quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Opinião do dia: PPS*

Um Partido que lutará pela implantação do parlamentarismo, pelas reformas estruturais de que o país necessita e pela preservação dos direitos consagrados constitucionalmente. Um Partido que se dispõe a repensar tudo, 'mas que não abre, de forma alguma, seu compromisso de luta por uma sociedade mais justa e mais humana.

Um Partido que é e será um espaço aberto à participação de todos os que têm aspiração de construir essa sociedade. Um Partido que assume sem medo compromissos com o presente e o futuro, recusando a infalibilidade e o dogma, mas tendo em conta a experiência do passado.

Um Partido que não tem fórmulas prontas e acabadas, e que se propõe a discutir e formular um Projeto para a Nação Brasileira, com a colaboração de todas as forças do campo democrático. Esse é o desafio lançado a todos os militantes deste novo Partido e o convite a todos os que queiram nele se integrar.

* Manifesto de fundação do PPS, 26 janeiro de 1992, São Paulo, SP

*José Serra: Armas e investimentos

- O Estado de S.Paulo

Redução da insegurança pública implica ampliar o sistema carcerário e endurecer as leis penais

O Decreto 9.685, assinado pelo presidente Jair Bolsonaro, facilitou a posse de armas no País, tornando mais simples o processo para ter um equipamento desses em casa ou em estabelecimento comercial. Como já escrevi em artigo neste espaço, a medida pode representar, não obstante suas intenções, uma espécie de tiro no pé. Ao invés de aumentar a segurança das pessoas, poderá inadvertidamente promover mais violência e mais mortes. Aliás, como reconheceram setores do próprio governo, ela não visa tanto a melhorar a segurança pública, mas a cumprir uma promessa de campanha.

Teria sido uma boa oportunidade para o presidente Bolsonaro se inspirar em Juscelino Kubitschek num dos seus melhores momentos: “Costumo voltar atrás, sim; não tenho compromisso com o erro”. Infelizmente, não foi o que aconteceu. Mesmo diante de evidências que recomendavam o contrário, o chefe do Executivo assinou o decreto facilitando a posse de armas. A meu ver, isso poderá aumentar a criminalidade, em vez de reduzi-la, ao contrário do que deseja o presidente. Para reduzir a violência no País precisamos de polícias mais bem equipadas e, sobretudo, de uma atuação concertada entre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, nos três níveis da Federação.

Com o novo decreto, bastará ter residência em área rural ou urbana localizada em Estado com índice superior a 10 homicídios por 100 mil habitantes durante o ano de 2016 para se comprovar a efetiva necessidade de possuir quatro armas de fogo em casa. Como não há unidade da Federação com índice de criminalidade inferior a dez, pode-se dizer que um comprovante de residência – conta de luz ou água – passou a ser o critério para dispor de um pequeno arsenal em casa.

Vale lembrar que o novo decreto manteve critérios previstos em normas anteriores para o pleno direito de posse de arma. Além de ter uma residência – própria ou alugada –, a pessoa deve ser aprovada em teste de habilidade e de psicologia, ter no mínimo 25 anos e uma ficha limpa de processos criminais.

O governo defende a medida projetando uma desejada (por todos) redução da criminalidade no País. Argumenta que, estando armadas, as pessoas podem se defender de assaltos e outras formas de violência sacando a arma em legítima defesa. Tudo se parece com os filmes de ação, em que o mocinho vence o bandido com rapidez, habilidade e autocontrole.

Deixando de lado as telas do cinema e encarando a vida real, tomemos alguns números do Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública de 2018. Em 2017 foram mortos 371 policiais no Brasil – 290 no horário de folga. Se um policial com porte de arma não consegue reagir de forma efetiva a um ataque, o que acontecerá com um cidadão não treinado para enfrentar um assalto? Infelizmente, o efeito surpresa está do lado dos bandidos, não do cidadão de bem.

Merval Pereira: Situação agravada

- O Globo

Se fosse possível, o 01 já teria explicado, com documentos, todas as dúvidas sobre suas movimentações flagradas pelo Coaf

O caso que começou com uma suspeita de que o motorista Queiroz fosse seu “laranja” para receber parte do salário de seus funcionários da Assembleia Legislativa do Rio chega a um ponto de maior gravidade com o envolvimento de Flávio Bolsonaro com milicianos.

Deu medalhas a dois policiais acusados de serem milicianos, um dos quais preso terça-feira, e, para ajudar um deles, deu emprego à mãe e à filha no seu gabinete, a pedido de seu assessor Fabrício Queiroz. Já fizera, por sinal, vários discursos a favor de milícias, que definiu como organizações que atuam com base em técnicas militares e “ajudam a combater” o crime, como se não fossem criminosos.

O pai, hoje presidente, Jair Bolsonaro, também já fizera discurso na Câmara dos Deputados defendendo o papel das milícias. O motorista Queiroz, que deu início a todo esse imbróglio, foi quem pediu o emprego para os parentes do miliciano, justificando como uma ação humanitária.

Sabe-se agora, graças a Ancelmo Gois, que a família de Queiroz tem vans ilegais em Rio das Pedras, comunidade controlada pelas milícias onde, aliás, como informou Lauro Jardim, ele se escondeu no período inicial dessa confusão, quando deixou de comparecer duas vezes a audiências marcadas para ouvir oficialmente suas explicações.

Se fosse possível, o 01 já teria explicado, com documentos, todas as dúvidas sobre suas movimentações atípicas flagradas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf ). Recusou-se a comparecer às audiências do Ministério Público, que investiga o caso, e, quando foi forçado a pronunciar-se, deu meias verdades como verdades inteiras fossem, misturando fatos reais com os criados por sua defesa, mas deixando sempre mais dúvidas no ar.

Bernardo Mello Franco: O governo novo que já ficou velho

- O Globo

Todo governo costuma começar com um mês de lua de mel. A estreia de Bolsonaro tem sido diferente. O presidente mal tomou posse e já enfrenta uma crise

Todo governo costuma começar com um mês de bonança. Com o Congresso e o Supremo em recesso, o novo presidente concentra os holofotes em Brasília. É tempo de fazer anúncios e aproveitar a lua de mel com o eleitor.

A estreia de Jair Bolsonaro tem sido diferente. O presidente mal tomou posse e já enfrenta uma crise. O novo governo parece ter ficado velho antes da hora.

