quarta-feira, 2 de abril de 2014

Opinião do dia: Aécio Neves

Não foi a oposição que resolveu, de repente, investigar um governo adversário. As denúncias que levam a esse requerimentos e as assinaturas necessárias surgiram por ações de muitos, inclusive servidores da própria Petrobras, por denúncias na empresa que causam indignidade à sociedade brasileira. O que a oposição faz é cumprir suas prerrogativas. Estamos falando da essência do Parlamento.

Aécio Neves, senador (MG) e presidente nacional do PSDB, ontem, no plenário do senado.

Renan cria CPI no Senado para investigar a Petrobras

Gleisi Hoffmann tenta impedir instalação e diz que não há ‘fato determinado’ para apurar compra de refinaria nos EUA

Danilo Fariello – O Globo

BRASÍLIA - O presidente do Senado, Renan Calheiros, permitiu nesta terça-feira a leitura do requerimento de criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar operações da Petrobras entre 2005 e 2014. Com a leitura, a CPI já pode ser instalada e ter os seus integrantes nomeados, para investigar operações da estatal.

— Com a leitura do requerimento, a bola entra em campo — resumiu o senador José Agripino Maia (DEM-RN).

O requerimento, lido pela senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), solicita prazo de 180 dias para investigar operações da Petrobras relacionadas à aquisição da refinaria de Pasadena, no Texas, pagamento de propina em negócios envolvendo a SBM Offshore, denúncias de que plataformas têm sido lançadas ao mar incompletas e, por último, superfaturamento em processos de implantação de refinarias — neste, o grupo parlamentar deverá ter como foco principal a instalação da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.

Logo em seguida, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-SC) indicou uma “questão de ordem”, com base na Constituição Federal e o regimento interno das CPIs. Ela disse que não há "fato determinado" a ser apurado e também aponta que há diversos eventos a serem investigados sem nexo entre si, apesar de todos estarem relacionados à Petrobras.

Governo manobra contra CPI e tenta adiar investigação da Petrobras

PT e PMDB querem incluir na pauta apuração sobre Alstom, Suape e Cemig

Danilo Fariello, Isabel Braga e Paulo Celso Pereira – O Globo

BRASÍLIA - No embate com a oposição, o PT e o PMDB conseguiram nesta terça-feira assinaturas suficientes e protocolaram novo pedido de CPI no Senado para investigar, além da Petrobras, cartéis para aquisição de trens e metrôs no estado de São Paulo e no Distrito Federal (caso Alstom-Siemens), a construção do Porto de Suape (PE) e a Cemig, empresa energética de Minas. A estratégia é atingir os presidenciáveis Aécio Neves (PSDB-SP) e Eduardo Campos (PSB-PE) e ampliar o foco de investigações. O governo também valeu-se de uma manobra regimental para adiar a instalação da CPI pedida pela oposição.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fez a leitura do requerimento em plenário para a criação da comissão para investigar operações da Petrobras entre 2005 e 2014: a aquisição da refinaria de Pasadena, no Texas, os supostos pagamentos de propina pela empresa holandesa SBM Offshore a funcionários da estatal, o eventual superfaturamento na construção de refinarias e as denúncias de entregas de plataformas incompletas.

Entretanto, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) apresentou questão de ordem, alegando que a CPI precisa ter um fato determinado apenas e questionou a legalidade da instalação da Comissão, uma vez que ela teria como foco quatro diferentes linhas de investigação relacionadas à estatal:

— Os fatos apontados, analisados em conjunto, demonstram que o objetivo geral de seus autores é fazer uma investigação generalizada na Petrobras nos últimos dez anos, uma verdadeira devassa.
Renan disse que avaliará nesta quarta-feira a questão de ordem apresentada por Gleisi e dará uma palavra final sobre a instalação das CPIs.

Gleisi avaliou que, se Renan aceitar a questão de ordem, considerando que não pode existir CPI com quatro fatos determinados diferentes, o governo sai ganhando. Se indeferir o pedido, a segunda CPI poderá ser instalada com sete diferentes fatos determinados, ampliando o escopo da investigação, o que seria uma saída interessante para o governo.

Na Câmara, existem 164 assinaturas de deputados a favor do requerimento da CPI mista que veio do Senado para investigar a Petrobras. Líder do PMDB, Eduardo Cunha, disse que assinará os requerimentos de CPI. Outra CPI na Câmara para investigar o caso Alstom tem 271 assinaturas, segundo o autor do requerimento, Paulo Teixeira (PT-SP).

A oposição no Senado reagiu com agressividade à tentativa da base aliada de instalar uma segunda CPI com foco maior do que a original. Para o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), o pedido visa a acobertar aqueles que eventualmente poderão vir a ser responsabilizados na gestão da Petrobras.
Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) considerou a reação do governo uma briga de “valentões de botequim” e citou que a instituição da CPI correria riscos com a manobra do governo.

— Querem matar a CPI da Petrobras com uma manobra antirregimental — disse Nunes.

Relatórios criticam falta de informação
Para o senador e pré-candidato do PSDB à presidência, Aécio Neves, o governo, com maioria no Senado, pode criar CPIs quando quiser, por isso, questiona a manobra.

— A situação quer impedir que a Petrobras seja investigada. Queremos que se instale a CPI da Petrobras e a maioria do governo instale a CPI que quiser, mas deixem a da Petrobras funcionar e assumam suas responsabilidades — disse Aécio.

Aloysio Nunes diz que objetivo do governo é impedir CPI

Ricardo Brito - Agência Estado

BRASÍLIA - O líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP), rebateu em plenário o questionamento feito pouco antes pela senadora e ex-ministra da Casa Civil Gleisi Hoffman (PT-PR) de impugnar a criação da CPI da Petrobras por supostamente não ter fato determinado. Para o tucano, o objetivo da base aliada é impedir a criação da comissão parlamentar.

Gleisi disse que o requerimento da CPI apresentado pela oposição pretende fazer uma "verdadeira devassa" na estatal. O líder do PSDB disse que, em vez de apenas um, os oposicionistas apresentaram quatro fatos determinados. A leitura do requerimento de criação foi feita pela senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) em plenário. Os senadores têm até meia-noite do dia de hoje para retirar ou acrescentar assinaturas. A CPI do Senado tem, no momento, 29 assinaturas, duas a mais que o mínimo necessário.

O tucano questionou se o Senado vai "tapar o sol com a peneira", uma vez que é função do Parlamento externar as preocupações do povo brasileiro. "Na falta de um objeto claro, determinado, que é o requisito constitucional, nós temos quatro que são absolutamente delimitados", afirmou.

O líder do PSDB disse que a proposta de Gleisi tem por objetivo acabar com o instrumento das CPIs. "Seria o fim do instituto da CPI, do instituto da minoria", afirmou. Ele citou uma série de casos em que CPIs foram instaladas com fatos conexos, como a CPI da Petrobras de 2009.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que vai responder ao questionamento feito por Gleisi amanhã.

Documentos sugerem propina da Alstom na Petrobrás

Documentos apreendidos pela PF em 2006 apontam pagamento por serviço de consultoria não executado em termoelétrica no Rio

Fausto Macedo e Fernando Gallo – O Estado de S. Paulo

Documentos apreendidos em uma operação da Polícia Federal sugerem que a Alstom pagou propina relacionada a um projeto da Petrobrás no Rio de Janeiro. Trata-se da Termorio, maior termoelétrica a gás do Brasil, construída pela multinacional francesa. Faturas comerciais, acordos de consultoria, e-mails, extratos bancários e depoimentos apontam a prática ilícita em relação ao projeto.

Os documentos foram apreendidos em operação da PF em 2006 que desmontou um golpe contábil contra Itaipu e outras companhias do setor elétrico. Nela, foram presas seis pessoas, entre elas um engenheiro da Alstom.

Os documentos foram apensados ao inquérito da PF que deu origem à ação penal contra 11 pessoas do caso Alstom, aberta pela Justiça Federal em fevereiro por corrupção e lavagem de dinheiro da empresa francesa em um projeto de uma extinta estatal de energia paulista.

O material indica que a Alstom pagou a uma empresa uruguaia por consultoria fictícia a respeito da obra da Termorio.

A holandesa SBM diz que pagou “comissões” no Brasil

Assis Moreira – Valor Econômico

GENEBRA - A companhia holandesa SBM confirmou hoje que pagou US$ 139,1 milhões em comissões no Brasil entre 2007-2011, mas alega não ter “evidencias críveis” de que se trate de propinas pagas a funcionários do governo ou da Petrobras.

A SBM divulgou hoje cedo os resultados de uma investigação interna sobre denúncias de suborno de funcionários de governos, no exterior, que durou dois anos. Sua conclusão é de que de fato pagou US$ 200 milhões de comissões no exterior em três países – Angola, Guiné Equatorial e Brasil -, mas relata nuances entre os casos.

A apuração aponta, no caso dos dois países africanos, “algumas evidências de que pagamentos podem ter sido feitos direta ou indiretamente a funcionários públicos”; Em Angola, o pagamento foi de US$ 22,7 milhões e em Guiné Equatorial, de US$ 18,8 milhões.

Com relação ao Brasil, a SBM diz que havia “algumas bandeiras vermelhas”, referindo-se a suspeitas de suborno, mas não foram encontradas provas. Diz que a investigação interna examinou detalhadamente a relação entre as companhias do grupo e seu principal representante no Brasil, entre as empresas do representante e membros de sua família com parceiros de negócios.

A conclusão é de que não há evidências dignas de crédito de que o representante tenha feito no Brasil “pagamentos impróprios a funcionários públicos, incluindo empregado de companhia estatal”, em referência a Petrobras.

