sábado, 10 de janeiro de 2015

Opinião do dia – Fernando Henrique Cardoso (liberdade de imprensa)

Uma vez mais o atentado ocorrido em Paris deixa a todos os seres humanos horrorizados. Católicos, muçulmanos, judeus, protestantes, o que quer que sejamos, somos todos seres humanos e prezamos a vida. Por isso repugnamos o terrorismo e amamos a liberdade. É momento para recordar que os atos do governo turco de pressão contra jornalistas, especialmente contra os do diário Zaman ao qual tive a oportunidade de dar uma entrevista e que já reproduziu artigos meus, em nada contribuem para reforçar a democracia. É fundamental para todos os democratas, independentemente de credo religioso, lutarmos pela liberdade, especialmente a da imprensa. Neste momento em que uma publicação francesa sofre um atentado terrorista, é importante que se recorde que a Turquia, país de predominância muçulmana, mais do que nunca deve mostrar ao mundo que religião e poder são esferas distintas de comportamento e que em ambas, em nome da humanidade, deve prevalecer o respeito às liberdades e às práticas, tanto cívicas como religiosas.

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Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, foi presidente da República. No seu perfil no Facebook.

Petrobrás pode vender fatias no pré-sal

• Venda de participações seria forma de reforçar o caixa da companhia, mas preço do petróleo em queda deve dificultar as negociações

Fernanda Nunes - O Estado de S. Paulo

RIO - Em meio a dificuldades de caixa e com um pesado compromisso de investimento, a Petrobrás analisa vender participações em áreas no pré-sal como solução de curto prazo para enfrentar dificuldades financeiras. Investidores financeiros e petroleiras instalados no exterior estão sendo sondados para avaliar se têm interesse no negócio.

O projeto ainda está sendo tratado no âmbito da diretoria da estatal. Se concretizado, vai ajudar a empresa a enfrentar os percalços provocados pelas denúncias de corrupção e pelo endividamento, que cresceu no último ano com a elevação da cotação do dólar frente ao real. Da dívida total da empresa, 81% estão em moeda estrangeira.

De acordo com fonte envolvida na operação, o projeto faz parte do programa de desinvestimento da companhia, que, até agora, esteve focado na venda de ativos no exterior. A partir deste ano, a Petrobrás vai direcionar os esforços a ativos de exploração e produção no Brasil, principalmente em áreas atrativas a investidores, sem, no entanto, comprometer o plano de alcançar a marca de produção de 4 milhões de barris por dia, em média, a partir de 2020. Procurada para falar sobre o plano, a Petrobrás não respondeu até o fechamento desta edição.

Preços. O que deve dificultar o plano da Petrobrás é a atual queda livre no preço do barril de petróleo no mercado externo. O movimento começou em outubro, quando o barril era negociado na casa dos US$ 90. Nesta sexta-feira, o petróleo fechou cotado a US$ 48,36 na New York Mercantile Exchange (Nymex), com queda de 0,88%. Na Intercontinental Exchange, o petróleo Brent fechou com queda de 1,66%, cotado a US$ 50,11 o barril. Nesse cenário, a expectativa é que o interesse das petroleiras internacionais em ampliar a produção seja menor e mesmo que o caixa dessas companhias esteja enfraquecido.

O Broadcast, serviço de informação em tempo real da Agência Estado, apurou que algumas das sócias da petroleira no pré-sal estão sondando possíveis parceiros na Europa e na China. Duas empresas chinesas, a CNPC e a Cnooc, já estão no pré-sal ao lado da Petrobrás, no campo de Libra, com 10% de participação cada uma. Mas, diferentemente de Libra, as áreas do pré-sal analisadas agora foram contratadas em regime de concessão e, por isso, não exigem que a Petrobrás seja a operadora e tenha uma participação mínima de 30%.

O desenho da operação pela Petrobrás ainda não está fechado, mas, o ideal para a estatal seria manter participação nos projetos. Outra alternativa seria recorrer a novos parceiros que entrem apenas com dinheiro, sem que as participações acionárias sejam alteradas. O ganho desses investidores viria do resultado da produção.

Esforço menor. O especialista Alfredo Renault, da PUC-Rio, acredita que o projeto seria bem recebido pelo mercado, porque diminuirá o esforço de investimento da Petrobrás. Ao mesmo tempo, alerta que esse não é o melhor momento para vender ativos em exploração e produção por conta da queda no preço do barril do petróleo.

Graça Foster, presidente da Petrobrás, confirmou, em encontro com jornalistas, em dezembro, que a estatal levará a diante seu plano de desinvestimento para fazer caixa e reduzir compromissos e manterá o foco nos projetos considerados prioritários. Ao comentar o plano, demonstrou também convicção de que o preço do petróleo voltará a subir, o que favorecerá a venda de áreas. “Dói falar em desinvestir em E&P (exploração e produção) com o petróleo em baixa”, afirmou a executiva.

A Petrobrás possui, atualmente, dez áreas em fase de exploração no pré-sal, com mais chance de entrarem na lista de desinvestimento, em sociedade com outras petroleiras, nas bacias de Campos e Santos, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Nesses casos, as participações da Petrobrás variam de 30% a 80%.

Em meio a crise, Petrobrás vai distribuir R$ 500 mil em prêmios para jornalistas

• Estatal decide reeditar ‘Prêmio Petrobrás de Jornalismo’ e vai agraciar 36 trabalhos

Andreza Matais, Murilo Rodrigues Alves e Fábio Fabrini – O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Em meio a um escândalo de corrupção que afeta sua imagem e faz seu valor de mercado despencar, a Petrobrás vai distribuir quase meio milhão de reais em prêmios para jornalistas. A estatal decidiu reeditar o “Prêmio Petrobrás de Jornalismo”, criada no ano passado, e agraciará autores de 36 trabalhos, publicados em diferentes mídias, com cheques que variam de R$ 7.600 a R$ 31.800, somando R$ 489.500.

O valor é 337% maior do que o oferecido pelo Prêmio Esso, o mais prestigiado do jornalismo brasileiro que contempla 14 trabalhos, 22 a menos do que o da Petrobrás. A petroleira justificou ao Estado que manteve o prêmio mesmo na crise “por ser um evento anual”.

Conforme a empresa, o orçamento destinado à premiação é ínfimo em comparação ao da área de Comunicação Institucional da empresa.“Em 2013, ano de lançamento do prêmio, o orçamento da Comunicação Institucional foi de R$ 704 milhões de reais (1,09% do orçamento total da Petrobras S.A.) e o valor investido no Prêmio Petrobras foi de R$ 443.950,00, que correspondeu a 0,06% do orçamento total da Comunicação”, informou em nota. Conforme a Petrobrás, para a edição de 2014 os valores foram corrigidos pelo índice de inflação e o total será de R$ 489.500,00.

Petrobras aponta culpa de ex-diretores em prejuízo no Comperj

• Estatal informou à CVM que responsabilizou Paulo Roberto Costa e Renato Duque

Alexandre Rodrigues – O Globo

RIO - Em um comunicado enviado ontem à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Petrobras informou que os ex-diretores de Abastecimento Paulo Roberto Costa e de Serviços Renato Duque foram responsabilizados por irregularidades identificadas pela estatal nas obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). Os contratos foram alvo de uma das comissões internas de apuração abertas em 2014 pela Petrobras para investigar suspeitas levantadas pela Operação Lava-Jato.

Os dois ex-executivos da Petrobras teriam pressionado técnicos da estatal e levado a empresa a comprar equipamentos pesados para o Comperj a partir de abril de 2010, antes da conclusão do desenho final do empreendimento, que está em construção em Itaboraí (RJ). Naquela época, o complexo industrial em torno de uma refinaria ainda era objeto de negociação entre a estatal e parceiros. Como o projeto atrasou e o modelo foi alterado várias vezes, a Petrobras teria sofrido um prejuízo de mais de R$ 1 bilhão em gastos na manutenção de aparelhos e outros materiais sem uso por mais tempo que o necessário. A obra só deve terminar em 2016.

O comunicado, enviado pelo diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, foi uma resposta a um pedido de esclarecimentos da CVM, o órgão regulador do mercado de capitais, por causa da divulgação da conclusão da investigação interna pelo jornal “Folha de S. Paulo”, no último dia 5. Esse tipo de esclarecimento ao mercado pode ser feito voluntariamente ou a pedido da CVM, por meio do seu sistema de divulgação de informações das empresas de capital aberto.

Responsabilidade específica
No texto, a estatal afirma que as informações divulgadas “refletem parte das apurações feitas” pela comissão interna criada em 25 de abril do ano passado e que teve o seu relatório final concluído em novembro. “Cabe esclarecer que em relação aos dirigentes da companhia, o relatório da comissão aponta especificamente responsabilidades dos ex-diretores de Abastecimento e de Serviços”, diz o comunicado.

O relatório da comissão de apuração interna, mantido em sigilo, foi enviado pela Petrobras para Polícia Federal, Ministério Público Federal, Controladoria Geral da União e a própria CVM, informou ainda a Petrobras. Além de apontar compras de equipamentos em ritmo diferente do das obras do Comperj, a apuração também apontou irregularidades num contrato de R$ 3,8 bilhões firmado sem licitação em caráter de urgência pela Petrobras com o consórcio TUC, formado por Toyo, Odebrecht e UTC, empresas investigadas pela Lava-Jato.

