quinta-feira, 12 de março de 2015

Opinião do dia – Aécio Neves

O PSDB manifesta apoio irrestrito a todas as manifestações pacíficas e organizadas de forma apartidária em todo País. E não podemos aceitar que digam o que podemos ou não protestar. O PSDB, com seus militantes, estará ao lado das manifestações que expressam o grande sentimento de indignação contra a degradação moral e os gravíssimos problemas sócio-econômicos provocados por esse governo.

Não estamos proibindo nem proibidos de falar sobre impeachment, mas nesse momento isso não está na agenda do PSDB.

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Aécio Neves, senador(MG) e presidente nacional do PSDB, em nota de apoio as manifestações do próximo dia 15 de março.

Congresso mantém veto de Dilma ao reajuste de 6,5% da tabela do Imposto de Renda

• Manutenção da decisão da presidente Dilma foi possível após acordo para adotar tabela escalonada sugerida por Renan Calheiros

Ricardo Della Colleta e Ana Fernandes - O Estado de S. Paulo

Um dia depois de o governo ter cedido e aceitado dar um reajuste escalonado para o Imposto de Renda, o Congresso Nacional manteve o veto da presidente Dilma Rousseff à correção cheia da tabela defendida pela oposição. O plano inicial era que os deputados e senadores aprovassem ainda hoje o Orçamento da União para 2015, mas a oposição ameaçou obstruir a sessão e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), passou a análise da matéria para a próxima terça-feira (17).

Dilma havia vetado em janeiro deste ano uma emenda do DEM que aplicava um índice de 6,5% para todas as faixas do Imposto de Renda, o que, segundo a equipe econômica, traria um impacto de R$ 7 bilhões. Dilma defendia um porcentual menor, o centro da meta de inflação (4,5%), mas a base aliada ameaçou reverter a decisão da presidente e impor uma dura derrota ao Planalto em um ano de contenção de despesas.

A manutenção do veto na noite desta quarta-feira, 11, só foi possível graças a um acordo capitaneado pela cúpula do PMDB no Congresso. Renan encampou um texto pelo qual o reajuste variará entre 4,5% e 6,5%, de acordo com os ganhos do trabalhador: correção de 6,5% para faixa dos isentos (até R$ 1.903,98) e para os que têm renda até R$ 2.840,06; de 6% para rendimento até R$ 3.751,06; de 5% até R$ 4.664,68 e de 4,5% para ganhos mensais acima de R$ 4.664,68.

O custo para os cofres públicos deve ser menor, de cerca de R$ 6 bilhões, segundo o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que foi duas vezes ao Congresso ontem para negociar os termos do acordo. Para avalizá-lo, foi editada hoje uma Medida Provisória com os valores do reajuste escalonado.

Na sessão desta tarde, 239 deputados votaram pela anulação do veto de Dilma à correção do IR, resultado que não atingiu o mínimo necessário. Para a derrubada, o placar deveria ser de pelo menos 257 votos.

A reunião foi marcada por troca de críticas de parlamentares da base e da oposição. Para os oposicionistas, a proposta governista penaliza a classe média e não repõe as perdas da inflação. "Como a presidente Dilma edita uma MP para retirar poder do Parlamento brasileiro? A quem cabe decidir sobre uma proposição legislativa?

Fica aqui a minha repulsa", declarou o líder do DEM na Câmara, deputado Mendonça Filho (PE). "Garantimos uma MP que de forma escalonada beneficia quem ganha menos. Com isso podemos votar pela manutenção dos vetos e o governo retoma o diálogo tão importante com o Parlamento", rebateu o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE).

Pauta cheia
Na sessão do Congresso, que ao todo durou quase 12 horas, os deputados e senadores analisaram diversos dispositivos vetados em um total de nove projetos, sendo que o mais importante deles era a correção da tabela do Imposto de Renda. Entre os outros vetos mantidos, está um que evitou a redução da jornada de trabalho dos psicólogos e outro que impediu a flexibilização da Lei de Responsabilidade Fiscal.

Também foi preservada a "canetada" de Dilma em um veto que barrou a redução das alíquotas cobradas pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para os trabalhadores domésticos e empregadores, além de outro que bloqueou a prorrogação de contratos de indústrias eletrointensivas do Nordeste com a Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf).

Governo privatizará mais três aeroportos

Mais três aeroportos à venda

• Governo quer privatizar terminais de Salvador, Florianópolis e Porto Alegre. Infraero terá fatia menor

Geralda Doca – O Globo

BRASÍLIA - O governo pretende conceder ao setor privado ainda este ano mais três aeroportos internacionais: Salvador, Porto Alegre e Florianópolis, considerados atraentes ao setor privado. Segundo técnicos envolvidos nas discussões, nessa rodada, a Infraero deverá ficar com uma participação menor no negócio, a mínima necessária para assegurar assento no conselho de administração da empresa que vai assumir os aeroportos (igual ou superior a 15% das ações com direito a voto, pelas Lei das S.As). Nos cinco aeroportos já leiloados (Brasília, Viracopos, Guarulhos, Galeão e Confins), a estatal ficou com 49% de participação e a iniciativa privada, com 51%.

Desta vez, há preocupação em reduzir o impacto fiscal da participação da Infraero, pois a empresa é deficitária e precisaria de aportes mais elevados da União para acompanhar o novo sócio, tanto em capital, quanto nos investimentos. Em 2013 e 2014, o Tesouro precisou injetar R$ 4,2 bilhões na Infraero, e neste ano, há previsão de mais R$ 1,9 bilhão. As dificuldades de caixa decorrem da perda de receitas com a entrega dos aeroportos mais movimentados do país à iniciativa privada. Com 12 mil funcionários, a empresa está recorrendo à demissão voluntária e adotando medidas para aumentar as receitas.

Para governo, setor desperta interesse
Segundo técnicos que estão trabalhando na modelagem da concessão, manter a Infraero nesses negócios é uma forma de assegurar receitas para a rede de aeroportos administrados pela empresa que não dão lucro. A intenção é concluir os estudos ainda este semestre e lançar o edital entre setembro e outubro. Se tudo transcorrer dentro do previsto, os novos concessionários deverão assinar os contratos no início de 2016.

Ainda falta uma decisão final da presidente Dilma Rousseff sobre os aeroportos a serem concedidos, mas as discussões já estão adiantadas, segundo um interlocutor. Apesar do envolvimento das grandes empreiteiras na Operação Lava-Jato, o governo não teme a falta de interessados nos leilões dos aeroportos, dada a atratividade do setor, com amplas possibilidades de receitas. Além disso, na visão de integrantes do governo, o próprio mercado encontrará alternativas, como venda de participação e formação de novas empresas. Quando um projeto é bom, não faltam interessados, disse um ministro.

Segundo dados da Secretaria de Aviação Civil (SAC), o governo arrecadou R$ 2,6 bilhões com as concessões dos aeroportos nos últimos dois anos e a previsão é de mais R$ 2,6 bilhões em 2015. O total de investimentos realizados pelos concessionários somou R$ 6,85 bilhões, o que resultou em uma ampliação da capacidade dos terminais de 87%.

No caso dos três aeroportos a serem incluídos na nova rodada de concessões, já há uma infraestrutura em funcionamento e pronta para dar retorno no curto prazo. Com capacidade para 13 milhões de passageiros, o aeroporto de Salvador é um dos terminais mais importantes do Nordeste. Com mais investimentos, o de Florianópolis pode ampliar a capacidade de 4,1 milhões de passageiros e o de Porto Alegre, com capacidade para 15,3 milhões de passageiros por ano, tem se consolidado como uma porta de entrada importante para os países da América do Sul.

O sucesso dos primeiros leilões, com ágios elevados, é um dos motivos da continuidade do cronograma de concessão aeroportuária. O balanço da primeira rodada, em fevereiro de 2012, quando foram concedidos Brasília, Guarulhos e Viracopos, é positivo, segundo o governo. Com exceção de Viracopos, onde as obras atrasaram, os investimentos previstos para os Jogos da Copa ocorreram dentro do prazo, o que resultou na ampliação significativa da capacidade desses aeroportos. Integrantes do governo reconhecem que dar continuidade às concessões é a principal alternativa para assegurar os investimentos, diante da restrição orçamentária.

Youssef diz que se reuniu com Padilha

Youssef diz que se reuniu com Padilha e Vargas

• Em nota, ex-ministro da Saúde contesta versão do doleiro

Vinicius Sassine – O Globo

BRASÍLIA - Quando era ministro da Saúde, o petista Alexandre Padilha participou de reunião com o doleiro Alberto Youssef para tratar da regularização do laboratório Labogen junto ao ministério, segundo afirmação do doleiro na delação premiada firmada com o Ministério Público.

No termo de colaboração número 57, Youssef relata que esteve com Padilha na casa do então deputado federal André Vargas (ex-PT-PR) em Brasília, com a presença de Cândido Vaccarezza (PT-SP), e de Pedro Argese, um dos representantes do Labogen - empreendimento de fachada cujo verdadeiro dono era o próprio doleiro, conforme as investigações da Operação Lava-Jato.

Em fevereiro de 2014, Padilha deixou o ministério para disputar o governo de São Paulo. Ficou em terceiro lugar. Há 40 dias, o ex-ministro assumiu o cargo de secretário de Relações Governamentais da Prefeitura de São Paulo, a convite do prefeito Fernando Haddad (PT).

