quinta-feira, 6 de março de 2014

Opinião do dia: Antonio Gramsci

O termo “Jacobino” terminou por assumir dois significados: existe o significado próprio , historicamente caracterizado, de um determinado partido da Revolução Francesa, que concebia o desenvolvimento da vida francesa de um modo determinado, com um programa determinado, com base em forças sociais determinadas, e que explicitou sua ação de partido e de governo com um método determinado que era caracterizado por uma extrema energia, decisão e resolução, derivado da crença fanática da virtude tanto daquele programa quanto daquele método.

Na linguagem política, os dois aspectos do jacobinismo foram cindidos e se chamou “jacobino” o político enérgico, resoluto e fanático, porque fanaticamente persuadido das virtudes taumatúrgicas de suas idéias, fossem quais fossem: nesta definição, prevaleceram os elementos destrutivos derivados do ódio contra os adversários e os inimigos, mais do que aqueles construtivos, derivados do fato de se terem adotado as reivindicações das massas populares; o elemento sectário, de conventículo, de pequeno grupo, de individualismo desenfreado, mais do que o elemento político nacional.

Antonio Gramsci foi um filósofo, político, cientista político, comunista e antifascista italiano(22/1/1891- 27/4/1937). Cadernos do Cárcere – O Risorgimento, p.p.68-69. Civilização Brasileira, 2002.

Venezuela registra distúrbios em dia de homenagem a Chávez

Maduro afirma que não vai permitir intervenção da OEA

Manifestantes montam barricadas em várias cidades; 3 pessoas são feridas a bala e várias são detidas

CARACAS - O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, aproveitou nesta quarta-feira os atos em homenagem ao aniversário de um ano da morte de Hugo Chávez para defender a unidade do chavismo e fazer um discurso inflamado contra a intervenção internacional. Seguidores do ex-líder saíram às ruas do país em meio a barricadas e protestos antigoverno. Enquanto Maduro ameaça responder com força a qualquer ataque à soberania nacional, a Organização dos Estados Americanos (OEA) se reúne na quinta-feira para discutir a crise política na Venezuela.

- Vou responder com força e contundência qualquer tentativa de intervenção na Venezuela. Peço apoio ao povo - disse. - Que a direita não erre com o nosso povo e a nossa revolução. A OEA, deixe-a onde está. Fora OEA agora e para sempre. Nosso caminho é a Unasul, nosso norte é o sul.
Maduro reconheceu que foram registrados protestos em pelo menos quatro estados e várias pessoas foram detidas, com apreensão de armas e coquetéis molotov. Em Caracas, manifestantes montaram barricadas em diferentes pontos da cidade, o que provocou fechamentos de vias e congestionamentos. Na cidade de Carrizal, no Estado de Miranda, a Guarda Nacional Bolivariana (GNB) lançou bombas de gás lacrimogêneo contra manifestantes, segundo o jornal “El Universal”. Pelo menos três pessoas foram baleadas na região.

O desfile cívico-militar em homenagem a Chávez começou com uma hora de atraso e contou com a presença de líderes aliados ao chavismo. Maduro percorreu parte do desfile e saudou os chefes de Estado presentes da cerimônia, entre eles Raúl Castro, de Cuba, e Evo Morales, da Bolívia.
O presidente disse que a lealdade do povo venezuelano foi testada na ausência de Chávez e que o ex-presidente foi o grande democratizador da vida política do país.

- Aqui estamos mais unidos do que nunca - afirmou.

Após o desfile, haverá uma cerimônia no quartel onde se encontra o corpo do falecido líder, o mesmo local onde, em 1992, Chávez comandou uma tentativa de golpe que marcou o início da sua carreira política.

A estreia mundial do documentário “Mi Amigo Hugo”, dirigido pelo americano Oliver Stone, também será um dos pontos fortes das homenagens. O filme, de 50 minutos, será exibido na noite de quinta-feira pela rede de TV Telesur e reúne depoimentos de familiares, amigos, intelectuais e políticos.

- Espero que essas entrevistas, juntas, deem uma ideia do amor, do tamanho da falta que ele faz para seu povo - disse Stone em entrevista à Telesur.

Debate se centra no sucessor
Um ano depois de Chávez morrer em consequência de um câncer, as homenagens serão para Maduro uma oportunidade de recuperar as ruas e mostrar aos adversários que ele também é capaz de mobilizar as massas.

O ex-motorista de ônibus e líder sindical não tem o carisma de Chávez nem o domínio pessoal que ele tinha sobre o Partido Socialista Unido da Venezuela. Mostra-se também incapaz de resolver os muitos problemas do país, como a inflação, a deterioração dos serviços públicos e a disparada da criminalidade.

Em geral, os chavistas se mantêm leais ao desejo expresso por Chávez de apoiar Maduro. Até agora, os protestos não foram além de um núcleo da classe média, e os militares parecem fiéis ao governo, o que torna improvável uma reviravolta no poder como aconteceu na Ucrânia.

O feriado pela morte de Chávez emendou-se ao Carnaval, fazendo com que a Venezuela tivesse uma semana de recesso, tirando um pouco do fôlego dos protestos da oposição. Mesmo assim, um núcleo duro de estudantes e líderes oposicionistas radicais permanece nas ruas.

Fonte: O Globo

Maduro anuncia rompimento da relação diplomática com o Panamá

Medida é retaliação ao apoio do país para que a OEA discutisse a violência nos protestos na Venezuela

Reuters

CARACAS - A Venezuela rompeu relações diplomáticas com o Panamá afirmando que o país conspirava para fazer uma discussão sobre a crise venezuelana na Organização dos Estados Americanos (OEA).

Nicolás Maduro, o presidente Venezuelano, chamou o colega panamenho, Ricardo Martinelli, de “lacaio”.

— Não vamos permitir que ninguém se meta impunemente com a nossa pátria, lacaio rasteiro o presidente do Panamá — disse durante uma cerimônia sobre um ano da morte de Chávez.
O Panamá chamou, há alguns dias, uma reunião da OEA para discutir a crise venezuelana que decorre da onda de manifestações cotra o presidente Maduro. Entre opositores e governistas, 18 pessoas morreram vítimas da violência nos protestos que buscam a saída do presidente Maduro, eleito em abril.

A Venezuela quer decidir a questão em fóruns regionais como a Unsaur e o Mercosul e afirma que os Estados Unidos estão financiando os movimentos opositores dentro do país. Os americanos negam e pedem a liberdade de presos políticos como Leopoldo López, que está detido em uma prisão militar.

Fonte: O Globo

Joaquín Villalobos: Venezuela, Leopoldo López contra Henrique Capriles

A polarização que domina a Venezuela contaminou as análises políticas com uma lógica de bons e maus

É na realidade possível que no curto prazo desmorone o governo chavista? Pode ocorrer na Venezuela o que acaba de ocorrer na Ucrânia ou o que aconteceu recentemente no mundo Árabe? Está o modelo bolivariano social e politicamente esgotado? As condições que vive Maduro são similares às que derrubaram Fujimori no Peru e outros governos do continente? As informações que chegam da Venezuela, sobretudo dos opositores, deixam a impressão de que o governo de Maduro está a ponto de cair, fruto dos protestos de rua. No entanto, derrubar governos a partir de movimentos civis não é fácil.

A polarização que domina a Venezuela contaminou as análises políticas com uma lógica de bons ou maus, empobrecendo o debate intelectual sobre o que está acontecendo nesse país. Depois de uma década, denunciar as maldades antidemocráticas do chavismo tornou-se repetitivo e irrelevante. É público que nos atuais protestos de rua não só estão presentes descontentamentos sociais, senão uma luta entre as estratégias dos dois principais líderes opositores sobre como enfrentar o chavismo. A estratégia de López inclina-se por provocar a queda em curto prazo do governo de Maduro e a de Capriles orienta-se em acumular forças para enfrentar e derrotar o chavismo em futuros processos eleitorais. Qual destes líderes têm a razão?

Todo protesto rompe a normalidade de quem participa e de quem não participa, isto torna impossível manter, de forma indefinida, milhares de pessoas mobilizadas permanentemente. A luta de rua tem por isso um período de ascensão e um período de descenso que ocorre por esgotamento natural. Um protesto social só pode ser sustentado de forma prolongada se há um fator motivacional de grande potência que seja retroalimentado por uma repressão tão brutal como a da Ucrânia. A crise econômica e a insegurança são fatores potentes para motivar um protesto social normal, mas não para tombar um governo. As eleições são o mecanismo mais efetivo para descarregar descontentamentos sociais e a Venezuela teve quase uma eleição anual durante os últimos 15 anos.

A oposição tem sobrevalorizado o fator externo em sua luta, sem considerar que a pressão internacional faz ruído, mas não desmorona governos, a não ser que se trate de uma intervenção militar, que é impensável na Venezuela. Há uma maioria de governos de esquerda na América Latina e estes seguirão apoiando Maduro por considerar que se ele chegou pelos votos, só pelos votos deve sair do poder. Este argumento não tem nada a ver com a solidariedade esquerdista, senão com defender a própria estabilidade de seus governos.

Os governos bolivarianos manipulam as instituições, aplicam a justiça segundo seu desejo, limitam a liberdade de expressão, mas não matam e usam a repressão de forma moderada. Quando uma repressão é brutal, nem pode ser ocultada, nem é necessário exagerar. Tendo em conta os quinze anos de polarização extrema que existe na Venezuela, a violência política continua sendo pouco relevante. Nem o governo quer matar, nem os opositores estão dispostos a provocar a ponto de serem mortos. A realização sucessiva de eventos eleitorais impediu que a violência se generalizasse.

