sábado, 23 de setembro de 2017

Opinião do dia – Roberto Freire

Ainda há alguns pontos a serem analisados, mas estou confiante de que impediremos mais retrocessos. Assim como derrotamos o distritão, derrubaremos o indecente fundão. Diante do que foi votado e vetado pela Câmara, é possível dizer que avançamos na construção de uma reforma política tão necessária quanto urgente para o Brasil. Não é a reforma ideal, longe disso, tampouco a “contrarreforma” que se delineava no início do processo. Há imperfeições e aspectos que não foram modificados simplesmente porque não houve consenso em torno de propostas melhores. Mas um primeiro passo foi dado, o que não é pouco, e nos aproximamos de um sistema político-eleitoral mais justo, democrático e funcional.

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Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS. “Distritão derrotado e a reforma possível”, Diário do Poder, 22/9/2017

Entrevista especial com Luiz Werneck Vianna

• A política sumiu, esvaneceu, perdeu força, de modo que as corporações emergiram e estão tomando conta do país

• Ou aparece uma política de moderação, ou então nós vamos ladeira abaixo


• O judiciário não é inocente em relação à crise que aí está

• O Judiciário não pode se sobrepor ao mundo da política. Mas isso não significa se curvar a ela. Essa é uma dialética difícil

• Temos que ter sensibilidade e inteligência política para evitar os furacões, eles nos rondam, eles estão nos rondando

• Não se passa o país a limpo nem por força dos civis, nem por força das canetas ilustradas dos nossos magistrados

• Não há inocente na política brasileira, aliás, não se faz política nem aqui e nem alhures com inocência; a política é um jogo duro, bruto

• Não há como pensar no tema da moralidade sem pensar no tema do trabalho

• A cultura política que está se ensejando aí é a da União Democrática Nacional – UDN

A principal constatação ao analisar a continuidade da crise política é que a força das corporações, especialmente a do judiciário, tem se contraposto à política, diz o sociólogo Luiz Werneck Vianna à IHU On-Line. “A política sumiu, esvaneceu, perdeu força, de modo que as corporações emergiram e estão tomando conta do país”, afirma na entrevista a seguir, concedida por telefone. Um exemplo disso é que as corporações do judiciário estão “chamando os temas da administração para si. Não há medida que o governo tome sem que sofra uma contestação do judiciário, seja na questão da Amazônia, seja na questão dos preços do combustível”, argumenta.

Na avaliação do sociólogo, a atual atuação do judiciário tem como finalidade “passar a história do país a limpo”, mas “ele não tem condições de fazer isso apenas com papel e caneta, através de sentenças.

O processo de depuração da política do país é um processo que não pode ser feito assim, a fórceps”. Segundo Werneck, as ações e sentenças dos juízes brasileiros não deveriam ser fundamentadas apenas em princípios, mas, antes de tudo, em cálculos que tragam as melhores consequências para o país. “Os nossos juízes não são consequencialistas, isto é, não pensam e não calculam as consequências de seus atos. Na verdade, eles são orientados por princípios que querem levar a ferro e fogo, mas esses princípios não vêm da política, e sim das leis. (...) Essa indiferença quanto à política faz com que as suas intervenções, ao invés de nos levarem a uma estabilidade, a uma situação de tranquilidade institucional, apenas agravem a situação”, defende.

Ao comentar brevemente a decisão do Supremo Tribunal Federal - STF de encaminhar à Câmara dos Deputados o pedido de investigação do presidente Temer, Werneck Vianna recorre novamente ao argumento consequencialista e questiona: “Qual é a consequência de derrubar o presidente Temer agora, faltando pouquíssimo tempo para a sucessão presidencial? Por que não conduzir a operação Lava Jato de forma que ela cumpra seus efeitos, mas ao mesmo tempo respeite a situação que o país vive, de instabilidade?” E responde: “Se a Câmara decidir que o presidente deve ser denunciado, aí seu mandato será suspenso, ele será processado e viveremos um pandemônio num momento em que a economia dá sinais de ressuscitação. Isso quer dizer o quê? Apenas ativar o mundo dos princípios e desconsiderar as consequências”.

