• Cobrado por seu esforço para levar a mãe ao TCU, Campos propõe mandatos para o Judiciário
Silvia Amorim – O Globo
SÃO PAULO - Pressionado por episódios de nomeação de parentes para cargos públicos, o candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, disse ontem não ter visto problemas na indicação da sua mãe, a deputada Ana Arraes, para o Tribunal de Contas da União (TCU) em 2011 nem de dois primos para o Tribunal de Contas do Estado (TCE) de Pernambuco. Campos, entretanto, defendeu uma reforma constitucional para acabar com os cargos vitalícios no Judiciário. Ele foi o segundo presidenciável a participar da rodada de entrevistas do "Jornal Nacional", da TV Globo.
No início da entrevista, Campos foi perguntado se considerava ético - e se não configurava um caso de nepotismo - o comportamento que teve ao articular nos bastidores a eleição de sua mãe para ministra do TCU.
- Se a indicação fosse minha, se dependesse da minha nomeação enquanto governador, seria nepotismo. Quero te dizer que fui o primeiro governador a fazer uma lei de nepotismo no meu estado. Ela é funcionária pública de carreira. Elegeu-se deputada por duas vezes. Fez mandatos respeitáveis. A Câmara foi chamada a eleger um parlamentar para uma vaga no Tribunal de Contas. Ela se candidatou. Outros deputados se candidataram. Ela disputou uma eleição com outros deputados. Foi a única mulher que ganhou no voto, com uma votação muito grande e foi ser ministra. Tem feito um trabalho que todos reconhecem como digno e sério - afirmou Campos.
Proposta de reforma constitucional
O apresentador William Bonner disse a Campos que não estava questionando a competência de Ana, mas sim a sua conduta. O candidato negou que tivesse trabalhado pela eleição da mãe e disse que apenas torceu pela vitória dela.
- Na hora em que ela saiu candidata com o apoio do meu partido, se fosse uma outra pessoa eu teria apoiado. Por que não apoiaria ela que tinha todos os predicados? Eu nem votei. Simplesmente torci - justificou Campos que, ao ser perguntado novamente por Bonner se não via nada de errado em sua conduta nesse episódio, disse simplesmente que não.
Sobre os primos indicados para vagas no TCE de Pernambuco, explicou:
- Na verdade, eles se candidataram na Assembleia Legislativa em vagas que eram próprias da Assembleia Legislativa.
Em seguida, defendeu uma reforma no país específica para o Judiciário:
- O Brasil deve fazer uma reforma constitucional para acabar com cargos vitalícios na Justiça.
Questionado sobre o que faria com o preços de tarifas como da energia e dos combustíveis, se eleito, Campos desconversou e atacou a presidente Dilma Rousseff, acusando-a de guardar "na gaveta" os reajustes:
- O ano difícil já está sendo este. Porque vamos ter um crescimento de menos de um por cento. O Brasil perdeu de sete a um dentro do campo na Copa e está perdendo fora do campo. É sete de inflação, com a presidente guardando na gaveta dela, para depois da eleição, um aumento da (tarifa de) energia e do combustível, e menos de um (por cento) de crescimento.
Campos também foi cobrado a explicar de onde conseguiria recursos para cumprir todas as promessas que já fez até agora, como o passe livre para estudantes em todo o país. Em resposta, disse que somente um corte de meio por centro da taxa Selic representaria um adicional de R$ 14 bilhões, o suficiente, disse, para tornar viável sua proposta. E frisou que, com a inflação no centro da meta e a retomada do crescimento, haverá condições fiscais de obter mais recursos.
A apresentadora Patrícia Poeta questionou o candidato sobre a razão de ele ter abandonado a aliança que tinha com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Patrícia disse que colaboradores de Lula dizem que Campos se afastou da gestão petista, após três anos como ministro, somente para se candidatar.
- Já em 2012, enfrentamos o PT em várias cidades, inclusive no Recife. Quando a presidente apoiou o Renan (Calheiros) para o Senado, o PSB apoiou outros candidatos. Nós vínhamos nos afastando do governo, porque esse governo é o único que vai entregar o país pior do que recebeu, seja na economia, na segurança, na logística, na política externa.
Segundo o candidato, o atual governo não entregou o que foi prometido.
- Tantas pessoas votaram na Dilma e se frustraram, pois viram agora um governo que valoriza no seu centro a velha política, deixou a inflação voltar, derreter os empregos.
Campos foi perguntado ainda se não havia contradições na aliança dele com a vice, a ex-senadora Marina Silva, que foi contra a votação do Código Florestal. O PSB de Campos votou majoritariamente a favor dos ruralistas e do projeto.
- Marina não tem nada contra o agronegócio. O que temos que ter é desenvolvimento com respeito ao meio ambiente e inclusão.
Diante da insistência dos apresentadores sobre posições antagônicas entre os dois na chapa, Campos disse que isso não existia e que a aliança deles foi feita "em cima de programas e não de opiniões pessoais".
- Temos aliança não feita em cima de nossas opiniões, mas de programa.
Adversários veem fragilidades
O desempenho de Campos motivou interpretações divergentes entre políticos governistas e da oposição. O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), avaliou que Campos deixou sem respostas algumas perguntas como as razões que o levaram a deixar a base do governo Dilma:
- Achei que a entrevista mostrou as fragilidades que o candidato tem. É o candidato que mais tem apresentado propostas mirabolantes. Perguntado de onde ia buscar recursos, não soube dizer, foi para o campo das generalidades - afirmou Costa.
Coordenador da campanha de Aécio, o senador José Agripino (DEM-RN) também criticou:
- Ele ficou devendo algumas respostas.
Já o líder do PSB no Senado, Rodrigo Rollemberg (DF), afirmou que Campos se mostrou "pronto para governar". Mas, para o senador, não houve espaço suficiente para que Campos aprofundar suass propostas.
- Foi uma entrevista de aperto. O modelo do programa acaba questionando pontos que não dão tanta margem ao candidato para apresentar as propostas. Mas, ele está seguro e confiante - disse Rollemberg.