Se López persiste na sua estratégia de revolta popular para que “Maduro vá embora já”, os protestos tenderão a ser cada vez menos em massa, menos pacíficos, mais violentos e mais impopulares. Os grupos de choque de López enfrentarão os grupos de choque de Maduro pelo controle da rua, até retomar uma situação cotidiana desgastante que produzirá mortos a contagotas, de lado e lado, da mesma forma que já está começando a ocorrer. Os protestos podem servir para acumular forças, denunciar e debilitar o chavismo, mas não poderão por si só derrocar o governo de Maduro. A oposição não conta com nenhum instrumento de poder para gerar um desenlace e isto só seria possível caso se produzisse uma divisão no Exército ou nas filas chavistas. No entanto, a estratégia de “insurreição” de López gera medo no revanchismo das filas chavistas e o medo é um fator de unidade e não de divisão. Portanto, López está criando mais coesão no chavismo em vez de dividi-lo.

As crises econômicas fazem perder eleições, mas não desmoronam governos automaticamente. O chavismo como fenômeno político foi um processo de inclusão social e de construção de novas elites. Ambas situações ocorreram mediante uma reorientação desordenada da renda petroleira com mecanismos que podem ser considerados corruptos, ineficientes e populistas, mas este tipo de mecanismos são historicamente similares aos que deram base a muitas outras elites e forças políticas no passado em todo o continente. Trata-se de uma força social que nasceu politicamente com Chávez e isto gera umas lealdades que não se degradam tão rapidamente por efeito da crise econômica ou porque se violem liberdades.

A oposição venezuelana cometeu graves erros no passado, seguiram uma estratégia invertida que se iniciou com o golpe de Estado e continuou com greve, protestos de rua, eleições, denúncia de fraude e retiro das eleições até fragmentar-se em dezenas de pequenos grupos. Esse erro implicou que os opositores dessem de presente a Chávez o controle total do Exército, do petróleo, do Parlamento, da Justiça e do Poder Eleitoral. Depois corrigiram, uniram-se, regressaram às eleições, ascenderam em resultados e cometeram um novo erro ao converter em derrota seu excelente resultado frente a Maduro. Sua obsessão por denunciar “fraudes” eleitorais incertos termina em deslegitimar as eleições, que são o único instrumento que têm para chegar ao governo. Não é o mesmo enfrentar uma fraude que competir em desvantagem.

Sem dúvida Maduro é um péssimo governante, a Venezuela vive uma terrível crise e o chavismo está-se esgotando, mas sua força social é suficiente para mantê-lo em pé. O problema central da oposição venezuelana não é inventar uma insurreição, mas converter-se em maioria superando as arbitrariedades antidemocráticas, dar seguranças ao chavismo de que não terá revanche, ganhar eleições e reunificar a Venezuela com chavistas incluídos. O meio século de castrismo seria impossível sem a cooperação da oposição recalcitrante do anticastrismo de Miami e o bloqueio dos Estados Unidos. Capriles tem razão, deve acumular forças. A estratégia de López paradoxalmente pode dividir a oposição e dar-lhe força a Maduro. O debate principal não é sobre a maldade do chavismo, senão sobre a estratégia da oposição, porque a sorte de Venezuela, só os venezuelanos podem decidir.

Joaquín Villalobos foi guerrilheiro salvadorenho, é consultor de assuntos de conflitos internacionais

Fonte: El País / Brasil

Presidente do PT evita polêmica com líder do PMDB na Câmara

Eduardo Cunha havia questionado nesta terça a aliança entre peemedebistas e petistas, após críticas de Rui Falcão à postura do partido na reforma ministerial

Gustavo Porto - Agência Estado

SÃO PAULO - O presidente nacional do PT, o deputado estadual Rui Falcão (SP), deve manter o silêncio sobre a polêmica entre ele e o líder do PMDB na Câmara, o deputado Eduardo Cunha (RJ). O atrito surgiu porque Falcão teria dito que o PMDB da Câmara estaria insatisfeito por não ter recebido cargos na reforma ministerial.

Cunha rebateu a afirmação de Falcão em sua conta no Twitter e chegou a questionar a aliança do PMDB com o PT, mas nesta quarta, pela manhã, baixou o tom dos ataques. "Quero falar que como líder da bancada do PMDB na Câmara, a minha posição será sempre a da maioria da bancada, mesmo que diferente da minha", afirmou.

Segundo a assessoria de Falcão, o deputado deve permanecer em São Paulo sem se pronunciar sobre o assunto. A próxima atividade pública do político será um encontro organizado pela agência espanhola Efe nesta sexta-feira na capital paulista.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Aliados, mas nem tanto

Dirigente petista chama líder do PMDB de chantagista por ameaçar aliança

Segundo ele, o PT nacional confia na maioria que Temer e Raupp dizem ter no partido e que as ‘chantagens’ não vão prosperar.

Maria Lima

BRASÍLIA - Dirigentes do PT e do PMDB elevaram o tom e continuaram nesta quarta-feira o bate-boca e a troca de ameaças sobre a manutenção da aliança dos dois partidos para apoiar a reeleição da presidente Dilma Rousseff. O presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), foi chamado a participar da reunião da bancada, convocada pelo líder do partido na Câmara, Eduardo Cunha(RJ), para a próxima terça-feira, quando será debatida a antecipação da convenção que poderá aprovar o rompimento da aliança.

Os peemedebistas acusam o presidente do PT, Rui Falcão, de estimular a divisão do partido, e de só estar interessado no tempo de TV do PMDB. Do outro lado, falando em nome de Falcão, o presidente do diretório do PT no Rio de Janeiro, o prefeito de Maricá, Washington Quaquá chamou o líder do PMDB de mentiroso e chantagista, e lembrou que o PT ganhou a eleição presidencial em 2006, sem o apoio do vice-presidente, Michel Temer.

Segundo Quaquá, o PT nacional confia na maioria que Temer e Raupp dizem ter no partido e que as “chantagens” não vão prosperar.

- Não acredito que a maioria dos deputados do PMDB vai se deixar levar por chantagens. O Eduardo Cunha vai levar a uma atitude mais radical do PT. Estão esticando a corda demais! Precisam lembrar que, em 2006, Lula ganhou a eleição sem o PMDB. Reconheço que é preciso ter a aliança pela governabilidade. Mas, se querem a instabilidade agora, para que precisamos deles? - reagiu Quaquá.

Cunha é o porta-voz do chamado blocão, criado há duas semanas com oito partidos da base e cerca de 250 deputados. O blocão levou uma preocupação extra ao Planalto ao se aliar à oposição para aprovar a criação de uma comissão externa destinada a investigar, na Holanda, denúncias de propina na Petrobras. Agora, Cunha diz que o blocão também será contra a aprovação do Marco Civil da internet, como quer o governo. O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), apoia uma pauta própria do bloco comandado por Cunha. Temer, em viagem aos Estados Unidos, não se posicionou em relação à antecipação da convenção e da guerra entre PT e PMDB.

A crise se agravou depois que Falcão afirmou, no Rio, que o presidente do diretório do PMDB fluminense, Jorge Picciani, declarara apoio ao tucano Aécio Neves porque é ligado à ala de Cunha que pressiona por cargos. Picciani chamou Falcão de vagabundo e Cunha avisou que apoiaria a convenção para rever a aliança.

- Não dá para encontrar a dupla dinâmica Eduardo Cunha e Jorge Picciani no carnaval do Rio sem a polícia por perto. Eduardo Cunha está passando do tom. Foi desrespeitoso com o Rui Falcão e com o PT. Não queremos botar fogo na relação do PT com o PMDB. O Temer e o Raupp já disseram que têm maioria para manter a aliança — atacou Quaquá.

PMDB da Bahia critica Falcão
De Roma, Cunha disse - sobre a reunião entre Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio da Alvorada - que não adianta acenarem com cargos no Ministério para acalmar os descontentes. E avisou que se tentarem colocar o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) no Ministério do Turismo, no lugar do deputado Gastão Vieira (PMDB-MA), a situação só vai piorar. Argumentou que, além de tirar Gastão, que é da Câmara, para pôr um senador, a entrega de cargos não acalmará os descontentes. O PMDB do Senado desejava ver Vital à frente do Ministério da Integração Nacional, o que Dilma não aceitou. A bancada da Câmara também tentou emplacar lá um deputado, e, novamente, Dilma resistiu.

- O problema é mais profundo. Não se trata de cargos. Se eu fosse Lula, nessa reunião com a presidente Dilma, repensaria a relação que querem com o PMDB. Uns quatro diretórios já assinaram para antecipar a convenção. Mas, se houver a decisão política, o Danilo Forte, que está recolhendo as assinaturas, consegue as nove em duas ou três horas - disse Cunha.

- Além de tudo, Eduardo Cunha é mentiroso! Disse que não quer ministério, mas queria a Integração Nacional para a Câmara. Como não tiveram, está chantageando. Nem o PT nem o PMDB podem se deixar chantagear por ele, que criou aí esse blocão, que, na verdade, é um bloco do bocão, o bloco dos bocudos que não vamos aturar. A nível nacional, o PT quer a aliança com o PMDB. Aqui no Rio não quero nem saber. Vamos respeitar o Cabral e o Pezão e pronto - disse Quaquá.

Os peemedebistas liderados por Cunha cobram de Raupp uma resposta a Falcão, que, para eles, quer dividir o PMDB da Câmara e do Senado. Estão certos de que Falcão não atacou o PMDB do Rio sem o aval de Dilma e Lula, e que só há interesse no tempo de TV do partido, sem se importar com palanques estaduais.

