terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Opinião do dia: Roberto Freire

Havia o receio de que o Congresso mantivesse o voto secreto e, com isso, relaxasse a prisão de Delcídio. Mas, com todos os seus problemas, as instituições estão funcionando, inclusive o Parlamento. Na crise, tanto o Judiciário está funcionando quanto o Legislativo provou que funciona. O Senado e o Congresso, com todos os seus muitos problemas, decidiram, quando chamados, pela democracia e contra a corrupção.
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Roberto Freire, deputado federal (SP) e presidente nacional do PPS, em entrevista.

Janot pede inquéritos para investigar Delcídio e Renan

PGR pede dois novos inquéritos contra Renan, Delcídio, Jader e Aníbal Gomes

• Presidente do Congresso, senador petista - preso na semana passada na Lava Jato, e outros parlamentares devem ser investigados por corrupção passiva e lavagem de dinheiro

Por Beatriz Bulla e Gustavo Aguiar – O Estado de S. Paulo

A Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu nesta segunda-feira, 30, ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de dois novos inquéritos no âmbito da Operação Lava Jato. Em um deles, a Procuradoria quer investigar o senador Delcídio Amaral (PT-MS), preso na semana passada, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o senador Jader Barbalho (PMDB-PA). No segundo inquérito, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pede apurações sobre Renan, Jader e sobre o deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE).

Os parlamentares devem ser investigados pelas práticas de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. As peças são mantidas em segredo de justiça no Tribunal e têm como fundamento duas petições ocultas. Na Lava Jato, procedimentos ocultos têm sido usados para abrigar delações premiadas ainda mantidas em sigilo na Corte.

Esta é a quinta investigação em que Renan Calheiros é alvo na Lava Jato e o quarto inquérito de Aníbal Gomes. Ambos aparecem juntos em todas as investigações, incluindo a apuração sobre formação de quadrilha, que investiga 39 pessoas. O primeiro inquérito contra Delcídio Amaral foi aberto na semana passada, quando o ministro Teori Zavascki, do STF, autorizou a prisão preventiva do parlamentar por tentativa de obstruir as investigações. Até agora, só Jader Barbalho ainda não havia sido incluído em nenhuma investigação da Lava Jato.

Com os novos inquéritos, o total de apurações no STF relativas à participação de políticos no esquema de corrupção na Petrobras sobe de 33 para 35. Se os inquéritos forem abertos por Zavascki, a lista de investigados também cresce em um número, para 68 investigados, sendo 14 senadores.

Uma das delações homologadas em data próxima ao das petições que originaram as novas investigações é a do lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano. Em delação premiada, Fernando Baiano citou os nomes de Renan, Jader, Delcídio e do ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau, ao narrar suposto recebimento de US$ 6 milhões em propinas em contratação do navio sonda Petrobras 10.000, em 2006.

Baiano também afirmou em delação que Delcídio teria recebido US$ 1,5 milhão em espécie na operação de compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.

Com a palavra, o senador Renan Calheiros
O Presidente do Senado, Renan Calheiros, reitera que suas relações com as empresas públicas nunca ultrapassaram os limites institucionais. O Senador já prestou os esclarecimentos necessários, mas está à disposição para novas informações, se for o caso. O Senador acrescenta ainda que nunca autorizou, credenciou ou consentiu que seu nome fosse utilizado por terceiros.

Assessoria de Imprensa da Presidência do Senado Federal

Dilma diz que não indicou Cerveró e que 'não sabia de tudo' sobre Pasadena

• Declarações foram as primeiras da presidente desde a prisão do senador Delcídio Amaral, líder do PT no Senado

Andrei Netto - O Estado de S. Paulo

PARIS - A presidente Dilma Rousseff afirmou hoje que ficou "perplexa" com a prisão do senador Delcídio Amaral, líder do PT no Senado, e voltou a garantir que não indicou o ex-diretor de Internacional da Petrobrás, Nestor Cerveró, para ocupar o cargo na estatal e que "não sabia de tudo" no momento da compra da refinaria de Pasadena.

As declarações são as primeiras feitas pela presidente Dilma Rousseff a respeito do caso desde a prisão do senador e da revelação do áudio gravado por Bernardo Cerveró, no qual o jovem afirma que seu pai escreveu em sua delação premiada que a presidente "sabia de tudo" sobre a compra da refinaria. Dilma afirmou primeiro que não indicou Cerveró à direção da Petrobrás, contrariando a versão de Delcídio no áudio gravado. "Eu não indiquei Nestor Cerveró para a diretoria da Petrobrás.

Eu acredito que o senador Delcídio se equivoca. Ele não é minha indicação, ele não é da minha relação, e isso é público e notório", argumentou.

Sobre o caso Pasadena, Dilma desmentiu a versão de que estivesse informada sobre as implicações da compra da refinaria nos Estados Unidos. "Ele vem falando isso durante a CPI da Petrobrás. Eu acredito que é uma forma de tentar confundir as coisas", sustentou. "Não só eu não sabia de tudo, como foi detectado - e isso todos os conselheiros que estavam comigo no Conselho da Petrobrás podem atestar - que quando soubemos que ele não havia dado todos os elementos para nós, eu fui uma pessoa que insisti para ele sair."

Dilma fez ainda questão de frisar que não tinha relações com Cerveró anteriores à sua nomeação. "Eu não tenho relação com Nestor Cerveró", reiterou. Questionada sobre por que Cerveró afirmara que a presidente estava informada, Dilma disse: "Eu acho que ele pode não gostar muito de mim."

Sobre a prisão do senador, Dilma afirmou ter ficado "perplexa" ao receber a notícia. "Obviamente fiquei bastante surpresa com a prisão do senador Delcídio", disse, descartando ter medo de que sua eventual delação premiada prejudique seu governo. "Não tenho nenhum temor com a delação do senador Delcídio. Fiquei perplexa porque jamais esperei que pudesse acontecer com o senador Delcídio."

A presidente também descartou que a prisão do ex-diretor-presidente do banco BTG Pactual, André Esteves, possa gerar novas revelações de corrupção relacionadas ao seu governo. "No que se refere ao outro preso, que é CEO do banco BTG, eu o conheci muito mal. Não tive relações sistemáticas com ele", argumentou, lembrando que encontrou-se com o banqueiro em fóruns empresariais. "Aliás, o conheci em fóruns, como o de Davos."

Questionada sobre se a prisão do senador pode impedir ou prejudicar o trâmite de projetos como o ajuste fiscal no Congresso, a presidente disse que sua prisão gera um impacto pelas boas relações que o parlamentar tinha com a base aliada e até mesmo com a oposição, mas que o governo segue em frente. "O senador Delcídio era de fato uma pessoa bastante bem relacionada no senado. Nós o escolhemos porque ele era bem relacionado, inclusive com a oposição", reconheceu. "Mas, infelizmente, nenhum de nós é insubstituível. As questões com o congresso vão se dar normalmente, (…) vai desempenhar sua função em relação à economia do país, às suas funções no país."

Filho de Cerveró diz que advogado lhe entregou R$ 50 mil em nome de Delcídio

• Bernardo Cerveró foi o pivô da prisão do senador Delcídio Amaral

Por Julia Affonso, Ricardo Brandt e Fausto Macedo – O Estado de S. Paulo

Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da área Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró, afirmou em depoimento à Procuradoria-Geral da República que o advogado Edson Ribeiro, que atuava para sua família, lhe entregou R$ 50 mil em espécie durante uma reunião entre os dois. Segundo o filho de Cerveró, o criminalista disse que o dinheiro foi enviado pelo senador Delcídio Amaral (PT/MS), ex-líder do Governo. O parlamentar foi preso na quarta-feira, 25, por tentar barrar as investigações da Operação Lava Jato.

A base da custódia do senador é uma conversa gravada por Bernardo Cerveró. Em 4 de novembro, o filho do ex-diretor da Petrobrás gravou uma conversa de 1h35 na qual Delcídio Amaral tentava atrapalhar uma possível delação premiada do executivo, preso desde janeiro. O senador ofereceu R$ 50 mil mensais para comprar o silêncio de Nestor Cerveró. Em 18 de novembro, o ex-diretor da estatal petrolífera fechou sua delação premiada com a Procuradoria-Geral da República.

Em depoimento aos procuradores da força-tarefa da Lava Jato, Bernardo Cerveró narrou a atuação do senador Delcídio Amaral e do então advogado da família, Edson Ribeiro – também preso por atrapalhar as apurações. Segundo o filho de Nestor Cerveró, um dos encontros entre ele e Edson Ribeiro ocorreu no escritório do advogado Nelio Machado. O filho do ex-diretor da Petrobrás afirmou que o criminalista Nelio Machado, advogado do lobista Fernando Baiano durante parte da Lava Jato, não participou da reunião.

Ao Ministério Público Federal, Bernardo Cerveró contou que Edson Ribeiro ‘sempre seguia prometendo um habeas corpus’ para o pai, preso desde janeiro deste ano. Em determinado momento, contou o filho do ex-diretor da estatal, ele procurou o irmão de Fernando Baiano, ‘porque o Nestor Cerveró e Edson Ribeiro diziam que quem tinha provas era Fernando Baiano, já que ele é que cuidava das contas bancárias’.

“Procurou Gustavo para tentar compor colaboração premiada simultânea de Nestor Cerveró e de Fernando Baiano; que Nestor Cerveró e Fernando Baiano eram amigos”, relatou.