Defender uma visão consequencialista do Direito, justifica, não significa “sugerir que se deva pôr panos quentes no que foi feito com o dinheiro público, com os negócios feitos de forma criminosa, com as relações criminosas entre a esfera pública e a esfera privada”. Ao contrário, afirma, “sou a favor de que se prossiga com a investigação, mas não outorgo a essa corporação do judiciário, não apoio que ela passe o país a limpo”. E conclui: “Quem tem que passar o país a limpo somos nós, a sociedade, e as instituições. (...). Nós estamos à beira de uma sucessão presidencial e essas são as questões que vão ser postas nessa sucessão e o povo vai votar, vai deliberar, e vai saber escolher, separar e discriminar o joio do trigo”.

Confira a entrevista.

A crise nossa de cada dia | Marco Aurélio Nogueira

- O Estado de S. Paulo.

Nada autoriza a que se projete um atalho que engavete a democracia representativa

A vida é feita de crises. Conflitos e disputas alimentam as interações humanas como o ar que se respira. A própria dinâmica social, contraditória e movida a antagonismos, faz os sistemas inventados para prover a sociedade de recursos de sobrevivência entrarem em desajuste e perderem eficácia. É uma constante.

Devemos desdramatizar a ideia de “crise” para que sejamos capazes de assimilá-la e compreendê-la. Não há por que temer o que é parte da vida.

Crise não é sinônimo de fim ou morte. Não implica que uma situação “crítica” se reproduza de forma catastrófica. Uma crise de governo não anuncia o fim do governo, mas sim que algumas de suas condutas e opções já não bastam para sustentá-lo. Uma crise econômica tem indicadores claros – recessão, desemprego, redução do consumo, inflação, fuga de investimentos –, mas não se traduz necessariamente em colapso, podendo, porém, significar que um padrão de acumulação ou uma orientação macroeconômica atingiram o esgotamento.

Nossa época está assentada num sistema produtivo altamente dinâmico, competitivo e predatório, que não respeita limites nem fronteiras, que se faz exigindo o máximo de todos os agentes, em especial os do mundo do trabalho. O capitalismo consolidou-se como sistema mundial e ganha fôlego com a incorporação de tecnologias que repercutem nos diferentes níveis de vida, abalando as estruturas sociais, as ideias, as práticas, as formas de organização e o Estado como um todo. Somos protagonistas de uma era de crises.

De um Mourão a outro | Demétrio Magnoli

- Folha de S. Paulo

"Será que ele foi para o céu ou está no inferno?", perguntou-se Laurita Mourão, aos 88, por ocasião do lançamento de seu livro sobre Olympio Mourão Filho, seu pai. Como agente integralista, Mourão foi responsável pelo falsificado Plano Cohen, que serviu de pretexto para o golpe do Estado Novo; como general de Exército, comandou os blindados e as tropas da 4ª Divisão de Infantaria que partiram de Juiz de Fora para o Rio na madrugada de 31 de março de 1964. Hoje, um segundo Mourão, o general Antonio Hamilton, sonha com o primeiro, violando um tabu recente que separa os militares da tradição golpista.

O primeiro Mourão operou nos cenários turbulentos formados pelo levante comunista de 1935 e, décadas depois, pela Guerra Fria, acirrada com a Revolução Cubana de 1959. O segundo, em contraste, fala a um Exército reformado, que trocou a Doutrina de Segurança Nacional pela lealdade à Constituição. Aparentemente, nada existe em comum entre os dois, excluída a fortuita coincidência do nome. Contudo, a ausência de punição efetiva à pregação golpista do Mourão vivo indica que algo se move abaixo dos radares.

Delações sob ataque | Merval Pereira

- O Globo

Para ser coerente contra as prisões preventivas prolongadas decretadas pela Operação Lava-Jato, o ministro Gilmar Mendes teria que dar o habeas corpus pedido pela defesa de Joesley e Wesley Batista. Mas como já os classificou de bandidos, e está convencido de que armaram a gravação com o presidente Michel Temer no Palácio do Jaburu orientados pelo Ministério Público, com o objetivo de conseguir anistia para seus crimes, inclusive o de enriquecimento ilícito com manobras na Bolsa de Valores e no câmbio, Gilmar Mendes os manteve na cadeia.

Essa foi a segunda peça pregada pelo destino ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) que mais se bate para rever critérios de delações premiadas e as prisões preventivas pedidas pelo Ministério Público — geralmente concedidas pelos juízes da Lava-Jato, principalmente Sérgio Moro, de Curitiba, e Marcelo Bretas, do Rio de Janeiro.