Costa e Duque chegaram a ser presos pela Polícia Federal por causa das investigações da Lava-Jato. O primeiro teve prisão domiciliar autorizada pela Justiça depois de firmar um acordo de delação premiada para revelar detalhes e integrantes do esquema criminoso em troca de redução de pena. Já Duque teve a prisão preventiva revogada em dezembro pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki depois de duas semanas na carceragem da PF em Curitiba e responde o processo em liberdade. Os ex-diretores defendem os contratos e dividem a responsabilidade com a diretoria colegiada da estatal, que os aprovou. Ontem, O GLOBO procurou os advogados dos dois, mas eles não responderam.

Lava-jato: CGU tentou limitar punições de empreiteiras a multas

• Proposta foi recusada pela força-tarefa do Ministério Público Federal

Jailton de Carvalho – O Globo

BRASÍLIA - A Controladoria-Geral da União (CGU) tentou fazer um acordo com a força-tarefa do Ministério Público Federal encarregada da Operação Lava-Jato para limitar punições às empreiteiras envolvidas em fraudes na Petrobras, evitando que elas fossem declaradas inidôneas e, consequentemente, ficassem impedidas de fechar novos contratos com o governo federal. A proposta, revelada ao GLOBO por uma das autoridades que acompanha as investigações, foi rejeitada pela força-tarefa. O acordo foi encarado pelos investigadores como uma tentativa do governo de salvar empresas que estão à frente de grandes obras públicas no país.

A proposta foi apresentada a um grupo de procuradores da República pelo secretário executivo da Controladoria-Geral, Carlos Higino, no fim do mês passado. Higino sugeriu a fixação de multas às empreiteiras como punição máxima em âmbito administrativo. Com isso, as empresas teriam que devolver aos cofres públicos uma quantia em dinheiro, mas se livrariam da punição mais drástica: a declaração de inidoneidade.

Mas o MPF entendeu que não seria possível limitar as punições a multas às empresas que até o momento não aceitaram colaborar com as investigações. Por enquanto, a maioria das construtoras apenas aceita reconhecer parte das acusações e pagar uma indenização.

Um possível acordo com a CGU sem um entendimento prévio com o Ministério Público não garantiria, no entanto, que as empreiteiras se livrariam de ações penais, nem mesmo de uma eventual tentativa do MPF de, pela via judicial, pedir que as empresas envolvidas ficassem impedidas de fazer qualquer contrato com o governo.

Ao GLOBO, Higino confirmou a tentativa de entendimento.

— O processo punitivo leva à declaração de inidoneidade. E a experiência que tivemos com a Delta e a Gautama (construtoras punidas em escândalos anteriores) é que a declaração de inidoneidade provoca uma grande possibilidade de fechar a empresa —disse.

Durante a negociação, Higino e seus auxiliares argumentaram que seria melhor aplicar multas às empreiteiras agora e receber o dinheiro o mais brevemente possível. Uma punição mais drástica, no curso normal dos processos penais e administrativos, poderia chegar tarde demais, segundo esse raciocínio.

Na conversa, os representantes da CGU alegaram que algumas empreiteiras poderiam entrar em crise financeira e não teriam dinheiro nem mesmo para ressarcir parcialmente os prejuízos. A insolvência poderia até contaminar o sistema financeiro, especialmente bancos que abrigam negócios das empresas.

Higino disse que não buscava um acordo coletivo. A ideia, segundo ele, seria negociar acordos individuais conforme as peculiaridades de cada caso. Ele argumenta que a ideia não é proteger a empresa do risco financeiro. Mas evitar que uma punição severa resulte em perda total para os cofres públicos.

— A ideia é evitar uma vitória de Pirro: quebra-se a empresa e não se recupera um tostão para o serviço público — afirmou Higino.

As duas partes não chegaram a um consenso, mas as tratativas prosseguem. Se quiser, a Controladoria-Geral pode fazer acordos de leniência com as empreiteiras independentemente da opinião dos procuradores. A chancela prévia do Ministério Público evitaria futuras contestações jurídicas das decisões sobre as empreiteiras, e ainda facilitaria a adesão das empresas.

Em outra frente, procuradores da força-tarefa dependem também da Controladoria-Geral e do Tribunal de Contas da União para calibrar as punições às empresas que decidirem colaborar com as investigações nos processos penais. Sem algum tipo de compensação em âmbito administrativo, algumas empresas poderiam se sentir pouco estimuladas a colaborar na esfera penal.

Empreiteiras propuseram pagar r$ 1 bilhão
Desde que foram alvo da sétima fase da Operação Lava-Jato, as empreiteiras vêm tentando em várias frentes negociar um acordo para atenuar suas punições. Representantes das empresas procuraram o Ministério Público Federal para negociar o pagamento conjunto de R$ 1 bilhão de multa. Em troca queriam um abrandamento das penas. Os procuradores recusaram. Para eles, só seria possível fazer acordo se os executivos decidissem contar o que sabem sobre os desvios de dinheiro na Petrobras.

Numa conversa com parlamentares, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, chegou a declarar que não havia hipótese de aceitar acordo coletivo com as empreiteiras. O procurador até ironizou a iniciativa. Para ele, a iniciativa seria uma espécie de “cartel da leniência”. Em dezembro, Janot afirmou que o Ministério Público está atuando para não deixar ninguém impune.

— Ninguém se beneficiará de ajustes espúrios. Isso todos temos de ter certeza. A resposta para aqueles que assaltaram a Petrobras será firme. A decisão é ir fundo nas responsabilizações civil e criminal.

Mesmo diante das condições estabelecidas pelo MPF, as empreiteiras continuaram numa busca incessante por uma alternativa a punições máximas. Entre os papéis apreendidos na Engevix, em novembro passado, a PF encontrou uma anotação em que o autor faz referência à urgência de um acordo.

Para o autor do documento, Janot e o ministro Teori Zavascki, do Supremo, dificilmente adotariam medidas extremas. “Janot e Teori sabem que não podem tomar a decisão. Pode parar o país”, diz a anotação, de 6 de novembro.

Nas últimas semanas surgiram rumores de que pelo menos duas das grandes empresas estão com dificuldades para pagar dívidas e contrair novos empréstimos. As dificuldades aumentaram depois que a Petrobras anunciou, em 30 de dezembro, que as 23 investigadas na Lava-Jato estão proibidas de participar de novas licitações e serão alvos de processos individuais.

MP vai denunciar empreiteiras e executivos

- O Globo

SÃO PAULO. O Ministério Público Federal do Paraná (MPF-PR) deverá ingressar na Justiça até o final deste mês com ações por improbidade administrativa contra as seis maiores empreiteiras brasileiras (Camargo Correa, OAS, Mendes Júnior, UTC, Galvão Engenharia e Engevix) e seus diretores, que serão responsabilizados civilmente pelos prejuízos bilionários à Petrobras.

As construtoras e seus dirigentes, que já estão sendo processadas criminalmente, deverão agora ser denunciadas por irregularidades praticadas em licitações e contratos firmados na área da Diretoria de Abastecimento da Petrobras de 2004 a 2012, período da administração de Paulo Roberto Costa, que também deverá ser denunciado por improbidade. O mesmo deverá acontecer com o doleiro Alberto Youssef.

As ações estão sendo preparadas pelos procuradores da força-tarefa do MPF-PR Paulo Roberto Galvão e Athayde Ribeiro, que depois do próximo dia 20 deverão convocar uma entrevista coletiva à imprensa para detalhar os processos que serão encaminhados à Justiça Civil Federal.

Caso as denúncias sejam aceitas, e a Justiça as condene, as empreiteiras e seus diretores poderão sofrer sanções administrativas, como pesadas multas, confisco de bens e até serem proibidas de continuarem prestando serviços a órgãos públicos.

Os dirigentes dessas empresas já foram denunciados à 13ª Vara Federal Criminal em dezembro pelos ilícitos cometidos contra a estatal e poderão receber elevadas penas por corrupção, formação de quadrilha, remessa ilegal de dinheiro para o exterior, lavagem de dinheiro, entre outros crimes.

Dilma vai a Davos para tentar reconquistar credibilidade

• Fórum também será usado pelo governo para apresentação da nova equipe econômica à elite do empresariado mundial

Rafael Moraes, Moura Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Aconselhada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a presidente Dilma Rousseff acertou sua ida ao Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, entre 21 e 24 de janeiro. A viagem marcará uma ofensiva do Palácio do Planalto para atrair mais investimentos, reconquistar a credibilidade da economia e evitar uma perda do grau de investimento concedido pelas agências internacionais de classificação de risco.

A passagem de Dilma por Davos, apurou o Estado, também servirá para apresentar a nova equipe econômica à elite do empresariado mundial - o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, deverá integrar a comitiva, além do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, que a acompanhou em 2014.

No Planalto, avalia-se que Davos é uma vitrine indispensável em um momento crucial para o governo, que faz ajuste fiscal nas contas públicas na tentativa de retomar a trajetória de crescimento econômico.
Esta será a segunda vez consecutiva de Dilma no fórum.

Em Davos, Dilma deve expor as linhas gerais de atuação do governo para garantir rigor fiscal e orçamentário, segundo auxiliares, além de vender o programa de concessões em portos, ferrovias e rodovias a investidores estrangeiros, ressaltando os esforços em reduzir os gargalos de infraestrutura no País. Mais uma vez, reiterar o convite a empresas de outros países para investir por aqui.

A escolha do novo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, visto como um nome de perfil mais agressivo na negociação de acordos comerciais, é outra cartada para sinalizar o rumo do novo governo.

Rebaixamento. O Brasil é um dos mercados emergentes candidatos a um rebaixamento pelas principais agências de rating em 2015, na avaliação de economistas do banco Barclays. Na lista dos mais cotados para um corte na nota também estão a Rússia, África do Sul, Turquia, Ucrânia, Sérvia, Gana, Nigéria, Angola, Mongólia e Bahrein.