“Naquela altura o depoente participou de algumas reuniões, inclusive com a presença do advogado Nélio Machado em seu escritório; que Nélio Machado também era reticente em fazer colaboração premiada; que em uma dessas reuniões em uma sala do escritório do advogado Nélio Machado, presentes apenas Edson Ribeiro e o depoente, Edson Ribeiro entregou cinquenta mil reais em espécie para o depoente, dizendo que foram enviados pelo Senador Delcídio Amaral; que o depoente ficou incomodado, pois o que ele queria não era auxílio financeiro, menos ainda espúrio, e sim a liberdade de seu pai.”

Nestor Cerveró e Fernando Baiano já foram condenados em processos na Lava Jato por corrupção e lavagem de dinheiro. Em uma das ações, o juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações da Lava Jato na primeira instância, impôs 12 anos e 3 meses de prisão para ex-diretor da Petrobrás. O lobista pegou 16 anos. Em sua primeira condenação, Nestor Cerveró foi condenado a 5 anos de prisão pelo crime de lavagem de dinheiro na compra de um apartamento de luxo em Ipanema, no Rio.

O lobista deixou a cadeia, no Paraná, em 18 de novembro. Fernando Baiano ficou preso por 1 ano.

Com a palavra, o criminalista Nélio Machado
O criminalista Nélio Machado, que defendeu Fernando Baiano – até quando o lobista decidiu fazer delação premiada – , afirmou que desconhece ‘esse pagamento (de R$ 50 mil ), a tratativa entre o advogado Edson Ribeiro e o filho do ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró, Bernardo, em seu escritório. “Quando esse fato aconteceu eu não estive na sala onde eles estavam. Minha posição sempre foi de repúdio à delação premiada. O advogado Edson Ribeiro também se posicionou do mesmo modo durante os processos da Lava Jato.”

Machado disse que ‘houve algumas reuniões (no escritório dele)’. “O menino (Bernardo Cerveró) estava meio desamparado, foi lá (no escritório) algumas vezes, provavelmente numa dessas vezes foi realizado (o repasse de R$ 50 mil).”

“São muitas salas no meu escritório, não sei quantas. Eu não presenciei isso, nunca soube, nunca passou por mim, jamais passaria por mim. Eu jamais participaria desse tipo de conversa. O Edson (Ribeiro) foi recebido por mim e o Bernardo é possível que tenha estado junto. Mas desconheço por completo essa tratativa. Reitero que desconheço qualquer tratativa de honorários sobre conversas nesses termos que estão vindo à baila.”

Nélio Machado confirmou que o advogado Sérgio Riera trabalhou em seu escritório ‘durante muitos anos’. Aproximadamente, em 2011 Riera deixou a sociedade, segundo Nélio Machado. “Eu respeito a atuação dele (Riera), mas eu não trabalho com delação. Isso viola os meus princípios. Em agosto perdemos um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal. Depois dessa derrota no STF, um irmão de Fernando Baiano, o Gustavo, resolveu buscar apoio de um advogado que se dispusesse a fazer isso (delação). É essa a história. Eu não acompanhei absolutamente nada, tenho absoluta aversão à delação. Se o caminho da advocacia for esse (da delação) é o fim.”

Nélio Machado afirmou que Riera não esteve em seu escritório, ’em nenhum momento’.

O criminalista não soube precisar a data do encontro realizado em seu escritório, no Rio. “Eu não sou capaz de precisar datas. Sei que nas audiências (da Lava Jato, diante do juiz federal Sérgio Moro) o Edson adotava uma postura idêntica à minha.”

Nélio Machado disse que Edson Ribeiro esteve em seu escritório porque Gustavo, irmão de Fernando Baiano, foi procurado pelo Bernardo Cerveró. “O Bernardo e o Gustavo conviviam bastante.”

Dilma sobre Delcídio: ‘Perplexa’

A presidente Dilma disse ontem em Paris ter ficado “extremamente perplexa” com a prisão do senador Delcídio Amaral (PT), líder de seu governo no Senado. Na cadeia, Delcídio afirmou a um auxiliar que o seu partido o tratou com “covardia atroz”, revela

A perplexidade de Dilma

• Presidente se diz surpresa com prisão de Delcídio Amaral, ex-líder de seu governo no Senado

Fernanda Krakovics - O Globo

-LE BOURGET, FRANÇA -Em meio ao forte esquema de segurança montado para a maior conferência do clima de todos os tempos, com o vaivém de 150 líderes mundiais e suas dezenas de assessores, no centro de convenções de Le Bourget, na periferia de Paris, a presidente Dilma Rousseff, parte de sua comitiva, incluindo dois ministros, e seis jornalistas brasileiros acabaram esquecidos na área externa da estrutura montada para receber os mais de 40 mil participantes do encontro. Sob vento frio e forte, Dilma tentava proteger o pescoço, porque ainda não estava curada de uma gripe, enquanto esperava que a segurança se entendesse sobre o ônibus em que todos subiriam.

O imprevisto não tirou o bom humor da presidente. Ela aproveitou a espera para conversar com os jornalistas. Minutos depois, ela e sua comitiva se espremeram num micro-ônibus que ela fez questão de dividir com a imprensa. A presidente disse ter ficado perplexa com a prisão do líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), em mais uma fase da Operação Lava-Jato, semana passada.

— Fiquei com dois sentimentos. Fiquei muito perplexa, extremamente perplexa. Não esperava que isso acontecesse, ninguém esperava — afirmou a presidente.

Em entrevista coletiva, tratou de outros assuntos como a ameaça de “shutdown” (corte de todas as despesas não obrigatórias, que pode resultar na paralisia de serviços e gastos públicos), a partir de hoje, devido à não votação da meta fiscal pelo Congresso. Ela afirmou que o governo tomará as medidas necessárias para não prejudicar a vida população.

Ontem talvez não tenha sido um bom dia para a presidente, que, depois de todos os atrasos da cúpula, ainda tomou um chá de cadeira, com outros 19 líderes, do americano Barack Obama. Ele demorou quase 40 minutos para se apresentar no evento Mission Innovation. Quando achou que tinha chegado ao local correto, foi barrada pela segurança, porque havia uma conferência em andamento no salão, e obrigada a fazer meia volta.

A seguir os principais trechos da conversa de Dilma com jornalistas e da entrevista coletiva:

Prisão de Delcídio
— Fiquei com dois sentimentos. Fiquei muito perplexa, extremamente perplexa. Não esperava que isso acontecesse, ninguém esperava — afirmou Dilma, sobre a prisão do líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS).

Em relação a uma eventual delação premiada do senador, temida entre petistas, a presidente afirmou que se sente tranquila:

— Não tenho nenhum temor com relação a delação.

A presidente reconheceu a importância do ex-líder do partido no Senado, mas afirmou que ninguém é “insubstituível”. Segundo ela, os senadores vão desempenhar as suas funções com normalidade.

— O senador Delcídio, de fato, era uma pessoa bastante bem relacionada dentro do Senado. Aliás, nós o escolhemos porque ele tinha relações com todos os partidos, inclusive da oposição. Mas, infelizmente, nenhum de nós é insubstituível. Ele foi substituído e as relações com o Congresso vão se dar normalmente.

Para Dilma, o Senado vai desempenhar as suas funções em relação à economia do país.

— O Senado é uma instituição de alta qualidade — completou.

Indicação de Cerveró
A presidente Dilma negou que tenha indicado para o cargo o ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró, também preso na Operação Lava-Jato. Em depoimento à Polícia Federal na última quinta-feira, após ser preso, o senador Delcídio Amaral (PT-MS) disse que, em 2003, Dilma, então ministra de Minas e Energia, o consultou sobre a indicação de Cerveró para a diretoria da estatal. O senador contou que foi favorável e frisou que Dilma já conhecia Cerveró da época em que ela foi secretária de Minas e Energia no Rio Grande do Sul (1999-2002).

— Eu não indiquei o Nestor Cerveró para a diretoria da Petrobras. Eu acredito que o senador Delcídio se equivoca. Não é da minha indicação, não é da minha relação. E isso é público e notório. Ele não foi “antes, durante e depois” da minha relação.

Compra de Pasadena
Dilma negou que tivesse conhecimento de todos os detalhes da operação para a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, como sugere áudio gravado por Bernardo Cerveró, filho de Nestor Cerveró. Na gravação, Delcídio diz que, em delação, Cerveró afirmou que Dilma sabia de todos os movimentos para a compra da refinaria de Pasadena, que causou prejuízo milionário à Petrobras. A compra da refinaria é investigada na Operação Lava-Jato e também foi um dos alvos da CPI da Petrobras. Delatores afirmaram que houve pagamento de propina nessa aquisição. Dilma, que presidia o Conselho de Administração da Petrobras, sempre disse que foi favorável à compra porque recebeu de Cerveró um relatório “tecnicamente falho”.

— Eles vêm falando isso durante a CPI, se vocês se lembrarem. Eu acho que é uma forma de tentar confundir as coisas. Não só eu não sabia de tudo, como, quando foi detectado, e isso todos os conselheiros que estavam comigo no Conselho (de Administração) da Petrobras podem atestar, que quando foi detectado que ele (Cerveró) não tinha dado todos os elementos para nós, eu fui uma pessoa que insisti com ele que deveria saber. Acho que ele pode não gostar muito de mim.

André esteves e BTG Pactual
Perguntada se tinha alguma proximidade com o ex-presidente do banco BTG Pactual, André Esteves, que também foi preso na semana passada na Operação Lava-Jato, Dilma disse que conhece bem pouco o banqueiro.

— No que se refere ao preso, que é CEO do BTG, eu conheci muito pouco. Não tive relações sistemáticas com ele, conheci bem pouco — afirmou, confirmando que o conheceu em fóruns, em Davos, na Suíça, mas sem citar seu nome.

