segunda-feira, 18 de abril de 2016

Câmara aprova prosseguimento do impeachment de Dilma

• Às 23h07 deste domingo, 17, a oposição ao governo da presidente petista alcançou os 342 votos necessários para a admissibilidade do processo; governo diz que lutará no Senado

- O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A Câmara dos Deputados aprovou neste domingo, 17, o prosseguimento (admissibilidade) do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff no Congresso. A vitória da oposição, que atingiu os 342 votos necessários às 23h07, dimensiona o isolamento político da petista. Apesar de ter oferecido cargos em troca de votos, Dilma não conseguiu reunir os 172 apoios para travar o impedimento na Casa. Apenas PT, PC do B e PSOL permaneceram totalmente fiéis ao lado de Dilma na votação em plenário, que começou 17h46. A presidente, segundo relatos colhidos pelo Estado, afirmou que não renunciará ao cargo para o qual foi eleita pela segunda vez em 2014 e disse que vai lutar para manter o mandato no Senado.

A vitória da oposição foi comemorada nas ruas das principais capitais brasileiras, logo após o plenário da Câmara dos Deputados ter referendado o relatório do deputado Jovair Arantes (PTB-GO), que recomendou o julgamento de Dilma no Senado pelo crime de responsabilidade.

De acordo com o relator, a presidente desrespeitou a lei na abertura de créditos suplementares, por meio de decreto presidencial, sem autorização do Congresso Nacional e tomou emprestados recursos do Banco do Brasil para pagar benefícios do Plano Safra, nas chamadas pedaladas fiscais. Dilma nega ter cometido crime. A sessão deste domingo foi presidida por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por conta das investigações da Operação Lava Jato.

A partir de agora, confirme o rito do impeachment determinado pelo Supremo, o processo será analisado pelos senadores. O vice-presidente Michel Temer (PMDB) acompanhou a votação no Palácio do Jaburu, junto de aliados. Conforme o STF, Temer só assumirá o cargo se Dilma renunciar ou após o Senado considerar a denúncia admissível e decidir que ela precisa ser afastada por até 180 dias, período no qual acontecerá o julgamento final da presidente na Casa, composta por 81 senadores. A previsão é de que essa etapa do processo dure ao menos até a primeira quinzena de maio.

Neste domingo, o Placar do Impeachment no Senado do Estado mostra que a situação é desfavorável ao governo: 44 favoráveis ao impeachment e 21 contra o afastamento da presidente.

Oposição derrota Dilma na disputa por apoio de deputados indecisos e não declarados

• Presidente e seus aliados tinham esperança de conseguir margem entre os congressistas que não haviam tomado decisão, mas estratégia não teve sucesso

Paloma Rodrigues - O Estado de S. Paulo

Entre os deputados indecisos e os que não quiseram declarar voto, de acordo com o Placar do Impeachment do Grupo Estado, o governo saiu perdendo na decisão de ambos os grupos na briga para barrar o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). O governo tinha esperança de conseguir uma margem entre os deputados que ainda não haviam tomado uma decisão.

Entre os indecisos, foram quatro votos a favor do andamento do processo de impeachment: dos deputados Carlos Bezerra (PMDB-MT), José Reinaldo (PSB-MA), Marcos Reategui (PSD-AP) e Eduardo da Fonte (PP-PE). Contra o impeachment votaram Felix Mendonça Jr (PDT-BA), João Carlos Bacelar (PR-BA) e Ronaldo Carletto (PP-BA). No grupo dos indecisos, apenas Cacá Leão (PP-BA) se absteve.

Entre os que não quiseram responder previamente sobre suas intenções de voto o revés foi ainda maior. Votaram a favor da adimissibilidade do processo 10 deputados: Adail Carneiro (PP-CE), Alfredo Nascimento (PR-AM), Cabuçu Borges (PMDB-AP), Flávia Morais (PDT-GO), José Priante (PMDB-PA), Luis Tibé (PT do B - MG), Marcio Alvino (PR-SP), Miguel Lombardi (PR-SP), Tiririca (PR-SP) e Toninho Pinheiro (PP-MG).

Do outro lado, entre os que optaram por não antecipar voto e foram contrários ao impeachment, ficaram 5 deputados: Brunny (PR-MG), Dagoberto (PDT-MS), Ronaldo Lessa (PDT-AL), Wellington Roberto (PR-PB) e Jozi Araújo (PTN-AP).

Entre os que não quiseram responder, se abstiveram os deputados Mario Negromonte Jr. (PP-BA), Vinicius Gurgel (PR-AP) e Sebastião Oliveira (PR-PE).

Mudanças. O único parlamentar que deixou de somar votos para a abertura de processo do impeachment de Dilma Rousseff foi Beto Salame (PP-PA), que optou por se abster. Clarissa Garotinho (PR-RJ) já era uma baixa esperada, por estar de licença maternidade.

Por outro lado, o deputado Toninho Wandscheer havia declarado ao Grupo Estado que votaria contra o impeachment e se posicionou favoravelmente durante a sessão da Câmara no domingo.

Gorete Pereira (PR-CE) e Pompeu de Mattos (PDT-RS) se abstiveram, ao contrário do que declaram para a reportagem, de que votariam contra o andamento do impeachment.

Para Aécio, a 'luta' do impeachment ainda não acabou

• O PSDB trabalha no Senado para garantir a admissibilidade rápida do processo e calculam que, em aproximadamente dez dias, a presidente já seja afastada

Isabela Bonfim - O Estado de S. Paulo

Brasília - O presidente do PSDB, Aécio Neves (MG), afirmou que a autorização do impeachment da presidente Dilma Rousseff, aprovada pela Câmara dos Deputados neste domingo é apenas o primeiro passo e pediu mais mobilização nas ruas e no Congresso.

"A luta ainda não acabou. É preciso manter a mobilização nas ruas e no Congresso. O pedido de impeachment agora chega ao Senado e, mais uma vez, a força dos brasileiros haverá de fazer a diferença", afirmou. O PSDB trabalha no Senado para garantir a admissibilidade rápida do processo e calculam que, em aproximadamente dez dias, a presidente já seja afastada.

O senador afirmou que a admissibilidade do processo de impeachment é um momento "grave", mas também um passo importante para o País superar suas dificuldades. "Esta é uma vitória do povo brasileiro, de todos que foram às ruas para colocar limites em um governo que perdeu todos os limites. É uma vitória da democracia", afirmou.

Diferentemente de outras lideranças do partido, o senador Aécio Neves não esteve presente no Congresso Nacional hoje. Como informou o Estadão, o senador acompanhou a votação em casa, pela TV, com a família.

