terça-feira, 24 de janeiro de 2012

OPINIÃO DO DIA – Brasílio Sallum Jr. : polarização

Alguns analistas ressaltam a “simplificação” do quadro partidário mediante um bipartidarismo informal entre PT e PSDB (sintetizado nas últimas cinco disputas presidenciais), que, inclusive, passou a reorientar a conduta destes e de seus aliados nas disputas estaduais. Em sua opinião, essa tendência deve continuar nas próximas eleições ou é possível projetar novas disputas com novos atores? O PSD pode alterar essa dinâmica?

Tanto quanto eu possa prever, a tendência no futuro imediato é de manutenção da polarização. Além de quadros, o PSDB tem o controle de vários estados importantes da federação, o que faz dele um adversário relevante. Não creio, porém, que possa se sustentar a médio prazo apenas nisso. Terá que sair do canto do ringue, seja na direção da “sociedade organizada”, seja na direção de partidos à sua esquerda. Se não fizer isso, tenho a impressão de que terá poucas chances de sucesso ao enfrentar o PT. Mesmo se Lula não for o candidato em 2014.

Em relação ao PSD, não me parece que agregue muito. Deverá ser mais um partido clientelista entre outros. Aliás, esta polarização PT e PSDB pode organizar as alternativas disponíveis, mas enfraquece no plano político-institucional o impulso de mudança que vem da sociedade. Estes impulsos democratizantes e liberalizantes — que se expressam em doses diferentes naqueles partidos — têm sempre que se acomodar ao particularismo clientelista dominante nos demais partidos. Veja, não estou dizendo que PSDB e PT estão imunes ao clientelismo, mas que ainda têm capacidade de lutar por objetivos mais marcados pelo universalismo.

Brasílio Sallum Jr., professor titular de Sociologia da Universidade de São Paulo. É autor de uma das mais completas interpretações da transição para a democracia no Brasil: em uma, Labirintos (Hucitec, 1996). Entrevista: Desenvolvimento e desenvolvimentismo. Gramsci e o Brasil, dezembro de 2011.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Órgão contra seca privilegia estado do seu diretor-geral
Blogueira cubana oficializa apelo ao Brasil e põe Dilma em saia-justa
Europa cessará em julho compra de petróleo do Irã
Petrobras tem maior alta da Bolsa com nova presidente

FOLHA DE S. PAULO
União Europeia suspende compra de petróleo do Irã
FHC critica Serra e diz que Aécio é candidato óbvio para presidente
Dilma muda chefia da Petrobras para ter mais controle

O ESTADO DE S. PAULO
Insatisfeita com gestão, Dilma troca comando da Petrobras
Europa impõe sanções ao Irã e preço do petróleo sobe
‘Praça de guerra’
Presidente minimiza falhas do Enem na saída de Haddad
Mercadante muda cúpula do MEC
Juízes do Rio chegam a ganhar por mês R$ 150 mil

VALOR ECONÔMICO
Longe das metas, fundos de pensão assumem mais risco
Foster abre nova fase na Petrobras
'Restos a pagar' em 2012 somam R$ 140 bilhões
Turbinas apresentam defeito no Madeira

CORREIO BRAZILIENSE
Policia admite indiciar hospitais no caso Duvanier
Um jovem morre a cada 4 dias no trânsito
Prioridade ao crescimento
Mercado reage bem a mudança na Petrobras
Aécio é o nome para 2014, afirma FHC

ESTADO DE MINAS
Porque o prefeito de BH decidiu dizer não ao aumento de 61,8% para os vereadores
Dilma quer a volta do crescimento monitorada
Silicone importado: Troca será em 371 hospitais
Reforma: Crise com a Polícia Civil leva à mudança do comando da PM

ZERO HORA (RS)
Dilma usa internet para combater escândalos
Uma presidente com o estilo da Presidente

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Chuva, protesto e tumulto
Planos de saúde abaixo da crítica
Reunião de Dilma

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Davos social:: Merval Pereira

Houve época em que a reunião do Fórum Econômico Mundial aqui em Davos era um encontro que praticamente definia os caminhos do capitalismo mundial. A crise econômica que domina o mundo desde 2008, no entanto, retirou de Davos essa prerrogativa, resumindo as reuniões seguintes a debates estéreis sobre como sair da crise, sem que surgissem ideias criativas ou soluções viáveis.

Para um encontro que supostamente reúne as melhores cabeças e os líderes do sistema capitalista, não ter captado a crise que se avizinhava foi uma lição de humildade, a começar pelo reconhecimento tardio de que o mercado por si só não é capaz de corrigir seus excessos.

Registrei aqui na coluna que não se via tanto mea-culpa desde que, em outubro passado o ex-presidente do Banco Central americano Alan Greenspan, confrontado por um congressista americano, admitiu, "chocado", que o modo de vida capitalista não deu certo, e se disse "surpreso" de constatar que o mercado não conseguiu se autorregular, e que as pessoas não conseguiram trabalhar em seu próprio benefício, refreando os excessos do sistema financeiro.

O ano seguinte à quebra do Lehman Brothers foi marcado pelo paradoxo de defender o livre mercado e o sistema capitalista e, ao mesmo tempo, admitir que somente uma vasta intervenção dos governos nacionais poderia tirar o mundo da crise sistêmica em que se encontrava.

O que se viu aqui em Davos nesses anos foi uma imensa catarse, com temas como regulação do mercado financeiro e a necessidade de maior transparência, que já foram considerados tabus, sendo prioritários.

Este ano, o Fórum Econômico está tentando dar um passo à frente de maneira ousada, defendendo a necessidade de repensar o capitalismo que, na definição de Klaus Schwab, o presidente do encontro, está morto da maneira que o conhecemos até hoje.

Nesse sentido, o tema central do encontro, "A grande transformação, criando novos modelos" é mais que simples retórica, é uma tentativa de descobrir novos caminhos em meio à crise que não dá sinais de terminar.

Os organizadores admitem que não existe um modelo conceitual a partir do qual se desenvolva um entendimento sistêmico das grandes transformações que estão ocorrendo no momento, e as que ainda ocorrerão.

Eles chamam a atenção para o desafio de liderança, que, de maneira quase dramática, descrevem como requerendo novos modelos, ideias ousadas e coragem pessoal para garantir que este século melhorará a condição humana, em vez de limitar seu potencial.

A ambição do Fórum Econômico Mundial é que os líderes que ele reúne retomem seu propósito central, que seria o de definir o que o futuro deveria ser, alinhando os acionistas e as empresas que dirigem para a realização desse objetivo.

Os diversos painéis dos cinco dias do encontro tratarão, claro, de temas concretos sobre como reequilibrar e desalavancar a economia, e reorganizar o mundo capitalista de maneira a que os países desenvolvidos saiam da crise sem quebrar, e os emergentes possam ajudar a recuperação mundial e ganhar novos espaços nos centros decisórios.

Mas o que importa mesmo para os organizadores do Fórum é o resultado final, que esperam seja transformador nas mudanças sociais.

Para sublinhar a preocupação, líderes internacionais que fazem parte do Grupo de Questões Globais do Fórum, como Roberto Zoelick, presidente do Banco Mundial, Christine Lagarde, do FMI, e Pascal Lamy, da OMC, soltaram um documento apelando para uma ação conjunta em face dos "significantes e urgentes" desafios que o mundo enfrenta, com ameaças ao seu crescimento e à coesão da sociedade.

Os signatários do documento declaram-se "preocupados" com a desaceleração do crescimento global e aumento da incerteza.

O alto desemprego, especialmente entre a juventude, é uma preocupação central, pelas consequências econômicas e sociais negativas.

A economia, diz o documento, poderia readquirir força apoiando as mudanças que estão em curso nos países emergentes ajudando nas necessidades de infraestrutura em diversas partes do mundo e começando a tornar realidade a promessa de uma "economia verde".

Para tanto, defendem uma série de medidas, como um sistema aberto e livre de comércio, financiamentos governamentais, com projetos de reformas estruturais, e o combate à desigualdade em todos os países.

Algumas reformas prometidas e nunca realizadas, como a do setor financeiro, e uma renovada cooperação internacional seriam medidas necessárias para a criação de um ambiente propício à recuperação econômica.

O documento cita o Plano de Ação para o crescimento e empregos aprovado em novembro pelo G-20 como uma "sólida fundação" sobre a qual se deve trabalhar.

No curto prazo, para resolver o débito soberano e a crise bancária, seria preciso restaurar a confiança nas instituições financeiras, o que só seria conseguido através de medidas como uma reforma regulatória aceita internacionalmente; recapitalização de bancos onde for necessário; promoção de acesso a capital para pequenos e médios negócios.

Além dos aspectos técnicos para superar a dívida dos países através de ações conjuntas do Banco Central Europeu e outras agências financeiras internacionais, o documento aborda questões políticas essenciais, que interessam especialmente ao Brasil: os países devem se comprometer a não usar métodos protecionistas, assumindo políticas amplas de comércio e financiamento, e também dar exemplos concretos de que as restrições ao comércio introduzidas como resposta à crise serão revertidas.

Com relação ao meio ambiente, o documento defende que a reunião Rio+20 deve ter como objetivo central uma estratégia ampla para o crescimento verde que encoraje inovação e difusão de novas tecnologias, que têm potencial de criar novos empregos.