A primeira foi embarcar no mesmo voo para Portugal usado por seu adversário, o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot. Menos mal que não há nenhum registro de desavenças a bordo.

A revisão dos critérios para as delações premiadas levadas a efeito pelo Ministério Público é um assunto que, mais cedo ou mais tarde, terá que ser avaliada pelo plenário do Supremo, e em vários setores do Congresso há parlamentares empenhados em estabelecer novos parâmetros para a atuação do Ministério Público.

Falta o projeto de Nação | João Domingos

- O Estado de S.Paulo

Há um atraso generalizado em relação a nomes e programa de governo para a eleição

A um ano e quinze dias do primeiro turno da eleição do ano que vem, a impressão que fica é a de que há um atraso generalizado sobre a definição de partidos, nomes e plataformas de campanha para a sucessão do presidente Michel Temer. E, principalmente, um projeto de Nação.

Mesmo o ex-presidente Lula, o ex-ministro Ciro Gomes e o deputado Jair Bolsonaro, que já se lançaram candidatos a presidente, devem ao eleitor um detalhezinho que seja de seus programas de governo. Lula não convencerá o eleitor dizendo que fará um repeteco de seus dois mandatos, caso se livre dos problemas que tem com a Justiça, se candidate e vença a eleição. A política econômica dele foi tocada por Antonio Palocci, hoje preso e na boca para fazer um acordo de delação premiada cujo principal alvo é justamente Lula. Bolsonaro não disse ainda nada do que pretende fazer. O mesmo acontece com Ciro Gomes.

Cientistas políticos afirmam que o voto deverá ser mais conservador na próxima eleição. E que o eleitor será mais exigente. Só dizer que vai prender e arrebentar, para lembrar uma expressão do ex-presidente João Figueiredo, o último general-presidente do regime militar, não resolve.

Rapinagem | Julianna Sofia

- Folha de S. Paulo

Teses para a inação das receitas tributárias federais pululam. Embora a atividade econômica mostre sinais tênues de melhora, o volume de impostos e contribuições recolhidos pela Receita Federal não vem acompanhando a lenta —mas já disseminada— retomada.

Teorias diversas abordam mudanças estruturais para explicar o descompasso entre a arrecadação e o PIB na saída da crise. Apontam causas para o fenômeno: a queda da participação da indústria na economia, o processo de "pejotização" dos trabalhadores e a automatização.

No mês passado, o resultado da arrecadação pegou todos de surpresa, com alta de 10,8%. Metade desse aumento deve-se ao desempenho da economia. A outra parte é atribuída ao Refis, à elevação de imposto sobre combustíveis e a eles...os bancos.

Ministério Público de volta aos trilhos |*Antônio Cláudio Mariz de Oliveira

- O Estado de S.Paulo

A sua função primordial é o zelo pela justiça,e não pela acusação

O fato de o homem viver em sociedade, por ser um animal gregário, gera conflitos quando os interesses de uns não são satisfeitos em face da resistência de outros que lhes são opostos. Nesse sentido, para serem mantidas a paz e a harmonia em sociedade é imperiosa a interferência do Estado, com o escopo de aplicar o Direito e pôr fim a um conflito determinado. Essa atividade estatal é exercida por três personagens: juiz, advogado e promotor de Justiça.

A respeito das funções desempenhadas por cada um deles pairam dúvidas e incompreensões na sociedade. Sabe-se, bem a grosso modo, que o juiz aplica o Direito a um caso concreto, o advogado defende direitos de terceiros e o promotor exerce a acusação e fiscaliza o cumprimento da lei.

De todas essas atividades, as menos compreendidas são as afetas ao Ministério Público, talvez pelas distorções provocadas nos últimos tempos por seus próprios responsáveis.

Em recentes episódios envolvendo procedimentos policiais e judiciais, que capturaram o interesse da mídia e da sociedade, assistimos a um ativismo de alguns setores e membros do Ministério Público que de longe extrapolaram os lindes legais de sua competência, que é determinada pela Constituição federal e pelas leis ordinárias. Nos últimos tempos esses excessos vieram a público, como fruto de um açodamento inusitado para acusar e de um protagonismo absolutamente incompatível com a serenidade e o recato que devem orientar a conduta dos representantes da instituição.

