brasil e o PT-Partido dos Trabalhadores disputando o poder e a condução política do Brasil. Todas as eleições do Brasil, desde 1994, tiveram os dois partidos em confronto direto em dois grandes blocos políticos. Eduardo Campos e, depois da sua morte, Marina Silva, tentaram quebrar esta polarização com uma candidatura alternativa que, embora de oposição ao governo do PT, disputava a liderança oposicionista com Aécio Neves do PSDB. O resultado das urnas parece demonstrar que não existe espaço no Brasil para uma terceira via, na medida em que jogou para o segundo turno o candidato do PSDB repetindo a disputa entre o PT e o PSDB.

Mas agora trata-se de um novo tipo de polarização que opõe, de um lado, os petistas e, do outro, os não-petistas de diversos matizes, numa aliança não declarada de todos os que rejeitam o PT e o governo Dilma Rousseff. Esta nova polarização foi se formando no Brasil nos anos recentes pela crescente insatisfação de amplos segmentos da sociedade com o governo que perdeu o controle da economia, está envolvido em escândalos de corrupção, manipula dados e informações, aparelha a estrutura do Estado e abusa da demagogia com lançamento de programas e iniciativas imediatistas e midiáticas. Além disso, o PT incomoda com a arrogância dos que se consideram donos da verdade, da ética (que ética?), do Estado e do povo brasileiro, sintetizada na repetição monótona do “nunca antes neste país”. Este sentimento de rejeição ao PT jogou na oposição vários partidos e lideranças políticas de peso, incluindo Eduardo Campos e Marina Silva, e parece levar à moderação da rejeição ao PSDB.

Esta nova polarização – petistas e não petistas – vai dominar no segundo turno das eleições, tanto mais claramente quanto Aécio Neves demonstre capacidade para capitalizar a oposição e a rejeição ao petismo, descolando do PSDB e se distanciando da disputa tradicional que demarcava o terreno político brasileiro. Marina Silva e o PSB não conseguiram quebrar a antiga polarização PT-PSDB. Quis o eleitor que um politico tucano fosse outra vez para o confronto com o PT, agora atraindo aliados que descaracterizam a velha dicotomia. Se não pode ser a terceira via, Aécio tende a ser, nestas eleições, a liderança do sentimento de rejeição ao PT e porta-voz da ampla oposição ao governo de Dilma Roussef.

Para consolidar sua posição nesta nova polarização, Aécio Neves tem que se provar um político maior do que o seu partido e construir uma aliança com as forças políticas que pretendem encerrar o ciclo de governos do PT. O apoio declarado do PSB, de outros partidos e de lideranças nacionais como Jarbas Vasconcelos, do PMDB, e Cristovam Buarque, do PDT, mostra um movimento claro de emergência de uma forte coalisão multi-partidária liderada por Aécio Neves. Mas o eleitorado brasileiro e parcela importante da oposição ao governo Dilma desejam muito mais que uma simples alternância no poder com a volta do PSDB. Embora, neste momento, a candidatura de Aécio Neves seja a única alternativa de mudança na hegemonia política petista, os brasileiros esperam que o futuro governo reorganize a economia, complemente as políticas sociais com mudanças estruturais que enfrentem as causas da pobreza e das desigualdades, realize as reformas microeconômicas, implante uma gestão responsável, profissional e eficiente e um estilo de governo republicano. A conferir.