A presidente também foi perguntada se o BTG Pactual participava de projetos de infraestrutura do governo federal e disse desconhecer qualquer projeto com o banco.

— Que eu saiba o banco não estava envolvido em projeto de infraestrutura. Não conheço — afirmou a presidente.

Dilma reconheceu o impacto das prisões no mercado, mas disse que não pode mensurá-la:

— Acho que sempre terá impacto a prisão de um senhor tão importante quanto o CEO de um banco tão importante quanto o BTG.

Cunha e impeachment
Sobre a possibilidade de o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), finalmente decidir sobre a abertura de processo pelo seu impeachment na Casa, Dilma afirmou que não acredita que isso ocorrerá.

— Essa ameaça vem sendo sistematicamente feita, inclusive, até algum tempo atrás, com endosso da oposição, que usava o presidente da Câmara (Cunha) para fazer esse processo.

Segundo ela, nada disso impediu as negociações de projetos do governo no Congresso, nem a manutenção dos seus vetos. Perguntada se voltaria ao Brasil em meio ao risco de a decisão de Cunha ser apresentada, a presidente foi taxativa: — Vamos voltar para o Brasil como saímos. A presidente afirmou que, se isso acontecer, o governo poderá tomar as medidas necessárias e protestar. Mas garantiu que não trabalha com esta hipótese.

— Se ele decidir, o governo vai protestar, tomar as medidas. Não se trabalha com essa hipótese. Vamos ver. Por que não decidiu há seis meses?

Governo parado
Na véspera de o governo federal parar em função do chamado “shutdown”, mecanismo que corta todas as despesas não obrigatórias, a presidente Dilma Rousseff afirmou que o governo federal tomará todas as medidas para evitar transtornos e complicações à população:

— O governo fará uma avaliação e tomará as medidas necessárias também para não comprometer a vida da população brasileira .

Perguntada pelo GLOBO qual é o plano B, ou que ações o Executivo pretende tomar para reduzir os impactos dos novos cortes de gastos sobre o funcionamento da máquina do governo, ela não deu detalhes:

— Não vou dizer para você o que nós fazemos fazer, porque nós estamos em processo permanente de avaliação — afirmou a presidente Dilma.

Para Delcídio, posição do PT sobre sua prisão é ‘covardia atroz’

• A pessoas que o visitaram na PF, senador se queixou do abandono do seu partido e de Lula

Fernanda Krakovics - O Globo

Sentindo-se abandonado, principalmente pelo ex-presidente Lula e pelo PT, o senador Delcídio Amaral (PT-MS) classificou de “covardia atroz”, segundo pessoas próximas, a nota divulgada pelo presidente de seu partido, Rui Falcão, negando-lhe solidariedade.

Pessoas que visitaram o senador na Polícia Federal em Brasília, onde está preso, afirmaram que ele está “muito aborrecido” com Lula, devido aos relatos de que o ex-presidente considerou “coisa de imbecil” e “grande burrada” suas movimentações para tentar obstruir as investigações da Lava-Jato. O Instituto Lula negou que o ex-presidente tenha feito tais comentários.

— Deixe estar, os dias se sucedem — afirmou um interlocutor de Delcídio.

Esse auxiliar negou, porém, que o exlíder do governo esteja negociando uma delação premiada.

Os únicos senadores que telefonaram para a mulher de Delcídio, Maika, prestando solidariedade foram o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDBAL), e o ex-senador José Sarney (PMDBMA), outro motivo de ressentimento.

Delcídio falava com Lula rotineiramente. Quando o ex-presidente ia a Brasília, o senador costumava encontrá-lo no hotel. Os dois também conversavam com frequência por telefone.

No dia da prisão de Delcídio, determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), antes que o Senado tomasse uma posição oficial sobre o assunto, Falcão divulgou nota afirmando que o PT “não se julga obrigado a qualquer gesto de solidariedade”, porque as ações atribuídas a Delcídio não têm “relação com sua atividade partidária”. Ontem, no site do PT, Falcão disse que é “inquestionável” que Delcídio “traiu a confiança do PT, do governo Dilma e frustrou seu eleitorado”.

Rede entra com ação para cassar mandato de ex-líder do governo

• Marina assinará a representação contra Delcídio; DEM e PSDB devem tomar mesma iniciativa

- O Globo

-BRASÍLIA- A representação que a Rede Sustentabilidade vai protocolar hoje ao meio-dia no Conselho de Ética, pedindo abertura de processo para cassação do mandato do senador Delcídio Amaral (PT-MS), será assinada pela presidente do partido, Marina Silva. DEM e PSDB também devem representar contra Delcídio no Conselho, mas não há definição se assinarão a representação da Rede ou entrarão com outra ação.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AC) articula para que o PPS do senador José Medeiros (MT) assine a representação do seu partido.

Na última quinta-feira, os líderes do DEM e do PSDB, Ronaldo Caiado (GO) e Cássio Cunha Lima (PB), decidiram esperar até hoje para ver se o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), aceitará o pedido para enviar ao Conselho de Ética a comunicação da decisão do plenário de manter a prisão de Delcídio.

O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), que participará sexta-feira da reunião da Executiva Nacional do partido, deverá votar pela expulsão de Delcídio do PT. Sua posição será alinhada à do presidente da sigla, Rui Falcão. A decisão foi tomada pela bancada petista no Senado ontem. A avaliação dos senadores é que, diante da gravidade dos fatos contra Delcídio, será inevitável a instalação de processo no Conselho de Ética pela cassação de seu mandato.

Pedido de inquérito reúne Delcídio e Renan na mesma investigação

• Solicitação é sigilosa; Jader Barbalho e Aníbal Gomes também são alvo

Carolina Brígido - O Globo

BRASÍLIA - O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu a abertura de inquérito sigiloso contra os senadores Delcídio e Renan Calheiros. -BRASÍLIA- O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedido de abertura de mais dois inquéritos na Operação Lava-Jato. O primeiro é contra o senador Delcídio Amaral (PT-MS), o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDBAL), e o senador Jader Barbalho (PMDB-PA). O segundo é contra Renan, Jader e o deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE). O grupo é suspeito de ter cometido corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ambos os pedidos estão tramitando em sigilo.

Caberá ao ministro Teori Zavascki, relator dos processos da Lava-Jato no tribunal, decidir se atende ao pedido do procuradorgeral. A praxe é a abertura dos inquéritos quando há pedido do chefe do Ministério Público Federal (MPF). Caso isso se confirme, será o segundo inquérito aberto no STF contra Delcídio por indícios de participação no esquema de desvios de dinheiro da Petrobras. O primeiro foi aberto na semana passada e levou a sua prisão. Renan responderá ao quinto inquérito na Lava-Jato no STF e Aníbal, o quarto. Em relação a Jader, será o primeiro inquérito que ele responderá sobre o assunto no tribunal. Os pedidos de abertura de inquérito chegaram ontem ao STF.

Não foram divulgados documentos com detalhes sobre as investigações. Há somente a informação de que o pedido foi feito com base em uma petição que tramita de forma oculta no tribunal. A petição trata de uma delação premiada — que, por lei, deve ser mantida em sigilo. Uma das delações homologadas recentemente foi a do lobista Fernando Baiano.

No STF, 68 investigados
Se as novas investigações forem abertas, haverá no STF 35 inquéritos sobre a Lava-Jato. Serão 68 investigados. Há 23 deputados, 14 senadores, um ministro de Estado e um ministro do Tribunal de Contas da União. A expectativa é de que o rol de investigados seja ainda maior, porque a Corte mantém investigações ocultas, sem disponibilizar sequer o nome do suspeito ao público.

Por meio da assessoria de imprensa, Renan negou irregularidades. “O presidente do Senado, Renan Calheiros, reitera que suas relações com as empresas públicas nunca ultrapassaram os limites institucionais. O senador já prestou os esclarecimentos necessários, mas está à disposição para novas informações, se for o caso. O senador acrescenta ainda que nunca autorizou, credenciou ou consentiu que seu nome fosse utilizado por terceiros”, diz a nota. O GLOBO não conseguiu falar com Aníbal Gomes nem com seu advogado, Gustavo Souto.

A defesa de Delcídio informou que ele só vai se manifestar quando tiver acesso aos autos. Delcídio está preso na Superintendência da Polícia Federal desde a última quarta-feira. Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, gravou uma conversa que teve com Delcídio, o advogado Edson Ribeiro e o chefe de gabinete do senador, Diogo Ferreira. Nela, o senador promete ajuda para conseguir a liberdade de Cerveró, fala em auxílio financeiro e planeja até mesmo uma fuga.

Jader Barbalho disse que não poderia comentar porque ainda não tomou conhecimento:

— Eu desconheço totalmente. Não sei do que se trata. Então não posso me manifestar. Só depois que tiver conhecimento é que posso me manifestar. (Colaboraram André de Souza e Cristiane Jungblut)

Cunha ameaça PT, que repensa apoio à cassação do deputado

Cunha ameaça impeachment, e petistas discutem salvá-lo

Marina Dias, Ranier Bragon, Gustavo Uribe e Valdo Cruz – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ameaçando deflagrar processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff caso o PT não ajude a salvar o mandato dele, os petistas, que vinham sinalizando votar contra Cunha, discutem a possibilidade de, "em nome da governabilidade", rever a posição e votar para enterrar o processo de cassação.

A ameaça de Cunha de dar seguimento ao impeachment foi feita em almoço com o vice-presidente, Michel Temer, quando, segundo a Folha apurou, ele disse que iria esperar o comportamento dos três deputados petistas no Conselho de Ética para só então decidir o que fará com os pedidos de impeachment.