Conforme decreto publicado na edição de quinta-feira do Diário Oficial da União, a presidente Dilma Rousseff e o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, limitaram a 1/18 (um dezoito avos) do projeto do Orçamento de 2015 o valor mensal das “despesas correntes de caráter inadiável” que poderão ser feitas pelos órgãos do Poder Executivo até a aprovação da Lei Orçamentária deste ano. A medida é mais um esforço na contenção de despesas.

Antes, o governo anunciou medidas para tornar mais rígido o acesso a benefícios previdenciários e trabalhistas - espera-se uma economia de cerca de R$ 18 bilhões por ano.

Em seu discurso de posse, Dilma destacou que as mudanças que pretende implantar no segundo mandato “dependem muito” da estabilidade e da credibilidade da economia. “Sempre orientei minhas ações pela convicção sobre o valor da estabilidade econômica, da centralidade do controle da inflação e do imperativo da disciplina fiscal, e a necessidade de conquistar e merecer a confiança dos trabalhadores e dos empresários.”

Inflação pode subir com ajustes na economia, diz Ministro da Fazenda

• ‘Se as despesas crescerem e a gente se endividar, ou ficar aumentando imposto, vai ser mais difícil a economia melhorar’, disse Joaquim Levy, em bate-papo com internautas

Martha Beck e Cristiane Bonfanti - O Globo

BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, comentou em bate-papo com internautas nesta sexta-feira o resultado do IPCA, que fechou 2014 em 6,41%, pouco abaixo do teto da meta de inflação, que é de 6,5% ao ano. O ministro ressaltou que o número ficou dentro do intervalo prometido pelo governo. Ele admitiu que os preços devem subir em 2015 devido a algumas “arrumações” que o governo precisa fazer para a economia voltar a crescer, mas ressaltou que o Banco Central continuará trabalhando para baixar a inflação e fazer com que ela vá para o centro da meta, de 4,5%, em 2016.

— O mais importante é que o Banco Central, que é o guardião do valor do teu dinheiro, está atento e vai continuar cuidando para que a inflação esteja no caminho de não só ficar abaixo do teto até o final de 2015, mas também para ela voltar para o objetivo de não passar de 4,5% em 2016 — disse o ministro à internauta Letícia Stéfane.

Levy também alertou para o fato de que a inflação de janeiro será mais alta devido a uma sazonalidade, como reajustes nas mensalidades escolares, de tarifas de transporte e IPTU, e também aos ajustes que o governo precisa fazer na economia:

— Em janeiro, realmente a inflação deve ser um pouco mais alta do que em alguns meses do ano passado. Em parte, é porque, janeiro e fevereiro são meses em que, todo ano, tem mais reajustes, como de escola, IPTU, ônibus, etc. Além disso, para a economia voltar a crescer, temos que fazer algumas arrumações e isso pode mexer em alguns preços. Os economistas chamam isso de mudança nos preços relativos e ela é importante para acomodar a economia em um novo caminho de crescimento.

O ministro Levy recebeu pouco mais de 400 perguntas de internautas em seu primeiro bate-papo virtual pelo Facebook. Ele optou por responder a oito delas. A conversa durou cerca de uma hora e vinte minutos.

Contas arrumadas
O ministro disse que para que o Brasil seja mais competitivo daqui a quatro anos, as medidas começam com a arrumação das contas do governo. Além disso, escreveu, o governo tem que estimular a concorrência. As afirmações foram feitas em resposta ao internauta Alessandro Araújo, que disse ter 17 anos.

— O que esperar para daqui 4 anos, quando você talvez esteja completando a faculdade? Um Brasil mais competitivo, que vai conseguir ter uma presença maior no mundo, com empregos melhores. E como alcançar isso? Tem vários ingredientes. Começando com as contas do governo estarem arrumadas. Além disso, a gente tem que estimular a concorrência. A concorrência é importante porque quanto mais firmas estão disputando um mercado, você tem mais opções na hora de comprar e as firmas tem que ser mais eficientes, mais capazes. Aí, você vai poder comprar mais barato. Daí que toda a economia fica mais eficiente, mais competitiva e dá para, inclusive, conquistar mercados lá fora. Esse Brasil batalhador é o que a gente pode esperar para crescer e ter mais emprego de qualidade — escreveu na primeira resposta do bate-papo no Portal Brasil.

O ministro escreveu ainda que o Brasil vai passar por um período em que "tem que acertar algumas coisas, para retomar o crescimento e mesmo o aumento do emprego".

Ajuda da população
Sobre o papel da população no ajuste fiscal, Levy escreveu que cada cidadão pode contribuir para o país trabalhando, fazendo tudo com o máximo de qualidade e, com isso, melhorando a produtividade. Segundo o ministro, se as despesas do governo crescerem e o governo se endividar, ou aumentar imposto, será "difícil a economia melhorar". Essa foi uma resposta ao internauta Reinaldo Demetrio Silva, que perguntou o que o cidadão comum pode fazer para ajudar nesse momento de ajuste.

— Cada cidadão ajuda o país trabalhando, fazendo tudo com o máximo de qualidade. Quando a gente atende ao cliente bem, estamos valorizando o nosso trabalho e melhorando a economia. Quando fazemos algo bem, melhoramos aquilo que os economistas chamam de produtividade. É como diz o ditado: “Só o trabalho pode criar riqueza”. Além disso, é muito importante que a gente fortaleça a convicção de que o governo não pode gastar mais do que arrecada. Que, se as despesas crescerem e a gente se endividar, ou ficar aumentando imposto, vai ser mais difícil a economia melhorar. Se você conversar isso com seu colega de trabalho, em alguma hora, também com seus amigos, isso vai ajudar a gente a fazer as mudanças juntos — escreveu Levy.

Alta de impostos
Questionado sobre uma possível alta nos impostos, o ministro disse que, se houver alguma mudança, ela será realizada depois de o governo "esgotar outras possibilidades". Segundo Levy, o governo, provavelmente, terá de pensar em rebalancear alguns impostos.

— A gente provavelmente terá que pensar em rebalancear alguns impostos, até porque alguns foram reduzidos há algum tempo. E essa receita está fazendo falta. Mas, se houver alguma mudança, vai ser com cuidado e depois de a gente esgotar outras possibilidades. Estamos no caminho certo, e dessa vez a gente está tentando acertar as coisas bem antes de estar numa crise. Como diz um amigo meu, estamos podendo consertar o telhado em dia de sol — escreveu o ministro.

Empréstimos
O ministro afirmou que o governo tem tomado várias medidas para gastar menos e reequilibrar a economia. Questionado pelo internauta Igor Calado, que citou a mudança nas regras de acesso a benefícios previdenciários, perguntou qual a meta de economia para este ano e onde devem ser realizados outros cortes de gastos, Levy disse que "evitar algumas distorções, que acabam fazendo você pagar por despesas com alguém, por exemplo, que começa a receber pensão de viúvo ou viúva aos 25 anos de idade, e vai continuar recebendo esse dinheiro do governo, talvez por mais de 50 anos, é muito importante".

— Não faz sentido esse desperdício com o dinheiro do povo. Além disso, o governo diminuiu o volume de empréstimos com juros baratos para algumas empresas. Empréstimo barato também é pago pelo contribuinte e tem que ser dado só em situações muito especiais — escreveu.

O ministro lembrou que, ontem, o governo publicou decreto com um corte adicional nos gastos do governo. Segundo ele, as despesas consideradas de "custeio", para pagar principalmente a máquina do governo, serão cortadas.

— Usando tuas palavras, o corte nessas despesas, que foi de 1/3, é essencial nesse momento. O objetivo é limitar esse tipo de despesa para, com essa economia, ter dinheiro para pagar a Previdência Social e os benefícios certos, que o governo tem obrigação de pagar, e sempre em dia — explicou.

Benefícios previdenciários
O ministro garantiu que, com a mudança nas regras de de acesso a benefícios previdenciários, o direito de pessoas que já se aposentaram não será atingido. Em resposta ao internauta Pedro Mendes, que disse que o seu pai se aposentou no ano retrasado por invalidez, Levy afirmou:

— Pedro, é muito especial ter um pai que trabalhou a vida inteira. O meu pai também era assim, continuou atendendo no SUS até bem depois dos 70 anos, e tenho orgulho dele. E é muito justo e importante que as pessoas tenham esse seguro da aposentadoria de invalidez, se alguma doença acontece. Esse direito não vai ser mexido. O valor da aposentadoria continuará sendo corrigido pela inflação, de maneira que ela vai ficar protegida por todo o tempo que teu pai a receber. As medidas de contenção acontecerão em outras áreas, exatamente para que o trabalhador e a sua família tenham tranquilidade.

Câmbio
Um dos internautas perguntou ao ministro se as viagens internacionais ficarão mais caras por causa do câmbio, mas Levy desconversou:

— Estamos em período de férias, né? Pelo menos para alguns… Bom, o preço de viagens internacionais depende do câmbio. O valor das moedas estrangeiras, o câmbio, tem flutuado bastante. O dólar está mais forte em relação à maioria das moedas, inclusive o euro e moedas da Ásia. Então, o preço da viagem, inclusive em reais, depende para onde você vai. Boa viagem.

Chicago boy
No bate-papo, o ministro foi perguntado por um internauta se se considera um “Chicago boy”, expressão usada para classificar economistas que estudaram na famosa Universidade de Chicago, que tem perfil liberal. Levy é PhD em Economia pela instituição.

