O Estado de S. Paulo
Cidadãos que valorizam a democracia
precisam não só combater as estripulias autoritárias dos iliberais, mas atuar
para defender o sistema democrático.
De uns anos para cá, o “iliberalismo” tem
ocupado um lugar de destaque nas explicações do mundo em que vivemos.
Boa parte dessa atenção decorre da
multiplicação de governos que giram em torno de autocratas populistas – mais
violentos e autoritários ou menos –, que menosprezam regras, hábitos e
procedimentos dos sistemas democráticos. São governantes que chegaram ao poder
valendo-se das instituições democráticas (eleições, liberdade de expressão e
associação, separação dos poderes) e que governam minando aquilo de que se
beneficiaram. Organizam sistemas antidemocráticos paralelos a partir dos quais
atacam os sistemas instituídos, abalam o que está estabelecido, reprimem
adversários e mobilizam seguidores, sempre que possível fanatizando-os.
Tais governos governam muito pouco, ou até mesmo não governam, deixando as coisas do Estado em modo inercial. O objetivo é converter o governo numa instância de mando e poder pessoal. Atos de governo não seguem planos técnicos e são quase sempre apresentados como derivados da generosidade e da largueza de visão do chefe, cuja vontade – em muitos casos marcada pela impulsividade e pelo improviso – é tratada como se contivesse um mapa seguro para a “verdade”. A sustentação é obtida por métodos conhecidos: negociações espúrias, produção incessante de desinformação, criação de inimigos imaginários (o comunismo, o globalismo, o marxismo cultural), manipulação das redes sociais, fomento aos discursos de ódio e intimidação, ameaças. Fatos, dados e evidências são ignorados ou mencionados com sinal invertido. A intenção é turvar a compreensão da realidade, gerar medo e confusão.