'Traição' e 'decepção' foram as palavras de ordem no Alvorada

• Maior surpresa, segundo interlocutores, foi com o voto do deputado Adail Carneiro (PP-CE), que esteve com Dilma no Palácio da Alvorada na tarde de sábado

Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Nomes como os dos ex-ministros da Aviação Civil, Mauro Lopes (PMDB-MG), e dos Transportes, Alfredo Nascimento (PR-AM), estão na lista das "traições" que mais decepcionaram a presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os ministros do Planalto. De acordo com interlocutores da presidente, no entanto, a maior surpresa foi com o voto do deputado Adail Carneiro (PP-CE), que esteve com Dilma no Palácio da Alvorada na tarde de sábado, 16, a convite do governador do Ceará, Camilo Santana (PT). “Ué, esse cara não passou a tarde toda aqui com a gente e foi lá e votou contra?”, queixou-se, “perplexa”, a presidente, segundo aliados. Em relação a Alfredo Nascimento (PR-AM), ex-ministro dos Transportes afastado por Dilma na “faxina” que feita por ela no início do seu primeiro mandato, todos entenderam que houve uma “clara vingança”.

A presidente acompanhou a votação na sala dos Estados do Alvorada, ao lado da biblioteca, assistindo pela TV a sessão da Câmara. Estava acompanhada pelos ministros Jaques Wagner (PT-BA), da chefia de Gabinete da Presidência, que estava conferindo o voto dos baianos, de Ricardo Berzoini (PT-SP), da Secretaria de Governo, Kátia Abreu (PMDB-TO), da Agricultura, Aldo Rebelo (PC do B-SP), da Defesa, José Eduardo Cardozo (PT), da Advocacia-Geral da União, e da Secretaria de Comunicação, Edinho Silva (PT-SP).

“Traição” e “Decepção” foram as palavras mais ouvidas no Alvorada. Na contabilidade do governo, os deputados Nelson Meurer (PP-PR) e Toninho Wandscheer (PROS-PR), por exemplo, votariam contra o impeachment, mas votaram a favor. Momento de suspense na sala do Alvorada foi na hora de aguardar o voto do deputado Waldir Maranhão, do PP, que tinha primeiro ser a favor do impeachment e desde sexta-feira estava sendo comemorado como uma vitória importante para o governo. Mudanças de votos do PSD também foram reclamadas, como de Marcos Reategui (AP), além de outras do PDT.

Temer. Os auxiliares da presidente optaram por não mostrar a ela durante a votação uma foto em que o vice-presidente Michel Temer aparece sorrindo ao assistir à derrocada da sua companheira de chapa. Na avaliação dos auxiliares, com o quadro negativo e os votos “sim” andando a galope, todos evitavam apresentar a foto para a presidente.

Apesar de a quantidade inicial de votos esperados para o governo ser de 140, o Planalto já admitia que não chegaria perto deste placar, tamanho o número de traições, seja em votos, seja em comparecimentos. Eram esperadas pelo menos 20 ausências. Foram apenas duas.

Após a votação, Dilma desistiu se fazer dar declarações ou divulgar nota. Preferiu deixar que o ministro José Eduardo Cardozo fizesse o papel de porta-voz.

Perto do fim

• Por 367 votos, 25 a mais que o necessário, Câmara aprova autorização para processo de impeachment da presidente Dilma

Aviso prévio: Dilma perto do afastamento

• Pela segunda vez após a redemocratização, a Câmara autorizou a abertura do processo de impeachment contra um presidente. Com a decisão, referendada por 72% dos deputados presentes, o processo será enviado ao Senado. Se aprovado por maioria simples, Dilma

- O Globo

Dilma Rousseff começou ontem a se despedir da cadeira de presidente do Brasil. Pouco mais de um ano depois de reeleita e de 13 anos de PT no poder, a Câmara autorizou o processo de impeachment da petista por crime de responsabilidade. Isolada, sem apoio da grande maioria dos partidos de sua ampla coalizão eleitoral, Dilma dificilmente terá forças para impedir que o Senado abra o processo e a afaste do cargo, numa votação por maioria simples, nas próximas semanas. Em guerra declarada com o PMDB de seu vice Michel Temer, maior partido do Congresso, a presidente teve menos votos do que esperava o Planalto. Foi o que se viu também nas ruas por todo o país, onde as manifestações pró- impeachment reuniram mais público do que as de apoio ao governo. 

Não surtiu efeito sequer o esforço do ex-presidente Lula, cuja nomeação como ministro para escapar do juiz Sérgio Moro, da Lava- Jato, ajudou a agravar a crise. Temer assumirá por 180 dias assim que o Senado abrir o processo Por 367 votos a 137, a Câmara dos Deputados aprovou ontem a autorização para a abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, um ano e três meses depois da eleição que lhe deu 54,5 milhões de votos. É a segunda vez desde a redemocratização que o Senado é autorizado a processar um presidente da República. Assim, após quase 24 anos da saída de Fernando Collor de Mello do Palácio do Planalto, o Congresso poderá voltar a afastar de seu mandato nas próximas semanas um presidente eleito. A eventual saída de Dilma simboliza não só uma derrota individual da presidente, mas o fim dos 13 anos de governos do PT.

A decisão foi tomada após uma série de sessões que se iniciaram na manhã de sexta- feira e tomaram duas madrugadas seguidas. A votação ocorreu sob clima de tensão. Condutor do processo e réu na Lava- Jato, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), foi alvo de faixas e gritos, mesmo entre aqueles que votaram pelo impeachment. A migração de votos foi determinante para a derrota de Dilma. Também houve, no plenário, ataques ao vice Michel Temer, que assistiu à votação em seu QG, em Brasília. Conforme avançava a votação, maior era o clima de festa no Palácio do Jaburu, residência do vice. Coube a Bruno Araújo ( PE), ex- líder do PSDB na Câmara, o fatídico voto 342, que corresponde a dois terços da Câmara, às 23h07m.

O processo segue agora para o Senado, que deve instalar já na quarta- feira a comissão especial para analisar se Dilma cometeu crime de responsabilidade ao praticar as chamadas “pedaladas fiscais”. Caso a maioria dos senadores decida abrir o processo, Dilma será afastada imediatamente por até 180 dias, enquanto a Casa analisa se há provas para cassar seu mandato em definitivo. O presidente do Senado, Renan Calheiros, deseja realizar essa votação entre os dias 10 e 11 de maio. Outros senadores, no entanto, já tentam encurtar esse prazo para afastá- la antes.

