domingo, 17 de outubro de 2010

Reflexão do dia – Aécio Neves

"No período da votação do Plano Real, o PT votou contra. e hoje o presidente, que é do PT, quer engrandecer-se encima do Plano Real como se fosse ideia dele" .


(Entrevista do ex-governador Aécio Neves para a apresentadora Marília Gabriela, no SBT,domingo,dia 27/6 )

Nuances do voto :: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

O cientista político Cesar Romero Jacob, diretor da editora da PUC, coordena uma equipe de pesquisadores brasileiros e franceses que estuda a "geografia do voto" nas eleições presidenciais do Brasil. Eles terminaram o mapeamento da disputa do primeiro turno deste ano, completando a cartografia das seis eleições da redemocratização, de 1989 a 2006.

Através dos mapas, identificam-se as nuances do processo eleitoral, explica Romero Jacob, que ressalta que o mapa da votação de Dilma Rousseff este ano é muito semelhante ao de Lula em 2006, mas tem diferenças que podem ser exploradas no segundo turno.

Mesmo que o percentual dos dois tenha sido muito parecido - Lula teve 46% em 2002 e 48% em 2006, e Dilma teve agora 47%.

Dilma, em relação a Lula na última eleição, cai em umas regiões e cresce em outras. Por exemplo, aumentou a votação no Sul do país, no Rio Grande do Sul, sobretudo, mas também tem crescimento em Santa Catarina e Paraná, além de melhorar a votação na área de agronegócio.

Mesmo que essa região tenha votado a favor de Serra - venceu em Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso -, houve crescimento da votação do PT.

Mas ela caiu em muitas outras áreas, até 25 pontos, no Rio de Janeiro, no Espírito Santo (onde a queda foi geral), no leste de Minas, (mas cresce no Oeste mineiro), no litoral da Bahia e Pernambuco (mas cresce no interior dos dois estados) e nos estados de Rio Grande do Norte e Paraíba. Caiu também no Maranhão.

Mesmo que ela tenha vencido as eleições nesses estados, houve uma queda em comparação com a votação de Lula em 2006.

Na área do agronegócio, que tem se caracterizado nas últimas eleições por um voto contrário ao governo devido à valorização do real, que prejudica as exportações, houve uma estratégia do PT para crescer no Sul e no Centro-Oeste, reduzindo a diferença a favor do PSDB.

No Nordeste e no Sudeste, Dilma venceu no primeiro turno, mas teve votação menor do que Lula obteve em 2006. A estratégia de Lula de lançar uma candidata que nasceu em Minas e fez sua vida política no Rio Grande do Sul deu bons resultados para o governo, avalia Romero Jacob.

Ela manteve a vitória do PT em Minas e retomou o Rio Grande do Sul para o partido. Talvez esse crescimento de Dilma em Santa Catarina, Paraná e no Centro-Oeste possa ter sido fruto de um certo espírito gaúcho, comenta Cesar Romero Jacob, lembrando que nessa região Leonel Brizola sempre teve muito voto.

Os mapas de votação mostram também que há uma queda na votação petista na faixa litorânea, a partir do Rio Grande do Norte.

O mapa de votação de Serra também é muito parecido com o de Geraldo Alckmin em 2006. Há uma área contínua que pega o Sul do país, o Centro-Oeste, São Paulo e uma parte de Minas onde prevalece o voto tucano.

Mas, quando comparamos a votação deste ano com a de 2006, verificamos que há uma queda em toda essa região. Serra, com 33% dos votos, superou sua própria votação em 2002, que foi de 23%, mas ficou nove pontos percentuais abaixo da votação de Alckmin em 2006, de 42%.

Essa diferença foi absorvida em alguns lugares por Dilma, e em outros por Marina. Assim como Dilma, nas áreas em que diminuiu a votação, ela perdeu ou para Serra ou para Marina.

O mapa da votação de Serra mostra também um crescimento em regiões onde o PSDB não costumava vencer: no norte do Rio de Janeiro, especialmente em Campos; no Espírito Santo; na Bahia; em Governador Valadares, em Minas; e no Acre.

Esses nove pontos percentuais de eleitores que votaram em Alckmin no primeiro turno de 2006 muito provavelmente voltarão em sua maioria para Serra no segundo turno, avalia Romero Jacob.

O mapa de abstenção, votos em branco e nulos do primeiro turno, demonstra que as regiões Norte e Nordeste, onde Dilma teve seu melhor desempenho, tiveram o maior nível, chegando em certas áreas a 45% dos eleitores.

Já na eleição do segundo turno, o perigo maior é nas regiões Sul e Sudeste, onde os cidadãos de maior renda podem viajar no feriadão.

Mas há uma nova classe média emergente que também está viajando mais, e que pode ser também prejudicial a Dilma.

No caso do mapa de votação de Marina Silva, há uma área contínua no Sudeste do país: em São Paulo, Marina teve 20% dos votos, que tirou, na maioria, de Serra, que teve 40% dos votos, ficando distante de Alckmin, com 50% de votos para governador.

Já em Minas, Romero Jacob acha que ela tira votos de Dilma, que teve 47% dos votos contra 21% de Marina. No Rio de Janeiro, Dilma vence com 44%, mas Marina teve 32%. No Espírito Santo, Dilma teve 37% e Marina, 26%.

Outro elemento que chama a atenção é o desempenho de Marina no Oeste do Tocantins, onde os estudos mostram que há uma concentração evangélica muito grande.

Não foi à toa que Garotinho teve um bom desempenho naquela região na eleição de 2002.

Na votação de Marina em Brasília, única unidade da Federação em que ela venceu a eleição, os estudos de Cesar Romero Jacob apontam influência decisiva dos votos evangélicos nas cidades-satélites do entorno da capital.

Esses votos de Marina no Sudeste podem definir a eleição no segundo turno, e não é por outra razão que as duas campanhas estão priorizando São Paulo, Minas e Rio de Janeiro na reta final da campanha.

Os mapas coloridos que mostram a distribuição dos votos dos candidatos e a comparação com a eleição de 2006 podem ser vistos no endereço .

Rosa dos ventos:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A conversa obviamente não é oficial, mas está adiantada: o PMDB já começou a reconstruir suas pontes com o PSDB para, na hipótese de uma vitória do tucano José Serra, assegurar participação no governo no papel semelhante ao que terá no caso de Dilma Rousseff ser a presidente eleita no próximo dia 31: avalista da governabilidade.

Exímio farejador da direção dos ventos, o partido que indicou o vice de Dilma avalia internamente que aumentaram muito as chances de Serra ser eleito presidente.

Pelo menos cinco sessões regionais do partido (Santa Catarina, Acre, São Paulo, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul) estão com a candidatura da oposição e outras três, Minas Gerais, Pará e Bahia, se não fazem campanha para o PSDB, para o PT também não fazem.

Consequência das mágoas do primeiro turno, quando, segundo as queixas dos peemedebistas, o partido foi tratado como gato borralheiro: deixado de lado, escondido, excluído da propaganda presidencial e das negociações sobre divisão dos espaços no futuro governo.

Como Dilma e Lula estavam com toda força e aparentemente com a vida ganha junto ao eleitorado, o PMDB ficou calado.

Quando as urnas revelaram uma realidade diferente, o partido viu que chegara a "hora do troco".

No primeiro momento pensou apenas em melhorar seu cacife e o tratamento junto ao parceiro, já que o PT precisaria de muito apoio na segunda etapa.


Com o passar dos primeiros dias, o ambiente e as pesquisas começaram a desenhar um cenário em que a vitória da oposição ficou sendo uma possibilidade real.

Diante disso, aqueles dirigentes do PMDB mais identificados tradicionalmente com o PSDB, até por terem participado do governo Fernando Henrique Cardoso, cresceram de importância internamente.

Começaram a ser mais ouvidos enquanto ganhou corpo o discurso de que o partido foi tratado como "acessório de luxo" o tempo todo pelo PT.

Diante da situação de empate técnico retratada no fim da semana, o "pragmatismo de Brasília" - é a expressão literal - voltou a prevalecer. Ou seja: emissários acorrem à seara tucana ao mesmo tempo em que outro pedaço do partido continua fidelíssimo à candidatura de Dilma, esperando o resultado da eleição.

Quando Michel Temer, candidato a vice e presidente do partido, diz que será "inútil" a investida dos tucanos em busca de apoios dentro do PMDB sabe que não retrata a realidade.

Tanto que usa a seguinte frase para reafirmar a profissão de fé lulista: "Há um fechamento de todo o PMDB em torno de nossa candidatura."

Normal será que falasse "em torno da candidatura de Dilma", pois não? Pois é.

O partido não teme perder importância ao embarcar na canoa até então adversária, por dois motivos: primeiro, porque supõe que seja bem recebido pelo PSDB e, segundo, porque suspeita de que não teria participação mais que periférica em governo do PT, mesmo ocupando a Vice-Presidência.

As conversas sobre essa transposição de posições correm tão à vontade nas internas do PMDB que já são feitas avaliações a respeito das razões de o PT ter perdido o favoritismo.

Lá não se fala sobre voto religioso, efeito Marina Silva ou influência do escândalo Erenice Guerra. Para os peemedebistas todos esses fatores foram "instrumentos".

O motivo da mudança do clima, de acordo com essas análises, foi a ofensiva do presidente Lula contra os veículos de comunicação e a liberdade de expressão.

Aí, segundo o PMDB, Lula teria dado a Serra a chance que, sozinho e com uma campanha muito mal ajambrada, ele nunca teria.

Currículo. Não é a primeira vez que o instituto Vox Populi erra nas previsões eleitorais aos seus clientes, como aconteceu agora com o PT.

Na eleição municipal de 2008, o então governador de Minas, Aécio Neves, não gostou, e cobrou isso com todos os efes e erres da direção do instituto, com a previsão de que Márcio Lacerda levaria a Prefeitura de Belo Horizonte no primeiro turno.

Confiante, Aécio relaxou e por pouco Lacerda não perde para o candidato do PMDB.