- O Rui Falcão e o PT querem dar o golpe do baú. Só querem o dote, que é o nosso tempo de TV, não querem nosso amor. Ficar com alguém que só quer casar por interesse é muito ruim para a gente. Enquanto o presidente do PT nos agride, o presidente do PMDB fica calado - disparou o presidente do PMDB da Bahia, deputado Lúcio Ferreira Lima.

Lúcio comanda um dos nove diretórios que estariam dispostos a assinar o pedido de antecipação da convenção. A convenção legal acontece em junho, mas os dissidentes querem antecipar a convenção extraordinária para abril. Falcão, Raupp e Temer foram procurados, mas não retornaram.

Fonte: O Globo

Crise com PMDB é tema de reunião entre Dilma e Lula

Encontro no Palácio da Alvorada tratou também das estratégias para campanha de outubro

Catarina Alencastro e Fernanda Krakovics

BRASÍLIA - Em meio a uma crise com sua base aliada na Câmara dos Deputados, e sem conseguir desatar o nó da reforma ministerial, a presidente Dilma Rousseff se reuniu, no final da tarde desta quarta-feira, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu principal conselheiro, no Palácio da Alvorada. Na pauta do encontro também estava a discussão de estratégias para as eleições de outubro, quando Dilma disputará a reeleição, além da conjuntura política.

Parte da equipe da campanha de Dilma à reeleição também estava presente: o presidente nacional do PT, Rui Falcão, que será o coordenador-geral; Franklin Martins, ex-ministro de Comunicação Social do governo Lula, que será o responsável pela área de internet e mídias sociais; o deputado estadual Edinho Silva (SP), que será o tesoureiro; o marqueteiro João Santana; e o chefe de gabinete de Dilma, Giles Azevedo, que deve deixar o cargo e migrar para a campanha. Além deles, estava o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil).

Na articulação política, a maior dor de cabeça de Dilma no momento está no PMDB, justamente o aliado preferencial do governo para a campanha à reeleição. O partido, que ocupa cinco ministérios, reivindica mais um, o que foi negado pela presidente até agora. Isso, associado à resistência do PT em apoiar candidatos peemedebistas a governador em estados como Rio de Janeiro, Ceará e Maranhão, deflagrou uma crise entre os dois partidos.

PT espera que Temer controle rebelião
O líder do PMDB na Câmara, deputado Eduardo Cunha (RJ), liderou a formação de um blocão o na Câmara, que reúne oito partidos da base aliada e cerca de 250 dos 513 votos, para se contrapor ao governo. Peemedebistas descontentes também ameaçam votar contra o apoio à reeleição de Dilma na convenção nacional do partido.

Enquanto Dilma e dirigentes do PT minimizam as ameaças feitas pelo aliado, Lula se preocupa e tenta recompor a relação, embora tenha incentivado no Rio a candidatura do senador Lindbergh Farias (PT) a governador, contra o atual vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB). Esse foi um dos principais fatores da crise entre os dois partidos.

Dilma e dirigentes do PT esticam a corda com o PMDB contando com o vice-presidente da República, Michel Temer, dome seus correligionários e assegure o apoio à reeleição da presidente.

E, apesar da ameaça de caciques do PMDB de cruzar os braços nos estados durante a campanha, os petistas dizem que importante é o tempo de TV e rádio no horário eleitoral gratuito. Dependendo da regra a ser adotada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o PMDB deve ter entre 2 minutos e 25 segundos e 3 minutos e 16 segundos.

Além da articulação política, outra preocupação de Lula tem sido a má relação de Dilma com o empresariado e o mercado financeiro. O ex-presidente tem se reunido com representantes do setor, que reclamam de falta de diálogo e consideram o governo intervencionista. Petistas que conversaram com Lula recentemente também afirmam que ele está reticente com a condução da política econômica. Na sua avaliação, de acordo com pessoas próximas, o ministro Guido Mantega (Fazenda) teria perdido a credibilidade junto ao mercado financeiro.

O encontro
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou por volta das 17h30 ao Palácio da Alvorada. Esta também foi mais uma rodada de conversas sobre as eleições de outubro.

A agenda de Dilma não trazia nenhum compromisso para hoje. A presidente passou o carnaval na Base Naval de Aratu, próximo a Salvador, com a família e retornou a Brasília no final desta manhã, por volta das 11h30.

Desde que assumiu a Presidência, Dilma tem optado por descansar em Aratu. Na virada do ano, a presidente ficou dez dias na Base Naval. A exceção foi no primeiro ano de governo, quando ela foi para o Centro de Lançamento da Barreira do Inferno, no município de Parnamirim (RN), a 12 quilômetros de Natal.

Fonte: O Globo

Lula tenta consolidar aliança de Dilma, mas PMDB ameaça levar crise ao Senado

Cúpula da campanha à reeleição se reúne no Alvorada em meio a tensão capitaneada por líder peemedebista na Câmara; senadores do partido também reclamam de impasse na reforma ministerial e não descartam aderir ao grupo descontente

Vera Rosa, Débora Bergamasco e Daiene Cardoso

BRASÍLIA - Diante do agravamento da tensão com o PMDB, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou nesta quarta-feira em Brasília e se reuniu com a presidente Dilma Rousseff, na tentativa de soldar a aliança para a campanha da reeleição. Lula e a cúpula do PT avaliam que Dilma deve ser mais "política" e não entrar em novo confronto com a ala do PMDB representada pelo líder do partido na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), para evitar que os problemas se estendam ao Senado e à campanha pelo segundo mandato.

O encontro de Dilma e Lula estava marcado antes de Cunha pregar o rompimento da parceria com o PT, uma ofensiva lançada na terça-feira de carnaval que causou preocupação no governo. Pelo Twitter, o líder do PMDB na Câmara defendeu que o partido deveria "repensar a aliança" com o PT. Ontem, o presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), disse que a situação está ficando "insustentável" e pode chegar ao Senado. O peemedebista também cobrou uma solução para a empacada reforma ministerial.

"Lula saberá avaliar se o PMDB quer mesmo sair de verdade da coalizão ou se quer sair para poder entrar mais", disse ao Estado um ministro do PT, sob condição de anonimato. No Palácio do Planalto, Cunha é visto como "imprevisível" e capaz não apenas de fazer bravatas como de pôr a reedição da dobradinha com o PMDB em risco.

Além de Lula, toda a coordenação da campanha petista se reuniu com Dilma no Palácio da Alvorada. O presidente do PT, Rui Falcão, foi um dos primeiros a chegar. O marqueteiro João Santana, o jornalista Franklin Martins, que coordenará a comunicação do comitê, o tesoureiro Edinho Silva, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e o chefe de gabinete de Dilma, Giles Azevedo, também participaram do encontro.

O Instituto Lula fez questão de divulgar a foto da reunião para desfazer boatos de que Dilma e o ex-presidente estão estremecidos. Nos últimos dias, deputados do PT, dirigentes do PMDB e até empresários irritados com o governo entoaram um tímido coro de "Volta Lula", desautorizado pelo próprio ex-presidente. Na imagem, Dilma levanta a mão de Lula, num gesto de sintonia.

‘Insustentável’. Do lado peemedebista, a avaliação é de que a crise iniciada na bancada da Câmara já tem chances de chegar ao Senado. "A presidente Dilma não quer ceder, acha que o PMDB está forçando a barra. Só que agora está insustentável e a crise já está chegando ao Senado", afirmou Valdir Raupp. Pelos cálculos do presidente do PMDB, cerca de um terço dos senadores do partido já prefeririam abandonar a dobradinha com o PT. "Já nem sei mais qual é o motivo do descontentamento. Acho que parte é pelo nosso desprestígio na reforma ministerial e parte pelas alianças regionais", afirmou.


Na manhã desta quarta, o vice-presidente Michel Temer acionou parlamentares de sua confiança para apagar o novo foco de incêndio político. A missão é evitar que a convenção do PMDB seja antecipada, como ameaça o grupo de rebelados sob liderança de Eduardo Cunha. Se isso ocorrer, no cenário de hoje, a votação pelo rompimento da aliança com o PT é dada como certa. Além da insatisfação em relação à reforma ministerial, o PMDB se queixa do tratamento dado pelo PT para a montagem dos palanques regionais. Hoje, os dois maiores partidos da coalizão só têm possibilidade de formar palanques conjuntos em cinco Estados.

Até o início de fevereiro, a cúpula do PMDB também avaliava que a tensão era motivada apenas pela pressão "legítima" da legenda na Câmara, com o intuito de ocupar espaços, depois que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, entregou os cargos do PSB e anunciou a candidatura ao Planalto. A situação, porém, fugiu do controle.

Impasse. Na terça-feira, Cunha defendeu a antecipação da convenção do PMDB de junho para março, uma tática para colocar a aliança com Dilma em xeque. A presidente deixou o PMDB "de molho" na reforma ministerial e resiste a entregar a pasta da Integração Nacional ao senador Vital do Rêgo (PB). Dilma só concordou em pôr nessa vaga o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), para tirá-lo da disputa estadual e favorecer o governador Cid Gomes (PROS). Eunício recusou a oferta. A proposta alternativa, agora, consiste em nomear Vital do Rêgo para o Turismo.


Dirigentes do PMDB não se cansam de dizer que o partido tem só cinco ministérios, enquanto o PT controla 17. "Eu esperava mais do Mercadante na articulação política do governo", disse Cunha ao Estado. "Somos chamados de fisiológicos, mas é o Rui Falcão que está sempre atrás de uma boquinha."