Ao longo do dia, cerca de 150 mil pessoas foram às ruas, nos 26 estados e no Distrito Federal. Contrariando expectativas de tensão, os protestos ocorreram de forma pacífica. No momento do voto decisivo, manifestantes pró- impeachment explodiram em clima de Copa do Mundo.

Após andar de bicicleta nos arredores do Palácio da Alvorada logo cedo, a presidente se fechou na residência oficial com seus mais próximos aliados e se debruçou sobre a contabilidade dos votos. Desde cedo, no entanto, o clima no governo e no PT era de pessimismo. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda voltou de manhã para Brasília na tentativa de garantir alguns votos que impedissem a derrota. Não surtiu efeito. No Congresso, o deputado Sílvio Costa ( PTdoB-PE), o mais folclórico e histriônico defensor da presidente Dilma, era um dos poucos que ainda tentavam mostrar convicção de que a vitória era possível.

A presidente acompanhou a votação com seu principal auxiliar, o assessor especial Giles Azevedo, o ministro chefe de gabinete, Jaques Wagner, o ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, e os governadores Tião Viana ( PT- AC), Waldez Goes ( PDT- AP) e Camilo Santana ( PT- CE). Lula passou a maior parte do dia com Dilma, mas voltou para o hotel que se transformou em seu QG pouco antes da votação, e retornou ao Alvorada quando 113 votos já haviam sido dados. Nesse momento, estavam todos calados no Alvorada, concentrados, fazendo as contas dos votos.

No Jaburu, o clima era oposto. Reunidos com seus assessores mais próximos, com o senador Romero Jucá e com os ex- ministros Eliseu Padilha e Henrique Eduardo Alves, Jucá e Padilha foram os principais articuladores da vitória do vice- presidente na votação de ontem e desde o início da votação viam os votos no plenário espelhar rigorosamente suas planilhas. Tranquilos, quando os cem primeiros votos pró- impeachment haviam sido dados, a vitória já era considerada garantida. No Salão Verde da Câmara, os próceres do Movimento Brasil Livre ( MBL), entre eles Kim Kataguiri e Renan Santos, faziam transmissões em redes sociais colocando o impeachment no pretérito antes mesmo de a votação se iniciar.

Com o peso da votação da Câmara, lideranças que defendem o impeachment pretendem reduzir os prazos no Senado. O novo presidente nacional do PMDB, senador Romero Jucá (RR), disse que o ritmo será definido “pelas circunstâncias”. A ideia é que haja um acordo para uma data intermediária, com a votação que pode afastar Dilma ocorrendo entre os dias 4 e 5 de maio. De acordo com o levantamento do GLOBO, 46 dos 81 senadores aprovariam o impeachment. São necessários 50% dos votos dos presentes mais um.

Efeito manada: Indecisos votam sim e abrem folga no placar

• Com clima tenso, votação é marcada por ataques a Cunha até de quem era favorável ao afastamento

- O Globo

Numa votação que surpreendeu mais por algumas das justificativas apresentadas pelos parlamentares do que propriamente por seus votos, a aprovação do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, por 367 votos, numa vantagem de 25 além do mínimo necessário, foi ampliada pela adesão da maioria dos indecisos ao voto “sim”. Após quase dez horas de uma sessão que começou com empurra- empurra e bate- boca entre deputados, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, um dos personagens centrais de ontem, anunciou o resultado final às 23h48m.

Como projetou levantamento feito pelo GLOBO junto aos deputados, e atualizado até momentos antes de começar a votação, o governo foi derrotado —e a diferença se deveu pela capacidade da oposição de aglutinar os votos ainda em disputa até o início de domingo. Dos 30 deputados que chegaram ao plenário indecisos ou não quiseram antecipar seus votos, 16 optaram pelo prosseguimento do processo. Era um grupo fundamental para o Planalto tentar evitar a derrota, mas apenas dez deles votaram “não” e quatro escolheram a abstenção.

Uma ‘traição’ e duas ausências
Todos os 350 deputados que haviam se comprometido publicamente a apoiar o impeachment confirmaram o anunciado, o que já seria suficiente para a aprovação do pedido. Dos 131 que haviam divulgado apoio à presidente, um deles mudou de lado: Adail Carneiro ( PP- CE) pediu desculpas ao ex- presidente Lula e ao exgovernador cearense Cid Gomes, mas alegou que as pressões de seu eleitorado pelas redes sociais o levaram a mudar de ideia sobre o afastamento de Dilma.

Como um sinal que indicava o caminho que o plenário seguiria, a conquista de votos dos indecisos era justamente a mais comemorada pela oposição, como aconteceu com Tiririca ( PR- SP) e o ex- ministro dos Transportes Alfredo Nascimento ( PR- SP), que votou “sim” e renunciou à liderança da legenda, que havia definido apoiar a presidente.

Foram só duas ausências entre os 513 parlamentares: Aníbal Gomes ( PMDB- CE), que alegou estar em recuperação de cirurgia, e Clarissa Garotinho ( PR- RJ). Aníbal é ligado ao presidente do Senado, Renan Calheiros, e sua ausência ajuda Renan a se manter equidistante de Dilma e Temer agora que o pedido de impeachment chegará à Casa. Já Clarissa, nas duas vezes que teve o nome chamado, foi vaiada por oposicionistas, que não acreditaram na sua justificativa médica ( ela está grávida), atribuindo sua ausência à intervenção do pai, Anthony Garotinho.

Eduardo Cunha desafiado e cusparada
Pelo menos uma dezena de deputados aproveitou o tempo de dez segundos para discursar contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que enfrenta processo de cassação do mandato no Conselho de Ética da Casa. Rivais ideológicos e regionais de Cunha, os psolistas fluminenses Glauber Braga (“você é um gângster”) e Jean Wyllis (“um ladrão”) chegaram a apelar para xingamentos. Vários outros afirmaram que Cunha não tem legitimidade para comandar a Casa e houve ainda deputados que se preocuparam em dizer que o “sim” ao impeachment não significava um acordo para poupar Cunha, negando uma suposta articulação denunciada por parlamentares como Alessandro Molon ( Rede- RJ).

— Não acho legítimo um suspeito presidir uma sessão como essa. Cunha, a sua hora vai chegar. Não é por você nem pelos seus golpes que eu vou deixar de votar sim — disse Júlio Delgado ( PSB- MG), que, em 2015, foi derrotado por Cunha na eleição para presidente da Câmara. Apesar de atacado, em nenhum momento Cunha esboçou reação às críticas que sofreu.