A democracia e o segundo turno :: Celso Lafer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O resultado das eleições de 3 de outubro tem como nota a contenção da dimensão plebiscitária que o presidente Lula imprimiu à campanha, valendo-se de seu cargo e sua popularidade. Ao se empenhar, sem maiores freios, em mover e desequilibrar o eleitorado em favor da candidatura Dilma Rousseff, buscou beatificadora consagração da sua pessoa e do seu governo.

A postura do presidente na campanha eleitoral do primeiro turno tem muito que ver com o que, na Grécia clássica, se denominava hybris: a violação da norma da medida, estipuladora de limites. Existe hybris que, para os gregos, acaba sendo sancionada toda vez que é ultrapassada, como dizia Platão, "a medida do justo".

Lula violou a norma da medida ao reiteradamente afirmar que a História do Brasil teve início com a sua eleição em 2002 e se desdobrou com sucesso nos oito anos da sua Presidência - sucesso a que só a eleição da sua candidata poderia dar continuidade.

A História não começa do zero a cada oito anos e o governo Lula faltou com a "medida do justo", pois teve como lastro o acervo de realizações do ciclo político-histórico iniciado com a redemocratização - acervo ao qual Lula não deu seu respaldo nos momentos oportunos. Pôde contar com os méritos da transição que a eleição de Tancredo Neves emblematizou e com a Constituição de 1988, a cuja elaboração Ulysses Guimarães presidiu. A Constituição ampliou a tutela dos direitos humanos, fez da Nova República um regime político que trouxe expansão sem precedentes da cidadania eleitoral e propiciou conquistas e costumes socioculturais que criaram o contexto que permitiu a eleição de Lula em 2002. A Constituição afirmou a importância de um meio ambiente ecologicamente equilibrado, um valor cuja ideia a realizar caracterizou, com ressonância eleitoral, a campanha da candidata Marina Silva.

O governo Lula teve o alicerce dado pela consolidação da democracia depois do regime militar que José Sarney, na Presidência, com competência política empreendeu e a mudança da agenda brasileira para enfrentar o mundo pós-guerra fria que o presidente Fernando Collor, não obstante os percalços do seu governo, promoveu. Dispôs do exemplo de integridade do presidente Itamar Franco na condução política do pós-impeachment, que possibilitou o início do Plano Real com a escolha e o apoio dado a FHC como seu ministro da Fazenda.

O presidente Fernando Henrique Cardoso elegeu-se com os generalizados benefícios para a população brasileira trazidos pelo Plano Real, que consolidou nos seus dois mandatos. A estabilidade da moeda propulsionou inédita redistribuição de renda, significativa redução da pobreza e inseriu a segurança da previsibilidade na vida dos brasileiros.

O Proer deu solidez ao sistema financeiro brasileiro e dessa solidez se valeu o presidente Lula para enfrentar a grande crise econômica mundial. A Lei de Responsabilidade Fiscal imprimiu racionalidade às políticas públicas do País. As redes de proteção social do seu período, de que são exemplos a Bolsa-Escola e a Bolsa-Alimentação, constituem a base da Bolsa-Família, que tanta popularidade vem trazendo ao governo Lula. O empenho nas práticas democráticas, a atenção aos direitos humanos e à sustentabilidade ambiental, o republicano processo de transição da sua Presidência para o governo Lula integram o patrimônio do legado de Fernando Henrique.

Criterioso levantamento comparativo de cem indicadores dos últimos 16 anos da sociedade brasileira nos mais variados campos - da desigualdade, do trabalho, da saúde e moradia à ciência e tecnologia, publicado pela revista Época de 4/10 - revela que a marca mais forte deste período não é a do ineditismo da ruptura, mas sim a da continuidade da melhoria. Esta provém daquilo que o governo FHC construiu e a partir da qual o governo Lula trabalhou.

Faço o registro porque a denegação do legado de FHC é uma falsidade destituída da norma da medida, agravada pelo sistemático empenho do presidente Lula e de seus companheiros na desconstrução da imagem política do seu antecessor. Este recorrente empenho lulista, intensificado no componente plebiscitário da campanha do primeiro turno, é expressão de uma hybris que se traduz, para evocar Aristóteles, na retórica da ofensa política animada pelo prazer personalista de se sentir superior.

O povo dá vida à democracia constitucional pelo voto e pelos costumes políticos. Para o enraizamento destes costumes não contribui a má-fé do plebiscitarismo que acompanha a candidatura Dilma. Também não contribui para a vigência da democracia o maléfico propósito do presidente Lula de exterminar adversários, o que é incompatível com o pluralismo da sociedade brasileira, que a representativa eleição de governadores da oposição ao seu governo confirmou.

Numa democracia, a concessão de poder pelo eleitorado é sempre temporária. Pode ser periodicamente renovada ou revogada. Nesse processo as candidaturas ou são impositivas ou propositivas. A candidatura Dilma é uma candidatura imposta ao eleitorado pelo presidente Lula. No primeiro turno contrastou com a de Marina e a de José Serra, que foram candidaturas propostas ao juízo eleitoral. A candidatura Marina foi propositiva da importância da sustentabilidade, teve o mérito de romper a dimensão plebiscitária que o presidente Lula quis impor ao primeiro turno e carregou, no seu bojo, a expansiva lição ética da inteireza do seu caráter. A candidatura Serra foi propositiva de um empenho na ampliação e no aprofundamento das condições de possibilidade do País, lastreada na ampla e bem-sucedida experiência política e administrativa de um dos mais qualificados homens públicos do Brasil.

O segundo turno, que se avizinha, será um embate entre uma candidatura imposta - a de Dilma - e uma candidatura proposta - a de Serra, que, no meu entender, é a que melhor serve ao País e à sustentável renovação da vida democrática.


Professor titular da Faculdade de Direito da USP, membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Brasileira de Letras, foi Ministro das Relações Exteriores no Governo FHC

Mais aborto, menos Erenice :: João Bosco Rabello

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

É apenas por estratégia que o PT mantém o candidato do PSDB, José Serra, como mentor da "guerra santa" que tomou conta do debate entre os candidatos. Sabe o partido que a origem da discussão está no Plano Nacional dos Direitos Humanos (PNDH-3), que por defender a descriminalização do aborto gerou uma reação religiosa.

Em manifesto de 28 de janeiro deste ano, a CNBB alertava os fiéis para a posição da Igreja "contrária à descriminalização do aborto, ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e ao direito de adoção de crianças por casais homo-afetivos". O resto é conhecido: o governo fez uma lipoaspiração no PNDH 3, mas não evitou o tema na campanha.

Segundo as pesquisas, o tema afetou menos a candidatura Dilma do que as denúncias de corrupção na Casa Civil que explicam parcela dos votos que Marina Silva recebeu na reta final do primeiro turno, viabilizando o segundo.

Se de um lado o episódio impõe o presente esforço da candidata pela desconstrução da imagem de defensora do aborto, por outro serviu ao PT para tirar da pauta da campanha, nos últimos 12 dias, o caso Erenice Guerra, cuja extensão é bem maior do que o tráfico de influência familiar na Casa Civil - que ainda subtrai votos da candidata.

O PT decidiu fazer do limão uma limonada ao buscar conciliação com as instituições religiosas ao tempo em que se faz vítima de uma campanha "caluniosa e sórdida". O PSDB busca fatos novos que possam manter Dilma na defensiva.

Quente e frio :: Eliane Cantanhêde

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - O Datafolha registrando estabilidade foi um banho de água fria nos tucanos e esquentou os ânimos dos petistas para prosseguir na linha da agressividade.

Há uma pesquisa e dois resultados. Um é que a arriscada tática de bater conseguiu estancar a queda de Dilma. O outro: apesar de todos os seus excessos, Lula continua quebrando recordes de popularidade. Dilma sabe muito bem o que fazer com esses dois sinalizadores. Mas Serra pode fazer o quê?

A estratégia petista será mais e mais de pancada em Serra, no PSDB e em FHC, acusando os adversários de calúnia e de difamação contra Dilma, como se Erenice fosse um mero factoide e a candidata não tivesse mudado de opinião sobre aborto ao sabor das pesquisas.

E ninguém segura Lula. É mais marqueteiro do que o marqueteiro, mais coordenador que os coordenadores, mais candidato que a candidata. Se bobear, demite a maquiadora e cuida ele mesmo do batom da pupila, enquanto se esgoela nos palanques acusando adversários e imprensa de "caluniadores" quando a verdade dói.

A vantagem de Dilma se cristaliza, e os espaços de Serra para crescer se esgotam.

Ela mira os artistas, que faziam a festa dos petistas e foram minguando ao longo de mensalões, aloprados e Erenices.

Ele avançou nos votos verdes, em alas religiosas e nos centros urbanos. Agora atrai parte do PMDB e disputa apoios no PV, no PP e no PTB, aguçando o antipetismo ao condenar o aparelhamento e o jeitão do PT de governar "em família". Mas são poucos os outros caminhos a explorar. Cerca de 90% dos eleitores de Dilma dizem que não vão mudar, e os indecisos, por definição, tendem a se dividir.

No mais, o PT costuma ter menos votos e o PSDB mais votos do que as pesquisas indicam. Logo, uma diferença de seis pontos, faltando duas semanas para a eleição, não garante certezas. Dilma está mais aliviada, mas a guerra continua.

Com a franqueza de ex para ex-presidente :: Wilson Figueiredo

DEU NO JORNAL DO BRASIL (online)

Coube a um ex - p re s i d e n t e lembrar ao presidente que, em dois meses e picos, estarão finalmente nivelados pela condição de quem deixou de ser.

Acabou. Mas não é tão simples.

Falando de ex para ex, em plano de igualdade, batem de frente dois egos explosivos, mas o mineiro com a vantagem de portador de mandato de senador novo em folha Itamar Franco encarregou-se de alertar o presidente Lula sobre o desconforto de ficar sem os berloques do mandato.