FONTE: O GLOBO

Brasil, a estrela (omissa) em Davos:: Clóvis Rossi

País só perde para China e EUA como atração para os executivos, mas presidente Dilma não aproveita

Se tivesse confirmado presença no tradicional Fórum de Davos, convite que chegou a aceitar em princípio, o Brasil de Dilma Rousseff ocuparia uma posição até melhor do que o ilusório sexto posto no ranking econômico mundial: estaria no pódio, como o terceiro país considerado mais importante para o crescimento das companhias globais, conforme pesquisa a ser divulgada hoje nessa cidadezinha suíça de 13 mil habitantes que, faz 41 janeiros, abriga a elite mundial dos negócios, do governo e da academia.

Com 15% das indicações de executivos de grosso calibre, o Brasil só fica atrás dos suspeitos usuais: a China (30%) e os Estados Unidos (22%). Ganha até da Alemanha.

Detalhe relevante: os executivos consultados (1.258, de 60 países) não podiam apontar o seu próprio país como o queridinho para o crescimento das companhias.

Os brasileiros, portanto, não lustraram a estrela do país, justamente eles que, no ano passado, já apareciam entre os mais animados com as perspectivas para o 2011 que se iniciava.

É evidente que a ausência de Dilma não tira a atratividade do Brasil para os homens de negócio que formam a audiência principal dos encontros de Davos. Mas a sua presença -que chegou a ser confirmada à Folha pelo porta-voz Rodrigo Baena Soares, meses atrás- adicionaria lustro à estrela. Seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, esteve duas vezes em Davos, em seus oito anos de governo, e foi um tremendo sucesso de público e de crítica, em grande parte por ter tocado a música que o empresariado mais gosta de ouvir, que é a adoção de políticas pró-mercado.

E Lula compareceu ainda no início de seu primeiro período, quando não tinha mais do que palavras a oferecer. Dilma, ao contrário, tem números, os sedutores dados do crescimento nos anos em que ela esteve no coração do governo Lula e que, como é óbvio, alavancam o entusiasmo que os executivos demonstram pelo Brasil.

Não é apenas Dilma que estará ausente. O governo brasileiro preferiu esconder-se: das três sessões em que o país será o tema central, duas foram programadas à margem do encontro propriamente dito e fora do local da ferveção, que é o Centro de Congressos de Davos. Haverá uma sessão para investidores interessados no petróleo e no gás do Brasil, na sexta-feira, e uma sessão chamada "Brasil em Davos", no sábado, ambas no Hotel Belvédère, o mais elegante de Davos, o que certamente oferecerá mais conforto aos ministros e autoridades brasileiras, mas menos visibilidade.

Só o "Panorama do Brasil" se realizará no Centro de Congressos, assim mesmo em dia e hora (sábado, 17h locais, 14h em Brasília) em que o encontro anual já está semiesvaziado (os grandes momentos vão de quarta a sexta).

Além disso, é muito escassa a presença de empresários brasileiros e mais escassa ainda a de acadêmicos. O fato é que a voz do Brasil sobre assuntos globais não soa adequadamente em um palco que é, anualmente, a maior concentração de personalidades que o mundo consegue colocar em um mesmo complexo.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Muito além do estilo:: Dora Kramer

A questão da diferença de estilos entre a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pontuou o início do governo da sucessora e é tida como uma das principais razões dos altos índices de popularidade.

Por esse raciocínio, Dilma agradaria à parcela da população que Lula desagradava e, assim, agregaria novos admiradores sem perder os já conquistados, aumentando o capital político do mesmo projeto de poder.

A tese das diferenças entre um e outro já se prestou a várias leituras, sendo a mais equivocada delas a que enxerga sinais de ruptura em atos como o trato civilizado que Dilma dá à oposição, a ausência de tagarelice diária ou a capacidade de reconhecer o momento em que um ministro perde a condição de permanecer no cargo.

Há que distinguir, no entanto, estilo de padrão. O primeiro guarda relação com a maneira de ser de cada um e o segundo diz respeito aos fundamentos de atuação para a execução de objetivos.

No cotejo com a realidade, o que se vê não são diferenças de padrão. Dilma não trata a imprensa como inimiga da democracia, mas não orienta o seu partido a deixar de lado a proposta de controle social da mídia.

Na política externa não celebra relações com agressores dos direitos humanos, mas ignorou o pedido da cubana Yoani Sanchez para que a ajudasse a conseguir autorização para viajar ao Brasil nem incluiu na agenda de sua próxima visita a Havana - onde acaba de morrer mais um dissidente da ditadura Castro - encontro com a oposição, conforme solicitado.

Quanto às demissões de ministros, Dilma mostrou seus limites ao fazer vista grossa às consultorias de Fernando Pimentel e às estripulias de privilégios a redutos eleitorais e familiares de Fernando Bezerra.

Na campanha eleitoral já em curso a despeito dos parâmetros legais, o assunto das diferenças de maneiras entre Lula e a presidente voltará à baila. Dilma será ou não tão explícita no uso da máquina pública quanto foi o antecessor.

Os primeiros acordes da sinfonia indicam que no estilo pode ser - até por temperamento e vocação -, mas no padrão não necessariamente.

Ficou estabelecido que a eleição de Fernando Haddad para a Prefeitura de São Paulo é prioridade para o governo federal, o passo essencial para a derrubada da cidadela tucana.

A presidente começou as despedidas do ainda ministro da Educação na semana passada, em Angra dos Reis, aproveitando inauguração de creche para incluí-lo no panteão dos "maiores ministros da Educação deste País", e hoje prepara uma cerimônia que, em termos de presença federal na eleição municipal, terá mais caráter de boas-vindas do que propriamente de adeus.

Tanto que o ato, no Palácio do Planalto, terá a presença de Lula - hoje não mais uma autoridade, mas um cabo eleitoral.

O gesto mais eloquente de que não obstante seja discreta está disposta a pôr o governo a serviço do projeto partidário, foi a transferência da realização do Enem, o exame de avaliação de desempenho que tantos problemas causou aos estudantes do ensino médio, para depois das eleições.

A justificativa: o governo não consegue fazer duas edições do exame. Poderia ser uma decisão técnica fazer apenas a prova já marcada para abril. Mas assume caráter político-eleitoral quando é estrategicamente marcada para o mês de novembro.

Uma medida preventiva que acaba se caracterizando como estelionato eleitoral antecipado por tirar da pauta um tema importante apenas para proteger o candidato de si mesmo.

Área de proteção. Depois da movimentação de entidades de magistrados que resultou em ação judicial para reduzir os poderes do Conselho Nacional de Justiça, surge da mesma fonte uma ofensiva para limitar a área de atuação do Conselho de Controle de Atividades Financeiras.

Tanto o CNJ quanto o Coaf funcionavam sem contestação sobre as respectivas atividades. Isso até começarem a importunar excelências do Poder Judiciário, cuja reação parece exprimir o conceito de que legalidade nos olhos alheios é refresco.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

O Brasil dá de ombros:: Eliane Cantanhêde

Enfim todo mundo acredita que algo mudou na política externa brasileira. Quem olhava de fora achava que sim, mas o governo dizia que nem tanto, até que o porta-voz de Ahmadinejad, Ali Akbar Javanfekr, confirmou sem papas na língua que tudo está diferente.

A Samy Adghirni, da Folha, ele disse que Dilma "golpeou tudo o que Lula havia feito, destruiu anos de bom relacionamento [com o Irã]".

Está explicado, enfim, por que Ahmadinejad passou ao largo do Brasil na sua última viagem, optando pelo circuito chavista: Venezuela, Cuba, Equador e Nicarágua.

Dilma ficou melindrada? Não. Nem Patriota nem mesmo Amorim, que tinha se unido à Turquia no governo Lula para dar a mão ao Irã e tentar -sem sucesso, diga-se- contornar o isolamento iraniano e a sede do país pela energia nuclear para fins pacíficos e nem tanto.

Há um consenso em Brasília: Ahmadinejad pode ir aonde quiser e seu porta-voz pode dizer o que bem entender, pois nada disso afeta o Brasil. "Eles [o Irã] é que estão numa situação difícil e precisam do Brasil, não o Brasil deles", resume um diplomata que conhece bem a questão.

Enquanto o mundo treme diante da ameaça de o Irã ter bomba atômica, o que o Brasil lamenta neste momento são os efeitos da teimosia iraniana no comércio bilateral.

Quem paga o pato são os exportadores de carne e de frango, expostos a barreiras, demoras e excessos de burocracia para colocar seu produto no mercado iraniano.

No mais, cabe ao Conselho de Segurança da ONU negociar com o regime de Ahmadinejad e encontrar soluções. Com uma pitada de ironia, o nosso diplomata prevê: "Na falta de alternativa, pode até sair a paz".

Os arroubos de potência do Brasil passaram. Segundo Javanfekr, "Lula está fazendo muita falta"-para o Irã. Por aqui, Dilma vai muito bem, obrigada, e com 59% de aprovação, segundo o Datafolha.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Um vice e sua circunstância:: Raymundo Costa

A relação do pemedebista Michel Temer com Dilma Rousseff é boa, mas a relação do PMDB com Dilma vai mal e pode piorar na retomada dos trabalhos no Congresso. Em síntese, esse foi o recado levado pelo próprio Temer a Dilma, antes das reuniões temáticas da presidente com os ministros e da troca de comando nos ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia, formalizada hoje.

O PMDB esperava melhor sorte na reforma do ministério, anunciada como tal em setembro pela ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais), mas que a presidente, semana passada, disse a Temer só existir na imaginação da imprensa. A presidente classifica as mudanças em curso como pontuais. Ela vai ainda movimentar algumas peças, segundo contou a Temer e Temer contou aos pemedebistas numa tentativa de acalmar os grupos do partido que esperavam muito mais das mudanças.