A SBM diz que as evidências encontradas foram de que seu representante no Brasil forneceu “serviços substanciais e legítimos”, num período em que a companhia holandesa tinha presença operacional permanente no Brasil muito limitada – com apenas quatro pessoas, comparado a 220 atualmente.

O texto diz que “pagamentos adicionais” aos agentes de vendas no Brasil entre 2007 e 2011 totalizaram US$ 139,1 milhões, dos quais US$ 123,7 milhões foram na verdade pagos a seu representante principal no país.

O resultado da investigação interna da companhia holandesa é revelado dois dias depois de a Petrobras ter concluído uma investigação-relâmpago sobre a suspeita de subornos milionários supostamente pagos pela SBM a funcionários da estatal. A comissão da Petrobras disse não ter encontrado irregularidades.

Ficou implícito que a estatal não conseguiu encontrar pagamentos suspeitos do grupo de empresas do empresário Julio Faerman, que foi representante comercial da SBM Offshore no Brasil até 2012, mesmo ano das investigações internas de sua cliente na Europa.

A Controladoria-Geral da União (CGU) e o Tribunal de Contas da União (TCU) ainda não têm cópia do relatório final elaborado por uma comissão interna da Petrobras, que concluiu não haver indícios de pagamento de propinas a funcionários da estatal pela holandesa SBM Offshore.

A SBM informou hoje que colabora “voluntariamente” com o Ministério Público holandês e com o Departamento de Justiça dos EUA no escândalo de suposto suborno no estrangeiro.

E, apesar de sua investigação agora concluída, a empresa alerta que “nova informação pode aparecer no contexto da revisão por essas autoridades”, em referência a outros detalhes denunciados por um ex-funcionário da empresa em Mônaco, na qual ele menciona até percentual do suborno pago a funcionários da Petrobras.

O banco ING estima que a SBM vai acabar sofrendo uma multa de entre US$ 200 milhões e US$ 400 milhões pelos subornos. Hoje, a companhia insiste que ainda não está em posição de prever as últimas consequências “financeiras ou outras” da investigação que continua sendo conduzida pelas autoridades holandesas e americanas.

Aécio Neves critica manobra governista para impedir criação da CPI da Petrobras

Agência Câmara

O senador Aécio Neves criticou, na noite desta terça-feira (1/04), em plenário, manobra da base do governo do PT para tentar inviabilizar no Senado a instalação da CPI da Petrobras. Aécio Neves lamentou que o governo atue para impedir as investigações por meio de manobras, enquanto não apresenta explicações para as graves denúncias trazidas a público.

O requerimento de instalação da CPI da Petrobras já reúne as assinaturas necessárias de senadores e busca investigar as denúncias de um rombo de US$ 1,2 bilhão nas contas da estatal, causado pela compra da refinaria de Pasadena (EUA); os US$ 20 bilhões investidos na construção da refinaria Abreu e Lima, após previsão inicial de US$ 2 bi, em parceria com a Venezuela; denúncias de pagamento de suborno a diretores da empresa para beneficiar a companhia holandesa SBM; e a colocação em alto-mar de plataformas que ofereciam risco aos funcionários da Petrobras.

Abaixo, trechos de fala do senador Aécio Neves:

Oposição
“Não foi a oposição que resolveu, de repente, investigar um governo adversário. As denúncias que levam a esse requerimentos e as assinaturas necessárias surgiram por ações de muitos, inclusive servidores da própria Petrobras, por denúncias na empresa que causam indignidade à sociedade brasileira. O que a oposição faz é cumprir suas prerrogativas. Estamos falando da essência do Parlamento”.

Ameaças
“A imprensa noticia ação de pressão sobre determinados parlamentares que o assinaram. Uma ação terrorista: ‘vamos investigar ações nos estados dos adversários eventuais da presidente da República’. Que fiquem muito à vontade”.

Falta de respostas
“Mas o que mais me chama atenção. Nenhuma palavra, nenhuma voz de nenhuma liderança do governo para dizer ‘não, Pasadena foi um ótimo negócio para a Petrobras e para o Brasil. Não, o orçamento da Abreu e Lima está sendo cumprido integralmente. Não houve qualquer tipo de desvio em relação às empresas holandesas’. Não há nenhuma voz da base do governo para defender as ações da Petrobras ou aquilo que foi lá realizado”.

“Ao contrário. As justificativas, quando chegam aos nossos ouvidos, são absolutamente contraditórias. O ex-presidente da Petrobras, atual secretário de Planejamento do governo do PT da Bahia diz que foi um ótimo negócio, que atendeu às circunstâncias de mercado daquele momento. A presidente do Conselho da Petrobras naquele momento [a presidente Dilma Rousseff] diz que não teria tomado essa decisão que já haviam sido inclusive publicadas em balanços da parceira Astra um ano antes”.

Gleisi Hoffmann
“Eu perguntarei à senadora Gleisi Hoffman se por acaso definíssemos investigar apenas Pasadena, que é o assunto que está nas ruas, nas escolas, nas universidades, sendo discutido por toda a população brasileira, teríamos a assinatura da senadora, já que o argumento aqui trazido é de termos apresentado quatro denúncias? Claro que não.”

BNDES
“Se a base do governo acha que tem denúncias que devam ser apuradas, que apresente seus requerimentos, como me parece já se prepara um sobre a Alstom. Certamente, terão a lisura de incluir em relação a esta empresa os contratos com a Petrobras, a Eletrobras, os contratos feitos com a CBTU para os metrôs de Belo Horizonte, de Porto Alegre, Brasília, dentre outros. Querem investigar o setor elétrico, que o façam, se acham que é um fato determinado para isso. Se querem investigar os portos, que apresentem requerimentos. Vamos incluir os portos brasileiros, os portos cubanos, os financiamentos do BNDES. Será que não seria a grande oportunidade para abrirmos esta caixa-preta dos financiamentos secretos do BNDES para países amigos?”

Fato determinado
“Há um fato determinado. Denúncias de extrema gravidade na Petrobras, seja na aquisição da refinaria de Pasadena com prejuízos de mais de US$ 1,2 bilhão para os brasileiros, seja em relação às refinarias, em especial Abreu e Lima, orçada em US$ 2 bilhões e que já gastou US$ 18 bilhões, seja em relação às denúncias de propinas pagas por empresa holandesa a servidores da Petrobras, ou as plataformas colocadas no mar sem os equipamentos de segurança necessários.”

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Cerveró se oferece para falar sobre Pasadena no Congresso, PF e MPF

Apontado como o responsável pelo relatório que orientou o Conselho de Administração da Petrobrás a optar pela controversa compra da refinaria, ex-diretor quer provar a 'lisura' de seus atos

Eduardo Bresciani - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O ex-diretor internacional da Petrobrás Nestor Cerveró se ofereceu por meio de cartas a prestar esclarecimentos no Congresso Nacional, na Polícia Federal e perante o Ministério Público sobre a compra da refinaria de Pasadena. Cerveró participou da negociação e foi apontado como autor do resumo executivo que balizou a aprovação da transação pelo Conselho de Administração da Petrobrás em 2006. Na negociação, a estatal brasileira mais de US$ 1 bilhão.

A compra, conforme revelou o Estado, teve o voto favorável da presidente Dilma Rousseff, que comandava o Conselho. Ela disse que o resumo tinha "informações incompletas" e era técnica e juridicamente falho. Cerveró foi exonerado da diretoria financeira da BR Distribuidora no dia 21 de março, após a repercussão negativa do caso, que leva agora o Congresso a debater a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para realizar a investigação.

As cartas de Cerveró, cujo conteúdo o Estado teve acesso, datam da última segunda-feira, 31 de março, e são assinadas pelo ex-diretor e por seu advogado, Edson Ribeiro. Elas foram encaminhadas ao presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e ao diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello Coimbra. Os documentos foram protocolados nesta quarta-feira, dia 1º de abril.

As duas correspondências endereçadas ao Congresso tem igual teor: "Venho informar a Vossa Excelência que estou à disposição da Câmara dos Deputados para prestar os esclarecimentos que se fizerem necessários sobre minha participação, à época, como diretor internacional da aludida estatal, bem como sobre toda a tramitação do processo aprovado pelo Conselho de Administração da Petrobrás e, ainda, demais fatos que atestam a lisura do meu procedimento", diz o ex-diretor. O tom é o mesmo nas encaminhadas à PF e ao MP. A estes órgãos, requer a designação de datas para oitivas.

O líder do PSDB na Câmara, Antonio Carlos Imbassahy (BA), disse que recebeu o advogado de Cerveró na tarde desta quarta-feira e ouviu dele a reiteração do desejo do cliente de prestar depoimento. Imbassahy observou que a Comissão de Fiscalização e Controle já fez um convite ao ex-diretor e incumbiu o deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP) de levar cópia da carta para a sessão da comissão para que seja marcado o depoimento. "Ele vem há algum tempo mandando sinais e agora tem a carta. Espero que a comissão marque já para a próxima semana", disse o líder tucano.

A oposição acredita que o ex-diretor poderá levantar dúvidas sobre a versão de Dilma de que não conhecia as cláusulas que levaram ao prejuízo no negócio. A presidente diz que não faziam parte do resumo executivo as cláusulas que garantiam lucro mínimo à empresa belga Astra Oil, sócia na refinaria, e que obrigavam a Petrobras a comprar a parceira em caso de desavença comercial. Dilma afirmou ainda que caso essas informações tivessem sido recebidos o negócio poderia ter outro desfecho no Conselho de Administração. A expectativa dos oposicionistas é de que o ex-diretor se defenda das acusações da presidente sustentando que ela teve acesso a todos os detalhes da compra.