O bolsonarismo chegou ao poder com um tripé de promessas: combater a corrupção, enfrentar a criminalidade e reformar a economia. A primeira perna bambeou depressa. Ficou difícil levar o discurso ético a sério depois de conhecer Fabrício Queiroz.

Ontem Bolsonaro indicou que pode jogar o primeiro-filho ao mar. “Se pro acaso ele errou, e isso for provado, eu lamento como pai, mas ele terá que pagar”, disse. O problema é que não dá para separar Jair dos rolos de Flávio. O presidente recebeu ao menos R$ 24 mil do motorista, em depósitos na conta da primeira-dama. Ele ainda deu emprego à filha de Queiroz, que postava fotos na praia quando deveria estar em seu gabinete.

A promessa de “jogar duro” contra a violência também anda em xeque. O envio da Força Nacional não parou a onda de ataques no Ceará, e Bolsonaro tentou vender ilusões com o decreto das armas. 

Cora Rónai: As agruras do senhor Messias

- O Globo

Basta olhar para o seu perpétuo ar contrafeito para perceber que não era bem isso que ele tinha em mente quando se lançou a essa aventura

O governo ainda não tem um mês e já coleciona histórias mal contadas suficientes para dez legislaturas na Finlândia. A internet não tem sossego — mal absorve um escândalo e lá vem outro. Tenho pena do Queiroz, que anda tão doente: esse tipo de situação não faz bem à saúde. Chego a temer pela vida do rapaz.

Tenho pena também do senhor Messias, que deu um passo maior do que a perna, e que agora se mostra tão pouco à vontade nas suas novas funções. Tudo o que ele queria era fazer churrasco à beira da piscina e passar o fim de semana de sunga; agora é obrigado a trabalhar, a viajar para lugares onde jamais pensaria em pôr os pés se pudesse escolher por si mesmo e a fugir da imprensa, que insiste em fazer perguntas.

O senhor Messias não tem mais sossego, e basta olhar para o seu perpétuo ar contrafeito para perceber que não era bem isso que ele tinha em mente quando se lançou a essa aventura.

Aquelas fotos do senhor Messias comendo no bandejão do supermercado, por exemplo. Todas as sumidades reunidas ali ao lado, aproveitando os parcos e preciosos momentos em que se encontram para trocar ideias e fazer negócios, almoçando com um olho na comida e outro no futuro, e o senhor Messias sozinho, com os seguranças, tentando vender como humildade o seu tédio e falta de entrosamento.

Nem Temer se viu tão sozinho no mundo.

Em 2009, em Copenhague, Dilma, que ainda não era presidenta e, a bem dizer, não era ninguém na fila do pão, ficou mortalmente ofendida com a ideia de comer no bandejão da Conferência do Clima, e despachou uma de suas assessoras para a fila — onde Angela Merkel conversava, descontraidamente, com Nicolas Sarkozy.

No mundo dos tubarões, até bandejão tem seu modo de usar.

Luís Inácio, aquele, tinha muitos defeitos, mas tinha a manha. Não cometeria um erro bobo desses. Chegava no estrangeiro e, onde quer que fosse, era logo rodeado por gente ansiosa em tirar uma casquinha da sua imbatível popularidade. A elite tem má consciência, e Luís Inácio sabia disso: ele, homem do povo, era um passaporte político e emocional para os poderosos.

Janio de Freitas: Por ora, o começo

- Folha de S. Paulo

O que emerge tem potencial de chegar a desfechos dramáticos em várias frentes

Impossível não é, mas também não é convincente que Flávio e Jair Bolsonaro pontuassem seus percursos políticos com defesas, elogios e apoios práticos às milícias apenas por ideias degenerativas. Sem sequer conhecer a ligação do seu influente amigo e assessor Fabrício Queiroz com a poderosa milícia de Rio das Pedras.

O que emerge, quase só por acaso, da simplória denúncia de que um PM movimentou pouco mais de um milhão em um ano, tem potencial de chegar a desfechos dramáticos em várias frentes.

Tudo depende da disposição de investigar e, a fazê-lo, que não haja os dirigismos e limitações próprios dos grandes inquéritos brasileiros.

A operação de há dois dias em Rio das Pedras, aliás, foi um feito sem precedente que a intervenção militar no Rio construiu, mas não pôde concluir.

Sua continuidade, pedida pelo novo governador, foi negada pelo governo Bolsonaro. Se por desejo do Exército ou por motivos que fatos atuais e futuros sugiram são hipóteses disponíveis para os exercícios interpretativos. Apesar de hipóteses, valem mais do que as explicações dadas.

Os generais Braga e Richard, no pouco que saíram do silêncio, deram pistas da prioridade à apreensão de armas (sem êxito) e às milícias. O que combinava com as principais suspeitas sobre a morte de Marielle e do motorista Anderson.

Mas uma operação contra a milícia da Rio das Pedras precisava de mais do que as informações necessárias: exigiu uma composição humana especial, pelos riscos implícitos e até para evitar o vazamento ameaçador.

Fernando Horta: Um burro em Davos


- Jornal GGN


Num dos esforços de melhorar as relações entre os países da América do Sul, durante ainda a segunda guerra mundial, os EUA por meio de Walt Disney, criou um personagem para dialogar com o rato mais famoso do estúdio. Zé Carioca (Joe Carioca em inglês) aparece em 1942 num filme ao lado do Pato Donald, chamado “Saludos Amigos”. O Brasil de Zé Carioca é um Brasil com “belezas naturais”, “florestas”, “praias” e com um “povo hospitaleiro” disposto a “receber” outros povos da América numa desesperada busca por modernização econômica.

O Brasil de Zé Carioca oferecia apenas entretenimento e oportunidades econômicas. Era “faceiro”, “falastrão” e “boa gente”, mas carecia de qualquer capacidade civilizatória que tivesse valor na metade do século XX. O Brasil vivia o processo de urbanização e Zé Carioca mostrava o estereótipo do “malandro carioca”, num modo de vida em franco mal-estar com trabalho ou produção econômica. Enquanto Donald é um determinado e turrão pato, Zé Carioca mostrava-se ao avesso de qualquer noção de “hard working”, vivendo da barganha individual e do extrativismo urbano de vantagens que o “malandro” podia obter.