Avisa que, sem a veleidade de atenuar o choque com a franqueza, que é sua marca, o presidente vai aprender que o poder não é eterno, um dia tudo acaba e vai ver o que é bom depois de deixar o poder.

A ordem dos fatores não altera o produto.

Entrevista de Itamar Franco não costuma ser o que Marques Rebelo definiu como tricô de vácuo, que é dizer o óbvio para aproveitar o microfone oferecido pelo repórter. E Lula especializou- se, depois que o mensalão derrubou a estrutura da Casa Civil na metade do primeiro mandato, em usar o microfone como quem faz psicanálise.

Não deixa de ser uma terapia aberta. Aliás, escancarada.

Segundo os lulistas mais próximos, o acidente de percurso o mensalão ocorreu antes que fosse tarde. Do ponto de vista da oposição, apanhada no contrapé, foi cedo demais. Estava despreparada para tirar proveito do espetáculo que não estava no programa. Ainda fumegam as cinzas do incêndio que lavrou na casa de comando operacional do primeiro mandato e chamuscou agora a própria candidatura da que viria a ser a maior beneficiária: Dilma Rousseff. Quem pagou a conta da despesa que não foi exclutoso com o padrão feminino vigente na ilha de Creta, Pigmalião se propôs esculpir a imagem da mulher perfeita e, terminada a obra, sucumbiu aos seus encantos.

Recorreu então à deusa Afrodite, que atendeu ao seu pedido e deu vida à escultura. É o que, em psicologia, se chama de efeito Pigmalião, que vem a ser a maneira humana de se comportar em relação às nossas expectativas.

Pelo menos no modo de dizer, Pigmalião encaixou as expectativas na realidade, de acordo com os seus desejos.

Desde o começo, Lula vive, em relação à candidatura Dilma Rousseff, o problema de Pigmalião, mas, para cima, não tem a quem apelar. Apelou para baixo, e a campanha eleitoral, com Dilma no papel da escultura, se enrolou em assuntos marginais, como aborto, retalhos metafísicos e matéria de que não se cogitava em Chipre.

O episódio de Pigmalião foi adaptado ao teatro por Bernard Shaw, mas no figurino dos tempos modernos: o personagem Henry Higgins, um professor de linguística, preferiu trabalhar com uma jovem de origem popular (Eliza Doolittle), que se exprimia em gíria estridente, e a transformou em mulher da sociedade inglesa, com pronúncia perfeita. Lula, no papel de Pìgmalião, podia ter aproveitado a deixa (que o cinema popularizou no musical My fair lady) e agregado à sucessão um toque sofisticado de esquerda.

A crer nas pesquisas, aceitou o risco de ficar para outra oportunidade, que não há de faltar.

A não ser, claro, que a própria Dilma Rousseff, com a ajuda de Afrodite. se habilite à tentação de dar uma dentada no segundo mandato que, no caso de ser bem sucedida agora, deixará a maçã ao alcance de seu gesto.

Voltando ao Brasil, o senador Itamar Franco vocalizou com veemência, enquanto é tempo de prevenir, tudo que os demais, na mesma situação de ex-presidentes, mesmo estando de acordo, deglutem com dificuldade. Ele, Itamar, porém, optou pelo contrário. Movido pela indignação cívica, o ex-presidente rasgou o verbo: entende que não pode mais ser condescendente com o personagem que saiu do texto. E, aproveitando a oportunidade, declara-se enfarado sivamente dele foi José Dirceu.

Uma coisa levou à outra: Lula bateu de frente com a resistência ao terceiro mandato, contornada com um desvio (o empréstimo do quadriênio a Dilma Rousseff, sem reeleição) e fez da Dilma sua peça. Mais uma vez, o preterido foi José Dirceu.

Trata-se de assunto eterno, no molde resolvido definitivamente entre o escultor Pigmalião e sua obra-prima, com a interferência da deusa Afrodite. Celibatário por princípío e desgos- com Dilma Rousseff, que é candidata de uma nota só, e fala sem convicção, como se tivesse decorado o texto de autoria alheia.

Itamar proclama: Lula não é um democrata!... Nunca antes neste país....

Nunca mesmo se viu tanto desrespeito ao exercício do mandato presidencial. Tudo é ele. Ninguém faz nada, ele faz tudo, principalmente o que não devia. Só Lula sabe o que é bom para este país? Que se ouçam as urnas, porque s pesquisas não dizem tudo.

A escolha de Marina:: Ferreira Gullar

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Neste momento, Marina surge como uma nova opção, uma terceira via entre PT e PSDB

O resultado das eleições presidenciais de 3 de outubro surpreendeu todos e particularmente os responsáveis pela campanha dos principais candidatos.

Naturalmente, às vésperas do pleito, cada um deles se dizia vencedor, mas isso faz parte da tática eleitoral, não expressa o que efetivamente pensam.

Isso não significa que os três candidatos tenham a mesma avaliação do possível resultado. Serra e Marina não aspiravam a mais do que passar para o segundo turno (ele mais que ela), enquanto Dilma (vale dizer Lula) alimentava a quase certeza da vitória no primeiro turno.

Os dois foram, de fato, os derrotados nesta primeira etapa, ainda que com 47% dos votos.

É que, como se costuma dizer, o segundo turno é outra eleição e muito mais será, neste caso, porque faltam a Dilma experiência e vocação para enfrentar uma disputa como esta.

O resultado final dependerá, em grande parte, do desempenho dela nos debates frente a frente com Serra. Melhor para ela talvez fosse não debater, mas, se se negar a isso, estará admitindo fraqueza e incompetência. Vai ter que encarar.

Isso, porém, não é tudo. Outros fatores pesarão na decisão do eleitor, que vem de uma primeira disputa na qual tomou partido.

A tendência natural seria manter-se coerente com a decisão anterior e votar no mesmo candidato, especialmente no caso de pessoas mais engajadas. Noutras palavras, quem votou em Dilma voltará a votar nela e quem votou em Serra voltará a votar nele.

Mas quem votou em Marina, que está fora do páreo, votará em qual dos dois? Daí a disputa por esses votos ter começado logo em seguida ao resultado das urnas: Dilma e Serra telefonaram para Marina pedindo-lhe apoio na disputa do segundo turno; ela, porém, como fiel da balança, não se comprometeu com nenhum dos dois e afirmou que essa decisão seria tomada numa reunião plenária.

Era esperado que assim respondesse, uma vez que tal decisão envolve muitos interesses a serem examinados e discutidos por ela, pelo Partido Verde e pelos apoiadores de sua candidatura.

Trata-se de uma decisão sem qualquer dúvida importante porque, tendo ela conseguido mais de 19 milhões de votos, pode influir decisivamente no resultado final do pleito, dado esse que implica toda sorte de considerações uma vez que tanto dizem respeito à vitória ou à derrota deste ou daquele candidato quanto ao futuro político da própria Marina.

Conforme seja a sua opção, poderá preservar ou pôr a perder o que conquistou nesta campanha eleitoral.

A decisão é difícil porque envolve comprometimentos e opiniões de diferentes aliados que apelam para seu passado petista ou o repelem, por identificar o petismo com corrupção e atitudes antirreligiosas, sem esquecer os que veem em Serra um aliado mais próximo da defesa do meio ambiente e do respeito aos princípios democráticos.

É difícil ver claro e tomar decisão em meio a tantos fatores conflitantes, mas, afora isso, temos os interesses da própria Marina como uma nova liderança política que desponta e se afirma.

Ela, que até bem pouco era, dentro do Partido dos Trabalhadores, um quadro em conflito com os propósitos desenvolvimentistas de Lula -a ponto de ter sido obrigada a desligar-se do governo e do partido-, encontra-se hoje em condições de contribuir para a derrota eleitoral de seu antigo partido -o que pode significar um golpe mortal no projeto neopopulista de Lula.

Observei, em crônica anterior, que vivemos o fim de uma etapa em que as duas forças políticas surgidas da luta antiditadura esgotam seu ciclo. Pois bem, precisamente neste momento, Marina surge como uma nova opção, uma terceira via entre PT e PSDB -o que aumenta a importância da decisão a tomar.

Em termos imediatos, se apoiar Dilma, estará fortalecendo o partido que lhe fechará o caminho para o futuro; se apoiar Serra, arrisca cindir seu eleitorado e as forças que a apoiam, mas também pode viabilizar seu futuro político.

A terceira opção -manter-se neutra- equivale à primeira, já que ajudaria na vitória do petismo e, ao que tudo indica, no fim antecipado de uma terceira via, sob sua liderança. Hoje deve sair a decisão.

Benito di Paula - Charlie Brown

A Terceira Via Brasileira:: Vagner Gomes de Souza

As eleições presidenciais brasileiras ingressam numa terceira experiência em que haverá um Segundo Turno eleitoral polarizado entre PT/aliados e PSDB/aliados. Significativa é a lembrança de que o PMDB ocupava a Vice-presidência na derrota “tucana” de 2002. Tratava-se de um PMDB muito fragmentado ao ponto de Jorge Picciani (ele mesmo...liderar uma dissidência em favor de Lula no Estado do Rio de Janeiro para que esse gesto caísse no esquecimento de muitos companheiros petistas). Nos dias atuais seria ingenuidade afirmar que o PMDB encontra-se UNIDO, mas aparentemente não há sinais de forte dissidência. No máximo haveria um cálculo pragmático sobre custos e benefícios de aceitar a condução da Presidência da Câmara dos Deputados ao PT.

A Terceira via Brasileira ainda não se fez presente na “máquina partidária do PMDB”, o que está viabilizando as “máquinas do fundamentalismo religioso” a articularem suas condições de apoio político. Muito significativa a posição do Deputado Federal mais votado do Rio de Janeiro que condiciona seu apoio a candidatura do “lulismo” ao Veto ao PNDH-3. Os evangélicos estão sendo confundidos como um eleitorado homogêneo como se o protestantismo fosse uma via de mão única. Há muito de mobilização dos “neopetencostais” para atender interesses fisiológicos, o que pode ser visto na atuação de um reeleito Deputado Federal do PMDB no Rio de Janeiro que é “campeão” de indicações para cargos de segundo e terceiro escalão no Governo Federal mas segundo ele, “o povo merece respeito”, o tema dos valores cristãos são prioridade.