Jean Wyllis protagonizou ainda uma das brigas no plenário. Ao bater boca com Jair Bolsonaro ( PSC- RJ), que em seu discurso elogiou o já falecido coronel do Exército Brilhante Ustra, que admitiu ter torturado durante a ditadura, o deputado do PSOL chegou a cuspir no colega, acertando apenas seu paletó. Mais tarde, nas redes sociais, alegou ter reagido a xingamentos de Bolsonaro.

Quando se analisa o resultado de ontem pelos partidos, fica claro que a debandada de partidos aliados, que seguiram o caminho do PMDB na semana passada, foi fundamental.
Juntos, PP e PSD deram 67 de seus 82 votos para o impeachment, uma derrota fragorosa das últimas articulações do governo antes da votação. Até mesmo o PR, cujo comando do partido havia fechado questão a favor do governo após acordo com Lula, deu maioria à oposição: 25 votos favoráveis ao impeachment, dez contra e três abstenções.

O PMDB, de Michel Temer e Eduardo Cunha, foi o que deu mais votos ao impeachment. Maior partido na Câmara, foram 59 votos seguindo a orientação do “não”, contra apenas sete em defesa de Dilma, entre eles o do líder Leonardo Picciani e dos ministros licenciados Marcelo Castro ( Saúde) e Celso Pansera ( Ciência e Tecnologia).

Além disso, Temer conseguiu mostrar força para evitar perdas em partidos que o apoiavam, como o PRB, cuja bancada de 22 deputados foi unânime pró- impeachment. Do outro lado, houve defecções no núcleo duro de aliados do governo, como na bancada do PDT, na qual quase um terço ( seis em 19 deputados) desrespeitaram a orientação da liderança e votaram pela aprovação do impeachment. 

Sul e Sudeste consolidam vitória
Amazônia e Rondônia ( oito votos cada) foram as únicas bancadas a votar de forma unânime, ambas pelo impeachment. Mas foi em estados populosos do Sul e Sudeste, como São Paulo ( 57 votos a favor), Minas Gerais ( 41), Rio de Janeiro ( 34), Paraná ( 26) e Rio Grande do Sul ( 22) que a oposição consolidou a vitória.

O apoio de governadores aliados a Dilma, uma das esperanças do Planalto nos últimos dias, não conseguiu evitar a derrota por larga margem. Os estados mais populosos do Nordeste governados pelo PT foram, como esperado, os que mais deram votos ao governo: Bahia ( 22 “não” e duas abstenções) e Ceará ( 11 e uma abstenção). Já Pernambuco, terra do ex- presidente Lula, deu 18 de seus 25 votos contra a presidente Dilma. Proporcionalmente, o melhor resultado governista veio do Amapá, onde, dois oito deputados, cinco foram contra o impeachment e um se absteve.

Revolta Indignação do PT na Câmara e no Planalto

• Segundo advogado- geral da União, Dilma considera que deputados fizeram julgamento ‘ político’

- O Globo

- BRASÍLIA- Logo depois do anúncio do resultado da votação na Câmara, o advogado- geral da União, José Eduardo Cardozo, fez um pronunciamento público dizendo que a decisão foi recebida “com indignação e revolta” pela presidente Dilma Rousseff. Ele afirmou que a Câmara fez um julgamento político, contrariando a Constituição brasileira. Ele disse que, ao contrário do parlamentarismo, o sistema presidencialista prevê que um processo de impeachment seja uma situação “excepcionalíssima”.

De acordo com Cardozo, o objeto do parecer — os seis decretos de suplementação em 2015 e o atraso do pagamento ao Banco do Brasil — nunca foram discutidas em profundidade.

— Nós demostramos claramente que não havia ilegalidade nos decretos e, quando o Tribunal de Contas da União mudou de opinião, o governo não os baixou mais. Então, não se pode se afirmar que houve má- fé, não se pode falar em crime de responsabilidade — disse.

Mais cedo, antes mesmo de terminada a votação na Câmara, auxiliares da presidente Dilma Rousseff diziam que todos os esforços serão centrados no Senado. Apesar de derrota ser dada como certa entre governistas, no Planalto acredita que ainda é possível reverter o impeachment entre os senadores, já que o Senado representa a Federação e, logo, pode ser mais sensível ao mérito do impeachment, as “pedaladas fiscais”. Um auxiliar de Dilma lembrava que governadores como Geraldo Alckmin ( PSDB- SP) também praticaram as mesmas manobras fiscais em suas gestões.

— Não vamos desmobilizar. Agora é todo o esforço no Senado. O Senado é a casa da Federação, ali se reflete muito a posição dos governadores. E há muitos governadores que fizeram “pedaladas”. Ali vai ser julgado o mérito — afirmou um auxiliar de Dilma.

O foco do governo é no presidente do Senado, Renan Calheiros ( PMDB- AL). Aliado do governo, Renan pretende utilizar os prazos regimentais para estender a análise do processo no Senado. Mas senadores do próprio partido de Renan pressionam para que ele promova um rito veloz ao impeachment na Casa. A estratégia do governo é discutir o processo de forma técnica e jurídica com os senadores, na expectativa de que no Senado o peso político seja menor do que na Câmara.

— No Senado, a questão terá um tratamento mais jurídico, e vamos ter amplo direito de defesa. Vamos usar cada milímetro de direito de defesa. Entre os senadores, o governo crê que as bases são mais jurídicas e menos arbitrárias como vimos acontecer na Câmara — disse um interlocutor presidencial. 

Recurso ao  STF 
O governo já iniciou também a preparação de uma ofensiva jurídica para contestar o resultado da votação, sob o argumento de que a análise do processo extrapolou o objeto da denúncia. Na análise do governo, a decisão do STF na última quinta- feira, que manteve a ordem de votação estabelecida pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDBRJ), serviu para “delimitar” a ação e abrir margem para questionamentos a respeito da prática de crime de responsabilidade. Isso porque o presidente da Corte, Ricardo Lewandowski, disse que os atos imputados à presidente Dilma Rousseff no processo poderão ser contestados no STF.

A denúncia contra Dilma cita a prática de crime de responsabilidade por ter assinado seis decretos de abertura de crédito no exercício financeiro de 2015 em desacordo com a LDO, sem autorização do Congresso Nacional, e uma operação de crédito.

Logo após a oposição chegar ao voto 342, o ministro chefe de gabinete de Dilma, Jaques Wagner, disse por meio de nota que o governo confia nos senadores para livrarem a presidente da deposição. O ministro, que é o principal conselheiro de Dilma, classificou a aprovação como “uma página triste” da História.