É a noção mais eloquente do Brasil à venda; do Brasil como terra de “oportunidades” ao dinheiro estrangeiro. Oportunidades normalmente não industriais, mas voltadas ao entendimento que até então se tinha do país: o local do exótico e do selvagem.

Zé Carioca era o modelo mais bem acabado do Brasil do “baticundum”. Até o burro Jair, em Davos.

Muito menos falante que Zé Carioca, sem qualquer carisma ou capacidade de comunicação, Jair retomou o estereótipo do Brasil opulento por suas “belezas naturais”, e carente de valores civilizados. Sem a capacidade de formular quaisquer pensamentos mais profundos, ou mesmo de dar indicações precisas de suas ideias, Jair Bolsonaro falou menos do que o entrevistador que tinha a triste missão de arrancar algo inteligente do presidente brasileiro. Em pouco mais de seis minutos de fala titubeante, desconexa, empiricamente mal formulada e totalmente frustrante, Bolsonaro falou mal do “bolivarianismo”, dos “governos anteriores”, do “viés ideológico” e hipotecou o Brasil de mais formas do que QUALQUER governo anterior.

Na fala de Bolsonaro, o Brasil é uma terra-arrasada precisando de ajuda. E para isto não apenas ele oferece nossa “opulência”, como promete “privatizar” e oferecer “oportunidades de negócios”. Nem a Cuba de Fulgêncio Batista, antes da revolução, era pintada de uma forma tão subalterna, insossa e desesperada por capital estrangeiro. Bolsonaro precisou ser lembrado, diversas vezes, pelo entrevistador de que o Brasil é a oitava economia do mundo (já foi a sexta, nos tempos de Lula), e que deveria ter algo a mais a oferecer do que “diminuir o Estado”. O sonho de Bolsonaro, contudo, é que o Brasil se torne “um dos 50 melhores países do mundo para fazer negócios”.

Ricardo Noblat: Bolsonaro põe e tira a faixa

- Blog do Noblat | Veja

Cada um sabe onde lhe apertam os calos

Jair Bolsonaro acordou, ontem, em Davos como presidente da República, e foi dormir como pai de Flávio.

Ainda desajeitado no papel que desempenha há menos de 25 dias, ele havia dito de manhã em entrevista à agência de notícias Bloomberg:

– Se por acaso ele errou, e isso for provado, eu lamento como pai, mas ele terá que pagar o preço por essas ações que não podemos aceitar.

Acostumado ao papel do pai que carrega os filhos nas costas, arranja empregos para eles e orienta suas ações, disse à noite à TV Record:

– Acredito nele [Flávio]. A pressão enorme em cima dele é para tentar me atingir. Ele tem explicado tudo o que acontece com ele nessas acusações infundadas.

A banda inteligente e sensata do governo, militares à frente, celebrara a encarnação de Bolsonaro como presidente da República, assim como os políticos que o apoiam, preocupados com o próprio futuro.

Todos foram dormir aflitos com mais uma fraquejada do capitão, especialmente o general Hamilton Mourão, presidente da República em exercício.

Um dia antes de Bolsonaro acordar menos pai e mais presidente, o general dissera que os rolos de Flávio e Queiroz deveriam ser apurados e, se fosse o caso, punidos os responsáveis por eventuais erros.

Bolsonaro, pai, acabou comprando o falso argumento de defesa de Flávio de que o Ministério Público do Rio de Janeiro tenta culpá-lo para atingir a figura do presidente da República. Ora, o Ministério Pública investiga 27 deputados.

É truque velho usado por políticos em dificuldades valer-se da respeitabilidade do cargo que ocupam para tentar se proteger. Quantas vezes, por exemplo, Lula não fez isso, Dilma, Renan Calheiros e outros famosos?

Laura Carvalho*: Gabinete do crime

- Folha de S. Paulo

Laissez-faire do governo é o vale-tudo, o deixa rolar, o me engana que eu gosto

Celso Rocha de Barros encerrou sua coluna nesta Folha na segunda-feira (21) com a triste constatação de que “a Lava Jato, até agora, não levou ao poder os honestos. Levou ao poder os malandros que eram insignificantes demais para serem pegos primeiro”.

A Operação Os Intocáveis, deflagrada no dia seguinte, pode entristecer ainda mais o colunista: o Ministério Público do Rio de Janeiro determinou a prisão de diversos integrantes da milícia que explora um ramo imobiliário ilegal em Rio das Pedras, na zona oeste da cidade, entre os quais o major da PM Ronald Paulo Alves Pereira e o ex-policial Adriano Magalhães da Nóbrega, suspeitos de comandar o Escritório do Crime —o braço armado da organização.

Até então, os indícios de participação de Flávio Bolsonaro em contravenções se restringiam, de um lado, ao grande número de transações imobiliárias, que levaram ao acúmulo de um patrimônio aparentemente incompatível com seus rendimentos declarados, e, de outro, às movimentações financeiras do ex-PM assessor-motorista-homem de negócios Fabrício Queiroz, consideradas atípicas e sugestivas da prática apelidada de “rachadinha”, com contratação de laranjas na Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro).

Com a nova operação, Flávio desceu mais um degrau na proximidade com o crime organizado do Rio. Contrário à homenagem prestada pela Alerj à vereadora assassinada Marielle Franco, dedicou menção honrosa a Ronald Pereira e Adriano da Nóbrega em 2003 e 2004 e concedeu também a Medalha Tiradentes a este último, em 2005.

Além disso, a mãe de Nóbrega, que assim como sua esposa era contratada até novembro de 2018 pelo gabinete de Flávio com salário de R$ 6.490,35, consta como autora de um dos depósitos identificados no relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).

Curiosamente, Queiroz teria se escondido justamente na favela Rio das Pedras antes de sua internação no Hospital Albert Einstein, segundo Lauro Jardim, do Jornal O Globo.

Cláudio Gonçalves Couto*: Laços de família

- Valor Econômico

Nunca uma família foi tão enredada com a Presidência

Entre 2000 e 2002, Flávio estudava direito e estagiava no Rio de Janeiro. Isso não o impediu de estar simultaneamente empregado na liderança do PPB na Câmara dos Deputados. O PPB de Paulo Maluf também era, à época, partido do pai de Flávio, Jair. E o cargo ocupado pelo filho era antes ocupado por Ana Cristina - então esposa do pai.