Emergem diversas pequenas políticas de grupos oportunistas uma vez que o Partido Verde não declara uma posição política clara. A possível neutralidade do Partido Verde e de Marina Silva só vai deixar a competição do Segundo Turno sob o perigo do fortalecimento dos “grupos políticos” do “Pântano” no processo da Revolução Francesa. Diante disso, há um eleitorado que faz parte de uma “cultura política” de terceira via em nosso país que não se identifica com nenhum “ator político”. Esse eleitorado é sinalizado quando identificamos que tanto o candidato do PSDB quanto a candidata do PT apresentam um índice de rejeição estável de 35%. Observamos que há 30% do eleitorado que tanto faz votar numa ou noutra opção desde que haja uma vertente política sinalizada pela continuidade.

Em 2002, a continuidade foi votar em Lula diante do temor de que a vitória tucana implicaria num novo plano econômico diante dos “ataques especulativos” ao Real. O eleitor médio temia que estivesse vivendo o fim de uma farsa. Em 2006, a continuidade fez Lula ser reinventado no Segundo Turno ao questionar a Privatização se calou sobre a Reforma da Previdência que implementou no seu primeiro mandato. Eleitores do PSOL e do PDT não perceberam essa sutil movimentação do discurso e votaram na continuidade. Em 2006, o eleitorado da terceira via já foi simpático de todos os três principais candidatos. Começou o ano colocando o PSDB em primeiro lugar. No segundo trimestre, descobriu a continuidade “lulista” numa mulher indicada mais pelo Presidente do que pelo PT. Ao final do primeiro turno, parte desse eleitorado migrou para a candidata do PV em defesa da continuidade dos valores cristãos. Qual continuidade vai se fazer evidente nas próximas semanas? Há uma hipótese pessimista que indica o fortalecimento do “fundamentalismo religioso” associado ao fisiologismo caso a caso nos estados. Entretanto, há também a continuidade do “centro político”. A candidatura que souber ocupar esse espaço sem aparentar oportunismo político será vitoriosa. Mais uma vez a Terceira Via brasileira está no Centro. Assim, desejamos que esteja cultuando valores democráticos e laicos.


[1] Mestre em Sociologia (CPDA-UFRRJ). Dirigente e militante do PPS na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Casa Civil: nova denúncia de corrupção

DEU NA REVISTA VEJA

“Fui extorquido na Casa Civil”

Deputado revela que assessor de Dilma Rousseff exigiu 100.000 reais de propina para agilizar processo que dependia de autorização do presidente Lula

O advogado Vladimir Muskatirovic, conhecido em Brasília como ""Vlad"", ocupa a poderosa chefia de gabinete da Casa Civil da Presidência da República. Assim como a ex-ministra Erenice Guerra fez carreira no governo à sombra da candidata petista Dilma Rousseff, Vlad fez carreira no governo à sombra de Erenice Guerra. Ele era subordinado de Erenice quando esta ocupava a chefia da assessoria jurídica do Ministério de Minas e Energia. Quando Dilma assumiu a Casa Civil e Erenice levou sua turma junto, Vlad foi o primeiro a acompanha-las. Apesar de a ex-ministra ter sido apeada do Palácio após vir a público a existência de uma central de corrupção na Casa Civil, Vlad permanece no cargo.

Não é por acaso. Além da amizade com Erenice, Vlad mantém relações fraternas com o senador Gim Argello, figura secundária dos subterrâneos de Brasília, que, sabe-se lá por qual razão, caiu nas boas graças de Dilma nos últimos anos. Nos ambientes em que o senador Gim brilha, Vlad é uma celebridade. VEJA descobriu um dos casos que fazem a fama do chefe de gabinete. Em 2007, Vlad, já como assessor de Dilma na Casa Civil, cobrou 100.000 reais de propina - e recebeu parte do dinheiro - para resolver uma pendência de um deputado junto à Presidência da República.

O deputado chama-se Roberto Rocha, do PSDB do Maranhão. Ele é sócio da TV Cidade, retransmissora da Record no estado, e de duas rádios. O pedágio foi exigido para que a Casa Civil autorizasse uma mudança societária nessa TV. O que a Casa Civil tem a ver com isso? Tudo. A concentração de poder na Presidência da República é de tal ordem que cabe à Casa Civil ratificar qualquer compra ou venda envolvendo rádios e TVs do país, que são concessões públicas. Pode ser coisa grande ou miudeza: tem de passar pela Casa Civil. Depois de tramitarem por lá, esses atos são assinados pelo presidente, como se ele fosse chefe de um cartório.

Diante do fato de que o Ministério das Comunicações analisa previamente todos esses casos, trata-se de um simples carimbo. Um carimbo, no entanto, que vale ouro: pode custar caro obtê-lo, evitá-lo ou agilizar seu uso. Um carimbo é moeda líquida na cleptocracia federal.

Vlad pôde vender tão caro uma facilidade porque o governo havia criado uma enorme dificuldade - uma que parecia não ter solução. A epopéia começa em 2003, no início do governo Lula, quando o sócio de Roberto Rocha na TV aceitou vender a participação dele no negócio. Esse sócio era aliado de José Sarney. Rocha é adversário do senador. Fez-se a transação, e a papelada seguiu para o Ministério das Comunicações, de modo que os rituais burocráticos fossem cumpridos. Deveria demorar algumas semanas. Demorou um ano. Demorou em razão do lobby contrário promovido por aliados de Sarney. É fácil entender os motivos disso. Sarney é dono da retransmissora da Globo no Maranhão. Seu principal aliado, o senador Edison Lobão, controla a retransmissora do SBT no estado. Caso o governo autorizasse o negócio do deputado Rocha, portanto, haveria no Maranhão uma TV não alinhada com os interesses da família - e uma TV num estado pobre é uma poderosa arma política. No fim de 2003, apesar das pressões contrárias, o então ministro das Comunicações, deputado Miro Teixeira, finalmente aprovou a transação e encaminhou o papelório para a Casa Civil.

No dia 7 de janeiro de 2004, o Diário Oficial publicou a autorização concedida pelo presidente Lula. Tudo parecia resolvido. Mais eis que sobreveio um episódio insólito, daqueles que só se explicam pela força irresistível de certos interesses políticos. Houve uma reforma ministerial, e o deputado peemedebista Eunício Oliveira, do mesmo partido de Sarney, assumiu a pasta das Comunicações. Tentou-se reverter ali, de todos os modos, a tal autorização já assinada por Lula. A pressão de Sarney aumentou e, no dia 11 de março, dois meses depois de publicada a autorização, o mesmo Diário Oficial trouxe um ato do mesmo presidente Lula revogando a decisão anterior. Sem justificativa, sem o devido processo legal. Podem-se apenas supor as razões políticas para essa aberração jurídica - e todas elas passam pelos interesses do senador Sarney.

Inconformado, o deputado Roberto Rocha contratou bons advogados e recorreu ao Supremo Tribunal Federal. Ingressou com um mandado de segurança, que, por sua natureza, deveria ser julgado em pouco tempo, mas que acabou morrendo nas gavetas do Supremo.

Rocha, contudo, não estava sozinho em sua cruzada para assegurar o comando da TV. Todos os políticos anti-Sarney do Maranhão o ajudaram. O deputado petista Domingos Dutra - que chegou a fazer greve de fome recentemente para impedir que seu partido apoiasse a candidatura de Roseana Sarney ao governo do estado - foi um deles. Diz Dutra: "Falei com as lideranças do PT, falei no governo. Mas eles preferem o Sarney. Rocha chegou a me contar o que aconteceu na Casa Civil da Erenice". Parece estranho ver um petista e um tucano atuando harmoniosamente. No Maranhão, entretanto, os políticos dividem-se entre os que são adversários e os que são aliados de Sarney. Rocha e Dutra pertencem ao primeiro grupo. E os esforços deram algum resultado.

Em 2007, o deputado conseguiu ser recebido na Casa Civil. Esteve com Erenice Guerra, então secretária executiva, e o assessor Vlad. Ambos confirmaram a teratologia do ato presidencial e prometeram resolver o assunto. Localizado por VEJA, que soubera do caso por intermédio de uma fonte na Casa Civil e outra no PT, o deputado relutou em admitir o episódio - mas acabou por narrar o que havia acontecido. Disse Rocha: "Esse assessor Vladimir cobrou para resolver. Fiquei enojado com tudo aquilo. Ter de pagar a eles para que fizessem o que era certo? Fui extorquido pela Casa Civil". Depois da reunião, Vlad procurou um funcionário do deputado para acertar o pagamento. Os dois encontraram-se no restaurante que funciona no 10° andar da Câmara dos Deputados. "Vladimir deu a garantia de que resolveria tudo, desde que pagássemos 100.000 reais", narra Ivo Icó Filho, o funcionário. "Ele disse que o valor era alto porque envolvia o trabalho de outras pessoas." O deputado conta que ponderou e, apesar de "revoltado", resolveu pagar: "Autorizei meu assessor a providenciar um sinal: 20.000 reais". Rocha não quis fornecer detalhes do pagamento. Completa o deputado: ""E o pior é que não deu certo. Esse Vladimir nunca mais retornou as ligações nem respondeu aos e-mails. Foi um golpe".

Procurado pela reportagem, o chefe de gabinete da Casa Civil respondeu por meio de nota. Vlad admitiu frequentar o restaurante da Câmara e manter "reuniões políticas" com o senador Gim Argello. Mas nega ter pedido ou recebido propina. Diz o texto: "0 assessor não pediu nem recebeu qualquer pagamento referente a essas pessoas".