Ainda na semana passada o presidente em exercício do PMDB, senador Valdir Raupp, disse que o partido avalia que está sub-representado no governo. A conversa de Dilma com Temer foi um balde de água fria nas pretensões dos pemedebistas. A conta, naturalmente, agora está sendo cobrada do vice-presidente da República.

Na realidade, Temer apresentou as faturas do partido para a presidente da República. Dilma deu de ombros. Para ser mais exato, a presidente prometeu "pensar", o que, na prática, equivale a dizer que tudo continua como dantes. Entre os grupos pemedebistas, o problema é a falta de prestígio do vice com a presidente. Prova disso é que ela esteve no início do mês em São Paulo, visitou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e comemorou um convênio com o governador tucano Geraldo Alckmin, mas nem sequer telefonou para Temer, que à época havia se submetido a uma cirurgia na vesícula.

Na realidade, Dilma telefonou duas vezes no dia 3. Na primeira, Temer estava sedado; na segunda, sentia náuseas e também não pode atender. Depois disso é que ela foi a São Paulo. O vice já estava despachando em seu escritório, depois de dormir duas noites no hospital. Ao contrário de seus críticos, Temer acha que são muito boas suas relações com a presidente tanto no que se refere às políticas interna e externa (nos dois casos, cumpriu missões para a presidente) como no que diz respeito à administração.

"Com o vice do PMDB ela está extremamente bem", disse aos visitantes que o procuraram ontem em sua volta a Brasília, depois da cirurgia. Mas ele também reconhece a inquietação partidária. O vice tenta por panos numa crise que, por enquanto, é apenas presumida. A extensão da insatisfação no PMDB, um partido habituado a fazer emboscadas, somente será avaliada no mercado futuro das votações na Câmara e no Senado.

O argumento de Temer para acalmar os pemedebistas é que o modelo Dilma de governar é esse mesmo, ela prefere o técnico ao partidário. Como exemplo cita o Ministério de Cidades. A presidente deve substituir o atual ministro Mário Negromonte por outro nome indicado pelo PP, mas preferiria nomear o ex-ministro Márcio Fortes ou um outro técnico da área. A mesma situação do Ministério do Trabalho, que será ocupado novamente por um nome do PDT.

Outro argumento usado por Temer para acalmar os pemedebistas: na prática, até agora, as mudanças diminuíram o espaço do PT. O partido do governo, por exemplo, planejava botar o deputado federal Newton Lima, ex-reitor da Universidade Federal de São Carlos, no lugar do senador Aloizio Mercadante no Ministério da Ciência e Tecnologia. Ganharia duplamente, pois manteria o MCT com o PT e abriria espaço para o ex-deputado José Genoino, primeiro suplente, assumir uma vaga na Câmara. Dilma, no entanto, preferiu o nome técnico, Marco Antônio Raupp, presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB).

Na avaliação feita por Temer aos pemedebistas, o mesmo ocorreu com a mudança de comando na Petrobras: Maria das Graças Foster, nova presidente, foi escolhida mais por sua condição de técnica e mulher que por eventuais ligações com o PT. "É uma pessoa dela". Sérgio Gabrielli, o presidente de saída, tem projeto político claro: já disputou o governo da Bahia e concorrerá de novo em 2014, na sucessão do amigo Jaques Wagner.

Outro exemplo: o Ministério dos Transportes. Embora o ministro Paulo Passos seja filiado ao PR, as bancadas da sigla no Congresso o reconhecem como seu legítimo representante. E vai ficar assim mesmo.

O PMDB pode até ser compensado com cargos "infraministeriais", segundo expressão pemedebista, o que também não é garantido. Até agora, mesmo considerando-se sub-representado, o PMDB foi um aliado incomodo mas fiel. As eleições e os cortes no Orçamento podem apimentar a insatisfação com a falta de ministérios com verbas gordas. Com aprovação recorde, Dilma está à vontade para pagar pra ver.

O ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles descarta a possibilidade de ser candidato a vice-prefeito nas eleições de outubro na capital de São Paulo, como tem sugerido o prefeito Gilberto Kassab em conversas eleitorais com o PT. Meirelles, segundo diz, se filiou ao PSD para ter um espaço para atuar no debate político e econômico. Ele está escrevendo o capítulo referente à economia do programa do PSD. Ele resume a isso suas atividades políticas em 2012. Nem mesmo uma eventual candidatura a prefeito estaria em seus planos, na hipótese de o PSD resolver concorrer com nome próprio. O ex-presidente do BC não descarta eventuais projetos políticos no futuro, mas por enquanto sua atenção estaria integralmente voltada a projetos na iniciativa privada, sobre os quais prefere não falar. Meirelles o Conselho Público Olímpico, cargo que não o impede de assumir projetos na área privada.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

O incômodo silêncio da oposição :: Marco Antonio Villa

O silêncio da oposição incomoda. Desde 1945 - incluindo o período do regime militar - nunca tivemos uma oposição tão minúscula e inoperante. Vivemos numa grande Coreia do Norte com louvações cotidianas à dirigente máxima do país e em clima de unanimidade ditatorial. A oposição desapareceu do mapa. E o seu principal partido, o PSDB, resolveu inventar uma nova forma de fazer política: a oposição invisível.

A fragilidade da ação oposicionista não pode ser atribuída à excelência da gestão governamental. Muito pelo contrário. O país encerrou o ano com a inflação em alta, a queda do crescimento econômico, o aprofundamento do perfil neocolonial das nossas exportações e com todas as obras do PAC atrasadas. E pior: o governo ficou marcado por graves acusações de corrupção que envolveram mais de meia dúzia de ministros. Falando em ministros, estes formaram uma das piores equipes da história do Brasil. A quase totalidade se destacou, infelizmente, pela incompetência e desconhecimento das suas atribuições ministeriais.

Mesmo assim, a oposição se manteve omissa. No Congresso Nacional, excetuando meia dúzia de vozes, o que se viu foi o absoluto silêncio. Deu até a impressão que as denúncias de corrupção incomodaram os próceres da oposição, que estavam mais preocupados em defender seus interesses paroquiais. Um bom (e triste) exemplo é o do presidente (sim, presidente) do PSDB, o deputado Sérgio Guerra. O principal representante do maior partido da oposição foi ao Palácio do Planalto. Numa democracia de verdade, lá seria recebido e ouvido como líder oposicionista. Mas no Brasil tudo é muito diferente. Demonstrando a pobreza ideológica que vivemos, Guerra lá compareceu como um simples parlamentar, de chapéu na mão, querendo a liberação de emendas que favoreciam suas bases eleitorais.

Em 2011 ficou a impressão que os 44 milhões de votos recebidos pelo candidato oposicionista incomodam (e muito) a direção do PSDB. Afinal, estes eleitores manifestaram seu desacordo com o projeto petista de poder, apesar de todo o rolo compressor oficial. Mas foram logrados. O partido é um caso de exotismo: tem receio do debate político. Agora proclama aos quatro ventos que a oposição que realiza é silenciosa, nos bastidores, no estilo mineiro. Nada mais falso. Basta recordar o período 1945-1964 e a ação dos mineiros Adauto Lúcio Cardoso ou Afonso Arinos, exemplos de combativos parlamentares oposicionistas.

E pior: o partido está isolado, fruto da paralisia e da recusa de realizar uma ação oposicionista. Desta forma foi se afastando dos seus aliados tradicionais. É uma estratégia suicida e que acaba fortalecendo ainda mais a base governamental, que domina amplamente o Congresso Nacional e que deve vencer, neste ano, folgadamente as eleições nas principais cidades do país.

O mais grave é que o abandono do debate leva à despolitização da política. Hoje vivemos - e a oposição é a principal responsável - o pior momento da história republicana. O governo faz o que quer. Administra - e muito mal - o país sem ter qualquer projeto a não ser a perpetuação no poder. Com as reformas realizadas na última década do século XX foram criadas as condições para o crescimento dos últimos dez anos. Mas este processo está se esgotando e os sinais são visíveis. Não temos política industrial, agrícola, científica. Nada.

Este panorama é agravado pelo sufrágio universal sem política. Temos eleições regulares a cada dois anos. Foi uma conquista. Porém, a despolitização do processo eleitoral acentuado a cada pleito é inegável. Para a maior parte dos eleitores, a eleição está virando um compromisso enfadonho. Enfadonho porque vai perdendo sentido. Para que eleição, se todos são iguais? O eleitor tem toda razão. Pois quem tem de se diferenciar são os opositores.

Ser oposição tem um custo. O parlamentar oposicionista tem de convencer o seu eleitor, por exemplo, que os recursos orçamentários não são do governo, independente de qual seja. Orçamento votado é para ser cumprido, e não servir de instrumento do Executivo para coagir o Legislativo. Quando o presidente do principal partido de oposição vai ao Palácio do Planalto pedir humildemente a liberação de um recurso orçamentário, está legitimando este processo perverso e antidemocrático - inexistente nas grandes democracias. Deveria fazer justamente o inverso: exigir, denunciar e, se necessário, mobilizar a população da sua região que seria beneficiada por este recurso. Mas aí é que mora o problema: teria de fazer política, no sentido clássico.