“Caberá ao Senado processar e julgar a presidente Dilma, que continua no cargo até o final do julgamento. Confiamos nos senadores e esperamos que seja dada maior possibilidade para que ela apresente sua defesa, e que lhe seja aplicada justiça. Acreditamos que o Senado, que representa a Federação, possa observar com mais nitidez as acusações contra a presidenta, uma vez que atingem também alguns governadores de estado”, disse Wagner por sua assessoria.

Ele continuou no Alvorada com Dilma, com quem passou o dia todo. Em sua nota, Wagner reforçou a defesa da presidente, lembrando que ela teve 54 milhões de votos e não cometeu crime de responsabilidade. Para ele, a decisão dos deputados “ameaça interromper 30 anos de democracia no país” e o impeachment foi “orquestrado” pela oposição, que não aceitou até hoje a derrota em 2014. O líder do governo, José Guimarães ( PT- CE), saiu do plenário dizendo que a “luta está apenas começando”:

— A guerra será lenta, gradual, segura e prolongada. O vice não reúne a menor condição de comandar o país.

Próximo front - Líderes preveem rito sumário no Senado

• Com peso da votação na Câmara, maioria pró- impeachment deve ser expressiva. PT tentará esticar prazos

- O Globo

Com o peso da votação da admissibilidade do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara, líderes dos partidos no Senado já projetam um rito sumário, respeitado o cronograma imposto pelo Supremo Tribunal Federal ( STF), para votação do parecer pelo seu afastamento por 180 dias e a posse do vice- presidente Michel Temer. A tendência, segundo os líderes, é aprovar no Senado por uma maioria tão expressiva quanto na Câmara. Hoje, cerca de 50 senadores já estariam propensos a ratificar a decisão da Câmara. Levantamento feito pelo GLOBO já identificou 41 votos favoráveis, também suficiente para aprovação.

O grupo de Michel Temer já começa a definir sua estratégia para agilizar os prazos no Senado. O novo presidente nacional do PMDB, senador Romero Jucá ( RR), disse que o ritmo na Casa será definido “pelas circunstâncias". Ele defende que os prazos sejam agilizados, e que não se espere até dia 10 de maio para a votação. A ideia é que haja um acordo para uma data intermediária, por volta do dia 4 ou 5 de maio.

— O rito no Senado será decidido pelas circunstâncias, pelo relator e pela reação da população — sinalizou Jucá.

O líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira ( CE), reunirá a bancada apenas depois da leitura da decisão da Câmara pelo plenário do Senado, ou seja, na terça- feira. Eunício está resistindo à ideia do grupo de Temer de dar a relatoria para um partido aliado, para que não fique carimbado que é o partido do vice- presidente. Jucá defende essa alternativa. A senadora Simone Tebet ( PMDB- MS) estaria pleiteando o cargo. O nome da senadora Ana Amélia ( PP- RS) também está cotado para a relatoria da comissão processante.

Eunício disse a aliados que ainda não sabe se o PMDB terá a presidência ou a relatoria da comissão especial:

— Vamos tratar desse assunto com a sobriedade que ele requer, chegando ao Senado.

Lula e Dilma de olho nas eleições de 2018
O PT e o ex- presidente Lula, por outro lado, vão usar todas as armas para espichar ao máximo o calendário do impeachment no Senado para reforçar o discurso do golpe e tentar salvar o que restou do partido para a disputa de 2018. Do outro lado, a oposição e o PMDB vão brigar para virar a página em no máximo 30 dos 180 dias previstos para o julgamento final comandado pelo presidente do STF, Ricardo Lewandowski, e abrir caminho para o presidente Michel Temer inicie seu governo.

Os próprios líderes petistas já dão como perdida a batalha no Senado e o foco é salvar o partido e Lula. Com Dilma no Alvorada, petistas dizem que ela e Lula vão comandar uma mobilização nacional e internacional para denunciar o golpe, levando para o palácio lideranças de movimentos sociais e personalidades políticas internacionais para minar o governo de Temer.

— Dilma não vai ficar isolada no Alvorada esperando a sentença. Vai usar esses seis meses para denunciar o golpe ao mundo inteiro e mostrar que Michel estará acenando para o mercado e tirando direito de trabalhadores. Lula vai estar nas ruas e a mobilização vai crescer muito — diz o senador Lindbergh Faria (PT- RJ).

Os senadores do PT e do PCdoB passaram o dia acompanhando a votação, juntos, no Senado. À tarde, foram à Câmara para atuar junto aos colegas deputados. Os petistas admitem que não poderão barrar o pedido de afastamento da presidente Dilma. Hoje, contam com 28 dos 81 votos no Senado.

Mas acreditam que um desgaste do governo Temer poderá mudar o quadro na votação final do processo, ou seja, no julgamento de Dilma pelo Senado. Eles sabem que o PMDB de Temer quer correr com os prazos, mas disseram que, se isso, ocorrer, irão à Justiça. Mesmo antes da decisão, os petistas prometem transformar a vida do vice- presidente Michel Temer “num inferno" e prometem lutar pelo cumprimento de todos os prazos no Senado.

Com a perspectiva de afastamento da presidente Dilma e a perda do poder, o líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima ( PB), diz que o PT e o PCdoB vão voltar a ser os partidos de oposição da década de 1970. Diz que com a reaproximação de movimentos e setores de esquerda, o PT enterrou a Carta aos Brasileiros que ajudou a eleger Lula em 2002:

— O foco a partir dessa segunda- feira aqui no Senado é 2018. O que ouvimos dos senadores do PT é que vão bater bumbo no plenário falando de golpe, mas não estão pensando em salvar Dilma. Estão preocupados é em construir a narrativa para 2018, quando acham que Lula estará em condições de disputar de novo o Planalto.

Em contraponto com o PT e PCdoB, líderes da oposição vão fazer carga para que, dentro do rito estabelecido pelo STF, seja encerrado o mais rapidamente possível para não contaminar o início da gestão Temer. Com Dilma no Alvorada, e Lula e o MST “incendiando” as ruas, avaliam que o início da reconstrução da economia ficaria prejudicado.

— O que percebemos hoje é que a própria base da presidente da República já não vê nela as mínimas condições de retirar o Brasil do abismo no qual ela e seu governo nos mergulhou. É hora de muita serenidade. Temos um Brasil a ser reconstruído — defende o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves.

Dilema tucano

• PSDB estuda como participar de eventual governo Temer sem trair sua agenda e mantendo o projeto de candidatura própria em 2018

- O Globo

- BRASÍLIA- Após 13 anos de oposição e de perder por pouco as eleições presidenciais de 2014, o PSDB começa a formalizar hoje sua participação em um eventual governo de Michel Temer, agora que o processo de impeachment seguiu ao Senado.