O Labogen chegou a firmar uma parceria para desenvolvimento produtivo (PDP) com o ministério, com o propósito de fabricar um medicamento que combate hipertensão arterial pulmonar. A parceria previa repasse de R$ 31 milhões ao laboratório, mas foi anulada com a revelação do escândalo. Padilha sempre negou ter cometido irregularidade. O máximo que admitiu, na época, foi ter se encontrado com André Vargas para tratar do assunto e, a partir de um pedido do deputado, ter encaminhado "documento informal" sobre o laboratório para a área técnica do ministério.

Na delação, Youssef afirmou ter existido uma relação mais próxima: "Houve uma primeira reunião agendada na casa de André Vargas em Brasília onde estavam Cândido Vaccarezza, o declarante, André Vargas, Pedro Argese e o então ministro da Saúde Alexandre Padilha".

Youssef afirmou que não houve pedido nem pagamento de "qualquer comissão ou propina" a Vargas e a Padilha. Ao analisar a delação, o MPF considerou que, apesar das menções a autoridades com foro privilegiado, "não haveria qualquer irregularidade praticada por eles". O trecho da delação deveria ser enviado à primeira instância da Justiça Federal, no Paraná.

Por meio da assessoria, Padilha afirmou que "não tem registro de qualquer encontro ou evento na casa do então vice-presidente da Câmara dos Deputados, André Vargas, cujo objetivo específico tenha sido tratar do tema questionado". "O ex-ministro, por dever do cargo e quando convidado, participou de encontros e eventos com parlamentares", diz a nota. O ex-ministro também afirmou ter cumprido "missão institucional" ao receber propostas e projetos de parceiros, e reiterou que nenhum contrato chegou a ser assinado com o Labogen.

Vaccarezza disse nunca ter participado de reunião na casa de Vargas para tratar do assunto. Vargas, por sua vez, afirmou que não daria declaração por estar "fora da área pública". O primeiro é alvo de inquérito aberto no Supremo. O segundo, de inquérito da PF em Curitiba.

Em outro depoimento, o doleiro afirma que o PP recebeu propina de laboratórios devido a cargos ocupados no Ministério da Saúde, mas não se refere à gestão de Padilha. Ele cita o laboratório Pfizer e afirma que a propina, nesse caso, tinha relação com o medicamento Viagra. Diz lembrar especificamente do Pfizer pelo fato de o ex-deputado José Janene ter recebido amostras do medicamento e distribuído a amigos. Youssef diz que as propinas arrecadadas em laboratórios totalizariam R$1,5 milhão e que os recursos eram repassados por ele a Janene.

Renan volta a atacar Planalto e diz que 'governo envelheceu'

- Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Após sinalizar uma trégua com o governo ao fechar acordo para a correção da tabela do Imposto de Renda, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), voltou sua artilharia para o Planalto ao afirmar nesta quarta (11) que o governo "envelheceu".

Ele disse ainda que os problemas entre o Executivo e o PMDB não foram solucionados com o acordo em torno da medida sobre o IR.

"A coisa da aliança, ela precisa ter um fundamento. Esse governo parece que envelheceu", atacou.

Renan afirmou que vai zelar pelas prerrogativas do Legislativo. "O Congresso cada vez mais vai ser Congresso."

Renan diz que governo de Dilma envelheceu e tem coalizão fraca

• Já Cunha afirma que corrupção na Petrobras é esquema do Executivo

Cristiane Jungblut - O Globo

BRASÍLIA - Apesar da negociação entre governo e Congresso em torno da correção do Imposto de Renda na fonte, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), manteve ontem o tom crítico ao governo da presidente Dilma Rousseff. Renan disse que a coalizão do governo tem problemas e que, do ponto de vista da aliança, "não se resolveu nada". E acrescentou que o governo parece que envelheceu, mesmo Dilma tendo tomado posse em janeiro para o segundo mandato com um novo Ministério.

No auge da crise, Renan disse que a coalizão era "capenga" e manteve o posicionamento crítico ao responder se o acerto teria resolvido problemas políticos.

- Do ponto de vista da aliança, não se resolveu nada. Evidente que não falo pelo partido (PMDB), falo pelo Congresso. Do ponto de vista do Congresso, tivemos uma inversão de tudo que estava acontecendo até aqui: devolvemos a MP 669 (sobre desonerações fiscais) e hoje foi editada uma MP (do IR) como produto da conversa com o Congresso. Agora, a coisa da aliança precisa ter um fundamento. Esse governo parece que envelheceu. Mas isso é um outro assunto que está sendo tratado por uma outra instância do partido - disparou.

Para o peemedebista, as negociações entre os poderes Executivo e Legislativo e as negociações dentro da base aliada são coisas separadas. Na semana passada, Renan devolveu a MP 669, que reduziu a política de desonerações fiscais, alegando que o texto era inconstitucional.

- São questões distintas. Uma coisa é uma negociação no Congresso, produzindo uma MP como consequência, e outra coisa é a aliança, que tem dificuldade.

Senador promete ir ao limite
Renan avisou que defenderá as prerrogativas do Congresso "até o limite". No caso do IR, Renan afirmou que a solução partiu do Legislativo. Na terça-feira, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, esteve duas vezes no Congresso para fazer o acordo.

Já o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse em entrevista ao jornal espanhol "El País" que a corrupção na Petrobras é "um esquema do Poder Executivo". Segundo ele, "alguns parlamentares até podem ter apoiado sem saber que era corrupção, pela natureza política. Outros, podem ter compartilhado". Mas a organização criminosa, segundo seu ponto de vista, é de responsabilidade do governo.

- A pauta vai ser tocada normalmente. Esse é um esquema do Poder Executivo. A corrupção está no Governo, não está no Parlamento. Eventualmente, alguém do Parlamento pode ter se beneficiado da corrupção do Governo, o que é uma coisa que está sendo investigada. Há um esquema sistêmico de corrupção da Petrobras - disse ao "El País".

Eduardo Cunha diz que Lava-Jato revela 'esquema do Poder Executivo'

• Presidente da Câmara afirma ao ‘El País’, no entanto, que decreto do governo FH facilitou assalto à Petrobras

- O Globo

RIO — O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse em entrevista ao jornal “EL País” que a corrupção na Petrobras é “um esquema do Poder Executivo”. Segundo ele, “alguns parlamentares até podem ter apoiado sem saber que era corrupção, pela natureza política. Outros, podem ter compartilhado”. Mas a organização criminosa, segundo seu ponto de vista, é de responsabilidade do governo.

Quando perguntado sobre os nomes dos investigados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), incluído o seu, o presidente da Câmara afirmou que a vida parlamentar continuará normalmente, e que não há provas no seu caso. Cunha se disse perseguido e voltou a criticar procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

— A pauta vai ser tocada normalmente. Esse é um esquema do Poder Executivo. A corrupção está no Governo, não está no Parlamento. Eventualmente, alguém do Parlamento pode ter se beneficiado da corrupção do Governo, o que é uma coisa que está sendo investigada. Há um esquema sistêmico de corrupção da Petrobras — disse ele ao “El País”.

Segundo Cunha, a corrupção começou a ser institucionalizada na Petrobras quando a estatal começou a desobedecer o regulamento de licitações, por meio dos negócios firmados em carta convite. Um decreto do governo Fernando Henrique Cardoso, diz ele, permitiu a flexibilização.

— (A institucionalização da corrupção ocorre) desde que alteraram o regulamento de licitações da Petrobras. Ela deixou de obedecer a Lei 8666 (das licitações públicas) e passou a ter um regulamento próprio, por carta convite. A partir disso se formaram os carteis e foi a porteira da corrupção.

De acordo com Cunha, o grande desgaste dos peemedebistas com o governo foi causado pela tentativa do Planalto de desmantelar o PMDB.

— A articulação política que foi montada, deixando o PMDB completamente fora dela. E uma articulação política completamente atabalhoada. A própria tentativa de criar um partido para enfraquecer o PMDB (O PL, que o ministro Gilberto Kassab quer recriar) foi a principal razão de estresse entre os dois lados. Esse é um erro político. Você não parte para buscar a destruição do seu aliado. É como se estivesse dormindo com o inimigo. E, ao mesmo tempo, vai esfaquear o inimigo de manhã — disse Cunha ao “El País”.

Eduardo Cunha termina a entrevista dizendo que o “panelaço” contra a presidente Dilma Rousseff foi “uma manifestação popular, natural, legítima”. Ele acrescenta, entretanto, que é contrário a um impechment. “Acho que é golpe”, diz.

PSDB oficializa apoio a protesto do dia 15, mas Aécio diz que não vai participar

• Sigla vai mobilizar seus dirigentes e militantes no próximo final de semana; presidente do partido, contudo, negou que vá participar das manifestações

Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

Brasília - O PSDB oficializou nesta quarta-feira, 11, apoio total da sigla às manifestações contra a presidente Dilma Rousseff marcadas para o próximo dia 15 em várias capitais e decidiu mobilizar seus dirigentes e militantes, mas o senador Aécio Neves, presidente do partido, anunciou que não participará dos protestos.

"Nossos companheiros estarão nas ruas do Brasil, mas eu optei por não ir para não dar força a esse discurso de que estamos vivendo um terceiro turno", disse Aécio. A declaração foi feita depois de uma reunião da direção executiva do partido em Brasília.