Mais alto é o tombo | Dora Kramer

- Veja

Na chefia, se preso, Lula não teria a quem delatar para fazer jus a prêmio

Os fatos e os atos decorrentes deles mostram que está absolutamente caduco o uso do condicional em relação à alegada candidatura de Lula da Silva à Presidência em 2018, uma vez que resta demonstrada a impossibilidade real da volta dele à chefia da nação que seu partido saqueou e deixou que aliados saqueassem.

Nenhuma das costumeiras condicionantes (caso não seja ficha-suja, não esteja preso e ainda lidere as pesquisas de opinião quando estas refletirem de fato intenção de voto e não mais a exposição midiática do personagem) vale coisa alguma diante da seguinte realidade: o cavalo já não passará mais selado diante de um Lula que perdeu densidade, credibilidade, popularidade, capacidade de atrair aliados. Perdeu principalmente a condição de mobilizar recursos desde que a Lava-Jato começou a lhe retirar oxigênio político e cortar os dutos financeiros do PT.

O processo tem sido lento, mas constante. No ano passado, a condução coercitiva provocou comoção, e o organograma do Ministério Público desenhando sua posição de chefe do esquema corrupto de sustentação de poder virou motivo de chacota. Já o primeiro depoimento a Sergio Moro movimentou bem menos emoções, e o segundo, no último dia 13, exibiu um homem ciente de seu destino: nervoso, arrogante, insolente e desrespeitoso. Provocou, sem sucesso, o juiz como quem dissesse: perdido por um, perdido por mil, na tentativa de colher de Sergio Moro reação que pudesse ser apontada como “prova” de que é alvo de ódio e, portanto, de perseguição, insidiosa parcialidade.

Viés de alta | Adriana Fernandes

- O Estado de S.Paulo

Há várias notícias positivas, mas os números atuais não permitem baixar a guarda

O Brasil é mesmo um País de muitas surpresas. Apesar do avanço da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer na Câmara dos Deputados, não se pode dizer que os últimos dias foram de tormenta para o governo. Ao contrário. Nas últimas semanas, o Palácio do Planalto recebeu várias notícias positivas na economia que contrastam com as incertezas políticas e disputas pré-eleitorais entre os aliados do presidente que já ganham espaço maior na agenda de Brasília.

Além de mais um dado de criação de empregos, o cenário positivo foi marcado pelas projeções de inflação e taxa de juros no relatório de inflação do Banco Central. Elas aumentaram a aposta do mercado financeiro de que os juros básico da economia podem cair para um patamar menor do que 7% ao ano ao final do ciclo de corte de juros e não passar de 8% até 2020.

O pesadelo do Rio | Míriam Leitão

- O Globo

O Rio viveu um sonho, agora é a hora do pesadelo real. Quando começou a bem sucedida política liderada pelo ex-secretário José Mariano Beltrame, a convicção geral é que enfim havia se encontrado a forma certa de lidar com o persistente problema da segurança pública no Rio. Ontem, foi o avesso do sonho: a Rocinha estava dominada por bandoleiros, que disputavam o território a tiros.

A boa notícia foi a reação do Estado brasileiro que mandou para lá as Forças Armadas e as forças policiais para cercar e entrar na Rocinha. O cerco militar a uma área em guerra é cena comum nos países em guerra. Mas a verdade é que o Rio vive uma guerra. Por alguns anos, imaginamos que o ambiente bélico havia ficado para trás com as políticas das UPPs. Elas ampliaram o direito de ir e vir de todos os habitantes da cidade. Os moradores se sentiam livres. Os jornalistas passaram a circular pelas favelas fazendo a rotineira cobertura de problemas de cidade, dos eventos culturais e das novidades da economia. Os moradores se visitavam. Era como se a cidade tivesse se alargado.

A brisa depois do temporal – Editorial | O Estado de S. Paulo

Além de uma gravíssima crise econômica e social, o País foi obrigado a conviver nos últimos anos com uma série de eventos, de variadas naturezas, que dificultaram enormemente a normalização da vida política, social e econômica. Era como se o Brasil tivesse sido virado ao avesso e a cada semana, às vezes a cada dia, aparecessem novos escândalos, novas delações, novas denúncias.