Já do lado do governo, qualquer ação administrativa está estreitamente vinculada à manutenção no poder. Não há qualquer preocupação com a eficiência de um projeto. A conta é sempre eleitoral, se vai dar algum dividendo político. A transposição das águas do Rio São Francisco é um exemplo. Apesar de desaconselhado pelos estudiosos, o governo fez de tudo para iniciar a obra justamente em um ano eleitoral (2010). Gastou mais de um bilhão. Um ano depois, a obra está abandonada. Ruim? Não para o petismo. A candidata oficial ganhou em todos os nove estados da região e na área por onde a obra estava sendo realizada chegou a receber, no segundo turno, 95% dos votos, coisa que nem Benito Mussolini conseguiu nos seus plebiscitos na Itália fascista.

Se continuar com esta estratégia, a oposição caminha para a extinção. O mais curioso é que tem milhões de eleitores que discordam do projeto petista. Mais uma vez o Brasil desafia a teoria política.

Marco Antonio Villa é historiador e professor da Universidade Federal de São Carlos (SP).

FONTE: O GLOBO

Dom de Iludir - Caetano Veloso

Órgão contra seca privilegia estado do seu diretor-geral

O Departamento Nacional de Obras Contra Secas (Dnocs) teve prejuízos de R$ 312 milhões na gestão de pessoal e em contratações irregulares, segundo relatório da Controladoria Geral da União (CGU) do mês passado. O documento aponta pagamentos superfaturados e omissão da direção do órgão para sanar irregularidades nos últimos anos. E mostra ainda favorecimento ao Rio Grande do Norte, terra do diretor-geral do Dnocs, Elias Fernandes, e de seu padrinho político, o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves: de 47 convênios para defesa civil, 37 beneficiaram municípios do estado. O Dnocs é subordinado ao Ministério da Integração, cujo ministro, Fernando Bezerra (PSB), também favoreceu seu estado, Pernambuco. Um diretor do Dnocs já foi demitido, mas o PMDB conseguiu segurar Elias

"Inércia" e clientelismo no Dnocs

CGU aponta concentração de convênios com Rio Grande do Norte, estado do diretor-geral

Roberto Maltchik, Gerson Camarotti e André de Souza

Relatório da Controladoria Geral da União (CGU), concluído em dezembro de 2011, aponta prejuízos de R$312 milhões na gestão de pessoal e em contratações irregulares do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs). O relatório de 252 páginas revela uma sucessão de pagamentos superfaturados, contratos com preços superestimados e "inércia" da direção do órgão para sanar irregularidades que prosperaram ao longo da última década.

A CGU também aponta "concentração significativa" de convênios para ações preventivas de Defesa Civil no Rio Grande do Norte, estado do diretor-geral do Dnocs, Elias Fernandes, e de seu padrinho político, o líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Os dois negam favorecimento do órgão.

A auditoria foi realizada no ano passado, depois que as contas do Dnocs foram consideradas irregulares pela CGU por três anos consecutivos (2008, 2009 e 2010). O trabalho apontou prejuízo estimado em obras de R$192,2 milhões. São recursos destinados à construção de barragens, adutoras, açudes, pontilhões e passagens molhadas. A CGU ainda contabilizou prejuízo de R$119,7 milhões em pagamentos indevidos de Vantagem de Pessoal Nominalmente Identificada (VPNI), complemento salarial dado aos servidores.

Além dos prejuízos multimilionários, os auditores se surpreenderam com o rateio de R$34,2 milhões para a execução de convênios entre prefeituras e o Dnocs voltados a ações de Defesa Civil. De 47 convênios, 37 contemplaram municípios do Rio Grande do Norte, que contrataram R$14,7 milhões. Muitos convênios, de acordo com a CGU, recheados de irregularidades, como pagamento a empresas com "ligações políticas, com sócios de baixa escolaridade e, inclusive, empresas não encontradas, indicando serem de fachada".

Para a realocação de 40 casas no Bairro São Francisco, em Alto do Rodrigues (RN), por exemplo, a CGU não conseguiu encontrar os boletins de medição da obra. E ainda identificou direcionamento de licitação, débitos não identificados na conta corrente do convênio e suspeita de uso de laranjas para a contratação de prestadoras de serviço. Sobre os contratos de Defesa Civil com prefeituras do Rio Grande do Norte, a CGU concluiu: "Ficou evidenciada que a execução daqueles convênios está eivada de irregularidades".

O Dnocs é subordinado ao Ministério da Integração, cujo ministro, Fernando Bezerra (PSB), também destinou grande parte das verbas de sua pasta para seu estado, Pernambuco.

Aditivos no teto da Lei de Licitações

Nas obras de grande e médio portes, a auditoria separou obras antigas, cujas irregularidades não teriam sido sanadas, e novos empreendimentos, cujas suspeitas emergiram em 2011. É o caso do contrato para a execução das obras da Barragem Figueiredo, no Ceará, que teve três termos aditivos, elevando em 24,94% o valor global, no teto do limite de acréscimo previsto pela Lei de Licitações: pulou de R$78 milhões para R$97,37 milhões.

Para a CGU, a Comissão de Fiscalização do Dnocs concordou com o pagamento de indenização à empresa contratada - Galvão Engenharia S/A - "sem fundamentos técnicos consistentes". O valor pago indevidamente pode chegar a R$3,6 milhões. Em 16 de outubro de 2011, de acordo com o diretor Elias Fernandes, a Comissão de Fiscalização foi integralmente substituída. Nessa obra, a CGU estimou superfaturamento de R$3,65 milhões.

Em suas considerações finais, o relatório de auditoria aponta "incapacidade" da direção do Dnocs para reagir frente aos problemas apresentados e atribui aos diretores a responsabilidade pelo não atendimento de recomendações de controle, apresentadas ao longo dos últimos anos:

"Não raras vezes, os projetos não atingem os objetivos propostos, seja quando a execução é direta, seja na indireta, mediante a celebração de convênios... Esse quadro é agravado pelo fato de que as recomendações do controle interno não são tratadas de forma efetiva pela direção da autarquia".

Elias afirmou que a auditoria não o "intimida" e contestou a responsabilidade pelas irregularidades constatadas. Fernandes reconheceu falhas gerenciais, criadas, segundo ele, por "40 anos" sem concurso público, que fez o número de servidores cair de 6,7 mil para 1,8 mil nos últimos 20 anos.

- Eu discuto qualquer ponto desse relatório e digo que não houve nenhum desvio de recursos por parte dos dirigentes. Se houve pela Comissão de Fiscalização, isso está sendo apurado. Se as prefeituras estão fazendo errado, a fiscalização que está lá vai dizer. Agora, não houve negligência do órgão - afirmou o diretor-geral do Dnocs, antes de negar que o ministro Fernando Bezerra (Integração Nacional) tenha lhe pedido o cargo.

Elias Fernandes também negou favorecimento às obras do Rio Grande do Norte, sob o argumento de que os recursos foram pulverizados em diversas prefeituras, que receberam, em média, R$400 mil cada. O mesmo argumento foi utilizado pelo líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves:

- Como que esse dinheiro (14,7 milhões), para atender a dezenas de municípios prejudicados por calamidades, pode ser favorecimento? Consegui esse dinheiro para o meu estado com muito sacrifício, com muita luta. É uma coisa simplória.

FONTE: O GLOBO

PPS pedirá investigação de ministro

O PPS anunciou que vai entrar com uma representação na Procuradoria-Geral da República contra o ministro das Cidades, Mário Negromonte, e integrantes do seu partido, o PP. A sigla quer que a PGR investigue a suposta participação do ministro e aliados em reuniões com um empresário para discutir um projeto do Ministério das Cidades.

Adenúncia foi feita ontem pelo jornal Folha de S.Paulo. Na representação, o partido pretende pedir a abertura de uma apuração no âmbito criminal contra Negromonte, além do grupo que teria participado das conversas que ocorreram na casa do deputado João Pizzolatti (PP-SC) em 2011. Segundo o advogado do PPS, Renato Galuppo, a ação vai mencionar a Lei de Licitações.

O próprio ministro, que já foi alvo de outras denúncias e pode ser trocado na reforma ministerial, participou de um dos encontros na casa de Pizzolatti. As conversas, segundo a reportagem, permitiram que a empresa, a Poliedro Informática, se aproximasse da equipe de Negromonte e discutisse o assunto com o governo antes de outros interessados. Após os encontros, o dono da Poliedro e um lobista foram recebidos no ministério por dois homens de confiança de Negromonte, em 9 de agosto.

A pasta quer contratar uma empresa para gerenciar suas redes de computadores e monitorar obras do PAC. O valor do contrato é estimado em R$ 12 milhões, mas pode alcançar R$ 60 milhões.

FONTE: ZERO HORA (RS)

Blogueira cubana oficializa apelo ao Brasil e põe Dilma em saia-justa

Cuba: blogueira faz pedido oficial a Dilma

Yoani Sánchez entregou carta na Embaixada do Brasil em Havana para visitar o país; ela já tentou sair da ilha 20 vezes

Chico de Gois, Pedro Armestre/AFP, Desmond Boylan/Reuters

BRASÍLIA. A presidente Dilma Rousseff, embora repita que não se envolve em assuntos internos dos países, sente-se apertar por uma saia-justa criada pela situação política em Cuba, onde chega no dia 30 para reuniões com o presidente Raúl Castro. Ontem, a blogueira Yoani Sánchez, uma das mais conhecidas vozes dissidentes na ilha, disse, no Twitter, que entregou uma carta na embaixada brasileira em Havana com o pedido formal para que Dilma interceda a seu favor e ela possa viajar ao Brasil.

