domingo, 6 de abril de 2014

Opinião do dia: Rolf Kuntz

No caso da Petrobrás, ainda falta uma boa estimativa dos danos acumulados na gestão petista. A lista dos erros é enorme e inclui a compra das instalações de Pasadena, a construção da refinaria Abreu e Lima e as perdas causadas pelo controle de preços, mas esta lista é provavelmente muito incompleta. Uma boa CPI poderia ajudar no esclarecimento das perdas e de como ocorreram, mas o governo tem feito - e deverá fazer - um enorme esforço para impedir a elucidação de uma das histórias mais escandalosas da política brasileira.

Incompetência é apenas parte da explicação do desastre das estatais, do estrago nas contas públicas, da persistência da inflação, da estagnação econômica e dos erros cometidos na política industrial. A gestão de baixa qualidade reflete igualmente uma certa forma de ocupação da máquina governamental. O PT ocupou, loteou e usou o governo, em seus vários níveis, como se, por direito de conquista, se houvesse apropriado legitimamente desse aparelho. Se nada mais puderem fazer, os cidadãos inconformados talvez possam ainda recorrer a um expediente: perguntar se a tão falada função social da propriedade vale também para a máquina transformada em patrimônio privado pelo grupo instalado no poder.

Rolf Kuntz, jornalista, “Do lobisomem à lenda urbana da gerentona”, O Estado de S. Paulo, 05 de abril de 2014.

Dilma cai seis pontos em pesquisa de intenções de votos do Datafolha

Em sondagem realizada esta semana, presidente aparece com 38% das intenções, contra 44% em fevereiro. Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), seus principais adversários, porém, pouco avançam

O Globo

SÃO PAULO - Pesquisa Datafolha divulgada no site do jornal Folha de S.Paulo, neste sábado, mostra que as intenções de voto na presidente Dilma Rousseff (PT) caíram seis pontos percentuais desde fevereiro, data da sondagem anterior. Lá, Dilma aparecia com 44% das intenções de votos, e na pesquisa realizada entre os dias 2 e 3 deste mês, ela tinha 38% das intenções.

Apesar da perda de terreno da presidente na corrida à reeleição, as intenções de votos em seus principais adversários permanece praticamente inalterada. O candidato Aécio neves (PSDB), que em fevereiro tinha 16% das intenções de votos, aparece agora com o mesmo percentual, enquanto que Eduardo Campos (PSB), variou de 9% para 10% da intenções. Os demais candidatos de partidos menores ficaram com 6% das intenções de votos.

De acordo com o Datafolha, cinco cenários foram apresentados aos eleitores. E apenas no que a ex-senadora Marina Silva (PSB) aparece como candidata, o pleito iria para um segundo turno. Marina teria agora 27% das intenções de voto, quatro pontos a mais que em fevereiro, e 12 pontos atrás da presidente Dilma, que nesse cenário teria 39%.

Perguntados a avaliar as realizações da presidente Dilma, 63% dos entrevistados disseram que ela fez menos do que esperava (eram 34% os que faziam essa avaliação há dois meses). E o percentual dos que disseram que ela fez o esperado ficou em 23%, abaixo dos 43% que tinham essa avaliação em fevereiro.

O Datafolha identificou também entre os eleitores uma piora nas expectativas de inflação: para 65% dos entrevistados a inflação vai aumentar, contra 59% em fevereiro.



Veja também os gráficos na Folha:

Dilma cai 6 pontos no Datafolha; Aécio e Campos mantém índices

Presidente registra queda diante de expectativa pessimista na economia e suspeitas sobre compra de refinaria da Petrobrás

O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - A presidente Dilma Rousseff caiu 6 pontos porcentuais em pesquisa Datafolha divulgada na tarde deste sábado, 5, e obteve 38% das intenções de voto. As entrevistas foram realizadas nos dias 2 e 3 de abril. No levantamento anterior, feito nos dias 19 e 20 de fevereiro, Dilma obteve 44%. Apesar da queda, a presidente ainda seria reeleita em primeiro turno, se as eleições fossem realizadas agora.

No cenário mais provável da disputa de outubro, Dilma está 12 pontos à frente da soma de seus dois principais adversários, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o ex-governador Eduardo Campos (PSB-PE). Na pesquisa divulgada no sábado, o mineiro manteve os 16% obtidos em fevereiro e o pernambucano oscilou de 9% para 10%, ou seja, dentro da margem de erro de 2 pontos.

A única possibilidade de realização de segundo turno, segundo o Datafolha, seria com a entrada de Marina Silva (PSB) no lugar de Campos. A ex-ministra obteve 27%, 4 pontos a mais do que o índice de fevereiro. Nesse cenário, Aécio oscila de 15% para 16%.

O instituto também pesquisou cenários com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na disputa. Nas duas simulações - em que o petista enfrentaria Aécio e Campos ou Aécio e Marina -, Lula tem desempenho superior ao de Dilma e venceria no primeiro turno em ambas as situações.

Segundo o levantamento, cresceu o pessimismo em relação à economia do País, o que ajudaria a explicar a queda de 6 pontos de Dilma no período. Além disso, há quase um mês o governo enfrenta problemas relacionados à Petrobrás. No dia 18, a presidente respondeu ao Estado que só aprovou a compra de uma refinaria em Pasadena (EUA) em 2006, quando comandava o Conselho de Administração da estatal, porque recebera da diretoria da empresa um documento "falho" e "incompleto". Dois dias depois, um ex-diretor da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, foi preso pela Polícia Federal acusado de corrupção passiva.

A exemplo da pesquisa Ibope/Estado divulgada no mês passado, o levantamento do Datafolha aponta que a maioria dos eleitores quer mudanças na condução do País - 72%, segundo os números divulgados neste sábado. No entanto, Aécio e Campos são os últimos nomes apontados como aptos a conduzirem essa mudança, com 13% e 7%, respectivamente. A própria Dilma tem 16% da preferência para conduzir essas mudanças, metade dos 32% obtidos por Lula e em empate técnico com os 17% de Marina.

Embora o índice de conhecimento pelos eleitores dos três prováveis candidatos seja bastante distinto, todos registraram o mesmo índice de rejeição: 33%. Dilma é conhecida ou muito conhecida por 87% dos entrevistados, ante 54% de Marina, 40% de Aécio e 22% de Campos.

O Datafolha fez 2.637 entrevistas em 162 municípios. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos. A pesquisa está registrada na Justiça eleitoral com o código BR 00064/2014.

Oposição se anima com queda de Dilma em pesquisa; PT minimiza

João Domingos e Eduardo Bresciani – O Estado de S. Paulo

Representantes dos partidos de oposição disseram que o resultado da pesquisa Datafolha mostra que eles estão no caminho certo. A pesquisa divulgada neste sábado, 5, apontou para uma queda de 6 pontos porcentuais da presidente Dilma Rousseff, estacionamento do tucano Aécio Neves em 16% e crescimento de Eduardo Campos, do PSB, de 9% para 10%, em relação à consulta de fevereiro. O PT, por sua vez, considerou que, apesar dos ataques contra a Petrobrás no Congresso, Dilma está firme na frente na intenção de votos.

Para o líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (RS), um dos coordenadores da campanha de Eduardo Campos, fica cada dia mais evidente a perda de confiança e credibilidade na presidente da República. "O Brasil parou de melhorar e tem enfrentado uma série de inconveniências na economia. Temos de considerar que a Dilma é 100% conhecida, muito diferente do Aécio Neves e do Eduardo Campos. Temos certeza de que o Eduardo vai crescer muito mais. O aumento no índice dos que desejam mudança é um bom sinal. Mostra que o Eduardo está caminho certo", disse Albuquerque.

Já o líder do PT na Câmara, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (SP), afirmou que respeita a pesquisa, que retrata um momento, bom ou ruim. "A pesquisa mostra que a Dilma está muito bem. Salvo engano, está melhor do que Lula nessa época, em 2002. Fica claro que tudo o que estão fazendo na Câmara e no Senado com a Petrobrás não está valendo a pena. E que a tentativa que fazem de destruir a Dilma não tem dado resultados. Vamos continuar nosso trabalho, pedir às bases que se dirijam às ruas e procurar outras formas de informação que não a grande mídia."

Presidente do PSDB de Minas Gerais e um dos articuladores da campanha de Aécio Neves, o deputado Marcus Pestana vê na queda das intenções de voto na presidente um indicativo de que as eleições transcorrerão sob o signo da mudança. "O importante nesse momento é a clara percepção da opinião pública de que o ciclo de governo do PT se esgotou e que o país não vai bem e que portanto é preciso mudar o rumo", afirma. "Há um clima inequívoco de mudança, em um cenário que se assemelha às eleições de 2002 e 1989", complementou.

Ele disse não haver preocupação com o fato de Aécio não conseguir herdar o eleitorado que se afasta da presidente. Na visão de Pestana, tanto o candidato tucano quanto Eduardo Campos não ocupam o mesmo espaço que Dilma na mídia e, por isso, ainda não são vistos como alternativas para a população que deseja mudança. "O nível de conhecimento do Aécio e do Eduardo é bem diferente do dela. Dilma frequenta diariamente os jornais de TV e usa e abusa das redes e rádios e TV da Presidência. A tarefa da oposição é conseguir transformar, quando tiver os instrumentos de comunicação de massa necessários, essa insatisfação, esse desejo de mudança, em alternativa de poder. Essa é a nossa tarefa", diz Pestana.