O embarque numa gestão de união nacional é um dilema com o qual os líderes tucanos têm se debatido nos últimos meses. Seja qual for a contribuição, porém, o partido sustenta: uma administração peemedebista não será um governo do PSDB, e o projeto de voltar ao Palácio do Planalto com uma vitória nas eleições de 2018 não será abandonado.

Numa avaliação realista, os tucanos estão cientes de que não têm alternativa.

— Tendo promovido a queda do governo petista, não há como fugir à responsabilidade de ajudar o governo Temer a dar certo. A nossa prioridade agora é ajudar o Brasil a sair da crise; 2018 é 2018 — diz o senador Aloysio Nunes Ferreira ( SP).

Mas a sigla sabe igualmente que a adesão é uma aposta de risco, que pode cobrar um preço alto em 2018. Os adversários Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, e Marina Silva, da Rede, tendem a ocupar o espaço da oposição no dia seguinte de um eventual impedimento de Dilma.

Por isso, uma das condições tucanas é que Michel Temer assuma uma agenda de reformas e dê uma garantia firme de que o PMDB não vai desequilibrar a disputa eleitoral, tanto no pleito de 2016 quanto daqui a dois anos.

— Ele não pode levar quadros do PSDB para o seu governo e jogar pesado contra o partido nas eleições — diz o secretário-geral do PSDB, deputado Silvio Torres ( SP).

O PSDB vai entregar ainda a Temer uma agenda mínima que servirá de base para a sigla apoiar seu governo. O primeiro ponto dessa agenda emergencial, que inclui reformas estruturantes, é um compromisso “inarredável”: o apoio à continuidade da Operação Lava- Jato, que desde 2014 investiga um esquema bilionário de desvio e lavagem de dinheiro envolvendo a Petrobras, empreiteiras e políticos.

Ainda nesta linha, a partir desta semana, o PSDB fará carga pela cassação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB- RJ).

— Esse vai ser o termômetro para mostrar que o PSDB tem uma linha limite, que não tem acordão. A sociedade está atenta. Não faz sentido o PSDB abandonar sua luta de 13 anos na oposição porque o PMDB se somou a ela. É preciso deixar claro que é o PMDB que está vindo para nosso lado — diz o deputado Pedro Cunha (PSDB- PB).

Aécio Neves: ‘ Tudo vai depender do Michel ( Temer)’

• Senador tucano diz que seu partido deve ficar ao lado do PMDB caso haja compromisso com a Lava- Jato, as reformas política e da Previdência e o enxugamento da máquina pública

- O Globo

• Com qual cenário o PSDB trabalha a partir dessa segunda-feira?

A opção por novas eleições sempre foi a melhor para a oposição. Isso legitimaria um novo governo, e não desistimos disso. Mas não temos o controle temporal do julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE, que vai julgar quatro processos de cassação da chapa Dilma/ Temer), e o Brasil exige urgência. Portanto, chegamos a uma convergência de todo o PSDB sobre a necessidade de apoiar um governo de transição com o PMDB.

• O PSDB está mudando de lado?

Não estamos mudando de lado. Não seremos beneficiários da suspensão do mandato da presidente Dilma. O beneficiário será o PMDB, que governará sem votos. Mas nossa responsabilidade agora é com o Brasil. Esse não será um governo do PSDB e não desistimos de nosso projeto de chegar ao Planalto em 2018 através do voto. Vamos apoiar um projeto de reconstrução nacional, mas não estaremos mudando de lado. Se o Michel ( Temer, vice-presidente) mostrar que representa algo diferente do que foi o PT, ele é quem estará mudando de lado. Quem dará uma guinada é o Michel e o PMDB. Como as montanhas de Minas, estaremos onde sempre estivemos: na oposição.

• Há dilema em participar ou não do eventual ministério de Michel Temer? Vocês seriam copatrocinadores de medidas duras de ajuste fiscal e reformas em que o PT vai bater pesado.

Participar ou não com cargos não é um dilema para o PSDB. Como eu disse, daremos apoio para as reformas necessárias, mas esse não será um governo do PSDB. Tudo vai depender do Michel. Iniciei uma série de consultas internas e vou passar ao Michel um conjunto de medidas que são o sentimento do partido. A primeira medida é apoio absoluto à continuidade das investigações da Lava- Jato. O documento vai abordar uma agenda de reformas emergencial: reforma política para reduzir o número de partidos e melhorar a governabilidade; profunda reforma do estado para desaparelhar e blindar órgãos estratégicos; redução dos ministérios à metade; modernização da legislação trabalhista; reforma da Previdência; despolitização ideológica da nossa política externa, que tanto mal fez às nossas relações.

• A associação com o PMDB, que tem Eduardo Cunha, pode trazer desgaste?

Não estamos apoiando o PMDB nem figuras de forma individualizada. O apoio do PSDB é a um projeto para salvar o Brasil. Isso pode ter um custo para nós? Pode, mas são custos que terão que ser enfrentados.

• Essa avaliação do risco de embarcar nesse projeto, com possível efeito negativo em 2018, foi feita entre os dirigentes do PSDB?

É um risco. Mas digo sempre que podem contar comigo para correr riscos. Para aventuras, não. Se essas propostas forem encampadas, será o começo do resgate do país.

Aécio Neves diz que Dilma 'está colhendo o que plantou'

Thais Arbex – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Presidente nacional do PSDB, o senador Aécio Neves (MG) afirmou à Folha que, com a aprovação do processo de impeachment pela Câmara, a presidente Dilma Rousseff (PT) "está colhendo o que plantou". Segundo ele, Dilma age "com arrogância".

"A presidente não está sendo afastada pela oposição, ela está sendo afastada também pela sua própria base porque ela mostrou que perdeu condições de comandar e governar o país", disse o senador.

Aécio voltou a repetir que "o PSDB não é beneficiário do impeachment" e que sempre defendeu a cassação da chapa Dilma-Temer pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), mas como o partido não tinha "controle temporal" do processo no tribunal e viu que existia a possibilidade de ele ficar para 2017, "houve uma convergência interna a favor do impeachment".

O senador confirmou que deve entregar nos próximos dias ao vice-presidente Michel Temer uma carta em que o PSDB elenca as condições do partido para apoiar o governo peemedebista no Congresso.

"Não vamos fazer como o PT, que negou apoio ao governo Itamar. Não estamos preocupados com cargos, vamos apresentar uma agenda ao Michel", disse.