A estratégia já havia sido definida na semana retrasada em um almoço com os principais caciques tucanos em São Paulo na sede do Instituto Fernando Henrique Cardoso.

Questionado sobre o apoio à bandeira do impeachment da presidente Dilma, mote que norteia as manifestações, Aécio afirmou que a palavra não pode ser vetada. "Não proibimos a palavra impeachment, mas essa não é nossa agenda neste momento".

O senador ironizou a manifestação em defesa da presidente convocada para sexta-feira por entidades como CUT, UNE e MST. "É algo muito arriscado o governo convocar aliados para protestar. Quando Collor fez isso, assistimos àquele resultado".

Para ‘sangrar’ PT, PSDB oficializa seu apoio às manifestações antigoverno

• Sigla se diz contra 'impeachment', mas que militância sairá às ruas domingo. Aécio não vai

Talita Bedinelli – El País

BRASÍLIA - O que parecia uma manifestação espontânea de uma parcela da população insatisfeita com o resultado das últimas eleições e com a condução do Governo Dilma Rousseff, ganhou nesta quarta-feira um apoio institucional. Em uma estratégia declarada para “sangrar” o já desgastado PT, a executiva nacional do PSDB divulgou pela manhã uma nota em que confirmou a participação do partido, por meio de sua militância e lideranças, no ato antigoverno marcado para o próximo domingo, dia 15, em diversas cidades brasileiras.

“O PSDB se solidariza com as manifestações de indignação dos brasileiros diante da flagrante degradação moral e do desastre econômico-social promovido pelo Governo Dilma Rousseff”, registra a nota, que ressaltou que o movimento é apartidário e “surge do mais legítimo sentimento de indignação da sociedade brasileira”.

Em entrevista à imprensa na sede da executiva nacional do partido nesta quarta de manhã, o senador Aécio Neves, que concorreu contra Rousseff nas eleições de outubro, também atacou o Governo.
“Enquanto Dilma não vier a público fazer um mea-culpa pelo descalabro moral de seu Governo estará se distanciando ainda mais do sentimento dos brasileiros”, afirmou ele, que também é presidente nacional da sigla e assinou a nota. Ele ressaltou, entretanto, que o partido não apoia o pedido de impeachment da presidenta, algo que vai ecoar com força na manifestação nacional, e também disse que não irá ao ato para não "dar força ao discurso de terceiro turno no Brasil", em referência aos argumentos usados por Rousseff para explicar as manifestações contrárias a ela.

Dubiedade
Os tucanos evitavam declarar oficialmente a adesão ao protesto, já que uma boa parte deles não concorda com o discurso deimpeachment que ronda os atos. Para eles, o Governo tem que "sangrar" para desgastar o PT, que está no poder desde 2003. A adesão do PSDB acontece no momento em que a crise de popularidade de Rousseff se torna ainda mais aguda. No último domingo, ela enfrentou um panelaço vindo de apartamentos de bairros de classe média enquanto se pronunciava na televisão e, na terça-feira, foi vaiada em um evento em São Paulo.

Os tucanos aproveitam a fragilidade do Governo, atordoado por problemas econômicos, de articulação política e imerso em uma crise de corrupção sem precedentes, para aumentar seu capital político para as próximas eleições, já em 2016. O partido decidiu realizar no próximo mês uma ampla campanha de filiação partidária para tentar, com a crise, transformar os descontentes com o Governo em militantes e, assim, ampliar sua base social que nunca teve muita força nas ruas. “O partido que perde sua conexão com a sociedade deixa de ser um partido político e passa a ser uma legenda. Esse tipo de ação é muito bem-vinda e deve ser permanente dentro do PSDB. Esse é o ano em que a gente deve fazer a formação de novos quadros para quem serão nossos candidatos a vereador e prefeito no ano que vem”, explicou ao EL PAÍS o deputado Bruno Covas.

Na outra ponta, o PT, por sua vez, se aproveita de sua base socialpara tentar evitar que o desgaste do Governo aumente. A Central Única dos Trabalhadores (CUT), ligada ao partido governista, fará uma manifestação nacional na próxima sexta-feira, dia 13, em defesa da Petrobras. O argumento do sindicato é que há em curso uma estratégia para desvalorizar a estatal e, com isso, privatizá-la. É o mesmo argumento usado pelos petistas. A organização também começa uma jornada de mobilizações, em que defenderá a reforma política, por meio de uma Constituinte, outra bandeira do PT.

No último sábado, a CUT se reuniu com diversos movimentos de esquerda, entre eles o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), o Movimento dos Sem-Terra (MST) e a União Nacional dos Estudantes (UNE), para discutir uma plataforma política comum que vai ser mostrada para a sociedade em forma de atos a partir de abril. Apesar de saírem em defesa do Governo, as entidades também prometem abordar temas espinhosos para Rousseff, entre eles o ajuste fiscal, carimbado pelos movimentos como uma política “neoliberal”. Para petistas, um dos maiores desafios do partido, neste momento, é realizar a série de medidas necessárias para equilibrar a economia, que preveem cortes em direitos trabalhistas, e ainda assim manter o apoio de sua base social. Parte da legenda, inclusive, teme que as ações dos movimentos sociais traga mais desgaste ao Governo.

PSDB declara apoio às manifestações, mas Aécio diz que impeachment 'não está na agenda'

• Tucano não estará nas ruas, pois quer evitar acirrar o discurso dos petistas de que estaria patrocinando um terceiro turno

Maria Lima – O Globo

BRASÍLIA — O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, divulgou nota da Executiva Nacional do PSDB apoiando de forma irrestrita e convocando seus militantes e setores organizados ligados ao partido para participarem das manifestações do dia 15 de março. Mas ele pessoalmente não participará das manifestações, segundo ele, para não acirrar o discurso dos petistas de que estaria patrocinando um terceiro turno das eleições em que foi derrotado pela presidente Dilma Rousseff. Embora haja uma divisão na Executiva sobre apoiar o pedido de impeachment, Aécio está entre os mais cautelosos, mas disse que não aceita o patrulhamento dos governistas sobre a discussão dessa possibilidade.

— O PSDB manifesta apoio irrestrito a todas as manifestações pacíficas e organizadas de forma apartidária em todo País. E não podemos aceitar que digam o que podemos ou não protestar. O PSDB, com seus militantes, estará ao lado das manifestações que expressam o grande sentimento de indignação contra a degradação moral e os gravíssimos problemas sócio-econômicos provocados por esse governo — disse Aécio, completando:

— Não estamos proibindo nem proibidos de falar sobre impeachment, mas nesse momento isso não está na agenda do PSDB.

Ele disse que o partido estará ao lado das manifestações, e optou por não estar presente aos atos, para não acirrar o discurso de que está promovendo um terceiro turno.

— Não devo ir para não dar força ao discurso do terceiro turno, pelo fato de ter disputado a eleição com a presidente Dilma. Isso dá força ao discurso que não é verdadeiro. Quanto menos partidário, mais expressivo será o movimento — disse Aécio.

O senador mineiro ironizou ataques de petistas e governistas dizendo que o PSDB patrocinou o panelaço do último domingo, quando houve protestos em várias capitais do Pais no momento do pronunciamento da presidente Dilma em cadeia de rádio e TV.

— Não aceitamos a patrulha do PT, que chegou ao ridículo de dizer que patrocinamos o panelaço de domingo. Nem que tivéssemos crédito ilimitado nas Casas Bahia ou Ricardo Eletro teríamos dinheiro para comprar panelas para atender a tandos brasileiros — disse Aécio, rindo.

Aécio disse que esses protestos vão continuar enquanto Dilma não fizer um mea-culpa.
— Enquanto a presidente Dilma não vier a público fazer um mea-culpa pelo descalabro moral de seu governo , ela estará se distanciando ainda mais do sentimento dos brasileiros. Esse diagnóstico do que vivemos agora já tinha sido feito lá atrás, mas o governo optou por priorizar o processo eleitoral mesmo sabendo que a demora ia prejudicar ainda mais os mais pobres — disse Aécio.

Ele comentou também o fato de setores ligados ao governo, como a CUT, MST e UNE estarem organizando uma manifestação para sexta-feira para blindar a presidente contra o que chamam de “golpe, defesa da Petrobras mas também protestar contra mudanças trabalhistas do pacote fiscal de Joaquim Levy.

— Estamos vendo algo inédito no Brasil contemporâneo . Tradicionalmente as oposições é que organizam esse tipo de manifestação. Mas o que estamos vendo é o governo tão perdido que setores ligados a ele é que estão indo para as ruas protestar. É algo no mínimo muito arriscado o governo convocar seus aliados para ir as ruas. Quando Collor fez isso, assistimos aquele resultado — disse Aécio, lembrando o impeachment de Fernando Collor , quando ele convocou aliados a irem para as ruas e o Brasil inteiro foi as ruas de preto pedindo seu afastamento.

Em nota oficial , após a reunião da Executiva, o PSDB oficializou a decisão de apoiar irrestritamente as manifestações, e , embora não apoie o impeachment nesse momento, condena o que os tucanos chamaram de patrulhamento contra os setores que se manifestam em relação ao afastamento da presidente Dilma.

“Mais do que uma garantia constitucional, a liberdade de pensamento e de crítica é fundamento essencial para o fortalecimento da vida democrática e o enraizamento social dos valores republicanos” diz a nota.

Aécio anunciou também que no dia 8 de abril será deflagrada uma ampla campanha de filiação partidária, que culminará com a realização da convenção nacional em julho, quando ele deverá ser reconduzido a presidência.