Homem de confiança de Dilma Rousseff é acusado de fraude de 157 milhões de Euros

DEU NA REVISTA ÉPOCA

Com a bênção de Cardeal

O banco alemão KfW envolve Valter Cardeal, homem de confiança de Dilma Rousseff, na história de uma fraude de € 157 milhões

Andrei Meireles, de Porto Alegre, Marcelo Rocha e Isabel Clemente.

O engenheiro gaúcho Valter Luiz Cardeal de Souza é o diretor de Planejamento e Engenharia da estatal Eletrobras, maior empresa de energia elétrica no país. Pragmático e influente, tem fama de possuir mais poder do que o cargo sugere. Empresários do setor, executivos de grandes empresas e a elite da burocracia tratam Cardeal como o “homem da Dilma”, referência às estreitas ligações políticas, profissionais e pessoais entre ele e a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff. Cardeal entrou para o setor público em 1971, quando se tornou funcionário da Companhia Estadual de Energia Elétrica do Rio Grande do Sul (CEEE). Cardeal e Dilma se aproximaram durante o governo de Alceu Collares (1991-1995), quando ela era secretária de Energia do Rio Grande do Sul e ele diretor da CEEE. Desde então, ele se tornou homem de confiança de Dilma no setor elétrico. Os dois pertenceram ao PDT e, em 2001, ele a acompanhou na mudança para o PT. Dois anos depois, Cardeal chegou à Eletrobras por indicação de Dilma, ministra de Minas e Energia no início do governo Lula. Em 2007, ele ocupou interinamente a presidência da estatal, uma tentativa frustrada de Dilma para manter o controle sobre a empresa, que acabou nas mãos do PMDB. Com 59 anos, alto e falante, Cardeal costuma ser poupado nos rompantes de mau humor de Dilma nas reuniões com subalternos.

Em 2007, Cardeal foi denunciado pelo Ministério Público Federal por gestão fraudulenta e desvio de recursos com base nas descobertas da Operação Navalha, da Polícia Federal, que investigou irregularidades em obras públicas. Sob a proteção de Dilma, manteve-se apesar disso firme no governo federal. Foi presidente do Conselho de Administração de Furnas e da Eletronorte, outras duas estatais federais. Como diretor de Planejamento e Engenharia da Eletrobras, é responsável por projetos bilionários do sistema Eletrobras, como o programa de incentivo ao uso de energias alternativas, conhecido como Proinfa. Cardeal ainda acumula o cargo de presidente do Conselho de Administração da Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica (CGTEE), uma subsidiária da Eletrobras. Por causa desse segundo emprego, o nome de Cardeal aparece em um dos maiores escândalos da área de energia no governo Lula.

ÉPOCA teve acesso a uma ação de indenização por danos materiais e morais apresentada contra a CGTEE em agosto deste ano na 10ª Vara Cível de Porto Alegre pelo Kreditanstalt für Wiederaufbau (KfW) – um banco de fomento controlado pelo governo da Alemanha, uma espécie de BNDES germânico que foi criado na época da reconstrução do país depois da Segunda Guerra Mundial. Nessa ação, o KfW afirma ter evidências de que Cardeal teria conhecimento, desde o início, da emissão de garantias ilegais e fraudulentas, para que duas empresas privadas brasileiras obtivessem um empréstimo internacional no valor de e 157 milhões destinados à construção de sete usinas de biomassa de geração de energia no Rio Grande do Sul e no Paraná. Para o banco que empresta o dinheiro, essas garantias forneceriam um atestado de que, se o devedor não pagasse, alguém – no caso a CGTEE – funcionaria como fiador e arcaria com essa responsabilidade. Só que essas garantias, dadas em nome da CGTEE, violavam a Lei de Responsabilidade Fiscal, no artigo que proíbe empresas do governo de dar aval internacional a empresas privadas. Esse artigo determina que elas não podem funcionar como fiadoras nesse tipo de empréstimo. Ele foi incluído na lei para evitar o descontrole no endividamento das empresas estatais em moeda estrangeira e para impedir que o patrimônio do Estado seja colocado em risco. Todo gestor público experiente deve saber dessa proibição.

Cardeal foi denunciado em 2007 pelo Ministério Público por desvio de recursos da Eletrobrás

Na ação judicial, o banco alemão faz uma afirmação ainda mais comprometedora. De acordo com o KfW, a então ministra, Dilma Rousseff, tomou conhecimento do negócio em 30 de janeiro de 2006, durante um seminário, em Frankfurt, sobre investimentos em infraestrutura e logística no Brasil. “Até mesmo alguns políticos conheciam os fatos, como a então ministra, Dilma Rousseff”, afirma a ação. Ao processo, os advogados do KfW anexaram documentos do seminário. Dilma, na época ministra da Casa Civil, foi inscrita como chefe da equipe da Presidência do Brasil (leia abaixo a reprodução do programa do seminário). As garantias da operação, de acordo com o banco, foram discutidas num dos fóruns do seminário de que ela participou. Na apresentação do negócio a Dilma, o KfW diz ter informado que a operação ainda tinha o desafio de obter as garantias. Em seguida, apresentou uma saída: “Solução: emissão de garantia de pagamento por uma subsidiária, com patrimônio suficiente, da empresa governamental de energia Eletrobras”. Segundo o KfW, a subsidiária da Eletrobras já teria sido aceita pela agência oficial alemã de crédito de exportação. Dois dias depois do seminário com a presença de Dilma, o KfW, de acordo com a sindicância da CGTEE, registrou a obtenção das garantias aos financiamentos. Em nota enviada a ÉPOCA, o banco alemão afirma que recebeu garantias da CGTEE em março e agosto de 2005 para empréstimos para a empresa Winimport construir as usinas de biomassa.

A assessoria de Dilma confirmou que ela participou do seminário em Frankfurt, mas negou que tenha visto a apresentação sobre o negócio. Em nota enviada a ÉPOCA, a assessoria de Dilma afirma: “Tratou-se de um evento, como muitos feitos habitualmente pelo governo Lula em vários países, para exposição dos cenários econômico e social do Brasil a empresários e dirigentes alemães. A ex-ministra falou no painel ‘Aspectos Jurídico-Regulatórios e Programas Governamentais para Infraestrutura e PPPs’. Não houve painel sobre ‘financiamento de projetos de usinas de biomassas’. Na parte da tarde, (ela) se reuniu com representantes de empresas alemãs do setor naval e siderúrgico. À noite, embarcou para o Brasil”.

Em usinas de biomassa, podem ser usados resíduos de cana, madeira, vegetais e até lixo que, jogados em imensas caldeiras, viram matéria-prima para a geração de energia. Das sete usinas previstas – três da Winimport e quatro da Hamburgo –, cinco nunca saíram do papel. As outras duas constam dos registros da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o órgão regulador do mercado, como de propriedade da Winimport. Uma, no município paranaense de Ignácio Martins, ainda estaria em obras. A outra, em Imbituva, no Paraná, já estaria gerando energia. Visitas da reportagem de ÉPOCA às duas unidades, no entanto, revelaram situações diferentes. O projeto de Ignácio Martins está inconcluso. O mato tomou conta do canteiro de obras. A Aneel já multou a Winimport por atraso no cronograma dessa usina, cuja autorização data de novembro de 2004. A usina de Imbituva, um município de 28 mil habitantes, tem aparência de abandono, com apenas uma guarita de vigilância. A obra foi aprovada pela Eletrobras dentro do Proinfa, o programa destinado a incentivar o uso de energia alternativa no país. O dinheiro que fora emprestado para a construção das usinas teve outro destino.

O KfW descobriu a fraude em 2007, quando a Winimport deixou de quitar parte do financiamento. Na ocasião, o banco alemão procurou a CGTEE para cobrar as garantias, nos termos previstos na documentação dos empréstimos. Foi informado de que a estatal não tinha conhecimento desse aval. Isso motivou uma sindicância pela CGTEE e o fato foi comunicado à Polícia Federal. Naquele ano, uma investigação da PF, denominada Operação Curto-Circuito, constatou a fraude nas garantias, o sumiço do dinheiro e o envolvimento de nove pessoas. Elas foram presas depois de investigações em que a PF, com autorização judicial, obteve acesso a sigilos bancário, fiscal e telefônico e realizou buscas e apreensões. Em 2007, a PF enviou o relatório final da apuração à Justiça Federal no Rio Grande do Sul. Atualmente, todos respondem a processo, acusados dos crimes de formação de quadrilha para a prática de delitos contra a administração pública, corrupção passiva e ativa e estelionato.

Quatro dos acusados são ou foram militantes do PT gaúcho e desempenharam funções relevantes nos governos do partido. Um deles é o principal acusado do golpe, o engenheiro eletricista Carlos Marcelo Cecin, ex-diretor técnico e de meio ambiente da CGTEE. Os outros três ligados ao PT são: Joceles da Silva Moreira, ex-assessor jurídico da CGTEE; Alan Barbosa, diretor-presidente da Hamburgo e um dos representantes da Winimport nas negociações; e o engenheiro Iorque Barbosa, ex-presidente da Cooperativa Riograndense de Eletricitários. Outro dos acusados é o representante no Brasil da empresa alemã CCC Machinery, Erwin Alejandro Jaeger Kar, apontado como mentor do golpe. A CCC Machinery intermediou os financiamentos contraídos na Alemanha pela Winimport e pela Hamburgo porque tinha interesse na venda das turbinas que equipariam as usinas no Paraná e no Rio Grande do Sul. Entre os acusados no processo não consta o nome de Valter Cardeal.

Mas ÉPOCA teve acesso a novas evidências de seu envolvimento no caso. Entre os documentos, aparecem fotos de Cardeal durante visita à CCC Machinery na Alemanha. Uma das imagens mostra um quadro de aviso com os nomes de Cardeal, Cecin e Jaeger. Depoimentos colhidos no processo criminal também apresentam indícios de que Cardeal, como presidente do conselho de administração da CGTEE, tinha conhecimento dos detalhes dos financiamentos, inclusive das garantias que teriam sido fornecidas pela estatal. Por intermédio do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), órgão do Ministério da Justiça, foi solicitado às autoridades alemãs que colhessem depoimentos de testemunhas locais. ÉPOCA também teve acesso aos interrogatórios prestados pelos executivos da CCC Machinery Wolfgang Willing e Detlev Wahl.

