Em reação a medida de Witzel, texto estabelece como competência federal fechamento de estradas e aeroportos
Gustavo Uribe / Artur Rodrigues | Folha de S. Paulo
BRASÍLIA E SÃO PAULO - A queda de braço entre o presidente Jair Bolsonaro e os governadores de São Paulo e do Rio de Janeiro pela liderança no combate à pandemia do coronavírus foi transformada em uma prévia da disputa eleitoral de 2022.
Desde a semana passada, João Doria (PSDB) e Wilson Witzel (PSC) têm criticado o que consideram uma letargia do presidente no enfrentamento à pandemia e tem adotado posturas opostas à dele.
Enquanto Bolsonaro defende que a atividade economia não deve ser interrompida mesmo diante de um grande risco de contágio, os governadores têm anunciado medidas de prevenção, como a interrupção de serviços não essenciais.
Neste sábado (21), por exemplo, Doria decretou um estado de quarentena de 15 dias em São Paulo, com o fechamento obrigatório de comércios, bares e restaurantes.
A iniciativa foi interpretada no Palácio do Planalto como um contra-ataque a uma medida provisória e a um decreto, publicados pelo presidente em edição extra do Diário Oficial da União, que tentam impedir que Witzel e Doria determinem o fechamento de aeroportos e rodovias.
Ela foi tomada após Bolsonaro ter reclamado a deputados aliados que o objetivo dos dois governadores é tentar desgastá-lo. Ele acredita que ambos querem se aproveitar eleitoralmente dos panelaços promovidos na semana passada contra o governo federal.
As manifestações foram reconhecidas por assessores presidenciais como um dos momentos mais delicados enfrentados por Bolsonaro desde que ele assumiu o Palácio do Planalto. Elas se somaram a uma desmobilização de apoiadores do presidente nas redes sociais.
Na tentativa de demonstrar que tem apoio junto a setores da sociedade na defesa da atividade econômica, Bolsonaro pediu ao presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, que promovesse uma teleconferência dele com empresários de peso.
No encontro, realizado na sexta-feira (20), Bolsonaro aproveitou para fustigar seus adversários e disse que a postura deles era quase de uma "campanha política".
"Vamos, cada vez mais, botando um freio nisso daí. E aqueles poucos que estão exagerando a gente vai aos poucos também colocando na linha da racionalidade", disse.
Em resposta, Doria aproveitou evento oficial, no caso o anúncio da quarentena, para rebater Bolsonaro. Ele ressaltou que gostaria de ter um presidente que "liderasse o país" e não "minimizasse o problema".
"Muito triste que não tenhamos no país uma liderança em condições de orientar e acalmar os brasileiros, tomando as atitudes corretas", disse. "Na ausência dessa liderança, governadores e prefeitos estão cumprindo sua obrigação e fazendo o que deve ser feito, aquilo que o presidente não consegue fazer", acrescentou.
Na tentativa de evitar que Doria e Witzel obtenham dividendos eleitorais com a pandemia do coronavírus, Bolsonaro defendeu a auxiliares diretos que o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, evite a partir de agora posar ao lado dos dois governadores em eventos estaduais.