Segundo interlocutores de Cunha, ele não descarta a possibilidade de acatar um pedido de impedimento da presidente se os petistas votarem contra ele.

Temer, por sua vez, afirmou que "evitou a história de impeachment" no almoço. Cunha também nega ter discutido o tema.

Em conversas reservadas, o presidente da Câmara acusou o Planalto de estar por trás da acusação de que ele teria recebido R$ 45 milhões do BTG Pactual para incluir mudança em uma medida provisória. Voltou a dizer que foi tudo "armação".

O placar no Conselho de Ética, que se reúne nesta terça (1º), tem grande chance de ser apertado. Caberá aos 21 integrantes do colegiado dizer se há ou não indícios mínimos para prosseguir com o processo contra o peemedebista.

O relatório de Fausto Pinato (PRB-SP) é pela continuidade do processo. O PT tem três integrantes titulares no Conselho, votos considerados cruciais para pender a balança para um dos lados.

"Vamos analisar amanhã [nesta terça] todo o cenário, sabemos tudo o que está em jogo e, naturalmente, sabemos que somos uma bancada de governo", disse o deputado Zé Geraldo (PA), um dos petistas no conselho.

Ele lembra que o quadro de instabilidade política na Câmara e no Senado ameaça a votação de projetos importantes do ajuste fiscal, o que deve ser levado em conta.

"Há instabilidade na Câmara, agora também no Senado. Temos apenas 20 dias para votar o Orçamento, então temos que analisar o que significará a nossa posição no conselho."

Outro dos petistas do órgão, Léo de Brito (AC) afirmou, porém, que pretende manter a posição de votar pela continuidade do processo.

A bancada petista passou o dia em conversas com os ministros Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e Jaques Wagner (Casa Civil) para definir uma posição.

O Palácio do Planalto pediu a deputados do partido que convençam os três petistas a não entrarem em conflito direto com Cunha.

O receio é de que uma instabilidade nas duas Casas inviabilize a votação da meta fiscal de 2015 e a prorrogação da DRU (Desvinculação de Receitas da União), o que poderá agravar ainda mais a crise política e retomar a ameaça de um impeachment.

O núcleo de ministros próximos a Dilma reconhece que, apesar do esforço do governo, a pressão da opinião pública sobre os três petistas poderá levá-los a se posicionarem favoravelmente ao prosseguimento do processo de afastamento de Cunha.

Matemática
A contabilidade de aliados e adversários do peemedebista nesta segunda (30) apontava que Cunha poderia receber 10 votos favoráveis, mas trabalha para obter os três do PT e o de Paulo Azi (DEM-BA).

Caso consiga barrar o relatório de Pinato, aliados de Cunha podem tentar evitar que haja recurso contra essa decisão ao plenário da Câmara.

Para isso, o novo relator do caso, a ser escolhido entre o grupo que votou contra Pinato, defenderia um texto pedindo punição branda, como censura escrita.

Impeachment interfere em processo de Cunha no Conselho de Ética

• Petistas se reunirão para definir posição e dizem que país é mais importante que deputado

Júnia Gama, Isabel Braga e Leticia Fernandes - O Globo

-BRASÍLIA- Na véspera da data prevista para a votação do relatório pela admissibilidade do processo de cassação do mandato do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o Conselho de Ética está dividido e os votos do PT, com três deputados no colegiado, serão determinantes para a decisão. Se até a semana passada os três petistas diziam que votariam pela continuidade do processo, ontem, um deles, Zé Geraldo (PT-PA), afirmou que o grupo fará uma nova reunião hoje para avaliar qual a melhor posição. A pressão sobre os deputados aumentou ontem, quando Cunha, alvo de nova acusação do Ministério Público, disse que adiaria a decisão sobre os pedidos de impeachment da presidente Dilma Rousseff, que prometera entregar até o fim de novembro.

Em coletiva para rechaçar que teria feito emenda a uma MP para beneficiar o BTG Pactual, Cunha chegou a insinuar que o vazamento de uma anotação, no domingo à noite, que o ligava a um suposto benefício ao banco, poderia estar relacionado às declarações que deu na semana passada sobre a decisão dos pedidos de impeachment. Indagado se iria decidir ainda ontem sobre os pedidos, o presidente da Câmara disse que não queria confundir essa decisão com o assunto da emenda.

— Vou me debruçar sobre isso, mas primeiro esse outro assunto tem que ficar muito claro para não confundir minha decisão. Eu acho até que o fato de eu ter anunciado que ia decidir hoje (ontem) pode ter motivado isso. É importante a gente aguardar. Então, provavelmente, eu não decidirei hoje (ontem) em função disso. Mas é minha intenção decidir — justificou o presidente.

Os aliados do presidente da Câmara apostam que, fragilizados, os petistas ajudem a garantir a derrota do relatório de Fausto Pinato (PRB-SP). O impeachment continua sendo usado como arma por aliados e pelo presidente.

Apenas um dos três petistas, Léo de Brito (PT-AC), confirmou ontem que votará pela admissibilidade do processo. Procurado, o terceiro deputado do PT no conselho, Valmir Prascidelli (SP), não foi localizado. Preocupado com a situação do governo depois da prisão do senador Delcídio Amaral (PT-MS), Zé Geraldo disse ontem ao GLOBO que os três petistas ficarão “confinados” durante toda a manhã de hoje decidindo um voto unificado. O deputado acredita que, agora que o Senado também está fragilizado, a prioridade é aprovar os projetos de interesse do governo em detrimento de confrontar Cunha.

— A essa altura do campeonato, Eduardo Cunha é coisa pequena. Temos que pensar no Brasil. Mesmo que a gente vote pela abertura, isso só vai ser resolvido em maio. Se o Supremo quiser, pode afastá-lo imediatamente. O que é melhor para o Brasil, impeachment ou o Eduardo Cunha? — questionou, resumindo o humor dos petistas: — O que se pode dizer é que os fatos da semana passada nos colocam a refletir um pouco mais.

Três votos indefinidos
Nas contas de aliados de Cunha, ele teria nove votos certos dos onze necessários para engavetar o processo. Por este motivo, precisaria apenas de dois votos do PT para obter maioria. Os votos tidos como certos seriam dos dois deputados do PP, dois do PR, dois do PMDB, um do PSC, um do Solidariedade e outro do PSD.

Há, porém, três votos sobre os quais há dúvidas. O deputado Bebeto (PSB-BA), que substituirá Júlio Delgado (PSB-MG) — que está em missão oficial em Israel —, é uma incógnita. Apesar de o PSB ter uma posição pelo afastamento de Cunha e de, segundo Delgado, ter combinado com o colega o voto pela continuação do processo, Bebeto é ligado à Força Sindical na Bahia, entidade que defende o impeachment da presidente.

Segundo o presidente da Força Sindical, deputado Paulinho da Força (SD-SP), a tendência é que Bebeto vote para salvar Cunha caso haja uma sinalização do presidente da Casa de que dará prosseguimento a um dos pedidos de impeachment de Dilma. Paulo Azi (DEM-BA), apesar de dizer a aliados que tende a votar pela continuidade do processo, poderia voltar atrás pelo mesmo motivo de Bebeto.

Manobra por adiamento
Há ainda a possibilidade de o conselho não votar hoje. Aliados de Cunha podem prolongar os discursos após a apresentação da defesa pelo advogado Marcelo Nobre, até que a ordem do dia na Câmara seja aberta. Nesta hipótese, o presidente do conselho, José Carlos Araújo (PSD-BA), disse que já reservou plenário para assegurar a votação no dia seguinte.

Segundo relatos, Cunha estava otimista sobre à possibilidade de escapar da admissibilidade do processo. Ontem, ele almoçou com o vice-presidente Michel Temer, a quem relatou acreditar ter votos suficientes para arquivar o processo nesta fase preliminar. Cunha aproveitou para reclamar do governo, a quem atribui a denúncia, de que teria recebido R$ 45 milhões para favorecer o BTG Pactual na aprovação de uma MP.

Temer é o interlocutor entre Cunha e o governo, por meio do ministro da Casa Civil, Jaques Wagner. Ontem, Wagner pediu notícias a Temer sobre o impeachment, mas ouviu que o assunto não havia sido tratado. Um episódio revelado ontem pelo jornal “A Tarde” contribuiu para aumentar o mal-estar entre Cunha e o governo. Segundo a publicação, em evento na Bahia, a mulher de Wagner disse ao presidente do Conselho de Ética para cassar “aquele corrupto do Eduardo Cunha”.

Cunha vincula impeachment a voto de petistas

• Peemedebista ameaça com retaliação, governo pressiona e deputados rediscutem o apoio à cassação do presidente da Câmara no Conselho de Ética

Tânia Monteiro, Isadora Peron, Daniel Carvalho e Igor Gadelha - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deu indicações ao Planalto de que, se os três petistas que integram o Conselho de Ética da Casa votarem pela abertura do processo por quebra de decoro, ele vai retaliar e dar prosseguimento a pedidos de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Diante disso, o governo intensificou a pressão sobre os petistas, apesar de, oficialmente, alegar que não irá interferir nos votos dos deputados.

Nesta terça-feira, 1.º, o Conselho de Ética se reúne para decidir se instaura ou não o processo contra Cunha. Os deputados petistas Valmir Prascidelli (SP), Zé Geraldo (PA) e Léo de Brito (AC), representantes do partido no colegiado, têm alegado ao Planalto que enfrentam dificuldades em suas bases para votar a favor do peemedebista. Mas vão rediscutir o posicionamento pela manhã, antes da sessão.

