sábado, 2 de novembro de 2013

OPINIÃO DO DIA – Gazeta do Povo (PR): Lula

Por tudo isso, chega a suscitar pena e desalento que um homem que tanta importância teve no cenário da redemocratização do país chegue ao ponto de manchar sua biografia com lorotas tão evidentes, falsas e descabidas. Mas é preciso reconhecer: Lula é um homem de convicções firmes – dentre as quais está a ideia de impor indireta censura à imprensa sob o cerimonioso nome de “controle social da mídia” (ainda defendido por seus herdeiros). No entanto, não é a firmeza com que alguém defende suas convicções que as torna legítimas ou justas. Um falsário convicto da história do país não deixa de ser um falsário.

Gazeta do Povo (PR). “Quem avacalha a política?”. Editorial, 1 de novembro de 2013

De olho nas eleições 1. Reunião com 11 ministros define agenda pré-eleitoral

Dilma cobra hoje projetos e obras sociais e de infraestrutura para poder apresentar até junho do ano que vem

Luiza Damé e Catarina Alencastro

-Brasília- A presidente Dilma Rousseff convocou um estratégico grupo de ministros para uma reunião hoje que definirá sua agenda pré-eleitoral. Dilma cobrará de cada área resultados que serão entregues nos últimos dois meses deste ano e no primeiro semestre de 2014, quando se encerra o prazo para participação de candidatos em inaugurações de obras. A prioridade são os projetos e obras de infraestrutura e da área social.

Em pleno feriado de Finados, Dilma receberá no Palácio da Alvorada os ministros Gleisi Hoffmann (Casa Civil), Miriam Belchior (Planejamento), Ideli Salvatti (Relações Institucionais), Edison Lobão (Minas e Energia), Tereza Campeio (Desenvolvimento Social), Izabella Teixeira (Meio Ambiente), Alexandre Padilha (Saúde), Aguinaldo Ribeiro (Cidades), Eleonora Menicucci (Mulheres), Aloizio Mercadante (Educação) e Pepe Vargas (Desenvolvimento Agrário), além do presidente da Caixa, Jorge Hereda. O grupo foi escolhido com a finalidade de montar um roteiro futuro, com ações que gerem notícias positivas para o governo — dos 11 ministros, sete são políticos.

A presidente vai averiguar com cada ministro a quantas andam os projetos e as obras dessas pastas e o que precisa ser acelerado para ser incluído na sua agenda de inaugurações dentro do prazo permitido pela legislação (até junho). No encontro, Dilma avisará que quer intensificar os eventos do Mais Médicos, a entrega de unidades do Minha Casa Minha Vida, a construção de creches, a distribuição de máquinas para as prefeituras e as cerimônias de formatura do Pronatec (ensino técnico). São essas ações que ela usará como marca de sua gestão durante a campanha.

A reunião está marcada para as 10h. Nela também será feito um balanço das metas das áreas" sociais e de infraestrutura. No meio deste ano, no auge dos protestos de rua, Dilma fez encontros emergenciais nos fins de semana no Alvorada. Também convocou uma reunião ministerial, na Granja do Torto, para montar a estratégia de reação do governo às demandas das ruas.

A partir de agosto, Dilma intensificou a agenda externa. Aumentou o número de viagens, com foco no Sudeste e no público jovem e de classe média; passou a receber grupos diversos no seu gabinete e a participar de cerimonias fora do Planalto. Nesta semana, por exemplo, Dilma foi ao Museu da República para a comemoração dos dez anos do Bolsa Família, com a participação de políticos aliados, servidores e beneficiários do programa, além do ex-presidente Lula.

Nos últimos dois meses, Dilma esteve duas vezes no Congresso e implementou uma recepção frequente aos líderes aliados no Planalto. A presidente voltará ao Rio Grande do Sul para mais uma inauguração na área de energia. Durante a semana, em Brasília, vai novamente receber parlamentares governistas.

Fonte: O Globo

De olho nas eleições 2. Dilma convoca ministros para acelerar obras e acertar discurso contra críticas

Calendário. Com a proximidade do ano eleitoral, presidente cobra prazos e planeja viagens estratégicas a fim de rebater adversários; ainda neste mês, petista pretende ir ao Nordeste visitar as obras da Transposição do Rio São Francisco, iniciadas ainda no governo Lula

A presidente Dilma Rousseff convocou para a manhã de hoje uma reunião ministerial no Palácio da Alvorada com 14 dos seus 39 ministros a fim de elaborar uma estratégia de ação para os próximos meses. Ela quer acelerar obras e cumprir uma agenda com o objetivo de rebater críticas de opositores e prováveis adversários na sucessão presidencial do ano que vem.

Para o encontro foram chamados ministros das áreas sociais e de infraestrutura, que deverão apresentar o quadro atual de investimentos, de projetos e de obras em andamento.

Uma das principais preocupações da presidente é com o projeto de Transposição do Rio São Francisco, que pretende levar água ao semiárido nordestino, iniciado ainda no governo de seu antecessor e padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva. Dilma quer ter o que mostrar em termos de avanço ainda neste mês, quando pretende fazer uma visita às obras, passando por pelo menos dois Estados: Ceará e Pernambuco.

A estratégia da presidente, nessa visita, é reforçar sua imagem no Nordeste, onde o governador pernambucano, Eduardo Campos (PSB), tem forte entrada, principalmente pela aprovação em seu Estado. A recente aliança de Campos com a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva é alvo de preocupação dos aliados e da própria Dilma.

A visita às obras do São Francisco também será uma resposta ao PSDB e ao senador Aécio Neves (MG), provável candidato ao Planalto. O tucano usou o último programa do partido na TV para mostrar trechos onde as obras estão paralisadas.

A presidente planeja visitar alguns locais para mostrar parte dos 6,5 mil trabalhadores em seus canteiros e mais de 1,8 mil equipamentos em atividade.

As datas e as cidades a serem visitadas estão sendo definidas, mas Dilma avisou a assessores que quer passar uma noite na região para mostrar sua interação com o Nordeste.

Dilma também deve cobrar de seus ministros o cumprimento dos cronogramas, de modo | que não sofram atrasos e os projetos possam ser lançados neste ano e no ano que vem. A presidente não quer, por exemplo, que haja problemas na concessão dos aeroportos de Confins (MG) e Galeão (RJ) estratégicos para a Copa de 2014.

O governo quer passar a ideia de que Dilma tem "muito a mostrar", seja em obras de mobilidade urbana, seja na área de plataformas de petróleo.

Multa eleitoral. O ex-presidente Lula participou ontem em Foz do Iguaçu (PR) de um seminário e foi questionado sobre sua campanha paralela pela reeleição de Dilma. "Eu não posso falar sobre esse assunto (a eleição). Já fui multado quatro vezes por acharem que eu estava fazendo campanha. E, se eu foi multado mais uma vez, não vou ter dinheiro para apoiar as campanhas da Dilma e da Gleisi (Hoffmann, ministra-chefe da Casa Civil e provável candidata do PT ao governo paranaense)", disse Lula em evento sobre desenvolvimento econômico.

O ex-presidente aproveitou para fazer um balanço dos dez anos de governo petista no País e destacar os resultados de programas como o Bolsa Família e o Luz para Todos, iniciativas que, segundo ele, mostram que é possível garantir desenvolvimento mesmo tendo como foco a população mais pobre. "Quando se acredita, pobre não é problema para nenhum país ou governante", disse.

Quanto ao Bolsa Família, que completou dez anos, Lula lembrou que algumas críticas apontavam o programa como "consagração da miséria" e que serviria para "criar vagabundos". "Pediam crescimento e, só depois disso concretizado, distribuição da riqueza. E, embora falte muito por fazer, o milagre do Brasil foi que conseguimos crescer e distribuir ao mesmo tempo." Colaborou Joana Lopes, especial para o Estado

Fonte: O Estado de S. Paulo

Déficit da balança é o pior desde 1998

Comércio exterior tem saldo negativo acumulado de US$ 1,83 bi de janeiro a outubro

Eliane Oliveira

BRASÍLIA- De janeiro a outubro, o comércio exterior brasileiro apresentou déficit acumulado S$ 1,832 bilhão, o pior desde 1998, quando a balança teve negativo de US$ 5 bilhões. Nos dez primeiros meses deste ano, as exportações ficaram em US$ 200,472 bilhões e as importações atingiram US$ 202,304 bilhões. No mesmo período do ano passado, a balança registrou superávit de US$ 17,350 bilhões.

Afetada mais uma vez pelo setor de petróleo, a balança comercial apresentou déficit em outubro, após dois meses seguidos de superávits mensais. O saldo negativo chegou a US$ 224 milhões no período, o pior resultado para o mês desde 2000, quando as compras externas superaram as vendas em US$ 546,9 milhões. As exportações somaram US$ 22,822 bilhões e as importações, US$ 23,046 bilhões.

O secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Daniel Godinho, disse que, no mês passado, houve aumento de 82% nas importações de petróleo e derivados ante outubro de 2012. Ele explicou que o principal motivo foi a parada, para manutenção, da refinaria Henrique Lage, em São José dos Campos (SP), de 19 de setembro até o fim de outubro.

Para Godinho, a tendência é de queda das importações do produto por três razões: a refinaria voltará a funcionar; a Petrobras aumentará sua produção; e, com o período de entressafra de grãos, haverá menos consumo de óleo diesel por caminhões, tratores e colheitadeiras.

— Apesar do resultado, ainda apostamos em um superávit comercial neste ano — disse o secretário, sem citar números.

Em outubro, tanto as exportações quanto as importações bateram recordes. Em relação a outubro de 2012, o total exportado cresceu 0,3%, mas caiu 0,8% ante setembro deste ano. As compras externas registraram crescimento de 9,6% ante outubro do ano passado e 11,6% sobre o mês anterior.

China mantém liderança
O resultado mensal poderia ser ainda mais fraco, não fosse o registro de exportação de uma plataforma de petróleo, no valor de US$ 1,9 bilhão. A questão é que a plataforma não saiu do Brasil.

— Quando há exportação de plataformas, há venda de um ifabricante nacional para um importador domiciliado no exterior. Além disso, há pagamento em moeda estrangeira e entrada de recursos no país. De acordo com as normas e critérios internacionais, é uma exportação para fins fiscais e contábeis — explicou.

Os chineses mantiveram a posição de maiores parceiros comerciais do Brasil nos dois sentidos. A China comprou US$ 3,640 bilhões em produtos brasileiros e exportou para nós US$ 3,708 bilhões. Com isso, houve um déficit de US$ 68 milhões com o país asiático. Os Estados Unidos estão em segundo lugar.

Fonte: O Globo

Esquerda do PT vê esgotamento de modelo

Corrente sustenta que vale a pena romper com PMDB e sacrificar a reeleição de Dilma por reforma política e agrária

Atual presidente do partido, Rui Falcão admite que situação atual no Congresso dificulta mudanças

Marina Dias e Diógenes Campanha

SÃO PAULO - Os candidatos da chamada "esquerda do PT" na eleição interna do partido apontam esgotamento do modelo adotado pela sigla no governo federal, com promoção de inclusão social por meio de políticas públicas.

Uma ala prega que, para implementar mudanças estruturais como as reformas política e agrária, vale a pena até sacrificar uma eventual reeleição da presidente Dilma Rousseff e romper com grande parte da base governista --especialmente o PMDB, maior aliado.

O partido do vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB-SP), é o principal alvo dos que defendem que o PT expurgue "legendas capitalistas" para produzir um governo "de esquerda".

Markus Sokol, candidato da corrente O Trabalho, vem se referindo a Temer desde junho como "sabotador" da reforma política, em referência ao plebiscito proposto por Dilma após as manifestações que tomaram o país.

Nos debates eleitorais do PT, ele defende que o partido restrinja suas alianças ao PC do B e a "setores do PDT e o PSB que tenham afinidade com nosso projeto", mesmo que uma coalização menor enfraqueça as chances de Dilma nas urnas em 2014.

Serge Goulart, da Esquerda Marxista, vai além e rejeita também o apoio do PDT e do PSB, além de PP, PTB e, claro, PMDB. Refere-se a eles como "inimigos do povo".

Paulo Teixeira, candidato da Mensagem ao Partido, defende a "qualificação da aliança", com a participação do PMDB.

Mudança de rota
Desde meados da década de 90, quando José Dirceu assumiu a presidência do PT, o partido adotou como linha de ação uma proposta defendida por Lula e pelo ex-ministro da Casa Civil: em vez de reformas populares que tivessem como objetivo final o socialismo, a sigla deveria adotar políticas públicas para vencer o neoliberalismo.

Esse pensamento norteou os governos petistas desde 2003, quando Lula assumiu a Presidência.

"A estratégia adotada pelo PT para governar se esgotou. Encerrou-se um ciclo", diz Valter Pomar, candidato da tendência Articulação de Esquerda à presidência.

"O máximo que dava pasra fazer seguindo esse modelo, a gente já fez. Daqui pra frente, o PT precisa se reciclar e fazer reformas estruturais no Brasil", conclui.

Ele defende que a campanha de Dilma para o Palácio do Planalto, em 2014, proponha "um novo compromisso" para o país. O risco, segundo Pomar, é que a presidente tenha um eventual segundo mandato inferior ao primeiro, colocando em risco a continuidade do partido no poder a partir de 2018.

No discurso de todos os candidatos as reformas agrária, urbana, política e tributária, além de medidas para a "democratização da mídia" e melhorias do serviço público aparecem como prioridades para o PT e o governo.

Rui Falcão, presidente do PT que concorre à reeleição, assume que a correlação de forças no Congresso e na sociedade dificulta as reformas, mas afirma que também as defende, apesar de ter uma "compreensão diferente das outras chapas".

Falcão assumiu o comando do partido em março de 2011 com a licença médica de José Eduardo Dutra. Na eleição marcada para 10 de novembro, é o favorito,uma vez que sua chapa teve 55% dos votos na última eleição, em 2009. Como apoio explícito de Lula, a tendência é ampliar a votação no pleito deste ano.

Fonte: Folha de S. Paulo

Movimentação de Serra visa atacar o PT, dizem serristas

Débora Álvares e João Domingos

Aliados de José Serra (PSDB) atribuíram as andanças do ex-governador de São Paulo pelo País e as articulações para aproximar o PPS do PSB à estratégia dos tucanos de aumentar o enfrentamento da oposição com o PT na pré-campanha eleitoral. Para eles, o caminho tem sido o correto até agora, pois em várias frentes tanto a presidente Dilma Rousseff quanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva responderam aos ataques da oposição, a exemplo das críticas à gestão do governo, à condução da política econômica e às falhas no combate à inflação.

Conforme o jornal O Estado de s. Paulo antecipou na quinta-feira, 31 de outubro, Serra tem trabalhado para que seu aliado Roberto Freire, presidente do PPS, se aproxime de Campos, sem se importar com o fato de o PSB ter se antecipado a ele na busca pela adesão da ex-ministra Marina Silva. Como se sabe, Marina havia se comprometido a ter uma conversa com o PPS no dia seguinte à decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que rejeitou a criação da Rede Sustentabilidade, o partido da ex-ministra. Marina, no entanto, preferiu procurar o PSB e se filiar ao partido de Campos.

De acordo com um amigo de Serra, tudo está sendo feito dentro do que foi combinado entre o ex-governador e o presidente nacional e pré-candidato tucano à Presidência da República, senador Aécio Neves (MG). Pelo acerto, os dois passariam a intensificar os ataques ao governo e ao PT. Em março, de acordo com serristas, o ex-governador e Aécio Neves vão se encontrar e, sem disputas, será definido o candidato do partido ao Palácio do Planalto. Serra queria que fossem realizadas prévias no partido para a definição de quem vai disputar a eleição do ano que vem. O grupo aliado ao ex-governador admite que Aécio deve levar a melhor.

''Fofoca''
Quanto à participação de Serra nos conselhos para que o deputado Roberto Freire, presidente nacional do PPS, se aproxime do PPS, aliados do ex-governador disseram que "há mais fofoca do que fatos" e que as conversações entre os integrantes da oposição - no caso, Serra e Freire - fazem parte da estratégia de fortalecer o bloco contra o governo. Um deles foi o senador Aloysio Nunes (SP). "Se o Serra está dizendo que é intriga, é intriga. Não faria o menor sentido que isso estivesse acontecendo", declarou.

Já o deputado Juthay Jr (BA), da ala serrista, disse que o ex-governador e Aécio Neves decidiram manter um canal direto de comunicação. "Eles sabem que intrigas vão surgir. Então, com o canal direto, evitam que elas possam trazer qualquer prejuízo à relação deles e ao partido", afirmou Juthay.

Nenhum partidário de Aécio Neves ou de José Serra quer desgastar a relação entre os dois, principalmente porque ela nunca foi muito boa. Na eleição de 2010, por exemplo, Dilma Rousseff teve 46,98% dos votos em Minas Gerais, contra 30,76% de Serra. A ala serrista levantou suspeitas de que teria havido um boicote de Aécio ao candidato tucano.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Entrevista - José Serra: Se Aécio for o candidato do PSDB, vou trabalhar por ele

Ex-governador diz que apoiará colega se houver 'unidade' e acha que PT pode lançar Lula se achar que Dilma corre risco

Fernando Rodrigues

BRASÍLIA - Embora ainda se apresente como pré-candidato a presidente pelo PSDB, José Serra faz agora uma inflexão no seu discurso. Diz que vai trabalhar a favor da unidade do partido, "com quem for o candidato", ele ou o senador tucano Aécio Neves (MG).