Já o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) usou as redes sociais à noite para afirmar que a aprovação do processo de impeachment "foi apenas um primeiro passo, mas imenso significado para encerrar a crise política, recuperar a economia e gerar empregos".

Suporte
O PSDB fechou nos últimos dias uma carta para apresentar a Michel Temer um conjunto de "princípios e medidas" que o partido considera essencial para dar apoio no Congresso a um possível governo do peemedebista.

Os tucanos reuniram 11 pontos para, segundo diz o texto, a "formação de um entendimento partidário que promova a conciliação nacional e a construção de um ambiente político-institucional que permita ao país superar este grave momento de sua história".

O texto não trata da possibilidade de o PSDB ter cargos no futuro governo, mas dá indicação de condições impostas para dar governabilidade ao hoje vice-presidente.

Dentre as condições de entendimento estão a continuidade da Lava Jato. "Nada justifica o arrefecimento das investigações", disse um dirigente tucano à Folha.

O documento também diz que o governo Temer deve manter os programas sociais do governo do PT, citando especificamente o Bolsa Família. A diminuição do número de ministérios e o ajuste na Previdência pública constam no item "renovação das práticas políticas e profissionalização do Estado brasileiro".

PMDB
Assim que a votação do impeachment foi aprovada, o senador Romero Jucá (RR), atual presidente do PMDB, afirmou que o partido não vai se render à pressão prometida pelo PT contra o andamento do impedimento da petista.

"O PT já está infernizando a vida de muita gente. Porque tem muita empresa fechando, muita gente demitida. Em matéria de inferno o PT entende bem. Queremos fazer exatamente o contrário. Queremos trazer o céu, o progresso. É essa discussão que vamos ter no Senado", afirmou.

O peemedebista negou que já estejam em andamento negociações para montagem de uma administração Temer, mas admitiu que os partidos que apoiaram o impeachment na Câmara manterão as conversas durante a tramitação do processo no Senado.

Câmara dá aval a impeachment de Dilma; Senado decidirá afastamento

Ranier Bragon, Débora Álvares, Isabel Fleck, Rubens Valente, Leandro Colon, Gabriel Mascarenhas, Mariana Haubert e Daniela Lima – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A Câmara dos Deputados aprovou na noite deste domingo (17) a abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff (PT).

Em seis horas de votação, foram 367 votos a favor e 137 contra. Ausências e abstenções somaram nove votos.

O 342º voto em favor do impedimento, atingindo a barreira de 2/3 da Casa necessários para a aprovação, foi dado pelo deputado Bruno Araújo (PSDB-PE). Os debates na Câmara haviam começado às 8h55 de sexta (15).

No momento do voto de Araújo, haviam 127 votos contrários ao impeachment, 6 abstenções e 2 ausências. Ainda faltavam 36 deputados para votar.

"Quanta honra o destino me reservou de poder da minha voz sair o grito de esperança de milhões de brasileiros, senhoras e senhores. Pernambuco nunca faltou ao Brasil, carrego comigo nossas histórias pela liberdade e pela democracia. Por isso eu digo ao Brasil: sim!", afirmou Araújo ao declarar seu voto.

Entre os deputados que haviam declarado o voto, o único que trocou de lado foi o ministro da Aviação Civil, Mauro Lopes (PMDB-MG). Lopes, que havia declarado que votaria contra a abertura do processo de impeachment, votou a favor da ação no plenário da Câmara.

Outras mudanças, mas que na prática não mudaram o resultado da votação, foram os votos de Beto Salame (PP-PA) e Gorete Pereira (PR-CE), que haviam se posicionado a favor do governo, mas se abstiveram no momento da votação.

Senado
A presidente, atingida pela queda de popularidade em razão da crise econômica e das investigações da Lava Jato, ainda não será afastada do cargo, no entanto. Para que isso ocorra, a decisão dos deputados tem de serreferendada pelo Senado por maioria simples, o que deve ocorrer no início de maio.

Com isso, Dilma se une a Fernando Collor (PTC) no rol de mandatários que tiveram o impeachment aberto pela Casa após a redemocratização do Brasil –o hoje senador alagoano acabou renunciando antes do julgamento que lhe cassou direitos políticos. Em 1999, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) escapou da abertura após vencer recurso em plenário contra o arquivamento de pedido do PT.

A partir da publicação do resultado, o Senado terá dois dias para receber a comunicação da abertura e formar uma comissão especial para analisar a admissibilidade do caso. Hoje a tendência é de que os senadores também aprovem a abertura do processo -o placar da Folha aponta ao menos 47 votos favoráveis, de 41 necessários.

Se isso ocorrer, Dilma será afastada por até 180 dias e julgada pelo plenário da Casa, em rito comandado pelo ministro Ricardo Lewandowski, presidente do Supremo Tribunal Federal.

Assumirá então a Presidência, durante o julgamento, o vice Michel Temer (PMDB). Rompido publicamente com Dilma desde dezembro e acusado pela ex-companheira de chapa de ser golpista e conspirador, Temer passou as últimas semanas angariando apoio para o impedimento e articulando a viabilidade política de seu governo.

Já Dilma e seu mentor político, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, passaram os últimos dias em um verdadeiro cabo de guerra para tentar esvaziar a vantagem do voto pró-impeachment.

Perda de força
O Planalto vinha perdendo força desde a saída do PMDB de Temer de sua base no mês passado, movimento tumultuado já que vários ministros do partido resistiram a deixar o cargo.

Na semana passada, o processo ganhou ímpeto com a aprovação em comissão especial do relatório do deputado Jovair Arantes (PTB-GO), que pedia o impeachment devido às chamadas pedaladas fiscais e à abertura de créditos extraordinários sem autorização do Legislativo.

Os críticos do impeachment consideram que os motivos não configuram crime de responsabilidade, figura estabelecida em lei para justificar o processo. As pedaladas foram manobras fiscais que utilizaram recursos de bancos oficiais de forma indevida –o custo para quitá-las, pago no fim de 2015, foi de R$ 72,4 bilhões.

Na sequência, os partidos médios com que Lula e o governo contavam para ocupar o espaço do PMDB na administração em troca dos votos em favor de Dilma também abandonaram o barco. O PP foi o primeiro, seguido pelo PSD e pela maioria do PR.

A partir de sexta (15), Lula comandou uma última ofensiva, e obteve alguns sucessos em negociar a abstenção de deputados. No sábado (16), o "Diário Oficial" rodou em edição extra com uma enxurrada de nomeações para cargos de segundo escalão, mas o estrago estava feito.