Se os petistas atenderem ao pedido de Cunha, ele já informou a interlocutores da presidente que segura o impeachment. “Está nas mãos deles. Tudo depende do comportamento do PT”, teria dito Cunha, segundo interlocutores da presidente.

Aliados do presidente da Câmara dizem que ele tem garantidos até agora nove dos 11 votos de que precisa no Conselho de Ética. Os três votos do PT são, portanto, considerados fundamentais para ele se livrar do processo de cassação.

Após ter seu nome envolvido em mais um esquema de suposto recebimento de propina, Cunha decidiu nesta segunda-feira, 30, prorrogar duas CPIs que constrangem o governo, a do BNDES e a dos Fundos de Pensão. Cunha disse a aliados que definirá nesta terça-feira o prazo para prorrogação das comissões.

‘Conspiração’. O peemedebista almoçou nesta terça-feira com o presidente em exercício, Michel Temer, no Palácio do Jaburu. Mais uma vez, se queixou do que classifica como uma “armação” do Planalto e do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra ele. O presidente da Câmara se referia a papéis recolhidos pelos investigadores da Procuradoria-Geral da República que apontariam suposto pagamento de R$ 45 milhões em propina ao deputado, para alterar uma medida provisória que beneficiaria o banco BTG Pactual, de André Esteves. O banqueiro foi preso na quarta-feira passada por suspeita de tentar atrapalhar as investigações da Lava Jato.

Cunha, que nega ter recebido vantagens indevidas, disse que suas emendas foram contrárias aos interesses do banco e apresentou a Temer, durante o almoço, os documentos em sua defesa. Ele chamou essa nova denúncia contra ele de “conspiração”, que teria o “dedo do governo” e, nesse caso, considera que, além de Janot, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, teria responsabilidades no episódio.

De acordo com o material colhido pelos investigadores da Lava Jato, depois que “tudo deu certo”, Cunha e o banqueiro, entre outros, participaram de um jantar de comemoração. O objetivo descrito no texto da MP era enquadrar as instituições em regras internacionais mais rígidas e prepará-las para enfrentar a crise econômica de 2008. / Colaborou Daiene Cardoso

Pauta mistura meta fiscal e impeachment

Por Andrea Jubé e Vandson Lima – Valor Econômico

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff tenta mobilizar a base aliada para aprovar, entre hoje e amanhã, a revisão da meta fiscal de 2015. A votação ocorre em meio a dois picos da turbulência política. Cunha avisou ontem o vice-presidente, Michel Temer, que despachará o requerimento de impeachment de Dilma conforme os votos do PT no Conselho de Ética. Emissários do Planalto pressionam os petistas a votar a favor de Cunha, mas a bancada resiste e está dividida entre a pressão do governo e a opinião pública.

Governo tenta votar revisão da meta
Em uma semana de votações determinantes para os rumos da crise política, a presidente Dilma Rousseff reunirá os líderes e tentará mobilizar a base aliada para aprovar, entre hoje e amanhã, a revisão da meta fiscal de 2015. A votação ocorre em meio a dois picos da turbulência política: a prisão do líder do governo Delcídio Amaral (PT-MS), que ainda ecoa no Senado, e a reunião do Conselho de Ética, que pode definir hoje o destino do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) - e junto com o dele, o de Dilma.

Cunha avisou ontem o vice-presidente Michel Temer, em um almoço no Palácio do Jaburu, que despachará o requerimento de impeachment de Dilma conforme os votos do PT no Conselho de Ética. A informação foi confirmada ao Valor por dois pemedebistas que mantêm interlocução com ambos. Os eventuais votos do PT de apoio a Cunha abreviariam o processo que pede a cassação de seu mandato por quebra de decoro parlamentar. Se o processo contra Cunha avançar no Conselho de Ética e chegar ao plenário da Câmara, reduzem as chances de absolvição. O governo pressiona os petistas a votarem a favor de Cunha, mas a bancada resiste.

Um auxiliar de Dilma disse ao Valor que é preciso dar um basta à "espada" que Cunha mantém sobre a cabeça da presidente. "É melhor ele [Cunha] despachar logo e acabarmos logo com isso", desabafou. É nesse ambiente que Dilma reunirá hoje os líderes governistas nas duas Casas para reforçar o apelo pela aprovação do projeto que altera a meta fiscal de 2015 para um déficit primário de R$ 51,8 bilhões, que pode chegar a R$ 119,9 bilhões se incluída a compensação pelas "pedaladas fiscais".

Na semana passada, a prisão de Delcídio levou ao cancelamento da sessão que apreciaria matéria e obrigou o governo a editar um decreto contingenciando R$ 11,2 bilhões, sendo R$ 500 milhões em emendas impositivas - o que deixou contrariados deputados e senadores.

A aliados, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), têm dito que defenderão a revisão da meta pela "responsabilidade com o país", mas estariam cansados de gastarem capital político para salvar um governo "caindo aos pedaços".

Antes de votarem a mudança da meta, será preciso apreciar quatro vetos presidenciais. O principal é o veto ao projeto do senador José Serra (PSDB-SP), que eleva de 70 para 75 anos a aposentadoria compulsória dos servidores públicos. O governo liberou a bancada para votar como quiser. O líder do PT, senador Humberto Costa (PE), disse que apoiará a derrubada da maioria dos vetos. "Isso facilita alguns processos. Apesar do clima de perplexidade e de constrangimento que estamos vivendo, o país não pode parar", argumentou.

Uma fonte do Planalto disse ao Valor que o governo apelará para o "senso de responsabilidade" dos parlamentares para que aprovem a revisão da meta. Isso permitirá a revogação do decreto de contingenciamento. Ontem pela manhã os ministros da coordenação política - Jaques Wagner (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) - reuniram-se com o assessor especial Giles Azevedo para traçar a linha de ação.

Jaques Wagner reuniu-se à noite com Michel Temer, enquanto Ricardo Berzoini convocou os líderes no Senado, onde o clima ainda é de apreensão após a prisão de Delcídio e os imprevisíveis rumos da Operação Lava-Jato. Para agravar o cenário, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de mais dois inquéritos na Lava Jato, tendo como alvos Renan, o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) - um aliado próximo ao Planalto -, e o próprio Delcídio.

Além da apreensão com a Lava-Jato, os senadores reclamavam da falta de uma estratégia objetiva às vésperas da votação. Nem mesmo a promessa de liberação de emendas, expediente comum nessas negociações, era cogitada. "Negam-se a falar de R$ 1 milhão para hospital, não tem como fazer a cabeça de ninguém numa situação dessa", reclamou um senador.

Janot vai pedir abertura de inquérito sobre Pedro Paulo

• Base será a Lei Maria da Penha, por agressão de secretário de Paes à ex-mulher

Jailton de Carvalho e Marco Grillo - O Globo

-BRASÍLIA E RIO- O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, vai pedir abertura de inquérito contra o secretário municipal de Coordenação de Governo do Rio, Pedro Paulo Carvalho, pela agressão à ex-mulher Alexandra Marcondes. O pedido será apresentado ainda nesta semana ao Supremo Tribunal Federal (STF), e terá como base a Lei Maria da Penha.

Os autos das investigações, que começaram no Rio, foram encaminhados à PGR há duas semanas. Pedro Paulo é o indicado do prefeito do Rio, Eduardo Paes, para sucedê-lo. O episódio levou o secretário a dar uma entrevista, ao lado da exmulher, para dizer que a agressão ocorrida em 2010 e registrada na polícia não passou de briga de casal.

Em depoimento à Polícia Civil, no mesmo ano, Alexandra afirmou que o secretário ameaçou “sumir” com a filha do casal. Um boletim de ocorrência registrado por Alexandra, em 2008, relata outro caso de agressão, dentro de um carro.

Ameaça a morador
Pedro Paulo também é acusado de ter ameaçado e dado um tapa em um morador do Morro Camarista Méier, em agosto do ano passado, durante um evento de sua campanha a deputado federal. O boletim de ocorrência, o quarto a surgir envolvendo episódios de violência do secretário, foi registrado na 26ª DP (Todos os Santos). O teor do registro na Polícia Civil foi revelado ontem pela revista “Veja” e confirmado pelo GLOBO. Pedro Paulo diz que desconhece o episódio.

O fotógrafo André Luís Bezerra diz que Pedro Paulo estava em campanha na comunidade quando alguns moradores afirmaram que ele fazia “propaganda enganosa”, ao dizer que era o responsável por obras de pavimentação em três ruas. De acordo com os moradores, as intervenções tinham sido feitas a pedido de outro deputado.

Ao perceber que Bezerra filmava tudo, Pedro Paulo se irritou e, segundo o depoimento, determinou que as imagens fossem apagadas. “Pedro Paulo me ordenou, com o dedo na minha cara e dizendo: ‘apaga essa porra, você está maluco? Você quer me ferrar’”, diz um trecho do relato. O fotógrafo conta que levou um tapa no peito e que o secretário arrancou o celular da sua mão. Bezerra, que colabora com textos e fotos para algumas publicações e se define como “repórter comunitário”, mostrou uma carteira da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).

— Ele me disse que ia jogar o telefone no chão, mas eu pedi para ele me devolver e disse que ele estava agredindo um profissional de imprensa. Quando peguei o celular de volta, falei que era comprado com meu trabalho e não com dinheiro sujo da política — disse Bezerra ao GLOBO.

Em seguida, o morador diz que foi cercado por assessores e obrigado a apagar a gravação. Antes de ir embora, Pedro Paulo ainda fez ameaças, segundo Bezerra.