Willing e Wahl afirmaram que Cecin, na época diretor técnico da CGTEE, visitou a CCC Machinery na Alemanha em 9 de outubro de 2005. Disseram também que, em 2 de novembro daquele ano, Cecin retornou à empresa na companhia de Cardeal. Na ação que tramita na Justiça do Rio Grande do Sul, o KfW afirma também que “há evidências que serão apresentadas oportunamente sugerindo que o senhor Cardeal estava ciente da emissão das garantias Winimport desde o início”.

Outras informações em poder da Justiça brasileira reforçam a hipótese de que Cardeal tinha conhecimento das garantias aos empréstimos. Em depoimento à Justiça, Cecin afirmou que os membros da diretoria e do conselho de administração da CGTEE sabiam das negociações para a construção das usinas. “Todo mundo começou a dizer que não sabia, que não ouviu. Eu fiquei simplesmente horrorizado com isso. Porque era um assunto de conhecimento de todo mundo”, disse Cecin em seu depoimento. ÉPOCA procurou Cecin. Por intermédio de seu advogado, Lúcio Constantino, ele afirmou que a ação judicial proposta pelo KfW confirma o que ele disse à Justiça.

Em seu depoimento, Cecin disse ainda que, na viagem que fez com Cardeal à Alemanha, eles jantaram com Axel Schroeder, dono do grupo MPC, o controlador da CCC Machinery. Afirmou que Schroeder fala português, pois foi dono de fábricas de navios no Brasil, nos anos 1960.
Segundo Cecin, Cardeal se entusiasmou na conversa sobre investimentos em biomassa no Brasil. Em seu depoimento, Alan Barbosa também deu indícios do envolvimento de Cardeal. Ele disse que acompanhou Luciano Prozillo, diretor financeiro da Winimport, em reunião do conselho de administração da CGTEE, presidida por Cardeal, para tratar de projetos de interesse da empresa. Apesar de todas as informações sobre a participação de Cardeal, a sindicância conduzida pela CGTEE concluiu que as “garantias” foram tratadas pela Winimport e pela Hamburgo exclusivamente por Cecin.

ÉPOCA também procurou Cardeal. Ele disse que só tomou conhecimento das garantias em maio de 2007, quando o KfW cobrou da CGTEE o pagamento de prestações atrasadas devidas pela Winimport. Cardeal confirmou que esteve na sede da CCC Machinery, em Hamburgo, mas afirma que não tratou de empréstimos concedidos pela KfW a empresas brasileiras.

ÉPOCA pediu ao KfW que apresentasse as evidências que teria contra Cardeal. A reportagem indagou também se o banco tratou das garantias para empréstimo para as usinas de biomassa com Dilma e outras autoridades brasileiras. O KfW informou que não poderia responder às questões porque o assunto está em litígio na Justiça e também por causa das regras de confidencialidade e sigilo do sistema bancário alemão.

A participação de Cecin e de outros petistas nessa gigantesca fraude internacional chama a atenção para um grupo que gravita em torno de Dilma desde os tempos em que a atual candidata do PT à Presidência militava na política gaúcha. Na gestão do governador Olívio Dutra, Cecin trabalhou na equipe montada pela secretária estadual de Minas e Energia, Dilma Rousseff, para comandar a Companhia Estadual de Energia Elétrica. A diretoria da estatal contava também com as participações de Cardeal e Márcio Zimmermann, atual ministro de Minas e Energia.

Em 2002, com a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a saída do PT do governo do Rio Grande do Sul, Dilma, Cardeal, Zimmermann e Cecin foram para o governo federal. Na diretoria técnica e de meio ambiente da CGTEE, Cecin se transformou no nome mais forte no comando da subsidiária da Eletrobras. Seu prestígio aumentou quando ele ajudou a elaborar o projeto Luz para Todos, principal programa de Dilma no Ministério de Minas e Energia. O Luz para Todos foi depois coordenado por Cecin durante a implantação no Rio Grande do Sul.

Nas negociações para a CGTEE dar aval ao financiamento das usinas de biomassa, Cecin foi auxiliado pelo então consultor jurídico da CGTEE, Joceles Moreira. No governo Olívio Dutra no Rio Grande do Sul, entre 1998 e 2002, Joceles ocupou uma das vice-presidências do Banrisul, o banco público gaúcho. Ele foi o autor do parecer jurídico que respaldava as assinaturas de Cecin nas garantias.

As duas empresas financiadas pelo banco alemão – Winimport e Hamburgo – eram representadas nas negociações com a CGTEE por Alan Barbosa, técnico do setor elétrico que participou de lutas sindicais e militou no Campo Majoritário, antigo nome da corrente do PT liderada pelo ex-ministro José Dirceu. Barbosa é diretor-presidente da Hamburgo, empresa criada exclusivamente para assinar os contratos e receber o financiamento no valor de € 109,9 milhões.

Ao envolver Cardeal num escândalo internacional, o KfW atinge um dos nomes considerados certos num eventual governo Dilma. Essa poderá ser considerada a segunda grande baixa do time de confiança de Dilma. A outra foi a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra, abatida por um escândalo de tráfico de influência e nepotismo no Palácio do Planalto.

Alckmin escala grupo de ''mensageiros'' para virar votação em SP

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Aliados se dividem pelo Estado para tentar reverter os votos do governador eleito para o presidenciável tucano

Roberto Almeida

Desde que Geraldo Alckmin (PSDB) foi eleito governador de São Paulo, no dia 3 de outubro, a ordem no PSDB paulista é manter a campanha na rua pelo presidenciável tucano José Serra. Cinco mensageiros, liderados pelo próprio Alckmin, foram selecionados para a tarefa de converter votos dos paulistas para o candidato do PSDB ao Planalto.

A estratégia de trabalho, coordenada pelo governador eleito, é pulverizar as incursões no interior de São Paulo. Pastas recheadas de planilhas com as votações em cada município paulista balizam as decisões de cada mensageiro para visitar ou não determinada cidade em favor do presidenciável tucano.

Os escalados por Alckmin são o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), o secretário estadual de Educação, Paulo Renato (PSDB), o senador eleito Aloysio Nunes (PSDB), o vice-governador eleito Guilherme Afif Domingos (DEM) e o coordenador da campanha alckmista Sidney Beraldo (PSDB).

A meta é garantir que votos que foram para Alckmin no primeiro turno, mas não para Serra, cheguem enfim ao presidenciável do PSDB no dia 31. Em paralelo, todos os selecionados tentam irradiar discurso para convencer eleitores de Marina Silva (PV) a votar no tucano.

Em suas viagens, Alckmin visitará as maiores cidades do Estado e, sob a alcunha de governador eleito e com musculatura política renovada, atrai a imprensa local para falar de projetos e pedir votos em Serra.

Nesta semana, o tucano ainda ultrapassa a divisa estadual e vai aos Estados em que saiu vitorioso na eleição presidencial de 2006, apesar da derrota para Lula no segundo turno: Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e Acre.

Enquanto isso, seus colegas mensageiros, divididos pelas regiões de São Paulo, seguem agenda intensa e passam por até quatro cidades por dia. O objetivo, em cada município, é entregar aos prefeitos e militantes uma carta assinada por Alckmin e pelo senador eleito Aloysio Nunes, em que agradecem a votação no Estado e pedem apoio ao tucano José Serra.

Os eventos ocorrem normalmente nas câmaras municipais, mas se há oportunidade de fazê-lo em festas locais, atraindo imprensa e ampliando a divulgação, melhor.

Incursões. Kassab, afilhado político de Serra, avança como mensageiro nos finais de semana. No sábado anterior ao feriado do dia 12 de outubro, o prefeito de São Paulo esteve em Caieiras, na Câmara Municipal, e em Paulínia, na Festa do Peão da cidade. Ontem foi a Ribeirão Preto, Assis e Leme.

Paulo Renato entrou em férias na última quinta-feira para aderir ao movimento. Anteontem fez sua primeira incursão por Serra, em Bragança Paulista, também com a carta em mãos. Foi ontem a Cubatão e Cotia. Hoje é responsável por coordenar as ações do secretariado de Serra por sua eleição.

O principal articulador dos encontros com prefeitos é Rubens Cury, ex-assessor de Aloysio na Casa Civil do governo Serra. A estrutura usada pelos mensageiros, como Kassab, Paulo Renato, Afif, Beraldo e Aloysio, é a mesma da campanha de Alckmin, que manteve a equipe de eventos, agenda e assessoria de imprensa à disposição.

A conta das equipes de assessores, segundo a equipe alckmista, é paga pela campanha de Serra. As viagens de Alckmin são custeadas pelo PSDB paulista.

Serra aposta na transferência de votos

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Candidato pode herdar até 6 milhões de votos de regiões populosas onde PSDB elegeu governadores em primeiro turno, como SP e MG

Marcelo de Moraes

A mobilização dos governadores vitoriosos no primeiro turno nos dez maiores colégios eleitorais do País aponta um potencial de transferência de votos extremamente favorável para o tucano José Serra no segundo turno.

Na comparação dos votos que recebeu na disputa presidencial com os obtidos por esses governadores aliados vitoriosos, o candidato do PSDB poderá herdar cerca de 6 milhões de votos. A larga maioria desse potencial de transferência se concentra em Minas Gerais e São Paulo.

No caso da petista Dilma Rousseff, o potencial de transferência de votos é mais modesto, mas não pode ser desprezado. Se conseguir captar a ajuda dos governadores eleitos alinhados com sua campanha, a petista poderá faturar mais 1,8 milhão de votos, especialmente no Rio de Janeiro e Pernambuco.

O problema é que os principais colégios eleitorais já definiram suas disputas no primeiro turno. Dos dez Estados que concentram mais eleitores do País, apenas o Pará terá confronto no segundo turno. Isso obriga o governador eleito a ter realmente disposição para operar politicamente nessa fase da campanha para que a transferência se concretize, já que não precisa mais colar sua própria campanha com a do candidato presidencial.

