Com 15 deputados federais, a 11ª bancada da Câmara, os comunistas do Brasil só ganham do PV (14), do PPS (12) e da penca de legendas de um dígito.
Nela reúnem-se o delegado mais barulhento do país, Protógenes Queiroz (SP), alguns sindicalistas e sete deputados egressos do movimento estudantil.
Também fizeram carreira na União Nacional dos Estudantes os três ministros que a legenda já emplacou (Aldo Rebelo, Agnelo Queiroz e Orlando Silva).
O orçamento fixo da UNE vem do monopólio da emissão das carteiras de estudante, aprovado pelo Congresso no segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, mas a entidade, a partir do lulismo, também passou a receber repasses federais para os eventos que organiza.
No governo Lula, a bancada do PCdoB votou com o governo 66% dos projetos. Só não foi mais fiel do que o partido do presidente da República que aderiu ao Executivo em 77% das votações.
No governo Dilma Rousseff, Aldo Rebelo foi um dos comandantes da pior derrota legislativa da presidente, a votação do código florestal.
Quem tem ambições majoritárias acaba saindo do partido. Foi o caso do senador Lindbergh Farias (RJ), outro ex-presidente da UNE, e do governador Agnelo Queiroz (DF), ambos hoje no PT.
O PCdoB custou a eleger seu primeiro prefeito. Luciana Santos, outra egressa do movimento estudantil, governou Olinda entre 2001 e 2008. Hoje são 42, mas um único de capital, Edvaldo Nogueira (Aracaju), que chegou à prefeitura como vice do petista Marcelo Déda, assumiu o cargo com a eleição deste ao governo e foi reeleito.
Nos legislativos estaduais e municipais o PCdoB é chamariz de músicos. Em São Paulo, quase elege Netinho de Paula senador. O atual vereador paulistano com seus 7,7 milhões de votos é hoje o recordista em número absoluto de votos do partido.
Sua roda de samba junta ainda Leci Brandão, eleita deputada estadual em São Paulo, Martinho da Vila e Jorge Mautner.
A ala dos esportistas é a mais recente do partido. É nela que desembarcam muitas das antigas lideranças da UNE que, ao cederem seus postos para as novas gerações do movimento estudantil, têm que procurar novas freguesias. Foi o caso de ambos os ministros dos Esportes que o partido já teve.
Antes de chegar ao ministério, o primeiro cargo executivo relevante ocupado pelo PCdoB na área foi a Secretaria de Esportes de São Paulo que a gestão Marta Suplicy confiou em 2001 a Nádia Campeão, outra egressa do movimento estudantil que hoje preside o partido no Estado. A experiência se repetiu em Campinas onde o prefeito cassado dr.Hélio (PDT) entregou a um outro ex-presidente da UNE, Gustavo Petta, cunhado de Orlando Silva, a secretaria municipal de esportes.
O reconhecimento de que o PCdoB havia se tornado uma grife na política esportiva, sob quaisquer colorações ideológicas, veio com o convite do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), a um dirigente local do PCdoB, sem experiência prévia na área, para a secretaria municipal da Copa de 2014.
Com a ocupação crescente dos cargos públicos de esportes, proliferaram convênios com ONGs ligadas ao partido. É por meio deles que o PCdoB mantém parte de suas bases eleitorais da mesma maneira que convênios firmados pelo Ministério do Trabalho favorece entidades ligadas a sindicatos que funcionam à sombra de PT, PDT e de outros partidos. O esquema se prolifera por toda a Esplanada a despeito das recomendações do TCU de que muitas das entidades contratadas não entregam o combinado - e pago.
Os holofotes se voltam para o PCdoB porque o partido assumiu predominância nos Esportes nos anos estratégicos que antecedem a Copa do Mundo e a Olimpíada. O comodato comunista dos grandes eventos soma a Embratur, em mãos do deputado federal Flávio Dino (PCdoB-MA), e a UNE, por onde passa a discussão da meia-entrada para os jogos.
Com todo esse poder, seria de esperar que o partido viesse a ter uma posição mais clara sobre a relação entre esses grandes eventos esportivos e o desenvolvimento do país. Há cinco anos no cargo, o ministro Orlando Silva só recentemente começou a comprar brigas numa seara em que a cartolagem acostumou-se a levar todas.
No programa que foi ao ar ontem em cadeia nacional o PCdoB ocupou-se mais em defender Orlando Silva e propagandear futuros candidatos. Nada disse do regime especial que vai reger as licitações das obras de 2014 e da Lei Geral da Copa que está em tramitação no Congresso para regular a meia entrada, a bebida alcóolica nos estádios e os contratos de publicidade.
A experiência na África do Sul já está devidamente sedimentada para que dela se tirem lições. Em entrevista para a Deutsche Welle, Eddie Cottle, da federação internacional que reune trabalhadores na construção civil, adiantou dados de seu livro sobre aquela Copa.
A África do Sul, diz, recebeu 373 mil turistas em 2008, menos que no ano anterior quando lá aportaram 483 mil visitantes. A Fifa insistiu na construção da milionária Arena da Cidade do Cabo desprezando um estádio já existente porque rodeado de favelas. Quatro mil famílias foram desalojadas. Agora o governo quer cobrar impostos para a manutenção deste e de outros elefantes brancos. Nem o impulso à indústria têxtil sobrou de herança porque as camisetas do evento vieram todas da China.
Todos os países usam eventos como a Copa do Mundo para vender uma identidade nacional para consumo interno e externo. A do Brasil deve estar relacionada a esse novo papel que a pujante potência quer desempenhar na governança global. Esse é o tema de insistentes pronunciamentos da presidente Dilma Rousseff em seus recentes périplos internacionais. Resta saber se também pautará a negociação com a Fifa e a CBF sobre as exigências de ambas as entidades ao governo brasileiro.
Em artigo na última edição da revista Interesse Nacional (interessenacional.uol.com.br) o jornalista Juca Kfouri diz quase tudo sobre a Copa no Brasil.
Lembra o jornalista João Saldanha, velho comunista que morreu sem se conformar com os rumos que tomava o futebol. Insurgia-se até contra as placas de publicidade dos estádios por avaliar que colocavam em risco a segurança dos jogadores e poluíam o jogo.
No programa de ontem o PCdoB apropriou-se de célebres comunistas da história como Cândido Portinari, Carlos Drummond de Andrade e Oscar Niemeyer, mas deixou Saldanha de fora.
Maria Cristina Fernandes é editora de Política.
FONTE: VALOR ECONÔMICO