Oposição comemora queda de Dilma em pesquisa

Beto Albuquerque (PSB-RS) afirmou que presidente está perdendo confiança e credibilidade

Dilma Rousseff aparece com deficit de seis pontos em comparação à enquete anterior

Carolina Brígido, Isabel Braga e Cristiane Bonfanti - O Globo

BRASÍLIA - A oposição comemorou o resultado da mais recente pesquisa Datafolha de intenção de votos, na qual a presidente Dilma Rousseff aparece com deficit de seis pontos em comparação à enquete anterior. O líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (RS), afirmou que, segundo as pesquisas, a cada dia a presidente está perdendo confiança e credibilidade. Para ele, a melhor notícia é o aumento do percentual de entrevistados que manifestaram desejo de mudança: o índice saltou de 63% para 72%.

- Os pontos que a Dilma perdeu migraram para aqueles que querem mudança. A Dilma só não cai mais porque o Aécio Neves (PSDB) e o Eduardo Campos (PSB) ainda não são tão conhecidos quanto ela. A vida dela está ficando dura e difícil - analisou.

O tesoureiro do PSDB na Câmara, deputado Rodrigo de Castro (MG), afirmou que a pesquisa mostra a consciência do brasileiro em relação aos "descuidos" do PT e da má gestão do governo Dilma e procura um caminho novo.

- Cabe a nós, da oposição, apresentarmos essa possibilidade de mudança ao povo brasileiro. Estamos confiantes no trabalho do senador Aécio Neves e sua capacidade de mostrar que o Brasil pode mudar para melhor - disse o parlamentar tucano.

Segundo o líder do DEM na Câmara, deputado Mendonça Filho (PE), embora o Datafolha não aponte aumento no desempenho de candidatos da oposição, gradativamente isso acabará acontecendo.

- Quem acompanha pesquisa de opinião sabe que esse processo é assim mesmo, não é uma migração automática dos votos. A oposição vai ganhar (as eleições). Todo processo de migração de votos ocorre dessa maneira: primeiro tem a perda de votos, depois a migração para as alternativas. Isso vai acontecer também com ela (Dilma). Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) tendem a absorver esses votos - analisou Mendonça Filho.

Na avaliação do deputado, o mais importante da pesquisa é constatar a perda de popularidade da presidente.

- Ela está num processo de desgaste acentuado, devido ao mau governo que ela está fazendo. Tem uma situação econômica muito ruim, de estagnação econômica e inflação elevada. Também tem uma fortíssima cobrança por serviços públicos, que redundaram nos protestos do ano passado. Não houve resposta do governo, pelo contrário: a educação, a saúde, a segurança pública, os transportes, tudo isso vai muito mal - declarou.

Por outro lado, o deputado Vicentinho (SP), atual líder do PT na Câmara dos Deputados, disse ter ficado aliviado com o resultado do Datafolha. Pelo movimento observado nas redes sociais, ele afirmou que esperava números mais negativos.

- Isso prova que, com todo esse carnaval que estão fazendo no Plenário da Câmara, o povo não é besta, não é bobo. O povo sabe acompanhar e não vai se deixar levar por isso - disse o líder do PT, que ressaltou que a intenção da discussão acerca da Petrobras é “eleitoreira”.

O líder do PMDB na Câmara, deputado Eduardo Cunha (RJ), disse que a pesquisa do Datafolha confirma os números divulgados pelo Ibope na semana passada, que mostravam queda na avaliação da presidente Dilma.

- Eu não me assusto nem me empolgo com pesquisas. Trato de forma estanque. É um sinal de alerta e tem de ver os próximos movimentos - destacou Cunha, que aposta em uma eleição com dois turnos:

- Será em dois turnos e não tenho a menor dúvida disso.

Aécio diz que PT trata ABC Paulista como ‘curral eleitoral fechado’

Pré-candidato tucano à Presidência disse que petistas vão “provar do próprio veneno” e perderão eleição na região; ele voltou a defender a instalação da CPI da Petrobras

Thiago Herdy - O Globo

SÃO PAULO - O senador Aécio Neves (PSDB-MG) escolheu neste sábado o principal berço político dos seus adversários para defender sua candidatura à Presidência da República. Durante ato organizado pelo pelo PSDB em São Caetano do Sul, no ABC Paulista, Aécio provou diretamente os petistas, dizendo que tratam a região como "um curral eleitoral fechado". No evento, ele voltou a defender a instalação da CPI da Petrobras.

- Sempre ouvi as lideranças do PT tratarem o ABC quase que como um curral eleitoral fechado.

Venho aqui para dizer que nessa eleição eles vão provar do próprio veneno, porque nós vamos ganhar aqui. O ABC é constituído de gente capaz, inteligente, trabalhadora e que está percebendo o mal que o PT vem fazendo ao Brasil - disse o tucano na terra do ex-presidente Lula, completando acreditar que "ninguém é dono do voto e da consciência do trabalhador brasileiro".

Aécio devolveu no ABC o discurso de Lula em visitas recentes à Minas Gerais. Mais de uma vez, em atos das últimas campanhas eleitorais, o ex-presidente declarou que havia pessoas que tratavam Minas como "espécie de quintal em que ele são donos" e insinuou conhecer mais o interior do estado do que o ex-governador mineiro.

- São trabalhadores que veem o mal que o governo está fazendo, inclusive nessa região - disse neste sábado Aécio, no organizado por correligionários.

O tucano afirmou que nada adiantará se a sua campanha à presidência avançar em outras regiões e não avançar em São Paulo.

- Me deem a vitória em São Paulo que eu entrego a vocês a Presidência da República - disse no discurso, que contou com a presença de deputados estaduais e federais pelo PSDB, além do senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), nome mais cotado para ocupar o lugar de vice na chapa tucana que concorrerá em outubro.

Em entrevista, Aécio citou matéria publicada neste sábado pela revista "Veja", que traz trecho de mensagem em que o doleiro Alberto Youssef diz ao deputado André Vargas (PT-SP) que sua intermediação em contratos do governo garantirá a "independência financeira" de ambos.

- As revistas semanais mostram uma relação incestuosa de uma gravidade enorme, de agentes políticos importantes do PT, com grande influência no PT, dentro da Petrobras, para fazer negócio. Segundo a revista, para garantir a independência financeira deles. Isso é um acinte, uma vergonha - disse Aécio.

A ação de Vargas mencionada pela revista se refere, entretanto, à atuação com Youssef junto ao Ministério da Saúde, e não à Petrobras. O doleiro é investigado por atuar na estatal de petróleo com outro dirigente, o ex-diretor Paulo Roberto Costa, de acordo com inquérito da Polícia Federal.

Aécio reafirmou neste sábado que a oposição acionará o Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar garantir a instalação da CPI da Petrobras, ainda não instalada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o que ele considera uma "violência sem limites ao funcionamento do Parlamento".

- É vergonhosa a tentativa do governo, comandada pelo Palácio do Planalto, de impedir que as investigações em relação à Petrobras ocorram. Na terça-feira estaremos indo ao Supremo Tribunal Federal (STF) para ver respeitado o direito das minorias, disse o tucano, citando jurisprudência que prevê a instalação automática da comissão quando há o número mínimo de assinaturas e a ocorrência de fato grave.

O senador mineiro disse estar disposto a assinar qualquer pedido de CPI feito pela base aliada da presidente Dilma Rousseff. Foi uma resposta à decisão de Renan de permitir aos governistas incluir na CPI investigações que atingem governos estaduais de oposição, como o suposto cartel no Metrô de São Paulo, a construção do Porto de Suape, em Pernambuco, e transações envolvendo a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig).

- O governo quer fazer CPI sobre qualquer outro tema? Que faça, o governo tem maioria. Eu não negarei inclusive minha assinatura pessoal à outra CPI para investigar o que quer que seja, mas não impeçam a sociedade brasileira de entender de que forma a Petrobras vem sendo governada ao longo desses últimos anos - disse Aécio.

Aécio e Campos tentam usar ajuste fiscal como trunfo

Oposicionistas se aliam a idealizadores do Plano Real e aproveitam turbulência na economia para se colocarem como opção ao mercado

Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

Futuros adversários na disputa por uma vaga no segundo turno da eleição presidencial contra a petista Dilma Rousseff, o senador Aécio Neves (PSDB) e o ex-governador Eduardo Campos (PSB) abraçaram a bandeira da ortodoxia econômica e foram buscar na equipe que criou o Plano Real os formuladores de seus programas de governo.

A três meses do começo oficial da campanha, os dois oposicionistas têm enviado sinais cada vez mais claros ao mercado financeiro de que já definiram o "núcleo duro" de suas equipes econômicas e resgatarão os pilares do processo de estabilização da moeda promovido por Fernando Henrique Cardoso como mote eleitoral.

Não por acaso, o movimento da dupla acompanha o da Bolsa de Valores, que subiu na mesma medida que Dilma perdeu popularidade nas últimas pesquisas de opinião. Ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e um dos integrantes da equipe econômica que formulou o Plano Real, o economista André Lara Resende é, segundo aliados de Campos, um dos principais conselheiros do pré-candidato na formulação do seu plano de governo e o principal responsável por construir pontes com o mercado financeiro. Em entrevista recente ao Estado, Resende declarou sua preferência: "Em nome da alternância e da mudança de ângulo, eu gostaria de ver um governo de Eduardo Campos e Marina Silva". Além dele, o ex-governador conta com o filósofo e economista Eduardo Giannetti, que se aproximou por intermédio da ex-ministra.

Outra fonte de inspiração para o ex-governador é o economista Pérsio Arida, ex-presidente do Banco Central. Já Aécio Neves elegeu como seu "porta-voz" no mercado financeiro o também ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga.