— Ele me disse: “Toma cuidado, porque você mora aqui (no Camarista Méier) e tem família aqui”. E se fosse o contrário, se eu tivesse dado um tapa nele? Minha vida estaria virada do avesso, eu poderia até estar preso — afirmou.

O caso foi registrado como tentativa de agressão e ameaça. Bezerra disse que o delegado pediu a ele que levantasse a camisa e, como não constatou uma marca evidente, afirmou que não poderia registrar o episódio como lesão corporal. Pedro Paulo estava acompanhado do administrador regional do Grande Méier, André Ferraz, então candidato a deputado estadual. Segundo Bezerra, Ferraz também teria feito ameaças.

Secretário nega episódio
O inquérito envolvendo Pedro Paulo foi remetido à PF e, posteriormente, à Procuradoria-Geral da República, já que ele é deputado federal. Atualmente, o caso está sendo analisado pela assessoria jurídica criminal do gabinete de Janot.

Em nota, Pedro Paulo afirmou que “desconhece e nunca foi notificado sobre o episódio”. Ferraz não foi encontrado até o fechamento desta edição.

Governo do Rio parcela salário de servidores

• Medida atinge 47% do funcionalismo estadual, que recebe acima de R$ 2 mil; diferença será paga em 9 de dezembro

Idiana Tomazelli e Vinicius Neder - O Estado de S. Paulo

RIO - O governo do Estado do Rio de Janeiro anunciou nesta segunda-feira, 30, o parcelamento dos salários dos servidores ativos e inativos referentes ao mês de novembro. Quem ganha até R$ 2 mil líquidos não será atingido, mas funcionários que recebem acima desse valor receberão a diferença apenas em 9 de dezembro.

Com a medida, 53% dos servidores estaduais receberão integralmente seus vencimentos nas datas previstas, nas próximas terça e quarta-feiras. Os outros 47% receberão em duas etapas. Já os 90.688 pensionistas do Estado não foram atingidos pela medida e já receberam integralmente nas datas previstas, de 24 a 30 de novembro, de acordo com as secretarias de Fazenda e de Planejamento e Gestão e o Rioprevidência.

“A nova data estabelecida para a folha de novembro é resultado da queda na arrecadação do Estado, assim como do agravamento da crise econômica do País. O Rio de Janeiro atravessa um momento de graves dificuldades financeiras, provocadas pela forte desaceleração da economia brasileira, a queda nos preços do petróleo e a diminuição da receita com royalties”, afirma o governo do Rio em comunicado oficial.

Na semana passada, o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) já havia afirmado que a receita do Estado teve queda real de 16% em outubro ante o mesmo período do ano passado e que haveria adiamento de pagamentos a fornecedores para pagar pessoal. Além disso, a arrecadação com royalties deve ser R$ 6 bilhões menor do que o previsto no início deste ano.

A suspensão dos repasses a fornecedores deixou cerca de 20 mil terceirizados sem dinheiro e provocou a interrupção das aulas na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

A folha de pagamento de novembro representa uma despesa total de R$ 1,9 bilhão, contemplando um total de 505.806 vínculos, sendo 248.419 ativos, 166.699 inativos e 90.688 pensionistas. Mesmo que um mesmo servidor tenha mais de um vínculo, a divisão do pagamento será feita pelo vínculo.

O Rio de Janeiro não é o primeiro Estado a parcelar salários. O Rio Grande do Sul atrasou o pagamento da dívida com a União, além de também parcelar os vencimentos dos servidores vinculados ao Executivo diversas vezes este ano, devido à falta de dinheiro em caixa.

Marqueteiro e caciques do PMDB querem outro candidato a prefeito

• A divulgação de novo caso de agressão e as vaias em evento no domingo convenceram lideranças do partido de que não dá para sustentar candidatura de Pedro Paulo Teixeira

Fernando Molica – O Dia

RIO - A divulgação de novo caso de agressão atribuído a Pedro Paulo Teixeira (o registro foi feito por um fotógrafo) e as vaias que ele recebeu domingo, em Madureira, convenceram os caciques do PMDB-RJ de que não dá para sustentar sua candidatura a prefeito.

Nem mesmo Renato Pereira, marqueteiro preferido dos peemedebistas fluminenses, acredita numa recuperação de Pedro Paulo. Ele já comentou com lideranças do partido que alguém precisa convencer Eduardo Paes da inviabilidade eleitoral de seu escolhido.

A bola está com Paes
Com receio de melindrar Paes, a cúpula peemedebista continua decidida a fazer com que a saída de Pedro Paulo da disputa seja definida pelo prefeito. “Vamos deixar o tempo falar”, diz um importante peemedebista.

Sem aliança
A direção nacional do PSB descarta a possibilidade de o senador Romário apoiar Pedro Paulo ou qualquer outro peemedebista para a prefeitura.

Economia tem contração recorde de 1,7% no 3º tri e de 3,2% no ano

• Dados frente ao trimestre anterior são os piores da série histórica, iniciada em 1996

Por Daiane Costa, Lucianne Carneiro e Lucas Moretzsohn – O Globo

RIO - A economia brasileira encolheu 1,7% no terceiro trimestre, na comparação com o segundo trimestre, informou o IBGE nesta terça-feira. É a maior contração para um terceiro trimestre da série histórica do IBGE, de 1996, e a terceira retração seguida, prolongando o ambiente recessivo, que também já é o mais longo desde o governo Collor.

Analistas esperavam queda de 1,2% frente ao segundo trimestre, de acordo com a mediana das projeções compiladas pela Bloomberg. Em relação ao terceiro trimestre de 2014, o Produto Interno Bruto (PIB) teve contração de 4,5% — a maior contração para um trimestre da série histórica do IBGE — e fechou os nove primeiros meses do ano com perda acumulada de 3,2%, também a maior da série. Em quatro trimestres, o resultado acumulado é de recuo de 2,5%, o pior desempenho de toda a série histórica.

A gerente de Contas Nacionais do IBGE, Claudia Dionísio, destacou a disseminação de taxas negativas no desempenho da economia no terceiro trimestre:

— Em todas as comparações, o resultado do PIB teve taxas negativas no terceiro trimestre. Desde o primeiro trimestre de 2015, temos taxas negativas. Frente ao terceiro trimestre de 2014 e no resultado acumulado em quatro trimestres, a taxa (do terceiro trimestre) acentuou a queda. No geral, as taxas estão mais negativas que nos trimestres anteriores.

Quando se olha a queda recorde de 4,5% do PIB no terceiro trimestre, frente a igual trimestre do ano anterior, todas as atividades pelo lado da produção registraram queda. A indústria teve um tombo de 6,7%, a maior desde o segundo trimestre de 2009, em plena crise financeira internacional, que foi de 8%. E a agropecuária caiu 2% e serviços, 2,9%.

Pelo lado das despesas, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, indicador de investimentos) despencou 15% no terceiro trimestre, frente a igual trimestre do ano anterior — a maior da série histórica —, em razão na queda na importação e na produção interna de bens de capital e também por causa do desempenho negativo da construção civil. O recuo de 6,3% na construção civil, porém, foi menor do que o registrado no trimestre imediatamente anterior, quando ficou em -10,6%.

O consumo das famílias teve queda de 4,5% no terceiro trimestre, frente a igual trimestre do ano anterior. É a terceira queda seguida e a maior desde 1996. Segundo o IBGE, tal resultado se explica pela piora nos índices de inflação, juros, crédito, emprego e renda. Já o consumo do governo recuou 0,4%. No setor externo, no entanto, as exportações avançaram 1,1% e contribuíram para o crescimento da economia, enquanto as importações tiveram queda de 20%. O setor de serviços caiu de 2,9%, a maior da série histórica.

A agropecuária registrou queda de 2% no terceiro trimestre frente ao mesmo período do ano passado, o maior desde o terceiro trimestre de 2013, quando a taxa havia ficado em -2,7%. O IBGE explica que o resultado se deve ao desempenho negativo de produtos que têm safra relevante no período como café, cana de açúcar, laranja, algodão e trigo.

— O peso da agricultura no PIB é de 5,2%, por isso é importante olhar com cuidado para a taxa da agropecuária, que teve queda de 2,4% na comparação com o trimestre imediatamente anterior, mais do que a indústria e os serviços, que pesam 72% no PIB. Há nessa taxa da agropecuária um componente sazonal, então é mais correto olhar para o mesmo trimestre do ano anterior, para ter como base as mesmas culturas — explica Claudia.

Em relação ao segundo trimestre, todas as atividades da economia registraram queda, com exceção da despesa do consumo do governo, que subiu 0,3%. Pelo lado da oferta, a agropecuária caiu 2,4% em relação ao trimestre anterior, acompanhada por um tombo de 1,3% da indústria. Serviços, por sua vez, teve queda de 1%.

No setor industrial, a maior queda foi registrada na indústria de transformação, com retração de 3,1% no trimestre frente aos três meses imediatamente anteriores. Os segmentos da construção civil e extração mineral também apresentaram desempenho negativo no mesmo período, com quedas de 0,5% e 0,2%, respectivamente.

Pelo lado das despesas, o consumo das famílias caiu 1,5% e o investimento recuou 4%, também frente ao segundo trimestre. As exportações tiveram queda de 1,8%, enquanto as importações tiveram contribuição negativa de 6,9%. Ainda nessa base de comparação, a FBCF apresentou queda de 4%, o nono trimestre consecutivo de queda.

A taxa de investimento no terceiro trimestre de 2015 foi de 18,1% do PIB, inferior à do mesmo período de 2014 (20,2%). A taxa de poupança foi de 15% no terceiro trimestre de 2015 (ante 17,2% no mesmo período de 2014).