O ministro disse que a pergunta era divertida e aproveitou para defender a linha de pensamento da universidade. Ele afirmou que todo governo tem que se preocupar com o fato de que qualquer benefício dado a um grupo determinado tem um custo que precisa ser dividido pela sociedade:

— Deixa eu dizer que, nem o pensamento dessa escola é tão único assim, nem tem algo de especial em algumas medidas darem mais certo ou não. E muita coisa mudou desde aquela época. Mas essa Universidade tinha um professor que dizia uma frase que ficou muito conhecida, e que a gente sabe que tem seu grão de verdade: “Ninguém come realmente de graça”. A gente sabe que quando alguém passeia ou faz alguma coisa sem pagar, outra pessoa está pagando. Então, essa frase é importante para quem está no governo. Tudo que o governo “dá” é pago pelo contribuinte. Então, a gente tem que ter muito cuidado em como usa o dinheiro, para garantir que as pessoas certas, às quais a lei dá o direito, serem as que receberão os benefícios que precisam. Enfim, boas ideias em economia vêm de vários lugares, e a gente tem que estar sempre atento para analisar e adotar as melhores

No perfil do Portal Brasil pelo Facebook, o ministro colocou um vídeo no qual se apresenta como Joaquim, explica qual a função do comandante da Fazenda e diz que está preparado para responder a perguntas da população.

— O ministro da Fazenda é aquela pessoa no governo que tem a responsabilidade de levantar dinheiro para a gente poder pagar tudo aquilo que o governo faz. A gente também escolhe como vai gastar o dinheiro para ter os melhores resultados (…) E o que a gente tem que fazer para o Brasil voltar a crescer e entrar na rota de geração de emprego cada vez mais forte — diz Levy no vídeo de apresentação.

Montadoras demitiram 12,4 mil no País em 2014

• Foi a maior dispensa de trabalhadores desde 1998, quando a crise na Rússia obrigou o setor a cortar 22,2 mil vagas no Brasil

Cleide Silva - O Estado de S. Paulo

A indústria automobilística demitiu 12,4 mil trabalhadores no ano passado, dos quais 1,6 mil em dezembro. Foi a maior dispensa em 16 anos. Em 1998, quando a economia mundial sofreu os impactos da crise na Rússia, o setor, incluindo fabricantes de tratores, cortou 22,2 mil postos de trabalho no Brasil.

As montadoras encerraram 2014 com 144,6 mil funcionários, voltando assim aos níveis de emprego de 2011. Este ano, contudo, já começou com demissões - foram 800 vagas na Volkswagen e 260 na Mercedes-Benz, ambas em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.

O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, diz que o setor “ainda tem excedente de nível de emprego em relação à produção”. Afirma, contudo, que o caso da Volkswagen é pontual e que “por parte das demais associadas não há informação de cortes iminentes”.

Moan informa que as demissões no ano passado foram feitas por meio de mecanismos acertados com o governo, como Programa de Demissão Voluntária (PDV), não renovação de contratos temporários e acordos com os sindicatos. O acerto foi feito para o período de redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), entre maio de 2012 e dezembro. No dia 1º o imposto voltou a ser cobrado integralmente.

Projeções. A produção de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus caiu 15,3% no ano passado na comparação com 2013, para 3,146 milhões de unidades. Foi o pior desempenho desde 2010. Para este ano, a Anfavea projeta alta de 4,1%, para 3,276 milhões de veículos.

A aposta tem como base um crescimento de 1% nas exportações (para 337,9 mil unidades) e redução de 17,6% para 16% da participação dos carros importados nas vendas internas, em razão da alta cambial. “Serão pelo menos 70 mil carros importados que vão ser substituídos por nacionais”, calcula Moan.

As vendas internas, que caíram 7,1% em relação a 2013 (para 3,498 milhões de unidades), devem se manter estagnadas em 2015. Apesar do quadro econômico desfavorável, Moan acredita que os bancos vão liberar mais crédito para financiamento em razão da recente lei que facilita a retomada de carros de inadimplentes.

Fábricas e concessionárias encerraram dezembro com 351 mil veículos em estoque, ante 414,3 mil em novembro.

O número atual equivale a 28 dias de vendas - em novembro eram 42 dias -, se for levada em conta a média de vendas de dezembro, que registrou o terceiro melhor mês da história, com 370 mil unidades comercializadas.

Se o cálculo for feito com base na projeção de vendas para este mês, contudo, o número de dias de estoque sobe para 35 dias a 36 dias, afirma Moan, o que é “bastante preocupante”, diz ele. Em razão da antecipação de compras ocorrida no mês passado por causa da volta do IPI, a expectativa é de um janeiro fraco em vendas.

Protesto. Os 13 mil trabalhadores da Volkswagen entram nesta sexta-feira no quarto dia de greve em protesto contra as 800 demissões anunciadas pela empresa na fábrica de São Bernardo do Campo (SP).

Na Mercedes-Benz, após paralisação de 24 horas na quarta-feira, os 11 mil funcionários retornaram ao trabalho nesta quinta-feira, mas nesta sexta-feira fazem protesto em frente aos portões da fábrica com a presença de familiares de demitidos.

Dos 260 cortes na Mercedes, 160 foram demitidos pela empresa e 100 entraram num Programa de Demissão Voluntária (PDV). Eles estavam num grupo de cerca de 1 mil trabalhadores que ficaram em lay-off (contratos suspensos) por cinco meses até novembro. A empresa renovou o programa para 750 trabalhadores e vai bancar os custos, sem a participação do Fundo de Amparo aos Trabalhadores (FAT).

Caixa desiste de processo sobre dívida de ministro

• Após George Hilton assumir Esporte, banco estatal renuncia a ação judicial em Minas

Murilo Rodrigues Alves e Fábio Brandt - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O novo ministro do Esporte, George Hilton, deixou de ser réu em uma ação de cobrança movida pela Caixa Econômica Federal, banco estatal, após assumir seu cargo no primeiro escalão do governo de Dilma Rousseff. O processo foi motivado por uma dívida de R$ 30 mil no cartão de crédito do ministro. Ele reconhece a existência do débito.

Depois de tentar negociar o pagamento da dívida sem obter sucesso, como é praxe de qualquer banco, a Caixa levou o caso para a Justiça Federal em Minas Gerais. O processo foi aberto em 18 de dezembro do ano passado, quatro dias antes de Dilma confirmar Hilton na chefia do Esporte. Por causa do recesso de fim de ano do Judiciário, a ação só foi encaminhada ao juiz responsável, Carlos Roberto de Carvalho, na quarta-feira passada.
Conforme apurou a reportagem, após a Justiça Federal registrar a movimentação processual, Hilton ainda não havia quitado a dívida nem acertado parcelamento para começar a pagá-la.

No entanto, nesta sexta, um dia após receber questionamentos do Estado, o banco anunciou que estava desistindo da cobrança judicial. “Já houve desistência da ação por parte da Caixa, em virtude da negociação entre as partes”, informou a Caixa. Hilton afirmou por meio de sua assessoria que havia feito um acordo com o banco, fora do âmbito judicial, para quitar o débito.

A movimentação processual no site da Justiça Federal em Minas passou então a mostrar que documentos foram juntados à ação. O conteúdo não pode ser acessado porque o caso corre sob sigilo. Hilton e a Caixa se recusam a dar detalhes sobre o caso.

O sigilo também impede que seja conhecida a data em que a dívida foi contraída. É comum, no entanto, que casos do tipo só cheguem à Justiça após anos de cobrança malsucedida. O procedimento de cobrança, mesmo fora do âmbito judicial, é demorado.

Ao detectar o não pagamento do cartão, o banco estatal aciona o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) a partir do quinto dia decorrido após o atraso. E o nome do cliente fica “sujo”. Depois de dois meses, o cartão de crédito é cancelado. A dívida passa a ser cobrada pelo SPC, que oferece várias oportunidades de quitação. A reportagem localizou pessoas que mantiveram a dívida por quatro anos sem que fossem acionadas judicialmente. A dívida só é cobrada na Justiça quando o banco ou o SPC tem certeza que o cliente tem imóveis que possam ser retidos.

Execução tributária. O ministro responde também na Justiça Federal em Minas a uma ação de execução tributária aberta pela Fazenda Nacional. Além dele, são alvos da ação sua esposa, Gorete, e sua empresa Visão Locação e Transportes, que não consta de sua declaração de bens.

George Hilton é filiado ao PRB, partido ligado à Igreja Universal do Reino de Deus e que participa desde sua fundação, em 2005, dos governo do PT. Antes de assumir o ministério, Hilton era deputado federal pelo PRB de Minas Gerais. Em 2014, ele conseguiu se reeleger.

Sua nomeação para a pasta gerou críticas de atletas. Em seu discurso de posse, Hilton admitiu não entender “profundamente” de esporte. Em 2005, ele foi expulso pelo PFL (atual DEM) após ser detido no aeroporto de Belo Horizonte transportando caixas de dinheiro em espécie. Hilton alegou que os valores em espécie eram doações feitas por fieis da Universal.

A liberdade de expressão de luto

Daniela Fernandes – Valor Econômico

Na imprensa francesa, o semanário satírico "Charles Hebdo" pode ser considerado o número 1 na categoria de estilo provocador. A revista, conhecida na França por sua ironia feroz e pela audácia de suas charges, criou numerosas polêmicas, as mais recentes envolvendo o islã. Como consequência, sofreu, nos últimos anos, várias ameaças, processos judiciais e também um ataque incendiário.

O tiroteio, na quarta-feira, em sua sede em Paris, qualificado de "atentado terrorista" pelo governo da França, deixou 12 mortos, entre eles o diretor da publicação e três outros cartunistas célebres no país. "A redação do jornal era ameaçada havia anos pelo obscurantismo", afirmou o presidente francês, François Hollande, que decretou dia de luto nacional na quinta.

