Por Marta Watanabe - Valor Econômico
SÃO PAULO - Um conjunto de 24 Estados brasileiros mantiveram "despesas escondidas" de R$ 15,4 bilhões em 2015. Esses "esqueletos" são em geral gastos de exercícios anteriores que os Estados jogaram para 2016 por não ter condição de quitá-los no prazo. Essa não é uma prática nova, mas o valor aumentou 44% no ano passado em relação a 2014.
Entre os Estados com maior volume de "despesas escondidas" estão Minas, Bahia, Rio, Pará e Rio Grande do Sul, além do Distrito Federal. Estas seis unidades da federação responderam por R$ 9,36 bilhões. O levantamento foi feito pelo assessor econômico do Senado Pedro Jucá.
A rubrica "despesas de exercícios anteriores" (DEA) refere-se àquelas que ocorreram, mas para as quais não houve registro e nem foi utilizado o orçamento da época. São esqueletos reconhecidos e apropriados apenas no exercício seguinte ou depois. A DEA, destaca Jucá, é diferente dos "restos a pagar", que são despesas que entraram no orçamento do Estado. Restos a pagar são despesas empenhadas e não pagas até o fim do exercício correspondente.
Exatamente porque não consta do orçamento, explica Jucá, a DEA, pela legislação em vigor, deveria incluir apenas despesas excepcionais, mas esse caráter tem sido distorcido. O maior nível de despesas registradas como DEA em 2015 possibilitou aos Estados melhorar formalmente indicadores como resultado primário e despesa de pessoal, diz o economista.
O exemplo clássico de um caso excepcional, não previsto no orçamento, é o de sentença judicial que determina ao Estado indenizar servidores. Ou seja, não havia uma obrigação financeira a ser reconhecida antes da decisão, mas "de repente" a despesa surge.
Entre os Estados com maior valor de "despesas de exercícios anteriores", o Rio de Janeiro, que decretou calamidade pública financeira na sexta-feira, foi o que apresentou o maior crescimento, de 185% entre 2014 e o ano passado. Em Minas Gerais, essas despesas subiram 130% e na Bahia, 77%. No Distrito Federal, a DEA avançou 102%.