• Se projeções para IPCA se cumprirem, será o maior nível desde 2004. Impacto será maior no 1º bimestre
Henrique Gomes Batista, Roberta Scrivano e Gabriela Valente - O Globo
RIO, SÃO PAULO e BRASÍLIA – O aumento dos impostos sobre os combustíveis e o fim de subsídios no setor elétrico podem, juntos, ampliar o IPCA de 2015 em até 0,66 ponto percentual, ou mais de 10% do teto da meta do governo, de 6,5%. Com impactos concentrados no começo do ano, as medidas devem fazer com que o país tenha o pior primeiro bimestre de inflação desde 2003, primeiro ano do governo Lula. Para 2015, as previsões de inflação já chegam a 7,2%, a pior desde 2004.
A volta da cobrança da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), de R$ 0,22 por litro de gasolina e de R$ 0,15 no diesel, que a Petrobras deverá repassar aos consumidores a partir de fevereiro, pode elevar o IPCA em até 0,39 ponto percentual, segundo estimativa do Itaú Unibanco. Além disso, a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE, fundo para financiar tarifas subsidiadas) neste ano deve ser de mais de R$ 23 bilhões, superando em R$ 9 bilhões a estimativa inicial do governo. Isso deverá resultar em um aumento adicional de 9% na conta de luz este ano, que atingiria cerca de 35%. O impacto extra no IPCA, segundo a Tendências Consultoria, seria de 0,27 ponto percentual em 2015.
Para Alex Agostini, analista da Austin Rating, a mediana das expectativas para o IPCA de janeiro, pelo Focus (pesquisa semanal do Banco Central), é de 1,1%, enquanto o Top 5 (grupo que mais acerta as previsões) prevê 1,16%. Para fevereiro, a projeção está em 0,8%, mas, com a Cide, pode chegar a 1%.
- Ou seja, são os dois piores meses do ano desde 2003, e teremos no acumulado do bimestre um terço do teto da meta da inflação do ano, que é de 6,5% - disse Agostini.
Leonardo França Costa, da Rosemberg & Associados, estima que a Cide deverá elevar o preço da gasolina ao consumidor em até 7,4%, o que aumentará o IPCA em 0,3 ponto percentual. Ele vai revisar sua projeção para 2015, de 6,5%, e considera "cada vez mais provável" que a inflação estoure o teto.
Álcool pode subir depois de maio
Luís Otávio Leal, do banco ABC Brasil, reviu sua previsão para o IPCA de 2015 de 7% para 7,2%. Ele projeta alta de 7% nos combustíveis para os consumidores e impacto de 0,25 ponto percentual na inflação. Já o Itaú informou que sua estimativa para este ano, de 6,9%, está em viés de alta por causa da Cide, que terá impacto de 0,39 ponto percentual na inflação. Para a consultoria Gradual, o aumento nos combustíveis terá impacto de 0,3 ponto percentual na inflação. Sua projeção para o IPCA passou de 6,2% para 6,4%, pois a Gradual estima que parte do reajuste dos combustíveis seja compensada por uma desaceleração maior da economia.
Adriana Molinari, da Tendências, está revendo sua projeção para o IPCA deste ano, para 7% a 7,1%. Apesar de a Cide vir menor que o estimado - eles esperavam R$ 0,28 por litro de gasolina -, a CDE ampliará a inflação:
- Estes R$ 9 bilhões devem gerar uma inflação extra de 0,27 ponto percentual do PIB. Estimamos agora que as tarifas de energia subam 33,4% neste ano, e que o setor sozinho impacte o IPCA em 1 ponto percentual.
Para o Sindicato dos Postos de Combustíveis do Estado do Rio (Sindestado-RJ), o impacto nas bombas deverá ser maior que os 7% estimados pelo governo.
- O aumento da Cide tem impacto em toda a cadeia e no ICMS, além do diesel do frete e de um provável aumento do etanol - disse Ricardo Lisbôa Vianna, presidente do Sindestado-RJ.
A Cide devolverá a competitividade ao etanol, segundo Elisabeth Farina, presidente da União da Indústria da Cana de Açúcar (Unica). Com estoque no setor suficiente para abastecer o mercado até o início de maio, ela diz que o preço do álcool pode subir depois:
- Preço é mercado, demanda. Não dá para dizer vai subir ou quanto vai subir.