O tucano revelou na semana passada mais dois nomes de peso para seu time: José Roberto Mendonça de Barros, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda entre 1995 e 1998, e Mansueto Almeida, ex-coordenador-geral de Política Monetária do Ministério da Fazenda. "Precisamos recuperar os pilares da economia que possibilitaram que o Brasil tivesse uma moeda forte. Os princípios do Plano Real são atuais", afirma o deputado Beto Albuquerque (RS), líder do PSB na Câmara.

Medidas amargas. Aécio e Campos reconhecem que a decisão de desfraldar a bandeira da ortodoxia econômica terá um alto custo político e que adotarão medidas "amargas" em suas eventuais gestões. O tucano chegou a dizer textualmente em um jantar com empresários na semana passada em São Paulo que está preparado para tomar "decisões impopulares" e a passar quatro anos com "baixos índices de popularidade".

Em encontro recente com representantes de profissionais do turismo, Aécio defendeu a flexibilização da legislação trabalhista para o setor. Em outra ocasião, disse que a política de preços administrados - quando o governo define o preço de produtos como gasolina e energia - "tem efeitos colaterais perversos".

Campos ainda não foi tão explícito, mas seus aliados seguem na mesma linha. "Quem disser que 2015 será um mar de rosas estará mentindo. Será um ano duro e de muitos ajustes", reconhece Beto Albuquerque. Para André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, os nomes escolhidos pelos dois pré-candidatos indicam que, em caso de vitória da oposição, serão feitos "ajustes severos" na economia.

"Os dois grupos são bastante ortodoxos e fazem a leitura de que é necessário um ajuste mais conservador na economia brasileira", diz o especialista. "Seria recolocada a ideia de controle da inflação no centro do norte econômico. Eles são todos monetaristas e entendem que a variável monetária é muito importante."

Impopular. Para viabilizar uma estratégia que tenha como foco o combate implacável à inflação, os dois políticos teriam de adotar um discurso pouco atrativo para o eleitorado, especialmente o da nova classe média.

"Politicamente a bandeira deles é difícil de ser vendida em uma campanha porque não tem apelo popular. Você teria que dizer para as famílias que elas terão que diminuir o consumo e que será necessário segurar o salário real, aumentar juros e diminuir o crédito", explica André Perfeito. Além disso, o Brasil teria de enfrentar um período sem a contratação de funcionários públicos e novos concursos vão acabar.

Responsáveis por um terço das doações eleitorais são fornecedores da Petrobrás

José Roberto de Toledo, Daniel Bramatti, Diego Rabatone, Lucas de Abreu Maia - O Estado de S. Paulo

De cada R$ 10 doados por empresas a candidatos e comitês nas eleições de 2010 e 2012, R$ 3 vieram de fornecedores da Petrobrás. Maior companhia brasileira, a estatal está no centro da mais ampla rede de financiamento privado de campanhas eleitorais no Brasil. Detentores de contratos com a companhia petrolífera desembolsaram ao menos R$ 1,4 bilhão em contribuições às campanhas de postulantes a presidente, governador, prefeito, deputado e senador.

Isso não implica que a Petrobrás tenha direcionado as doações - a legislação proíbe que empresas que tenham participação societária do Estado financiem campanhas eleitorais. Tampouco denota ilegalidade. Mostra, porém, o potencial de alcance político e econômico da estatal e ajuda a entender os temores de parte da classe política com a instalação de uma CPI da Petrobrás.

Levantamento conjunto do Estadão Dados e da Transparência Brasil revela que 4.792 candidatos e comitês partidários receberam recursos de empresas contratadas pela Petrobrás nos últimos quatro anos. Nas eleições parlamentares e para governos de 2010, 1.778 candidatos/comitês receberam desses fornecedores. Na disputa municipal de 2012, foram 3.014 os beneficiários. Os valores doados pelos fornecedores da Petrobrás constituem uma estimativa conservadora: o levantamento levou em consideração só os contratos assinados a partir de 2010.

Pontaria. Além de volumosa e extensa, a rede de doações é certeira. Dos 513 deputados federais eleitos em 2010, nada menos do que 330 contabilizaram doações de empresas privadas que mantêm contratos com a Petrobrás. Juntos, receberam pelo menos R$ 78 milhões para ajudar a bancar suas candidaturas. O valor pode ser ainda maior, porque não inclui as doações dessas empresas a comitês partidários, que podem beneficiar mais de um candidato.

A regra dos doadores é ter um pé em cada canoa partidária. Tornam-se, assim, centopeias político-ideológicas. O dinheiro foi doado indiscriminadamente tanto a partidos que apoiam o governo federal quanto a legendas que lhe fazem oposição. Nada menos que 24 siglas receberam recursos em 2010, e 26 em 2012.

Rateio. Nas eleições realizadas há quatro anos, candidatos e comitês do PT, que disputava o terceiro mandato presidencial consecutivo, receberam 25% do valor total doado pelos fornecedores da Petrobrás. Já o PSDB, principal partido da oposição e havia oito anos distante do Planalto, ficou com uma fatia levemente inferior: 24%.

Levando-se em conta as disputas pelos cargos de presidente, governador, senador, deputado federal e deputado estadual, candidatos do PT receberam em 2010, em conjunto, R$ 224 milhões de empresas ligadas por contratos à Petrobrás. As doações para tucanos somaram R$ 210 milhões.

O PMDB, que tem influência em diretorias da Petrobrás e é segundo maior partido da base governista, recebeu menos recursos do que o oposicionista PSDB em 2010: R$ 165 milhões, o equivalente a 19% do total.

Nas eleições de 2012, PT e PMDB ficaram com uma parcela maior dos recursos: 31% e 16%, respectivamente. Já o PSDB levou apenas 13%.

A lista dos fornecedores que fazem doações para campanhas tem 2.265 empresas. A maioria, porém, faz contribuições relativamente pequenas - apenas 117 empresas desembolsaram mais de R$ 100 mil. A concentração de poder no topo é alta: 81% dos recursos doados (mais de R$ 1,1 bilhão) saíram dos 50 maiores fornecedores.

Na lista dos maiores doadores estão as grandes empreiteiras do País, que têm outras fontes de recursos públicos e interesses em diversas áreas do governo, não apenas no setor do petróleo. Isso explica o fato de, em alguns casos, as doações eleitorais serem superiores aos valores dos contratos firmados com a Petrobrás.

Petrobras: oposição pede mais investigação após denúncias

Fornecedores pagaram mais de R$ 30 milhões a doleiro, diz revista

Junia Gama - O Globo

BRASÍLIA e RIO - Para a oposição, as revelações de pagamentos de mais de R$ 30 milhões por parte de empreiteiras e fornecedores da Petrobras à MO Consultoria, empresa controlada pelo doleiro Alberto Youssef, reforçam a necessidade de uma CPI para investigar irregularidades na estatal. As novas denúncias foram publicadas na revista “Época”, baseadas em documentos apreendidos pela Polícia Federal na casa do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Ele e o doleiro foram presos no fim do mês passado na operação Lava Jato. Costa é suspeito de lavagem de dinheiro.

O líder do DEM no Senado, Agripino Maia (RN), afirmou que no início da semana os partidos oposicionistas vão ao Supremo Tribunal Federal (STF) para garantir o início das investigações no Congresso. Na semana passada, a base governista desencadeou uma operação de guerra para inviabilizar as investigações, depois que a oposição protocolou o pedido de CPI. Esta semana será decidido no Senado se haverá CPI e o seu escopo.

— O governo vai mover céu e terra para estabelecer uma farsa de investigação, uma CPI gorda, cheia de penduricalhos. Mas iremos ao Supremo para garantir os direitos da minoria. Mostraremos que uma CPI, uma vez lida, não tem o que discutir, tem que instalar — disse Agripino.

Para o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), o noticiário mostra que o governo já vem dizendo: que as investigações estão sendo feitas por meio dos órgãos de fiscalização, como Polícia Federal e Tribunal de Contas da União (TCU), e que dificilmente a CPI vai conseguir algo além disso:

— A CPI busca a disputa política eleitoral, já que a investigação está sendo feita para valer. Nós apresentamos uma CPI, para investigar essas denúncias da Petrobras, da refinaria Abreu e Lima, do metrô de São Paulo, vamos à CPI.

O senador Aécio Neves (PSDB-SP), pré-candidato à Presidência, cobrou a instalação de CPI:

— As revistas mostram uma relação incestuosa de uma gravidade enorme de agentes políticos importantes do PT, com grande influência no PT, dentro da Petrobras para fazer negócios.

O líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque, partido do presidenciável Eduardo Campos, afirmou que as denúncias indicam uma antiga prática de desvio de dinheiro para o caixa de campanhas políticas. O Palácio do Planalto disse que não comentaria as denúncias.

Até junho, PSB quer levar dupla a 200 cidades

Para ser mais conhecido, Campos aposta em viagens regionais ao lado de Marina

João Domingos - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Com um discurso em favor de um pacto entre a União, Estados e municípios para combater a violência no País, e uma pregação a favor do crescimento econômico baseado no desenvolvimento sustentável, o pré-candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, e sua companheira de chapa, a ex-ministra Marina Silva, pretendem percorrer as 200 maiores cidades do País até junho.

A ideia é que ambos se apresentem à população da maioria desses locais juntos, para que a imagem de Campos, mais desconhecido do eleitorado, possa ser associada à de Marina e por meio dela ampliar sua taxa de conhecimento. No Nordeste, onde Campos é mais conhecido, o ex-governador de Pernambuco deverá fazer a maior parte das viagens sem Marina.