Falta visão estratégica e de longo prazo ao Brasil, diz Campos

De acordo com o governador de Pernambuco e pré-candidato à Presidência pelo PSB, Brasil precisa crescer e inflação e os juros diminuirem, mas está acontecendo o contrário

Ângela Lacerda - O Estado de S. Paulo

RECIFE - O governador e presidenciável Eduardo Campos (PSB) afirmou nesta terça-feira, 1, que o Brasil "paga um preço alto por falta de visão estratégica", ao lançar uma proposta de desenvolvimento para os próximos 20 anos em Pernambuco. "Visão de longo prazo, visão estratégica é fundamental e, se o governo (federal) tem, a sociedade não está percebendo isso".

"A gente viu como foi 2013 e está vendo como vai 2014", avaliou, em entrevista. "A gente precisa que o crescimento vá para cima, que a inflação e os juros vão para baixo, um movimento inverso ao que está acontecendo". Isso, segundo ele, não se faz por decreto nem no voluntarismo, "mas na base do dever de casa de longo, médio e curto prazos". Campos disse ter apostado em planejamento em todos os momentos de seus dois mandatos.

Para ele, "o Brasil foi deixando para depois tudo o que precisava fazer e é preciso ser feito" e, no seu discurso, observou que apostar no planejamento é também incentivar e permitir a participação da população no debate, além de apostar no controle social sobre quem governa. "É mudança cultural e política importantes", afirmou.

Indagado, Campos frisou que o debate das diretrizes programáticas do PSB-Rede está na internet para ser discutido e inclui esta ótica. "Precisamos que as pessoas se animem com esse debate, como se animaram para construir democracia, estabilidade e inclusão social", disse, ao complementar: "Visão de longo prazo é fundamental e precisa desse diálogo, mas precisa de cabeças políticas que acreditem nisso".

Defensor de uma "nova política", avaliou que todas as vezes que o Brasil fez importantes mudanças nas últimas décadas - voltando a citar a redemocratização, a estabilização da moeda e a inclusão social como Bolsa Família - é porque teve coragem de "abandonar o velho jeito para fazer o novo jeito".

Campos anuncia desapropriação para o MST e cita reforma agrária de Arraes

Murillo Camarotto - Valor Econômico

RECIFE - Foi cercado por militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), lembrou, ontem, dos 50 anos do golpe militar no Brasil. A três dias de deixar o governo para concorrer à Presidência da República, Campos anunciou a desapropriação, para a reforma agrária, de uma área de 223 hectares na zona da mata do Estado.

A desapropriação põe fim a uma disputa de quase 18 anos entre o MST e o grupo João Santos, um dos principais conglomerados empresariais de Pernambuco. Ocupado desde 1996, o Engenho Bonito, localizado no município de Condado, foi alvo de desapropriação pelo governo federal, mas os empresários conseguiram garantir na Justiça os direitos sobre a terra.

A solenidade foi realizada na sede do governo, o Palácio do Campo das Princesas, de onde o então governador Miguel Arraes (1916-2005), avô de Campos, saiu direto para a prisão na tarde de 1º de abril de 1964. Os militantes do MST presentearam o atual governador com uma fita, ouvida durante o evento, com o áudio da mensagem gravada por Arraes no dia do golpe.

"Um dos compromissos que mais afastavam o Dr. Arraes das elites era ser aliado da luta pela reforma agrária. Vocês avaliem o tabu que era, 50 anos atrás, alegar que a estrutura fundiária tinha a ver com a pobreza no campo e na cidade", disse o governador, antes de lembrar de um acordo entre usineiros e trabalhadores rurais promovido em 1963 por Arraes, que ficou conhecido como "o acordo do campo".

Foi aí que o governador começou a alfinetar a presidente Dilma Rousseff, sua adversária nas eleições de outubro. Segundo ele, o entendimento promovido por Arraes só foi possível por conta da capacidade de diálogo do seu avô. "Diálogo é o que mais importa para quem governa", disse Campos, que critica com frequência a pouca disposição para o diálogo da presidente.

Diante da plateia de lavradores, Campos lembrou ainda da chegada ao poder do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e criticou a redução no ritmo da reforma agrária sob Dilma.

Atento à solenidade, o lavrador Severino Ramos de Almeida elogiou com entusiasmo a conclusão do imbróglio envolvendo o Engenho Bonito. Ele ficou surpreso, no entanto, ao ser informado de que Campos, Lula e Dilma já não estão mais do mesmo lado na política. Questionado, então, sobre qual lado escolheria, Severino pediu um tempo pra pensar.

Forças Armadas anunciam que vão investigar crimes na ditadura

Autoridades atendem apelo da Comissão Nacional da Verdade e abrirão sindicância para apurar mortes e torturas em dependências militares entre 1964 e 1985; arquivos dos centros de inteligência, contudo, não serão abertos

Leonencio Nossa - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O ministro da Defesa, Celso Amorim, comunicou nesta terça-feira, 1º de abril, à Comissão Nacional da Verdade que as Forças Armadas aceitaram abrir sindicância para apurar mortes e torturas em dependências militares no tempo da ditadura (1964-1985). Não foi desta vez, porém, que Amorim respondeu ao apelo do grupo para abrir os arquivos dos centros de inteligência relativos às violações de direitos humanos no período do regime miliar.

Desde que foi criada em maio de 2012, a comissão tenta ter acesso aos documentos oficiais sobre os mortos pela ditadura, especialmente os fuzilados nas prisões do regime. No último dia 18 de fevereiro, a comissão decidiu mudar a estratégia e repartir com as Forças Armadas a responsabilidade por uma investigação fragilizada pela falta de documentos. O grupo, então, enviou pedido ao ministro Celso Amorim para que o Exército, a Marinha e a Aeronáutica abrissem por conta própria sindicâncias para apurar o que ocorreu em suas unidades.

As sindicâncias e investigações internas abertas nos anos 1980 e 1990 pelas Forças Armadas para investigar crimes da ditadura resultaram em relatórios incompletos, que não apontavam autoria das mortes e torturas nem as condições em que guerrilheiros foram executados. Em 1993, a Marinha chegou a apresentar um relatório com dados sobre mortos na guerrilha do Araguaia, no começo dos anos 1970, no Sul do Pará.

As sindicâncias abertas agora pelas Forças Armadas se limitam aos crimes ocorridos em sete dependências militares no Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco e Minas Gerais. Ficam de fora dessas investigações unidades já desativadas da região do Araguaia, no Pará, que serviram de prisão ou local de execução de 41 guerrilheiros comunistas. A guerrilha no Araguaia foi o movimento armado mais estruturado do período da ditadura. A investigação sobre as execuções dos seus integrantes pelo Exército não é uma prioridade da Comissão Nacional da Verdade.

Serra culpa 'direita' por violência na ditadura militar

Militante durante o regime militar, ex-governador afirma que golpe 'fechou caminhos da democracia'

Ricardo Chapola – O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - O ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB) disse nesta terça-feira, 1, que a violência durante o governo militar teve início com o golpe que depôs o presidente João Goulart, em 31 de março de 1964. "Quem praticava violência no Brasil (durante a ditadura) era a direita", afirmou à Comissão Municipal da Verdade de São Paulo, durante evento que lembrou os 50 anos do golpe.

Em seu discurso, o ex-governador culpou as "forças golpistas" por terem tornado o Brasil um país violento. "A violência no Brasil começou por causa do golpe. Quem praticou a violência, quem fechou os caminhos da democracia e gerou a violência posterior foram as forças golpistas", disse ele.

Militante político na época, Serra ocupava a presidência da União Nacional dos Estudantes (UNE) e integrava o movimento Ação Popular (AP). Dias antes do golpe, ele esteve comício da Central, ato realizado no Rio em que João Goulart anunciou as reformas que pretendia implementar no País.

Serra foi convidado pelo colegiado para contar sua experiência de ativista estudantil no período da ditadura. A sessão ocorre num auditório da Câmara Municipal e é acompanhada por estudantes de um colégio particular da Vila Leopoldina, zona oeste da capital.

Para Serra, melhores quadros foram mortos pela ditadura ou se afastaram da vida pública

Ex-presidente da UNE, político diz que violência no período teve início com ação de grupos de direita, e não de esquerda

Thiago Herdy - O Globo

SÃO PAULO - O ex-governador de São Paulo e ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), José Serra, disse nessa terça-feira considerar que um dos custos altos da ditadura brasileira foi a morte e o afastamento dos “melhores quadros” da política brasileira, em função do golpe de 1964.

- O fechamento da política brasileira acabou trazendo um prejuízo enorme. Os seus melhores quadros ou foram presos, ou perseguidos, torturados, mortos; ou simplesmente se afastaram da política, deixaram a política. Isso foi um custo muito alto do período da ditadura - disse Serra, durante sessão da Comissão Municipal da Verdade de São Paulo que lembrou os 50 anos do golpe.

Para Serra, o uso da violência em meio ao embate entre correntes políticas no país não teria partido de grupos de esquerda, como apregoavam os defensores do regime, mas dos setores de direita e “forças golpistas”.

- A violência no Brasil começou por causa do golpe. Quem praticou a violência, quem fechou os caminhos da democracia e gerou a violência posterior foram as forças golpistas - disse.
De acordo com o político, antes de 1964 não havia por parte da população qualquer tipo de “preparo para a luta armada, ou para a organização de atentados”:

- Eu era presidente da UNE. É óbvio que, se houvesse esse preparo, eu tomaria conhecimento - afirmou o político, que na época do golpe tinha 22 anos e passou 14 anos no exílio.