Cardozo condena ‘postura golpista’

Cardozo alerta para 'postura golpista' em atos

• No Acre, governo petista organiza ato a favor da presidente; ministro também defende protestos "sem ódio"

Luiza Damé e Eduardo Bresciani – O Globo

Crise política

RIO BRANCO, BRASÍLIA e SÃO PAULO - Um dia após a presidente Dilma Rousseff ser vaiada em São Paulo, o PT se mobilizou, e ontem ela foi saudada ao chegar no Acre, governado há cinco mandatos por seu partido. Dilma foi recebida no aeroporto por cerca de 250 militantes petistas, segundo a Polícia Militar. Onze pessoas, porém, protestaram contra ela do lado de fora. Ao comentar ontem os atos contra o governo, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que protestos, como os marcados para domingo, devem ser realizados "sem posturas golpista". Assim como Dilma afirmara no início da semana, ele disse não haver razões para impeachment.

Dilma foi recebida pelo governador Tião Viana e pelo prefeito de Rio Branco, Marcus Alexandre. A presidente foi levada por Viana ao encontro de petistas, que a saudaram com gritos de "Dilma, eu te amo".

Dilma se reuniu com prefeitos de sete municípios atingidos pela cheia do Rio Acre e sobrevoou áreas atingidas. Visitou o abrigo onde estão desabrigados e entregou 967 unidades do Programa Minha Casa Minha Vida, evento em que também foi aplaudida. Ela voltou a defender a livre manifestação, mas sem violência:

- Não tenho o menor interesse, o menor intuito, o menor compromisso com qualquer processo de restrição à livre manifestação. Temos o direito de manifestar, mas não o direito de sermos violentos. Isso não pode acontecer - afirmou.

Cardozo deu declaração semelhante:
- Gostaria muito que as pessoas que criticam o governo não fizessem uma ação de ódio, de raiva, que expressem suas ideias democraticamente. Que se manifestem dentro da lei, dentro da ordem, com respeito às autoridades constituídas e afastem-se quaisquer posturas golpistas.

Ontem, no Rio, um ato pedindo o impeachment de Dilma reuniu cerca de 40 pessoas, que foram até à sede da Petrobras. Em São Paulo, a PM se reuniu com líderes dos protestos marcados para amanhã e domingo (pró e contra o governo, respectivamente). Segundo o comando da PM, os líderes garantiram que os atos serão pacíficos. Uma das preocupação da PM é com a convocação para amanhã de ato do grupo Revoltados Online, a favor do impeachment. O grupo, porém, teria garantido que fará o protesto após a passeata em defesa da Petrobras.

Lula sugere a Dilma substituição de Mercadante na Casa Civil

• Grupo do ex-presidente quer ministro fora da articulação política

Fernanda krakovics e Júnia gama – O Globo

BRASÍLIA - Em meio a uma crise política, econômica e de popularidade, o ex-presidente Lula e petistas próximos a ele estão defendendo a substituição do ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) ou, pelo menos, que ele seja alijado das costuras políticas, como forma de melhorar a relação do governo com o Congresso. Lula também gostaria que a presidente Dilma Rousseff escalasse um nome mais experiente para o lugar do ministro Pepe Vargas (Relações Institucionais), responsável formalmente pela articulação política.

A Secretaria de Imprensa da Presidência da República divulgou uma nota ontem negando o “rumor” de que Lula tenha sugerido a Dilma a troca na chefia da Casa Civil. “O ministro Aloizio Mercadante tem total confiança da presidenta e seguirá cumprindo suas funções à frente da Casa Civil”, diz trecho da nota. O Instituto Lula também divulgou nota negando que o ex-presidente tivesse feito críticas a Mercadante.

Braço-direito da presidente, Mercadante tem sido criticado pela cúpula do PMDB, que reclama que o ministro da Casa Civil “não funciona nem para dentro nem para fora do governo”. A base aliada reclama de falta de diálogo e de só ser chamada para defender medidas impopulares, como o ajuste fiscal.

Lula tem afirmado, de acordo com pessoas próximas, que não é justo colocar todos os erros na conta de Pepe Vargas e que seria necessário mexer também na Casa Civil. O ex-presidente tem defendido os nomes dos ministros Jaques Wagner (Defesa) e de Ricardo Berzoini (Relações Institucionais) para assumir a interlocução com o Congresso e com os partidos.

Wagner já tem atuado como bombeiro. No domingo, ele foi à casa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para tentar recompor a relação.

Lula defende ainda que Dilma dê um ministério a mais, e de peso, para o PMDB. Petistas próximos a Lula defendem a nomeação do ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) para o Ministério da Integração Nacional, comandado pelo PP.

Eduardo Cunha
Diante dos rumores de o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, pode ser retirado no núcleo de articulação política de Dilma, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – um dos principais críticos dos negociadores do governo – minimizou a atuação de Mercadante nesta quarta-feira.

– Mas o Mercadante está na articulação política? Eu não sabia – ironizou Cunha.

Em seguida, o peemedebista completou dizendo que Mercadante participa “eventualmente” de conversas políticas, mas que o problema de diálogo com o governo é outro. Desde que assumiu a presidência da Câmara, Cunha centra fogo na relação do Palácio do Planalto com o Congresso e, repetidas vezes, criticou a atuação do ministro Pepe Vargas (Relações Institucionais).

– (Mercadante) Pode até participar eventualmente de conversa política, mas não tenho crítica ao ministro Mercadante, isso não é uma demanda que está sendo colocada por nós para qualquer tipo de diálogo, aí é outro tipo de problema – pontuou Cunha.

Dilma muda articulação política e tenta se blindar contra novas reações hostis

• Com Gilberto Kassab, Aldo Rebelo e Eliseu Padilha, presidente aumenta poder de aliados no núcleo do governo; ao mesmo tempo, intensifica monitoramento de humores nas redes sociais e busca aproximação com movimento sociais para antecipar tensões

Vera Rosa, Tânia Monteiro e Leonêncio Nossa - O Estado de S. Paulo

Depois de derrotas no Congresso, panelaços durante um pronunciamento na TV e até vaias em eventos oficiais da Presidência, Dilma Rousseff resolveu promover alterações em sua articulação política, monitorar as redes sociais para evitar protestos-surpresa e se aproximar de movimentos sociais para antecipar tensões. A tentativa de reação do governo petista ocorre às vésperas de uma grande manifestação, marcada para domingo, que tem entre suas principais bandeiras o pedido de impeachment da presidente.

Ela informou no final da tarde desta quarta-feira, 11, que vai incluir o PMDB, o PCdoB e o PSD na coordenação política do governo. Trata-se do grupo de ministros que se reúne com ela no Palácio do Planalto, todas as semanas, para discutir estratégias e ações do Executivo, o chamado "núcleo duro", que tem o poder simbólico na Esplanada dos Ministérios de estar mais perto do gabinete presidencial.

A composição atual do grupo só inclui petistas. Num primeiro momento, serão incluídos nessa equipe os ministros da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aldo Rabelo, do PCdoB, dos Transportes, Elizeu Padilha, PMDB, e das Cidades, Gilberto Kassab, do PSD.

A ampliação do grupo é uma tentativa da presidente em reduzir a pressão para demitir o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, um dos principais nomes da atual coordenação política, na avaliação de interlocutores do governo. Setores do próprio PT argumentam que Mercadante não está tendo boa atuação num momento em que o governo enfrenta sua pior crise.

Numa entrevista na periferia de Rio Branco, onde visitou desabrigados das enchentes e entregou chaves de moradias do programa Minha Casa, Minha Vida, a presidente enfatizou que não cortará a cabeça de Mercadante. "Não há nenhuma medida de modificação na coordenação política, a não ser o seguinte: vamos aumentar o número de pessoas e partidos, obviamente", disse. "Vamos fazer um rodízio para trazer ministros novos para o debate."

A mudança na articulação política – que agora terá os ministros Gilberto Kassab, do PSD, Aldo Rebelo, do PC do B, e Eliseu Padilha, do PMDB – ocorre após pressão de seu antecessor e padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva, com quem jantou na noite de terça-feira, em Brasília. Lula reclamou do chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Disse que Mercadante é “desagregador”, tem um “ego maior que o seu gabinete” no Palácio do Planalto e vive “trombando com o PMDB” e com o próprio PT. “Se ele fosse tão bom assim, teria sido ministro no meu governo”, teria dito o ex-presidente à sucessora.

Quem está na linha de tiro, no momento, é o titular de Relações Institucionais, Pepe Vargas (PT), que, em tese, é o responsável pela negociação com o Congresso. Dilma gosta de Pepe e tenta preservá-lo, mas há movimento no PT e no PMDB para substituí-lo. Uma ala do PMDB quer transferir o cargo de Pepe para Eliseu Padilha.

Dilma deu a entrevista debaixo de um toldo montado em Cidade do Povo, bairro onde entregou 433 chaves de novas casas. Em meio ao mormaço e ao calor amazônico, a presidente sinalizou, suando e demonstrando sofrer com a temperatura, que pretende dar mais flexibilidade à relação do governo com o Congresso. "Eu sempre estive aberta ao Congresso", disse ao responder a uma pergunta sobre sua relação com o Legislativo. Num segundo momento, disse a presidente, ministros de outros partidos da base aliada poderão ser incluídos no grupo da coordenação política. "Vamos chamar os ministros para participar. Todos participarão". Ela relatou que o grupo da coordenação poderá ter reuniões semanais. "É muito flexível, é um sistema de governo."