Nesse caso, o engajamento dos tucanos mineiros, liderados pelo senador eleito Aécio Neves e pelo governador reeleito Antônio Anastasia, pode alterar o panorama da disputa local. No primeiro turno, quando priorizaram as próprias eleições, os tucanos mineiros não desestimularam a existência do chamado voto "Dilmasia", que reunia na mesma chapa o apoio para Dilma e Anastasia. Agora, com suas eleições resolvidas e a aliança formada por PT e PMDB esfacelada na região, Aécio e Anastasia passaram a concentrar seu trabalho em transferir votos para Serra no segundo maior colégio eleitoral do Brasil.

Em Minas, Antônio Anastasia foi reeleito com 6,3 milhões de votos. Serra ficou muito abaixo desse patamar no primeiro turno. De fato, somou apenas 3,3 milhões de votos e sequer foi o mais votado entre os mineiros, perdendo para a petista Dilma Rousseff, que teve 5 milhões de votos no Estado. Se conseguir chegar ao tamanho obtido por Anastasia no primeiro turno, o tucano ganharia expressivos 3 milhões de votos.

Em São Paulo, que concentra mais de 30 milhões de votos, o governador eleito Geraldo Alckmin assumiu o papel de tentar impulsionar a campanha de Serra. Alckmin foi eleito com 11,5 milhões de votos, Serra foi o mais votado entre os paulistas, mas ficou 2 milhões de votos abaixo desse patamar, com 9,5 milhões de votos.

Do lado de Dilma, as duas maiores apostas estão no Rio de Janeiro, onde Sérgio Cabral Filho (PMDB) foi reeleito governador com 1,4 milhão de votos a mais do que obtido pela petista, e em Pernambuco, onde o governador Eduardo Campos (PSB) pode transferir mais 700 mil votos para sua candidatura.

O Rio Grande do Sul também pode ajudar na transferência, através do governador eleito Tarso Genro. O ex-ministro da Justiça conseguiu uma vitória com 400 mil votos a mais do total alcançado por Dilma entre os eleitores gaúchos.

A situação da petista não é tão favorável porque em várias disputas ela já teve votação muito grande no primeiro turno. No Ceará e em Santa Catarina chegou a ter mais votos do que seus candidatos ao governo conseguiram. Na Bahia, outro importante colégio eleitoral, igualou o que o governador Jaques Wagner (PT) garantiu para ser reeleito.

Aécio ensina caminho das pedras a tucano

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Malu Delgado

"Essa é a minha turma. Essa é a minha gente." Foi assim que Aécio Neves (PSDB), ex-governador de Minas Gerais e senador eleito, referiu-se a uma multidão de prefeitos e lideranças regionais na última quinta-feira quando ensinava ao presidenciável tucano José Serra o caminho das pedras para convencer esse exército a trabalhar por ele no segundo turno das eleições no Estado.

Minas reflete o ânimo da direção nacional do PSDB no embate final com Dilma Rousseff (PT) depois de uma campanha marcada por tropeços no primeiro turno. Além da visível aproximação de Aécio com Serra, a campanha do tucano, que antes parecia envergonhada no Estado, começa a tomar as ruas.

Em dois dias, o material encomendado para o segundo turno em Minas esgotou. "A demanda no interior do Estado é altíssima, os prefeitos não param de pedir material, nossas linhas telefônicas vivem agora congestionadas", comemora o deputado Rodrigo de Castro, secretário-geral do PSDB e coordenador da campanha de Serra em Minas.

Bandeiras, camisetas "Minas é Serra", fotografias risonhas do presidenciável ao lado do ex-governador e adesivos em carros são novos materiais de campanha que não se viam no primeiro turno, sobretudo na capital mineira. Num único dia, o PSDB local adesivou 1.800 carros só em Belo Horizonte.

Preterido na disputa com Serra para a vaga de presidenciável, Aécio acumula força política que o coloca como uma das principais lideranças do País. Além de ter sido eleito senador, garantiu a reeleição do governador Antonio Anastasia (PSDB) e puxou Itamar Franco (PPS) para a outra vaga no Senado.

Vitorioso, o ex-governador de Minas deixou para trás rusgas com Serra. Na avaliação de tucanos, a sintonia não passa de constatação da realidade: ambos defendem o mesmo projeto político e a vitória de Serra engrandeceria seu futuro político.

Já foram agendados seis grandes eventos em Minas com a presença de Serra e o vitorioso "trio aecista". O governador reeleito vai viajar por municípios que fazem fronteira entre Minas e Bahia e também com Goiás. Itamar será escalado para viagens específicas em regiões de Minas.

Serra não vai governar sozinho, afirma Aécio

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Senador eleito por Minas e um dos coordenadores da campanha do PSDB, Aécio Neves diz em entrevista a Malu Delgado que José Serra tem possibilidade real de vitória porque incorporou a tese de que representa um projeto político coletivo. Na opinião de Aécio, Serra está mais aberto e demonstrando disposição de compartilhar esforços e ideias, fazer um governo aberto: "Essa era uma preocupação que alguns tinham lá atrás, saber como seria."

""Serra não vai governar sozinho""

Aécio Neves, senador eleito por Minas Gerais. Com viagens já marcadas para sete Estados, Aécio entra firme na campanha e diz que ela ""será dura, até o final""

Malu Delgado

Estrategista político central da campanha do segundo turno de José Serra (PSDB) à Presidência, o senador Aécio Neves afirma que subestimam a inteligência tucana aqueles que acham que por trás de seu real empenho na causa está o compromisso de que os paulistas não serão novamente obstáculo para as pretensões mineiras em 2014.

Para o ex-governador mineiro, Serra tem possibilidade real de vencer, sobretudo porque, no segundo turno, incorporou a tese de que representa um projeto político coletivo. Aécio começa inclusive a traçar uma missão para o Senado caso Serra vença: ajudá-lo a formar uma maioria no Congresso.

"É importante o Serra agora mostrar ao Brasil que ele é um time político", disse Aécio ao Estado numa conversa telefônica, após ter organizado, na capital mineira, um ato de adesão de aproximadamente 400 prefeitos à candidatura de Serra. Em sua visão, essa é a aposta feita pelas principais lideranças do PSDB que saíram vitoriosas nas urnas no primeiro turno e agora estão engajadas na campanha de Serra. "Vamos mostrar que ele não vai governar sozinho."

A pedido do próprio Serra, Aécio vai viajar pelo País. Já tem viagens escaladas para pelo menos sete Estados. Além disso, gravou na sexta-feira novas participações para os programas eleitorais gratuitos.

A vitória de Antonio Anastasia em Minas Gerais, afirma, é outro fator que explica a mudança de ares e o engajamento de prefeitos e lideranças locais na campanha de Serra. "A partir do momento em que o nosso grupo político ganha, há uma tendência natural de engajamento maior dos que já estavam do nosso lado e de uma busca de aproximação de alguns que tinham de colocar um pé em cada canoa." O otimismo, porém, não desobriga o experiente político de uma avaliação realista: "Ninguém também pode achar que virou a eleição. Não. Vai ser uma eleição dura até o final. Mas o momento é positivo para nós."

O clima da campanha em Minas para José Serra está diferente do que era no primeiro turno. O que explica essa mudança?

Acho que são duas coisas distintas. Primeiro, existe uma movimentação silenciosa, que independe de lideranças e dos partidos. Acho que há uma certa desilusão e um desencanto com o PT, com a Dilma. Foram esses votos que migraram para a Marina, não migraram diretamente para o Serra. Podem, agora, de forma majoritária, ir para ele. É um movimento que eu não sei quantificar, mas que existe. Da nossa parte, aqui tivemos uma coisa muito aberta, cristalina. A nossa base, que apoiou o (Antonio) Anastasia (governador reeleito do PSDB), é composta pelos partidos do núcleo do nosso governo - PSDB, DEM, PPS, PTB, que estão com Serra desde o início. Mas tínhamos também uma base mais ampla, com PR, PSB e PDT. Eles estavam coligados formalmente com a Dilma. Isso que foi o início do "dilmasia", que não é um negócio escondido não. Porque não é, por exemplo, uma defecção do PSDB para a Dilma. Nunca houve isso. Eram partidos que apoiavam a Dilma e o Anastasia. E eu não ia dispensar o apoio desses partidos numa eleição tão difícil como a que tivemos em Minas. Agora, eleito o governador, a relação dos prefeitos com o governador é mais direta do que com o presidente da República. A partir do momento em que o nosso grupo ganha, da forma que ganhou, há uma tendência de engajamento maior dos que já estavam do nosso lado e de uma busca de aproximação de alguns que estavam mais distantes, e que tinham de colocar um pé em cada canoa. Essas duas coisas se complementam: um sentimento geral e difuso na sociedade, que passa por valores, e uma aproximação com o governo eleito. Isso serve para Minas e pode servir para São Paulo, Paraná. E agora é uma eleição sem a poluição de seis, sete eleições. É só Serra.


O sr. terá uma missão extra-Minas neste segundo turno. Sua atuação não ficará restrita ao Estado, é maior que isso?

Tive, na quinta-feira, uma longa conversa com o Serra. Acertamos alguns eventos. Terei uma agenda com ele. Vou a outros lugares a pedido dele. Estou indo para Goiás e Pará na quinta que vem, e na sexta ao Piauí e Alagoas. Ainda devo ir à Bahia. E vou a alguns eventos que o Serra achar importante, com ele. É importante o Serra, agora, mostrar ao Brasil que ele é um time político, que representa um grupo que tem credibilidade nos Estados, que tem trabalhos desenvolvidos e aprovados. É importante para os indecisos que ainda existem, e os que votaram em Marina, que percebam que votar no Serra é mais do que votar no Serra - é votar em um projeto que é o do Beto (Richa, eleito governador do Paraná), do Geraldo (Alckmin, eleito governador de São Paulo), do nosso em Minas, do Marconi (Perillo, que disputa o segundo turno em Goiás). Vamos mostrar que o Serra não vai governar sozinho. É um esforço que vamos ter daqui por diante, até o final da campanha. Essa exposição de falar em nome dele e mostrar que vai ser um governo solidário e de muitas cabeças.