Voltando-se no tempo, dá-se conta dos grandes obstáculos que se interpunham à retomada da economia. Só neste ano houve a revelação do conteúdo da delação da Odebrecht, que originou a famosa lista de Fachin, depois veio a delação de Joesley Batista, com as investidas do então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o presidente Michel Temer, e, mais recentemente, revelou-se a colaboração de Lúcio Funaro. Pois bem, o País viveu tudo isso num curto período, que culminou, para a surpresa de muitos, com a proliferação de sinais de recuperação econômica, de melhora do mercado de trabalho e de fortalecimento do consumo. Também é possível vislumbrar um horizonte institucional menos conturbado, especialmente depois da troca de comando na Procuradoria-Geral da República.

Essas novas condições precisam ser preservadas. Há muito o País ansiava por um ambiente de normalidade, que parecia se tornar cada vez mais distante, para não dizer impossível. Periodicamente, surgia uma nova delação, ou uma nova interpretação de delação, desconstruindo a tão sonhada normalidade, que é muito mais do que um simples desejo de uma parcela da população. É condição necessária para o desenvolvimento econômico e social.

Desatino militar – Editorial | Folha de S. Paulo

Fosse o Brasil uma democracia mais antiga, o comentário do general Antonio Hamilton Mourão sobre uma possível intervenção militar para resolver a crise política seria reduzido ao que é: um desatino de quem aprendeu a enxergar o mundo pelas lentes da caserna.

Como se diz, para quem só sabe usar um martelo, todos os problemas se parecem com um prego.

A democracia brasileira, contudo, ainda engatinha. Quase 30 anos depois de promulgada a Constituição Federal, ainda estão distantes os objetivos fundamentais da República: construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e reduzir as desigualdades; promover o bem de todos, sem discriminação.

As instituições, cuja estabilidade não deixa de ser apreciável, amargam todavia desgaste crescente. Executivo, Legislativo e Judiciário afogam-se em escândalos de corrupção e refregas incompatíveis com Poderes de Estado.

O golpe de 1964 e a ditadura militar ainda encontram simpatizantes entre setores minoritários, mas estridentes da sociedade; parte da população considera que a estabilidade democrática ainda não é um fato, mas um processo em curso.

Papel de Dilma ganha espaço na corrupção – Editorial | O Globo

Delação de Lúcio Funaro implica ‘quadrilhão do PMDB’ no desvio de dinheiro da Caixa, mas isso só foi possível porque a ex-presidente permitiu

Levou tempo para que, nos relatos sobre a corrupção enfrentada pela Lava-Jato e outras operações, a discreta Dilma Rousseff começasse a ocupar seu espaço, à altura dos cargos que exerceu, de ministra, de presidente do Conselho de Administração da Petrobras e da República.

Dilma Rousseff não poderia mesmo estar fora do esquema de corrupção do petrolão, principal fonte do dinheiro que iria financiar campanhas e o projeto de poder lulopetista, além de elevar o padrão de vida de dirigentes, Lula à frente.

Agora, confirma-se que a presidente da República, de fato, vazou informações confidenciais da Polícia Federal para alertar seus marqueteiros João Santana e Mônica Moura de que a Lava-Jato se aproximava deles. Crime sério, contra o Estado que jurou sobre a Constituição defender, e que joga suspeição sobre José Eduardo Cardozo, seu ministro da Justiça, a quem a PF estava administrativamente subordinada.

Na delação premiada, Mônica relatou ter instruído Dilma a usar e-mails de conhecimento apenas das duas, em que mensagens eram digitadas e guardadas em “rascunho”. Não eram, portanto transmitidas, mas acessadas por uma e outra, para deixar ou recuperar informações. Por não transitarem pela rede, não podiam ser interceptadas.

Juros civilizados – Editorial | Folha de S. Paulo

Abriu-se a oportunidade de um convívio duradouro com juros mais próximos de um patamar civilizado. Se bem aproveitada, a chance tem o potencial de transformar a economia brasileira.

No recém-divulgado Relatório de Inflação, documento em que divulga suas projeções, o Banco Central indicou que levará sua taxa, a Selic, ao menor nível da história: 7% ao ano. Abaixo da meta oficial, as expectativas para a alta do IPCA em 2018 e 2019 permitiram juros ainda mais baixos.