Atenção. Após Dilma ser vaiada em São Paulo em um evento fechado na sexta-feira, o Palácio do Planalto decidiu monitorar o humor das pessoas nas redes sociais e vistoriar locais de visita da presidente com mais atenção. Na visita que fez a Rio Branco, no Acre, um pequeno grupo de pessoas protestou contra ela. O número de apoiadores, porém, era bem maior.

Dilma Rousseff ainda comentou sobre as manifestações contra seu governo anunciadas para o próximo domingo pelas redes sociais. A presidente fez questão de lembrar sua atuação de militante na resistência à ditadura militar, nos anos 1960 e 1970. "Sou de uma época em que não era possível se manifestar. As pessoas que se manifestavam iam diretamente para a cadeia. Eram chamadas de subversivas ou nomes piores", disse. "Uma das maiores conquistas do nosso país foi a democracia.

Passei a vida me manifestando nas ruas, por isso não tenho o menor interesse, intuito nem tão pouco compromisso com o processo de restrição de livre manifestação no País", afirmou. "Se nós temos o direito de manifestar, nós temos o direito de manifestar", completou. "O que não temos é o direito de ser violentos."

A presidente ainda citou a onda de protestos de junho e julho de 2013. "Veja o exemplo de 2013.

Eram manifestações pacíficas, mas teve um momento que se perdeu o controle porque um grupo ficou mais violento", lembrou. "Um colega de vocês foi assassinado", ressaltou, numa referência ao cinegrafista Santiago, da TV Bandeirantes, morto quando cobria um protesto no Rio."A livre manifestação é algo que o Brasil tem de defender, mas que seja pacífica."

‘Dúvida’. O deputado estadual Edinho Silva (PT-SP), tesoureiro da campanha à reeleição de Dilma, divulgou uma “Carta Aberta ao PT”, na qual admite “erros” no partido. O petista prega uma reação forte do partido e do Planalto ao cerco político e diz que é hora de todos irem para a luta, sob o argumento de que há momentos em que “a dúvida leva à derrota e o recuo, ao aniquilamento. “Há sim, erros no nosso campo político”, escreveu Silva na mensagem, enviada por e-mail para dirigentes, militantes e ministros do PT.

“Nunca na nossa história assimilamos com tanta facilidade o discurso oportunista de uma direita golpista e nunca estivemos tão paralisados. (...) Se a corrupção é endêmica e povoa as instâncias governamentais, ela tem que ser combatida com muita dureza. (...) Se pessoas se utilizaram do PT para enriquecimento, toda vez que isso for provado esses têm que pagar e nós temos que ser os primeiros a defender a penalização”, escreveu. / Colaborou Rafael Moraes Moura

Toffoli vai a Dilma após mudar de turma no STF

• Gilmar Mendes se reúne com Cunha e nega ter conversado sobre Lava-Jato

Catarina Alencastro e Carolina Brígido – O Globo

BRASÍLIA - O ministro Dias Toffoli foi recebido em audiência pela presidente Dilma Rousseff no Palácio do Planalto, um dia depois de decidir passar a integrar a Segunda Turma do Supremo, que julgará a maior parte da Lava-Jato. O encontro durou uma hora e meia, com a presença dos ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e José Eduardo Cardozo (Justiça).

Dilma e Toffoli negaram que o tema da conversa, marcada de última hora, tenha sido a Lava-Jato. Os dois disseram que o encontro discutiu a proposta de Toffoli de criar o Registro Civil Nacional.

No Acre, Dilma explicou:

- Porque hoje era o dia que eu podia e ele podia. Eu podia, mas quase que não podia, porque eu vinha para cá. Mas, como tem duas horas de fuso, fiz a reunião com o ministro Toffoli.

A reunião não estava prevista até a noite de terça-feira, quando foi divulgada a agenda da presidente. Toffoli disse que foi coincidência o encontro entrar na agenda de Dilma ontem. A assessoria do ministro divulgou o ofício de 18 de dezembro em que ele pediu audiência.

Toffoli disse que decidiu mudar da Primeira Turma do STF para a Segunda Turma em resposta ao apelo de colegas. Lá, ele participará do julgamento de 21 dos 25 inquéritos da Lava-Jato. A partir de maio, caberá a ele presidir a Segunda Turma e pautar o julgamento dos processos. Até maio, a presidência permanecerá com Teori Zavascki, que também é o relator dos inquéritos.

- Na medida em que o (ministro) mais antigo não expressou a vontade de ir, eu, como segundo mais antigo, me expressei nesse sentido - disse Toffoli, explicando a motivação para a mudança.

Toffoli reagiu às críticas de que sua mudança para a Segunda Turma tem viés político:

- São críticas naturais, assim como, quando vim para o Supremo, houve críticas. No julgamento da ação penal 470 (mensalão) e na presidência do TSE, ficou bastante claro que minha atuação é totalmente imparcial.

Ontem, o ministro Gilmar Mendes, do STF, reuniu-se com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que está na lista da Lava-Jato. Gilmar negou que o assunto tenha sido Lava-Jato. Segundo ele, o tema foram projetos apresentados na época do Pacto Republicano. Logo depois que Gilmar deixou o gabinete, Renan Calheiros e Fernando Collor, que também estão na lista dos investigados, foram ao gabinete de Cunha.

José Serra - Dilma, que tal Maquiavel com Dalva de Oliveira?

- O Estado de S. Paulo

O segundo governo Dilma passa a sensação de um doente em estado terminal, apesar de ter cumprido somente 1/24 de seu mandato constitucional, o correspondente à primeira hora de um dia. Além de ser considerado o responsável pela "receflação" - recessão com inflação - que atinge a economia brasileira, alimenta a percepção de que não oferece soluções convincentes para modificar esse quadro.

Há um ano, comentando os estertores do primeiro governo Dilma, escrevi: "Para quem não sabe aonde vai, todos os caminhos são bons. Quando, no entanto, quem está sem rumo comanda um país, aí todas as escolhas são ruins". O futuro, que é o nosso presente, infelizmente, me deu razão. O governo, como comprovou a presidente em cadeia nacional no Dia Internacional da Mulher, esgotou até o seu estoque de desculpas. Já não tem o que dizer. Note-se que desta vez, a fim de se proteger do humor ferino dos críticos, nem se atreveu a culpar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pela crise econômica, preferindo escolher a economia mundial como bode expiatório. Com a vantagem adicional de que esta não se pode defender...

O quadro econômico internacional não explica, é evidente, as vicissitudes da nossa economia: nem é tão feio assim nem seus efeitos são comparáveis aos dos choques sofridos durante o governo do general Figueiredo, a partir de 1979, ou ao longo dos dois mandatos de FHC. Essencialmente, o que se tem hoje é o fim do milagre dos preços siderais das commodities exportadas pelo Brasil, acompanhado do acirramento da concorrência nos mercados de exportação de produtos manufaturados. Nada que um país economicamente arrumado, no seu devido tempo, não pudesse enfrentar.

A verdade é que os fatores que complicaram o desempenho da economia brasileira nos últimos anos nasceram aqui, não lá fora, e vieram à luz no segundo governo Lula: subinvestimento em infraestrutura, carga tributária sufocante e megavalorização cambial. Essa combinação de fatores minou a competitividade da nossa economia, elevou o déficit externo em conta corrente até níveis perigosos, desestimulou os investimentos privados e promoveu a marcha forçada da desindustrialização do País - a tragédia econômica brasileira do início deste século. Hoje a participação da indústria de transformação no PIB voltou aos níveis de 1946.

O governo Dilma, iniciado em 2011, apostou em mais do mesmo, em vez de promover o ajuste necessário. Basta lembrar a marcha lenta dos investimentos na infraestrutura, objeto até de ideias alucinadas, como a do trem-bala; a insanidade dos projetos da Petrobrás, que cedo comprometeram seu fluxo de caixa e turbinaram um endividamento enlouquecido; e a compulsão do populismo eleitoral, que levou aos píncaros o arrocho dos preços dos derivados de petróleo e da energia elétrica.

Às atuais desventuras econômicas - queda da produção, deterioração do emprego e dos rendimentos das famílias, inflação alta, ataque especulativo contra o real - somam-se os efeitos da percepção do estelionato eleitoral de 2014 e a convicção de que a corrupção, mais que um desvio de conduta, virou, no caso do PT, um método de governo.

Como era esperado, depois de reeleita Dilma não recebeu nenhum crédito de confiança para adotar medidas difíceis, ao contrário do que acontece com governantes novos. Afinal, seu primeiro governo tinha aprofundado os desajustes da economia. E na campanha ela escolhera desconversar sobre a crise, prometer o céu para todos e demonizar seus adversários.

Agora, tendo pouco mais do que terra seca, economia anêmica e população entre insegura e indignada, a presidente vê-se sem direito moral para pedir sacrifícios. Um começo razoável teria sido confessar bravatas anteriores e assumir com humildade os erros cometidos.

O inferno astral completa-se com o fato de que a política de ajuste que o governo delegou à dupla Levy-Barbosa amplia os desajustes em curto e médio prazos e gera insegurança sobre o longo prazo.

