O Estado de S. Paulo.
A terra ainda treme. Além da tensão inerente ao pós-golpe, há sequelas do período Bolsonaro e a necessidade premente de que o governo mostre a que veio
Muita coisa ocorreu depois dos atos
terroristas de 8 de janeiro. Prisões e revelações sobre os principais
personagens da balbúrdia golpista, esforços governamentais para controlar a
situação, indícios claros de que a articulação que levou àquela selvageria é
muito maior do que se imaginava. Apuração de responsabilidades é um
desdobramento lógico, indispensável para que se mude o rumo da situação. É
impossível fazer de conta que nada aconteceu, que não há criminosos a serem
julgados e presos.
A terra ainda treme. Além da tensão
inerente ao pós-golpe, há as sequelas do período Bolsonaro e a necessidade
premente de que o governo mostre a que veio. Desafios terão de ser enfrentados.
O primeiro diz respeito à questão militar, ao posicionamento institucional das Forças Armadas no novo quadro político. Enredam-se aí fios desencapados da história republicana, manipulações ideológicas que contaminaram parte dos militares nos últimos anos e expectativas de que o novo governo acerte os passos com Exército, Marinha e Aeronáutica. Discursos que acusem os militares de serem “intrinsecamente golpistas” criam arestas improdutivas. O caminho passará por negociações e ajustes difíceis, que não poderão desculpar erros e responsabilidades, nem ser reduzidos a “acertos de conta”. Para que o poder civil prevaleça, as Forças precisam funcionar como instituições de Estado, equacionar seus problemas internos, seus programas educacionais, sua “narrativa” para a caserna e para a sociedade. O governo deve ajudá-las a dar esse passo.