Mais importante, contudo, é o entendimento do BC de que a permanência dessa taxa permitirá inflação sob controle até 2020 —desde que, claro, não haja deterioração dos cenários interno e externo, político e econômico.

Uma Selic baixa por tanto tempo seria fenômeno inédito, que ampliaria a disposição dos bancos de conceder crédito a famílias e empresas em condições menos extorsivas. Embora ainda cercado de muitas dúvidas, tal cenário se tornou mais plausível.

Falta cuidar do longo prazo – Editorial | O Estado de S. Paulo

O Brasil continua investindo muito menos que o necessário para seguir o ritmo de outros países emergentes, mas a produção se reativa e a recessão ficou para trás, como indica mais um balanço provisório da economia, o Monitor do PIB, elaborado mensalmente pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Depois de dois anos de retração, a mera retomada é uma novidade satisfatória, especialmente porque já se notam sinais de melhora do emprego na indústria. Mas falta cuidar com mais empenho do potencial produtivo, para eliminar o risco de uma longa fase de mediocridade. Por enquanto, os dados de crescimento, vistos de vários ângulos, são inequivocamente positivos. Em julho, o Produto Interno Bruto (PIB) foi 0,1% maior que em junho e superou por 1,3% o de um ano antes.

O relatório da FGV confirma a tendência de recuperação apontada na semana anterior pelo Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br). Este indicador aumentou 0,41% de junho para julho e ficou, na série com ajuste sazonal, 1,46% acima do do mês correspondente de 2016. O ponto relevante é a coincidência quanto ao rumo da economia. O Monitor mostra avanços em quase todas as comparações com os dados do ano anterior.

Com receio de isolamento, PT procura até Psol

Por Cristiane Agostine | Valor Econômico

SÃO PAULO - O PT busca apoio do PCdoB, PSB, PDT e até do PSol para evitar o isolamento na eleição presidencial de 2018. Em meio à indefinição sobre a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, partidos de centro-esquerda acenam com a possibilidade de lançar nomes próprios na disputa.

A presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), afirmou ontem que se reunirá com o comando do PCdoB e PSB até o próximo mês e disse que tem conversado com o PDT, apesar de o partido ter lançado a pré-candidatura do ex-ministro Ciro Gomes. O Psol também foi procurado, segundo Gleisi. "Vamos procurar todos de centro-esquerda", afirmou, depois de participar de um evento para discutir a plataforma de governo do PT para 2018, promovido pela Fundação Perseu Abramo.

O PCdoB passou a indicar que poderá não apoiar o PT em 2018 se Lula não for candidato. Apesar de a sigla ser aliada histórica do PT, dirigentes do PCdoB como o governador do Maranhão, Flávio Dino, resistem em apoiar um "plano B" petista e dizem que Ciro Gomes poderá ser uma opção viável.

Ao falar sobre o PDT, Gleisi minimizou críticas de Ciro a Lula e disse que é possível um acordo. "A gente já conhece a personalidade do Ciro. Ele fala no 'quente', é muito reativo. Sabemos diferenciar. Temos respeito por ele, que foi nosso ministro, e pelo PDT".

Temer diz ser vítima de conspiração e acreditar que denúncia será barrada

Gustavo Uribe | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O presidente Michel Temer disse nesta sexta-feira (22) ser vítima de uma conspiração e afirmou ter a convicção de que a denúncia apresentada pela PGR (Procuradoria-Geral da República) será barrada pelo plenário da Câmara dos Deputados.

Em vídeo publicado nas redes sociais, o peemedebista afirmou que lançaram sobre ele "provas forjadas" e "denúncias ineptas" que foram produzidas em "conluios com malfeitores". Segundo ele, o Poder Legislativo encerrará os últimos episódios "de uma triste página de nossa história".

"Sabe-se que, contra mim, armou-se conspiração de múltiplos propósitos. Conspiraram para deixar impunes os maiores criminosos confessos do Brasil, finalmente presos, porque sempre apontamos seus inúmeros delitos", disse.

Para ele, só regimes de exceção aceitaram acusações sem provas, "movidos por preconceito, ódio, rancor ou interesses escusos". Ele ressaltou que o país pode estar trilhando esse caminho neste momento.

"A única vacina contra essa marcha da insensatez é a verdade. E a verdade é a única arma que tenho para me defender desde o início deste processo de denúncias e que busca desestabilizar meu governo e paralisar o avanço do Brasil", disse.