Já Fabrício, amigo de longa data do pai de Flávio, foi empregado por ele, assim como sua filha, Nathalia, que depois de assessorar Flávio, foi empregada por Jair em Brasília - sem prejuízo de seu concomitante trabalho como 'personal trainer' no Rio, onde Flávio era deputado. A esposa de Fabrício, Márcia, assim como sua outra filha, Evelyn, também foram empregadas no gabinete de Flávio. Evelyn, aliás, substituiu a irmã, Nathalia, justamente quando essa foi contratada pelo pai de Flávio, Jair, como assessora em Brasília - embora seguisse no Rio, postando selfies com seus clientes.

Michelle também foi empregada no gabinete de Jair e depois se casou com ele. Recebeu em sua conta um cheque de Fabrício - o amigo de Jair, assessor de Flávio, marido de Márcia, pai de Evelyn e Nathalia. Jair disse que o dinheiro era o pagamento de um empréstimo que ele fizera ao velho amigo, mas como não tinha tempo de ir ao banco (não é todo mundo que consegue estar no Rio e em Brasília ao mesmo tempo), a esposa fez isso por ele. Nathalia e a mãe, Márcia (além de outros sete funcionários), também faziam depósitos na conta de Fabrício. Nathalia e Fabrício foram exonerados dos empregos no mesmo dia 15 de outubro - a filha do gabinete do pai, Jair; o pai do gabinete do filho, Flávio.

Raimunda e Danielle também foram empregadas no gabinete de Flávio. Elas são, respectivamente, mãe e esposa de Adriano, ex-policial amigo de Fabrício e homenageado por Flávio com a Medalha Tiradentes. Hoje, Adriano é foragido da Justiça, que pede sua prisão por integrar uma milícia - organização cuja utilidade pública foi exaltada pelo pai de Flávio, Jair. Além de homenagear Adriano, Flávio também congratulou Ronald, seu sócio na mesma milícia - suspeita da morte de Marielle. Tal milícia, aliás, atua em Rio das Pedras, onde consta que ficou escondido Fabrício antes de ir a São Paulo para ser operado e dançar com o suporte de soro fisiológico. Fabrício diz que foi ele quem sugeriu a Flávio que empregasse a mãe e a esposa de Adriano, assim como homenageasse a ele e a Ronald.

Luiz Carlos Azedo: Dualidade de poderes

- Correio Braziliense


“Grandes manifestações populares, apesar de toda repressão policial e a violência das milícias chavistas, demonstram que a sociedade venezuelana já não aceita o governo de Maduro”


O presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Juan Guaidó, que é o líder da oposição, se declarou ontem presidente interino do país, diante de gigantesca manifestação popular em Caracas: “Na condição de presidente da Assembleia Nacional, ante Deus, a Venezuela, em respeito a meus colegas deputados, juro assumir formalmente as competências do Executivo nacional como presidente interino da Venezuela. Para conseguir o fim da usurpação, um governo de transição e ter eleições livres.”

Guaidó foi imediatamente reconhecido presidente por Estados Unidos, Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru e Guatemala, além do Brasil. O Itamaraty emitiu uma nota oficial na qual “reconhece o Senhor Juan Guaidó como presidente encarregado da Venezuela”, além de anunciar que “apoiará política e economicamente o processo de transição para que a democracia e a paz social voltem”. O presidente Nicolás Maduro, considerado um ditador pelo Grupo de Lima e pelos Estados Unidos, porém, não pretende deixar o cargo: “Aqui não se rende ninguém, aqui não foge ninguém. Aqui vamos à carga. Aqui vamos ao combate. E aqui vamos à vitória da paz, da vida, da democracia”. Maduro acusa o presidente Donald Trump de liderar um complô contra o regime chavista e rompeu relações com os Estados Unidos, dando um prazo de 72 horas para os diplomatas norte-americanos deixarem a Venezuela.

A tragédia social venezuelana, com a emigração em massa, já vem de alguns anos. A fome fez os venezuelanos perderem, em média, 11 quilos no ano passado. Já são 12 trimestres seguidos de recessão. Entre 2013 e 2017, o PIB venezuelano teve queda de 37%. O Fundo Monetário Internacional prevê que caia mais 15% neste ano. Com a hiperinflação, essa é uma linha de força da crise contra a qual Maduro nada pode fazer. O colapso do modelo de capitalismo de Estado venezuelano, mesmo com tanto petróleo, não pode ser superado sem um consenso social e político em torno de reformas de caráter liberal na economia. A linha adotada por Maduro, na direção de aprofundar a socialização do país, não tem respaldo político na sociedade nem pode se sustentar apenas no apoio da Rússia, da China e de Cuba.

Os artifícios usados por Maduro para se perpetuar no poder, fraudando eleições, aparentemente se esgotaram. Um sinal de sua fraqueza é o fato de que até agora não conseguiu fechar a Assembleia Nacional, que desafia seu poder. As grandes manifestações populares, apesar de toda repressão policial e a violência das milícias chavistas, demonstram que a sociedade já não aceita o governo de Maduro. Pela sua própria natureza, tal situação não pode ser estável. A sociedade necessita de uma nova concentração de poder, que pode se dar por duas vias: a renúncia de Maduro e um pacto com os militares para transitar à democracia, ou o fechamento da Assembleia Nacional e a implantação de uma ditadura aberta, com prisões em massa. Os militares bolivarianos apoiam Maduro porque controlam a maioria dos ministérios e das empresas estatais.

Mudança de postura
O modelo clássico de dualidade de poderes é a Revolução Inglesa (1625-1688) do século XVII, na qual o poder real, apoiado pelos aristocratas e bispos, se opunha à burguesia e aos fidalgos das províncias reunidos no Parlamento presbiteriano londrino. A longa luta entre esses dois polos de poder resultou numa guerra civil, numa ditadura e numa revolução democrática. Enquanto Londres e Oxford rivalizavam como centro de poder, surgiu uma terceira força, o Exército de Cromwell, que estabeleceu uma ditadura pretoriana. Com sua morte, nova dualidade de poderes se estabeleceu. Carlos II (1660 – 1685) foi proclamado rei da Inglaterra com poderes limitados. O parlamento se dividiu em dois grupos: os Whigs, que eram contra o rei e ligados à burguesia, e os Tories, defensores feudais e ligados à antiga aristocracia.