A recessão encolhe as receitas tributárias e, tudo o mais constante, pressiona o déficit público, que se pretende combater. A elevação dos juros promovida depois da eleição aumentou as despesas anualizadas em R$ 27 bilhões, equivalentes a 40% da meta de superávit primário fixada para este ano!

A elevação dos juros, diga-se, ocorreu com a economia em declínio e a inflação turbinada pela alta dos preços administrados. E não é um aumento de 2 pontos na taxa que vai reverter a alta do dólar.

Por isso mesmo, o principal argumento para justificá-la é a deterioração das expectativas, a mesma, aliás, que justifica o monumental aperto de crédito e a suspensão de linhas de financiamento da atividade econômica. Esse fator fecha o círculo e garante o prolongamento da contração da economia brasileira. E não vale culpar o Congresso por tropeços do ajuste. Como demonstrou matéria do jornal Valor, apenas 20% da economia fiscal pretendida depende de aprovação legislativa. E uma parte desse porcentual certamente será aprovada.

O programa de ajuste é só parte da tarefa. Ficam faltando reformas que abram caminhos para o crescimento e a reindustrialização do Brasil, sem a qual viraremos sócios-atletas do clube dos países submergentes. Dois exemplos entre muitos outros: a implementação de uma política de comércio exterior digna desse nome e a aceleração dos investimentos em infraestrutura, que já eram medíocres e vão literalmente degringolar caso não sejam retomadas e multiplicadas as concessões e parcerias público-privadas.

Maquiavel é sempre tentador em momentos de crise. Os petistas devem ter-se conformado com a síntese pobre de fins supostamente nobres que justificam os meios mais perversos. Por isso chegamos a este ponto. Proponho outro trecho, que sintetizo: o príncipe não precisa preocupar-se com conspirações quando o povo está satisfeito. Mas, se este lhe é hostil e lhe devota ódio, então há o que temer. Se O Príncipe se mostrar obra por demais complexa, sugiro, como último recurso, a saída Dalva de Oliveira: "Errei, sim!" Quem sabe...

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*José Serra é senador (PSDB-SP)

Merval Pereira - O STF e o petrolão

- O Globo

É preciso acreditar muito em conspirações para achar que a audiência do ministro do Supremo Dias Toffoli com a presidente Dilma no Palácio do Planalto ontem é uma indicação de que a sua mudança para a Segunda Turma que vai julgar o petrolão no STF foi orquestrada para beneficiar o PT.

Parece óbvio que se esse encontro tivesse o objetivo de armar alguma estratégia para proteger os petistas do petrolão, não teria sido feito à luz do dia, e nem nesse momento. Até porque quem assumiu publicamente a frente das negociações para que a mudança acontecesse foi o ministro Gilmar Mendes, identificado pelos petistas como um adversário a ser batido.

Aí entra a teoria da conspiração do lado petista, que acha que Mendes orquestrou a ida de Toffoli porque este está agastado com o governo Dilma e afastado do PT, que o levou ao STF às vésperas do julgamento do mensalão. Nem uma coisa nem outra. Se quisesse, o quinto ministro da 2ª Turma teria sido Marco Aurélio Mello, o mais antigo, que não se interessou em mudar de Turma.

Mas é verdade que nada é mais inconveniente para um ministro que acabou de assumir a presidência da Turma que vai julgar o petrolão do que uma audiência com Dilma, ao lado do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e do Chefe do Gabinete Civil, Aloizio Mercadante, dois dos principais articuladores políticos e acusados de terem se movimentado, especialmente Cardozo, em defesa das empreiteiras investigadas no Lava-Jato.

Ainda mais se esse ministro está em busca de marcar uma atuação independente, depois de ter sido identificado como um representante petista no plenário do STF quando do julgamento do mensalão. Foi uma dessas coincidências desastrosas o que aconteceu com o ministro Toffoli, que hoje preside o Tribunal Superior Eleitoral e pedira uma audiência anteriormente para mostrar no Planalto sua proposta de criar o Registro Civil Nacional, no qual desde o nascimento o cidadão já é cadastrado na Justiça Eleitoral e ganha um número, que será o título de eleitor.

Coincidiu que a audiência foi marcada para o dia seguinte em que ele se transferiu da 1ª para a 2ª Turma a fim de preencher um vazio naquele grupo de juízes. A verdade é que os ministros da 2ª Turma estavam incomodados com a falta do quinto nome, há sete meses para ser indicado pela presidente Dilma.

Não apenas com sua ausência, mas com a possibilidade de que o indicado fosse visto pela opinião pública como escolhido a dedo pelo Planalto para ajudar os petistas no julgamento. A 1ª medida cogitada foi realizar uma eleição informal para colocar na presidência da Turma no 1º ano a partir de maio, quando se encerra a presidência de Teori Zavascki, o decano Celso de Mello.

Seria uma maneira de evitar que o mais novo indicado assumisse a presidência, para preservá-lo e também ao Supremo. Embora o cargo seja apenas formal, é preciso conhecer o funcionamento da Casa e afastar qualquer dúvida sobre os trabalhos.

Já acontecera isso quando a ministra Rosa Weber, recém-indicada, teria que assumir a presidência de uma das Turmas, e ela mesma pediu para ser substituída. Assumiu Marco Aurélio, que era o mais antigo do grupo. A ideia de completar o grupo com a transferência de um ministro da 1ª Turma surgiu com o receio de que Dilma demorasse mais na indicação, atrapalhando o processo do petrolão que já está iniciado no Supremo.

Algumas decisões terão que ser tomadas, e o perigo de haver empate persistia. Há no regimento a possibilidade de chamar pontualmente ministros da outra Turma para desempatar votações, mas em casos criminais, como é o petrolão, o empate favorece o réu.

A solução encontrada retira do novo ministro a possibilidade de participar do julgamento do petrolão, a não ser quando o plenário se reunir para julgar os casos dos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros, se eles forem denunciados. É uma maneira de proteger a instituição, que no mensalão teve o dissabor, especialmente com Toffoli na 1ª etapa, e Teori Zavascki e Luís Roberto Barroso nos embargos infringentes, de ver ministros identificados pela opinião pública com grupos políticos. Mas foi o ministro Celso de Mello, um dos mais rigorosos no julgamento do mensalão, quem acabou decidindo a aceitação dos embargos infringentes, abrindo o caminho para que o crime de quadrilha fosse revogado pelo novo plenário, o que minimizou a sensação de cartas marcadas.

Tudo indica que a preocupação que predomina no Supremo hoje é garantir a percepção da opinião pública de que ele está acima das disputas partidárias, e é um garantidor da democracia.

João Bosco Rabello - Sob tutela

- O Estado de S. Paulo

O clima de entendimento verificado ontem em torno de uma fórmula para o reajuste da tabela do Imposto de Renda, que projetava nova derrota do governo, indica um esforço para baixar a temperatura política, conduzido por agentes ainda não identificados que andaram nos últimos dias exercendo o papel político que a presidente Dilma Rousseff recusa.

Não é só decorrente esse esforço da “Lista Janot”, mas principalmente da compreensão de que sem o ajuste fiscal a crise se avoluma e enreda todos no mesmo tsunami. Deve ser entendido, pois, como a separação que os políticos começam a fazer entre a crise econômica, que precisa ser administrada com eficiência e rapidez, e a política, que se manterá nos termos em que o PMDB a colocou.

Há muitos agentes políticos em ação, o que projeta a ideia de um governo tutelado nesse campo, dada a teimosia ou a insuficiência da presidente para o exercício da negociação. De um lado, o ministro da Fazenda tem o comando da economia, embora sob o constrangimento da presidente; de outro, líderes arregaçaram as mangas e resolveram tocar a política.

O pano de fundo é a dinâmica própria que o movimento pelo impeachmentganhou, à revelia dos partidos, o que inclui a oposição. Ninguém quer esse desfecho, mas todos temem que ele tenha vida própria se permanecer a desorientação presidencial diante da crise conjugada da economia e da política.

A manifestação marcada para dia 15 próximo não tem o controle de partidos, é tecida nas redes sociais e deve ocorrer sem líderes que possam conduzi-la dentro de limites seguros. Em outras palavras, sabe-se que ocorrerá, mas não como – e qual desfecho pode ter. Com os índices de aprovação presidencial despencando em escala geométrica, tem-se um cenário imprevisível.

Tenta-se, então, dar alguma previsibilidade à agenda negativa. Afinal, no segundo mês de um mandato renovado nas urnas, a sensação é a de um governo velho e emparedado por uma crise que já se pode inserir no grau de “tempestade perfeita”. O país está a um passo da perda do grau de investimento e de uma crise institucional sem precedentes.

Nos meios políticos e jurídicos cresce a leitura crítica ao trabalho do Procurador Geral, Rodrigo Janot, que começa a sentir o peso de decisões questionáveis. Dar ao longo suspense em relação ao envolvimento de parlamentares na Lava Jato desfecho de comida requentada pode ter sido um erro com potencial para comprometer a consistência dos inquéritos abertos pelo Supremo Tribunal Federal a seu pedido.

Janot trabalhou com os conteúdos de apenas duas delações premiadas que já exibem conflitos entre si, além de nivelar o grau de envolvimento de todos os citados, muito embora uns já possuam mais evidências de participação que outros. O que está sob exame do ministro Teori Zavascki não representa novidade ao que já vazara e, embora isso não reduza a gravidade das denúncias, torna injustificável a demora superior a quatro meses para que os pedidos de inquérito fossem encaminhados.