A passagem por essas localidades também leva em conta o fato de o PSB ter pouca presença nessas cidades. O partido registrou em 2012 o maior índice de crescimento nas eleições municipais daquele ano, mas esse aumento foi registrado principalmente no Nordeste e em Estados governados pela legenda: Pernambuco, Piauí e Ceará. Nesse último, o governador Cid Gomes manteve-se fiel à presidente Dilma Rousseff e trocou o PSB pelo recém-criado PROS.

Das 200 maiores cidades brasileiras, o PSB governa 13, ou pouco mais de 6%. Estão nessa lista três capitais - Recife, Belo Horizonte e Porto Velho -, além das paulistas Campinas e São José do Rio Preto e da paranaense Foz do Iguaçu.

"Achamos que a presença física, com entrevista para os meios de comunicação regionais, encontros com os empresários do lugar e reuniões políticas, poderão ser mais proveitosas do que se ficássemos apenas nas capitais", disse o líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (RS), um dos coordenadores da campanha à Presidência.

A dupla Campos e Marina só deverão suspender as visitas para participar do Congresso do partido, que também será realizado em junho, no qual será escolhida oficialmente a chapa que vai disputar a eleição presidencial. Esse congresso apenas cumprirá uma formalidade legal, porque a grande cerimônia de lançamento da chapa ocorrerá no dia 14, em Brasília, às 14 horas, numa solenidade marcada para o Hotel Nacional. Trata-se do mesmo espaço em que, no dia 5 de outubro, a ex-ministra oficializou a adesão à campanha de Campos, depois de ver o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rejeitar o pedido de criação da Rede Sustentabilidade, que não conseguiu as 496 mil assinaturas exigidas pela lei.

Segurança. Com dados da pesquisa da CNI/Ibope divulgados no dia 27, segundo os quais 76% dos brasileiros desaprovam o governo de Dilma Rousseff na área da segurança, Campos e Marina vão divulgar nas visitas um programa de combate à violência lançado em Pernambuco em 2007 e que recebeu o nome de Pacto pela Vida. Esse projeto integrou Estado e municípios na luta para reduzir a violência em Pernambuco.

Na pré-campanha, Campos pretende vender a ideia de que a violência só será contida numa ação integrada da União, Estados e municípios. Embora não tenha atingido as metas previstas nos últimos três anos, o programa reduziu os índices de violência e foi premiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Em 2013, a queda na taxa de homicídios foi de 7,6%, abaixo da meta de 12%

Ibope mostra Ana Amélia à frente de Tarso no Rio Grande do Sul

Senadora tem 38% das intenções de voto na pesquisa estimulada

Número de brancos e nulos é grande: 11% e 10%

Flavio Ilha - O Globo

PORTO ALEGRE – Uma pesquisa do Ibope encomendada pelo grupo RBS mostra que, a seis meses da eleição, a senadora Ana Amélia Lemos (PP) aparece como favorita na disputa pelo governo do Rio Grande do Sul, com 38% das intenções de voto na modalidade estimulada – quando o eleitor recebe uma ficha com os nomes dos candidatos. O atual governador, Tarso Genro (PT), tem 31% da preferência do eleitorado, de acordo com o levantamento.

O número de eleitores que disseram votar em branco ou nulo e de indecisos ainda é grande: 11% e 10%. José Ivo Sartori (PMDB) e Vieira da Cunha (PDT) completam a lista de candiatos ao governo, respectivamente com 5% e 3%. Roberto Robaina (PSOL) teve 1%.

Na consulta espontânea, quando os eleitores precisam citar o nome do candidato em quem votariam, Tarso aparece com 11% das intenções de voto, contra 8% de Ana Amélia. A pesquisa foi realizada entre os dias 27 e 31 de março com 812 eleitores.

O governador é o candidato que aparece com mais rejeição entre os consultados: 26%. O índice de Ana Amélia é menor, 10%. Nas simulações de segundo turno, a senadora venceria em todos os cenários: 48% contra 34% de Tarso Genro, 64% contra 9% de Vieira da Cunha e 64% contra 11% de José Ivo Sartori.

O levantamento também avaliou o governo de Tarso no Rio Grande do Sul. O índice de ótimo e bom ficou em 29%, enquanto a avaliação de que o governo é regular foi citada por 42% dos eleitores. Além disso, 47% aprovam o governo, contra 45% que o desaprovam. A nota média do governo ficou em 5,1%.

Contratos de serviços da estatal são 'caixa-preta'

Decreto presidencial de 1998 e decisão do Supremo dão à Petrobrás a prerrogativa de dispensar licitações na área; em um ano, foram 6.500 acordos

Murilo Rodrigues Alves - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A Petrobrás omite dados dos contratos que assina sem licitação. Documentos obtidos pelo Estado apontam que a estatal fechou pelo menos R$ 19,3 bilhões sem processo licitatório no primeiro biênio do governo Dilma Rousseff, a maior parte ligada a serviços.

Escorada em um decreto presidencial de 1998, do governo Fernando Henrique Cardoso, a Petrobrás tem prerrogativa de contratar à margem da Lei de Licitações uma gama variada de serviços, que abrange de construção a manutenção de prédios, aluguel de equipamentos, como helicópteros, vigilância, gastos com advogados e patrocínios culturais.

Supremo. A petroleira se respalda, ainda, em decisões do Supremo Tribunal Federal, que a autorizam a ficar "de fora" das compras tradicionais impostas aos órgãos públicos. A justificativa é que para uma empresa desse setor é preciso agilidade no desenvolvimento das atividades operacionais com economia.

Com base no decreto-lei 2.745/98, a Petrobrás dispensou a licitação em contratos que somam R$ 12,5 bilhões. Outra forma de não aplicar a Lei 8.666/93, é usar a prerrogativa de considerar inexigível o processo licitatório. Tendo como respaldo esse argumento, foram fechados contratos de mais de R$ 6,8 bilhões. Ao todo, em um ano, a Petrobrás assinou mais de 6.500 contratos de serviços.

Regras. Segundo a empresa, entre os casos previstos na legislação em que a licitação é dispensada ou mesmo inexigível está a inviabilidade de competição, em negócios, por exemplo, em que o fornecedor é detentor de patente ou direito autoral. Primeiro, a empresa afirmou, em nota ao Estado, que não divulga informações sobre contratos. Em seguida, esclareceu que, embora existam exceções, "a licitação é a regra para toda e qualquer contratação de obras, fornecimento de bens ou serviços para a Petrobrás".

Os argumentos que permitiram à estatal usar de um "procedimento licitatório simplificado" foram acolhidos pelo STF, que liberou a companhia da necessidade de seguir todas as exigências comuns à máquina pública em situações em que a competição não for possível ou quando houver desvantagem econômica para a petroleira. A autorização, via decreto-lei, foi dada depois que a União deixou de ter o monopólio na cessão ou concessão de jazidas de petróleo ou gás natural, em 1995.

Acima. A contratação na modalidade convite, prevista na Lei de Licitações, é a mais usada pela Petrobrás. Mas mesmo nesse caso, a empresa sai do script da Lei de Licitações, oferecendo aos concorrentes contratos muito acima do valor permitido. Nesse período dos dados aos quais o Estado teve acesso, esse tipo de contratação, pela qual no mínimo três interessados apresentam as propostas, foi responsável por negócios da ordem de R$ 39 bilhões, 62% do total contratado pela empresa entre julho de 2011 e o mesmo mês de 2013.

No entanto, a Lei de Licitações estabelece limites para esse tipo de modalidade. Para obras e serviços de engenharia, o valor estimado para a contratação não pode ultrapassar R$ 150 mil; a Petrobrás, no entanto, celebrou inúmeros negócios com valores vinte vezes superiores a esse teto.

André Vargas atuou com doleiro por contrato com Ministério da Saúde, diz revista

Em mensagem interceptada pela polícia, Alberto Youssef afirma que o negócio garantiria a ‘independência financeira’ de ambos

Contrato de empresa suspeita foi cancelado pelo governo depois das investigações, antes que houvesse pagamento

O Globo

SÃO PAULO. Mensagens interceptadas pela Polícia Federal mostram que o vice-presidente da Câmara dos Deputados, André Vargas (PT-PR), e o doleiro Alberto Youssef atuaram em parceria para tentar viabilizar a assinatura de um contrato entre uma empresa de Youssef e o Ministério da Saúde. Em diálogo descrito em relatório da PF, realizado em 19 de setembro de 2013, Youssef chega a dizer a Vargas que o negócio junto ao ministério garantiria a “independência financeira” de ambos. As informações estão em matéria publicada neste sábado pela revista “Veja”.

O objeto da conversa era um contrato que a empresa Labogen, pertencente ao doleiro, tentava assinar com o Ministério da Saúde para fornecer medicamentos. Como tem estrutura pequena, para conseguir firmar o contrato com o governo a firma precisaria se associar à EMS, empresa farmacêutica especializada na produção de medicamentos genéricos, de acordo com a revista.

No diálogo, Vargas diz ao doleiro ter encontrado um integrante da Labogen, Pedro Argese, que o teria informado sobre a proximidade de conclusão da parceria com a EMS.

"Estamos mais fortes agora. Vi o documento com o Pedro. Ele estava no voo de volta de Brasília", escreveu Vargas, mencionando documento de parceria com a EMS.

Youssef respondeu Vargas: "Cara, estou trabalhando, fica tranquilo, acredite em mim. Você vai ver quanto isso vai valer tua independência financeira e nossa também, é claro."

No dia seguinte, 20 de setembro de 2013, Youssef teria enviado uma nova mensagem ao deputado petista, relatando dificuldades para manter os negócios do grupo.