O presidente manifestou ainda indignação e disse manifestar "profunda revolta" com a "leviandade dos que deveriam agir com sobriedade". Segundo ele, a incoerência e a falsidade "foram armas do cotidiano para o extermínio de reputações".

"A verdade prevaleceu ante o primeiro ataque a meu governo e a mim. A verdade, mais uma vez, triunfará. Tenho convicção absoluta de que a Câmara dos Deputados encerrará esses últimos episódios de uma triste página de nossa história, em que mentiras e inverdades induziram a mídia e as redes sociais nestes últimos dias", afirmou.

Segundo ele, uma análise "crítica" e "desapaixonada" da Câmara dos Deputados "provará os abusos dos que conspiraram contra a Presidência da República e o Brasil".

ESTRATÉGIA
O discurso do presidente, disponibilizado nas redes sociais, foi preparado para ser lido em um pronunciamento na semana passada, após o envio da denúncia por obstrução judicial e organização criminosa pelo ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot.

O peemedebista, contudo, preferiu aguardar o julgamento de pedido da defesa contestando a validade das provas presentes na acusação, que foi encerrado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) na quinta-feira (21), para divulgar o discurso.

Com o envio da denúncia, o Palácio do Planalto começou nesta sexta-feira (22) a fazer o mapa de votações na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça). A meta estipulada pela equipe política é conseguir pelo menos 43 votos favoráveis ao peemedebista.

Neste domingo (24), o peemedebista promoverá reunião no Palácio do Jaburu para traçar a estratégia. O peemedebista quer concluir a tramitação em plenário no início da segunda quinzena de outubro, possibilitando que a reforma previdenciária seja votada antes de novembro.

Leia a íntegra do discurso.

Villas Bôas desautoriza general que sugeriu intervenção militar

‘Exército está comprometido com a democracia’, afirma comandante

- O Globo

O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, divulgou nota para desautorizar outros militares que tenham falado em nome da instituição. A nota cita o general Antônio Hamilton Martins Mourão, que defendeu a possibilidade de intervenção militar no país durante palestra numa loja maçônica, em Brasília, na semana passada.

Villas Bôas afirma que já apresentou ao ministro da Defesa, Raul Jungmann, esclarecimentos envolvendo o general Mourão “para assegurar a coesão, a hierarquia e a disciplina”, sem especificar quais providências foram adotadas. O texto não repreende o militar por suas falas no evento. Segundo o colunista do GLOBO Merval Pereira, Mourão recebeu uma advertência, fato que foi comunicado a Jungmann.

Na nota, Villas Bôas ressalta que é a única autoridade que pode se manifestar em nome do Exército. Ele garante que tem feito posicionamentos em temas que julga relevantes. O comandante do Exército afirma ainda que a instituição mantém o “compromisso de servir à nação”.

“O Exército Brasileiro é uma instituição comprometida com a consolidação da democracia em nosso país”, disse Villas Bôas.

Ontem, o ministro Jungmann deu o caso como encerrado:

— Me reuni com o comandante do Exército, ele tomou as providências necessárias, emitiu nota a esse respeito e este caso está encerrado — afirmou.

Amigo | Pablo Neruda

1.
Amigo, toma para ti o que quiseres,
passeia o teu olhar pelos meus recantos,
e se assim o desejas, dou-te a alma inteira,
com suas brancas avenidas e canções.

2.
Amigo - faz com que na tarde se desvaneça
este inútil e velho desejo de vencer.

Bebe do meu cântaro se tens sede.

Amigo - faz com que na tarde se desvaneça
este desejo de que todas as roseiras
me pertençam.

Amigo,
se tens fome come do meu pão.

3.
Tudo, amigo, o fiz para ti. Tudo isto
que sem olhares verás na minha casa vazia:
tudo isto que sobe pelo muros direitos
- como o meu coração - sempre buscando altura.

Sorris-te - amigo. Que importa! Ninguém sabe
entregar nas mãos o que se esconde dentro,
mas eu dou-te a alma, ânfora de suaves néctares,
e toda eu ta dou... Menos aquela lembrança...

... Que na minha herdade vazia aquele amor perdido
é uma rosa branca que se abre em silêncio...
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Pablo Neruda, in "Crepusculário"

Ai que saudade d'ocê - Geraldo Azevedo