Ministros e ex-ministros do STF já não fazem reservas para críticar ao que o procurador enviou à Corte. Alguns já apontam inconsistências em abertura de investigação solicitadas. Não é só o caso do senador e ex-governador de Minas, Antonio Anastasia, cujas menções são absolutamente vagas, mas que teve investigação aberta , segundo Janot, pela riqueza de detalhes do depoimento de seu acusador.

A leitura do caso de Anastasia mostra que essa riqueza de detalhes se limita à descrição, pelo acusador, do caminho percorrido para chegar ao local do alegado pagamento, alcançando mesmo detalhes topográficos da região do shopping onde diz ter pago a propina.

Mas sobre o receptador, há apenas a menção de que se parece fisionomicamente com o senador, feita posteriormente ao fato, ou seja, depois de sua eleição para o governo de Minas. O acusador, o policial conhecido por Jayme “Careca”, está em liberdade, apesar da confissão voluntária de participação nos crimes, e não está sob delação premiada, o que o descompromissa com a verdade.

É um elemento desse processo cujo tratamento diferenciado, que o mantém livre, assim como o peso atribuído ao seu depoimento, precisa ser explicado pelo Ministério Público.

O mesmo policial errou endereço e morador da “casa amarela” em que entregara, segundo seu depoimento, propina ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Posteriormente, verificou-se que a residência era de propriedade, ou domínio, de um aliado do parlamentar acusado, da família política carioca Picciani.

Pode ser, é a dedução que se faz, que Janot tenha encaminhado os pedidos de abertura de inquérito, sabedor de que as demais delações premiadas em curso, e outras diligências do Ministério Público, anexarão aos depoimentos de Paulo Roberto Costa e Alberto Yousseff, provas que justificarão “a posteriori”, os pedidos iniciais.

Mas as peças enviadas ao STF, e que representam o que se tem para abrir investigações, são frágeis na maioria dos casos, segundo um ministro que participará do julgamento de Janot. Não se trata de inocentar os arrolados pelo Procurador, mas de uma avaliação técnica do presente.

Nesse contexto, os encontros mantidos pelo Procurador com autoridades do Executivo, como o ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, na véspera da divulgação da “Lista Janot”, alimentam a versão de seletividade criada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e hoje já disseminada no Congresso Nacional. Tanto assim, que Janot julgou necessária a explicação que deu ontem (10) a respeito.

O tempo dos personagens que protagonizam a crise político-econômica, são diferentes. O da presidente Dilma Rousseff é nenhum. Está atrasada na reação à crise. O dos parlamentares é bem maior: além de inquéritos demorarem (calcula-se pelo menos três anos), há agora a fragilidade anunciada sobre a consistência das justificativas, o que, no mínimo, abrirá espaço para que as defesas prolonguem as etapas do processo.

Todo esse contexto agrava a situação da presidente da República, sobretudo pela demonstração de incapacidade para administrar crise de tamanha proporção. Na medida de sua inaptidão política, ela passa a ser a crise, que personifica para a população.

É nesse ponto que surge, em meio à insatisfação de sua base parlamentar, a dissecação da crise: uma coisa é a economia, outra a política. A primeira começa a gerar acordos. A segunda, será ditada pelo PMDB na oposição, o que já é fato. Com o apoio pontual do PSDB e DEM, quando assim lhes convier.

Já o PT, morreu mais um pouco depois do depoimento de ontem(10) do ex-gerente da Petrobras, Pedro Barusco.

Rogério Gentile - Água na fervura, por favor

- Folha de S. Paulo

O momento é obviamente ruim, mas pode ficar muito pior. Se não bastasse a deterioração da economia, a roubalheira do petrolão, a crise política no Congresso, os problemas no abastecimento de água e o risco de apagão elétrico, o país sofre com a falta de bom senso do governo e da oposição.

Alguém precisa colocar um pouco de água na fervura, sob o risco de enfrentarmos cenas piores do que as de junho de 2013. A despeito de todo o romantismo que se criou em torno daquele período, é recomendável não nos esquecermos da massa descontrolada que tentou invadir prédios públicos, dos empreendimentos privados vandalizados e saqueados, das pessoas feridas etc.

Junho de 2013 ocorreu num contexto em que a economia crescia pouco (2,3%), mas crescia, e o país gerava empregos (730,7 mil vagas formais de trabalho naquele ano). O cenário atual é bem diferente, com o governo promovendo um ajuste duríssimo, expectativa de retração do PIB, aumento da inflação e do desemprego. O que pode acontecer agora se a panela de pressão for destampada novamente?

Em meio à crescente insatisfação, o PT tem reagido muito mal às críticas. Lula, que, como ex-presidente de um governo bem-sucedido, poderia contribuir para acalmar as coisas, tem feito exatamente o contrário. Recentemente, disse querer "paz e democracia", mas ameaçou colocar "o exército do Stédile na rua".

Diante do panelaço de domingo, dirigentes do PT também optaram pelo discurso raivoso, circunscrevendo-o à "burguesia golpista", como se as pesquisas não indicassem queda da popularidade de Dilma em todas as faixas de renda e regiões do país.

Ponderação também não tem sido o forte da oposição. FHC comparou a situação atual com a das vésperas do golpe de 1964. Aloysio Nunes, preocupado com a eleição de 2018, mas nem tanto com o país, declarou querer ver Dilma "sangrar lentamente".

Não se faz política com o fígado.

Luiz Carlos Azedo - O devido processo legal

• No Supremo, o temor era que, com apenas quatro integrantes, qualquer empate beneficiasse os réus. Ou que alguém fosse indicado para vaga aberta no Supremo para “matar no peito” o processo.

- Correio Braziliense

A ida do ministro José Antonio Dias Toffoli da Primeira para a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), articulada pelos ministros Teori Zavascki, relator do processo da Operação Lava-Jato, Celso de Melo e Gilmar Mendes, e confirmada ontem pelo presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski, desanuviou o ambiente político no Congresso.

A semana havia começado sob o impacto da abertura de inquérito contra 47 políticos, entre eles os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). A Segunda Turma ficará responsável pela análise dos inquéritos e eventuais ações penais relativas ao esquema de corrupção na Petrobras.

Ao completar a vaga aberta na Segunda Turma com a aposentadoria do ex-ministro Joaquim Barbosa e a saída de Lewandowski, fechando a porta para a participação no julgamento de um ministro recém-indicado pela presidente Dilma Rousseff, o estresse causado pela abertura dos inquéritos desapareceu como por encantamento.

Já na terça-feira à noite, numa festa de advogados na Asa Sul, à qual compareceram os ministros Toffoli e Mendes, a rocada no STF já era interpretada nos meios jurídicos e políticos como o sinal de que o xadrez do devido processo legal absorveria o impacto inicial da abertura de inquérito. No Supremo, o temor era que, com apenas quatro integrantes, qualquer empate beneficiasse os réus. Ou que alguém fosse indicado para vaga aberta no Supremo para “matar no peito” o processo.

Temia-se também a mesma turbulência do julgamento do mensalão, que ocorreu no pleno do STF e foi transmitido ao vivo e em cores. Toffoli é o ministro com menos tempo de atuação no tribunal que ainda não exerceu a função e, conforme a tradição, passará a presidir o julgamento da Lava-Jato a partir de maio, mês em que termina o mandato do atual presidente da turma, Teori Zavascki.

“Isso foi um consenso no tribunal e nós demos o devido encaminhamento. Acho que foi uma boa solução para o tribunal e para o Brasil”, disse Mendes. Notoriamente ligado ao PT e ao ex-presidente Lula, Toffoli faz parte do time de desafetos de estimação da presidente Dilma Rousseff, cujo santo não bate com o dele desde os tempos da Casa Civil.

Toffoli, porém, esteve ontem com a presidente Dilma Rousseff no Palácio do Planalto. Disse que foi à sede do Executivo apenas para tratar de um projeto elaborado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Corte que preside desde maio do ano passado, e não tratou sobre a Lava-Jato. Participaram da reunião os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e José Eduardo Cardozo (Justiça).

Nuvens carregadasFoi uma semana de nuvens carregadas e chuvas torrenciais em Brasília. O ex-gerente de Produção da Petrobras Pedro Barusco, ao depor na CPI instalada na Câmara para investigar o escândalo na estatal, disparou um petardo contra a presidente Dilma Rousseff, ao confirmar que teria entregue ao tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, a quantia de US$ 300 mil provenientes de propina para a campanha de 2010. No mesmo dia, Dilma foi vaiada em São Paulo.

Durante a semana, caciques do PMDB passaram a defender a saída do petista Aloizio Mercadante da Casa Civil da Presidência, atribuindo a ele a responsabilidade pelos erros cometidos pela Palácio do Planalto na condução da articulações políticas. Segundo os peemedebistas, o ministro seria o responsável pelo afastamento do vice-presidente, Michel Temer, do centro das decisões do governo e também pelo isolamento da presidente Dilma Rousseff em seu gabinete.

Em respostas às pressões e boatos, o Palácio do Planalto negou que o ex-presidente Lula teria exigido a cabeça de Mercadante. E durante solenidade no Acre, ao lado do governador Tião Viana (PT), Dilma anunciou que vai incorporar três ministros à coordenação política do governo: Aldo Rebelo (PCdoB), da Ciência e Tecnologia; Gilberto Kassab (PSD), das Cidades; e Eliseu Padilha (PMDB), da Aviação Civil.

