Programa: Versão Preliminar, aprovado do XX Congresso do Cidadania (12/3/2022)
1 – O lugar político do Cidadania
O mundo vive há décadas sob o impacto de
mudanças profundas e aceleradas. Problemas globais graves emergem, com elevado
potencial de destruição no futuro próximo; seu equacionamento exige soluções
globais; aceitar a dependência recíproca entre as nações e a necessidade de
cooperação entre elas é imperativo.
Essa nova situação revelou as limitações
dos grandes blocos políticos formados ao longo do século XX. A experiência
comunista chegou a seu fim em 1991, com a dissolução da União Soviética e o fim
dos regimes da Europa do leste. A alternativa social-democrata viveu a crise do
estado de bem-estar social a partir da década de 1970, atingido em seus
fundamentos pelas inovações tecnológicas e o repique do processo de
globalização. Finalmente, a ortodoxia econômica liberal, aparentemente
vitoriosa, veio a pique na crise econômica global de 2008, crise na qual o
mundo ainda permanece.
Além do esgotamento dos grandes sistemas
político-ideológicos, é traço constitutivo da crise que vivemos a resistência
tenaz às mudanças indispensáveis. O novo reacionarismo assume diversas facetas:
a nostalgia dos autoritarismos, o negacionismo climático, o recrudescimento do
chauvinismo e do belicismo, a recusa em considerar a exclusão e a desigualdades
como questões centrais da pauta política mundial.
Do outro lado, temos o conjunto de
tentativas de reconstrução de uma agenda progressista, nos planos nacional e
global, a partir de cinco diretrizes básicas: democracia contra autoritarismo;
cosmopolitismo contra chauvinismo e localismo; equidade e inclusão, contra o
abandono de políticas sociais; a pauta da sustentabilidade, contra o
negacionismo ambiental; e a responsabilidade econômica contra o voluntarismo
fiscal.
Esse é o lugar que o Cidadania pretende
ocupar no espectro político nacional. Uma vez que, nessa agenda polifacetada o
combate à exclusão e à desigualdade por meio de políticas públicas é o aspecto
mais premente para a grande maioria da população, o Cidadania se posiciona no
campo da esquerda. Uma esquerda moderna e renovada, contudo, que converge com
os movimentos de cooperação entre social-democratas, verdes e liberais no
continente europeu, assim como com a virada dos democratas americanos no rumo conhecido
como Green New Deal.
O Cidadania soma-se a todas as
personalidades e forças políticas progressistas num chamado para a rearticulação
e fortalecimento da social-democracia na política brasileira. A tarefa não é
simples e tem desafiado, até o momento, os esforços de partidos de maior porte
e histórico significativo nas lutas sociais do Brasil após a redemocratização
do país.