Clóvis Rossi: Acabou, Nicolás, fuja enquanto dá

- Folha de S. Paulo

Nunca antes um ditador foi tão repudiado como o venezuelano

Nunca vi, em tantos e tantos anos de cobertura de manifestações demassa, uma multidão tão impressionante como a que se reuniu nesta quarta-feira (23) em Caracas para repudiar a ditadura de Nicolás Maduro.

Para quem gosta de comparações, a Folha calculou em 1 milhão de pessoas a massa concentrada no Anhangabaú para o comício das diretas, em 1984. Eu observei —e o jornal publicou— que achava um exagero e comparei com a multidão que, meses antes, acompanhara o comício de encerramento da campanha de Raúl Alfonsín à Presidência argentina. Havia mais gente.

Pois bem: em Caracas havia mais gente ainda do que nos dois grandes atos de massa citados (para não mencionar que houve manifestações igualmente importantes em várias outras cidades). Pelo menos é o que dá para deduzir das fotos feitas com drones e penduradas no site do jornal espanhol El País.

Não resta, pois, a mais remota dúvida de que a Venezuela em massa rejeita Nicolás Maduro. Não por acaso, um dos gritos mais populares da manifestação foi “não quero ‘bono’, não quero CLAP, o que quero é que se vá Nicolás".

“Bono” é o “Bonus de la Pátria", dinheiro vivo para comprar pelo menos a anestesia popular; CLAP são os Comitês Locais de Abastecimento e Preços, que distribuem cestas básicas com a mesma finalidade.

William Waack: Estreia cautelosa

- O Estado de S.Paulo

Em Davos, o presidente brasileiro parece ter entendido alguns fatos fundamentais

Jair Bolsonaro tentou lentamente desconstruir em Davos, na Suíça, no World Economic Forum, uma imagem que ele mesmo passou décadas para criar. Ao estrear de fato na cena internacional (e uma de considerável relevância), o presidente brasileiro parecia empenhado em fugir da caricatura cujos principais elementos – truculência, destempero verbal, radicalismo – vive de elementos fornecidos pelo candidato.

Bolsonaro não empolgou no discurso pois, de fato, não empolga ninguém quando discursa formalmente. O forte dele como figura política está na rapidez e “gaiatice” de algumas respostas – como a que resumiu a condição de seu adversário nas últimas eleições ao mencionar a razão de não topar duelos verbais: “quem conversa com poste é bêbado”. Mas nada disso no discurso formal, que parece melhor lido do que ouvido.

No que ele não disse, ou não se referiu diretamente, vislumbra-se o reconhecimento de alguns dados da realidade. O primeiro é o fato de que o público clássico de Davos (justamente os tais “globalistas” apegados à globalização que Bolsonaro tanto detesta) pouco se deixa levar por histrionismos, piadas, frases de efeito e oratória exacerbada. Quer linhas mestras – de preferência, com detalhes que, no caso, o presidente brasileiro não tinha para fornecer ou não achou necessário.

Bolsonaro falou dos grandes temas caros para esse público (que é o público que, mal ou bem, comanda a ampla agenda internacional): meio ambiente, segurança jurídica, abertura da economia, desregulação, diminuição de carga tributária, combate à corrupção. Falou talvez para o público interno quando se referiu à defesa dos “verdadeiros direitos humanos”. Os estrangeiros não devem ter entendido: lá fora o conceito de direitos humanos é um só.

Zeina Latif*: Olhar para o longo prazo

- O Estado de S.Paulo

A sociedade olha o curto prazo, algo compreensível em um país com baixo capital humano

Este primeiro ano de mandato de Jair Bolsonaro tem peculiaridades quando comparado ao de presidentes anteriores. Por um lado, ele herdou um quadro macroeconômico mais estável, por outro, há uma sociedade que deseja mais crescimento econômico, sem saber que reformas serão necessárias para isso. A experiência mostra que nem sempre presidentes reformistas são valorizados pela sociedade.

Bolsonaro herdou de Michel Temer um quadro macroeconômico estável, com inflação baixa e sem artificialismos como tarifas públicas defasadas ou taxa de câmbio sobrevalorizada. Afasta-se, assim, a necessidade de guinadas na política econômica. Além disso, com Temer, o debate sobre políticas públicas evoluiu. Os que defendiam não ser necessária a reforma da Previdência ou mudaram de ideia ou já não têm a mesma influência sobre a classe política. Isso facilita o trabalho do time econômico, que não precisará pregar no deserto. Um cenário em que reforma alguma da Previdência é aprovada é improvável.

Mas tudo tem o outro lado, no caso, os anseios da sociedade, que estão focados no curto prazo e mudam ao longo do tempo. Com inflação baixa, agora a sociedade espera aceleração do crescimento e queda do desemprego. A sociedade, porém, não compreende que a inflação baixa depende da aprovação da reforma da Previdência. Só se enxerga o fardo, e não o benefício. A sociedade não aceita retrocessos no ambiente econômico e, pelo contrário, espera avanços. E a volta do crescimento também dependerá de mais reformas.

O descompasso entre a percepção da sociedade e a política econômica costuma dar dor de cabeça aos governantes.

FHC assumiu o governo em 1995 sob os holofotes do Plano Real. Apesar do árduo caminho para sua consolidação, pela fragilidade das contas externas e das finanças públicas, além do difícil ajuste dos bancos à inflação baixa, o sentimento da sociedade era de alívio com a queda da inflação. No segundo mandato, FHC conduziu reformas essenciais para garantir a sustentação da inflação baixa e construir o alicerce para o crescimento. Para a sociedade, no entanto, o segundo mandato não foi bom, afinal, a inflação já estava baixa. A sociedade queria avanços, mais crescimento, que foi mais lento e com aumento do desemprego. Como resultado, FHC não conseguiu eleger seu sucessor, apesar das importantes reformas.