A solução não agradou à cúpula do PMDB, que reivindica uma reforma ministerial mais ampla. O presidente do Senado, Renan Calheiros, verbalizou a insatisfação ao dizer que o governo já está “envelhecido”. As pressões dos aliados contra Mercadante, porém, não surtiram efeito. Dilma continua tendo-o como principal auxiliar e leva em conta que o ex-senador deixou de disputar as eleições para comandar a cozinha do Palácio do Planalto a seu pedido.

Jarbas de Holanda - Ruas tornam tempestade mais que perfeita.

O diagnóstico da tempestade perfeita, com a combinação de crises econômica e política, passou a ser aplicado aos problemas vividos por Dilma Rousseff na fase inicial (que parece terminal) do segundo mandato, desde quando aos pesados custos a serem cobrados para o enfrentamento do descalabro fiscal – promovido no primeiro – agregou-se a decomposição de sua base parlamentar de apoio e, em consequência, a difícil ou improvável viabilidade institucional do ajuste das contas públicas. Isso de par com um quadro de forte pressão inflacionária e de aguda contração das atividades produtivas. 

Tal decomposição começou com a esmagadora derrota do candidato governista na disputa do comando da Câmara dos Deputados; foi seguida por outras derrotas como a abertura de nova CPI sobre o petrolão, a iniciativa de desencadeamento da reforma política e o rechaço ao plano hostil ao PMDB do Palácio do Planalto de criação e fusão de partidos. Desdobrando-se no Senado pela devolução da MP do corte das desonerações das folhas de pagamento das empresas. Num processo de afirmação da autonomia do Poder Legislativo e de contraposição dele a objetivos e projetos importantes do Executivo.

Processo favorecido pelo grande desgaste da presidente e do PT no eleitorado, inclusive no de menor renda. E não revertido mas ao contrário estimulado pela presença dos presidentes das duas Casas na lista dos políticos a serem investigados na operação Lava-Jato. Presença que os dois vincularam a objetivo do Planalto de usar a referida operação para enfraquecer o Legislativo. E processo que, a partir do bloqueio à MP das desonerações, sequenciado pela imposição de mudança na relativa ao reajuste da tabela do Imposto de Renda (como alternativa à manutenção dos 6,5% para todos os reajustes), ambas importantes para aumento da receita da União, reduz seriamente as perspectivas de viabilidade do ajuste fiscal. 

Cálculo este responsável pela predominância do pessimismo dos investidores internos e externos e dos líderes das diversas atividades produtivas quanto a essa viabilidade. Cenário que, agravado pela dramática situação da Petrobras – enormes prejuízo e endividamento e colapso de muitos projetos em execução e programados – mistura os dois ingredientes da chamada tempestade perfeita.

Que começa a expandir-se para uma mais que perfeita por causa da adição de um terceiro ingrediente, explosivo política e institucionalmente: o das manifestações de rua, dominadas por protestos contra Dilma e o PT e a corrupção na Petrobras. O panelaço, o buzinaço e as vaias, inesperados e espontâneos, de domingo à noite, em grandes cidades de 12 estados, anularam pronunciamento feito simultaneamente pela presidente (no qual ela usou uma rede nacional de rádio e televisão convocada a pretexto de comemoração do Dia da Mulher para justificar – muito mal – a necessidade do ajuste), ganhando as manchetes das matérias sobre os dois eventos. 

Tendo cumprido a função de um ensaio das manifestações do gênero em todo o país previstas para o próximo domingo, dia 15. E as ruidosas vaias dirigidas a Dilma, ontem na capital paulista, por populares (expositores e funcionários de uma feira de produtos da indústria da construção, que se realiza no Anhembi), esvaziaram o discurso da luta de classes do lulopetismo, sua tentativa de caracterizar tais protestos como atos da “burguesia golpista”. Além de indicarem o crescente isolamento político e social da presidente. 

Cujo grau de desaprovação já está bem além do constatado no Datafolha do começo de fevereiro. O que vai acentuando dúvidas sobre a persistência das condições que ela tem de garantir governabilidade. E abrindo espaço para especulações em torno de alternativas com esse objetivo – com ela à frente da presidência, mas num entendimento com o PMDB e o PSDB em torno de uma reorientação de prioridades e objetivos políticos e econômicos; sua substituição pelo vice-presidente Michel Temer; e o impeachment, cobrado nas ruas pelo “Fora Dilma”, “Fora PT”, mas ainda considerado perigoso pelo mercado e prematuro pela oposição, por não apoiar-se em responsáveis avaliação e acerto político e institucional sobre o day after.

E mais uma etapa da operação Lava-Jato
A Lava-Jato – O depoimento de Pedro Barusco ontem na CPI da Câmara (esta, como previmos no final de 2014, refletindo a quebra da aliança PMDB-PT e livre do controle com que o governo esvaziou as anteriores), antecipou para a opinião pública o centro de nova fase da operação Lava-Jato.  A que trata das propinas, mais vultosas, cobradas e recebidas pelo diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque e pelo gerente Barusco, em articulação com o tesoureiro do PT, João Vacary.

Fase que, após a centrada nas relações do diretor de Abastecimento, Paulo Roberto Costa, com o PP (cujos parlamentares dominaram a primeira lista de investigados na operação) aponta para o peso essencial da apropriação e do desvio de recursos para as campanhas presidenciais de Lula e de Dilma. E na qual dados importantes estão sendo e serão obtidos, pelo Ministério Público do Paraná e pelo juiz Sérgio Moro, nas novas delações premiadas em andamento e em depoimentos de investigados sem foro privilegiado, como os ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci.

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Jarbas de Holanda é jornalista

Juan Arias - Liderança de Dilma Rousseff desmorona

• Rejeição a seu discurso se deve ao acúmulo de dados negativos em três frentes de seu Governo: a econômica, a política e a ética

- El País (Espanha)

O primeiro discurso à nação da presidenta Dilma Rousseff, aos dois meses do início de seu segundo mandato, recebido na noite de domingo em uma dúzia de cidades, entre elas as emblemáticas São Paulo e Brasília, com vaias e um panelaço, pode ter sido uma prévia das manifestações de protesto contra ela anunciadas para o próximo domingo, dia 15.

A rejeição ao discurso da presidenta foi mais significativa por ter se dado no momento de começar a falar, antes de se saber o conteúdo de suas palavras. Era um sinal de que para uma parte da população, em especial a classe média mais bem informada, sua credibilidade está seriamente comprometida.

Mais que contra sua pessoa, já que ninguém a considera uma política corrupta, a rejeição a seu discurso se deve ao acúmulo de dados negativos em três frentes de seu Governo: a econômica, a política e a ética.

Desde a redemocratização do país o Brasil não vivia um momento tão crítico. O anúncio de cortes que afetam tanto a classe média quanto os mais pobres, com o país à beira da recessão, onde só crescem a inflação, o valor do dólar, o déficit público, os juros dos bancos e até o fantasma do desemprego, junto com os escândalos de corrupção política, criou um curto-circuito entre a opinião pública e a Presidência da República.

Dilma, bode expiatório ou talvez vítima? Pouca diferença faz para uma população desencantada e irritada. A ela se atribui falta de traquejo político, dificuldade de delegar, falta de tato e de vontade de lidar com um Congresso no qual acabou perseguida e encurralada inclusive por boa parte de sua ampla maioria de dez partidos.

A isso se junta o fato de a presidenta nunca ter contado, menos ainda neste momento, com o apoio pleno de seu partido (PT), e a sua relação com seu criador e tutor, o ex-presidente Lula da Silva, ter acabado por se deteriorar.

Se um dia se falava do dilmismo como continuação gloriosa do lulismo e dos anseios não confessos da presidenta de empreender um voo político próprio, sem a muleta do carismático Lula, hoje o escândalo da Petrobras, que viveu sua maior virulência nos governos Lula-Dilma, perpetrada pelas figuras por eles colocadas na empresa, que acabou saqueada para financiar fundamentalmente os partidos governistas, isso parece ter se tornado um sonho já apagado.

As ruas pedem a saída de Dilma do governo e gritam “fora PT”. Talvez ainda não saibam o que querem em seu lugar. Não sabem o que desejam para amanhã, mas sim o que exigem para hoje.

O próximo teste serão as duas manifestações anunciadas: uma do PT contra as medidas de austeridade de seu próprio Governo, na próxima sexta-feira, e outra no domingo, convocada nas redes sociais para exigir a saída de Dilma. Nelas a presidenta levará tiros pelas duas frentes.

Segundo analistas, o modelo econômico de Rousseff fracassou, como apontam todos os índices negativos. Nesse ponto Dilma se distanciou do modelo Lula, que disse aos senadores do PT e dos outros partidos aliados, segundo vazou um dos presentes, que Dilma deveria “pedir perdão ao país pelo fracasso de sua crise econômica, reconhecer que seu modelo fracassou, comprometer-se a mudá-lo e explicar como pensa em fazer isso”.

No domingo, em seu discurso, Rousseff pintou, em vez disso, um país cor-de-rosa, golpeado apenas por uma pequena vaga passageira, culpa da crise internacional.

Até quando irá a resistência de Dilma, já que quem a conhece assegura que não cairia sozinha?

Ninguém quer hoje ser profeta de um futuro econômico que parece para os especialistas em economia e política cada dia mais incerto e emaranhado.