Falcão não quis responder às críticas do aliado para não piorar o desgaste. "Torço para que a paz volte a reinar e estou disposto a ajudar a apagar incêndio, a recompor, mas confesso que estou muito preocupado. A insatisfação é geral, está muito complicado", disse Raupp. "O PT nunca respeitou o PMDB. Somos só 6 minutos de propaganda eleitoral para eles. Nada mais!", postou o deputado Osmar Terra (RS) no Twitter.

O líder do PT na Câmara, Vicentinho Paulo da Silva (SP), tentou amenizar a crise. "Será que Eduardo Cunha não quer que o Temer seja vice de novo de Dilma? Não posso acreditar que um partido que tem a Vice-Presidência da República decida sair fora agora."/ colaborou Ricardo Della Coletta

Fonte: O Estado de S. Paulo

Tensão reduz chance de coligações entre siglas nos Estados

Desde início das queixas do PMDB, caíram de 16 para 5 os diretórios dispostos a fechar alianças com o PT

Erich Decat

BRASÍLIA - O endurecimento na relação entre PT e PMDB nas últimas semanas fez com que diminuísse o número de Estados em que será possível uma aliança entre as duas legendas. Assim, tornou-se majoritário o grupo de diretórios regionais que terá petistas como adversários.

Desde o início da tensão, em dezembro, caíram de 16 para apenas cinco as possibilidades de alianças regionais entre os dois partidos: Distrito Federal, Mato Grosso, Minas Gerais, Rio Grande do Norte e Sergipe. A convenção nacional do PMDB, que ratificará a posição da legenda em torno da aliança nacional, está marcada para junho. O número de votos desses cinco Estados chega a 103 delegados - 13,8% do total de 742 previsto para a convenção.

Em contrapartida, hoje os peemedebistas preveem enfrentar o PT em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Piauí, Goiás, Mato Grosso do Sul, Roraima, Rondônia, Acre, Amazonas e Pará. A quantidade de votos que essas regiões representam é de 489. Ou seja, 65,9% dos delegados da convenção nacional podem ser peemedebistas que deverão disputar votos nas urnas contra o PT nos Estados.

Remarcação. Há ainda em jogo 150 votos de outros seis Estados onde o quadro é de total indefinição. De posse desses números e na esteira do descontentamento com o Palácio do Planalto, alguns integrantes do PMDB chegam até a ameaçar antecipar o encontro do partido para decidir os rumos da legenda para as próximas eleições. Até o momento, porém, apenas o Rio, Estado do líder do PMDB da Câmara, Eduardo Cunha, e o Rio Grande do Sul sinalizaram apoiar tal medida.

Para que ela saia do papel, é preciso apoio formal de no mínimo nove Estados. Independentemente de um encontro extraordinário, o PMDB, como os demais partidos, deverá definir oficialmente a composição das chapas entre os dias 10 e 30 de junho. É justamente o fato de o cenário interno estar cada vez mais contrário à coalizão com os petistas que faz com que a cúpula do PMDB acompanhe de perto o agravamento dos atritos entre os dois partidos.

O problema maior, apontam os peemedebistas, é que Dilma e seu governo não entregam as promessas que cumprem nos acordos feitos com o partido, como cargos do primeiro ao terceiro escalões e a liberação de emendas parlamentares. Por outro lado, avaliam que o governo trabalha predominantemente para o PT, o que torna, segundo eles, desigual a disputa política entre a base de ambos os partidos. Em 2010 o PT ultrapassou o PMDB e se tornou a maior bancada da Câmara. As previsões dos dois lados são de que, neste ano, a diferença seja ainda maior.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Temer atua para manter aliança e Cunha recua de pressão por rompimento

Fernando Taquari, Cristiane Agostine, César Felício e Cristiano Zaia

SÃO PAULO e BRASÍLIA - Escalado pelo vice-presidente Michel Temer (PMDB) para contornar o princípio de crise com o PT, o presidente em exercício do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), descartou ontem a possibilidade de o partido romper a aliança nacional com o PT, conforme chegou a sugerir no Twitter o líder pemedebista na Câmara, deputado Eduardo Cunha (RJ). "Estou trabalhando para apaziguar essa questão, para que a paz possa voltar. Não podemos ficar nesse cabo de guerra por muito tempo. Isso não é bom para o país", afirmou Raupp.

O senador pretende procurar Cunha para conversar sobre a insatisfação dos pemedebistas com o governo Dilma Rousseff. "O Brasil não precisa de uma crise política agora", acrescentou o senador. O PMDB, que comanda cinco ministérios (Minas e Energia, Previdência, Agricultura, Turismo, Aviação Civil), luta por mais espaço no governo, enquanto a presidente Dilma ainda não concluiu a reforma ministerial.

Ontem o líder do PMDB na Câmara voltou ao Twitter para esclarecer declarações sobre a defesa do rompimento da aliança com o PT. Cunha afirmou que não falou em "romper" e sim em "repensar" a união com a legenda da presidente. O pemedebista disse ainda que seguirá a maioria do partido e a opinião da bancada, mesmo que diferente da sua.

"Quando falei em repensar, não falei ainda em romper, e sim em rediscutir os termos dessa aliança, na qual não somos respeitados", disse. Mesmo assim, reitera sua insatisfação. "A realidade dessa aliança, nos termos que estão, e debaixo de agressões, como as do presidente do PT, não atendem ao PMDB"

Um dia antes, na rede social, Cunha escrevera ainda que por onde passa o presidente nacional do PT, deputado estadual Rui Falcão (SP), "mais difícil fica a aliança".

Ontem Cunha afirmou que a decisão sobre o PT não depende apenas dele, o que pode revelar a pressão sofrida. "Não sigo e nem seguirei a minha vontade e sim a da maioria da bancada", afirmou. "Romper ou não, convocar ou não convenção, não cabe a mim e sim à maioria do partido", completou.

Não foi a primeira vez que o deputado pregou a ruptura com PT. Em setembro, reagindo a declaração do governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro (PT), Cunha disse que parte do PMDB pensa como Tarso e também não quer aliança em 2014. Tarso havia dito que o PT deveria buscar alianças com afinidade programática.

Apesar do recuo de Cunha deputados que lhe são próximos continuaram no bombardeio. "Lula é a pessoa mais indicada para dar continuidade ao processo político. É querido por todos os partidos da base e pode agregar até na oposição, atraindo Eduardo Campos (governador de Pernambuco e presidenciável do PSB). Ele transita dentro do próprio empresariado nacional", disse ao Valor PRO o vice-líder do PMDB na Câmara, Danilo Forte (CE), ex-presidente da Funasa no segundo mandato de Lula. Segundo Forte, "cada vez mais se faz necessária a presença de Lula, ao menos como mediador e avalista político. Se o Lula não assumir as responsabilidades que forem surgindo, a aliança entre PMDB e PT pode ir para o espaço".

Nesta terça-feira, o PMDB deve reunir sua bancada na Câmara e, de acordo com Forte, pode ser formalizado o pedido de uma pré-convenção nacional para rediscutir a aliança nacional, que aconteceria no próximo mês. "Temos a confirmação de 14 assinaturas de diretórios. Para o pedido ser analisado, são necessárias nove", disse o parlamentar. A pré-convenção, segundo Forte, poderia sinalizar que o PMDB ficaria neutro na eleição presidencial, liberando o partido para composições regionais com adversários da presidente. Mas a posição oficial do partido só pode ser tomada em junho, data legal para as convenções partidárias.

Segundo outro vice-líder pemedebista na Câmara, o deputado Lúcio Vieira Lima (BA), "já existe um forte movimento de rompimento com o governo e o PT", afirmou. A insatisfação do partido está dirigida contra o presidente nacional do PT, Rui Falcão. "Ele só pretende desmoralizar e dividir o PMDB", disse Vieira Lima. O dirigente petista esteve segunda-feira no sambódromo do Rio e deu declarações ao jornal "O Dia" se queixando da posição de confrontação adotada pela bancada pemedebista nos últimos dias. "Em ano eleitoral um ataque desses tem efeito em nossa base e pode forçar uma ruptura", afirmou Vieira Lima.

No Rio, o governador Sergio Cabral (PMDB) não pode se reeleger e lançou como seu candidato o vice-governador Luiz Fernando Pezão. Cabral está com a imagem pública desgastada desde os protestos de rua de junho do ano passado e não conseguiu o apoio do PT, que lançou a candidatura do senador Lindbergh Faria. A ruptura da aliança no Rio já é considerada consumada dentro do próprio PMDB e descrita como episódio mais emblemático do distanciamento entre o PT e o PMDB. " O PMDB é um partido de base regional, sobrevive assim e agora o PT está buscando o nosso espaço nos Estados. Não está simplesmente tentando se estruturar, está se tornando o nosso antagonista", disse Forte.

O presidente nacional do PT evitou comentar as declarações do líder pemedebista.

A relação entre PT e PMDB pautou parte da conversa de ontem de Dilma com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Alvorada.

O tema já havia sido o mote da conversa, há duas semanas, de Lula com dirigentes petistas, em São Paulo. Segundo o líder do PT na Câmara, deputado Vicentinho (SP), Lula teria pedido mais diálogo com o partido aliado.

Vicentinho minimizou a pressão feita pelo PMDB e a possibilidade de rompimento da aliança, levantada por Eduardo Cunha, e disse que Michel Temer não vai abrir mão da vice na chapa de Dilma. "Seria uma atitude drástica do PMDB", afirmou.