O candidato está mais aberto no segundo turno?

Bastante. Ele está demonstrando, e eu tenho acreditado nisso, disposição de compartilhar esforços e ideias, fazer um governo aberto. Essa era uma preocupação que alguns tinham lá atrás, saber como seria. Acho que ele vê um bom momento. Serra não está eufórico, mas está muito otimista. Fiz também novas gravações para o programa de TV dele. Está havendo uma movimentação natural e um engajamento maior de lideranças municipais do lado que ganhou (nos Estados). No caso de Minas acho que isso explica a euforia que você constatou.

Circulam especulações de que o seu empenho na campanha se deveria a um compromisso de Serra de que, se eleito, não disputaria em 2014?

Isso não faz jus nem à inteligência dele e nem à minha. Ele, de fazer (o compromisso) e eu, de acreditar que isso seja possível. Não é isso que está em jogo. Claro que queremos participar de um projeto para o Brasil, de um projeto novo, que compreenda as diferenças regionais. Isso me basta. Eu estou muito feliz com o papel que tenho feito. Não tenho essa obsessão de apoiá-lo para ele me apoiar. Nisso eu sigo a cartilha do doutor Tancredo (Neves) que dizia que Presidência da República é muito mais destino do que projeto. Quem construir algo assim, em etapas, acaba chegando a lugar nenhum. Eu vou querer ajudá-lo (Serra) a construir, no Congresso, uma maioria para que ela possa governar com tranquilidade. Ele vencendo as eleições, esse é o papel que eu vou executar. E é o papel que me agrada.

E é Minas que pode garantir a Serra a vitória no segundo turno, considerando o cenário atual?

Isso é uma visão que a imprensa e os analistas têm. O voto de Minas vale igual ao voto de Goiás, ao do Rio Grande do Sul. Precisamos, para ganhar, avançar a diferença em São Paulo, equilibrar e talvez vencer em Minas. O que eu vou fazer é um esforço enorme para que possamos virar o jogo no meu Estado. Agora, a vitória vai se dar pela soma de votos no Brasil inteiro. Minas chama a atenção porque aqui é a síntese do Brasil. Temos um Nordeste dentro do Estado, um Sul próspero, um Triângulo Mineiro tão rico quanto São Paulo. Vamos suar a camisa aqui para tentar dar a ele uma chance de vitória.

Mas, por sua experiência política, há hoje possibilidade real de vitória de Serra?

Acho que sim. Eu sou muito pé no chão. Ninguém também pode achar que virou a eleição. Não. Vai ser uma eleição dura até o final. Mas o momento é positivo para nós. Essa coisa dos prefeitos eu acho que era um vazio que existia, na relação com os municípios. Falo muito em pacto federativo, na reorganização dos Estados e municípios. A refundação da federação é outra tese que eu quero defender no Congresso com muito vigor. Temos que reorganizar os municípios e os Estados. O Lula, na verdade, ultrapassou os municípios, tem uma relação direta com a sociedade via Bolsa-Família, via os discursos dele. A orfandade dos municípios brasileiros pede uma parceria maior com o governo federal, uma parceria que não seja partidária, que não seja só com aliados. Esse é um discurso que vocês verão o Serra incorporando com mais força aí para a frente na campanha eleitoral.

Aécio comandará ato na orla do Rio

DEU EM O GLOBO

O senador eleito Aécio Neves (PSDB) assumiu de vez a condição de cabo eleitoral de José Serra.

Entre as missões, está a organização de um ato no dia 24, no Rio. O tucano afirma que houve "certa soberba" na campanha de Dilma Rousseff (PT) e conta que "a ideia é mostrar que Serra somos todos nós".

"Ideia é mostrar que Serra somos todos nós"

Senador eleito, Aécio Neves assume o lado cabo eleitoral e diz que a campanha de Dilma "foi permeada por certa soberba"

Depois de conquistar no primeiro turno a maior vitória da oposição nesta eleição - garantiu a própria eleição e a do ex-presidente Itamar Franco (PPS) para o Senado, além da reeleição do governador Antonio Anastasia (PSDB) -, o tucano Aécio Neves se transforma, no segundo turno, no principal cabo eleitoral do candidato do PSDB à Presidência, José Serra. Esta semana, atendendo a um pedido de Serra, deixará os limites de Minas Gerais e começará um roteiro de viagens por Goiás, Mato Grosso, Pará, Piauí, Alagoas e Bahia.

Aécio considera que o segundo turno da disputa presidencial deixa um ensinamento especial para o PT e os coordenadores da campanha de Dilma Rousseff, que se deixaram levar, afirma ele, pela soberba e por acreditarem que a popularidade do presidente Lula seria suficiente para garantir a vitória à petista.

Aécio diz que Serra está aberto a sugestões e que as chances de vitória são boas, mas alerta que a eleição ainda não está decidida. Numa referência indireta à dificuldade atribuída a Serra de dividir o poder, Aécio diz que teve longas conversas com ele nos últimos dias:

- Tenho percebido que ele quer governar com um grupo político.

Afirma também que não vê dificuldades para que Serra, se eleito, construa maioria no Congresso, e já faz elogios ao PMDB. Por fim, garante que não existe por trás do seu empenho qualquer acordo com Serra para que ele não dispute, se ganhar agora, a reeleição em 2014.

"Eu e nem mesmo o Serra nunca deixamos de ter laços com o PMDB"

Aqueles que queriam vê-lo candidato à Presidência este ano acham que uma vitória de Serra agora inviabilizará sua candidatura também em 2014. Há algum acordo entre o senhor e Serra para que ele não dispute a reeleição, caso eleito, e apoie seu nome?

AÉCIO: Só quem não me conhece acharia que eu vou colocar um projeto meu, individual, à frente de um projeto do país. Apresentei no ano passado uma proposta de candidatura e a levei até onde achei que era possível. Quando percebi que poderia levar a uma cisão no partido, fiz minha opção, sem qualquer rancor. E fiz o que disse que faria, me dediquei à vitória do Anastasia.
Por que não aceitou ser vice de Serra?

AÉCIO: Declinei por achar que comprometeria a continuidade de um projeto exitoso em Minas. Sigo muito a máxima do meu velho avô Tancredo Neves, que dizia que Presidência é destino, não é projeto. Eu me sentirei extremamente feliz de estar participando de um projeto de Brasil capitaneado por Serra. Tive pelo menos três conversas longas com Serra nos últimos dez dias e tenho percebido que ele quer governar com um grupo político.

Como conquistar os votos dos eleitores da Marina?

AÉCIO: O PV em Minas já anunciou o apoio a Serra, assim como o PP. Além disso, há um movimento que é da sociedade, de pessoas que estão com receio do que possa significar o governo da Dilma com a influência que o PT autoritário e anti-democrático teria. Essa volúpia de alguns aliados por cargos. Quando uma aliança política é feita sem qualquer amálgama de projetos, sem qualquer identidade programática, ela se dá exclusivamente pela ocupação de cargos. Por isso é que vejo um pouco solta essa aliança em torno da Dilma.

O Congresso eleito não daria maioria a um eventual governo Serra. Isso preocupa?

AÉCIO: Vai depender muito da capacidade dele (Serra) e de seus aliados. Maioria se constrói em torno de um programa, um projeto. Obviamente que eu estarei à disposição dele para isso. Teremos de ter conversas com várias forças políticas que estão do outro lado. Especialmente com o PMDB. Eu repito que o PMDB é um partido vital para governabilidade. Eu e nem mesmo o Serra nunca deixamos de ter alguns laços com o PMDB. E se vencermos as eleições, devemos chamá-los para uma conversa em torno dos interesses do país, assim como outros partidos que estão na base do governo atual.

Qual o principal desafio de Serra, se eleito?

AÉCIO: Apresentar ao país, nos primeiros 30 dias de governo, uma agenda de reformas. Reformas só se realizam no primeiro ano de governo, quando há capital político. Não se faz reforma constitucional no Brasil sem que o governo federal esteja engajado. É preciso que o presidente tenha disposição, coragem política para fazer reformas por mais que possam contrariar interesses. E faltou isso neste governo.

Depois de oito anos no poder, o PT está maduro para voltar para a oposição?

AÉCIO: A oposição fará muito bem ao PT. Ao PT que nasceu como um partido de massas, representante da classe trabalhadora, com valores éticos, que nos fez a todos, até seus adversários, respeitá-los. Aqueles que ainda acreditam neste PT, talvez até prefiram que o partido faça essa reciclagem na oposição. O exercício do poder pode ter feito bem à vida de alguns petistas, mas não fez muito bem à história do PT. O Brasil precisa de um partido como o PT e eu espero que ele na oposição possa se reciclar. O que me chama a atenção é a falta de generosidade do PT de reconhecer que o Brasil não foi descoberto por eles. Eles têm uma dificuldade quase física de verbalizar isso, de reconhecer em outros algum mérito. Eu, por exemplo, reconheço méritos do governo do presidente Lula, mas esses resultados foram atingidos porque, antes, tivemos os governos do Itamar Franco e do Fernando Henrique Cardoso.

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Neste soneto : Paulo Mendes Campos

Neste soneto, meu amor, eu digo,
Um pouco à moda de Tomás Gonzaga,
Que muita coisa bela o verso indaga
Mas poucos belos versos eu consigo.
Igual à fonte escassa no deserto,
Minha emoção é muita, a forma, pouca.
Se o verso errado sempre vem-me à boca,
Só no peito vive o verso certo.
Ouço uma voz soprar à frase dura
Umas palavras brandas, entretanto,
Não sei caber as falas de meu canto
Dentro de forma fácil e segura.
E louvo aqui aqueles grandes mestres
Das emoções do céu e das terrestres.