"Charlie Hebdo" utiliza amplamente ilustrações para comentar a atualidade e foram justamente as charges que fizeram sua notoriedade na área. A revista refletiria, segundo Stéphane Charbonnier, conhecido como Charb, diretor e também caricaturista morto no tiroteio, "todas as correntes da esquerda, inclusive os abstencionistas".

Fundada em 1969, com o nome de "Hara-Kiri Hebdo", ela foi proibida pelo governo francês logo no ano seguinte após ironizar a morte do general Charles de Gaulle, ex-presidente e considerado herói nacional, com o título "Baile trágico em Colombey (onde De Gaulle morreu): um morto", que fazia alusão a um incêndio ocorrido em uma discoteca alguns dias antes, tragédia que matou 150 pessoas.

Para driblar a proibição do governo, a equipe decidiu mudar o nome da publicação para "Charlie Hebdo". Para alguns, seria uma alusão ao general. Mas o nome seria devido ao famoso personagem americano de histórias em quadrinhos Charlie Brown, cujas tirinhas passaram a integrar a edição.

A revista, no entanto, deixou de existir em 1981 por falta de leitores, voltando à ativa em 1992, com os mesmos nomes prestigiosos da década de 70, como os desenhistas Jean Cabu, 76, e Georges Wolinski, 80, também mortos no tiroteio nesta semana.

Irreverente, "Charlie Hebdo" tem entre seus temas prediletos críticas à extrema-direita e ao fundamentalismo religioso, seja islâmico, católico ou judeu.

A principal polêmica ocorreu em 2006, quando "Charlie Hebdo" decidiu lançar um "amplo debate sobre a liberdade de expressão", ao publicar 12 caricaturas do profeta Maomé, as mesmas que haviam circulado meses antes no jornal dinamarquês "Jyllands-Posten" e provocado violentos protestos no mundo muçulmano. Na capa dessa edição, um desenho mostrava o profeta chorando e reclamando dos integristas.

Nessa época, a tiragem do semanário era de 140 mil exemplares. A edição com as caricaturas de Maomé vendeu 400 mil números. A revista ganhou os processos movidos por organizações muçulmanas, mas se tornou alvo de ameaças recorrentes.

Em 2011, o semanário relançou a polêmica ao publicar um número especial batizado "Charia Hebdo", em que o profeta era o "editor-chefe convidado" e aparecia em um desenho na capa dizendo que "quem não morresse de rir seria açoitado". A sede da publicação foi incendiada por coquetéis molotov na véspera da chegada dessa edição às bancas.

A partir disso, seu diretor, Charb, passou a ter escolta policial permanente. O policial que assegurava sua proteção também morreu no tiroteio na quarta-feira. A redação mudou de endereço e foi para um local com segurança reforçada, com códigos nas portas, o que não impediu o ataque ontem, que matou 8 dos cerca de 30 jornalistas.

O site do jornal também foi pirateado várias vezes. Em 2012, "Charlie Hebdo" publicou, na época do lançamento de um controverso filme sobre o islã, novas caricaturas de Maomé, inclusive nu, que geraram novas controvérsias.

A tiragem estava caindo nos últimos anos e seria de cerca de 48 mil exemplares. Alguns estimam que a morte de membros ilustres e históricos da publicação (oito jornalistas morreram) levará ao fim da "Charlie Hebdo".

'Há décadas, faz-se vista grossa com o extremismo islâmico na França', diz sociólogo

• Para Jean-Pierre Le Goff esquerda francesa tem sido condescendente com o avanço do islamismo extremista pelo medo de ser acusada de racista

Clarice Spitz – O Globo

RIO - Para o sociólogo francês Jean-Pierre Le Goff, pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) e autor de diversos livros, desde a década de 80 correntes da esquerda francesa têm sido condescendentes com o avanço do islamismo extremista pelo medo de ser acusada de racista. Movimento que ganhou força com o medo incutido pela extrema direita. Para Le Goff, após uma trégua de união nacional que deve ser curta, a extrema-direita receberá impulso e deverá chegar até ao segundo turno das eleições presidenciais.

Quais são os efeitos imediatos do atentado?

A unidade do país é incontornável. Não vejo quem possa ser contra, num primeiro momento, ao ataque, que foi feito pelo terrorismo islâmico. Não foi a maioria dos muçulmanos que vivem no país e que condenaram o atentado. Uma minoria, mas há um medo de se atacar o problema dos extremistas para não ser tachado como islamofóbico. Perdemos um certo bom senso. O espírito francês foi atingido no seu âmago que é o humor, a liberdade de expressão, a democracia. Seja de direita ou de esquerda, sabe-se que houve um ataque contra o pensamento. É altamente simbólico porque atacaram a caricatura, que é uma paixão nacional.

Não era esperado um atentado de maior porte depois de uma série de ataques recentes?

É verdade que há uma série de ataques desde 2012, quando em Toulouse (sudoeste da França), um atirador matou três crianças franco-israelenses e um rabino numa escola judaica. Como conseguir combater isso é um desafio porque a França recebe muitos muçulmanos. Ao se negar esse problema, é o extremismo que vence.

Onde será preciso atuar?

Nesse primeiro momento, é preciso atuar com a polícia, contraespionagem na França. Precisa-se de uma repressão porque a democracia foi atacada. Ainda há um medo de falar em islamofobia, de se estigmatizar. [Michel] Houellebecq teve dificuldades ao lançar um romance [“Soumission”, que mostra a França dirigida por um muçulmano em 2022 depois do fim do segundo mandato de Hollande e numa coalizão republicana que bate Marine le Pen] em que mostra um presidente muçulmano que não é um terrorista, mas um moderado. Ele foi criticado como se não pudesse falar nisso. Desde que o livro saiu, foi visto como islamofóbico por muitos.

O presidente François Hollande experimenta níveis baixíssimos de popularidade. Quais os efeitos políticos desse atentado?

Em um primeiro momento, haverá a união de todos, e isso favorece Hollande. Mesmo Sarkozy e Marine le Pen disseram que foi o atentado foi obra do movimento jihadista e não muçulmano, mas isso não vai durar muito. Se os problemas não forem atacados, mesquitas vão ser incendiadas. Nas próximas eleições, o Front Nacional [extrema direita] vai ter um ótimo desempenho, com certeza vai chegar ao segundo turno das eleições presidenciais. Depois, se não houver uma resposta clara sobre a situação do islamismo e a laicidade, a extrema direita será mais favorecida.

O extremismo muçulmano é um problema francês ou europeu?

Da Europa como um todo e da França, em particular. Aqui na França, vimos uma clara escalada da influência extremista muçulmana em alguns subúrbios de Paris. Muitas pessoas dizem que não querem se integrar. Houve recentes manifestações contra judeus. Há uma inquietude na sociedade francesa e na Europa. Existem hoje cerca de mil franceses que foram arregimentados e partiram para a Síria para serem treinados como jihadistas. Relaxamos em vários aspectos. Nos anos 80, correntes dentro do Partido Socialista hesitaram sobre se deviam permitir que as meninas usassem véus em escolas [polêmica conhecida como caso de Creil]. Na década de 90, vimos pregadores de um Islã fundamentalista virem para a França e instalarem mesquitas sem que nada fosse feito. Há cerca de dez anos, quando Martine Aubry era prefeita de Lille-Sud, houve uma grande polêmica porque grupos extremistas passaram a controlar a hora de homens e de mulheres entrarem em uma piscina pública e houve demora das autoridades de pôr fim ao caso.O Front Nacional (extrema direita) explorou esse medo que já existia, mas não o criou. Ou o Islã se integra à França, à Europa, com uma islamização republicana europeizante, ou islamiza-se a Europa.

"Não deixaremos de criticar religiões", diz sobrevivente do "Charlie Hebdo"

Isabelle Hanne - "Libération"

Os jornalistas que sobreviveram ao atentado voltaram ao trabalho na sexta-feira. Com os mortos e os feridos no pensamento, para levar um jornal às bancas na próxima quarta-feira.

A reunião de pauta do "Charlie Hebdo" durou mais de três horas ao todo. É que na manhã de sexta, além do trem, das pautas, dos prazos, foi preciso falar dos mortos, dos feridos, das homenagens, dos funerais. A sala da escotilha, onde o "Libé" [o jornal francês "Libération"] geralmente realiza sua reunião de pauta diária, foi ocupada dessa vez pelos profissionais sobreviventes do semanário satírico. Iluminada de um lado por uma grande janela redonda, a sala está ao mesmo tempo aquecida demais e aberta aos quatro ventos, para deixar escalar a fumaça dos cigarros.

Sobre a grande mesa redonda, computadores emprestados pelo grupo "Le Monde". Sentados em volta dela, Willem, Luz, Coco, Babouse, Sigolène Vinson, Antonio Fischetti, Zineb El Rhazoui, Laurent Léger Ao todo mais de 25 pessoas, com a aparência abatida e os olhos inchados. O núcleo central do "Charlie Hebdo", os colaboradores habituais e os ocasionais estão ali para preparar o próximo número do jornal. O semanário deve sair na próxima quarta e terá tiragem de 1 milhão de exemplares, ou seja, mais ou menos 20 vezes a tiragem habitual.

"Pude ver todo o mundo no hospital", começa dizendo Gérard Biard, o editor-chefe do "Charlie". "Riss está com o ombro direito ferido, mas o nervo não foi afetado. Ele está com muita dor. A primeira coisa que falou é que não tem certeza se vamos poder continuar a fazer o jornal."