O líder do PT disse que o partido não vai pressionar para que o PMDB saia do governo, mas afirmou que a legenda não vai recuar nas negociações de alianças nos Estados. No Rio de Janeiro, por exemplo, o PT deixou o governo de Sérgio Cabral (PMDB) e lançará candidatura própria, do senador Lindbergh Farias, contra o candidato do PMDB, o vice-governador Luiz Fernando Pezão. "Não podemos nos anular. Não vamos nos descaracterizar", disse Vicentinho. "E o PMDB não pode dizer que não é respeitado pelo PT. Não cola", afirmou. (Colaborou Carmen Munari, de São Paulo)

Fonte: Valor Econômico

Dilma e Lula tentam acalmar o PMDB e contornar crise com a base

Petistas reúnem tropa de choque para discutir problemas que se arrastam desde antes do carnaval. O principal entrave é a crise com o partido aliado, cada vez mais distante do PT

Paulo de Tarso Lyra
Grasielle Castro

Passada a folia do carnaval, a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltaram à realidade em reunião no Palácio da Alvorada com o staff da pré-campanha de reeleição. Uma reforma ministerial paralisada, uma crise com o PMDB mais forte do que nunca, impasses nos palanques eleitorais e as negociações para que integrantes do governo deixem a máquina para assumir funções na corrida eleitoral foram os principais pontos do encontro, que contou ainda com as presenças do chefe da Casa Civil, ministro Aloizio Mercadante; do presidente nacional do PT, Rui Falcão; do chefe de gabinete, Giles Azevedo, e de Franklin Martins, ex-ministro da Comunicação de Lula.

Falcão é um dos protagonistas da nova crise com o PMDB, principal aliado do PT no plano nacional. No domingo, durante o desfile das escolas de samba no Rio de Janeiro, Falcão afirmou que as declarações dadas pelo presidente do PMDB fluminense, Jorge Picciani, de que o partido apoiaria a pré-candidatura presidencial de Aécio Neves (PSDB), decorriam de uma insatisfação pela demora da presidente Dilma em concluir a reforma ministerial.

O líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), não gostou das palavras de Falcão. Acusou o petista de sempre atrapalhar as negociações por onde passa e ameaçou apoiar o desembarque do PMDB nacional da aliança com Dilma Rousseff. Ontem, o presidente nacional do PMDB, Valdir Raupp, tentou apaziguar os ânimos. “O partido é aliado de primeira hora da presidente. Temos o vice-presidente da República (Michel Temer), o presidente da Câmara (Henrique Eduardo Alves), o presidente do Senado (Renan Calheiros), a maior bancada no Senado e a segunda bancada da Câmara. Mas essa (reforma ministerial) é uma decisão única e exclusiva da presidente da República”, disse.

Fonte: Correio Braziliense

'Aécio é o adversário do 1º turno', diz vice do PSB

Para Amaral, Campos deve mostrar a eleitorado tucano que é opção mais viável para enfrentar Dilma na votação final

João Domingos

BRASÍLIA - O adversário natural do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), na eleição de 5 de outubro é o senador Aécio Neves (MG), pré-candidato tucano ao Planalto. A avaliação é do ex-ministro Roberto Amaral, vice-presidente do PSB e um dos principais teóricos do partido. "Temos uma aliança política com o Aécio, mas ele é o nosso adversário natural, direto", afirma, referindo-se a uma das duas vagas em disputa para o segundo turno, dado o atual favoritismo da presidente Dilma Rousseff.

Para Amaral, o PSB deve conquistar eleitores tucanos desde o primeiro turno, mostrando-se como opção melhor que Aécio para enfrentar a petista no segundo. Tanto que o ex-ministro defende que o lançamento da chapa de Campos com Marina Silva na vice seja feito em São Paulo ou Minas, os dois maiores colégios eleitorais do País e redutos do PSDB.

Como será a chapa da aliança PSB/Rede na eleição?

Eduardo Campos e Marina Silva para vice.

Quando será lançada?

A previsão é março. No dia 15, vai haver a reunião no Rio que tratará das diretrizes do programa. Não está fixado para esse dia (o anúncio da chapa) porque há coisas a serem feitas. É um fato tão importante que vai virar uma grande notícia. E essa notícia vai anular nosso seminário. Eu faria separado. Não faria no Nordeste, porque estamos bem lá. Faria em Minas, São Paulo ou Rio. Esse Triângulo das Bermudas brasileiro vai decidir a eleição. Há companheiros que defendem o Rio, pela repercussão. Mas São Paulo tem o maior eleitorado do País e Minas, o segundo. Precisamos enfrentar o Aécio Neves em São Paulo e Minas. Por isso, defendo São Paulo ou Minas.

Aécio Neves é o adversário a ser enfrentado? Ou o alvo de PSB e PSDB é Dilma Rousseff?

Eu lhe peço que use palavra por palavra porque é uma questão delicada. Se eu não explicar bem, cria problema. A eleição é em dois turnos. E há uma questão acaciana. No segundo turno, só estarão dois candidatos. Quando fazemos a aliança política com o Aécio, estamos pensando no segundo turno, porque temos a certeza de que vamos para o segundo turno e precisamos atrair o eleitorado do Aécio. Mas, para eu ir para o segundo turno - volta de novo o conselheiro Acácio -, haverá antes o primeiro turno. Pelo quadro de hoje, existem três candidatos, e a Dilma está no segundo turno. Assim, sobram dois candidatos para uma vaga: Aécio e Eduardo Campos. Ou seja, temos uma aliança política com o Aécio, mas ele é nosso adversário natural, direto. Parto do pressuposto de que não vamos os dois para o segundo turno. Então, vamos disputar entre nós quem é que vai. Temos que fazer uma aliança política que não nos afaste do eleitorado dele e torne mais fácil trazer parte do eleitorado dele para nós, já no primeiro turno, convencendo esse eleitorado da maior viabilidade do Eduardo Campos para disputar o segundo turno. É mais fácil o eleitorado dele votar em nós do que na Dilma.

E se ocorrer o contrário? O PSB apoiaria Aécio ou Dilma?

Não discuto isso porque parto do pressuposto de que estamos no segundo turno.

O PSB participou do governo Lula e de parte da gestão Dilma. Não é mais fácil se alinhar com Dilma do que com Aécio?

Ao contrário. Por termos participado dos governos de Lula e Dilma, temos autoridade para a escolha. Somos copartícipes do sucesso do governo Lula.

Como o sr. vê Dilma e o PT chamando o PSB de ingrato, mal agradecido, oportunista...

Tolice astronômica, abissal. Ingratos são eles. Apoiávamos o Lula em 1989 quando ele tinha 2%. Fizemos oposição ao Collor, ao Fernando Henrique Cardoso, apoiamos o Lula em 1994 e em 1998, quando sabíamos que a eleição era perdida. Apoiamos no segundo turno de 2002, em 2006, a Dilma em 2010. E quando foi que nos apoiaram? Quem é o ingrato? Quem é que tem crédito e débito? No governo Lula ocupamos o Ministério da Ciência e Tecnologia com a maior lealdade. Na crise (do mensalão), quando muitos petistas se encolheram e outros aliados fizeram chantagem, ficamos firmes na defesa do governo.

Para o PSB, a aliança com a Rede foi proveitosa?

Muito. Proveitosa para a campanha, obviamente. E foi - essa é minha surpresa - muito proveitosa para o PSB. Ela trouxe para o PSB a preocupação com a sustentabilidade. Embora estivesse em todos os nossos programas, não foi incorporado à nossa atividade. E nós conseguimos levar a Rede a ter uma discussão teórica sobre o social. Passamos a compreender a importância da sustentabilidade, e a Rede a compreender a importância do desenvolvimento econômico como instrumento do desenvolvimento social.

O socialismo surgiu no século 19 e a defesa do meio ambiente, no século 20. Essa junção traz um novo pensamento para a política no século 21?

Se os dirigentes da Rede e do PSB tiverem juízo, vão perseguir isso. Minha divergência anterior era porque o inimigo da sustentabilidade é o capitalismo. Não compreendo nenhuma defesa do meio ambiente sem uma crítica profunda ao capitalismo, porque sua forma de exploração, sua essência, é predatória. E se isso não for contido, o planeta explode.

A união PSB/Rede cria uma ideologia, o sustentabilismo?

Isso precisa ser a novidade. Mas precisa de formulação teórica. Essa doutrina está por ser construída. Esse encontro (entre socialismo e sustentabilidade) é fundamental, e pode ser a novidade no Brasil e no mundo.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Instituto Lula é quem divulga foto de reunião com Dilma

Embora tenham sido divulgados nome dos participantes, assunto do encontro não foi revelado oficialmente

Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Imagem da reunião da presidente Dilma Rousseff com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio da Alvorada já pode ser visualizada na internet. No site do Instituto Lula foi postada a fotografia do encontro. Estavam também presentes o presidente do Partido dos Trabalhadores, Rui Falcão; o ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República, Aloizio Mercadante; o ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social Franklin Martins, o deputado estadual Edinho Silva (PT-SP); o chefe de gabinete da Presidência da República, Giles Azevedo, e o publicitário João Santana.