Depois da tumultuada campanha eleitoral que jogou a taxa de inflação para o pico de 17% em maio de 2003, Lula tinha diante de si o desafio de conquistar a confiança dos agentes econômicos, o que compreendeu rapidamente. Deu continuidade e consolidou a política econômica de FHC. Os frutos vieram rapidamente. A inflação fechou em 9% em 2003. O segundo mandato, porém, teve retrocessos. Foi marcado por estímulo excessivo e artificial à economia. O que começou como uma resposta à crise global se tornou estratégia para eleger Dilma. Para a sociedade, no entanto, o segundo mandato de Lula foi melhor do que o primeiro, pois o crescimento foi maior.

Dilma seguiu um caminho equivocado. Mas a sociedade só começou a desconfiar que havia algo errado em 2013.

Ribamar Oliveira: LRF não impediu a falência dos Estados

- Valor Econômico

"Os tribunais de contas desfiguraram a lei", diz procurador

A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), como é conhecida a lei complementar 101, não foi suficiente para impedir a insolvência em que se encontram vários Estados brasileiros. Sete deles já decretaram situação de calamidade financeira. Eles estão atrasando o pagamento de salários de seus servidores e os fornecedores, além de não terem dinheiro para quitar dívidas e realizar ações essenciais que cabem ao poder público. Mais Estados poderão seguir o mesmo caminho, avisam técnicos da área econômica.

Se a LRF estabelece regras duras para o controle das despesas públicas, das renúncias de receita e do endividamento, como tudo isso aconteceu? Em que a LRF falhou? No que ela foi omissa? Para o economista José Roberto Afonso, professor do mestrado do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), a pergunta deve ser outra. Afonso, que foi um dos responsáveis pela elaboração do projeto de lei que resultou na LRF, disse que a questão é saber por que não se cumpre a LRF.

"É uma discussão de 'compliance'", observou Afonso, em conversa com o Valor. "Ela passa, no Brasil, pela fiscalização pelos tribunais de contas, pela aprovação das contas pelo Legislativo e, no caso de irregularidade, pela denúncia do Ministério Público e pelo julgamento do Judiciário", afirmou.

Na avaliação do procurador Júlio Marcelo de Oliveira, do Ministério Público de Contas junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), a LRF foi sendo esvaziada ao longo do tempo. "Os tribunais de contas desfiguraram a lei", sentenciou o procurador, em conversa com o Valor. Ele disse que várias manobras e "maquiagens" elaboradas pelos governadores com o objetivo de fugir dos limites definidos pela LRF foram sendo acatadas pelos tribunais de contas, o que terminou criando falso espaço fiscal, ocupado por novas despesas.

Míriam Leitão: Brasil faz aposta de alto risco

- O Globo

Por Alvaro Gribel - (Míriam Leitão está de férias)

A decisão de reconhecer o líder da oposição venezuelana como novo presidente do país quebrou a tradição conciliadora do Itamaraty, mas havia poucas opções ao governo brasileiro, na visão do ex-embaixador Rubens Ricupero. Ele diz que agora o Brasil terá que torcer por uma solução rápida, com a queda de Maduro. Do contrário, “haverá consequências imprevisíveis” para a região. “É uma situação que cria um precendente preocupante, mas que está ocorrendo dentro de um caso extremo. Chegou-se a uma situação impossível, com fome e falta de remédio. Não havia no horizonte outro tipo de solução. Os dois lados não queriam o diálogo”, afirmou.

A maior preocupação do ex-embaixador é a possibilidade de uma guerra civil ou de uma invasão armada de outros países, com participação brasileira. Para ser legal do ponto de vista do direito internacional, teria que haver autorização do Conselho de Segurança da ONU, onde Rússia e China, parceiros da Venezuela, têm poder de veto. “Se houver luta armada na Venezuela, a primeira consequência é o aumento do fluxo de refugiados para o Brasil. Além do mais, Roraima depende da eletricidade da Venezuela, que vem da represa do Guri”, explicou.

O governo brasileiro fez uma aposta de alto risco e poderá ser arrastado para um conflito armado, mas a posição foi atenuada pela participação de outros países do Grupo de Lima, diz Ricupero. Ainda assim, ele avalia que o melhor seria o Brasil ter tentado uma posição autônoma, buscando um papel conciliador na região. “A tradição foi quebrada completamente, a última vez que fizemos isso foi em 1965 na República Dominicana”.

Não é justo usar o garoto para tentar me atingir, diz Bolsonaro sobre Flávio

Presidente diz à Record que acredita no filho e que família não está acima da lei

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O presidente Jair Bolsonaro (PSL) afirmou durante entrevista à TV Record em Davos (Suíça), onde participa do Fórum Econômico Mundial, que acredita na inocência do filho, o deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).

"Acredito nele. A pressão enorme em cima dele é para tentar me atingir", disse.

Flávio é citado no procedimento aberto pelo Ministério Público do Rio contra o ex-assessor Fabrício Queiroz, que é investigado por movimentação suspeita de R$ 1,2 milhão durante um ano, identificada pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).

O Coaf considerou ainda suspeitos 48 depósitos feitos em dinheiro na conta de Flávio. Os depósitos, sempre no valor de R$ 2.000, totalizando R$ 96 mil, foram feitos em junho e julho de 2017 no autoatendimento da agência bancária que fica dentro da Assembleia Legislativa do Rio.

Mais cedo, em entrevista à agência Bloomberg, o presidente afirmou eventuais irregularidades cometidas por Flávio terão de ser punidas.

À Record, Bolsonaro chamou de "infundadas" as acusações contra Flávio e disse que o sigilo do filho foi quebrado. "Fizeram uma arbitrariedade contra ele nessa questão."

A solicitação de informações do Coaf, de acordo com norma do Conselho Nacional do Ministério Público, não configura quebra de sigilo.

Flávio Bolsonaro vê fogo amigo no caso Coaf

- Coluna do Estadão

O senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) está convencido de que pessoas próximas ao presidente Jair Bolsonaro estariam empenhadas em colocar mais lenha na fogueira do caso Coaf. A aliados, Flávio se disse incomodado com as críticas de seu suplente Paulo Marinho (PSL-RJ) e do ministro da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno. Este último, que é advogado, teria considerado “erro jurídico” a estratégia da defesa de Flávio de recorrer ao Supremo para suspender as investigações em andamento contra seu ex-assessor Fabrício Queiroz.

Que fala demais… Flávio teria identificado as digitais de seu suplente na divulgação de informações contra ele. Desde a campanha, quando cedeu sua casa para o QG de Bolsonaro, Marinho estaria distante da família. Ele sequer participou da posse do presidente.