Fabrice Nicolino, atingido várias vezes no atentado, "está melhor", se bem que "é evidente que está sofrendo muito mesmo".

Patrick Pelloux, médico de urgências e colunista do "Charlie", explica o ferimento no maxilar sofrido por outra vítima, Philippe Lançon, que também é jornalista do "Libé".

Simon Fieschi, o webmaster deles, "foi posto em coma artificial". Uma jovem desaba em lágrimas. "Você não tem que se sentir culpada", Gérard Biard a consola. Todo o mundo concorda com gestos de cabeça. Quem está chorando é a jornalista Sigolène Vinson, que estava presente na redação na hora do drama, na quarta-feira, mas foi poupada pelos atiradores.

Biard repassa os nomes dos mortos. Como organizar os funerais? E a homenagem nacional? Com que música? Nada de bandeiras, certo? "Não é caso de fazer uma coisa simbólica que eles próprios teriam detestado", observa alguém em volta da mesa.

"Mataram pessoas que desenhavam hominhos. Nada de bandeiras. Temos que lembrar a simplicidade desse pessoal, o trabalho deles. Nossos amigos morreram, mas não vamos expô-los em praça pública." Todo o mundo concorda.

Assinatura em massa
Uma jornalista explica que uma "caixinha" criada espontaneamente na internet por desconhecidos já recebeu 98 mil euros em menos de 24 horas. Os sobreviventes do "Charlie Hebdo" estão recebendo uma enxurrada de pedidos de assinatura que ainda não estão conseguindo processar. Mas dentro em breve eles vão receber ajuda do grupo Lagardère para lidar com isso.

O advogado do "Charlie Hebdo", Richard Malka, toma a palavra. "Há dinheiro chegando de todos os lados. Ajudas de vários tipos, locais, pessoal para cuidar do que precisa ser feito." "Recebemos o apoio de muitos veículos de mídia", confirma Christope Thévenet, outro advogado do jornal. "Estão chegando doações, já recebemos 250 mil euros através da Associação Imprensa e Pluralismo, há o milhão de euros prometidos por Fleur Pellerin. Vocês aqui no 'Charlie' terão mais verbas do que jamais tiveram!".

O advogado sabe do que está falando: foi ele quem redigiu os estatutos do jornal e comanda suas assembleias gerais. Nos últimos meses o "Charlie" tinha lançado um apelo por doações para tentar sair do vermelho.

"E aí, vamos fazer o jornal?" pergunta Gérard Biard, visivelmente querendo fazer a reunião decolar. "O que vamos colocar nas páginas?" "Sei lá, o que há em matéria de últimas notícias?" responde Patrick Pelloux. Risos nervosos.

Biard prossegue: "Para mim, devemos fazer um número normal, entre aspas. Para que os leitores reconheçam o 'Charlie'. Que não seja uma edição excepcional." "Não seria má ideia", comenta alguém em volta da mesa.

Algumas pessoas aventam a ideia de deixar espaços brancos nos lugares onde os mortos da quarta-feira teriam escrito ou desenhado. Mas a equipe acaba decidindo que não o fará. "Não quero que haja um vazio material", argumenta Gérard Biard. "Todas as páginas precisam estar lá. E Mustapha, também." Mustapha Ourrad, o revisor, faz parte da longa lista dos mortos no atentado da quarta-feira. "Então deixe meus erros ficar!", dizem Patrick Pelloux e os outros, brincando.

"Opa, Fidel Castro morreu!" anuncia Luz, fazendo um gesto obsceno com o dedo médio ao descobrir a informação (desmentida logo depois) em seu telefone. O repórter Laurent Léger tenta centrar a discussão sobre o jornal outra vez: "Acho que a gente não deve fazer obituários. Não vamos fazer uma edição de homenagem."

A redação discute o conteúdo do jornal. Gérard Biard: "Espero que parem de nos tratar como leigos fundamentalistas, que as pessoas parem de dizer 'sim, mas...' à liberdade de expressão." Laurent Léger: "A edição também precisa falar do que vem depois." Corinne Rey: "Vamos transmitir a mensagem de que estamos vivos." Richard Malka: "E que não vamos deixar de criticar as religiões."

O "Charlie Hebdo" é um jornal curioso: não tem seções propriamente ditas, mas "espaços" atribuídos a esse ou aquele autor ou desenhista. Para os espaços dos mortos, a equipe decide procurar materiais inéditos deles para publicar. Assim, Charb, Cabu, Wolinski e Honoré estarão na edição que chegará às bancas na quarta-feira. Durante as discussões ouvem-se choros ocasionais, como incêndios rápidos que começam e então se apagam nos braços da pessoa ao lado. Há pessoas que se dão as mãos e olhares molhados de lágrimas.

Richard Malka pigarreia: "Manuel Valls acaba de chegar na redação". A equipe suspira, se espalha, faz brincadeiras. Acompanhado da ministra da Cultura e da Comunicação, Fleur Pellerin, que ostenta um adesivo de "Je suis Charlie" sobre o peito, e de todo um grupo de jornalistas de fora, assistentes e comunicadores, o primeiro-ministro vem cumprimentar os presentes com apertos de mão, soltando algumas informações sobre a intervenção em curso em Dammartin-en-Goële -"os dois assassinos caíram na ratoeira"-e então fazendo votos de "muita coragem" a todos.

Biard pergunta: "Não vamos ter mais jornalistas? E mais ministros? E para a página 16, o que fazemos?" A pergunta se perde no barulho das latinhas de Coca sendo abertas, dos pães de chocolate mastigados, das lágrimas sufocadas, das sirenes de polícia do lado de fora. Em seu canto, Patrick Pelloux dá risada: "Isto sim é uma verdadeira reunião de pauta. É uma zona! Recomeçamos bem."

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Tradução de Clara Allain - Folha de de S. Paulo

Merval Pereira - Convivendo com o inimigo

- O Globo

Bastou o boato de que o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles substituirá Graça Foster na presidência da Petrobras para as ações da estatal subirem na Bolsa de Valores. Meirelles, ou alguém com instrumentos semelhantes, mais cedo ou mais tarde assumirá mesmo a Petrobras, por que não há amizade que possa prescindir de mudanças profundas em uma hora de crise como a que vive a Petrobras.

É uma decisão básica para dar uma esperança de novos dias, coisa que a presidente Dilma ainda não conseguiu nesse seu segundo mandato. Todo governo novo traz consigo uma renovação de expectativas que por si só ajuda a melhorar o ambiente, e pode ser punido quando essa esperança nele depositada é traída.

Existem diversos exemplos recentes, e o melhor deles, no sentido positivo, é o segundo governo de Lula, que conseguiu superar a crise do mensalão para transforma-se em um líder de altíssima popularidade. As sequelas do mensalão continuarão a marcar a sua trajetória política, e seguidas do escândalo da Petrobras, retiram dele a aura de intocável que por muito tempo o acompanhou.

Mas ele foi beneficiado pela situação da economia internacional nos primeiros anos e, sobretudo, contou com os efeitos do Bolsa Família, que àquela altura de seu segundo governo começavam a aparecer, consolidando sua fama de pai dos pobres e transferindo a força eleitoral do PT para o norte e o nordeste do país.

Um fato interessante desse período é que foi o então ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, quem detectou e explorou a força eleitoral do programa Bolsa Família. Ele assumiu o ministério criado em 2004, quando as políticas sociais do governo federal estavam em crise devido à disputa de grupos políticos e a concepções distintas de suas validades.

O programa Fome Zero, do qual o Bolsa Família era apenas um efeito colateral sem maiores perspectivas, dera errado, devido à burocracia que o paralisava e à disputa conceitual não resolvida de diversas facções petistas. O Bolsa Família estava sendo tocado como um programa de cunho mais político do que eleitoral.

O então assessor especial da Presidência, Frei Betto, via o programa como um canal de fortalecimento da cidadania, e retirou das prefeituras o poder de interferir na distribuição das bolsas, fazendo com que grupos de cidadãos fossem os responsáveis pelo cadastramento e distribuição, com o objetivo precípuo de impedir o uso político do programa.

Patrus, ao contrário, viu o prestígio político que aquele programa daria a Prefeitos de todo o país e transferiu aos municípios a tarefa de distribuir o Bolsa Família, que ganhou um cunho assistencialista enquanto o novo ministério tratava de dar conceitos técnicos ao cadastramento e ao acompanhamento das condicionalidades do programa.

Embora tenha sido o responsável pelo sucesso do programa, Patrus Ananias não teve os dividendos políticos da ação e acabou alijado da política partidária até recentemente, quando retornou ao mesmo ministério no segundo governo Dilma, sem o aval do presidente Lula.

O problema da presidente reeleita é que não há mais programas novos para lançar, nem dinheiro para implementá-los, e resta a ela esperar que nomes como Meirelles ou Levy, vindos de outras hostes - que ela hostilizou na campanha eleitoral - consertem o que há de errado na economia para ter a esperança de terminar o segundo mandato recuperando a imagem de boa gestora. Para isso, ela ironicamente depende que o ministro da Fazenda Joaquim Levy cumpra o que prometeu ontem a diversos internautas em um bate-papo promovido pela Presidência da República: dificuldades a serem superadas nos dois próximos anos para que, a partir de 2017, o país volte a crescer em ritmo mais forte e com uma base mais firme.

É nessa expectativa que a presidente Dilma está aceitando mudar seus conceitos econômicos, postos em xeque no primeiro governo, que teve números pífios. Levy fala de "empregos melhores" ao fim das mexidas, mas o que se terá até lá é o aumento do desemprego. O que não se sabe é até quando Dilma aguentará os efeitos colaterais negativos das medidas que têm que ser tomadas agora para que, mais adiante, a economia volte a funcionar.