No início do mês, Yoani havia postado um vídeo na internet pedindo o auxílio de Dilma para participar da exibição do documentário "Conexão Cuba-Honduras" na Bahia, em fevereiro. O filme, dirigido pelo cineasta Dado Galvão, tem como tema a liberdade de imprensa em Cuba e no Brasil e inclui uma entrevista com a blogueira. Ela já havia tentado deixar o país em outras 20 ocasiões.

- Dilma já viveu isso na pele. Temos esperança de que seja sensível - disse Galvão, que organiza um protesto digital, em que as fotos de cada perfil nas redes sociais seriam trocadas pela de Dilma sob interrogatório em 1970.

Até então, o Itamaraty dizia que não se manifestaria a respeito porque nenhum pedido formal havia sido protocolado. "Desde sexta-feira, 20 de janeiro, entreguei na Embaixada do Brasil em Havana a carta a Dilma Rousseff. Agora espero resposta", disse Yoani no Twitter.

O Itamaraty confirmou a entrega do pedido, mas não informou o que Dilma fará. O governo agora será pressionado a se manifestar publicamente sobre o tema. Ainda não se sabe se a presidente tratará de direitos humanos na visita, mas o Itamaraty disse que o chanceler Antonio Patriota abordou o assunto quando esteve na ilha, na semana passada, para acertar a visita presidencial. Patriota se reuniu com o chanceler Bruno Rodríguez, e eles conversaram sobre o assunto no âmbito de discussões no Conselho de Direitos Humanos em Genebra.

Na época, o dissidente Wilman Villar Mendoza já agonizava. Após sua morte, outros dissidentes disseram que gostariam de se reunir com Dilma, mas não há nenhuma manifestação favorável por parte do Brasil.

O "Granma", jornal oficial do regime, em editorial de ontem, chamou Mendoza de preso comum e disse que há interesses de outros em explorar o caso.

Em fevereiro de 2010, quando Lula visitava Cuba, morreu o preso político Orlando Zapata Tamayo depois de 85 dias de greve de fome. Na ocasião, Lula lamentou a morte e, pouco tempo depois, acabou criando um mal-estar ao comparar presos políticos a criminosos comuns.

País libertou três "prisioneiros de consciência"

A Anistia Internacional disse que três cubanos considerados "prisioneiros de consciência" foram libertados na sexta-feira: Ivone Malleza, Ignacio Martinez e Isabel Haydee. A Anistia estava prestes a conceder esse status a Villar, pouco antes de sua morte.

Para o presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais, o embaixador Luiz Augusto de Castro Neves, se Dilma tratar de direitos humanos ou de casos como o de Yoani, o fará em caráter reservado, nas reuniões com Raúl Castro.

- O tratamento público do assunto pelos meios de comunicação pode não ser o mais eficaz. Ela pode preferir uma abordagem junto às autoridades - disse ele.

Para Williams Gonçalves, professor de Relações Internacionais da UERJ, Dilma deve se concentrar em uma agenda de desenvolvimento da economia.

- Lula destoou da nossa história diplomática em 2010. Dilma deve respeitar a não interferência em assuntos internos.

Para Alexandre Hecker, professor de História Contemporânea da Universidade Mackenzie, é mais factível uma ação em órgãos como o Conselho de Direitos Humanos ou a Assembleia Geral da ONU, para que Cuba tenha uma postura mais tolerante.

- Ela não vai dar apoio às Damas de Branco - resume.

Colaboraram Janaina Lage e Silvia Amorim

FONTE: O GLOBO

Presidente minimiza falhas do Enem na saída de Haddad

A presidente Dilma Rousseff usou solenidade no Planalto para elogiar o Enem e blindar Fernando Haddad, que deixa o Ministério da Educação para disputar a Prefeitura de São Paulo. O Enem apresentou problemas, como vazamento de questões, e se tornou marca negativa da gestão de Haddad. Dilma reconheceu que o Enem tem problemas, mas "é um grande caminho". "Nós somos seres humanos. Quando tem erros a gente tem de aprimorar. Ninguém está dizendo que nada é perfeito."

Dilma lança "vacina eleitoral" para Enem

Na saída de Fernando Haddad da pasta da Educação para disputar Prefeitura, presidente cria discurso de defesa do controverso exame

Tânia Monteiro, Rafael Moraes Moura,

BRASÍLIA - Para tentar imunizar o candidato petista à Prefeitura de São Paulo de críticas durante a campanha eleitoral, a presidente Dilma Rousseff usou cerimônia ontem no Planalto para elogiar o Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) e, com isso, procurar blindar Fernando Haddad, que deixa hoje o Ministério da Educação.

Na solenidade, que marcou a despedida de Haddad do cargo, a presidente não apenas elogiou o ministro, como aproveitou para fazer a defesa do Enem. A prova foi alvo de erros e problemas, como o vazamento de questões, e transformou-se em marca negativa da gestão de Haddad que os adversários pretendem atacar.

"É a forma mais democrática de acesso dos jovens brasileiros ao ensino universitário", afirmou Dilma sobre o Enem. "É um exemplo da determinação do ministro Fernando Haddad no sentido de assegurar uma transformação e uma "deselitização" do ensino universitário no País."

Para afastar o fantasma do Enem, o governo federal fará duas edições do exame só em 2013, o que evitaria desgastes para Haddad na disputa. Neste ano, a edição de abril foi cancelada e haverá provas apenas em novembro, após um eventual segundo turno das eleições.

Dilma reconheceu que o Enem enfrenta problemas, mas afirmou que ele "é um grande caminho" e classificou o vestibular como "sistema antigo e antiquado" e "elitista". Para justificar os problemas do Enem, a presidente comentou: "Nós somos seres humanos. Quando tem erros, a gente tem de aprimorar; ninguém está dizendo que nada é perfeito; está dizendo que (o Enem) é um grande caminho".

Numa cerimônia esvaziada pelo recesso parlamentar, a ponto de cadeiras vazias terem sido recolhidas do salão do Palácio, e marcada pela ausência da senadora Marta Suplicy (PT-SP), que também desejava concorrer à Prefeitura, Haddad disse que era "justo poder celebrar a conclusão de um ciclo".

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Com aliança em jogo, Campos visita Lula

Daiene Cardoso, Gustavo Uribe

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) almoçou na tarde de ontem com o presidente nacional do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, na sede do Instituto Lula, na capital paulista.

A reunião, a convite do ex-presidente Lula, teve duração de duas horas e foi acompanhada pelos ex-ministros Luiz Dulci, Franklin Martins e Paulo Vannuchi, que integram a entidade.

O encontro ocorre no momento em que o PT enfrenta uma divisão interna em torno da sucessão à Prefeitura de Belo Horizonte. A cúpula petista deve decidir até o dia 25 de março se terá candidato próprio na capital mineira ou se irá aliar-se ao PSDB para trabalhar pela reeleição do atual prefeito Marcio Lacerda (PSB).

A assessoria do governador informou que a visita foi um "encontro de cortesia", em que foram tratadas amenidades.

Ainda segundo a assessoria, os dirigentes do PT e do PSB devem ter um novo encontro após o carnaval, quando deverão ser tratados assuntos políticos. O almoço também teve a participação da primeira-dama de Pernambuco, Renata Campos.

Oficialmente, o motivo da viagem do governador de Pernambuco a São Paulo era uma audiência com o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, no fim da tarde de ontem.

"Foi um encontro de amigos, fiquei feliz que Lula vem atravessando bem o tratamento, está animado e não vê a hora de levar uma vida normal", afirmou, em nota, o governador.

O ex-presidente se submeteu na manhã de ontem à 14.ª sessão de radioterapia no combate a um câncer de laringe, diagnosticado em outubro passado.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

'Nós temos um compromisso com a presidenta Dilma e com o presidente Lula', diz Pezão, vice- governador do Rio de Janeiro

Entrevista ao jornal O Dia, domingo passado.

Voltando à sucessão...

Eu vou fazer o que for melhor para o Sérgio, depois para o PMDB. O meu compromisso é com o Sérgio. Com muita tranquilidade, eu me considero no lucro. Saí de uma cidade de 15 mil votos (Piraí, onde Pezão foi prefeito), 25 mil habitantes... Chegar a vice-governador do estado com esse prestígio todo: ligo para a presidenta, converso, ela me liga. (O ex-presidente) Lula tem um carinho especial, me trata igual a um filho — a mim, ao Sérgio... O Sérgio, acho que eu sou o sexto filho dele. Isso aí você não faz plano. Acho que governador e Presidência da República é destino ou o cavalo passou ali e você tem que saber a hora de poder pular em cima.
O senhor vê Cabral como presidente da República?

Eu vejo. E acho que seria extraordinário para o País. Não agora. Nós temos um compromisso com a presidenta Dilma e com o presidente Lula. O projeto deles é o maior projeto para nós. (Depois de) Tudo o que eles ajudaram a gente, a gente seria ingrato de torcer contra o governo deles. Então, acho que não é o momento.

Ele poderia vir como candidato a vice-presidente?

Mas é o que ele fala: vai torcer contra o Michel, que é presidente do nosso partido? Se ele está com Dilma, torce pelo Michel. Vai mudar a chapa para quê? Assim, como ele não quis também comigo, não podemos querer para a Dilma tirar o vice dela. Acho que o maior projeto que a gente tem é o do Lula e o da presidenta Dilma, que é o projeto do Sérgio e o meu projeto. Aí, depois vê. Acho que ele pode ser um ministro. Tenho certeza de que ele vai ser o maior eleitor de 2014, para presidente da República e para governo do estado. Acho que ele é um grande eleitor. Vai fazer um governo que vai sair consagrado.