Antes da sessão, o presidente da Comissão, o vereador Gilberto Natalini (PV-SP), solicitou que fossem executados trechos de entrevista de Serra à Rádio Nacional na véspera do golpe. Na época, Serra defendeu o “respeito às liberdade democráticas estudantis e sindicais em todo país” e atacou os governadores de Minas e São Paulo, por apoiarem os atos contra o presidente João Goulart.

José Álvaro Moisés: Um pequeno testemunho sobre o Golpe de 1964

Em artigo para o Estado, o cientista político e professor da USP analisa o fato histórico a partir de experiências pessoais que lhe marcaram a vida nos últimos 50 anos

O Estado de S. Paulo

50 anos atrás, no dia de ontem, um golpe de Estado derrubou um presidente eleito que, malgrado sinais ambíguos sobre os seus reais objetivos políticos estratégicos, era o mandatário legítimo e constitucional do país. O que aconteceu depois, nos 21 anos seguintes, marcou profundamente a sociedade brasileira com a supressão da liberdade, a eliminação da competição política legítima e a instalação do terror do Estado.

A tortura e a morte de inúmeros brasileiros até hoje traumatizam a sociedade e, mais grave, é algo sobre o qual a nação ainda não tem pleno conhecimento. A memória, como se sabe, é um dos principais recursos com que conta uma sociedade para se rever criticamente e para superar os seus impasses ou os seus erros, e quando ela é negada isso deixa um vazio que afeta o processo de autoconsciência crítica que queremos ter de nós mesmos, e dos esforços para aperfeiçoar a nossa própria civilização. A ideia de revanchismo, nesse contexto, é uma ideia fora do lugar, mas o país precisa conhecer plenamente a verdade de sua história recente, e dos fatos que tanto impacto tiveram no nosso presente e ainda terão no futuro. Esse ajuste de contas com o passado não é irrelevante e, por isso, têm enorme importância o trabalho que estão fazendo por todo o país as Comissões da Verdade.

Aos 50 anos do golpe, dou um pequeno testemunho sobre duas experiências que me marcaram pelo resto da vida e que, de certo modo, ajudaram a definir os meus próprios horizontes profissionais futuros. Em 30 de março de 1964, véspera do golpe, como militante da Ação Popular que eu era - um partido político que nascera anos antes ligado às transformações do mundo católico sob influência de João XXIII no sentido de comprometer os cristãos com os desafios e as contradições do mundo em que viviam - eu vivi uma experiência sui generis: como a sede da União Paulista dos Estudantes Secundaristas - UPES, da qual eu era presidente desde 1963, tinha sido invadida pelo DOPS, assim como a sede da União Estadual dos Estudantes - UEE, e de alguns sindicatos em que militavam outros membros da AP -, o que na ocasião era designado como o Comando Estadual do partido - do qual eu fazia parte - foi obrigado a se reunir em uma Kombi da UEE com o objetivo de avaliar a situação política. O golpe estava prenunciado e nós queríamos entender o que realmente acontecia para saber se podíamos fazer algo.

Os militantes do Comando da AP, reunidos dentro daquele veículo, percorreram várias regiões da cidade para ter ideia sobre se havia alguma resistência da população - pessoas comuns ou grupos organizados - ao que se pressentia que iria acontecer. E, não sem um amargo sentimento de decepção, vimos que afora as nossas próprias apreensões, e os sinais de movimentação militar do que iria ocorrer no dia 31 de março, a vida seguia normal para a maioria dos paulistanos. Não havia nenhum sinal de mobilização popular ou de protesto contra o que se prenunciava desde o comício de 13 de março no Rio, na Cinelândia, e o apoio do presidente Goulart à revolta dos sargentos. A AP não era nessa ocasião um partido de massas que pudesse, por exemplo, convocar uma grande mobilização ou algo parecido, nem percebíamos que as outras forças de esquerda, como o PCB, o pudessem fazer para confrontar o que vinha pela frente; e o governo e os seus apoiadores estavam claramente aparvalhados.

O que vimos, no dia seguinte, no entanto, quando já começávamos a nos dispersar para escapar das perseguições da polícia - e, no caso do movimento estudantil, dos membros do Comando de Caça aos Comunistas - foi a inesperada e surpreendente mobilização de cerca de ½ milhão de pessoas que, ao contrário de tudo o que queríamos, se manifestaram em apoio ao golpe que já tinha sido dado. Embora a maioria da população permanecesse em silencio, aquela manifestação de classe média - e talvez também de alguns setores populares - dava alguma legitimidade popular ao golpe, e os golpistas souberam se aproveitar bem daquilo.

Ficou evidente, àquela altura, que a situação política do país mudara drasticamente. A democracia não estava mais ameaçada, como vinha se prenunciando há meses, ela estava de fato derrocada, embora não fossem claras as perspectivas do que iria ocorrer nos meses e nos anos seguintes. Ainda que de forma incompleta ou limitada, a minha primeira reação, além do medo provocado pela perseguição da polícia e a necessidade de fugir de São Paulo - fui acolhido por alguns dias em São Sebastião por um casal de simpatizantes da AP que não me conheciam, nem eu a eles, e que me ensinaram o valor da solidariedade em situações-limite - foi perceber que os temas e as preocupações caras a nós, militantes políticos e os dirigentes dos movimentos organizados, estavam longe de afetar os sentimentos e o comportamento usual da maioria da população. A democracia e a possibilidade de serem adotadas e implementadas as reformas de base de que falava o presidente João Goulart, embora apoiadas por alguns setores sociais, não mobilizavam as pessoas ao ponto de levá-las a enfrentar os que se moveram contra o governo e contra as liberdades democráticas. Talvez as pessoas tivessem medo, mas certamente não tinham estruturas de oportunidade para participar, se quisessem.

A minha conclusão, talvez algo apressada nas condições da época, foi que, de um lado, nós da esquerda talvez não conhecêssemos devidamente a sociedade que queríamos transformar; e, de outro, que em alguma medida a população não percebia nem o governo, nem a própria democracia como algo realmente ao seu serviço ou operando em seu favor. Não penso que identificasse sinais de oposição da população à democracia, mas, mais importante do que isso, tampouco identificava sinais de um apoio franco e aberto ao regime democrático. Essa percepção, em grande parte apoiada na impressão de divórcio entre o que queríamos fazer, como militantes de esquerda, e o que parecia que eram as preocupações das pessoas comuns - continuar tocando as suas vidas normalmente - me alertou para a necessidade de conhecer melhor a sociedade brasileira, e para o que mais tarde, depois de já ter me formado no curso de Ciências Sociais da USP, eu identifiquei como o domínio da cultura política. Percebi, anos depois, que a democracia pode funcionar sem uma cultura política democrática enraizada, mas ela funciona mal nessas condições e, em alguns casos, sem essa cultura os riscos que a ameaçam podem ser maiores porque ela fica desprovida de seus defensores. Isso ajudou a definir, de algum modo, aos temas de análise política a que venho me dedicando há anos desde que me formei na USP.

Uma segunda experiência naqueles anos foi ainda mais marcante. Em 1966 eu entrei no curso de Ciências Sociais da USP e, ainda como membro da AP, coordenava colegas e trabalhava na organização do Congresso da UNE que deveria ocorrer, contra a proibição do governo militar, em Belo Horizonte, possivelmente, em um convento religioso. A polícia política continuava ativa e acompanhava a movimentação que ocorria, por exemplo, em São Paulo no Ponto de Encontro - um bar e livraria que tinha sido aberto por João Carlos Meirelles na Galeria Metrópole, bem no centro da cidade, para reunir artistas, intelectuais e militantes de esquerda. Fui preso, sob a acusação de organizar o congresso de uma organização ilegal, na saída da galeria.

Ao mesmo tempo, outros três colegas meus do curso de Ciências Sociais, também militantes da AP, mas que não estavam ligados à organização do Congresso da UNE, foram presos fora de São Paulo aonde realizavam uma pesquisa de campo. Fomos todos colocados em uma cela do DOPS, onde hoje funciona um Museu da Memória, e ameaçados de tortura - que, todavia, não ocorreu. Eu já trabalhava na Folha de São Paulo, sob a direção de Claudio Abramo, e o jornal deu uma pequena notícia sobre a minha prisão, e isso ajudou o que veio em seguida. Como os nossos pais tinham se mobilizado para contatar um advogado do PCB que defendia presos políticos, houve uma primeira tentativa de nos libertar com um habeas corpus.

A polícia, como quase sempre fazia nessas circunstâncias, nos moveu de São Paulo para um quartel da Marinha, em Santos, para evitar que o oficial de Justiça que levaria o documento do habeas corpus confirmasse a nossa presença na prisão. Ainda ficamos presos por mais uma semana, em Santos, quando tentamos fazer uma greve de fome, mas logo em seguida fomos libertados por uma nova tentativa do advogado Aldo Lins e Silva, contratado para nos defender. Ou seja, em 1966, pouco antes da edição do Ato Institucional nro. 5, que cancelou todas as liberdades democráticas e os instrumentos jurídicos de defesa existentes no país, fomos libertados e salvos do risco de tortura por um instrumento que parte da esquerda brasileira considerava uma "formalidade burguesa", ou seja, o habeas corpus. A experiência, contudo, me chamou a atenção para algo do que estava em jogo quando cessavam as liberdades democráticas; naquela ocasião, eu sobrevivi e não fui torturado.