"É a minha grande aspiração, que o PSDB esteja unido. Com quem for o candidato", afirmou em entrevista à Folha e ao UOL. Mas fará campanha a favor de Aécio? "Farei, farei, trabalharei para que a haja unidade, primeiro. E segundo, havendo unidade, para que a unidade se projete na campanha".

A declaração de Serra, é claro, pode ser interpretada com ressalvas. Por exemplo, quando ele diz que trabalhará pelo mineiro "havendo unidade". Adversários podem enxergar insinceridade no apoio prometido a Aécio. Mas o tucano poderia ter tergiversado quando indagado sobre se faria campanha para o colega. Preferiu ser direto.

Trata-se de uma mudança em relação ao tom quase beligerante das últimas semanas, quando o paulista passou a viajar pelo país para se apresentar como alternativa a Aécio, hoje o favorito para ser o candidato do PSDB.

E quem seria mais de esquerda, Serra ou Aécio? O paulista explicou que a trajetória de vida dos dois é muito diferente. Mas ele estaria à direita ou à esquerda do mineiro? "À direita, não estou". Ao final, afirmou que ambos são "progressistas". A seguir, leia trechos da entrevista:

Folha/UOL - Há no Senado um projeto propondo autonomia completa para o Banco Central. Qual é a sua posição?

José Serra - Sou contra. O Banco Central já tem, na prática, autonomia operacional. Se você torna o presidente do BC imune, passa a ser um outro poder. Se ele tiver um mau desempenho, o processo de retirar é muito complexo. Vai desestabilizar a economia. Fernando Henrique não pensa diferente. Tenho a impressão que o Aécio [Neves] também não pensa diferente.

Lula fez críticas a Marina Silva por ela ter reconhecido o papel de FHC na estabilização da economia. É tática eleitoral?

Sem dúvida, sem dúvida.

Lula e o PT têm sido exitosos com essa tática. Por quê?

Porque são bons nesse ramo. No ramo de marketing o PT é bom, e o PSDB não é bom. Outras forças de oposição também não são.

Mas é só marketing?

Você quer um exemplo? O Fome Zero. Fome Zero nunca existiu. Se você fizer uma pesquisa hoje e for avaliar o Fome Zero, a avaliação é positiva. Ou seja, é marketing. A oposição tem de aprender. Tem que saber apresentar.

O sr. disputará a indicação para ser candidato a presidente?

O PSDB, por acordo, ficou de decidir isso mais adiante. Em março, a partir de março do ano que vem. Tenho seguido um pouco essa decisão. Aí vamos ver qual é a situação.

O sr. quase saiu do PSDB?

Era uma hipótese. Mas concluí minha análise achando que eu posso contribuir mais dentro do PSDB.

Há um acordo no PSDB sobre como definir o candidato. Quais serão os critérios?

As circunstâncias. As outras candidaturas. Hoje, nenhum partido definiu de fato. O que aconteceu com Marina Silva e Eduardo Campos era inteiramente imprevisível.

Em março, o desempenho em pesquisas será relevante?

Sempre é. Embora tenha que se fazer ponderações. É normal que tanto o nome da Marina quanto o meu tenha um nível mais alto que os outros porque disputamos eleição presidencial. Em princípio isso não é um fator decisivo. Os outros candidatos podem crescer.

Como deve ser o processo?

Terá que haver conversas entre dirigentes. Auscultar o partido. Formalmente, a convenção é em junho.

Mas e em março?

Em março, a partir de março, se se achar que não tenha condições de maturidade para se tomar uma decisão.

É possível uma chapa presidencial do PSDB composta com Aécio Neves e José Serra?

Não temos candidato ainda. Imagine escolher vice a esta altura. Decidir que vice é do PSDB sem ter o quadro dos aliados já definido.

Se Aécio for o candidato a presidente, o PSDB e o sr. estarão unidos em torno dele?

É a minha grande aspiração, que o PSDB esteja unido. Com quem for o candidato. E eu trabalharei para isso, não tenha dúvida.

Fará campanha, de maneira incessante, a favor de Aécio?

Farei, farei. Trabalharei para que a haja unidade, primeiro. E segundo, havendo unidade, para que a unidade se projete na campanha.

Acha que Aécio fez campanha para o sr. com a intensidade que deveria ter feito em 2010?

Ele fez campanha me apoiando, segundo a estratégia que adotaram em Minas, inclusive no segundo turno.

Qual estratégia?

De ganhar eleição no governo estadual. Isso sempre é um fator que se impõe. Para deixar bem claro: eu não perdi a eleição porque podia ter tido mais votos em Minas. A derrota em 2010 foi porque tudo crescia 10% --a massa de salários, o crédito ao consumo. Foi um período de euforia, com o governo Lula lá nas nuvens de avaliação.

Qual dos dois, Aécio ou Serra, estaria mais à esquerda hoje?

Engraçada a pergunta. Acho que categoria esquerda-direita já é meio batida.

O sr. está à esquerda ou à direita de Aécio?

À direita, não estou.

À esquerda?

Depende do ângulo que se olhe. Tenho uma biografia de militância de esquerda longa. São histórias diferentes, difíceis de comparar. Não dá para comparar banana com laranja. São formações diferentes, perfis diferentes, personalidades diferentes. É muito difícil. Acho que ambos somos, para usar um termo genérico, progressistas.

Se não for candidato a presidente, o que pretende fazer? Disputar uma vaga ao Senado?

Tem diversas possibilidades. Não me detive a analisar nenhuma.

Lula ainda pode vir a ser candidato a presidente, em 2014?

Parece-me que sim. Quando você pega avaliações de governo, em geral não dá uma diferença grande entre a taxa de aprovação e desaprovação [do governo]. E acima de tudo, qualquer pesquisa mostra desejo de mudança. O indicador de que a disputa vai ser acirrada é o fato de que o pessoal quer mudança.

Por que Lula poderia substituir Dilma?

O PT não quer perder o poder de jeito nenhum. Sabe por quê? Porque se misturaram com o poder. O PT se apossou do governo e deixou uma parte para os aliados. Toda a máquina está confundida com o governo. É questão de sobrevivência. Vão fazer tudo para ganhar. Se os dados apontarem que Dilma não será capaz de ganhar no primeiro turno, o PT não vai correr o risco. Um segundo turno para ela é arriscadíssimo.

Quem é mais competitivo: Campos ou Marina Silva?

Hoje seria a Marina do ponto de vista da análise política.

Metrô de São Paulo. Um e-mail da Siemens indica que o sr. teria sugerido um acordo em uma licitação da CPTM para evitar disputas judiciais. Foi uma atitude correta?

O que houve foi outra coisa. Atuei contra o cartel porque ganhou uma empresa com um preço mais baixo e as que ganharam com preço mais alto queriam derrubar a primeira. Eu disse: Se derrubarem, se forem para Justiça e derrubarem, eu refaço a concorrência. Eu não vou dar para o segundo colocado'. Foi uma posição anticartel.

Fonte: Folha de S. Paulo

Amaral nega ataque a Marina

Vice-presidente do PSB, Roberto Amaral admitiu ao Correio que seus artigos recentes estão repercutindo mais do que ele mesmo esperava. No último, publicado na Carta Capital, o cacique socialista criticou os economistas André Lara Rezende e Eduardo Gianetti da Fonseca, conselheiros de Marina Silva, mas o próprio Amaral apressou-se em dizer que não existe qualquer ataque à ex-senadora, recém-filiada ao PSB. Acrescentou ainda que foi maldade "pinçar", na lista de cinco economistas citados por ele, os dois próximos à aliada do presidente do partido e governador de Pernambuco, Eduardo Campos. No entanto, defendeu a liberdade para expressar opiniões, ainda que divergentes dos correligionários. "A Marina costuma dizer que não é militante do PSB e tem o direito de discordar de algumas posições nossas", disse.

Amaral lembra que, justamente por haver pontos de vista divergentes, optou-se por uma coligação, e não por uma fusão. "A coligação não se faz entre iguais, mas entre complementares", explicou. "Optamos por uma união jurídica, mas os dois partidos (PSB e Rede) continuam se respeitando como entidades próprias." O dirigente garante que não foi procurado por nenhum integrante da Rede ou do PSB para comentar o artigo, mas admite que é melhor ser mais comedido daqui para frente. "Creio que devemos realçar o que nos aproxima. Aquilo que nos afasta deve ser guardado em uma gaveta, trancado, e aberto apenas depois das eleições de 2014", opinou.

"Entusiastas"
Para o senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), as críticas feitas por Amaral aos conselheiros econômicos de Marina são uma opinião pessoal dele e não expressam o conjunto do pensamento partidário. "Essa opinião isolada não significa que Amaral seja contra a aliança. Pelo contrário, ele tem sido um dos maiores entusiastas da parceria firmada entre Eduardo e Marina", ressaltou.
Rollemberg lembrou ainda que o PSB também tem conversado com alguns economistas próximos a Marina e que o partido — e o próprio Eduardo — sempre destacaram a importância da estabilidade econômica obtida ao longo dos oito anos de governo Fernando Henrique Cardoso. Socialistas e marineiros têm reconhecido o salto dado pelo país ao longo dos últimos 20 anos, com a estabilidade econômica tucana e a inclusão social petista.