O assunto do encontro não foi divulgado oficialmente. A reunião com Lula, inclusive, não está presente na agenda oficial de Dilma. Nesse encontro, no entanto, os assuntos a serem discutidos são a campanha eleitoral deste ano e o desgaste do governo com os partidos na base aliada, principalmente com o PMDB.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Cúpula petista busca soluções para ministérios, crise com o PMDB e eleições

Reforma ministerial, crise com PMDB e palanques regionais são discutidos por Lula e Dilma com staff da campanha à reeleição

Paulo de Tarso Lyra, Grasielle Castro

BRASÍLIA – Passada a folia do carnaval, a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltaram à realidade em reunião no Palácio da Alvorada com o staff da campanha ao Planalto. Uma reforma ministerial paralisada, uma crise com o PMDB mais forte do que nunca, impasses nos palanques eleitorais e as negociações para que integrantes do governo deixem a máquina para assumir funções na corrida eleitoral foram os principais pontos do encontro, que contou ainda com as presenças do chefe da Casa Civil, ministro Aloizio Mercadante; o presidente nacional do PT, Rui Falcão; o chefe de gabinete Gilles Azevedo e o ex-ministro da Comunicação de Lula, Franklin Martins.

Falcão, inclusive, é um dos protagonistas da nova crise com o PMDB, principal aliado do PT no plano nacional. No domingo, durante o desfile das escolas de samba no Sambódromo, no Rio, Falcão afirmou que as declarações dadas pelo presidente do PMDB fluminense, Jorge Picciani, de que o partido apoiaria a pré-candidatura presidencial de Aécio Neves (PSDB), decorriam de uma insatisfação pela demora da presidente Dilma em concluir a reforma ministerial.

O líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ) não gostou das palavras de Falcão. Acusou o petista de sempre atrapalhar as negociações por onde passa e ameaçou apoiar o desembarque do PMDB nacional da aliança com Dilma Rousseff. Ontem, o presidente nacional do PMDB tentou jogar água na fervura. “O partido é aliado de primeira hora da presidente. Temos o vice-presidente da República (Michel Temer), o presidente da Câmara (Henrique Eduardo Alves), o presidente do Senado (Renan Calheiros), maior bancada no Senado, a segunda bancada da Câmara. Mas essa (a reforma ministerial) é uma decisão única e exclusiva da presidente da República”, afirmou o senador Valdir Raupp (RO).

Ele também minimizou o bate-boca indireto entre Cunha e Falcão. “Troca de farpas acontece até dentro dos partidos. De vez em quando o PT se digladia internamente. O PMDB também não é diferente. De vez em quando sobe um parlamentar do partido na tribuna para criticar o próprio partido. Se não fosse assim, não seria democracia”, declarou Raupp.

Um dos vice-presidentes do PT, o deputado José Guimarães (CE) acha que chegou o momento da direção dos dois partidos sentarem de maneira séria à mesa para discutir a relação e fazer um pente-fino estado por estado. “Temos que deixar de misturar isso com reforma ministerial e pagamento de emendas. Isso é atribuição do governo. Cabe aos partidos estabelecer uma estratégia política”, cobrou ele.

Minas. Os problema se avolumam. Quem acompanha de perto as negociações acha que o PMDB fluminense já escapou por entre os dedos do PT, algo que também está ocorrendo no Ceará e pode acontecer em Minas Gerais e em Goiás. No Ceará, a crise envolve a disputa entre o senador Eunício Oliveira (PMDB) e o próprio PT de José Guimarães pela aliança com o governador Cid Gomes (PROS). Em Minas, o ainda ministro da Agricultura, Antônio Andrade, luta para ser vice do candidato petista ao governo mineiro, o ex-ministro Fernando Pimentel. Mas parte da legenda flerta abertamente com Aécio Neves.

Dilma ainda encontra dificuldades para concluir a reforma ministerial. Antes escanteado, o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) voltou a ser cotado para ministro, mas agora no Turismo, não mais na Integração Nacional. O problema é que a pasta é ocupada por Gastão Vieira, indicado pela bancada da Câmara. Embora rompido com o Planalto e líder de um bloquinho de 250 deputados para infernizar o Planalto, Eduardo Cunha deverá aumentar ainda mais a voz contra o governo caso os deputados percam um dos dois ministérios que comandam atualmente.

A presidente também deve liberar Gilles Azevedo para assumir uma função na pré-campanha presidencial. Ele exercerá o mesmo papel que teve em 2010 – organizar a agenda de viagens e comícios de Dilma. O provável substituto de Gilles é Beto Vasconcelos, que retornou recentemente ao Brasil após uma temporada de estudos em Londres. Beto é homem de confiança da presidente. Foi o responsável pela área jurídica da Casa Civil quando Dilma era ministra. Em 2011, foi nomeado secretário-executivo da pasta durante a gestão de Antonio Palocci e continuou no mesmo posto com a ex-ministra Gleisi Hoffmann, até pedir exoneração para estudar no exterior.

Fonte: Estado de Minas

Centrais preparam marcha para fazer pressão no governo

Presidente da Força Sindical afirma que pauta dos trabalhadores 'não andou nada'

SÃO PAULO - Diversos sindicatos programam passeatas em todas as capitais do país entre o fim de março e o começo de abril.

As manifestações pelos Estados antecedem a Marcha dos Trabalhadores, marcada para o dia 9 de abril, em Brasília. Em São Paulo, prometem atos na praça da Sé e na avenida Paulista.

Segundo o presidente da Força Sindical, Miguel Torres, os eventos foram programados para divulgar a pauta trabalhista "que não andou nada nos últimos quatro anos". Na lista de reivindicações, estão a jornada de 40 horas semanais e o fim do fator previdenciário.

Em fala repleta de críticas ao governo, Torres diz que os sindicatos estão vendo um risco de "o trabalhador perder direitos".

Segundo ele, um dos pontos que mais preocupam as centrais é uma eventual revisão no cálculo do reajuste do salário mínimo.

A regra atual determina que o mínimo seja calculado com base na variação do INPC mais ganho real correspondente ao crescimento da economia registrado em dois anos anteriores. "Setores mais conservadores do governo trabalham para mudar essa fórmula", afirma.

"Seria um erro. Foi o cálculo do mínimo com base no crescimento do PIB que impediu o país de entrar numa crise econômica."

Torres afirma que "não só a Força", mas todas as centrais têm críticas ao governo.

"Infelizmente, a presidente Dilma se afastou completamente dos movimentos sociais. Nós tínhamos a esperança de continuação do Lula, mas ela se afastou totalmente", diz.

Ele diz ainda que diversas centrais sindicais preparam um documento --que enumeraria suas principais reivindicações-- para entregar aos três pré-candidatos à Presidência mais bem colocados nas pesquisas: a presidente Dilma Rousseff (PT), o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador Eduardo Campos (PSB-PE).

Dirigente mais famoso da central, o deputado Paulinho do Força (SDD-SP) aliou-se a Aécio Neves na corrida presidencial. Torres diz que "diversas correntes" eleitorais têm representação na central sindical e que o apoio de Paulinho a Aécio é pessoal.

Torres afirma ainda que as centrais também se posicionarão contra o projeto de lei que pretende coibir violência nas manifestações.

A pedido do Planalto, a proposta está sendo elaborada pelo Ministério da Justiça e prega o endurecimento de penas a quem pratica vandalismo e agressões nas passeatas.

"É irônico que quem sofreu com a ditadura, sofreu com a perda de liberdade, proponha hoje uma lei que tira direitos. Ela [a presidente] pôs na cabeça que não pode ter manifestação. Mas não é com lei que vai resolver."

Folha Online

Crimeia decide fazer parte da Rússia e convoca referendo

População será ouvida no dia 16; 'Esta é a nossa resposta à desordem e anarquia em Kiev\", disse o deputado Sergei Shuvainikov

Edgar Maciel, Agência Estado

O parlamento da Crimeia aprovou nesta quinta-feira, 6, por unanimidade, a incorporação da região ao território da Rússia. Em comunicado, a instituição disse que o movimento é uma resposta "ao resultado de um golpe inconstitucional" na Ucrânia, que instaurou um novo governo em Kiev e "violou às leis do país". O governo local também convocou um referendo no dia 16 de março para ouvir a população sobre a decisão.

"Esta é a nossa resposta à desordem e anarquia em Kiev", disse Sergei Shuvainikov, deputado do parlamento local. "Nós vamos decidir o nosso próprio futuro", complementou.

A decisão teve 78 votos a favor, nenhum voto contra e oito abstenções. Em entrevista à agencia russa RIA, o vice-premiê da Crimeia, Rustam Temirgaliev, explicou que o referendo terá duas perguntas. A primeira questionará se a população é a favor da integração do território com a Rússia e a segunda perguntará se a região deve retomar a Constituição de 1992, onde afirma que a Crimeia é parte da Ucrânia.

O governo central da Ucrânia ainda não se manifestou sobre a decisão. Na quarta-feira, 5, o atual primeiro-ministro do país, Arseny Yatseniuk, afirmou que o território da Crimeia ainda faz parte da Ucrânia.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Ocidente diverge sobre como reagir à Rússia

Hugh Carnegy, Kathrin Hille e Peter Spiegel | Financial Times

PARIS, MOSCOU e BRUXELAS - Os esforços diplomáticos do Ocidente em retaliação à ocupação da Crimeia pela Rússia sofreram múltiplos reveses ontem, depois que o Kremlin recusou-se a conversar com o novo governo ucraniano e os próprios aliados não conseguiram chegar a um acordo sobre a posição a ser tomada em relação ao governo russo.

A recusa de Sergei Lavrov, ministro das Relações Exteriores da Rússia, de se encontrar com o chanceler ucraniano lançou uma sombra sobre as negociações em Paris, nos Estados Unidos e a primeira reunião de cúpula da Rússia desde a intensificação da crise na semana passada.

"Eles terão que engolir um remédio amargo", disse uma autoridade de alto escalão da França. "Eles negam que invadiram a Crimeia e não reconhecem o governo [interino] ucraniano."