FONTE: O DIA

Para FH, nome natural ao Planalto é o de Aécio

Ex-presidente deu declaração em entrevista a revista inglesa; ele previu luta interna forte no PSDB, mas não descartou hipótese de Serra concorrer

Bruno Boghossian

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso apontou o senador mineiro Aécio Neves como "candidato natural" do PSDB à Presidência em 2014. Em entrevista à revista britânica The Economist, FHC previu, no entanto, uma "luta interna muito forte" entre Aécio e o ex-governador de São Paulo, José Serra, pela indicação do partido nas eleições nacionais.

O ex-presidente destacou que o PSDB precisa de unidade para escolher o nome que disputará a Presidência pelo partido. Questionado sobre quem seria o "candidato natural", FHC respondeu sem rodeios: "Aécio Neves".

Ele conversou com a jornalista Helen Joyce no dia 12 de janeiro, antes do anúncio de Serra de que não concorreria à Prefeitura da capital paulista para e dedicar a um projeto nacional. A entrevista foi publicada no site da revista, conforme antecipou ontem o estadão.com.br.

O presidente de honra do partido não retira Serra da disputa, mas indica que o ex-governador pode desistir para promover a renovação da sigla. FHC chega a compará-lo ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foi derrotado três vezes nas urnas, mas se manteve na disputa à Presidência até ser eleito, em 2002.

"O ex-governador Serra desempenha o papel do Lula: ele tem coragem, ele gosta de competir. Eu não sei até que ponto ele vai estar convencido de que isso não é para ele, de que deve abrir espaço para os outros", avalia Fernando Henrique.

Já a participação do governador paulista Geraldo Alckmin na disputa nacional de 2014 foi praticamente descartada por FHC.

O ex-presidente criticou a campanha tucana à Presidência em 2010, quando Serra foi derrotado por Dilma Rousseff no 2º turno. Ele afirmou que "o PSDB cometeu erros enormes" e insinuou que o fracasso se deveu ao isolamento de Serra no partido.

Perguntado pela jornalista se o partido conseguiria vencer com o mesmo candidato, Serra, FHC foi reticente: "Talvez não".

O ex-presidente acredita que Aécio tem forças para vencer.

"Aécio é de uma cultura brasileira mais tradicional, mais disposta a estabelecer alianças. Ele tem apoio em Minas Gerais. São Paulo não é assim, é sempre dividido, é muito grande", disse.

Aliados do senador mineiro comemoraram a avaliação de FHC na entrevista. Eles acreditam que o ex-presidente pode ajudar o partido a se unir em torno da candidatura de Aécio.

"Hoje, nove entre dez tucanos olham para o futuro e veem a cara do Aécio", afirma o presidente do PSDB-MG, Marcus Pestana.

O senador Aloysio Nunes Ferreira (SP) reconhece a influência de Fernando Henrique nas decisões partidárias do PSDB, mas avalia que o nome do candidato do partido para 2014 deve ser definido por prévias. "Eu acho que (Aécio) ainda não é um candidato natural. Precisamos de uma escolha com legitimidade para cimentar uma união em torno dela", diz. O Estado pediu a José Serra um comentário sobre a entrevista de FHC, mas não houve resposta até o fechamento desta edição.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

CUT cobra decisão rápida sobre fim do imposto sindical

João Villaverde

BRASÍLIA - O movimento sindical está a um passo de uma cisão sem precedentes em seis anos. A Central Única dos Trabalhadores (CUT), a maior dentre as seis centrais sindicais, enviou uma carta ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Cezar Peluso, solicitando "celeridade" na votação de ação sobre a extinção do imposto sindical. A atitude isola a CUT no movimento sindical, uma vez que as demais centrais, capitaneadas pela Força, são favoráveis à manutenção do imposto, tal qual as entidades patronais.

Na carta, a que o Valor teve acesso, a CUT afirma que "o atual modelo de financiamento dos sindicatos, baseado no imposto sindical deve ser mudado, para que tenhamos organizações mais representativas e fortalecidas". A tese da CUT é antiga - ao receber os recursos repassados pela União, que no ano passado totalizaram cerca de R$ 1,2 bilhão ao movimento sindical, os sindicatos não são incentivados a atuar em prol dos trabalhadores, uma vez que os recursos são garantidos.

Arrecadado de maneira compulsória de todos os trabalhadores formais desde 1943 (que contribuem com o equivalente a um dia de salário), o imposto sindical é dividido entre sindicatos (que ficam com 60% do total), federações (15%), confederações (5%) e, desde 2008, com as centrais sindicais (10%). O restante vai para o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).

A CUT defende a substituição do imposto sindical por uma "taxa negocial", definida por cada sindicato em assembleia com a categoria. O fim do imposto sindical também pode abrir caminho para o fim da unicidade sindical, bandeira antiga da CUT - assim, uma mesma categoria em um único município pode ser representada por vários sindicatos.

A tese da CUT, contrária ao imposto sindical desde sua fundação, em 1983, foi esquecida pela central, ligada ao PT, quando o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva permitiu o repasse dos recursos, por meio da Lei 11.648, de abril de 2008. Pela lei, as centrais, então excluídas do repasse do imposto sindical (que contemplava, desde sua criação no governo Getúlio Vargas, apenas sindicatos, federações e confederações), passaram a receber os recursos e, de quebra, ficaram desobrigadas a prestar contas ao Tribunal de Contas da União (TCU). Apenas no início do ano passado, depois de embolsar mais R$ 70 milhões entre 2008 e 2010, a CUT voltou a defender sua extinção.

Desde 2008 tramita no STF uma ação direta de inconstitucionalidade (Adin), que propõe o fim do repasse do imposto sindical às centrais. A Adin foi proposta pelo DEM, partido de oposição aos governos Lula e Dilma Rousseff, fortemente apoiados pela CUT, que é ligada ao PT. "A vontade [da CUT] de se isolar é tão grande que fez, por linhas tortas, o PT apoiar uma tese do DEM. Como dizia [Leonel] Brizola, "o PT é a UDN de tamancos"", criticou um dirigente da Força Sindical, segunda maior central do país, e ligada ao PDT, partido fundado por Brizola em 1980.

A CUT, no entanto, não quer colar sua crítica ao imposto sindical à política do DEM. A Adin ajuizada pelo DEM prevê, também, que o reconhecimento dado às centrais em abril de 2008, junto ao repasse do imposto sindical, seja anulado. Em declaração oficial ao site da CUT, o secretário-geral da central, Quintino Severo, afirma que "iremos lutar para que apenas o imposto caia e dê lugar a uma forma de sustentação [do movimento sindical] de fato democrática. Não faz sentido modificar [o reconhecimento], apenas o imposto".

Em compasso de espera no STF há dois anos, quando o ministro Carlos Ayres Britto pediu vistas, a votação sobre a Adin está empatada. Três ministros já se declararam favoráveis ao fim do imposto sindical (Joaquim Barbosa, Cezar Peluso e Ricardo Lewandowski), enquanto três são contrários (Marco Aurélio Mello, Cármen Lúcia e Eros Grau). Além de Ayres Britto, restam ainda os votos de Gilmar Mendes, Luiz Fux e Rosa Maria Weber. Rosa Maria votará pois a ministra que ocupava o assento no Supremo quando a votação foi iniciada - Ellen Gracie - não chegou a votar. Já o ministro José Antonio Dias Toffoli declarou-se impedido de votar. "O STF precisa ser rápido, porque o repasse de 2012 já vai começar, e se quisermos cortar essa conta milionária ainda em 2013, a votação precisa ser concluída neste primeiro semestre", afirma um líder da CUT nacional, que preferiu não se identificar para evitar "maiores discussões com o movimento sindical".

Desde o fim de 2006, quando o então presidente Lula transferiu o Ministério do Trabalho do PT e da CUT para o PDT e a Força Sindical, e iniciou o debate sobre a política de valorização do salário mínimo (mantida pela presidente Dilma), o movimento sindical está unido nas principais questões políticas. O auge da união entre as seis (CUT, Força, UGT, CTB, NCST e CGTB) aconteceu nas eleições presidenciais de 2010, quando Dilma recebeu o apoio explícito das seis centrais.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

PT e PSD estão próximos em dois terços das capitais

Cristian Klein

SÃO PAULO - Assim em São Paulo, como em outras capitais. A parceria entre o PSD, do prefeito Gilberto Kassab, e o PT pode ocorrer em pelo menos 17 cidades que são sedes de Estado. Apenas em cinco das 26 capitais, os dois partidos estão em nítida oposição que deverá impedir uma aproximação nas eleições municipais de outubro. Em outras quatro, a situação é de indefinição, conforme mostra levantamento feito pelo Valor.

A aliança, que na maioria das cidades era improvável, de acordo com levantamento semelhante feito em maio do ano passado, passou a encontrar terreno fértil - seja pela adesão local à estratégia camaleônica de Kassab, seja pela força das circunstâncias ou pela combinação de ambas. Em São Paulo, o prefeito ofereceu ao PT o vice da chapa encabeçada pelo ministro da Educação, Fernando Haddad, durante visita ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em tratamento contra um câncer na laringe, no hospital Sírio-Libanês.

Petistas e pessedistas estão próximos especialmente em capitais onde governadores do PT ou de aliados da base federal abriram as portas e facilitaram a criação do PSD no ano passado.