O senador não vê outras opiniões dissonantes no partido. PSB e Marina fizeram, na última segunda-feira, a primeira de uma série de reuniões formais para escrever o programa conjunto de governo que será apresentado ao longo da campanha presidencial de 2014.

Fonte: Correio Braziliense

Réus do mensalão mais perto da prisão

O Supremo Tribunal Federal (STF) prepara a volta do mensalão à pauta da Corte. A expectativa, mais de seis anos depois do recebimento da denúncia, é de que finalmente as primeiras prisões sejam decretadas contra os condenados que não têm direito aos chamados embargos infringentes. O presidente da Corte, Joaquim Barbosa, entregará na segunda-feira aos demais ministros o relatório que preparou sobre os "embargos dos embargos de declaração". A intenção dele é marcar para os dias 13 e 14 de novembro o julgamento desses recursos, que dificilmente terão efeito modificativo. Com o relatório em mãos, os magistrados poderão preparar seus votos. A tendência é que essa nova etapa da Ação Penal 470 seja mais rápida, com duração de uma ou duas sessões.

Se as condenações forem mantidas, os ministros do STF terão de decidir sobre a prisão dos réus que não terão mais direito a recursos. Nessa situação estão o ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato (que ficará em regime fechado), os deputados Pedro Henry (PP-MT) e Valdemar Costa Neto (PR-SP), o ex-deputado Roberto Jefferson (esses últimos no regime semiaberto), entre outros. No total, o processo poderá ser encerrado em relação a 13 réus, sendo que 10 cumprirão pena em regime semiaberto ou fechado.

Ministros ouvidos pelo Correio avaliam como provável a prisão imediata dos condenados que não tiverem direito a novos recursos, tão logo o Supremo encerre as sessões dos dias 13 e 14. Um integrante da Corte disse que a expedição dos mandados de prisão dependerá essencialmente de Joaquim Barbosa, que é o relator. Uma vez o presidente deliberando pelas detenções, a maior parte dos demais ministros deverá segui-lo.

O Supremo rejeitou em agosto e setembro os embargos de declaração da maioria dos réus. Durante a fase destinada à análise desses recursos voltados para esclarecer contradição, omissão ou obscuridade nas decisões tomadas pelo tribunal, somente o ex-assessor do PP João Cláudio Genu e o ex-sócio da corretora de valores Bônus Banval Breno Fischberg conseguiram a redução de suas penas.

Há, no entanto, uma possibilidade concreta de diminuição do tempo de detenção de outros 12 réus, entre eles o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP) no momento da apreciação dos embargos infringentes. Essa etapa, porém, ficará para o primeiro semestre de 2014, quando os condenados que receberam pelo menos quatro votos pela absolvição terão direito a um novo julgamento.

Prisão imediata
Uma parte dos ministros defende a prisão imediata inclusive dos réus que têm direito aos infringentes. Nesse caso, começariam a cumprir pena pelos crimes contra os quais não têm mais como recorrer. O doutor em direito constitucional pela PUC-SP, Erick Wilson Pereira, avalia que não há possibilidade de os 13 réus que serão julgados novamente, pelos crimes de formação de quadrilha ou lavagem de dinheiro, terem a prisão decretada neste mês.

"Não há como, porque a aplicação da sanção como um todo só pode ser feita quando o acórdão for concluído. Enquanto isso, não há como executar a pena", afirmou o constitucionalista. Para Pereira, os demais condenados tendem a ser presos nos próximos dias. "O Supremo pode dizer que os embargos são procrastinatórios. Com isso, declarar o processo transitado em julgado e imediatamente expedir o mandado de prisão, como foi com o deputado Natan Donadon", destacou o jurista.

Advogado do deputado João Paulo Cunha, o criminalista Alberto Toron considera que o Supremo não tomará nenhuma medida relacionada à prisão de seu cliente e dos demais réus que aguardam o julgamento dos embargos infringentes nas sessões dos dias 13 e 14. Já em relação aos demais, Toron avalia que as detenções poderão ser imediatas. "Se os ministros entenderem que há trânsito em julgado em relação aos réus que não têm direito a mais recursos, é possível que haja prisões já."

Próximos passos
» O STF julga em 13 e 14 de novembro os "embargos dos embargos de declaração", recursos que dificilmente têm efeito para modificar as condenações. A tendência é que todos sejam rejeitados.

» Na sequência, os ministros decidirão acerca da decretação da prisão dos réus que não terão mais o direito de recorrer. Nessa etapa, nenhum dos 12 condenados que têm direito a novo julgamento poderá ser preso. Em relação aos outros 13 réus, o processo poderá ser encerrado.

» Os embargos infringentes — recursos cabíveis aos 12 réus que receberam ao menos quatro votos pela absolvição em relação a pelo menos um crime — serão julgados somente no ano que vem. O prazo para as defesas protocolarem esse recurso se encerra no próximo dia 11.

Fonte: Correio Braziliense

Nonsense - Miguel Reale Junior*

Dilma Rousseff estava especialmente inspirada em 12 de outubro, na solenidade sobre mobilidade urbana em Porto Alegre. Fez curiosa análise sociológica do País.

Iniciou sua fala referindo à "visão dominante" sobre ser o metrô "coisa de país rico"; assim, por nos "sentirmos pobres", apenas investíamos em corredor de ônibus. Passou, então, a fazer digressão motivada por Nelson Rodrigues. "O Nelson Rodrigues seria um gênio se tivesse escrito em inglês. Agora, ele é um gênio para nós que falamos a língua portuguesa, o brasileiro como eles dizem que a gente fala, no exterior. Porque falam assim: o brasileiro eu entendo, o português de Portugal eu não entendo, não. Então, nós que falamos e escrevemos em português, nós temos de saber que tem uma; descrição sobre Copa do Mundo, do Nelson Rodrigues, que é brilhante: o complexo de vira-lata. O complexo de vira-lata que atingia o nosso país, quando a gente estava prestes a ganhar a Copa, uma porção de especialistas em futebol dizia que a gente ia perder. Esse é o complexo de vira-lata." Em face desse complexo, conclui nossa presidente, em estupenda forma lógica; "E naquela época não aceitaram que tinha de fazer metrô".

Se não bastasse esse nonsense, abalançou-se a fazer considerações sobre o Dia da Criança. A seu ver, não apenas da criança, pois "é dia da mãe, do pai e das professoras, mas também é o dia dos animais. Sempre que você olha uma criança, há sempre uma figura oculta, que é um cachorro atrás, o que é algo muito importante". Havia, portanto, um fio condutor na mente da presidente: da falta de metrô ao vira-latas de Nelson Rodrigues e deste ao cachorro oculto por detrás de cada criança, o que é, como salientou, "algo muito importante".

Mas, para ser justo, não foi apenas o Poder Executivo atingido pela onda de nonsense. O Poder Judiciário também o foi. Alguns alunos da USP decidiram que deveria o alunado determinar os destinos da universidade, não bastando ter representação no Conselho Universitário e indicar a este qual a preferência dos estudantes ante os candidatos a reitor. Impedidos de entrar em reunião do Conselho Universitário, alunos com notável "civilidade" invadiram o prédio da Reitoria, para com porretes quebrarem portas e dependências do prédio público. A USP, diante do | ilícito manifesto, recorreu ao Judiciário solicitando reintegração de posse. Qual não foi a surpresa ao ver o juiz interpretar o legítimo direito de recorrer a ele, magistrado, como um ato de autoritarismo, por se i pretender retirará força (legítima, da lei) quem à força (ilegítima) invadira um próprio público e o estava a destruir.

O juiz abdicou de suas funções para fazer discurso ideológico, com digressões de ordem, política, ao considerar que o ( reitor se recusou a "iniciar um debate democrático a respeito de diversos temas sensíveis à melhoria da qualidade da universidade" (eleição direta do reitor). Entendeu ser "de pequena monta" a depredação do patrimônio público, porque seria próprio da luta social, para ter pressão, causar transtorno e alteração da normalidade".

Ao legitimar a violência dos t invasores, em discurso anacrônico, na data em que se comemoravam 25 anos da Constituição Cidadã, considerou o juiz que a imprensa e a sociedade ; teriam sido "amalgamadas, por \ longos anos, na tradição de um pensamento autoritário". Foi além o magistrado, pois, a seu ver, a desocupação da Reitoria, com o uso da tropa de choque, ratificaria mais uma vez "a tradição marcadamente autoritária da sociedade brasileira e de suas instituições, que, não reconhecendo conflitos sociais, ao invés de resolvê-los pelo debate democrático, lançam mão da repressão".