Ao mesmo tempo, um esforço liderado pelos EUA por um acordo aliado que imponha sanções à Rússia deparou-se com a resistência da Alemanha, que se diz preparada só para suspender a liberação de vistos e as negociações para um acordo comercial com a Rússia.

No topo da agenda de uma reunião de emergência marcada para hoje em Bruxelas estará a capacidade dos governos europeus que estão adotando uma postura mais dura - sobretudo membros da União Europeia que pertenciam à ex-União Soviética - de convencer Berlim. "Eles temem que se fizermos alguma coisa os russos responderão", disse ontem uma autoridade graduada da UE envolvida no planejamento da reunião.

Os países europeus que estão resistindo mais à imposição de sanções à Rússia, como Itália e Holanda, são aqueles que possuem os maiores laços econômicos com Moscou, que pela primeira vez sinalizou que uma retaliação econômica pode estar sendo preparada.

Entre as sanções defendidas por alguns governos do Leste europeu estão a proibição de viagens de autoridades russas e um embargo a componentes de armas necessários para a fabricação de armas russas de tecnologia avançada.

O senador russo Andrei Klishas disse estar preparando medidas defensivas que poderão entrar em vigor se sanções forem impostas à Rússia. A legislação proposta "nos permitirá congelar ativos de empresas europeias e americanas, incluindo as de capital privado, que atuam em nosso país", disse ele ao jornal "Izvestia", pró-Kremlin.

Num sinal do endurecimento da posição russa, Sergei Shoigu, ministro da Defesa, disse que não há "absolutamente nenhum" soldado russo na Crimeia, repetindo a afirmação do presidente Vladimir Putin de que os homens armados que cercavam bases militares ucranianas na Crimeia na semana passada eram unidades regionais de autodefesa.

Diante desse quadro, os aliados ocidentais aceleraram os esforços para apoiar com mais convicção o novo governo ucraniano, que assumiu após a deposição do presidente pró-russo Viktor Yanukovich há dez dias. A União Europeia anunciou uma ajuda de € 11 bilhões, incluindo um financiamento fiscal de curto prazo de € 1,6 bilhão, e o Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento disse que está pronto para investir € 5 bilhões na Ucrânia até 2020.

A Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa enviou 35 observadores militares desarmados ao porto ucraniano de Odessa, no Mar Negro, como parte de um esforço para convencer Moscou a trocar suas próprias forças por monitores internacionais.

A recusa de Lavrov de se encontrar com Andriy Deshchytsia, o novo ministro do Exterior da Ucrânia, forçou os dois signatários restantes de um pacto ucraniano de segurança firmado em 1994, o Reino Unido e os Estados Unidos, a se reunirem com Deshchytsia por conta própria.

Um comunicado emitido pelos três ministros do Exterior - o senador John Kerry, dos EUA, William Hague, do Reino Unido, e Deshchytsia - repetiu a condenação à ocupação russa e pediu "discussões diretas entre a Ucrânia e a Rússia" para resolver o conflito.

Mais cedo, ontem, o banco central russo revelou que gastou US$ 11,3 bilhões em suporte ao rublo no começo da semana, depois que investidores começaram a tirar dinheiro da Rússia com a escalada da crise na Ucrânia no fim de semana. O tamanho da intervenção de segunda-feira ficou acima das estimativas da maior parte dos operadores de câmbio.

Fonte: Valor Econômico

Eliane Cantanhêde: Começo de conversa

O primeiro ano da morte do presidente Hugo Chávez confirma que não há chavismo sem Chávez. O país, que já vivia uma crise política e econômica, agora está um verdadeiro caos.

A Venezuela não é a Ucrânia, principalmente porque não há duas potências em choque e trocando farpas em público, muito menos com risco de invasões e guerras. Nem por isso a crise venezuelana deixa de ser grave.

Suplantada pela Ucrânia, saiu da mídia norte-americana, mas não das preocupações do Departamento de Estado e, claro, mobiliza Dilma e os demais presidentes da região.

Líderes do Mercosul (Cone Sul), da Unasul (América do Sul) e da Celac (que inclui o Caribe), mais do que emitir notas a respeito, estão trocando intensos telefonemas e discutindo alternativas. A Venezuela em chamas significa incêndio na região num momento internacional delicado.

Com Chávez lá e Lula cá, o Brasil capitaneou uma comissão externa para ajudar o país a deslizar do impasse para algum nível de normalidade. Agora não poderia ser diferente, mas o chanceler Elías Jaua já deu um chega pra lá ao dizer que o país não precisa de mediação externa para problemas internos.

Não pode ser para valer. O próprio presidente Nicolás Maduro tenta minar e reduzir a base oposicionista e já estendeu a mão para setores antes rechaçados pelo chavismo. A ajuda de aliados só ajudaria.

Uma mediação entre Caracas e Washington, aliás, também deveria ser bem-vinda. Apesar de os EUA terem reduzido bastante a importação de petróleo venezuelano em 2013, o país de Chávez e Maduro é um dos maiores produtores mundiais, o Oriente Médio não é confiável e o produto continua sendo essencial.

Um bom momento para colocar tudo isso sobre a mesa será na semana que vem, coincidindo com a posse de Michelle Bachelet, que está de volta à presidência do Chile. Mas só se Maduro autorizar e Chávez abençoar. Com esses dois, nunca se sabe.

Fonte: Folha Online

Merval Pereira: Democracia ao gosto

A discussão sobre os problemas que a democracia vem enfrentando em diversas partes do mundo, que a revista inglesa The Economist analisa em sua mais recente edição, coloca em primeiro plano o conceito mesmo de democracia. A revista inglesa atribui a decadência da democracia, entre outros fatores, ao sucesso do capitalismo de Estado na China.

No campo político, por exemplo, o presidente da Rússia Vladimir Putin (e não primeiro-secretário, como escrevi ontem) continua jogando pelas regras democráticas que ele manipula.

A revista inglesa, aliás, ironiza o fato de Putin ter sido nos últimos anos duas vezes primeiro-ministro e duas vezes presidente. Em entrevistas recentes e artigos, Putin deixa claro que os grandes conglomerados estatais serão os coordenadores da transição econômica para a alta tecnologia de que a Rússia precisa para competir globalmente.

À medida que na Rússia a classe média vem crescendo, as reivindicações aumentam, e as críticas à corrupção se difundem na sociedade. Mas o controle pelo governo do Parlamento e do sistema judiciário, o que caracteriza um hiperpresidencialismo próximo de uma ditadura disfarçada devido ao controle ou intimidação dos meios de comunicação, da mesma maneira que ocorre na Venezuela, impede que a insatisfação crescente se transforme, pelo menos até o momento, em uma reação mais concreta para barrar a ascensão de Putin.

A China, por sua vez, tem apresentado em diversos fóruns internacionais, através de acadêmicos chineses e estrangeiros, uma visão de democracia bastante crítica, muitas vezes correta, e ideias bastante criticáveis sobre o que seria a democracia ao estilo chinês.

A revista The Economist cita algumas delas, como a de Zhang Weiwei da Universidade Fudan, que diz que a democracia destrói o Ocidente por institucionalizar o bloqueio das atividades congressuais, como tem ocorrido nos Estados Unidos, e permitir que líderes de segunda classe como George W. Bush cheguem à Presidência da República.

Já Yu Keping da Universidade de Beijing diz que a democracia dificulta decisões simples e dá margem a que políticos populistas, mas de boa lábia enganem o povo.

Daniel A. Bell, canadense professor de Teoria Política da Universidade Tsinghua, e Yan Xueton, reitor do Instituto Internacional de Estudos da mesma universidade, discorreram em Davos no Fórum Econômico Mundial, e eu já escrevi aqui, sobre o confucionismo, que define que o governo deve servir ao povo e ter como prioridade a moralidade, e o legalismo, que prioriza a punição e o forte controle do país.

O canadense Bell considera que a China, ao buscar essa força moral de sua liderança, pode caminhar para a implantação de um sistema político que não será a democracia como nós a conhecemos no Ocidente, mas uma meritocracia que fará com que os escolhidos para o Parlamento possam representar realmente a vontade do povo e não apenas os que têm influência para atrair votos.

Dentro da mesma linha de raciocínio, o professor de Filosofia da East China Normal University (ECNU) Tong Shijun, fez na recente reunião da Academia da Latinidade em Kuala Lumpur uma análise sobre a importância do "soft power", uma terceira dimensão do poder, superando em certas ocasiões o econômico e o militar, para a expansão da cultura chinesa pelo mundo dentro do atual "século chinês".

Num mundo multipolar, esse “poder suave” nas relações com aliados, na assistência econômica e em intercâmbios culturais, resultaria em uma opinião pública mais favorável e maior credibilidade externa.

Segundo Tong Shijun, a importância do "soft power" chegou ao Congresso do Comitê Central do Partido Comunista Chinês em 2007, e no ano passado, o próprio presidente chinês Xi Jinping afirmou em um discurso que "para fortalecer o "soft power" do país devemos fazer nosso melhor esforço para aperfeiçoar nossa capacidade na comunicação internacional".

A definição do "socialismo com características chinesas" engloba não apenas a economia de mercado como a democracia e o Estado de Direito, mas promovidos pelo Partido Comunista.

Fonte: O Globo

Investimentos do governo devem ficar estagnados neste ano

Desembolsos do governo federal caíram de 1,35% para 1,31% do PIB no ano passado

Cristiane Bonfanti

BRASÍLIA - Cruciais para o crescimento do país, os investimentos do Orçamento federal não deslancham. No anúncio dos cortes no Orçamento de 2014, no último dia 20, o governo prometeu executar este ano R$ 73,8 bilhões em investimentos, cerca de 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país). Dados do Tesouro Nacional mostram que os investimentos recuaram de 1,35% para 1,31% do PIB entre 2012 e 2013. O total efetivamente pago chegou a R$ 63,22 bilhões no ano passado. Analistas ouvidos pelo GLOBO estimam que esses gastos ficarão estagnados este ano, em relação ao anterior.