Mas eu penso que só compreendi realmente o significado das leis e dos instrumentos jurídicos da democracia com o que aconteceu em 1971 com o meu colega Luiz Eduardo Merlino que, se não me engano, estudava filosofia na USP. Merlino era jornalista e dirigia o jornal de esquerda Amanhã dirigido a estudantes, e me convidou para colabora com o mesmo; ficamos próximos por causa dessa experiência. Merlino foi acusado de pertencer a um grupo clandestino que lutava contra a ditadura e foi preso em julho de 1971, em Santos, tendo sido torturado e morto. Para a sua família, as autoridades do DOPS informaram que ele tinha se atirado debaixo das rodas de um caminhão, e demorou anos para que parte da verdade viesse à tona, seu corpo fosse encontrado, e ele sepultado pela família. Depois daqueles dias tumultuados de julho de 1971 - quando era presidente o general Emílio Garrastazu Médici, responsável por um dos governos mais repressivos do período militar - nunca mais vi Morlino, mas a convicção que ficou marcada na minha memória foi a de que, diferente do que tinha acontecido comigo em 1966, ele tinha sido morto em 1971 porque, entre outras coisas, faltava a existência de garantias jurídicas e legais como o habeas corpus.

Até hoje ainda está presente nos debates políticos e intelectuais sobre a democracia a controvérsia em torno da distinção entre democracia formal e democracia substantiva. Os críticos da tradição liberal acreditam que a existência das liberdades individuais - que devem assegurar a liberdade de expressão, de organização e de participação - é insuficiente para garantir que o regime democrático enfrente as grandes desigualdades sociais e econômicas que marcam as sociedades complexas e divididas socialmente pela economia de mercado. O tema é importante para qualificar o debate sobre o fato de que a democracia, além dos seus procedimentos assegurados pelo império da lei, também é um regime que objetiva responder às expectativas dos cidadãos que, através do seu voto a governantes e a partidos, legitimam o funcionamento da mesma.

Mas o que as minhas experiências da juventude me fizeram compreender é que a democracia não existe sem as garantias que só o Estado de Direito Democrático dá às pessoas para que tenham a garantia da vida, da participação e da busca do que consideram melhor para as suas vidas. Eu sobrevivi à minha prisão por causa do habeas corpus, mas Luiz Eduardo Merlino, quando vigorava o AI-5, não teve a mesma sorte. Há uma relação indissolúvel entre liberdades formais e os conteúdos da democracia e, por exemplo, a igualdade social e econômica só é viável quando estão bem estabelecidos os direitos civis e políticos que asseguram que as pessoas podem agir livremente em defesa de seus interesses.

1 de abril de 2014.

José Álvaro Moisés - Professor titular do Departamento de Ciência Política/USP

Elio Gaspari: André Vargas e o PT 2.0

O comissário voou num jatinho de doleiro para um descanso porque, como se sabe, as passagens estão caras

Quem não se lembra do deputado André Vargas (PT-PR)? Quando o ex-governador gaúcho Olívio Dutra sugeriu que o deputado José Genoino renunciasse ao mandato, o companheiro foi-lhe à jugular: “Quando ele passou pelos problemas da CPI do Jogo do Bicho, teve a compreensão de todo mundo. (...) Ele está sendo pouco compreensivo. Ele já passou por muitos problemas, né?”

Falso. Olívio Dutra nunca assinou empréstimos fraudulentos, nunca foi acusado de envolvimento no caso do bicho e jamais foi condenado pela Justiça. Ao contrário, é uma das poucas lembranças da moralidade petista.

Quem não se lembra desse episódio talvez se recorde da cena em que o comissário Vargas, vice-presidente da Câmara, saudou seus companheiros com o punho cerrado, estando ao lado do presidente do Supremo Tribunal Federal. Parecia um Pantera Negra dos anos 60.
Vargas é um representante do PT 2.0. A repórter Andréia Sadi apanhou-o voando para as férias nas asas do doleiro Alberto Youssef, figurinha fácil de inquéritos policiais e poderoso intermediário na Petrobras.

Desde que os jatinhos tornaram-se símbolo de poder e conforto, hierarcas de todos os partidos recorrem a amigos para não voar com a patuleia.

Vargas, contudo, inovou na justificativa. Disse que cometeu uma “imprudência”. Teria sido imprudência se tivesse entrado por engano no avião fretado pelo doleiro, depois de ter sido chamado para embarcar num voo comercial. Não foi imprudência, mas onipotência.

Novo argumento: pediu o jatinho a Youssef porque os voos comerciais estão muito caros. Certo. A escumalha que vai para a rodoviária por esse mesmo motivo merece o desconforto porque não tem doleiro amigo.

O melhor momento do companheiro deu-se quando revelou que conhece Youssef há mais de 20 anos, mas não sabia com quem estava se relacionando. Seria então a única pessoa que não sabe a atividade de um amigo com quem se relaciona há mais de 20 anos. Youssef fornece jatinhos para amigos poderosos desde 2001. Anos depois, frequentou o noticiário do escândalo do Banestado, passou pela cadeia, refrescou-se colaborando com o Ministério Público, mas não se livrou de uma condenação.

Numa troca de mensagens com Youssef (cuja atividade comercial Vargas desconhecia), o companheiro tratou de um interesse da empresa Labogen junto ao comissário Carlos Gadelha, do Ministério da Saúde. Por coincidência, essa pequena empresa teria sido usada pelo doleiro para remeter US$ 37 milhões ao exterior.

O amigo de André Vargas não é um doleiro petista, mas um operador suprapartidário. Já cedeu jatinhos para gente do PFL e tem relações no PP, pelo menos com o ex-deputado José Janene, um dos ases do mensalão. A presença de Youssef em negócios da Petrobras, cobrando pedágios a fornecedores, é um sinal de que mudou de patamar. Ele tratava com o diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, a quem presenteou com uma Range Rover. Há um enorme cheiro de outro velho escândalo no ar. Quando por nada, pelas coincidências. Em 2005 descobriu-se que outro fornecedor da Petrobras presenteara Silvio Pereira, secretário-geral do PT, com uma Land Rover. André Vargas nunca diria uma palavra contra Silvinho, pois sabe quão compreensivo ele foi.

Dora Kramer: De pedras e cobras

O Estado de S. Paulo

O governo vai de novo enfiando os pés pelas mãos na tentativa de administrar politicamente um problema. No caso, a CPI da Petrobrás.

Na semana passada, deu de graça para a oposição a vitória no primeiro lance. Sem número suficiente para conseguir as assinaturas necessárias, a minoria chegou lá nas asas do descompasso da articulação política do Palácio do Planalto, que ainda não percebeu que os tempos são outros.

O governo quis aplicar agora o mesmo truque que esvaziou a CPI sobre os negócios de Carlos Cachoeira, em 2012: ampliar as investigações de modo a não se investigar nada.

A ideia seria incluir na pauta da comissão da Petrobrás os casos do cartel dos trens do Metrô de São Paulo e irregularidades no Porto de Suape, em Pernambuco.

Manobra primária. Só dá certo quando o adversário está de boa vontade e o exército aliado, unido e fiel. Não é o que acontece. O governo não levou em consideração a evidência de que nos últimos dois anos o cenário mudou. Nada mais é como antes.

A começar pelo fato de que existem dois candidatos de oposição à Presidência da República; ambos são políticos experientes, todos os dois com controle de votos dentro do Congresso. Governador duas vezes, presidente da Câmara uma vez, deputado federal quatro vezes, Aécio Neves é senador e presidente do PSDB. Governador duas vezes, deputado federal três vezes, Eduardo Campos é presidente do PSB. Os dois aprenderam a fazer política com os avôs, Tancredo Neves e Miguel Arraes.

Atuam em consonância na medida e no limite dos respectivos interesses, com um ponto de convergência: atrapalhar a vida da presidente Dilma Rousseff, do ex-presidente Lula e de quem mais represente o projeto de poder do PT.

Com esse objetivo em mente e a possibilidade de uma CPI como a da Petrobrás nas mãos para servir como instrumento de agitação eleitoral (sim, é disso que se trata, não obstante haja hordas de esqueletos a serem tirados dos armários) Aécio e Campos não se intimidariam diante de tão tosca ameaça de chantagem.

Os governistas querem investigar o Metrô de São Paulo e o Porto de Pernambuco? Expliquem porque estavam quietos até agora diante desses episódios e organizem comissões de inquérito específicas. Com outras palavras, foi o que os dois responderam. Inclusive porque era a única reação possível. E previsível.

Como se já não bastasse a entrada em cena de uma oposição interessada e empenhada em roubar a cena, o governo encontra outros obstáculos para desmanchar no ar comissões de inquérito.

Em 2012 não havia, mas agora há o acentuado desapego - para dizer de maneira suave - dos parlamentares governistas pelo dever de compromisso em relação à presidente da República. O desagrado com ela é pessoal. Com o PT a questão é política. Juntas, as duas motivações não formam um ambiente amigável.

Além disso, há a eleição. Vale para a oposição e para a situação. Nenhum senador que seja candidato a governador, por exemplo, vai optar por fazer a vontade do Planalto se ficar a favor da CPI lhe rende pontos com o eleitorado. A mesma conta devem fazer aqueles deputados que há meses reclamam do favorecimento do Planalto em relação aos colegas petistas em suas bases.

Portanto, não é preciso desenhar, está suficientemente explicada a diferença do pano de fundo entre a CPI da Petrobrás e aquele arremedo de investigação de dois anos atrás.

Isso não quer dizer que o governo não consiga seu objetivo. Significa que será mais difícil, custará mais caro e mostrará a uma governante refratária ao diálogo político que, uma vez aceitas as regras do jogo, é preciso jogar.

Quando foi buscar apoio dos partidos para se eleger, Dilma Rousseff sabia dos termos do contrato. Nunca propôs uma revisão às claras, embora tivesse força no início para isso. Agora enfrenta dois adversários que conhecem mais que ela os meandros dos caminhos e a fazem pular miudinho entre as pedras sob as quais se escondem as cobras.