Com esse discurso panfletário o juiz negou jurisdição, impedindo a aplicação da lei. Admitiu que a ordem de desocupação - evidentemente, a ser notificada por oficial de Justiça - seria desrespeitada, devendo recorrer à força policial. Presenteou, então, os invasores com a proposta de uma audiência de conciliação na qual o poder público deveria, sob a pressão de estar com sua sede tomada à força, ceder às pretensões de entregar a universidade aos estudantes e transformar os professores em seus subordinados.

Coerente foi o juiz em sua posição favorável ao assembleísmo e à proteção da "democrática" pressão por mudanças com recurso à violência. Incoerente, no entanto, foi a posição do desembargador ao apreciar o recurso da universidade, porque entendeu que "os ocupantes devem sair", mas não imediatamente, pois provisoriamente a reitoria pode funcionar em outro local", razão pela qual fixou um prazo de 6o dias para o fazerem.

Contraditoriamente, reconheceu a ilicitude da ação dos ocupantes, porém legitimou a manutenção da situação ilegal e danosa por 6o dias, indiferente ao transtorno causado à administração e ao bem público. Por que o prazo de 6o dias para voltarem à legalidade? O Judiciário mostra medo de impor a lei, cuja eficácia não depende de ação da tropa de choque, a não ser excepcionalmente. Deu-se autorização judicial à violência dos alunos e se negou direito certo da universidade. No Natal os invasores devem caminhar para suas casas à espera do Papai Noel e em seguida gozar merecidas férias de verão.

No Dia do Professor, mestres, que devem ensinar o respeito à lei, deram apoio incondicional aos black blocs, mascarados cuja única forma de agir é a violência, posta como um fim em si mesmo. Como conciliar a posição de educadores da juventude com a passeata ao lado desses depredadores?

Para um desmemoriado Lula, José Sarney não levantou um único dedo para criar dificuldades aos trabalhos da Constituinte, quando é consabido ter conspirado continuamente contra a Assembleia Constituinte, para no final manobrar de todas as formas por cinco anos de mandato.

É, o nonsense tomou conta do País.

Dilma, Lula, Judiciário, professores foram atingidos pela onda que tomou conta do País

*Advogado, professor titular dá Faculdade de Direito da USP, membro da Academia Paulista de Letras, foi ministro da Justiça.

Fonte: O Estado de S. Paulo

A falta de respeito de Lula é o desmoronamento de um projeto de poder – Alberto Goldman

O que falta ao ex presidente Lula é respeito. Não que não haja respeito por ele. Isso ele tem até demais. Todos respeitamos a sua história, a sua trajetória, a sua inteligência e a sua esperteza, ainda que não nos orgulhe a sua falta de escrúpulos. O que falta é o respeito dele à história do Brasil, à nossa inteligência, às pessoas em geral. Falta honestidade intelectual.

Nos últimos dias Lula desandou a falar como se todos nós fossemos um bando de energúmenos. Como se não fossemos capazes de discernir entre a verdade e a mentira. Como se não fossemos personagens, desde o mais humilde cidadão até o mais conceituado, da realidade em que vivemos.

Foi na solenidade de comemoração do bolsa família que o governo organizou sem convidar os membros do governo que o antecedeu ( nem mesmo o ex presidente Fernando Henrique Cardoso ) que iniciaram o programa ao qual ele deu continuidade quando percebeu que o fome zero, apresentado em sua campanha eleitoral como o programa que iria resolver o problema da fome e da miséria no Brasil, não se colocava em pé. Em campanhas anteriores ele criticava os programas assistenciais dizendo que eles colocavam os pobres na dependência dos interesses políticos dos governantes.

Ele disse na solenidade: “Nós herdamos do FHC um país muito inseguro, não tinha nenhuma estabilidade”. Falou da inflação que havia quando chegou ao governo, sem qualquer referência às ações dos governos anteriores –o plano real, o equilíbrio fiscal, as reformas estruturais – como se não devesse à essas ações a possibilidade de governar com índices inflacionários mais aceitáveis. Como se não tivesse referendado essas ações que prometeu seguir quando assinou a “Carta ao Povo Brasileiro”, um dos principais documentos da campanha que o levou à sua eleição.

Mais adiante afirmou que foi ele quem começou o programa de inclusão social e de desenvolvimento, e que ele e Dilma foram os que mais investiram em infra estrutura desde o governo Geisel. Nem uma coisa nem outra. Os programas de inclusão social já vêm desde a assinatura da Constituição de 1988, que ele e seu partido se recusaram a votar, e quanto aos investimentos de infra estrutura eles têm mostrado total incompetência na concretização dos projetos.

Dilma Rousseff não fica atrás do seu mentor no quesito falta de respeito à inteligência de todos nós. No mesmo evento comemorativo, ao rebater os críticos de seu governo afirmando que o bolsa família nunca veio para ser o fim do caminho, mas sim o primeiro degrau, ela se voltou, irritada, para os seus próprios ministros Guido Mantega ( Fazenda ) e Miriam Belchior ( Planejamento ) e disse:“Parem de regatear dinheiro para os pobres!”.

A verdade é que os dois, Lula e Dilma, estão encurralados pelas dificuldades econômicas pelas quais passa o país e pelos medíocres resultados de suas administrações. Ao procurar dar uma demonstração de superioridade estão, de fato, mostrando a insegurança que sentem diante do paulatino desmoronamento de um projeto político que pretendia ser um promissor projeto de Nação mas que se transformou em um anseio, tão somente, de manutenção do poder.

Alberto Goldman, vice-presidente nacional do PSDB

Risco da euforia -Cristovam Buarque

O Brasil está comemorando agora o que diversos países comemoraram no passado: a descoberta de grandes reservas de petróleo. Passados 50 anos, a maior parte deles, como os árabes e a Venezuela, tem o que comemorar pelo consumo de seus habitantes, mas não pelo fortalecimento de suas nações. Alguns deles sofreram o que Celso Furtado e outros economistas chamaram de "maldição do petróleo" Com tantos dólares disponíveis, não desenvolveram suas forças vivas: educação, indústria, ciência e tecnologia. Para evitar isso, o Brasil tomou uma precaução sob a forma da Lei 12.858/13, que reverte parte dos royalties do pré-sal para a saúde e a educação. Mas o texto da lei diz "prioritariamente" para a educação básica.

Com isso, os governantes estão apresentando o pré-sal como a solução que resolverá nosso atraso educacional, escondendo que, se tudo der certo e todas as receitas do petróleo, inclusive royalties, forem para a educação básica, daqui a 15 ou 20 anos o setor receberá quantia estimada em R$ 35 bilhões a mais por ano. Assim, cada criança na escola receberá R$ 600 a mais por ano para sua educação, ou seja, R$3 por dia letivo. Passaremos de R$ 2.500 para R$ 3.100, em vez dos R$ 9 mil por ano que precisamos para oferecer uma boa educação.

O Brasil deve ficar alegre com as possibilidades do pré-sal, mas sem cair na euforia da ilusão, especialmente porque os riscos são muitos e grandes.

Há o risco ecológico do vazamento de petróleo nessa profundidade, que ninguém sabe como controlar. Em uma profundidade menor, no Golfo do México, as empresas precisaram de semanas para conter o vazamento. Especificamente no caso do Campo de Libra, há o risco financeiro de a Petrobras não conseguir os 40% das centenas de bilhões de reais necessários para o investimento. Nesse caso, teremos o sério risco de o Tesouro ser obrigado a emitir títulos da dívida pública para capitalizar a Petrobras, como tem feito para financiar o BNDES, criando efeitos negativos sobre as finanças e a economia. Tem o risco de que, tudo dando certo, ocorra um fluxo de dólares que trará a maldição da desindustrialização, porque, enquanto houver petróleo, tudo ficará mais barato no exterior do que internamente. Há o risco da espera com o Brasil se acomodando à espera de recursos do pré-sal. Tem o risco tecnológico e operacional, tanto pela dificuldade de conseguir explorar petróleo nessa profundidade, quanto por falta de mão de obra especializada. Há também o forte risco de o preço do petróleo cair por causa do aumento da oferta em outros campos, da descoberta de novas fontes energéticas ou pelas restrições legais ao uso do petróleo em razão do aquecimento global.

Finalmente, temos o risco da euforia que estamos vivendo ao comemorar uma receita incerta e arriscada e que, se tudo der certo, daqui a algumas décadas, deverá deixar R$ 3 por dia letivo para cada fcriança na escola.

Alegria sim, euforia não.