Igor Gielow- O verão da árvore

- Folha de S. Paulo

Como se habitasse algum círculo de inferno dantesco, o paulistano vislumbra, simbolicamente, morrer afogado e com sede. E 2015 trouxe um bônus: a agonia pode ser abreviada pela queda de uma árvore sobre sua cabeça.

Pois é. A grande novidade do verão na maior metrópole do país é que árvores despencam de forma destruidora, às vezes fatal, a cada uma das chuvas torrenciais que trazem conhecidas enchentes (menos nos tais reservatórios secos).

É uma triste ponte entre a crise hídrica de Alckmin e a gestão Haddad, tão preocupada em formar o "homem novo" na marra --a versão século 21 dele vem com bicicleta e capacete, talvez pensando nos galhos à espreita que a prefeitura deixou de podar. Cereja do bolo, outro elo entre os mandatários, Gabriel Chalita, vai cuidar da educação na cidade.

Invertendo a equação de que Brasília se faz microcosmo do Brasil, o verão da árvore é uma metáfora do que se passa no mundinho político.

Nele, a "Pátria educadora" vê o MEC ser tosado no primeiro corte do doutor Levy. O ajuste é inevitável, mas cabe questionar a tesourada linear quando cada pasta tem uma composição de gastos própria.

Tanto faz: o que vem pela frente é mais duro, a começar por investimentos. Como o ministro já disse, a gestão Dilma-1 tem de ser corrigida. Resta rezar para que a crise não nos afogue enquanto morremos de sede.

E há árvores, nesta semana encarnadas no combativo Eduardo Cunha. A disputa do deputado com o Planalto pela presidência da Câmara se parece cada vez mais com aquele filme de James Bond em que os jogadores de pôquer se enfrentam civilizadamente no carteado só para tentarem aniquilar-se mutuamente a cada intervalo. E a aposta só sobe.

Se por um lado surge como alvo da poda da Lava Jato, a cada lance Cunha se torna uma frondosa tipuana prestes a estatelar-se sobre o governo. O verão da árvore promete.

Zuenir Ventura - Je suis Charlie, juif, musulman...

• A primeira impressão é de vitória do extremismo, de recrudescimento do radicalismo, já que a barbárie calou a liberdade de expressão

Os jornais “Le Monde” e “Le Figaro”lembraram que o pior ato de terror em Paris foi o que ocorreu em 1961, durante a guerra pela independência da Argélia, quando a Organização Armada Secreta, a OAS, de direita, explodiu uma bomba no trem Estrasburgo-Paris, descarrilando a composição e matando 28 pessoas. Em número de vítimas, sim, foi bem maior do que o de agora, com 12 mortos. Mas não em efeito moral e emocional, em impacto e comoção. Passei os anos 1960/61 como correspondente na capital francesa, e pude vivenciar o clima de paranoia da época, devido aos atentados. Até o presidente De Gaulle escapou por pouco de um. Era comum uma ameaça esvaziar uma sala de cinema ou uma estação de metrô.

Mesmo assim, agora, distante, fiquei mais chocado, pela brutalidade e frieza da ação e porque sabia o quanto Wolinski, um dos cartunistas barbaramente assassinados, era amigo de Chico Caruso e Ziraldo. Acompanhei a reação deste último: primeiro de incredulidade ao receber a notícia, e em seguida de inconformismo e dor. “Quando eu ia a Paris, ele me levava para jantar em sua casa”, recordou o nosso cartunista. “Você sabe o que isso significa para um francês?” Uma das charges guardadas como relíquia é uma bela mulher nua com a legenda: “Olha o que o Ziraldo fez comigo”. Os dois gostavam de desenhar mulher. Aliás, não só de desenhar.

À parte as memórias afetivas, o que fica? Naquela época, o terrorismo saiu derrotado, De Gaulle foi vitorioso e a Argélia tornou-se independente. E agora? A primeira impressão é de vitória do extremismo, de recrudescimento do radicalismo, já que a barbárie calou a liberdade de expressão: o fuzil venceu o lápis e o país pode sair partido. Esses fanáticos são tão insanos e obtusos que não percebem que, com suas ações, dão razão à extrema-direita e fortalecem a islamofobia. Mas, por outro lado, a atitude das lideranças muçulmanas condenando a violência e a impressionante reação dos franceses indo para as ruas de forma indignada, mas pacífica, lançando a palavra de ordem que correu o mundo — Je suis Charlie — alimentam a esperança de que o sacrifício dos mártires do massacre do “Charlie Hebdo” sirva para impedir que os fundamentalistas façam valer sua estratégia, a de uma França polarizada pelo ódio étnico e religioso.

A solução contra isso está anunciada nos cartazes empunhados nas últimas passeatas: “Je suis Charlie, Je suis musulman, Je suis juif, Je suis catholique”. Ou seja, a solução é a pluralidade, a tolerância, a liberdade de expressão.

Demétrio Magnoli - Raqqa, aqui

• Na França milhares dizem 'Eu sou Charlie', mas no Brasil professores saem das tocas para celebrar o terror

- Folha de S. Paulo

Enquanto, na França, dezenas de milhares saíam às ruas para dizer "Eu sou Charlie", professores universitários brasileiros saíam de suas tocas para celebrar o terror. Não começou agora: é uma reedição das sentenças asquerosas pronunciadas na esteira do 11 de setembro de 2001. São sinais notáveis da contaminação tóxica de nossa vida intelectual e, especificamente, da célere conversão de departamentos universitários em latas de lixo do pensamento.

A mensagem dos franceses foi um tributo à vida e à civilização. "Eu sou Charlie" não significa que concordo com qualquer uma das sátiras do Charlie Hebdo. Significa que concordo com a premissa nuclear das sociedades abertas: a liberdade de expressão é, sempre, a liberdade daquele com quem não concordo. Isso, porém, nunca entrará na cabeça de nossos mensageiros da morte.

Seu discurso padrão começa com uma condenação ritual do ato terrorista: "É claro que não estou defendendo os ataques", esclareceu de antemão uma dessas tristes figuras, antes de entregar-se à defesa, na forma previsível da condenação das vítimas "justiçadas". "Não se deve fazer humor com o outro", sentenciou pateticamente Arlene Clemesha, que ostenta o título de professora de História Árabe na USP, para concluir com uma adesão irrestrita à lógica do terror jihadista. É preciso, disse, "tentar entender" o significado do ataque: "um atentado contra um jornal que publicou charges retratando o profeta Maomé, coisa que é considerada muito ofensiva para qualquer muçulmano".

Clemesha é só uma, numa pequena multidão acadêmica consagrada à delinquência intelectual. No mesmo dia trágico, Williams Gonçalves, professor de Relações Internacionais na Uerj, esqueceu-se do cínico aceno prévio para expor logo sua aguda visão sobre o "controle social da mídia" e, de passagem, candidatar-se a porta-voz oficial do Estado Islâmico: "Quem faz uma provocação dessas", explicou, referindo-se aos cartunistas assassinados, "não poderia esperar coisa muito diferente". O curioso, nas Clemeshas e nos Gonçalves, é que eles rezam pela mesma cartilha que Marine Le Pen, apenas com sinal invertido. O nome dessa cartilha é "choque de civilizações".

Na onda de islamofobia que varre a França, surfam dois lançamentos recentes. O livro "Le suicide français", do jornalista ultraconservador Éric Zemmour, alerta contra a destruição da cultura francesa por vagas sucessivas de imigração muçulmana. O romance "Soumission", de Michel Houellebecq, imagina a França governada por um partido islâmico no ano agourento de 2022. Segundo a gramática do "choque de civilizações", o Islã não cabe na França: um muçulmano só pode ser um francês se, antes, renunciar à sua fé. Os nossos Gonçalves e Clemeshas estão de acordo com isso --mas preferem que, para acolher os muçulmanos, a França renuncie a suas leis e a seus valores, entre os quais a laicidade do Estado. E, no entanto, apesar de Zemmour, Houellebecq, Clemesha, Gonçalves e Le Pen, milhares de muçulmanos franceses exibiram nas ruas os cartazes com a inscrição "Eu sou Charlie"...

Karl Marx escreveu cartas elogiosas a Abraham Lincoln. Leon Trostsky contou com a colaboração inestimável do filósofo liberal John Dewey para demolir as falsificações dos Processos de Moscou. Entre um evento e outro, o socialista August Bebel qualificou o antissemitismo como "o socialismo dos idiotas". Em outros lugares e outros tempos, o pensamento de esquerda confundiu-se com o cosmopolitismo e produziu as mais comoventes defesas das liberdades civis. No Brasil de hoje, com honoráveis exceções, reduziu-se a um pátio fétido habitado por "black blocs" iletrados, mas fanaticamente antiamericanos e antissemitas.

"Não se deve fazer humor com o outro", está escrito na lápide definitiva que cobre o túmulo do humor. Raqqa, a sede do califado, é aqui. "Eu sou Charlie".

Cristovam Buarque - Abolição e adoção

• Piso de R$ 1.917,78 para professor é insuficiente

- O Globo

Em sua fala de abertura dos trabalhos no Parlamento, em 1888, a Princesa Isabel disse que o Brasil precisava ser uma pátria livre da escravidão. Logo depois, o governo encaminhou a proposta que viria a ser a Lei Áurea. O deputado Joaquim Nabuco passou a ser o principal articulador da aprovação da proposta, ainda que o governo da época fosse liderado por um partido diferente do seu, e o chefe do governo, o deputado João Alfredo, fosse seu maior adversário em Pernambuco.