"Estou enforcado. Preciso de ajuda para captar... Tô no limite”, escreveu.

Na mesma conversa, Vargas respondeu: "Vou atuar."

Segundo a revista, no mesmo dia técnicos do Ministério da Saúde foram destacados para certificar a Labogen, informação confirmada por Youssef em nova mensagem para Vargas.

O contrato do ministério com Labogen e EMS chegou a ser assinado, tendo como objeto a produção de comprimidos de cloridrato de sildenafila (o Viagra), indicado no tratamento de hipertensão pulmonar.

Há uma semana, entretanto, quando as suspeitas levantadas pelas investigações da PF vieram à tona, o Ministério da Saúde informou que o contrato seria cancelado. Nenhum pagamento teria sido realizado para as empresas, de acordo com o órgão, que abriu sindicância para apura o envolvimento do diretor de inovação da pasta, Eduardo Jorge Oliveira, no episódio relatado.

Na última quarta-feira, em discurso na Câmara, Vargas, disse nunca ter estado no Ministério da Saúde para tratar dos interesses da Labogen. Ontem o deputado divulgou nota oficial em que informa ter “uma relação de amizade com Alberto Youssef de muitos anos”, mas considerava que “ilações decorrentes disso” estariam “servindo de julgamento pela imprensa, com fatos do passado, usando informações do presente”.

À Globonews, por telefone, Vargas negou que o doleiro tivesse oferecido “qualquer vantagem financeira a ele”. Alberto Youssef está preso desde 17 de março.

Reestruturação na Embrapa dá mais poder a áreas controladas por técnicos ligados ao PT

Empresa é considerada uma ilha de excelência técnica

Vinicius Sassine - O Globo

BRASÍLIA - A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) sempre foi considerada uma ilha de excelência técnica, tanto na condução de pesquisas decisivas para o setor quanto na escolha dos profissionais de carreira que ocupam os cargos de chefia da estatal. O atual momento do órgão vem redesenhando essa impressão. A empresa vive uma fase de aparelhamento e apadrinhamento partidário num de seus setores mais estratégicos, afrouxamento das regras para a escolha dos diretores executivos — com a predominância do critério de indicação política — desmantelamento da capacitação internacional, e forte disputa interna. Além disso, uma investigação em curso apura supostas irregularidades cometidas por sete servidores na criação da Embrapa Internacional, com sede nos EUA.

Documentos obtidos pelo GLOBO mostram que já está definida a extinção da Embrapa Estudos e Capacitação, também chamada de Centro de Estudos Estratégicos e Capacitação em Agricultura Tropical (Cecat), um projeto pessoal do então presidente Lula, inaugurado em maio de 2010. Lula pediu a criação da unidade para capacitar profissionais de outros países que atuam no campo da agropecuária, principalmente nações da África e da América Latina. Um bloco de quatro andares foi construído ao lado da sede da Embrapa em Brasília — os dois prédios estão conectados por um corredor — e os gastos somaram R$ 9,4 milhões.

A inauguração contou com a presença de Lula. Menos de quatro anos depois, a unidade sumirá do organograma da Embrapa. Uma nova secretaria será criada para abrigar a área de estudos estratégicos. A capacitação será assimilada pela área de transferência de tecnologia, cujo diretor-executivo foi indicado ao cargo por deputados federais do PT. Também o Departamento de Transferência de Tecnologia, subordinado à Presidência e a essa diretoria-executiva, é chefiado por um militante do PT, avalizado por uma das correntes — o Movimento PT.

O Cecat é uma unidade descentralizada, com maior autonomia de gestão. Com a transferência da capacitação para um departamento, os gestores com indicação política terão mais controle das atividades desenvolvidas.

No último dia 12, o presidente da Embrapa, Maurício Antônio Lopes, reuniu servidores vinculados ao Cecat para tratar da “reestruturação”. A decisão já havia sido submetida à diretoria executiva e ao Conselho de Administração da estatal, que ratificaram as mudanças. Conforme registros da fala do presidente na ata da reunião, o objetivo da extinção da unidade é “fortalecer a capacitação através do DTT”. Uma nova unidade será criada para abrigar a área de estudos estratégicos. “Não sabemos ainda se terá um formato de assessoria, departamento ou secretaria”, disse o presidente na reunião.

Um servidor falou sobre a possibilidade de “liquidação” do Cecat. “Temos de dar tempo ao tempo, este é um processo importante, que está sendo feito com cuidado e profissionalismo”, respondeu Lopes.

Em entrevista ao GLOBO, o presidente da Embrapa confirmou que o Cecat ficará fora do organograma da empresa. Isso deve ocorrer em um mês. Mas, segundo Lopes, o prédio construído e inaugurado por Lula, com diversas salas equipadas com material multimídia, continuará a ser usado e todas as atividades de capacitação serão desenvolvidas — e até mesmo ampliadas. Ofícios da diretoria mostram a constituição de uma força-tarefa para alterar o regimento interno do DTT, de forma que possa abrigar a capacitação tocada hoje pelo Cecat. Só no ano passado, a unidade descentralizada capacitou 10,5 mil pessoas, 1,5 mil delas de fora da Embrapa.

O chefe do DTT é Fernando do Amaral Pereira, servidor de carreira da Embrapa e filiado ao PT desde 1997, conforme registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ele contou com forte indicação política para ocupar cargos de chefia: de deputados federais do Movimento PT, como Geraldo Magela (PT-DF), e do senador Humberto Costa (PT-PE).

— Diretores com compromisso com o partido podem ajudar a levar mais recursos para a pesquisa — diz Magela.

— O Fernando é militante do PT, casado com uma funcionária que trabalhou comigo no Ministério da Saúde, quando fui ministro. Foi uma indicação do partido e por essa questão (do parentesco) — afirma o senador.

Já o diretor-executivo de Transferência e Tecnologia, Waldyr Stumpf Junior, contou com a indicação política de deputados federais gaúchos.

— Eu o conheci como diretor da Embrapa Clima Temperado, em Pelotas (RS). Ele me procurou, dizendo que estava disposto a ser diretor, e dei meu apoio — afirma o deputado Ronaldo Zulke (PT-RS), um dos responsáveis pela indicação.

Duas de três diretorias sob influência petista
A Embrapa tem três diretores-executivos, além do presidente. A diretora de Administração e Finanças, Vania Beatriz Castiglioni, tem ligação com o PT. A pesquisadora de carreira é filiada ao PT do Paraná, especificamente o de Londrina, desde 1990, segundo o TSE. Das três diretorias-executivas, duas são comandadas por petistas ou indicados pela sigla.

É praxe no órgão a nomeação de servidores do quadro de profissionais para as funções de confiança. Para se ter uma ideia da diferenciação da Embrapa em relação aos demais órgãos do governo federal, apenas dez servidores — de um universo de 9.870 empregados — são comissionados sem integrar o quadro efetivo do órgão.

Em abril de 2011, a atual diretoria foi escolhida por meio de um processo de seleção interna, com rigorosos critérios de escolha, análise do currículo e classificação das melhores posições, para posterior indicação dos nomes pelo Conselho de Administração e pelo Ministério da Agricultura. Isso não impediu que alguns deles contassem com indicação política. Essa seleção interna foi extinta. Os mandatos dos diretores termina neste mês e vai prevalecer, para a nova composição, a indicação política. O atual presidente, que assumiu em outubro de 2012, já chegou à função por nomeação do Planalto, sem seleção interna. Ele é pesquisador de carreira.

Ex-presidente sofre investigação
O presidente que o antecedeu, Pedro Antonio Arraes, e mais seis servidores do órgão passaram a ser investigados pela Controladoria-Geral da União (CGU) em razão de supostas irregularidades na criação da Embrapa Internacional, sediada no Estado de Delaware, nos Estados Unidos. Primeiro, o Ministério da Agricultura, ainda na gestão de Mendes Ribeiro, instaurou uma sindicância investigativa para apurar a criação da unidade. O ministro considerou que Arraes criou a Embrapa Internacional sem comunicar à pasta e ao próprio Conselho de Administração. Ele abortou a ideia, afastou o pesquisador do cargo e instaurou uma comissão de sindicância, que concluiu pela “materialidade da denúncia”. A sindicância punitiva da CGU ainda avalia provas e deve ser concluída nesta semana. Procurados, nem Arraes nem o Ministério da Agricultura comentaram a investigação.

Fernando Henrique Cardoso: Sem mistificações

- O Estado de S. Paulo / O Globo

Quando me empenhei em fazer algumas reformas e modernizar a estrutura produtiva do Brasil, tanto das empresas privadas quanto das estatais, não o fiz movido por caprichos ou por subordinação ideológica. Tratava-se pura e simplesmente de adequar a produção brasileira e o desempenho do governo aos novos tempos (sem discutir se bons ou maus, melhores ou piores do que experiências de tempos passados). Eram, como ainda são, tempos de globalização, impulsionados por novas tecnologias de comunicação e informação, como a internet, e por avanços nos sistemas de transporte, como os contêineres, que permitiram maximizar os fatores produtivos à escala mundial. Daí por diante a produção se espalhou pelo mundo, independentemente do local de origem do capital. Os mecanismos financeiros, por sua vez, englobaram todos os mercados, interligados por computadores.