Cristovam Buarque é senador (PDT-DF)

Fonte: O Globo

A economia segundo o modelo Costa Concordia - Rolf Kuntz

Viciado em gastança, atolado em políticas erradas e desastrado na escolha de prioridades, o governo continua destruindo as finanças públicas e liquidando qualquer compromisso com a responsabilidade fiscal, como comprovaram mais uma vez dois relatórios divulgados na quinta-feira - o das operações do Tesouro e o das contas consolidadas do setor público, elaborado mensalmente pelo Banco Central (BC). Com essa informação, ficou em segundo plano, pelo menos por algumas horas, um desastre muito mais visível para a maior parte do público: o pedido de recuperação judicial de mais uma empresa, a OGX, festejada como campeã nacional e apontada como exemplo de audácia e de sucesso pela presidente Dilma Rousseff. Há muito em comum entre as duas notícias: a inconsequência, o voluntarismo e o baixo grau de discernimento revelados tanto no dia a dia da política econômica quanto no tratamento das questões de longo prazo. A mesma vocação para o erro é evidenciada na resistência a uma nova política de preços para a Petrobrás, mesmo depois do balanço muito ruim divulgado na semana anterior. " Voltando às contas públicas: segundo o Tesouro, o governo central teve déficit primário -sem contar os juros, portanto -de R$ 10,47 bilhões em setembro, o pior resultado da série histórica para o mês. O conjunto do setor público, formado por União, Estados, municípios e estatais, também foi deficitário e com esse tropeço ficou mais difícil atingir qualquer resultado fiscal razoável neste ano. O buraco registrado nas contas do governo central ~~ é explicável por "especificidades", disse o secretário do Tesouro, Amo Augustin. O comandante do Costa Concordia, Francesco Schettino, poderia explicar com as mesmas palavras o desastre ocorrido no ano passado, quando o navio, desviado da rota, bateu num rochedo perto da Ilha de Giglio. Seu propósito pessoal ao ordenar o desvio foi uma "especificidade", assim como a incômoda presença do rochedo num lugar tão impróprio.Talvez se pudesse atribuir este último detalhe à vontade do Criador, mas o comandante de um navio deve ter certa familiaridade com a geografia da criação.

Não há como deixar de lado as motivações e decisões equivocadas, no caso das contas públicas, na história dos apertos financeiros da Petrobrás, na escolha desastrosa de campeões nacionais ou no episódio do Costa Concordia. De janeiro a setembro a receita do governo central - Tesouro, Previdência e BC - foi 8% maior que a de um ano antes. A do Tesouro, isoladamente, foi 6,8% superior àquela obtida entre janeiro e setembro de 2012. Mas a despesa total ficou 13,5% acima da contabilizada no ano anterior. Não houve, de fato, nenhum esforço importante de contenção, embora alguns problemas fossem previstos, incluída a perda de receita causada pelas desonerações fiscais.

Apesar dessas desonerações, o crescimento da economia continuou pífio. Nem o governo projeta, neste momento, uma expansão maior que 2,5% neste ano. Os estímulos foram mal concebidos e alimentaram mais o consumo do que a produção. Os empresários da indústria, setor com crescimento de apenas 1,1% nos 12 meses até setembro, continuaram ressabiados e pouco dispostos a mais gastos para produzir. O BC continuou apontando em seus relatórios a estreita margem de capacidade da indústria, os efeitos inflacionários da demanda e os riscos associados às condições de um mercado de trabalho muito apertado.

Esse aperto ficou ainda mais evidente quando a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou seu último estudo sobre as dificuldades de obtenção de mão de obra qualificada. O problema foi apontado por 68% das empresas consultadas na pesquisa. Em outras palavras, para bem avaliai a escassez de oferta no mercado de trabalho é preciso levai em conta a qualidade do capital humano disponível.

Além disso, praticamente metade das empresas, 49%, tem dificuldade para treinar o trabalhador,por causa da baixa qualidade da educação básica. Este é um problema herdado. Durante os primeiros oito anos da administração petista, a política educacional concentrou-se em facilitar o acesso ao ensino "superior", sem levar em conta os principais focos de problemas, localizados na educação básica e no ensino médio. Apesar de algum avanço, o Brasil continua ocupando posições vergonhosas nos testes internacionais de linguagem, matemática e ciências. O equívoco na escolha da prioridade foi muito mais que um inocente erro de avaliação. Foi também, obviamente, uma decisão ditada por interesses eleitorais.

Fiel ao padrão consolidado na gestão anterior, o governo da presidente Dilma Rousseff continuou gastando dinheiro e distribuindo benefícios de forma ineficiente, como se estivesse ao mesmo tempo realizando uma política anticrise e criando condições de crescimento de longo prazo. Queimou dinheiro inutilmente, como comprovam as contas públicas, o baixo ritmo da produção e os problemas consideráveis de competitividade internacional dos produtores instalados no Brasil. A crise externa é a causa menos importante da erosão da balança comercial.

Erros acumulados em dois governos deixaram a Petrobrás com problemas de caixa e muito dinheiro encalhado em projetos mal concebidos, como o da Refinaria Abreu e Lima. Apesar disso, a empresa tem de ser operadora única de todos os campos do pré-sal, manter participação de pelo menos 30% em todos os consórcios e funcionar como instrumento de política industrial.

Como exercer esse papel sem elevar seus custos e sem prejudicar sua atividade básica, o chamado core business, é uma questão ainda sem resposta. Mas o governo parece desconhecer essa pergunta, assim como desconhece, ou menospreza, as principais causas da estagnação brasileira, a começar pelos erros da política fiscal.

Trombada fiscal, apoio à OGX e problemas da Petrobrás são episódios do mesmo script

* Jornalista.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Encruzilhada - Míriam Leitão

Não é novidade que a malha ferroviária brasileira está, há décadas, estagnada. Mais um ano se passou, desde o Plano de Investimento em Logística, e nenhuma concessão foi feita. Tudo o que aconteceu de novo foi a queda do presidente da EPL, Bernardo Figueiredo, e muitas idas e vindas sobre como será o projeto ferroviário. O modelo é tão favorável aos empresários que eles se perguntam: isso vai durar?

Nos últimos dias, novas mudanças foram anunciadas. Primeiro, a Valec compraria toda a oferta de transporte e revenderia. Assim: o operador que ganhou a concessão constrói a ferrovia, tendo a garantia de que o góvemo comprará toda a sua capacidade. Depois, toda essa oferta irá a leilão, para terceiros. A estatal teria todo o poder. Em seguida, houve o anúncio de que a Valec seria fechada e outra empresa seria criada. Aí, voltou-se atrás e a Valec foi mantida. Esqueceram do detalhe de que para criar uma empresa seria preciso a aprovação do Congresso. A estatal já se envolveu em corrupção no passado e recentemente novas denúncias apareceram.

Os cálculos da ANTF, que representa o setor privado, são de que a estatal terá prejuízos de até R$ 4 bilhões por ano com os subsídios. Ficará dependente de aportes do Tesouro. Não por acaso, a Fazenda ganhou assento no conselho de administração da Valec.

O Diário Oficial explica a função da estatal: ""planejar, administrar e executar os programas" de exploração das ferrovias, "adquirir e vender o direito de uso" "expandir a capacidade de transporte do subsistema ferroviário federal" e "promover a integração" das malhas.

O programa dos portos depende de as ferrovias levarem a carga para o litoral. A malha atual é pequena e não consegue crescer. Era de 29 mil quilômetros em 1996 e está em 30 mil. A promessa do governo, há um ano, foi aumentar para 40 mil em 10 anos. Mas nenhum dos 11 trechos foi a leilão.

— A expectativa é de que apenas dois trechos sejam leiloados até abril. Os outros ficarão para 2015. O tempo passa, a malha atual está se deteriorando e não estamos conseguindo fazer novos trechos — disse o presidente da ANTF, Rodrigo Vilaça.

Os prejuízos para a Valec serão enormes porque, na melhor hipótese, ela vai empatar o investimento feito:

— Se a Valec vender mais caro, aumentará o custo logístico. Vai vender pelo mesmo preço ou mais baixo.

O governo tem um fimdo de R$ 15 bi para o subsídio, mas será insuficiente. São projetos de 30 anos, que demoram a dar lucro. O investidor vai ficar todo o tempo contando com aportes do Tesouro? Ninguém quer entrar nisso —- explicou Vilaça.

O consultor de logística Paulo Fleury acha que, com a garantia de que toda a capacidade será comprada pelo governo, nenhuma empresa fará esforço de venda. Rodar com carga ou sem carga dará o mesmo resultado.

A ANTF disse que o setor ferroviário está em rápida decomposição. Com os atrasos nos leilões, a indústria está parada. Os volumes de pedidos para fabricação de vagoes e locomotivas nao esta sendo suficiente para manter o funcionamento da cadeia produtiva e há fabricantes desativando operações.

Fonte: O Globo

Antes tarde do que nunca - Fernando Rodrigues

Quando há um crime, é um mau negócio ultrapassar o limite das faixas colocadas no local pela polícia de Nova York. Quem desafia a regra logo enfrenta um guardinha falando grosso e até empurrando. Berrar e reclamar é inócuo. Há chance real de sair dali algemado.

Há exceções. Às vezes alguém transgride. Mas cidadãos em geral conhecem as regras. Um ativista pode se jogar no meio da rua para atrapalhar o trânsito. Sabe que será retirado e levado até a delegacia.