Esta postura moral de Nabuco lhe dá uma grandeza ainda maior do que a própria luta pela Abolição.

Se a princesa tivesse dito que seu lema seria “Brasil: pátria sem escravidão”, sem o governo apresentar o projeto da Lei Áurea, sua mensagem teria atendido a crescente consciência nacional da necessidade de abolir a escravidão, mas sem transformar o lema em um ato realizador.

O lema “Brasil: pátria educadora” tem o mérito de explicitar a posição que, depois de décadas de luta por alguns, começa a ganhar corpo na sociedade brasileira: a importância da educação para o progresso do país. Mas, sem um conjunto de leis, a definição dos recursos e a articulação de uma base de apoio, a ideia ficará apenas como lema.

Dizer que a pátria educadora será constituída graças aos royalties do présal é insuficiente. Porque se a Petrobras superar suas dificuldades financeiras, se a engenharia for eficaz para extrair o petróleo daquela profundidade, se o preço do petróleo voltar ao patamar de US$ 100 por barril, se a crise ambiental não forçar a substituição do combustível fóssil por outras fontes, mesmo assim, em 2034, o pré-sal só conseguirá fornecer R$ 35 bilhões, cerca de 5,5% dos recursos necessários para o Brasil virar uma pátria educada. Prometer que a nação educada será financiada pelo pré-sal é menos seguro do que se a princesa tivesse dito que os escravos seriam alforriados graças a royalties obtidos pela exploração de café em novas áreas a serem abertas em regiões ainda não desbravadas.

Ao aumentar o piso salarial do professor em 13,01%, elevando-o para R$ 1.917,78, o governo da presidente Dilma não demonstra firmeza de cumprir seu lema. Além de ser um valor insuficiente, o lema não ganha consistência devido à opção do seu governo em deixar a responsabilidade pela educação sobre os ombros de pobres e desiguais prefeituras e estados. Não há como fazer do Brasil uma nação educada se a educação não for uma questão nacional com a adoção das escolas pelo governo federal, ao longo dos próximos anos.

Ao apresentar seu compromisso de construir um Brasil sem escravidão, a princesa sancionou a lei da abolição. Se quiser levar a sério sua ideia de construir uma pátria educada, a presidente Dilma deve apresentar o conjunto de ações necessárias para a adoção da educação básica pela União — a PEC 32/2013 é um exemplo.

Se fizer isso, todos devem seguir o exemplo de Nabuco e dar o apoio necessário.
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Cristovam Buarque é senador (PDT-DF)

Governo foi o causador da crise na Petrobras – Editorial / O Globo

• No discurso de posse, a presidente Dilma ignorou o fato de a estatal ter sido vítima de aparelhamento político e de decisões do próprio governo

A diretoria da Petrobras já anunciou que este ano não recorrerá a financiamentos externos para levar adiante seus negócios. Na verdade, o mercado não está aberto, no momento, para a companhia. A estatal acumulou elevado endividamento, foi vítima de aparelhamento político e teve de se submeter a um demagógico represamento de preços dos seus principais produtos, por decisão do acionista controlador, representado pelos governantes de ocasião do país.

Será um ano de muitos desafios para a Petrobras porque a companhia tem pela frente um ambicioso programa de investimentos e precisará, ao mesmo tempo, conciliar tais compromissos com a necessidade de reduzir o endividamento como proporção do patrimônio. Enquanto enfrenta um ambiente esgarçado pela revelação de uma série de escândalos de corrupção e de outros casos sob suspeição, com impacto no comportamento de suas ações nas bolsas de valores. É quase que um apagar de incêndios diários. Os acionistas minoritários desconhecem os resultados da companhia no terceiro trimestre de 2014, que somente serão divulgados no fim deste mês, e sem passar pelo crivo dos auditores externos. Na ausência desses resultados, a empresa teve de negociar com os grandes credores um acordo para que o total da dívida não fosse declarada como vencida.

Ao tomar posse para o novo mandato, a presidente Dilma Rousseff dedicou parte de seu discurso à defesa da estatal eximindo o governo de responsabilidade nessa crise. Chegou a mencionar “inimigos externos”, como se a Petrobras estivesse sendo alvo de uma campanha de desmoralização sem vínculo com a dura realidade administrativa, econômica e financeira da companhia. Para usar uma imagem cinematográfica, a Petrobras conviveu com o inimigo dentro da própria casa.

A companhia é muito importante para o Brasil. É líder em uma indústria com forte efeito multiplicador sobre o conjunto da economia, contribuindo para redução da dependência energética no presente e com um potencial de receitas futuras que serve de anteparo contra crises crônicas no balanço de pagamentos. Por isso, precisa ser preservada como empresa, e não como instrumento político-partidário, executando tarefas de conveniência dos governantes de turno.

A Petrobras se fortaleceu com a abertura do mercado brasileiro de petróleo, ao buscar mais eficiência, e poderia ter prosseguido nesse ritmo não fosse a visão obtusa e contaminada por um ideologismo ultrapassado que fez o país retroceder nas regras e objetivos traçados para o setor. Se, na época da descoberta do pré-sal, o governo não tivesse paralisado as rodadas de licitações anuais, a Petrobras estaria hoje contando com mais parceiros que poderiam ter colaborado para evitar o quadro de dilapidação que a companhia sofreu. O país não estaria agora sob o risco de ver a paralisação de investimentos tão relevantes.

A inflação da tolerância – Editorial / O Estado de S. Paulo

O governo da presidente Dilma Rousseff conseguiu de novo combinar inflação muito alta, 6,41% no ano passado, com crescimento econômico muito baixo, provavelmente inferior a 1%. Essa é uma combinação rara e nada invejável, só acessível em certos cenários de crise internacional ou como produto de uma incompetência hiperbólica. O caso brasileiro é obviamente o segundo. Na maior parte do mundo, incluída a América Latina, os preços têm subido bem menos que no Brasil, raramente superando 4%, enquanto a produção e o comércio exterior têm sido muito mais dinâmicos. Em 2014, as façanhas comandadas do Palácio do Planalto incluíram um déficit comercial de US$ 3,93 bilhões - o primeiro a partir de 2001, quando houve um superávit de US$ 2,65 bilhões - e um encolhimento das trocas internacionais. A soma de exportações e importações, de US$ 454,13 bilhões, foi 5,7% inferior à de 2013, pela média dos dias úteis. As vendas ao exterior diminuíram 7% e as compras, 4,4%.

Excetuados a produção agrícola e o bom desempenho comercial do agronegócio, num quadro de preços internacionais em queda, nada, nos grandes números da economia brasileira, vale uma comemoração. A alta dos preços ao consumidor, assim como o resultado da balança comercial, claramente refletiu uma porção de graves desajustes e, acima de tudo, uma política fundada em diagnósticos errados e ainda conduzida com voluntarismo e teimosia.

As consequências desse voluntarismo ainda se refletirão nos dados econômicos deste ano. Ainda será preciso reajustar preços contidos politicamente. Se o governo quiser evitar novos auxílios financeiros a empresas do setor elétrico, terá de aceitar novos aumentos das contas de energia, com efeitos nos cálculos da inflação. Além disso, tarifas de transporte público já estão sendo reajustadas, depois de dois anos de congelamento político.

Nem com a contenção voluntarista dos preços de combustíveis, das tarifas de energia elétrica e do valor das passagens de ônibus, trens e metrôs, a inflação ficou nos últimos anos em níveis decentes. Bateu no limite de 6,5% em 2011, recuou para 5,84% em 2012 e voltou a subir nos dois anos seguintes, atingindo 5,91% em 2013 e 6,41% em 2014. Durante todo esse tempo a presidente Dilma Rousseff se vangloriou de haver mantido a alta de preços dentro da meta, como se a meta oficial incluísse todos os pontos entre 4,5% e 6,5%. Mas a meta é 4,5% e os dois pontos acima ou abaixo são margens de tolerância - um espaço de acomodação para circunstâncias excepcionais.

Não houve, nesses anos, nenhuma circunstância bastante grave para justificar taxas de inflação sempre muito próximas de 6% e às vezes acima disso. Grandes pressões internacionais teriam aparecido também nos dados de inflação de outros países, mas o Brasil tem permanecido, há muitos anos, como um dos campeões da inflação. A própria meta oficial, de 4,5% a partir de 2005, é muito alta pelos padrões internacionais, e a margem de tolerância, muito larga.

Tem havido no Brasil uma indisfarçável tolerância à inflação. A meta oficial tem sido 4,5%, mas o alvo efetivo tem sido algo entre 5,5% e 6%. Não se tem deixado de cantar vitória, no entanto, quando se obtém algum número até 6,5%.

Para um combate efetivo à inflação o governo deveria ter sido muito mais econômico, mas a presidente Dilma Rousseff e seus auxiliares preferiram manter uma política orçamentária expansionista e maquiar os resultados. A gastança oficial foi sempre o mais importante componente da demanda excessiva, mas, além disso, ainda houve o aumento do crédito. O desajuste no mercado de trabalho, com a escassez de mão de obra qualificada ou mesmo qualificável, completou o quadro, com aumentos salariais bem acima dos ganhos de produtividade.

No começo do ano, os economistas do setor financeiro projetaram para 2015 uma inflação de 6,56%. O presidente do Banco Central promete levar a variação do IPCA a 4,5% até o fim de 2016. Para isso, os juros terão de continuar muito altos, exceto se houver um firme e confiável ajuste das contas públicas. Falta saber como pensa a presidente Dilma Rousseff.