Nas novas condições mundiais, ou o Brasil se integrava competitiva e, quanto possível, autonomamente aos fluxos produtivos do mercado ou pereceria no isolamento e em desvantagem competitiva, pelo atraso tecnológico e pela ineficiência da máquina pública. As privatizações foram apenas parte do processo modernizador. Tão importante quanto foi a transformação do setor produtivo estatal. O objetivo era transformar as empresas estatais em companhias públicas, submetidas a regras de governança, fora do controle dos interesses político-partidários, capazes de competir e de se beneficiar das dinâmicas do mercado.

A zoeira das oposições, Lula e PT à frente, foi enorme. Acusavam o governo de seguir políticas "neoliberais" e de ser submisso ao "consenso de Washington". A cada leilão para exploração de um campo de petróleo (especialmente daquele onde se veio a descobrir óleo no pré-sal) choviam protestos e mobilizações de "organizações populares", bem como ações na Justiça para paralisar as decisões. Com igual ou maior vigor, as oposições e os setores da sociedade que ainda não se haviam dado conta das transformações por que passava a economia global protestavam contra as concessões de serviço público, como no caso da telefonia, e iam ao desespero quando se tratava de privatizar uma companhia como a Vale do Rio Doce ou as siderúrgicas (que, aliás, foram privatizadas nos governos Sarney e Itamar).

Alegava-se que as empresas eram vendidas na bacia das almas, por preços irrisórios. Na verdade, no caso da telefonia, venderam-se 20% de suas ações, as que garantiam seu controle, por R$ 22 bilhões, preço que superou em mais de 60% o valor mínimo estabelecido. Além disso, a privatização permitiu um grande volume de investimentos nos anos seguintes, sem falar do salto tecnológico e do aumento de produção que as privatizações renderam ao País. Passamos, por exemplo, de 2 milhões de celulares nos anos 1990 a 260 milhões hoje em dia.

Dizia-se que as privatizações reduziriam os empregos, quando houve uma expansão extraordinária deles. Que a Vale estava sendo trocada por nada, quando foi difícil encontrar contendores no leilão porque seu valor, na época, parecia elevado, e se hoje vale bilhões foi porque houve investimento e ação empresarial competente (diga-se de passagem, em impostos hoje a Vale paga muito mais ao governo, por ano, do que pagava em dividendo quando era uma estatal). A Embraer, de quase falida, passou a ser uma das maiores empresas do mundo.

Isso tudo foi paralisado a partir do governo Lula, no afã de manter a pecha sobre o governo anterior de "vendedor do patrimônio nacional" e de neoliberal. Nada de concessões, privatizações nem modernização que cheirasse a globalização. Enquanto os ventos do mundo favoreceram a valorização das commodities agrominerais, graças à China, e houve abundância de dólares, a máquina econômica rodou a todo o vapor e deu a ilusão de que bastaria expandir o crédito, baixar os juros e incentivar o consumo para o PIB crescer e o bem-estar se generalizar. A crise financeira global de 2007/9 ensejou ao governo Lula a oportunidade, bem aproveitada, de fazer políticas anticíclicas, com resultados positivos. Terminados os efeitos mais dramáticos da crise, os governos de Lula e Dilma fizeram uma leitura equivocada: estava dada a licença para enterrar o passado recente dos anos 1990 e aderir sem rebuços ao populismo econômico: mais Estado, mais impostos, menos juros, mais salários, mais consumo e às favas com as concessões e modernizações, às favas com o papel regulador do Estado - pelas agências - em relação ao mercado.

Deu no que deu. O governo Dilma, premido pelas dificuldades de fazer a máquina pública andar e pela sociedade, que exige melhor qualidade dos serviços, redescobriu as concessões (ah, mas não são privatizações, dizem, como se outra coisa tivesse sido feito com as telefônicas...). E as faz mal feitas: pouco dinheiro privado e muito crédito público. Dá-se conta agora de que a retomada das empresas estatais pelos partidos, como se vê na Petrobrás e na Caixa, bem como o uso abusivo do BNDES, deu mau resultado. E ainda houve uma perda bilionária de recursos, criaram-se novos "esqueletos" (dívidas não reconhecidas publicamente) e contabilidades criativas impostas para esconder transferências de recursos não declaradas no Orçamento.

Como deve estar arrependida a presidente Dilma, no caso da Petrobrás, de não se haver desembaraçado do ônus político legado por seu antecessor, que permitiu ao interesse privado e político penetrar a fundo nas empresas estatais...

Apesar de tudo, PT e governo já se estão preparando para enganar o povo na próxima campanha eleitoral fazendo-se de defensores do interesse popular, como se este se confundisse com estatização e hegemonia partidária, e estigmatizando os adversários como representantes das elites e fiadores dos interesses internacionais.

Cabe às oposições desmistificar tanto engodo, tomando à unha o pião dos escândalos da Petrobrás, rechaçando a pecha ideológica de "neoliberal" e reafirmando a urgência de mudar os critérios de governança das estatais.

Sociólogo, foi presidente da República

Merval Pereira: Qual mudança?

- O Globo

O problema específico de Eduardo Campos é que a senadora Marina Silva, às vésperas de ser anunciada como sua vice, surge novamente como a única capaz de levar, a esta altura, a disputa para o segundo turno, com 27% da preferência do eleitorado.

A presidente Dilma está perdendo a eleição, por enquanto, para ela mesma. A possibilidade de vencer no primeiro turno, ainda mantida, está se reduzindo: a diferença para o conjunto de seus adversários, que na pesquisa anterior do Datafolha estava em 14 pontos, hoje caiu para 6 pontos, sem que os adversários tenham crescido consistentemente.

O candidato do PSDB, Aécio Neves, ficou parado, Eduardo Campos, do PSB, cresceu apenas um ponto e o conjunto dos candidatos nanicos subiu um ponto. Se por um lado a tendência de estagnação dos candidatos mais fortes mostra que o eleitorado ainda não encontrou neles a alternativa que busca para substituir Dilma, por outro a pesquisa Datafolha confirma uma tendência de queda na popularidade da presidente Dilma e na avaliação de seu governo que é perigosa a seis meses da eleição, sem que haja notícia boa para a presidente no horizonte.

Ao contrário, Dilma tem uma série de problemas pela frente, desde a aceleração da inflação, já percebida pela população, à possibilidade de racionamento de energia, até questões imprevisíveis como as manifestações na Copa do Mundo. A expectativa negativa em relação à inflação cresceu 20 pontos percentuais em 12 meses, sendo que hoje 65% dos consultados acham que a inflação vai aumentar.

A sensação de insatisfação é revelada em uma série impressionante de indicadores, como já acontecera na pesquisa anterior do Ibope que mostrou queda no nível de avaliação do governo em todas as áreas pesquisadas, da saúde à segurança pública, atingindo até mesmo o emprego, que no momento tem um nível oficial positivo recorde.

Na pesquisa do Datafolha o medo do desemprego também subiu 14 pontos. Nada menos que 72% querem que o próximo presidente atue de maneira diferente de Dilma, e a frustração com sua administração está refletida no índice de 63% dos brasileiros que dizem que Dilma faz pelo país menos do que eles esperavam, aumentando em cerca de 80% o índice de um ano atrás.

O resultado de certa maneira representa um alívio para o candidato tucano Aécio Neves, que temia que, tendo a pesquisa sido feita durante o período em que estava na televisão a propaganda eleitoral do PSB de Eduardo Campos, o ex-governador de Pernambuco pudesse abrir uma vantagem.

Como isso não aconteceu, e Aécio permaneceu no mesmo patamar da última pesquisa, o tucano continua sendo o adversário mais próximo de Dilma, embora seja também até agora o candidato tucano com menor índice nas pesquisas de opinião no mês de abril anterior às eleições. A propaganda oficial do PSDB começa nesta segunda-feira, e o partido espera alavancar sua candidatura com o programa nacional na televisão.

Eduardo Campos continua sendo o menos conhecido dos candidatos, o que faz com que permaneça no horizonte a esperança de melhorar de posição à medida do desenvolvimento da campanha.

O problema maior está mesmo com Dilma Rousseff, que terá que lidar com o aumento da campanha pela volta de Lula dentro do PT.

Dora Kramer: Vara curta

- O Estado de S. Paulo

Essa história tem 30 anos. O senador Aécio Neves lembrou-se dela outro dia, quando a pesquisa do Ibope registrou queda na popularidade da presidente Dilma Rousseff e, no PT, agitaram-se as vozes defensoras do "volta, Lula".

Mário Andreazza e Paulo Maluf disputariam a legenda da Arena para a candidatura presidencial. Para Tancredo Neves, avô de Aécio, então seu secretário particular, interessava a vitória de Maluf na convenção, pois Andreazza teria, na sua avaliação, mais condições de vencê-lo no colégio eleitoral de janeiro de 1985.

Tancredo, então, resolveu "confidenciar" a uma jornalista que corria um burburinho sobre uma possível renúncia de Maluf à candidatura. No dia seguinte, diante da manchete, Maluf desmentiu com veemência, reafirmando a postulação da qual, jurou, não desistiria de forma alguma.

Inspirado nesse episódio, o agora candidato à Presidência da República há cerca de dez dias decidiu abordar pela primeira vez o assunto da possibilidade de o ex-presidente ser candidato nesta eleição, dizendo que para ele tanto faz enfrentar Lula ou Dilma.

Voltará ao tema sempre que considerar oportuno. Oportunidade esta de atingir múltiplos objetivos. O primeiro foi lançar um dos motes da campanha, que é a ideia de derrotar "o modelo do PT" independentemente de quem for o candidato a fim de capitalizar "uma antipatia generalizada que existe contra o partido".