Te avisei. Segundo interlocutores, Flávio Bolsonaro chegou a conversar com o presidente sobre Marinho e Bebianno. Porém, resolveram colocar panos quentes na situação. Foi Bebianno quem apresentou Paulo Marinho a Bolsonaro.

Com a palavra. Procurado, Marinho disse ter uma “ótima relação” com Flávio. Bebianno afirmou desconhecer as considerações. “Não me compete fazer esse tipo de análise”.

Presidente diz que investigação sobre Flávio é arbitrária

Horas após admitir possível erro de Flávio, Bolsonaro o defende e critica MP do Rio

Numa mudança de tom em relação ao que dissera mais cedo em Davos, o presidente Bolsonaro afirmou à noite que a investigação do MP do Rio envolvendo seu filho Flávio, senador eleito pelo PSL, tenta atingi-lo e é arbitrária. Antes, Bolsonaro afirmara que o filho teria que “pagar o preço’’ por seus atos.

Daniel Gullino, Jussara Soares e Karla Gamba | O Globo

DAVOS (SUÍÇA) E BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro começou o dia ontem, em Davos, adotando um tom crítico à situação de um de seus filhos, o senador diplomado Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), citado em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) por movimentações financeiras atípicas. Depois de passara quarta feira esquivando-se de jornalistas, o presidente voltou a abordar o assunto à noite, e, desta vez, fez uma defesa enfática do primogênito e falou em “arbitrariedade” do Ministério Público do Rio.

Num dos primeiros compromissos da agenda no Fórum Econômico Mundial, na Suíça, Bolsonaro concedeu entrevista a uma agência internacional em que abordou o agravamento do caso em torno do filho e de seu ex-assessor Fabrício Queiroz. Disse que Flávio terá de pagar pelos erros que eventualmente tenha cometido e que sejam comprovados. Bolsonaro chegou a dizer, inclusive, que “lamentava como pai”, mas que o filho teria de pagar, se fosse o caso, o preço por seus atos:

—Se por acaso ele errou, e isso for provado, eu lamento com o pai, mas ele terá que pagar o preço por essas ações que não podemos aceitar—disse o presidente à Bloomberg.

À noite, porém, em outra entrevista, Bolsonaro mudou de discurso. Ele criticou os investigadores, ao afirmar que o Ministério Público do Rio estaria tentando “atingir o garoto” para “tentar me atingir” na Presidência da República.

— Não é justo atingir o garoto, fazer o que estão fazendo com ele, para tentar me atingir. O Brasil vai muito bem e nós não recuaremos no nosso propósito de colocar o Brasil no lugar de destaque que ele merece. Ao meu filho, aquele abraço. Fé em Deus que tudo será esclarecido, com toda certeza —disse à TV Record.

O presidente fez questão de deixar claro que não duvida da integridade do filho:

—Acredito nele. A pressão enorme em cima dele é para tentar me atingir. Ele tem explicado tudo o que acontece com ele nessas acusações infundadas.

Para Bolsonaro, o MP-RJ cometeu uma “arbitrariedade” contra o filho. O presidente voltou a dizer que houve quebra ilegal do sigilo bancário de Flávio.

— Esteve, sim, com o seu sigilo quebrado. Fizeram uma arbitrariedade para cima dele. Nós não estamos acima da lei. Muito pelo contrário. Como qualquer outro, estamos abaixo da lei —disse Bolsonaro.

COAF NÃO QUEBROU SIGILO
Decisões do Superior Tribunal de Justiça autorizam o Coaf a repassar informações bancárias a autoridades com poderes de investigação, mesmo sem decisão judicial. Além disso, a lei que criou o Coaf determina que o órgão encaminhe dados de movimentações financeiras suspeitas a autoridades, também sem necessidade de quebra judicial do sigilo.

Bolsonaro em Davos: Editorial | O Estado de S. Paulo

Num vexame sem precedente, o presidente Jair Bolsonaro evitou a imprensa em Davos, cancelando uma entrevista e deixando jornalistas e cinegrafistas brasileiros e estrangeiros à sua espera numa sala do Fórum Econômico Mundial. Quinze minutos antes do evento, marcado para as 16 horas, plaquinhas com os nomes do presidente e dos ministros Paulo Guedes, Sergio Moro e Ernesto Araújo estavam sobre a mesa destinada aos entrevistados. Pouco antes das 16 horas já se sabia da desistência de Bolsonaro. Jornalistas de plantão no hotel do presidente passaram aos colegas a confirmação do cancelamento e a explicação: Bolsonaro havia desistido de aparecer por causa da “abordagem antiprofissional da imprensa”. A justificativa foi dada, no hotel, por um assessor presidencial. Às 16h15, o Fórum cancelou oficialmente o encontro.

Logo correu entre os jornalistas credenciados em Davos outra explicação para a inusitada atitude de Jair Bolsonaro: a entrevista foi cancelada porque o novo presidente brasileiro é incapaz de se comportar como um chefe de governo, ou, em termos mais simples, como uma figura pública preparada para exercer esse papel.

Bolsonaro, a menos que surja outra interpretação plausível para sua atitude, foi incapaz de aguentar a tensão em seu primeiro teste internacional. O teste havia começado no dia anterior, quando ele foi cautelosamente conciso ao discursar numa sessão do Fórum. Passou pela prova sem brilho, mas também sem desastre. Conseguiu transmitir com firmeza uma parte importante de sua mensagem: o compromisso de criar no Brasil um ambiente favorável aos negócios, com menor tributação, maior segurança jurídica e regras menos complicadas. Mas desapontou quem esperava uma exposição mais clara dos planos, com indicação, por exemplo, das etapas de ajuste fiscal e dos passos para dinamização da economia.

Novo patamar: Editorial | Folha de S. Paulo

Revelação de fatos que sugerem ligação de Flávio com suspeito de chefiar milícia agrava crise

Se já era desconfortável a situação do senador eleito Flávio Bolsonaro(PSL-RJ), ela ficou ainda pior com a revelação de que seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro mantinha como funcionárias a mãe e a mulher de um ex-policial militar suspeito de comandar uma milícia na zona oeste carioca.