Revisões
O IBGE revisou os resultados do PIB de três trimestres, na comparação com o trimestre imediatamente anterior. A taxa de crescimento da economia do último trimestre de 2014 foi revisada de 0 para 0,1%, a do primeiro trimestre de 2015 passou de -0,7% para -0,8% e a do segundo trimestre de -1,9% para -2,1%.

Diferentemente do que ocorreu nos dois anos anteriores, a perda de ritmo da atividade em 2015 é acompanhada por uma piora mais forte do mercado de trabalho, o que agrava a crise. Na semana passada, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) contínua apontou que a taxa de desemprego ficou em 8,9% no terceiro trimestre do ano, acima dos 8,3% registrados no trimestre encerrado em junho. A pesquisa inclui dados para todos os estados brasileiros. Essa é a maior taxa de desemprego para o período desde 2012, o início da série histórica da pesquisa. Em igual trimestre de 2014, a taxa de desemprego foi de 6,8%. E indica uma alta do desemprego em todas as regiões do país.

As perspectivas de analistas para este ano não são boas. De acordo com o mais recente boletim Focus, do Banco Central, divulgado nesta segunda-feira, o PIB voltou a ser revisto para baixo pelos analistas: -3,19% em 2015 e -2,04% em 2016. Se a previsão estiver correta, será o primeira retração anual desde 2009 (-0,2%), ano pós-crise global, e o pior resultado em toda a série histórica, iniciada em 1996.

Devo, não nego. Pago em 2016

• Se meta fiscal não for aprovada, governo deve ‘pedalar’ contas de água, luz e aluguel

Martha Beck, Bárbara Nascimento, Danilo Fariello e Geralda Doca – O Globo

BRASÍLIA - A paralisia na máquina pública pode levar o governo a “pedalar” contas de luz, telefone e aluguel. Se a meta fiscal não for aprovada, as contas serão pagas só em 2016. -BRASÍLIA- Para atender à recomendação do Tribunal de Contas da União (TCU), o governo publicou ontem um decreto que corta R$ 11,2 bilhões nas despesas discricionárias (não obrigatórias) da União em 2015. 

Deste total, R$ 10,7 bilhões são gastos do Executivo, e R$ 500 milhões referem-se a emendas impositivas dos parlamentares. O bloqueio afetou principalmente as pastas de Cidades, Transportes e Integração Nacional, e deve paralisar a máquina pública. O Ministério do Planejamento informou que o governo poderá adiar pagamentos de contas de água, luz, telefone e aluguel para 2016, além de atrasar salários de funcionários terceirizados. Se isso acontecer de fato, o governo vai “pedalar” essas despesas para o ano seguinte, prática condenada pelo TCU.

O secretário executivo do Planejamento, Dyogo Oliveira, explicou que, caso a mudança da meta fiscal não seja aprovada pelo Congresso, o governo será obrigado a empurrar algumas despesas de novembro para 2016. Esses gastos ficariam inscritos na rubrica “despesas de exercícios anteriores” e teriam que ser pagos com recursos do Orçamento do ano que vem:

— Água, luz, telefone e aluguéis que têm vencimento em dezembro não serão pagos. Até que haja descontingenciamento, o governo não terá condições de pagar.

Salários dos terceirizados
O secretário explicou ainda que o mesmo pode ocorrer com o pagamento dos terceirizados. A recomendação do governo é que os ministérios priorizem esses pagamentos, mas será uma opção de cada pasta.

— Há um limite de empenho que cada ministério recebeu. Dentro desse limite, ele pode privilegiar algumas despesas. O que recomendamos é que privilegiem essas despesas (com terceirizados). Mas pode ser que atrase (o pagamento).

O decreto foi a saída encontrada pela presidente Dilma Rousseff para evitar problemas com o TCU, por causa da execução de um Orçamento baseado em uma meta ainda não aprovada pelo Congresso. O Tribunal considera que a equipe econômica precisa gerir suas contas de acordo com a meta fiscal já aprovada pelo Congresso, sob pena de descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). No entanto, como as receitas tiveram uma queda vertiginosa em 2015, ela não é mais factível.

Assim, o governo já pediu ao Legislativo uma alteração da meta para acomodar um déficit de até R$ 120 bilhões este ano. O problema é que o texto ainda não foi votado pelos parlamentares. Por isso, o governo decidiu trabalhar com a meta em vigor oficialmente, de superávit primário de R$ 66,3 bilhões. Isso obrigou a equipe a contingenciar toda a sua margem de despesas discricionárias até o fim do ano.

A tesourada também terá repercussão sobre os demais poderes. Oliveira informou que, por uma regra de proporcionalidade, quando há contingenciamento no Executivo, há uma recomendação de que Legislativo e Judiciário também reduzam gastos. Assim, além dos R$ 11,2 bilhões do governo federal, foi sugerido um bloqueio de R$ 1,7 bilhão para os demais poderes, o que eleva o valor total para R$ 12,9 bilhões.

O secretário disse que o governo vai acompanhar de perto os efeitos do contingenciamento. Segundo ele, os ministérios informaram ontem ao Planejamento que têm recursos para manter o bom funcionamento dos serviços à população até o fim desta semana. Oliveira destacou que a expectativa é que, até lá, o Congresso aprove a mudança da meta fiscal de 2015, o que permitirá o desbloqueio dos cortes.

O programa Minha Casa Minha Vida, obras de saneamento e mobilidade urbana também poderão sofrer os efeitos do contingenciamento. Essas áreas estão sob comando do Ministério das Cidades, cujo bloqueio nos gastos foi de R$ 1,9 bilhão. Segundo os técnicos da pasta, há chances de adiamentos de um ou dois meses.

Ciência sem fronteiras poupado
O secretário do Planejamento disse, no entanto, que os bolsistas do Ciência sem Fronteiras não devem sofrer atrasos neste ano. No caso das demais bolsas, no exterior ou nacionais, caberá ao Ministério da Educação definir o pagamento.

Procurados, os ministérios indicavam decisões distintas na tarde de ontem. Em geral, ainda não havia uma definição clara de quais seriam as despesas e projetos que seriam afetados. O Ministério da Integração Nacional, que teve o terceiro maior corte, de R$ 1,1 bilhão, não respondeu ao questionamento sobre o destino do corte e afirmou por meio de nota que “trabalha para aprovação do Projeto de Lei que fará ajustes na meta fiscal”.

Apesar de as pastas ainda não apontarem quais serão os programas atingidos, havia a expectativa de que os cortes sejam mais severos em investimentos diretos do Orçamento, como a construção de rodovias e ferrovias, no Ministério dos Transportes.

Governo prevê votos suficientes para aprovar nova meta fiscal hoje, na página 20

Roberto Freire: Com apoio do PSDB, impeachment volta à ordem do dia

Por: Assessoria do PPS

Em entrevista ao programa ‘Gente Que Fala’, da Rádio Trianon que também transmitido pela AllTV, presidente do PPS afirma que governo Dilma é um ‘desastre para o país’

As recentes sinalizações do PSDB, maior partido de oposição do país, de que o impeachment de Dilma Rousseff se impõe diante da paralisia que toma conta do Brasil são mais um sinal de que o atual governo se aproxima de seus estertores. A avaliação é do deputado federal Roberto Freire (SP), presidente nacional do PPS, que participou nesta segunda-feira (30) do programa “Gente Que Fala”, exibido pela AllTV (www.alltv.com.br) e transmitido pelas Rádios Trianon (AM 740 KHz) e Universal, de Santos (AM 810 KHz), além da TV Guarulhos.

“O PSDB e suas principais lideranças começaram a perceber que é fundamental haver o fim desse governo. O impeachment volta à ordem do dia com toda a força”, afirmou o parlamentar durante o debate comandado pelo apresentador Zancopé Simões e que também contou com a participação do advogado Leonardo Carvalho e do empresário Néfi Tales. “O problema mais grave que vivemos hoje é a crise econômica. Acredito que vamos precisar de um novo governo, até com uma certa urgência.”

Na entrevista, o deputado chamou a atenção para a gravidade da crise que se abate sobre o Brasil e atinge praticamente todos os setores da economia. “Nós estamos produzindo hoje o que produzíamos em 2004. É como se jogássemos fora 11 anos e essa regressão é dramática para o país. Isso vai significar mais de 2,5 milhões de trabalhadores demitidos”, lamentou Freire. “Não há registro na história brasileira de dois anos seguidos de recessão, como teremos com Dilma. Isso é um desastre para o país.”

Instituições funcionam
Questionado sobre a recente prisão do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), ex-líder do governo no Senado, o presidente do PPS destacou o bom funcionamento das instituições e ressaltou o papel desempenhado pelo Senado Federal, que endossou o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) pela detenção do petista.

“Havia o receio de que o Congresso mantivesse o voto secreto e, com isso, relaxasse a prisão de Delcídio. Mas, com todos os seus problemas, as instituições estão funcionando, inclusive o Parlamento”, disse Freire. “Na crise, tanto o Judiciário está funcionando quanto o Legislativo provou que funciona. O Senado e o Congresso, com todos os seus muitos problemas, decidiram, quando chamados, pela democracia e contra a corrupção.”