O segundo, desmistificar a figura de Lula como um candidato considerado imbatível. "Quis mostrar que não temos medo." Outro, e aí a provocação assemelha-se ao gesto do avô, amplificar o coro do "volta Lula" de forma a mais cedo ou mais tarde obrigar a presidente Dilma a reafirmar sua candidatura.

Qual a finalidade? Evidentemente, tornar cada vez mais difícil a hipótese da troca de nomes. Além disso, na concepção do tucano, falar abertamente na possibilidade de outra candidatura que não seja a da reeleição de Dilma é uma maneira de disseminar a cizânia no campo adversário e dar a entender que o jogo do lado de lá não está definido.

Além disso, Aécio Neves quis mandar um recado à própria tropa, pois considerou que o PSDB estava muito passivo diante do assunto. Melhor dizendo, acuado mesmo. "Achei que era hora de furar essa bolha, tratar o tema com naturalidade porque Lula não é um fantasma nem é uma unanimidade."

Arsenal. Os adversários já contam com a ausência da presidente Dilma Rousseff nos debates antes do primeiro turno das eleições.

Ainda assim vão explorar o tema Petrobrás, deixando no ar à presidente os questionamentos tanto sobre os negócios que renderam prejuízos quanto a respeito da redução do valor e da capacidade de investimento da estatal durante sua gestão.

Isso nos debates e nos programas do horário eleitoral. Dilma será convidada a explicar também por que o governo se empenhou tanto contra a CPI.

A Petrobrás será presença recorrente na campanha. Pesquisas internas feitas no campo da oposição identificaram que mais de 70% dos consultados já ouviram falar das denúncias "de corrupção" (a pergunta foi posta nesses termos) na empresa e que o assunto é de fácil entendimento por parte da população.

Tudo junto. Para tentar superar as dificuldades do PSDB no Rio, Aécio Neves vai jogar em duas vertentes: na aliança informal com o PMDB e na candidatura própria ao governo do Estado.

Enquanto no oficial assegura apoio à presidente Dilma, no paralelo Sérgio Cabral Filho cala e consente ante a articulação do voto "Aezão" por pemedebistas defensores do apoio ao tucano para presidente e Luiz Fernando Pezão, candidato de Cabral, para governador.

A fim de marcar presença do número 45 na disputa, o PSDB estuda lançar a candidatura de um economista. Está entre três nomes: Elena Landau, Edmar Bacha e Gustavo Franco.

Passados 50 anos, esquerda brasileira ainda não fez a autocrítica sobre 1964

Ex-preso político, José Arlindo diz que esquerda comente dois erros: dissociada da realidade, não previu o golpe; isolada da sociedade, optou pela luta armada

Por Ayrton Maciel – Jornal do Commercio (PE)

Dissociada da realidade do Brasil, distante das organizações sociais e sem lideranças relevantes nos movimentos de massa e nos sindicatos, uma vez que os líderes haviam migrado para o setor público. Esse era o estágio no qual chegou a esquerda em 1964, que tinha à frente o Partido Comunista Brasileiro (PCB, o Partidão) como a locomotiva das mudanças no País, nos dias que antecederam o 31 de março.

Passados 50 anos do golpe, a esquerda brasileira - na avaliação do ex-militante estudantil, ex-preso político, sociólogo e professor do programa de pós–graduação em Sociologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPA), José Arlindo Soares - ainda não fez a autocrítica da sua participação no antes e no pós-64.

“Houve um equívoco na luta armada porque ela era incompatível com a realidade nacional, com as relações de forças, com a cultura nacional, o que provocou o isolamento da esquerda”, deduz José Arlindo em entrevista ao Jornal do Commercio sobre o golpe, a ditadura e as consequências de 64.

JORNAL DO COMMERCIO – Nos meses que antecederam o Golpe de 64, a esquerda fez uma avaliação equivocada de cenário e circunstâncias), por isso também teve um diagnóstico equivocado? Não dimensionou que esse processo poderia ser quebrado por um golpe?

JOSÉ ARLINDO SOARES - Foi um golpe não só militar, mas apoiado por setores civis e com a omissão do Congresso Nacional, porque a maioria do Congresso, que sustentava o próprio governo, a aliança PTB-PSD não apoiava as propostas de reforma de base. Uma minoria do PSD apoiava as reformas. Então, quando veio o golpe, veio a omissão. Juscelino Kubischeck votou na eleição indireta para a eleição de Castelo Branco (Humberto Alencar, general primeiro presidente militar) e orientou o voto. Ulisses Guimarães, também. Depois, Ulisses muda de posição ao longo da resistência. E só uma parte minoritária do PTB, que foi cassada, é que estava defendo (as reformas de base). Quando estudei o governo Arraes (1963-1964), analisei detidamente todas as greves de 1946 a 1964, e conclui que o movimento de massa vai saindo do setor privado e se abrigando no setor público. Ele ele ficou sem nenhuma organização de base no momento da resistência. Teve alguma resistência de um dia no setor ferroviário, alguma coisa nos bancários, uma passeata muito espontânea contra a deposição e teve a resistência de dignidade de Arraes ao não renunciar diante dos militares.Mas não um movimento orgânico de resistência.

JC – O senhor diz que a esquerda tinha perdido a capacidade de diálogo, de falar para as massas, e se limitava a falar para o mesmo segmento da sociedade - aquele ideologizado, a própria esquerda - terminou por contribuir para o Golpe de 64?

JOSÉ ARLINDO – Existia grande movimentos de massa, mas não existia uma análise da relação de forças conjunturais, da conjuntura, do entorno. Por exemplo, a proposta de reformas de base teria de ser aprovada pela maioria de um Congresso que era conservador. A aliança que sustentava o Jango não tinha solidez ideológica para aprovar aquela reforma de base e a esquerda trabalhava como se aquilo fosse um processo linear que ia desembocar na reforma de base. Para fazer as reformas de base, ou teria de ter paciência e esperar o longo processo de eleições que teriam pela frente ou fazer uma ruptura institucional como Brizola propôs no comício do dia 13 (de março de 1964, na Central do Brasil, no Rio de Janeiro). Só que para fazer uma ruptura institucional não era apenas contar aquele povo que estava ali, era verificar como é que estavam as Forças Armadas, e se existia um empresariado nacional capaz de apoiar essa aliança desenvolvimentista. Acho que faltou essa análise de conjuntura de relações força, isso sem falar na questão internacional e no aguçamento da Guerra Fria com os Estados Unidos incentivando a deposição de governos progressistas.

JC - Então, a esquerda estava convencida de que se encontrava tão próxima do governo que achava irreversível o processo para chegar ao poder?

JOSÉ ARLINDO – Ela tinha perdido o contato com a realidade e com as organizações de base. Os Castelistas (militares alinhados com Castelo Branco) achavam que, no primeiro momento, eles não estavam unificados sobre qual seria a metodologia, o modelo de governo que queriam. Tanto que os partidos anteriores ao golpe continuaram existindo e chegaram mesmo a realizar eleições, em 1965, para governadores de vários Estados, tendo a oposição, com candidatos muitos moderados, ganhando em dois Estados. Ai, veio a pressão dos mais radicais para endurecer o regime, e o AI-2 inicialmente cassou os comunistas, os líderes mais proeminente que poderiam fazer alianças com comunistas, sindicalistas e intelectuais. Os Castelistas entendiam que, sem esse grupo, o regime podia continuar normalmente. Do outro lado, o grupo mais de direita e estruturado organicamente, achava que era preciso fazer uma limpeza radical na classe política e mudar todo o sistema. Foi quando o AI-2 acabou com os partidos e tirou as eleições diretas. É a radicalização do governo em cima da classe política. É ai que teve a oposição de Carlos Lacerda, Juscelino, porque eles e alguns políticos consideravam que os militares iam só arrumar a casa para devolver o País à normalidade democrática.

JC - Esse endurecimento não foi suficiente para tranqüilizar o regime?

JOSÉ ARLINDO - Porque foi um período muito ruim para o governo militar. Há uma crise econômica, o monetarismo desorganiza a economia do País, há uma depressão e uma parte da legitimidade adquirida na classe média começa a perder força. Nasce aí uma outra oposição, que não é mais aquela dos líderes políticos, mas do novo segmento que é a classe média, através do movimento estudantil, mais forte em São Paulo, Rio e Ceará. A repressão também era desigual, ainda não tinha sido instituído o sistema unificado de repressão pelo modelo DOI-Codi (Departamento de Operação e Informação, do Exército). Existia, mas ainda não sistematizada pelo regime militar. Essa fase do movimento estudantil foi uma fase de ouro da resistência, porque aproximou a oposição da sociedade.

JC - A relação que tinha sido perdida pela esquerda, antes do golpe, é retomada a partir dos estudantes pós-golpe?

JOSÉ ARLINDO - Exatamente. Essa resistência aproxima, então se faz um movimento de ruas com apoio das famílias. Havia uma grande aceitação daqueles estudantes na rua e de condenação e repúdio à ditadura e aos métodos de repressão. Ao mesmo tempo, se articulou alianças junto ao que dos partidos políticos, no caso o MDB (oposição permitida).
JC - Passados 50 anos do Golpe de 64, a esquerda não fez a autocrítica da sua participação nos fatos e circunstâncias pré-Golpe de 64. Por quê?