Rosângela Bittar: A última chance

Lula protela o desfecho e desafia o imponderável

Valor Econômico

O governo mal avaliado na totalidade dos seus programas, sem capacidade para administrar relações com o Congresso, vivendo uma sucessão de atitudes reativas desastradas, frustrado na sua comunicação com a sociedade a quem pensa estar agradando e perplexo quando vê que não está, começou, ontem, a rodar a roleta de sua última chance. Ela está nas mãos da dupla de ministros Aloizio Mercadante, da Casa Civil, e Ricardo Berzoini, das Relações Institucionais. Mercadante, hoje o principal político na coordenação administrativa do governo e na ponte com o comitê da reeleição da presidente Dilma Rousseff; Berzoini, o ontem empossado ministro da Secretaria de Relações Institucionais, com a missão de estabelecer alguma relação entre Dilma e a base aliada de 18 partidos políticos que sustentam o governo. Têm o desafio de começar tudo do zero - governo e campanha - e fazer tudo dar certo.

A última vez em que estiveram próximos, Mercadante como candidato ao governo de São Paulo, Berzoini como presidente do PT e coordenador das ações eleitorais do partido, foi para viver as consequências de uma trapalhada, da qual Mercadante seria o beneficiário, provocadas pela montagem de falso dossiê para atingir seu adversário naquele pleito. Uma atuação em campanha estadual liderada por grupo muito próximo do ex-presidente Lula e de sua mulher, fechou o círculo dessa ciranda que, faltando-lhe palavras para dar o nome certo aos bois, o ex-presidente denominou-os carinhosamente de "aloprados".

Agora, com a nova parceria de poder no Planalto, inicia-se uma etapa a que o PT atribui ser a última com esta configuração. Seria a oportunidade derradeira para que a presidente retome política e administrativamente seu governo, criando substância a apresentar ao eleitorado a quem pede votos para sua reeleição. E se nada acontecer? Bem, acreditam políticos do partido, que embora já seja tarde, Lula será impelido a assumir a liderança dos destinos do PT.

O novo desenho é uma intervenção de Lula e do PT no governo para tentar mudar as coisas antes do desenlace. O ex-presidente não se furta a ouvir o conselho de fazer logo o que tem que fazer, recebe com paciência os alertas de que pode perder o momento certo, até porque sabe que é grande o risco de não mais conseguir tomar pé da situação. Mas já não resiste à pressão, critica o governo embora acredite que, com o adiamento da decisão, está fazendo um gesto em deferência e na esperança de que branca nuvem faça um raio. Seja no plano do governo, seja no plano da política.

Ou funciona a política, ou funciona o governo. E o governo e a política conduzidos por Dilma estão três linhas abaixo da crítica, até mesmo para o PT.

Os desastres envolvem não só o desmoronamento dos pilares presidenciais, da faxineira ética e da competente gestora, como, sobretudo, as reações sempre equivocadas às dificuldades que se apresentam no seu caminho. Por exemplo, diz-se que pior do que o rebaixamento do grau de investimento do Brasil, foram as explicações do governo e as críticas à competência da agência de rating, a mesma que havia elevado o nível no governo Lula. Depois, jactou-se o governo de ter o Brasil recebido investimento recorde apesar do rebaixamento, numa ignorância técnica que só piorou a má avaliação da equipe.

A crise da Petrobras foi criada pela presidente, que reagiu mal à descoberta de que aprovara o mau negócio da compra da refinaria de Pasadena levando a controvérsia e as denúncias para dentro do Palácio do Planalto. A reação à CPI da Petrobras também foi outro tumulto, com a distribuição de missões atabalhoadas, confusas e conflitantes aos líderes. Não se está considerando nem a explosão de temperamento da presidente, segundo relato feito ao seu partido, mas as ordens dali emanadas, tais como, para envolver o adversário Eduardo Campos, não se importar de levantar a lebre das negociações do próprio Lula com governos estrangeiros, entre eles o da Venezuela.

O governo tumultuou o ambiente e perdeu tempo para convencer aliados a retirar assinatura do requerimento de CPI, o que, afinal, era seu objetivo. O preço do controle da situação só aumenta, e a margem para evitar pedido de providências ao judiciário fica a cada dia mais estreita.

Com Mercadante e Berzoini será diferente? Há quem diga que Berzoini chegou atrasado. Há um ano o partido tentava emplacá-lo, mas não conseguiu, exatamente por causa dos problemas pregressos. Agora, os parlamentares já estão cuidando de sua própria campanha da reeleição, precisam das verbas de emendas, ajudas e parcerias, têm a investigação da Petrobras no seu cacife e vários projetos de interesse do governo a manipular. Berzoini ainda tem o que fazer.

O governo não tinha problema no Senado, agora tem; não tinha uma crise na economia, agora tem; e o PT teve sua candidata à reeleição atingida no que seria a sua vantagem construída com esmero, a mais completa funcionária na área de energia e petróleo, a eficiente gestora.

Não se pode dizer, neste momento, que a presidente caminha para sair da crise, mas pelo menos aceitou armar-se para viver sua última chance. Dilma tem 43% de intenção de voto (nas pesquisas da semana passada), quando precisaria ter muito mais para ir queimando ao longo da campanha. A oposição tem, nas análises prospectivas, 35% do eleitorado, sempre. Há outros candidatos, alguns até com chances de ter 5%, como o do evangélico PSC.

O sonho de vitória no primeiro turno já se esfumou. O que algumas avaliações feitas para o governo indicam é que, hoje, Dilma tem 40% de chance de reeleger, contra 60% de perder a eleição.

O nervosismo e a aflição é para que haja tempo de, seduzindo o partido e os mais próximos, a presidente tenha condições de seduzir as ruas. Com muita simpatia.

O que teme o PT? É simples: a perda do poder.

Para acalmar aliados, Lula já aventou a possibilidade real da perda da disputa e o que faria nesse caso. Diz que partiria para quatro anos de campanha permanente e voltaria na eleição de 2018. O PT já lhe mostrou que precisa agir agora, pois quatro anos são muito tempo para o imponderável.

Luiz Carlos Azedo: A Operação Brother Sam

O plano da Casa Branca previa o apoio militar a um governo provisório e o desembarque de tropas se houvesse intervenção cubana ou soviética em apoio a João Goulart. Foi aprovado pelo presidente Kennedy

Correio Braziliense

Um dos temas mais controversos sobre 1964 é a ameaça de um desembarque de tropas norte-americanas no Brasil, caso o presidente João Goulart decidisse resistir ao golpe de Estado que o derrubou. Como se sabe, o golpe foi deflagrado pelo general Mourão Filho, que deslocou tropas de Juiz de Fora (MG) para o Rio de Janeiro, em 31 de março, ação que surpreendeu os próprios conspiradores, com exceção do governador de Minas, Magalhães Pinto, que estava em linha direta com o embaixador norte-americano Lincoln Gordon. A divulgação dos documentos relativos aos governos Kennedy e Johnson pela Casa Branca, ao longo dos anos, reforçou a tese de que a causa principal do golpe foi a Guerra Fria e não, necessariamente, fatores políticos internos, como a crise econômica, a quebra de hierarquia nas Forças Armadas e as eleições presidenciais marcadas para 1965.

O que foi a Guerra Fria? Uma corrida armamentista protagonizada pelos Estados Unidos e pela União Soviética. Os soviéticos acreditavam que o equilíbrio estratégico-militar permitiria o avanço dos comunistas e seus aliados nos países da América Latina, da África e da Ásia, que se libertavam do colonialismo. Os Estados Unidos apostavam em intervenções militares para deter esse avanço, mas dependiam de apoio interno para serem bem-sucedidos. A tentativa de instalação de mísseis soviéticos em Cuba, em 1962, a pedido de Fidel Castro, após a fracassada invasão da Baía dos Porcos por exilados cubanos, deixara o mundo à beira de um conflito nuclear.

Milhões de dólares
A Operação Brother Sam foi concebida nesse contexto, a partir de uma reunião entre o presidente John Kennedy e o embaixador norte-americano no Brasil, Lincoln Gordon, da qual também participou o secretário assistente de Estado Richard Goodwin. Gordon defendeu a tese de que os Estados Unidos deveriam deixar claro para a oposição a Jango que não eram contra um golpe militar. Deu-se, a seguir, o seguinte diálogo:

Gordon — Ele (Goulart) está entregando o maldito país aos…

Kennedy — Aos comunistas.

Goodwin — (…) Nós podemos muito bem querer que eles (a oposição) assumam o poder até o fim do ano, se puderem.

Conta o historiador Carlos Fico, no pequeno grande livro O Golpe de 1964 (FGV Editora) que Kennedy autorizou a remessa de US$ 5 milhões para financiar a campanha da oposição a Goulart em 1962. Não foi suficiente para desestabilizar o governo. Depois, cancelou uma viagem ao Brasil e despachou em seu lugar Robert Kennedy, secretário de Justiça, em outubro de 1962, para pressionar Jango a demitir assessores e controlar os gastos públicos.

Não foi preciso
Jango, que havia assumido o poder depois de um acordo com as forças políticas que elegeram Jânio Quadros e tentaram impedir sua posse, após a renúncia do presidente da República. Depois do triunfo eleitoral de 1962, convocou um plebiscito para restabelecer o presidencialismo. Sua vitória foi esmagadora, mas deixou-o em minoria no Congresso. Diante disso, Kennedy determinou a elaboração de um “plano de contingência” para a eventualidade de Jango instalar uma “república sindicalista” e perder o controle do país para os comunistas, como sugeria o embaixador Lincoln Gordon, que estava em contato com os conspiradores brasileiros.