Em 1988, como correspondente, achei um absurdo ter de solicitar minha credencial à polícia de Nova York. Depois, entendi. Numa cidade com milhares de eventos públicos, é natural a polícia desejar saber quem está devidamente habilitado para trabalhar como jornalista.

Às vezes imagino o que aconteceria se um grupo de 50 ou 100 pessoas tentasse diariamente bloquear o trânsito da 5ª Avenida, em Nova York. Seriam todos detidos, não importando a causa defendida. E ninguém sério argumentaria que falta liberdade de expressão nos EUA.

Por aqui, já se passaram cerca de quatro meses desde as grandes manifestações de junho. A cada semana, atos violentos continuam a ser organizados. É comum a avenida Paulista, uma das mais relevantes de São Paulo, ficar interditada. Há depredação de patrimônio público e privado. Cidadãos são impedidos de circular livremente.

É evidente que as forças de segurança brasileiras não estão sabendo lidar com esse novo fenômeno. Não conseguem coibir o vandalismo. Não protegem manifestantes pacíficos. Sem contar os 102 casos de agressões a jornalistas nesses atos.

Tudo para dizer que é positivo o acordo de cooperação firmado nesta semana entre os governos federal, de São Paulo e do Rio para usar mais inteligência na hora de lidar com as manifestações de rua. Antes tarde do que nunca, isto é, se houver, de fato, resultado a partir de agora.

Fonte: Folha de S. Paulo

Sobre jornalismo, história e biografias – Luiz Carlos Azedo

O processo de formação de uma imagem é longo, mesmo para os artistas. Para uma pessoa se tornar fã incondicional de alguém, é preciso mais do que letras ou melodias. Gente se identifica com atitudes, gestos, sejam eles libertários ou conservadores. Os admiradores de Gilberto Gil, Caetano Veloso e Chico Buarque perderam o prumo nas últimas três semanas. Cadê a voz que os representava no cenário artístico, político e histórico? Na real, o constrangimento é que tem ditado as regras da controvérsia sobre a censura prévia às biografias, que nada mais é do que a censura da história. É mais ou menos o seguinte: "Desculpe aí, meu ídolo, mas vou ter de criticá-lo". Ninguém fica lá muito confortável.

Volto ao tema das biografias porque me parece que se deve voltar a ele quantas vezes for necessário. O que está em jogo é a liberdade de expressão e de contar histórias, por mais que os nossos artistas cada vez mais confundam e, na última aparição em vídeo, tentem se mostrar contrários à censura. Tudo se torna mais grave quando o tema é maior do que a proibição a biografias. Até onde se percebe, a desculpa para privacidade pode valer para censurar qualquer texto, incluindo aqueles produzidos no jornalismo diário ou na academia. Sim, então do que falar dos perfis de políticos e de personalidades feitos por jornais e revistas ou mesmo das t teses preparadas nas faculdades de história, sociologia ou qualquer outra? Até onde vai a proibição de publicar tais informações?

Paralelo
A partir do que a entidade Procure Saber defende, é possível fazer um paralelo com o jornalismo e com a academia. Primeiro, porque não é de todo impossível que alguém um dia use os mesmos argumentos dos nossos ídolos para tentar barrar a publicação de um simples perfil feito por um repórter. Segundo, porque os melhores biógrafos atualmente são jornalistas, como Lira Neto (Getúlio e Padre Cícero), Fernando Morais (Olga e Chato) e Mário Magalhães (Marighella). Há gente ruim de apuração ou mal-intencionada, com uma estrutura ideoló-gicae partidária por trás? Sim, tem hoje e terá amanhã. Mas a esses cabe o processo judicial e, mais grave, a insignificância do i erro intencional, o desrespeito com o próprio leitor e o desme-recimento ao longo do tempo. Mas essa é outra história. É ficção e não jornalismo ou mesmo um trabalho de determinado biógrafo, um historiador na essência.

Como exemplos de historiadores, podem ser citados o pernambucano Evaldo Cabral de Mello (.Nassau) e o norte-americano Benj amin Moser (Clarice). O direito à informação é maior do que qualquer tese em defesa da privacidade, que, nesse debate das biografias, está posta de maneira equivocada. A história de artistas como Chico Buarque e Caetano Veloso se confunde com a própria história de um país. E um país apenas tem identidade ao abrir a própria história, sem censura. E falso o argumento que os biógrafos buscam devassar a vida de um artista por simples desejo. Ninguém está aqui a defender violações j de documentos ou quebra de sigilos telefônicos, por exemplo. | O trabalho de um biógrafo, historiador ou jornalista é de pesquisa formal, uma apuração profunda.

Aparição
O vídeo em que Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Gilberto Gil (cadê Caetano e Paula Lavigne?) aparecem para defender as próprias biografias é mais uma maluquice da tal entidade Procure Saber, que colocou Chico Buarque na maior roubada da vida. Há uma confusão de declarações, misturadas para dar sentido ao inexplicável. O mais desnorteado é Gil. "Quando nos sentimos invadidos, julgamos que temos o direito de nos preservar e, de certa forma, preservar a todos que de alguma maneira não tem como nós temos o acesso à mídia, ao Judiciário, aos formadores de opinião", disse o baiano. Sinceramente, é difícil entender quem, se não os próprios integrantes do tal Procure Saber, precisaria ser preservado. Os que não têm acesso aos formadores de opinião? Gil e a sua turma, sim, têm aces- j soa tal grupo, mas conseguiram convencer pouca gente ao entoar o discurso torto contra as biografias.

Reparação
Por fim, parece mais do que razoável incluir mais temas ao debate, principalmente com a proximidade da audiência pública no Supremo Tribunal Federal (STF) para discutir o tema.

Em vez da proibição das biografias prévias, ampliação do direito à reparação nos casos de ofensas, por exemplo

Fonte: Correio Braziliense

Panorama político- Ilimar Franco

Varrer para baixo do tapete
O PSB está escondendo de quem partiu a ordem de retirar do site do partido artigo de seu vice-presidente, Roberto Amaral. Seus dirigentes se apressam para garantir que não foi Eduardo Campos. "Ele está na Europa" disse um deles. Eles não revelam o nome do marineiro que protestou. Ciosos das aparências, só lamentam a citação a Marina Silva, que não consta do polêmico texto.

Guerra na nuvem
Os presidenciáveis disputam espaço nas redes sociais. O perfil oficial da presidente Dilma no Facebook reúne 92,4 mil pessoas e o Dilma Bolada, página fake que tem sua simpatia, conta com meio milhão de internautas. O tucano Aécio Neves tem 191,4 mil seguidores no Facebook e, com o Aécio Boladasso, cópia do perfil falso de Dilma, já tem 2,6 mil pessoas. Eduardo Campos possui 63,8 mil seguidores. No Twitter, Dilma tem 2 milhões de seguidores. Aécio, embora nunca tenha usado, tem 26,8 mil seguidores, e Eduardo, 8,3 mil. Depois da Dilma Bolada e do Aécio Boladasso, a equipe do socialista está "bolando" um personagem para o seu candidato.

"O Banco do Brasil está fora disso aí. Ele é muito profissional. Sua direção corporativa é muito forte"
Benito Gama
Vice-presidente de Relações Governamentais do BB, sobre o pedido de recuperação judicial da OGX, de Eike Batista

Pé na estrada
O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) intensificou a agenda de viagens pelo país. Com apoio da maioria da Executiva e da bancada na Câmara, está decidido a disputar a sucessão presidencial. Quer colocar lenha na fogueira.

Visita presencial
O governador licenciado de Sergipe, Marcelo Déda (PT), ganhou uma visita surpresa da presidente Dilma, semana passada. Ele está em tratamento no Hospital Sírio-Libanês (SP), contra um câncer no sistema gastrointestinal. Déda está afastado do cargo há seis meses, mas, do hospital, tenta manter uma rotina de trabalho.

Ressentimento
A família de João Goulart se sente excluída da exumação do corpo do ex-presidente. Reclama que o governo federal não a consulta para quase nada. Esta ação é considerada o ponto alto do trabalho da Comissão da Verdade.

A terceira via
O comando do PT não crê no fôlego de Eduardo Campos (PSB). Vê no PSDB, do senador Aécio Neves, o seu adversário em 2014. Um articulador da campanha da presidente Dilma é taxativo: "a terceira via não tem viabilidade no Brasil" E cita as várias tentativas: Garotinho (PSB), 17,8% dos votos; Ciro Gomes (PPS), 11,9%; Cristovam Buarque (PDT), 3,2%; e Marina Silva (PV), 13,9%.

Largando na frente
A ministra Ideli Salvatti (PT) lidera a corrida ao Senado em Santa Catarina, com 17%. Está à frente do neossocialista Paulo Bornhausen, com 11%. O petista Cláudio Vignatti tem só 3%. Esta pesquisa é do Ibope e foi encomendada pelo PMDB.

Com o jogo nas mãos
A presidente da CNA, senadora Kátia Abreu (PMDB), está com a bola cheia em Tocantins. Em pesquisa Ibope, de outubro, ela lidera com 30% para o Senado e, para o governo, só está atrás do ex-governador Marcelo Miranda, sub judice.