JOSÉ ARLINDO - Aí começa um outro grande equívoco da esquerda que é muito difícil falar, porque muitas pessoas tiveram suas vidas sacrificadas. Entre 64 e 68, a direita se organizava, tentava se unificar. Não foi fácil a luta entre as diversas facções militares, não foi fácil. Ela se organizou no AI-5. A pressão das massa, a passeata dos 100 mil (no Rio, de protesto contra a ditadura militar, em junho de 1968), a presença forte de intelectuais nas ruas, no teatro, na música popular, a greve de Osasco (São Paulo), isso fortaleceu a ala mais à direita que queria estruturar um sistema de repressão. Nesse ínterim, formou-se à margem do regime político um sistema repressivo. Claro que os caras (líderes militares) tinham o domínio, podiam não saber os detalhes, mas sabiam que tinha um sistema funcionando, que estava se organizando até 68. Não estou dizendo que o sistema foi provocado, que a repressão foi provocada pelos estudantes. Não, não foi. Os militares tinham certeza de que era preciso recrudescer a repressão. Eles estavam só estabelecendo o momento. No final de 68, depois do Congresso (clandestino) da União Nacional dos Estudantes (UNE) de Ibiúna (São Paulo), uma parte da esquerda estava convencida que era preciso partir para a luta armada.

JC – A inexistência da autocrítica sobre 64, de forma sistemática e coletiva, denota a dificuldade de assumir responsabilidades?

JOSÉ ARLINDO - É, não tem. Todo mundo tem dificuldade de se abrir completamente, e vai ter muitas discussões sobre isso. Essa questão da luta armada é uma coisa difícil (de discutir) pelo sacrifício pessoal que as pessoas tiveram. Não digo pré-64. O Prestes (Luiz Carlos) nunca explicou porque é que ele disse que estavam no governo, mas não estavam no poder, uma semana antes do golpe. Agora, a crítica não pode ser confundida como um contraditório da anistia. Uma coisa é o esquema da repressão, que haveria de qualquer forma, e que mereceria e merece punição, é violação dos direitos humanos. E é merecida a anistia aos presos. Outra coisa é dizer que houve um equívoco na luta armada porque (ela) era incompatível com a realidade nacional, era incompatível com as relações de forças, com a cultura nacional e provocou o isolamento da esquerda durante alguns anos”.

JC - Então, a esquerda equivocou-se na análise antes de 64 e cometeu um segundo equívoco de avaliação em 68, ao optar pela luta armada?

JOSÉ ARLINDO - Eu acho. O PCB não foi (para a luta armada), embora ele sofra (também) a repressão. Uma parte da esquerda, principalmente a jovem e estudantil, que fez uma crítica ao Partidão pela inanição, sai e vai para o PCBR, cria-se a Ação Libertadora Nacional (ALN). Boa parte dos grupos era dissidência do Partidão. Optam pela luta armada, que favoreceu ao isolamento, que levou a esquerda para um gueto. Um exemplo foi a Guerrilha do Araguaia, do PCdoB, que na concepção do campo cercar a cidade, vai se dar numa área absolutamente inóspita, sem nenhuma concentração de camponeses e nenhuma concentração de pequenas propriedades, não caracterizando a contradição do latifúndio. Era uma área de floresta. Longe das massas, longe de qualquer organização operária e de qualquer organização camponesa. Concepção que já havia fracassado na África e na Bolívia ( com Che Guevara).

JC - Mas era o mesmo modelo de Cuba?

JOSÉ ARLINDO - Um ilha, um País historicamente diferente. Aqui, a esquerda se isola, tanto a esquerda armada como a que eu pertencia, que também entra para a clandestinidade, o que foi uma imposição do AI-5. Era preciso organizar e mobilizar os sindicatos para uma insurreição. Só que esse discurso, que não era armado, era também um discurso que não batia na consciência da classe operária. Nós nunca conseguimos mobilizar as massas nessa direção da insurreição. Tínhamos uma participação na greve de Osasco (siderúrgicas em São Paulo), em 1968, mas em uma frente muito ampla. Já se disse que isso aguçou a repressão, pode até ter favorecido, mas a repressão já tinha uma lógica, que vinha se organizando dentro do sistema. Uma repressão paralela, embora consentida, ao regime militar. Falava-se à época que havia o sistema, que era aquilo que não se via, mas que existia. O sistema era o regime (o governo). Não acho que a luta armado tenha favorecido à repressão. Ela pode ter sido utilizada como pretexto, mas já havia uma lógica. Depois de 1967, o regime já tinha decido por aniquilar, não mais combater, mas aniquilar a esquerda.

JC - No final de 68, o general Costa e Silva decreta o AI-5, rasgando todos os direitos civis constitucionais, cassando mandatos e fechando o Congresso.

JOSÉ ARLINDO - O regime se reorganizou e tem início o milagre econômico. De 68 a 1973, a média anual de crescimento foi de 9,5%. Período de maior enfrentamento entre o regime e a luta armada. Perdemos os laços (sociais). Enquanto na fase da mobilização de massas (pré-68), havia o apoio de familiares e da sociedade, quando vem a fase da clandestinidade, os grupos (de resistência) ficam dependentes da sobrevivência, numa penúria (para atividades, ações, deslocamentos, contatos). Cada vez mais se isolavam e até o trabalho de massa ia se perdendo os contatos. A esquerda armada achava que tinha o contato (com a sociedade) pela propaganda armada, até via momentos cinematográficos, como o sequestro do embaixador norte-americano ( Charles Burke Elbrick, no Rio), e a desapropriação de armamentos (4º Regimento de Infantaria de Quitaúna, São Paulo) por Carlos Lamarca (capitão do Exército). Mas a continuidade disso levou ao homem o comum o medo e o isolamento (dos grupos).

JC – O maior exemplo disso foi o do PCdoB ao deflagrar a Guerrilha do Araguaia?

JOSÉ ARLINDO - A idéia das organizações era a de realizar ações armadas urbanas para se fortalecer e irem para o campo. Todas tinham essa mesma perspectiva. O PCdoB decidiu ir para a guerrilha rural, numa área incompatível com o próprio modelo que pregava, que era a lógica de Mao Tse Tung (líder da Revolução Chinesa). Mao trabalhou nas próprias cidades, mobilizando onde havia trabalhadores, onde existiam as contradições. No Araguaia, não tinha a base da contradição, que era a população rural organizada. Um equívoco.

JC - No começo dos anos 70, o povo começa a sinalizar que estava esgotado e queria liberdade?

JOSÉ ARLINDO - Em 1970, já havia sido os votos nulos. Teve uma repercussão o discurso (do regime) contra a esquerda, que quase aniquila com o MDB. A população estava completamente desmotivada para a política. Havia a repressão, ausência de qualquer liberdade e aí veio a avalanche de votos nulos. Em 1973, começam os sinais da crise econômica, a retomada da inflação e, nas eleições de 1974, vem a terceira fase da resistência. É a própria população que indica o caminho. A população indica o voto no MDB. Ganhou em 22 Estados ( eleição para o Senado). Houve uma repercussão no mundo, mesmo assim a repressão ainda matou parte do Comitê Central do PCB. Mas, aquela vitória do MDB foi responsável pela abertura lenta, gradual e segura do general (Ernesto) Geisel.

JC - O regime não tinha mais como postergar o processo para o seu fim?

JOSÉ ARLINDO - A gente tendia a pensar que só existe vida inteligente dentro dos partidos. Havia uma movimentação na sociedade, a Igreja tinha ampliado seus tentáculos sociais para os bairros, profissionais liberais começavam a se organizar e davam vitalidade à oposição ao regime. Deduzi: existe vida inteligente fora dos partidos marxistas. Existe uma sociedade nova, um campo de frente democrática eleitoral e social de resistência. Então, a legitimidade do governo militar é abalada na classe média, entre setores do empresariado, ressurge o movimento estudantil e as denúncias de violação dos direitos humanos toma uma dimensão maior, que sai da base da Igreja e é assumida por parte da sua cúpula. Isso vai mudando bastante as relações de força, que se estabelece na discussão sobre a anistia (1979), as libertação dos presos políticos e a volta dos exilados.

JC - Foi a última fase da resistência ao Golpe de 64?

JOSÉ ARLINDO - A última fase da resistência é essa, na qual novas forças entram em cena, novos personagens, organizações sociais, o chamado novo sindicalismo, que é oriundo do velho, que mudou por dentro. Aliás, a estrutura sindical é a coisa mais duradoura no Brasil (vem do Estado Novo), passou pela redemocratização de 1946 e os militares mantiveram a sua estrutura. O sindicalismo continua seguindo a sua trajetória tradicional.

JC - E a geração de 1968, por onde anda?

JOSÉ ARLINDO - Boa parte voltou-se para atividades técnicas ao sair da prisão, outra parte menor tornou-se militante e dirigente política. Uma parte no PT, outros no PSDB. Muitos trabalharam nos movimentos sociais. A geração maior entre 64 e 68, do movimento estudantil, chegou parcialmente ao poder através de Dilma. Porque Lula não é nem dessa geração, ele chega via estrutura sindical quando a ditadura está já no período claudicante. Uma parte dos que tiveram militância clandestina chegou ao poder. Assumiu que o País teria de marchar para uma democracia ampliada, social, sem aquela visão do socialismo de modelo que tinha propostas de estatização dos meios de produção, o Estado centralizado, o corpo do partido comandar o Estado.

JC - É o caso do PT?

JOSÉ ARLINDO – Acho que é o caso de alguns episódios. Vez por outra se vê pessoas falando em controle de imprensa. Aonde ocorreu isso, no mundo, levou à ditadura. Essa esquerda podia ser mais moderna. Não ficar namorando o Irã e mantendo laços com ditadores africanos. Acho que a esquerda não absorveu totalmente suas próprias experiências, suas responsabilidades. Embora que, em sua maioria, haja responsabilidade com o Estado de Direito. A Dilma tem responsabilidade com o Estado de Direito, ela tem responsabilidade.