O plano da Casa Branca previa o apoio militar a um governo provisório e o desembarque de tropas se houvesse intervenção cubana ou soviética em apoio a João Goulart. Foi aprovado pelo presidente Kennedy antes de ser assassinado, em 1963. Mas serviu de base para o presidente Lindon Johnson mobilizar um porta-aviões, um porta-helicópteros, seis contratorpedeiros e quatro petroleiros para eventual apoio ao governador de Minas, Magalhães Pinto, e ao general Mourão Filho, em 31 de março de 1964. Como João Goulart não reagiu ao golpe, a operação foi abortada pelo general Castello Branco, que disse a Gordon que o apoio militar norte-americano era dispensável.

Merval Pereira: Arma (nada) secreta

O Globo

Meu comentário para o Globo a Mais de ontem foi sobre a estratégia do candidato tucano para enfrentar a ameaça da candidatura Lula, tida pelo senso comum como imbatível. Comentei que ao tratar abertamente da possibilidade de o ex-presidente Lula vir a disputar a presidência da República já este ano, em lugar de Dilma, o senador Aécio Neves atacou dois problemas de uma vez só: ao mesmo tempo em que enfraquece sua provável adversária direta, que continua sendo a candidata natural do PT mesmo com as dificuldades de seu governo, trata de esconjurar o fantasma da candidatura Lula, vista pelos petistas como a bomba atômica que o PT tem para acabar com a guerra em caso de necessidade.

Dizer que não importa se o candidato será Lula ou Dilma, e sim derrotar o modelo de governo que representam, significa que a candidatura do PSDB terá seu foco em um projeto de governo, e não na mera disputa política que confronta petistas e tucanos desde 1994.

Deste modo, derrotar o mito em que Lula se transformou na eleição presidencial seria uma conseqüência do convencimento do eleitorado de que o tempo do PT já se esgotou. O presidente do PSDB vem aumentando o tom de suas críticas ao governo nos últimos meses, e tem trabalhado nos bastidores do Congresso para causar danos ao Palácio do Planalto nesta reta final pré-campanha.

A CPI da Petrobrás foi uma vitória sua, desde a mobilização da pequena oposição parlamentar até o convencimento de aliados governistas a aderirem à convocação. A atuação conjunta com o PSB, inicialmente refratário à idéia da CPI, mostra que tanto Aécio quanto Eduardo Campos estão convencidos de que dependem um do outro para chegarem à vitória, mesmo que um imagine que derrotará o outro no primeiro turno.

O governador Eduardo Campos já desenvolveu a tese de que o eleitor fará um “voto útil” nele, pois intuirá que tem mais chance de vencer o segundo turno que Aécio. Por um raciocínio que à primeira vista parece lógico, ele diz que os eleitores de Aécio o apoiarão em massa num hipotético segundo turno, enquanto seu eleitorado pode se dividir, muitos voltando para a candidatura governista.

As pesquisas de opinião, no entanto, estão mostrando um quadro diferente, com o candidato do PSDB recebendo mais apoio dos eleitores de Dilma do que Eduardo Campos, o que mostra que o eleitor não trabalha com uma lógica binária oposição versus situação. O movimento do eleitorado é muito mais aleatório do que se imagina, e mesmo o apoio ostensivo num segundo turno não garante a adesão total daquele eleitorado.

Na eleição de 2010, por exemplo, mesmo Marina tendo ficado em cima do muro, a maior parte de seus eleitores foi para a candidatura do tucano José Serra. O analista do Estadão, jornalista José Roberto Toledo, fez recentemente uma decomposição das pesquisas do Ibope mostrando que teoricamente metade do eleitorado de Dilma é passível de mudar o voto em favor de Aécio Neves, sendo que 1 em cada 4 eleitores que diz que votaria em Dilma “com certeza” também diz que votaria em Aécio.

Com Eduardo Campos, porém, as sobreposições são menores, apenas 17% do eleitorado dilmista diz que votaria ou poderia votar nele. Tudo dependerá da situação da economia e de como os candidatos de oposição se comportarão na propaganda de rádio e televisão.

Lula sem dúvida é um grande cabo eleitoral, mas mesmo no auge de sua popularidade, e com a economia crescendo a 7,5% em 2010, teve dificuldades de emplacar Dilma como a grande gerente, mãe do PAC. 

Sua vitória sobre Serra deu-se por 56% a 44% no segundo turno, aumentando a média dos candidatos tucanos, demonstrando que há um grupo de mais de 40% do eleitorado disposto a votar na oposição, seja qual for o candidato.

Hoje, com o país tendo o menor crescimento dos últimos 20 anos e, sobretudo, conhecendo Dilma como os brasileiros já a conhecem, a tarefa parece mais difícil. Caso se torne praticamente impossível, a arma (nada) secreta petista deverá ser acionada. Mas o próprio Lula deve levar uma questão em conta ao analisar a possível candidatura: uma imprevisível derrota acabaria com o mito. Um governo mal sucedido diante das dificuldades econômicas previstas também.

Raimundo Santos: A luta política pela democracia

O golpe de 1964 depôs João Goulart e interditou as liberdades democráticas. O seu governo refletia as lutas em favor das "reformas de base" e pela ampliação de direitos. Crescia o movimento de opinião pública em defesa da economia e das riquezas nacionais, inclusive com repercussão nas Forças Armadas. Fortaleciam-se o sindicalismo urbano, os sindicatos rurais, as ligas camponesas e o associativismo de diversas categorias. Intelectuais, áreas do mundo da cultura e estudantes dinamizavam o campo progressista dessa época.

Goulart enfrentou dura oposição da União Democrática Nacional (UDN) e de setores reacionários. Áreas da sua base de apoio, nucleada pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e pelo Partido Social Democrático (PSD), oscilavam diante das dificuldades, sobretudo econômicas. As esquerdas se dividiram, parte dela se radicalizou, passando a combater o que chamava de “conciliação” do governo com os conservadores. Goulart chegou ao final de março de 1964 politicamente isolado.

Diferentemente dessa experiência da frente nacional e democrática (expressão daqueles anos), o campo da resistência ao regime de 1964 iria ter como norte as liberdades democráticas (cf. Resolução política do PCB, maio de 1965) e iria se firmar a valorização da democracia política como caminho para alargar direitos e realizar reformas estruturais.

A ditadura logo se deparou com oposição. Em 1965, foi derrotada nos estados da Guanabara e Minas Gerais nas eleições para governador. Entre 1966 e 1968 se formou um campo oposicionista ativado pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), pelas ações de intelectuais e de áreas da vida cultural e artística e pelos estudantes. Os sindicatos recuperavam suas entidades sob intervenção. Essa animação teve o seu ponto alto na passeata dos 100 mil no Rio de Janeiro.

A ditadura impôs o Ato Institucional n. 5 (AI-5) em 13/12/68, fechou o Congresso, cassou mandatos e direitos políticos e extremou a repressão. Nos anos de chumbo (1969-1975), a tortura teve uso sistemático, numerosos opositores desapareceram e os exílios aumentaram.

Ao contrário das correntes que não viam saída que não fosse o confronto direto, na frente democrática se acreditava, principalmente no Partido Comunista Brasileiro (PCB), que o endurecimento do AI-5 poderia ser barrado por meio da política. O MDB amplia sua atividade nas eleições controladas e até na eleição indireta para Presidente da República de 1973, quando Ulisses Guimarães e Barbosa Lima Sobrinho se lançaram anticandatos. A oposição se fortalece com outras mobilizações (trabalhistas, sobretudo do ABC paulista e do associativismo variado (professores, servidores públicos, comunitário etc.), e com as Diretas Já, até derrotar a ditadura ao eleger em 1985, no Colégio Eleitoral, Tancredo Neves e José Sarney. Em 1988, a nova constituição consolidou a forma democrática de vida dos brasileiros e definiu marcos para as mudanças.

Ir a esse passado ajuda a defender a cultura democrática neste tempo de desvalorização da política e da democracia representativa e suas instituições. E traz até nossos dias um padrão de agir das esquerdas referido ao conjunto da sociedade brasileira, cujos marcos se desenvolveram no contexto da frente democrática de resistência ao regime de 1964.

Raimundo Santos, professor do UFRRJ

[Cf. texto “A resistência política ao regime de 1964, UFRRJ, Seropédica, 31 de março de 2014].

Cristiano Romero: Queda de aprovação ameaça Dilma

Com 36% de aprovação chance de reeleição está entre 40% e 43%

Valor Econômico

A queda de avaliação do governo da presidente Dilma Rousseff na última pesquisa CNI/Ibope cria dúvidas sobre suas chances de reeleição no pleito deste ano. Análises de eleições passadas para presidente e governador, desde a introdução do instituto da reeleição no país, em 1998, mostram que, considerando a avaliação dos candidatos e a sua transformação em votos, a presidente teria de 40% a 43% de chances de ser reeleita, caso o pleito fosse realizado hoje.

Nos Estados Unidos, são comuns as pesquisas que procuram verificar as chances de ocupantes de cargos executivos a partir da avaliação de seus governos. No Brasil, quem está fazendo isso pela primeira vez é o cientista político Alberto Carlos de Almeida, fundador do Instituto Análise.

Num trabalho exaustivo sobre 104 eleições para governador ocorridas entre 1998 e 2010, Almeida constatou que, em 100% dos casos, os governadores que disputaram a reeleição e que, na última pesquisa antes do primeiro turno, tinham 46% ou mais de aprovação (soma de ótimo e bom) saíram vitoriosos. Descobriu também que 100% daqueles que tinham 34% ou menos de ótimo e bom foram derrotados.