— A tendência é que essa rubrica fique estagnada, com resultado próximo de 1,3% do PIB, incluindo os investimentos do Minha Casa, Minha Vida. O governo prometeu que os investimentos cresceriam desde o início do mandato, mas não conseguiu aumentar nem os investimentos públicos, nem incentivar os privados — disse o economista Felipe Salto, da Tendências Consultoria.
Ele estima que, no fim do ano, a Formação Bruta de Capital Fixo, que mede a soma dos investimentos no país, ficará perto de 19% do PIB.

— Claro que as concessões vão ajudar a destravar os investimentos, pelo menos a médio prazo, mas elas não geram efeito imediato. Se os projetos forem bem-sucedidos, o impacto vai parecer daqui a três ou quatro anos — ressaltou.

Durante a divulgação dos cortes no Orçamento, a equipe econômica preferiu destacar números absolutos para mostrar uma alta nos investimentos pagos pelo governo ao longo dos anos. O total passou de R$ 52,6 bilhões, em 2011, para R$ 63,2 bilhões, no ano passado. Na ocasião, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, avaliou que deve haver alta dos investimentos públicos e dos privados em obras de infraestrutura.

Em 2013, maior parte foi ‘restos a pagar’
Na prática, além de os investimentos pagos terem estacionado, proporcionalmente ao PIB, em 2013, a maior parte diz respeito aos chamados “restos a pagar” — despesas de exercícios anteriores executadas no ano passado. Do total de R$ 63,2 bilhões desembolsados em 2013, R$ 36,98 bilhões foram de restos a pagar. Do orçamento de 2013, foram pagos R$ 26,23 bilhões, ou 24,4% do total aprovado pelo Congresso Nacional.

Uma análise dos dados do Tesouro mostra que as três pastas responsáveis pela maior parte das obras de infraestrutura também não conseguiram destravar os investimentos. Em 2013, no Ministério das Cidades, os desembolsos para essa finalidade passaram de 0,32% para 0,31% do PIB.

O Ministério dos Transportes, carro-chefe das obras de infraestrutura, permaneceu com os desembolsos no patamar de 0,21% no PIB no ano passado. O percentual é igual ao de 2012 e continua abaixo das despesas de 2009, ano da crise econômica mundial, quando a execução atingiu 0,27% do PIB. A pasta já havia visto os seus investimentos encolherem 0,12 ponto percentual do PIB em 2012. Entre as pastas responsáveis pelas obras de infraestrutura federais, o Ministério da Integração Nacional foi o único a registrar alta nos investimentos em 2013. O total efetivamente pago no ano passado subiu de 0,07% para 0,09%, e chegou a R$ 4,2 bilhões.

O pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV) Gabriel Leal de Barros, especialista em contas públicas, prevê que, este ano, os investimentos devem seguir a mesma dinâmica de 2013. Ele explicou que, como o governo tem pouca folga para realizar novos gastos, se houver novos ajustes, justamente as despesas dessa rubrica devem ser prejudicadas.

O diretor de Políticas e Estratégia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), José Augusto Fernandes, disse que uma elevação nos investimentos não está no horizonte dos empresários. Estudo da CNI mostra que a intenção de investimento do setor caiu de 83% em 2013 para 78,1% neste ano, o menor percentual desde o início da série, em 2010. Ele explicou que os principais riscos em 2014 são a incerteza econômica, a reavaliação da demanda e o alto custo de financiamento.

No setor de máquinas e equipamentos, a utilização da capacidade instalada caiu de cerca de 85%, na última década, para atuais 72%. Carlos Pastoriza, diretor da Abimaq, associação que representa o segmento, disse que, em 2013, houve queda de 5,7% no faturamento real frente a 2012. A expectativa, disse ele, é que este ano haja variação zero.

Fonte: O Globo

Celso Ming: A poupança encolheu

O governo Dilma já deu sinais suficientes de que está convencido de que, sem investimento, não dá para garantir o crescimento sustentado da atividade econômica.

Mas não sabe como mudar a ênfase do consumo para o investimento. Até há poucos meses, as autoridades davam a entender que, para elas, bastaria acionar o BNDES e apelar ao empresário para que soltasse o espírito animal e tudo aconteceria porque o essencial, a força do mercado interno de consumo, estava garantido.

E não é assim. O consumo continua crescendo mais do que o PIB, o BNDES, em ligação direta com o Tesouro, deu quase tudo o que podia dar e, no entanto, o empresário não se anima.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, às vezes dá a impressão de que acredita no que enfia nas suas apresentações em PowerPoint. Em setembro de 2013, por exemplo, entre retas e curvas nascidas do seu cérebro, como Atena de Zeus, vendeu a ideia de que, em 9 anos, o Brasil destinará 24% de sua renda para o investimento e, então, o crescimento será inexorável, ao ritmo de mais de 4% ao ano.

O ministro baseou-se, em parte, na decisão ainda relutante do governo de acionar concorrências para a expansão dos serviços públicos, especialmente na área da infraestrutura. No entanto, também esse processo é lento demais e está sempre sujeito a insuficiências regulatórias e à baixa capacidade gerencial do setor público.

As avaliações das Contas Nacionais (as mesmas que calculam o PIB) mostraram que, em 2013, a poupança nacional não passou de 13,9% do PIB (veja o gráfico). Se o País não poupa, não pode garantir o investimento. Não cabe a argumentação de que este é um ponto isolado nas estatísticas. Há mais de 5 anos, a economia brasileira consome mais de 60% do PIB e poupa menos de 18%. Ficaram para trás os tempos do governo militar em que a poupança externa (dívida externa) se encarregou de suprir a insuficiência interna de capitais.

Nem a poupança nem o investimento são o resultado da vontade e dos apelos de quem está no comando em Brasília. São o resultado de políticas públicas consistentes voltadas para isso.
Tudo começa com firmeza nos fundamentos. Por enquanto, só há vagas promessas de que o governo será capaz de dar solidez às contas públicas a ponto de evitar o rebaixamento da qualidade da dívida e a fuga dos investidores.

Também não há determinação suficiente para garantir a convergência da inflação para a meta. Nada menos que 25% dos preços da economia dependem de autorização do governo e estes estão represados, como acontece com as tarifas dos combustíveis e da energia elétrica. Esse represamento produz enormes distorções e cria insegurança porque, a qualquer momento, pode levar a decisões intempestivas.

Além de improvisadas e pouco abrangentes, as políticas do governo são de fôlego curto. O desempenho da indústria está excessivamente condicionado à distribuição de subsídios, de reservas de mercado e de isenções tributárias temporárias. E não há clareza na disposição do governo em mudar de rumo.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Michel Zaidan Filho: Bom carnaval, excelente gestão?

Houve uma mudança da cobertura jornalística do carnaval de 2014. É possível dizer que houve um maior destaque dos carnavais do Rio e do Recife, e, sobretudo dos carnavais de rua, dos blocos de sujos, de troças, cordões etc. Fato auspicioso, uma vez que o "maior espetáculo da terra" tornou-se um fabuloso negócio de empresas, veículos de comunicação e autoridades públicas municipais, estaduais e federais. O renascimento da folia espontânea dos bairros e dos foliões anônimos é um sinal positivo de que não só de glamour e purpurina (e dos holofotes) vive o carnaval brasileiro.

Existe sempre o risco do globalismo localizado querer tomar e dá conta da festa momesca. Apesar da pretensão dos baianos e dos cariocas de roubarem a cena carnavalesca, a diversidade regional e cultural da folia tem enriquecido o espetáculo e tornado mais plural o cortejo carnavalesco. O carnaval de rua retoma o espírito original da "inversão", da crítica, da irreverência popular em relação aos poderosos e ricos.

O mesmo não se pode dizer da relação dos políticos com o carnaval. Eles continuam com a condenável tendência (anticarnavalesca) de tirar proveitos e dividendos da folia. A festa popular - como o futebol e a religião - faz parte daquilo que os estudiosos chamam de "mundo da vida" ou da "cotidianeidade". Esta é uma esfera social contraposta ao "sistema", ao mundo do dinheiro e do poder. É aí onde as pessoas respiram, se dão o luxo de serem mais espontâneas, naturais, de dizerem o que pensam ou como gostariam de ser (o mundo do imaginário social). Tal como se poderia ver o carnaval como uma autêntica válvula de escape (diante da opressão cotidiana), ele também pode facilmente cumprir (e cumpre) o papel de um eficiente controle social. Uma forma de insatisfação administrada, com prazo e data para acabar ou se camuflar.

É exatamente como forma de controle social, que as nossas elites pensam o carnaval. Acham que podem manipular a insatisfação das pessoas, patrocinando a folia. Como se fosse possível vestir a camisa de seu partido ou de seu governo nos foliões e dizer que o sucesso da folia é o seu sucesso, é o sucesso de suas gestões. Como se dissessem: "Obrigado, foliões. Vocês corresponderam na avenida ao esforço hercúleo e desmedido de governar para a felicidade de vocês".

Coitados! Mas iludidos do que os foliões estão eles se pensam que a alegria, o sorriso, a desconcentração, o bom humor é a senha de entrada no panteão dos deuses eleitorais de 2014.

Michel Zaidan é professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)