Os casos mais emblemáticos são de Salvador e Aracaju. Em Sergipe, o PSD é praticamente uma sublegenda organizada pelo governador petista Marcelo Déda. Durante negociação com Kassab, Déda disputou e ganhou o comando do PSD, então cobiçado pelo grupo do senador Eduardo Amorim (PSC) e de seu irmão, o empresário Edvan Amorim (PTB), que controlam nada menos que 11 partidos médios, pequenos e nanicos no Estado.

Na Bahia, o governador Jaques Wagner (PT) abençoou o projeto de seu vice, Otto Alencar, que queria se livrar do PP e embarcar na fundação do PSD. Com a ajuda, a nova sigla construiu no Estado uma de suas seções mais fortes e tem ali a segunda maior bancada na Assembleia Legislativa. O agradecimento virá com o apoio automático ao deputado federal Nelson Pellegrino, pré-candidato do PT à Prefeitura de Salvador.

"Em 2012, será a hora de pagar uma conta muito grande. Somos devedores e, nas grandes cidades, não vamos relutar em apoiar quem nos ajudou", afirma Saulo Queiroz, secretário-geral do PSD.

Queiroz também cita os casos de Recife, em Pernambuco, e Fortaleza, no Ceará, onde os governadores Eduardo Campos e Cid Gomes, ambos do PSB, em aliança com o PT, foram parceiros.

Essa mesma dívida de gratidão é responsável e explica, em parte, os casos em que PT e PSD estão muito distantes, como em Belém e Curitiba, capitais de Estados onde Kassab contou com a colaboração de governadores tucanos, adversários dos petistas.

No Pará, o presidente estadual do PSD é o secretário de Infraestrutura e Logística, Sérgio Leão. No Paraná, "não há interesse" em desagradar Beto Richa, aliado de Luciano Ducci, que tenta reeleição. O prefeito pertence ao PSB, partido presidido por Eduardo Campos, com quem Kassab tem uma aliança.

O presidente estadual da sigla, o deputado federal Eduardo Sciarra, diz que o partido ainda avalia a possibilidade de candidatura própria - pois tem o deputado estadual mais votado em Curitiba, Ney Leprevost -, mas confirma que a tendência é de apoio a Ducci. O PT, que faz oposição ao prefeito, estuda compor com o ex-deputado federal tucano e seu algoz em Brasília durante o escândalo do mensalão, Gustavo Fruet, agora no PDT.

"Do mesmo modo que em São Paulo, não existe impedimento [para aliança], mas o quadro é este", afirma Sciarra, indicando a distância em relação ao PT.

Além de Curitiba e Belém, em outras três capitais, todas de baixa densidade eleitoral, a chance de união é remota: Vitória, Rio Branco e Macapá.

Em Vitória, no Espírito Santo, o presidente do diretório municipal do PSD, Max da Mata, ex-DEM, tenta articular candidatura própria e é o nome mais identificado como opositor à administração do prefeito João Coser, do PT, que se divide entre o apoio ao ex-governador Paulo Hartung (PMDB) e à correligionária e ministra de Políticas para as Mulheres, Iriny Lopes.

Em Rio Branco, PT e PSD não se bicam, já que o Acre é um dos raros Estados onde a sigla de Kassab é oposição tanto ao prefeito da capital quanto ao governador, ambos petistas.

No Amapá, o controle do PSD está com representantes do grupo do senador José Sarney (PMDB-AP), adversário do governador Camilo Capiberibe (PSB), que tem em sua base de apoio o PT. O presidente regional da legenda, o deputado estadual Eider Pena, afirma que "a dificuldade maior" é com o PSB, e não com os petistas, mas reconhece ser difícil uma aproximação. Mesmo assim, não deixa de entoar discurso ao estilo kassabiano. "Não somos nem oposição, nem situação. Temos posição", diz. Questionado sobre se a parceria nacional entre Kassab e Eduardo Campos não poderia mudar a política de aliança, o deputado, ex-PDT, aponta para o seu cacique. "Kassab não tem relação só com Campos, mas também com Sarney", afirma.

Em compensação, no Maranhão, Estado de origem de Sarney, o senador deve levar o PSD, também sob suas rédeas, ao encontro de uma candidatura petista. O vice-governador Washington Luís surge como nome de seu grupo político para a Prefeitura de São Luís.

Tendo ou não um intermediário, o PSD se esforça rumo à aproximação com o PT mesmo em situações em que o histórico de seus integrantes é de rivalidade local, como os oriundos do DEM.

"Não, não... Nada impede a aproximação. Esse foi um dos motivos para a nossa saída do DEM. Eles [o PT] são oposição, mas o governador [Raimundo Colombo, do PSD] os recebe e atende seus pleitos", argumenta o deputado estadual Gelson Merísio, presidente da sigla em Santa Catarina, sobre a situação de Florianópolis.

No Rio Grande do Norte, a criação do PSD foi um processo traumático e causou o rompimento entre o vice-governador Robinson Faria, ex-PMN, e o DEM, da governadora Rosalba Ciarlini e do senador José Agripino Maia, presidente nacional do partido. Faria entregou os cargos e foi para a oposição, tornando uma aliança com o PT mais factível na corrida à Prefeitura de Natal.

Em Porto Alegre, é o PT - e os demais concorrentes - que tentam se aproximar do PSD. Curiosamente, o Rio Grande do Sul é um dos Estados onde a sigla de Kassab nasceu mais fraca - está organizada em 21% dos municípios e tem apenas cinco (0,01%) prefeitos de um total de 496 - mas é dirigida pelo popular deputado federal e ex-goleiro do Grêmio, Danrlei. Ele diz ter conversas mais avançadas com o PT, cujo pré-candidato é o deputado estadual Adão Villaverde, e com o PCdoB, da federal Manuela D"Ávila. "Minha relação com os dois é maravilhosa e já existia antes", afirma Danrlei.

Em três capitais, além de Florianópolis, a relação entre petistas e pessedistas é ambígua ou indefinida. Em Goiânia, o PSD tem grande participação no governo de Marconi Perillo (PSDB), mas o deputado federal Armando Vergílio, que cogita se lançar à disputa, não descarta apoio ao prefeito Paulo Garcia, do PT, que tenta reeleição. Em Porto Velho, um ex-petista, o deputado estadual Hermínio Coelho, pré-candidato, pode se reaproximar, caso haja mudança na direção do partido, envolvida em grande escândalo de corrupção que atingiu líderes de várias siglas na Assembleia. E, por fim, há Belo Horizonte, capital que vive o impasse do consórcio atípico em torno do prefeito Márcio Lacerda (PSB), que não sabe se contará, mais uma vez, com o apoio dos rivais nacionais PT e PSDB.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

A sociedade civil em ação :: Rubens Barbosa

Em 2004, em uma das mudanças que mais causaram polêmica na sociedade brasileira, o Congresso Nacional aprovou a Reforma do Judiciário e a criação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

O CNJ visa a coordenar, planejar e supervisionar a administração da Justiça. Entre suas competências incluem-se a definição e limitação dos vencimentos dos magistrados e servidores, o fim da prática do nepotismo, observando a qualificação e a impessoalidade no recrutamento de funcionários, a instituição do voto aberto e fundamentado nas promoções e remoções de juízes, passando a prevalecer a qualidade e a produtividade na movimentação da carreira. E ainda a apuração de possíveis desvios éticos e morais na conduta de alguns magistrados e servidores.

O CNJ tem sido alvo de críticas de magistrados, sobretudo de Tribunais de Justiça estaduais, que o vêm como instrumento de interferência indevida, por se tratar de controle externo ao Judiciário. Nesse sentido, a atuação do CNJ foi contestada pela Associação dos Magistrados Brasileiros, que pediu liminar para suspender itens da resolução do CNJ que disciplina os processos contra juízes. Em meados de dezembro, por liminar (provisória) concedida pelo ministro Mello, os poderes do CNJ para investigar e punir juízes suspeitos de irregularidades foram limitados pelo entendimento de que o CNJ não pode atuar antes das corregedorias dos tribunais e deve apenas complementar o trabalho destas.

Agora, em reação às posições contrárias ao CNJ, conselheiros estão apresentando propostas para tornar o órgão mais transparente e democrático. As alterações que serão debatidas nesta semana, entre outros aspectos, modificam os poderes da presidência do órgão.

A corrupção, que, no Brasil, está adquirindo um caráter sistêmico, aparentemente teria atingido também o Judiciário. A pedido do CNJ, o órgão do Ministério da Fazenda incumbido de apurar casos de lavagem de dinheiro, o Coaf, apresentou relatório indicando movimentações bancárias atípicas de magistrados e servidores que teriam chegado a mais de 850 milhões de dólares entre 2000 e 2010.

A revista "Interesse Nacional" (http://interessenacional.com), em sua edição especial de janeiro, dedica-se integralmente à discussão do Poder Judiciário e reúne artigos de respeitados nomes da área jurídica, protagonistas e artífices das transformações empreendidas nos últimos oito anos. Os textos são assinados por expoentes do Poder Judiciário, como os três ex-presidentes da Corte Gilmar Mendes, Ellen Gracie Northfleet e Nelson Jobim, a corregedora nacional de Justiça, Eliana Calmon, o presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante Junior, o ex-presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros Mozart Valadares Pires e três professores da Escola de Direito do Rio de Janeiro da FGV - Joaquim Falcão, que foi membro do CNJ, Diego Werneck Arguelhes e Pablo de Camargo Cerdeira. Os autores foram convidados pelo Conselho Editorial da "Interesse Nacional" justamente por defenderem um papel de relevo para o CNJ, posição encampada pela revista.