Os números mostram, ainda, que 40% a 43% dos governadores que possuíam avaliação de ótimo e bom entre 35% e 45% foram reeleitos. "A derrota é um pouco mais frequente nesta faixa de avaliação", explica Almeida.

Há três possibilidades para os candidatos que buscam a reeleição. A releição "clássica", em que o governador é eleito uma vez e quatro anos depois disputa a reeleição; a reeleição "manca", em que o governador que disputa a reeleição não foi eleito quatro anos antes, mas assumiu o posto no meio do mandato porque o titular deixou o posto para disputar outro cargo ou então faleceu; e a "não releição", quando o governador não busca a reeleição.

Nos 104 pleitos analisados por Almeida, registraram-se 46 casos de reeleição "clássica", 22 de reeleição "manca" e 35 de não reeleição. Uma transposição da experiência dos governadores para a situação da presidente Dilma mostra que seu patamar de ótimo e bom neste momento - 36%, de acordo com a pesquisa CNI/Ibope - a coloca com aproximadamente 40% a 43% de chances de vitória em outubro. É pouco para quem já teve o governo aprovado por 63% da população (em março de 2013).

Há, porém, ponderações a serem feitas. A primeira, observa Alberto Carlos de Almeida, é que a avaliação do governo Dilma pode melhorar até a última pesquisa antes do primeiro turno da eleição, em outubro, tal como ocorreu na reeleição de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.

No início da campanha eleitoral de 1998, Fernando Henrique tinha seu governo avaliado como ótimo e bom por 38% da população. Durante a campanha, a avaliação melhorou, subindo cinco pontos percentuais (para 43%). O presidente liquidou a fatura no primeiro turno da eleição.

Em 2006, Lula começou a campanha com sua gestão avaliada como ótima e boa igualmente por 38% da população. A avaliação ao longo da campanha cresceu mais que a de FHC em 1998, chegando a 47% dos entrevistados na pequisa realizada antes do primeiro turno da eleição. Lula venceu a disputa, mas, curiosamente, apenas no segundo turno.

Dilma tem, agora, avaliação pior que a de FHC e Lula, mas ainda está a seis meses da eleição. A presidente tem, portanto, chance de melhorar o desempenho nas pesquisas de avaliação de sua gestão, embora também haja espaço para piora até outubro.

Esta coluna apurou que, desde as manifestações populares iniciadas em meados do ano passado, quando a presidente sofreu forte perda de popularidade, petistas próximos a Lula passaram a considerar a possibilidade de o ex-presidente substituir Dilma na disputa deste ano. O movimento "Volta, Lula" seria deflagrado a partir da queda da avaliação de ótimo e bom do governo abaixo de 35%. A preocupação evidente é com a manutenção do projeto de poder do PT, que estaria correndo risco.

De fato, acendeu-se a luz amarela no Palácio do Planalto. A pesquisa CNI/Ibope revelou que o governo está sendo reprovado pela população em temas como inflação, juros, educação, saúde e, pasmem, emprego (o que não deixa de ser curioso, uma vez que o mercado de trabalho opera próximo do pleno emprego). A questão é saber se ainda há tempo, até a eleição, para o governo melhorar a avaliação de alguns desses itens e se há, de fato, disposição da presidente para promover mudanças a esta altura.

Do lado positivo, isto é, daquilo que pode de alguma forma melhorar a avaliação da gestão Dilma, está o fato de o Brasil, apesar do desempenho pífio da economia nos últimos anos, não estar em crise. E provavelmente não será atingido por uma nos próximos meses, salvo se houver uma catástrofe inesperada. 2014 não repete o cenário de 2002, quando o país sofreu uma crise cambial e esteve à beira de dar um calote no pagamento da dívida.

Do lado dos riscos, estão o aumento da inflação, especialmente de itens como alimentos, que pesam no bolso principalmente dos mais pobres, e uma possível crise de abastecimento de energia. Esses riscos surgem no momento em que já há um mau humor com o governo, disseminado não só entre empresários e banqueiros, mas também na própria população, como atestou a pesquisa CNI/Ibope.

Almeida acredita que a bola do jogo está com a presidente. Nos últimos meses, ela reconheceu tacitamente o fracasso dos experimentos do governo na área econômica, mudou em parte o rumo das coisas, mas não reconquistou a confiança, fato que está refletido nos principais preços da economia, nas expectativas de inflação deterioradas e no baixo interesse dos empresários em investir.

"Tenho dito para todos que a avaliação da presidente está no limbo: se piora um pouco é o inferno, se melhora um pouco é o céu. Só depende dela", diz Almeida, lembrando que limbo vem da palavra em latim que significa beira, borda.

É importante observar que, neste momento, as pesquisas de avaliação do governo são mais relevantes que as de intenção de voto. A razão é simples: afora a presidente, os contendores - até aqui, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) - ainda são desconhecidos da população, nada que uma campanha não possa mudar ao longo do tempo.

Dilma decreta intervenção militar em 15 favelas do Rio

Missão: garantia da “Lei e da Ordem” até o final da Copa

Forças Armadas podem entrar na Maré a partir de sábado

Antônio Werneck -O Globo

RIO - O Ministério da Defesa revelou nesta terça-feira que as Forças Armadas estão autorizadas a entrar no Complexo da Maré, a partir do primeiro minuto do próximo sábado. Desde domingo, a região passou a ser ocupada por homens das forças de segurança do estado, com apoio de blindados da Marinha. O número de militares que será empregado na Maré não foi revelado, mas não deve ser superior a dois mil homens. Na ocupação dos complexos da Penha e do Alemão, o Exército usou cerca de 1.800 militares.

Segundo o ministério explicou em nota, uma diretriz ministerial (a de número nove), foi assinada pelo ministro da Defesa, Celso Amorim, determinando o emprego das tropas em missão de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), conforme pedido feito pelo governador Sérgio Cabral. Segundo o documento, o aparato militar deve permanecer na Maré até depois da Copa do Mundo. A data prevista para a saída dos militares é 31 de julho. Durante o período de ocupação, as tropas ficarão sob o comando do general Roberto Escoto, comandante da Brigada de Infantaria Paraquedista, no Rio.

Prisões só em flagrante
Com aconteceu na ocupação do Complexo do Alemão, as Forças Armadas estão autorizadas a efetuar prisões em flagrante e fazer patrulhamento e revistas. Além da Brigada Paraquedista, os militares contarão com apoio de batalhões e brigadas de outras áreas. Os detalhes do planejamento estavam sendo definidos, na tarde de terça-feira, pelo Comando de Operações Terrestres (Coter), em Brasília. Tanto o Exército como o Ministério da Defesa não revelam os gastos com a operação de GLO na Maré. Em nota, o Ministério da Defesa informou que ainda não tem o custo da operação. Porém, garantiu que o secretário-geral do ministério, Ari Matos, buscará os recursos que forem necessários para a operação.

Por se tratar de ação conjunta, que contará também com a participação de militares da Marinha e da Aeronáutica, as articulações estarão a cargo do chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA), general José Carlos De Nardi, principal interlocutor do ministério nos preparativos para ação no Complexo da Maré.

Ação restrita a 15 favelas
De acordo com a diretriz, a GLO se dará em 15 comunidades: Praia de Ramos, Parque Roquete Pinto, Parque União, Parque Rubens Vaz, Nova Holanda, Parque Maré, Conjunto Nova Maré, Baixa do Sapateiro, Morro do Timbau, Bento Ribeiro Dantas, Vila dos Pinheiros, Conjunto Pinheiros, Conjunto Novo Pinheiros (Salsa & Merengue), Vila do João e Conjunto Esperança. A região da Maré era dominada por duas facções criminosas rivais do tráfico carioca, além de uma milícia. As negociações para o emprego das Forças Armadas no Complexo da Maré foram iniciadas no mês passado.

Pedido de ajuda à União foi feito por governador
As negociações para o emprego das Forças Armadas no Complexo da Maré foram iniciadas no mês passado, quando o governador Sérgio Cabral esteve com a presidente Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto. Naquela ocasião, Cabral anunciou que Dilma lhe assegurara a participação militar na ocupação das 15 comunidades da Maré, onde moram cerca de 130 mil pessoas.
Informações da Polícia Federal do Rio, com base em mais de um ano de investigações para chegar à prisão do traficante Marcelo Santos das Dores, o Menor P, revelam que a quadrilha do bandido pode ter escondido armas com grande poder de fogo em pontos diferentes do Morro do Timbau e na Favela Salsa e Merengue. Antes de a região ser ocupada por forças de segurança dos governos federal e estadual, os policiais federais da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) identificaram ao menos duas metralhadoras automáticas calibre .30, capazes de derrubar aeronaves, e alguns lança-rojões.

Retirada da cracolândia
Nesta terça-feira, no segundo dia após a ocupação da região pelas forças de segurança, o comércio no Complexo da Maré abriu as portas num clima de tranquilidade. Moradores circulavam pelas ruas, a caminho do trabalho e da escola, sem receio. Além da Comlurb, a Rio Luz e as secretaria de Saúde e de Conservação seguem com ações nas comunidades.

Já o policiamento estava praticamente restrito aos acesso das favelas que compõem o complexo. Melhorou também para os motoristas que circulam pela Avenida Brasil: a cracolândia, que ocupava o canteiro central da via expressa, não está mais lá. Nesta terça-feira, um grupo pequeno ainda podia ser visto acampado debaixo do viaduto da Transcarioca em construção. Eles ocupavam a calçada da pista central, sentido Centro. Antes da remoção, usuários da droga costumavam atravessar a via, se arriscando entre os veículos.