O deputado aproveitou para defender novamente o parlamentarismo. “Se nós fôssemos parlamentaristas, essa crise política já teria sido resolvida há muito tempo”, afirmou. “E, se o Congresso não respondesse à crise com a presteza devida, você poderia dissolvê-lo e convocar novas eleições.” (Fábio Matos/Assessoria do Parlamentar)

Merval Pereira - Dias decisivos

- O Globo

Os próximos dias serão muito importantes para sabermos se caminhamos para uma mudança de atitudes, ou se continuaremos a conviver com a leniência diante de escândalos que se repetem. Na Câmara, a Comissão de Ética vai decidir no voto se o processo contra Eduardo Cunha prosseguirá, ou se o corporativismo continuará imperando. No Tribunal de Contas da União (TCU), os ministros terão de decidir se estão mais preocupados com suas relações pessoais ou com a credibilidade do TCU, diante da inacreditável candidatura à reeleição do presidente Aroldo Cedraz, que responde a uma sindicância interna por tráfico de influência de seu filho, o advogado Tiago Cedraz, e é ele mesmo investigado na Operação Lava-Jato.

Usando, como sempre, o poder do cargo que exerce para chantagear governo e oposição, Eduardo Cunha adiou mais uma vez a decisão sobre os pedidos de impeachment da presidente Dilma, para aguardar como votarão os três representantes do PT na Comissão de Ética.

Por incrível que pareça, Cunha ainda tem força na comissão, e, se o PT ajudar, pode se safar da investigação amanhã mesmo. Como a desfaçatez nunca é demais, seus apoiadores estão tentando resolver a questão negociando uma advertência por escrito como uma punição a Cunha.

Nos bastidores, Cunha deixa espalhar a ideia de que depende da atitude dos petistas sua disposição de acatar o pedido de impeachment da presidente. A pressão social sobre os três representantes do PT está grande, mas não é maior do que a pressão interna do partido, que quer um tratamento brando a Cunha em troca da não aceitação do impeachment.

Uma típica troca de favores que reina no Congresso em detrimento de decisões em favor da sociedade. Mas o Congresso, historicamente, sempre se mostrou muito sensível à pressão social, o que ficou evidente na votação sobre a prisão do senador Delcídio do Amaral.

Da mesma maneira que os senadores receberam e-mails e mensagens pelas mídias sociais, é previsível que os deputados membros da Comissão de Ética sejam pressionados pelos eleitores.

Com relação ao TCU, a mesma pressão está acontecendo contra a recondução à presidência de Cedraz. As associações de procuradores de contas, auditores e servidores dos Tribunais de Contas lançaram uma nota contra a sua reeleição, e Júlio Marcelo, procurador do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas, em sua página no Facebook, lançou um libelo contra Cedraz, lembrando que o TCU precisa ter credibilidade para fazer seu trabalho.

Logo agora que o TCU cresceu às vistas da sociedade com o trabalho que fez sobre as pedaladas fiscais, a instituição, por puro corporativismo, tende a reconduzir à presidência um investigado na Lava-Jato. Também a ONG Contas Abertas divulgou um vídeo na internet com declarações contra a recondução de Cedraz de seu secretário-geral, Gil Castello Branco.

O ministro está na mira de uma sindicância interna da Corte e de investigações da própria Lava-Jato. Os comentários de Júlio Marcelo foram compartilhados pelo juiz Sérgio Moro e pelo procurador chefe da forçatarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol. O procurador Júlio Marcelo ressalta em sua nota no Facebook que, no âmbito da Lava-Jato, existe importante colaboração entre o TCU e o Ministério Público. E depende basicamente do presidente do TCU dar apoio a essa colaboração, priorizando a Lava-Jato e colocando um número suficiente de auditores no trabalho de análise das provas compartilhadas.

De um total de 1.500 auditores de controle, apenas 12 trabalham na Operação Lava-Jato em tempo integral, e isso porque alguns ministros reclamaram que apenas seis estavam deslocados para a tarefa. Se o TCU afrontar a sociedade mantendo o presidente que é investigado, e que claramente não dá prioridade à Lava-Jato, estará sendo conivente com essa atitude e perderá a credibilidade diante da opinião pública.

Raymundo Costa: Reeleição está fora dos planos de Temer

• Impeachment voltou às mesas de negociação

- Valor Econômico

Se houver impeachment e Michel Temer assumir a Presidência da República, o compromisso do vice é cumprir o restante do mandato de Dilma Rousseff e não disputar a reeleição em 2018. Pode até concorrer ao governo de São Paulo, num acordo com o PSDB. O Palácio do Planalto passaria a ser o objetivo de um conjunto de forças políticas como foi em 1989, a primeira eleição direta para presidente, após a redemocratização.

À época, havia candidatos para todos os gostos e a eleição definiu os vincos da face política dos últimos 30 anos. À esquerda havia Leonel Brizola e Luiz Inácio Lula da Silva, para não falar de quem já entrou na disputa sem chances de vitória mas com simbolismo, como Roberto Freire, representando o antigo "Partidão". A direita, para usar a expressão consagrada à época, estava sortida mas buscava um candidato.

Havia Paulo Maluf (PDS), do partido do regime caído, os liberais Guilherme Afif Domingos (PL) e Aureliano Chaves, do PFL, dissidência do regime, e uma opção social-democrata que interessou por algum tempo à direita: Mário Covas, do recém-fundado PSDB. O candidato do governo, em tese, seria Ulysses Guimarães (PMDB). Com as forças rachadas à esquerda e à direita, a eleição acabou em novidade - Lula e Fernando Collor (PRN).

Em linhas gerais, esse era o quadro de 1989. Pode se repetir na hipótese de Temer exercer um mandato-tampão. O vice-presidente da República evita falar em impeachment, mas não se fala de outra coisa nos gabinetes mais importantes de Brasília desde a quarta-feira última, quando o Senado entregou numa bandeja a cabeça do senador Delcídio Amaral (PT-MS) ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Michel não fala de impeachment, mas seus amigos falam. Se tiver que assumir, o vice estará informado e preparado para formar rapidamente um governo de coalizão. A reeleição é um nó a ser desatado. Os amigos de Temer já avisaram que o vice não disputará um segundo mandato, se tiver de assumir agora. E foram ouvidos.

No PSDB há quem ainda desconfie de Temer. O partido finalmente aderiu à tese do impeachment, mas a decisão pode ter vindo tarde. Apesar dos prognósticos em contrário, partes do PT e do PMDB registram reação de Dilma na pesquisa Datafolha (sua aprovação cresceu quatro pontos) e difundem esperanças de que a economia chegou ao fundo do poço. Não teria mais como piorar.

A ligação mais forte de Temer no PSDB sempre foi o senador José Serra (SP), que também não desistiu de lutar pela Presidência. A situação fica mais complexa quando se constata que dificilmente o senador e atual presidente do partido, Aécio Neves, perde a indicação para 2018. Ele tem o domínio do partido. Serra pode ser uma opção no PMDB.

O impeachment de Dilma murchou no fim de julho, início de agosto. Foi por essa época que uma combinação político-empresarial julgou possível contornar a crise econômica, salvando-se o mandato da presidente. A política e a economia pioraram desde então. Como arrependimento não mata, voltou-se a falar em restaurar um mínimo de governabilidade a fim de assegurar a transição para que o presidente a ser eleito em 2018 pegue o país com as bases prontas para a retomada do crescimento.

Antecipar a eleição de cabo a rabo, como chegou a ser proposto, tem cheiro de golpe. As opções são Dilma fica, impeachment, renúncia ou cassação do registro da chapa eleita. Temer pode ser o presidente em quase todas as hipóteses. Mas o impeachment não é assunto pacificado em Brasília. Falta o "Fiat Elba", o carro pago com um cheque fantasma de PC Farias que servia à família do presidente. Está nas mãos de Eduardo Cunha, presidente da Câmara, decisão que pode usar como moeda de troca.

As pedaladas para fechar as contas do governo de 2014 não convenceram nem sequer o presidente do Senado, Renan Calheiros. Deve-se esperar o mesmo em relação ao segundo pedido assinado pelo jurista Hélio Bicudo, que acrescentou as pedaladas de 2015. Ridículo, porque as contas desse período nem sequer foram fechadas. Ou seja, trabalha-se com a suposição de que um crime será cometido.

A conversa que justificou a prisão do ex-líder Delcídio pode fornecer elementos, mas segundo os líderes partidários, motivo não será um problema para levar Dilma até o cadafalso. O que deve abreviar o mandato da presidente - se isso ocorrer - é sua completa incapacidade para governar, sem maioria para aprovar projetos importantes para a recuperação econômica. O motivo aparece. Dilma precisa urgentemente ganhar algo no Congresso, com autoridade. A abertura do processo de impeachment será o início do fim.

Sinal do clima político em Brasília. Terminada a sessão que manteve a prisão de Delcídio, na noite da última quarta-feira, líderes foram para a casa do presidente do Senado, Renan Calheiros, "tomar um vinho". Não era uma celebração, mas também não era um velório.

Pela manhã, eles pensavam em aprovar a votação secreta sobre o pedido de prisão de Delcídio, o que dava alguma chance ao colega em apuros. A partir das 11hs constataram que a temperatura era muito elevada para Delcídio e receberam sinais de que o STF daria uma liminar a favor da sessão aberta, se o Senado decidisse o contrário. Por fim, o PT divulgou uma nota em que entregou Delcídio aos leões.

Um dos senadores presentes, então, resolveu contar uma piada entendida por todos como a mais perfeita e bem acabada síntese do dia.

Sem crédito em mais nenhum bar de uma cidade do interior, o bêbado propôs ao dono do comércio: tomaria uma dose de cachaça sem tocar o copo com as mãos nem levá-lo à boca. Se perdesse, sua dívida dobraria. E seria anistiado, caso vencesse. O proprietário serviu uma dose generosa. Ávido, o bêbado pegou o copo, levou-o à boca e tomou tudo. "Pegou com a mão", gritou um dos presentes. "Levou à boca", disse outro. Saciado, o bêbado devolveu o copo ao balcão e declarou solene: "Eu perdi!"