O presidente do Supremo Tribunal Federal, Cezar Peluso, trata da reforma do Judiciário e da PEC dos Recursos e Desenvolvimento.

O Conselho Nacional de Justiça, na verdade, tem contribuído para o fortalecimento da democracia, da ética e dos direitos individuais e ajuda o país a acelerar a prestação jurisdicional, uma vez que impôs planejamento estratégico fracionado em metas. Isso tem levado o Poder Judiciário a superar a prática de funcionar sem projeto e de personalizar a administração e suas realizações, como afirma Eliana Calmon.

Pela primeira vez, o Poder Judiciário, até aqui considerado hermético, passou a ser fiscalizado também por representantes da sociedade civil, entre eles membros do Congresso Nacional, do Ministério Público e da Ordem dos Advogados do Brasil.

A discussão em profundidade e objetiva dessa questão é útil para a compreensão dos passos que o Brasil vem dando para consolidar e aperfeiçoar suas instituições democráticas, notadamente na área da Justiça.

Rubens Barbosa é editor responsável da revista "Interesse Nacional" e presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp.

FONTE: O GLOBO

Dilma, quatro anos em quatro:: Vinicius Torres Freire

Obsessão de gerenciar o curto prazo a fim de atingir meta de 4% de crescimento pode ser contraproducente

Dilma Rousseff entrou pelo segundo ano de seu governo sem apresentar, de modo organizado e claro, suas metas e meios.

No tema que diz respeito a estas colunas, não sabemos o que a presidente quer fazer da economia.

Por estes dias, Dilma ajusta com seus ministros o que um deles chamou irônica e reservadamente de "business plan" (plano de negócios) para 2012. De mais importante, ao que parece, estão sendo decididos:

1) o tamanho da contenção de gastos;

2) o tamanho do investimento federal;

3) estímulos ao crédito para estimular a economia.

"Plano de negócios" é uma expressão adequada para um "governo gerencial". "Gerência" é um termo vago, mas não sugere estratégia de longo alcance ou mudanças importantes, apenas a administração mais comezinha, decerto crucial, porém em si mesma míope.

Desde o ano passado a gente ouve ministros a falar dos 4% de crescimento da economia, piso dilmiano. Nesta temporada de reuniões gerenciais, a gente ouve muito e de novo: 4%. O governo vai passar quatro anos gerenciando as ações a fim de alcançar 4% de crescimento?

A meta é só política (manter o mínimo para a vitória eleitoral)?

Ou o gerenciamento dos 4% implica uma visão de médio prazo da economia? Além do mais, é possível manter um crescimento regular de 4% sem mudança maior, sem projeto que vá além da gestão de estímulos pontuais à economia?

Gente do governo diz que 4% é um mínimo porque, nessa toada, a receita de impostos cresce num ritmo suficiente para manter um superavit fiscal mínimo, para pagar o crescimento "vegetativo" da despesa e, a depender do ano, para até fazer algum investimento maior.

Outros dizem também que, além de permitir algum investimento do governo (que tende a induzir investimento privado, em alguns setores ao menos), os 4% são um ritmo de crescimento que induz empresas daqui e de fora a investir, com ou sem governo. Seria um ritmo que mantém vivo o "espírito animal" no empresariado e atrai investimento externo para o mercado crescente.

Nesta visão, como é fácil deduzir, a eventual poupança insuficiente é um problema a ser sanado pelo crescimento; a inflação é literalmente administrável (e pode ser tolerada num nível superior à meta atual).

Enfim, o acionamento de botões e manivelas de curto prazo dá conta do crescimento duradouro a 4%.

Dá? O governo está preocupado com a indústria, que estagnou em 2011 e não será brilhante em 2012.

A indústria sofre por causa da combinação de real forte e inflação alta, que encarece o produto nacional, e ainda por causa do barateamento de produtos estrangeiros, decorrente do excesso da oferta de manufaturados num mundo que cresce pouco (afora os danos de impostos altos e infraestrutura ruim).

Esses e outros empecilhos muito enraizados não se resolvem com gerências. Assim como não se resolve com miopias o sério e difícil problema de falta de mão de obra qualificada, que eleva custos e é um obstáculo à inovação, por exemplo. A educação para o trabalho (e não só, mas fiquemos no mais urgente) deveria ser um tema central de Dilma, que, no entanto, mal fala a respeito.

A mera gerência, enfim, implica modorra institucional e, no fim das contas, econômica.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Leve brisa:: Míriam Leitão

Uma leve brisa dissolveu o excesso de temores com os quais este ano começou. Ativos estão se recuperando em vários países do mundo, análises começam a contemplar a hipótese de ter se evitado o pior, os bons indicadores estão sendo mais ressaltados. Segundo o economista Alexandre Schwartsman, momentos de alívio e de aumento de tensão vão se alternar.

As primeiras declarações dos líderes europeus, especialmente Angela Merkel e Nicolas Sarkozy, no réveillon, foram de apagar qualquer brinde ao ano novo. Disseram que 2012 será pior do que 2011. Mas, agora, o ambiente desanuviou um pouco. Segundo Alexandre, sócio-diretor da Schwartsman e Associados, há vários motivos para este momento, mas nenhuma garantia de que ele veio para ficar:

- O mundo viverá momentos de tranquilidade e depois de piora, mas o fim da crise europeia ainda vai demorar muito. A comemoração agora é que ficou menos provável o cenário do derretimento nuclear depois que o Banco Central Europeu (BCE) avisou que daria aos bancos funding ilimitado por três anos. Agora já se sabe que nenhum banco vai quebrar por problema de liquidez.

Se algum vier à lona, será por ter problemas mais estruturais. Por outro lado, a ideia do BCE de, com isso, financiar indiretamente os governos não está garantida. Não podendo emprestar para os governos, o BCE dá liquidez aos bancos para que eles rolem as dívidas de países encrencados. Alguns analistas consideram que já está acontecendo e que é por isso que os governos da Itália, Espanha e até da Grécia conseguiram bons resultados em leilões de dívida.

- Mas não está garantido que os bancos vão usar essa liquidez para comprar títulos. É um salto de fé. E esta solução é meio capenga. Esse dinheiro pode simplesmente voltar ao Banco Central - diz Alexandre.

Ontem foi um dia particular porque a ação da Petrobras subiu com o anúncio do nome da nova presidente. Depois de uma perda de mais de R$70 bilhões de valor de mercado no ano passado, a ação este ano acumula alta de 18%. Não é a única. A ação da MRV já subiu 29,5%. Há outros exemplos. No conjunto, o Ibovespa acumula alta de 9,9%. O índice Dow Jones está no maior patamar desde maio passado, apesar de ontem ter sido dia de realização de lucros.

Álvaro Bandeira, da Ativa Corretora, disse que desde o começo do mês entraram US$3,5 bilhões em investimento estrangeiro na Bovespa. Por isso, apesar de investidores terem vendido ações para ter lucro com algumas altas, não houve queda no preço dos ativos.

Na semana passada, o Banco Mundial e o FMI soltaram análises de assustar. Em um documento, o Bird chegou a pedir que os emergentes se preparem para o pior. A Standard & Poor"s fez o que fez para assustar: rebaixou nove países da Zona do Euro. Mesmo assim, o ambiente está mais calmo.

- Todo mundo já sabe que a Grécia está quebrando. Mas a esperança é que seja um calote ordenado e não desordenado. Eu acho que a Grécia dará calote de 100% da dívida, mas as apostas são de que o haircut (a redução do valor da dívida) ficará entre 60% a 70%. O que resta a discutir é se isso vai disparar o CDS ou não - diz Alexandre Schwartsman.

Disparar o CDS significa cobrar o seguro. Quando a redução da dívida é negociada, não há cobrança de seguro.

- Se os que venderam proteção contra o risco grego tiverem que pagar, pode complicar porque ninguém sabe muito bem quem está com o mico - disse o economista.

Ele sustenta que há muita "casca de banana" no calendário até o fim do ano. Um evento no mercado bancário, uma eleição, uma rolagem de dívida podem elevar o pessimismo.

Em relação ao Brasil, diz que a bolsa sobe ou desce aqui dependendo da situação externa, nada a ver com a nossa conjuntura, que, aliás, é boa.

- Estamos já no ciclo de recuperação. O PIB do quarto trimestre não será brilhante, mas ficará positivo. O do primeiro trimestre de 2012 será melhor do que o quarto do ano passado. A inflação será menor em 2012 do que foi em 2011, em torno de 5,5% - diz Alexandre.

Álvaro Bandeira também acredita que a inflação este ano está relativamente controlada e que o país vai crescer acima de 3%. E outros motivos de alívio para ele são: Europa com vontade política para resolver a crise; EUA com dados melhores no último trimestre; inflação mais baixa na China.

Nada disso está garantido. Na verdade, o mercado ficou tão pessimista, e derrubou tanto os ativos no ano passado, que chegou a um ponto de várias empresas boas, aqui e lá fora, estarem com preços de mercado abaixo do valor real. Além disso, as sucessivas reuniões dos líderes europeus e declarações de que o euro será sustentado, qualquer que seja o custo, ajudaram a afastar momentaneamente os temores, até que outro evento aconteça. Até a Croácia deu motivo ao mercado de apostar que há uma chance de solução da crise do euro. Apenas 44% dos eleitores compareceram, mas os que foram disseram majoritariamente que querem ir à bordo da moeda comum. Pode ser apenas isso, uma breve brisa, mas enquanto ela sopra é um alívio, depois de meses em que só se ouvia falar nos vários cenários de colapso da Zona do Euro.

FONTE: O GLOBO