A descoberta põe a crise em outro patamar porque não se trata mais de desconfiar que Flávio, como deputado estadual, integrasse um esquema banal de desvio de recursos públicos. Não que fosse um pecadilho perdoável, mas pelo menos o escândalo reproduziria práticas há muito conhecidas na política.

Nada tem de banal, porém, a ligação de um legislador brasileiro com um sujeito apontado como chefe de uma das quadrilhas mais perigosas do Rio, acusada de sequestrar, torturar e assassinar pessoas, além de explorar mercado imobiliário clandestino e extorquir moradores de comunidades carentes.

Tampouco é prática conhecida, e muito menos aceitável, a proximidade do próprio presidente da República com gente que parece pertencer a uma organização criminosa armada. Pois, por mais que o governo federal tente atribuir apenas ao filho de Jair Bolsonaro (PSL)qualquer responsabilidade nesse caso, há indícios de sobra a apontar na direção do pai.

Se por mais não fosse, Fabrício Queiroz, pivô dessa teia deplorável, é amigo de longa data não de Flávio, mas do atual presidente.

Operação Os Intocáveis acerta ao mirar nos chefões das milícias: Editorial | O Globo

Polícia e MP investigam se membros da quadrilha estão envolvidos nos assassinatos de Marielle e Anderson

A operação realizada pelo Ministério Público estadual e pela Polícia Civil, na madrugada de terça-feira, para cumprir 93 mandados de prisão contra milicianos, não é a primeira —e certamente não será a última — com o objetivo de combater este mal que se espalhou como metástase por praticamente todas as regiões do estado. Mas não parece haver dúvidas de que, desta vez, o golpe foi desferido no coração das quadrilhas, como mostrou ontem reportagem do GLOBO. Batizada com o sugestivo nome de Os Intocáveis, numa referência à saga da equipe de Eliot Ness para prender Al Capone na Chicago dos anos 1930, a ação teve como alvo as comunidades de Rio das Pedras — berço das milícias — e da Muzema, na Zona Oeste. E resultou na prisão de alguns dos principais chefes da organização criminosa.

Entre os presos, está o major da PM Ronald Paulo Alves Pereira, apontado como o número 2 da quadrilha. Ele já é réu num processo sobre o assassinato de quatro jovens na Baixada Fluminense. Deve ir a júri popular em abril. Segundo as investigações, Ronald integra o chamado Escritório do Crime, um consórcio de matadores de aluguel que presta serviços para contraventores e outros fora da lei. A polícia suspeita que os assassinatos da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista, Anderson Gomes, foram obra do tal escritório e apura se Ronald teve participação no crime que chocou o país em março do ano passado. Já o cabeça da quadrilha, o ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, está foragido.

Reforma tributária, tão urgente quanto mudar a previdência?: Editorial | Valor Econômico

A cada 200 funcionários das empresas, 1 trabalha na área contábil no Brasil. Nos Estados Unidos, a proporção é 1 para mil e, na Europa, 1 para 500, segundo informações divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação. O Brasil é o país onde se gasta mais tempo para lidar com a burocracia tributária no mundo. De acordo com relatório divulgado em 2017 pelo Banco Mundial, as empresas gastam em média 1.958 horas por ano para cumprir todas as regras do Fisco. Segundo o IBPT, existiam na época no Brasil 63 tributos e 97 obrigações acessórias - conjunto de documentos, registros e declarações utilizadas para o cálculo dos tributos e que precisam ser enviados ao Fisco dentro de prazos pré-estabelecidos sob pena de multa.

Este é o cenário no qual ganha relevância a intenção governamental de reduzir e simplificar a carga tributária no país. A reivindicação do setor empresarial nesse sentido é muito antiga. Há décadas, qualquer consulta a executivos e empresários dos mais variados setores sobre o que poderia ajudar no crescimento do país traz como uma das prioridades uma reforma tributária que ajude tanto a baixar os custos como facilitar a burocracia hoje exigida para pagamento de impostos e tributos.

Em seu discurso no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na terça-feira, o presidente Jair Bolsonaro citou a reforma tributária como uma das prioridades do seu governo. E foram muitas as manifestações da equipe econômica nesse sentido.

Crise da Venezuela fica mais séria: Editorial | O Globo

É essencial que a transição de Maduro para Guaidó seja feita de forma negociada e pacífica

O colapso institucional foi decretado pelas multidões nas ruas da Venezuela, ontem, quando repetiram cada palavra do juramento de posse presidencial escrito na Constituição e lido de um palanque em Caracas pelo deputado Juan Guaidó, chefe da Assembleia Nacional.

Sob a liderança do oposicionista Guaidó, o Legislativo já havia começado a desenhar uma rota de saída do impasse com a ditadura cleptocrática comandada por Nicolás Maduro.

Único poder republicano reconhecido como legítimo por mais de 40 países, acenou às Forças Armadas com a aprovação de uma lei de anistia, circunscrita aos atos de desobediência ao antigo comandante em chefe Maduro. Ao mesmo tempo, anunciou um governo de transição até as “eleições livres”, provavelmente ainda neste semestre.

O ronco das ruas cheias soou como réquiem ao ciclo do chavismo, em cerimônia de adeus celebrada simultaneamente sobre o asfalto de mais de meia centena de cidades.

Àquela altura, já era missão impossível tentar salvar esse conglomerado civil-militar, que há tempos sobrevive à força dos tanques e à sombra da ilegitimidade e da lavagem de lucros da corrupção e do narcotráfico. No entanto, o presidente do Tribunal Supremo, Maikel Moreno, decidiu fazer uma aposta, talvez a derradeira, na continuidade de Maduro. Leu uma sentença antológica na qual o Judiciário proclama a abolição, “por absoluta inconstitucionalidade”, do perdão e da ajuda humanitária na Venezuela.

Maria Rita - Vou deitar e rolar

Manuel Bandeira: Poema de uma quarta-feira de cinzas

Entre a turba grosseira e fútil
Um pierrot doloroso passa.
Veste-o uma túnica inconsútil
feita de sonho e de desgraça…
o seu delírio manso agrupa
atrás dele os maus e os basbaques.
Este o indigita, este outro apupa…
indiferente a tais ataques,
Nublaba a vista em pranto inútil,
Dolorosamente ele passa.
veste-o uma túnica inconsútil,
Feita de sonho e de desgraça…