A economia brasileira voltou a ter queda: o PIB caiu 0,5% de julho a setembro, o que não ocorria desde o primeiro trimestre de 2009, no auge da crise global. O consumo das famílias cresce por 40 trimestres seguidos, mas os investimentos recuaram 2,2%. As projeções indicam que 2013 deve fechar com alta de até 2,4%
PIB abaixo de zero
Economia recua 0,5% no 3º tri, no pior resultado desde 2009. No ano, deve crescer até 2,4%
Lucianne Carneiro, Clarice Spitz e Sérgio Vieira
Depois de uma surpresa positiva no período entre abril e junho, a economia brasileira sofreu uma retração de 0,5% no terceiro trimestre deste ano, frente ao período anterior, na primeira queda neste tipo de comparação desde o início de 2009, em plena recessão após a eclosão da crise financeira de 2008. O resultado veio no piso das estimativas do mercado fez com que consultorias revisassem suas previsões para a expansão do PIB em 2013, a maioria para baixo.
As projeções, no entanto, são de que a economia volte a crescer no último trimestre, encerrando o ano com expansão entre 2,2% e 2,4% — ou seja, mais do que o dobro do crescimento de 1% registrado no ano passado. Sem a ajuda da soja, que foi o destaque do primeiro semestre, a agropecuária recuou 3,5% no terceiro trimestre, puxando para baixo o desempenho da economia na comparação com o segundo trimestre. Já a indústria cresceu 0,1%, com a ajuda do salto de 2,9% na indústria extrativa mineral.
O setor de serviços avançou apenas 0,1%. Pela ótica da demanda, o consumo ganhou fôlego, enquanto os investimentos caíram, repetindo um modelo de crescimento baseado mais nos gastos das famílias que, na visão dos especialistas, está se esgotando. Os investimentos tiveram queda de 2,2% na comparação com o segundo trimestre, embora tenham avançado 7,3% frente ao terceiro trimestre de 2012.
Já o consumo das famílias voltou a acelerar e avançou 1% frente ao segundo trimestre, na maior alta frente ao trimestre anterior desde o quarto trimestre de 2012 (1,1%). O aumento de 2,3% frente ao terceiro trimestre de 2012 é a 40ª alta seguida na comparação anual. — Tivemos um crescimento bastante expressivo no segundo trimestre e agora houve uma acomodação. O setor externo está com contribuição negativa no PIB. Por outro lado, o consumo das famílias continua crescendo — afirmou a gerente da Coordenação de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
Extrativa mineral puxa indústria
Com as importações crescendo mais que as exportações, o setor externo puxou a economia para baixo. De janeiro a outubro, o PIB cresceu 2,4%. Porém, este avanço seria maior, de 3,6%, se fosse considerada apenas o consumo doméstica, ou seja, descontando as importações e exportações.
A avaliação do economista Aurélio Bicalho, do Itaú Unibanco, é que a tímida alta de 0,1% do setor de serviços foi o principal fator a levar o PIB para o piso das expectativas: — Dado o peso desse setor, essa é a principal explicação. O setor está acompanhando o quadro geral da economia e refletindo o ritmo lento da indústria e da agropecuária, dado que muitos serviços estão relacionados a esses segmentos — afirma. Uma das surpresas do resultado do terceiro trimestre foi a indústria, que registrou ligeiro avanço (0,1%), enquanto muitos analistas previam queda.
A indústria extrativa mineral ajudou a segurar o número no terreno positivo. — Houve retorno à operação de algumas plataformas da Petrobras e também a entrada de novas plataformas — afirmou o economista da MCM Consultores Leandro Padulla. Para a sócia da Gibraltar Consulting, Zeina Latif, o resultado do PIB divulgado ontem pelo IBGE sugere que os sinais de aceleração da economia vistos no primeiro semestre do ano não eram sustentáveis. — O fato é que o país cresce pouco.
O primeiro semestre foi um falso sinal de aceleração. Teremos um 2013 com expansão maior que no ano passado, mas com uma fraqueza mais disseminada. Para 2014, espero algo em torno dos 2% — afirma a sócia da Gibraltar Consulting, Zeina Latif. Na avaliação do coordenador de Contas Nacionais do IBGE, Roberto Olinto, começa uma transição de um modelo baseado em consumo para outro baseado em investimentos: — Está sendo feita uma transição, um esforço, mas nada é imediato.
Mudança afeta um quinto do PIB
O setor de serviços, que tem o maior peso na economia brasileira, respondendo por 68,7% do PIB, passou por grande mudança de metodologia no último trimestre. A nova forma de calcular esse setor influenciou um quinto (21%) do PIB, com a incorporação dos resultados da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), do IBGE, lançada em agosto deste ano, com dados compilados desde o início de 2012. Com isso, o IBGE revisou o resultado do PIB no ano passado, que passou de uma alta de 0,9% para 1%.
A melhora foi inferior ao estimado pelo Ministério da Fazenda e por analistas do mercado. O IBGE também mudou as contas do PIB para este ano. Até então, era estimado um crescimento de 0,6% no primeiro trimestre (frente ao trimestre anterior, com ajuste sazonal) e de 1,5% no segundo trimestre.
Com as novas contas, o PIB deste ano ficou estagnado no primeiro trimestre e registrou avanço maior entre março e junho, de 1,8% — o que, em parte, explica por que a queda no terceiro trimestre, de 0,5%, foi maior do que a prevista pelos analistas, já que a base de comparação ficou maior. — Mesmo que os serviços tenham perdido velocidade (neste ano), o efeito dessa nova base de dados foi de elevar o patamar dos serviços no PIB — disse o economista Silvio Sales, da Coordenação de Serviços da Fundação Getulio Vargas.
As mudanças afetaram dois subsetores e parte de um terceiro entre as sete atividades de serviços investigadas no PIB: os serviços de informação, os de Transporte e os serviços prestados a famílias e a empresas. A partir de 2015, serão conhecidos novos números para a expansão do PIB desde 1995. — A série inteira será revisada — disse Rebeca de Palis, da Coordenação de Contas Nacionais do IBGE.
Fonte: O Globo