"Se a gente fizer uma agenda ruim a partir da próxima eleição, provavelmente estaremos fadados a cair no precipício"
"Haverá um momento em que, ou se quebra direitos adquiridos, ou o país quebra. As duas coisas são ruins"
Por Lucinda Pinto | Valor Econômico
SÃO PAULO - A falta de unidade entre aqueles que defendem a continuação da atual agenda econômica traz de volta o risco de um "acidente" na eleição de 2018, com a vitória de um candidato não comprometido com as reformas. O alerta é do ex-diretor de Política Monetária do Banco Central Luiz Fernando Figueiredo. "De novo, estamos brincando perto do precipício", diz, e isso estaria trazendo grande ansiedade ao mercado.
Economista vê risco de um 'acidente' na eleição de 2018
A falta de unidade daqueles que defendem a continuidade da atual agenda econômica traz de volta um risco, até aqui minimizado, de haver um "acidente" na eleição de 2018, e um candidato não comprometido com as reformas vencer o pleito. Esse é o alerta do ex-diretor de Política Monetária do Banco Central e atual sócio da Mauá Capital, Luiz Fernando Figueiredo.
Evitando mencionar nomes de potenciais candidatos, o gestor diz que o PSDB, visto como historicamente o partido comprometido com a continuidade da atual política econômica, deve buscar um "processo de aglutinação" para evitar que a eleição acabe dando vitória "ao lado mais populista". "De novo, estamos brincando perto do precipício", diz.
A preocupação com o processo eleitoral, afirma Figueiredo, tem trazido grande ansiedade ao mercado e explica, em parte, a piora dos preços dos ativos. Isso porque a garantia de que o próximo governo dará continuidade às reformas é essencial para que o país não entre num processo de desorganização, que pode, inclusive, abrir espaço para uma nova recessão ainda mais severa.
"O Brasil está numa situação de oportunidade ou de precipício. A gente foi para o limite", afirma. "Se a gente fizer uma agenda ruim a partir da próxima eleição, provavelmente estaremos fadados a cair no precipício", diz. A seguir, os principais trechos da entrevista:
Valor: Os mercados financeiros voltaram a reagir ao noticiário político nas últimas semanas. Há, de fato, uma frustração que leve a uma deterioração no cenário local?
Luiz Fernando Figueiredo: No curto prazo, o que a gente sente é uma separação do processo político do econômico. O país está voltando a crescer, até o crédito está melhorando. Melhora para a pessoa física e, para pessoa jurídica, tem uma cara de que vai melhorar. A economia está voltando a ter vida, mesmo com esse imbróglio político. Mas, como temos um processo eleitoral mais à frente, isso não terá vida muito longa, principalmente se o processo for muito instável. O Brasil está numa situação de oportunidade ou de precipício. A gente foi para o limite. A situação fiscal passou do ponto em que havia espaço de acomodação. Isso não quer dizer que o Brasil precise resolver sua situação fiscal agora, mas a gente tem um fato muito relevante que são as eleições. Se a gente fizer uma agenda ruim a partir da próxima eleição, provavelmente estaremos fadados a cair no precipício.