A presidente Dilma se reunirá com Bill Ford Jr, presidente executivo da Ford, dia 13, em Camaçari. Ele é bisneto de Henry Ford.

Fonte: O Globo

Painel - Vera Magalhães

É a política
A votação do aumento do IPTU na Câmara Municipal de São Paulo deve provocar mudanças na composição do governo Fernando Haddad. Partidos que votaram contra o prefeito, como PSB e PV, podem perder espaços que ocupam na administração. A margem estreita pela qual o projeto foi aprovado também levou aliados a aconselharem o petista a participar mais da articulação política e a ampliar a base no Legislativo. Haddad, entretanto, prefere ter maioria apertada, porém fiel.

Casual Friday Para tentar melhorar o relacionamento com vereadores e partidos, Haddad disse que pretende passar a dedicar as sextas-feiras a agendas políticas.

No foco Gilberto Kassab passou incógnito no embarque de Brasília para São Paulo na quinta-feira pela manhã enquanto, na cadeira ao seu lado, um passageiro lia a Folha, cuja manchete falava na prisão de ex-assessores de sua gestão na prefeitura.

Alvo móvel 1 Petistas incomodados com o mal-estar provocado na relação com Kassab após as prisões querem que Haddad pare de dar pessoalmente declarações sobre a investigação.

Alvo móvel 2 "Enquanto atacamos um potencial aliado, tiramos o foco da crise de segurança do governo Geraldo Alckmin", lamenta um aliado do atual prefeito.

De poste... Em pré-campanha para o governo paulista, Alexandre Padilha (Saúde) terá sua imagem cada vez mais colada à de Lula.

... em poste O ex-presidente levará o ministro a um encontro de prefeitos petistas de São Paulo no fim de novembro. No mês seguinte, está previsto evento com vereadores da sigla no Estado.

Zíper Padilha já iniciou outra rotina típica de pré-candidato: está numa rigorosa dieta, em que cortou os carboidratos a partir das 18h e o chope no fim de semana.

Sintonia O PSB definiu que os primeiros encontros regionais com a Rede para elaboração de seu programa acontecerão no Rio, em novembro, e na Bahia, em dezembro. Outros eventos nas regiões Norte, Centro-Oeste e Sul serão realizados em 2014.

Prensa Provocado no Facebook por um eleitor que pediu sua opinião sobre a lei que restringe a concentração de meios de comunicação na Argentina, Eduardo Campos (PSB) escreveu que "passou da hora de o Brasil decidir seu caminho nesse tema". O pernambucano prometeu escrever sobre o assunto em breve.

E aí? Roberto Amaral, vice-presidente do PSB, se queixa de o governo não ter publicado seu afastamento dos conselhos de administração do BNDES e de Itaipu.

Nada ainda O ex-ministro de Lula entregou a carta pedindo desligamento à Presidência no dia 7 de outubro, mas Dilma Rousseff não designou seus substitutos. Enquanto isso, o nome do pessebista continua nos sites do banco e da empresa.

Jogando... Parlamentares da base aliada se dizem surpresos com o apoio do líder do governo no Congresso, José Pimentel (PT-CE), à aprovação da medida provisória que trata da renegociação de dívida de produtores rurais.

... contra? O governo se opunha à MP, relatada pelo tucano Cícero Lucena (PB), porque itens do projeto já haviam sido aprovados em outro texto. O Planalto também temia que a proposta criasse um rombo em suas finanças.

Nem morta Convocados para reunião hoje em Brasília, ministros torciam até a última hora para que Dilma desmarcasse o encontro em respeito ao feriado de Finados.


Tiroteio

"Tenho certeza de que Rodrigo de Grandis não agiu de má-fé, mas, se um juiz engavetasse um processo por dois anos, o CNJ o afastaria."

DE ANTONIO CARLOS DE ALMEIDA CASTRO, advogado, sobre o procurador não ter atendido pedido da Suíça para apurar se a Alstom pagou propina em SP.

Contraponto

Desculpem a nossa falha

Durante a entrega de equipamentos de radioterapia para 80 centros de tratamento de câncer, em São Paulo, a luz acabou justamente na hora que o secretário de Saúde do Estado, David Uip, ia iniciar seu discurso:

--Ei, Padilha, você que fez isso? --perguntou, brincando, o auxiliar de Geraldo Alckmin.

--Eu, não! A companhia de luz é estadual --respondeu o ministro da Saúde e pré-candidato ao governo paulista.

Diante da resposta do petista, Uip arrematou:

--Poxa, tínhamos nos programado para isso acontecer na hora que você fosse falar!

Fonte: Folha de S. Paulo

Brasília-DF - Denise Rothenburg

O empurrão de Dilma
A convocação de 14 ministros para a reunião de hoje não fica apenas no balanço das obras e agilidade dos projetos governamentais. O que a presidente deseja é dar aquele ar de que está tudo sob controle e as obras seguirão seu ritmo, apesar do registro de um buraco de R$ 10,5 bilhões nas contas de setembro. A ordem para hoje é saber o que será entregue até o fim do ano, o que merece uma atenção maior e o que tende a ser adiado. A maior preocupação é o Nordeste, onde o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, no papel de pré-candidato a presidente da República, tem se dedicado ao discurso de unir a região. E há o receio do governo de que, diante dos atrasos do PAC da estiagem, por exemplo, esse discurso "pegue".
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No Ceará, conforme constatou o deputado Danilo Forte, do PMDB, em suas andanças pelo estado, 21 municípios sofrem com a falta d"água em áreas urbanas. Até mesmo em locais onde o governo investiu milhões na construção de barragens. Um caso é Jaquaretama, cidadezinha que abriga no seu território a megabarragem do Castanhão. Se o governo não se agarrar no serviço logo, para ter o que apresentar no ano que vem, os políticos calculam que não terá sobrevoo presidencial pelas obras da transposição que tire a imagem da lentidão das obras. Por isso, a ordem de Dilma será freio no custeio e pé no acelerador dos investimentos.

Nem lá, nem cá
A presidente Dilma Rousseff não intervirá na briga entre o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e a Petrobras, comandada por Graça Foster. Dilma está convicta de que ambos têm razão e vai tirar a média. Nem a Petrobras conseguirá colocar o preço nas alturas, nem Mantega conseguirá manter tudo congelado.

Mal-acostumados
O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, decretou o fim do contrabando nas medidas provisórias, mas se esqueceu de combinar com os deputados. Entre as emendas apresentadas à MP que trata da dívida dos pequenos agricultores, por exemplo, tinha até proposta para mudanças no exame da Ordem dos Advogados do Brasil.

Certezas comunistas
Foi-se o tempo em que os comunistas do PCdoB garantiam que Deus não existe. Agora, além de fazer o sinal da cruz quando passam em frente às igrejas, eles têm mais duas convicções: 1) Estarão com a presidente Dilma Rousseff na reeleição de 2014. 2) Nos estados, não têm o mesmo compromisso com o PT. Farão o que for melhor para o partido.

"A decisão do PMDB do Rio de Janeiro está tomada. Ou o PT retira a sua candidatura ao governo estadual ou o Pezão vai apoiar outro. Aqui não vai ter palanque duplo"

Do líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha, referindo-se à candidatura do vice-governador Luiz Fernando de Souza, o Pezão, à sucessão de Sérgio Cabral. A frase dita à coluna às vésperas do encontro de Cabral com Dilma ganha ares de "estou falando muito sério"

Tiques/ Dia desses, um ministro muito bem-humorado comentava as reações de seus colegas quando levam bronca da presidente Dilma Rousseff. Aloizio Mercadante, da Educação, mexe o bigode para o lado direito.

Por falar em Mercadante.../ Os petistas apostam que ele deixa o governo para coordenar a campanha de Dilma Rousseff à reeleição. Só não será se o carioca-baiano Jaques Wagner vier.

Em tempo/ Ontem foi a sexta vez que a presidente foi à Bahia este ano e tem ainda dois eventos agendados por lá. E Sérgio Gabrielli, aquele que presidiu a Petrobras, faltou ao beija-mão.

Temer salva um/ O ministro da Secretaria de Aviação Civil, Moreira Franco, escapou por pouco do "broncão" da presidente Dilma hoje. É assim que, nos bastidores, os governistas bem-humorados se referem à reunião no Palácio neste sábado. Moreira embarcou para a China ontem à noite com o vice-presidente, Michel Temer.

Temer salva outro/ O ministro da Agricultura, Antônio Andrade, também integra a comitiva de Temer e a essa hora está voando para a China. Coincidentemente, tanto Moreira quanto Toninho Andrade são do PMDB. Moreira fará uma palestra para o grupo empresarial Brasil/China sobre aviação regional, e Andrade estará nas rodadas do agronégócio a cargo da Confederação Nacional de Agricultura.

Fonte: Correio Braziliense