Como o líder petista disse a uma plateia composta por sem-terra e pequenos agricultores, a barganha foi exaustiva dos dois lados do balcão.

"É uma guerra de sobe e desce. Parece a Bolsa de Valores. O cara está com a gente uma hora e em outra não está mais, e você precisa conversar 24 horas por dia para não deixá-los conquistar os 342 votos", discursou o ex-presidente.

Temer
Do lado de Temer, houve intensa movimentação. Apesar de registrar defecções, o comando peemedebista contabilizava até 370 votos em favor do impeachment no sábado, número semelhante ao apurado pelo mapa do PSDB e de outras siglas de oposição.

Apesar de ter a caneta na mão, como o "DO" extra ilustrou, Dilma já não oferecia perspectiva de governabilidade. Para cada oferta de cargo, havia uma contraproposta sólida por parte dos peemedebistas.

A movimentação foi frenética, com boatos de todo tipo na praça: ora uma leva de deputados do PP iria votar em favor do governo, ora o PSB também teria defecções importantes. Notas com negativas e reuniões intermináveis entraram pela noite brasiliense.

Uma feijoada na casa do vice-presidente da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), reunindo ministros e governistas, chegou a comemorar o que seria a virada para o governo. Só que a romaria rumo ao Palácio do Jaburu, residência do vice-presidente, se tornou mais intensa, e a suposta onda pró-Dilma quebrou na praia.

Não funcionou para o PT. Agora a articulação que resta ao governo buscará votos no Senado e o apoio do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), que vinha apoiando com distância Dilma.

Poucos acreditam que o afastamento da presidente não vá ocorrer agora -neste caso, ela mesma disse em entrevista que será "carta fora do baralho".

PT e ministros defendem que Dilma reduza mandato e lance 'diretas já'

Mônica Bergamo – Folha de S. Paulo

O diretório do PT deve discutir na terça-feira (19) que Dilma Rousseff envie ao Congresso Nacional proposta de redução de seu próprio mandato e de convocação de eleições presidenciais ainda neste ano, junto das eleições municipais do país.

A ideia é que a presidente anuncie que abre mão de dois anos de mandato mesmo que chegue a ser inocentada de crimes de responsabilidade pelo Senado, que julgará se a petista é ou não inocente e se deve ser afastada em definitivo do cargo, consumando o impeachment.

No mesmo projeto, Dilma estabeleceria que, assim como ela ficou seis anos na Presidência, o sucessor, escolhido pelo voto direto, teria mandato de seis anos, sem reeleição.

Há pequenas variações em torno do tema. Alguns dirigentes do PT, por exemplo, acreditam que Dilma não deve incluir na proposta de eleições a sugestão de novo período para o mandato presidencial nem o fim da reeleição.

Outros têm dúvidas sobre a conveniência de a própria presidente figurar oficialmente como autora da proposta ou se o melhor seria ela apenas encaminhar a sugestão do partido, que seria assinada também por outras legendas.

A ideia de redução do mandato de Dilma e da convocação de "diretas já", se aprovada no PT, pode ser levada oficialmente à presidente nos próximos dias.

A proposta conta com apoio entusiasmado de parlamentares do partido e até mesmo de ministros. Outras legendas já foram informadas e podem aderir a ela.

O discurso será o de que Dilma busca uma solução para a grave crise política que o Brasil atravessa, mas que não será resolvida por um presidente, Michel Temer, que não teria legitimidade por chegar ao poder por meio de um "golpe", segundo os que defendem a tese, e de forma indireta.

Um presidente eleito diretamente teria legitimidade e maior apoio para comandar o país em situação tão delicada, defendem. Ao mesmo tempo, acreditam, a população não seria "excluída" da solução do problema, como ocorreria no impeachment.

"Quem foi às ruas contra o governo queria Temer na presidência e Eduardo Cunha como seu vice? O Temer não tem legitimidade. Ele se aproveitou de manifestações populares para assaltar o poder", diz o senador Lindberg Farias (PT-RJ). "Ele tem 60% de rejeição e só 1% de votos. Se esse golpe contra a Dilma se confirmar, não tenho dúvida de que ele cai em seis meses, pela pressão da população por 'diretas já'."

Ele diz que já discutiu a ideia com alguns senadores do PT e que os parlamentares deram apoio a ela. Afirma também que já conversou com senadores do PDT e do PSB, por exemplo, e que um projeto de diretas teria o apoio de integrantes de outros partidos.

A proposta também já é discutida na Câmara. O deputado Wadih Damous (PT-RJ) afirma que "as 'diretas já' são única solução para a crise que será agravada se vingar esse golpe contra a presidente".

O deputado Alessandro Molon, da Rede, afirma que seguramente o partido "estaria aberto a discutir a conveniência da proposta, pois já vinha defendendo a realização de eleições".

Câmara abre impeachment e Temer já prepara medidas

Por Raphael Di Cunto, Thiago Resende, Vandson Lima, Fabio Murakawa, Daniel Rittner, Murillo Camarotto, Fábio Pupo, Edna Simão e Rafael Bitencourt - Valor Econômico

BRASÍLIA - A Câmara dos Deputados autorizou ontem à noite, por 367 votos a favor, 137 contra e 7 abstenções, a abertura de processo de impeachment contra a presidente da República, Dilma Rousseff. A denúncia aceita pelos deputados, que será encaminhada ao Senado, sustenta que Dilma cometeu crime de responsabilidade pela edição de decretos orçamentários não autorizados pelo Congresso e pelas "pedaladas fiscais", reveladas pelo Valor em janeiro de 2014. Se os senadores entenderem que a denúncia é pertinente e deve, portanto, ser julgada, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, presidirá a fase final do processo no Senado.

O desânimo de petistas e aliados do governo ficou evidente ao longo do dia de ontem. A articulação promovida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma e governadores aliados surtiu pouco efeito e foi anulada pelo vice-presidente Michel Temer (PMDB), pelo grupo do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e por empresários descontentes com a falta de perspectivas do atual governo.

Se aceita a abertura do processo pelo Senado, Michel Temer, segundo interlocutores próximos, deve iniciar seu governo enviando proposta ao Congresso para a desvinculação parcial das receitas do Orçamento a despesas pré-definidas. Cerca de 92% do Orçamento são consumidos por gastos obrigatórios, comprometidos com vinculações constitucionais. A partir do reconhecimento de que o centro da crise econômica decorre do desequilíbrio fiscal, vai

Câmara abre processo de impeachment contra Dilma
Pela segunda vez na história do Brasil a Câmara dos Deputados autorizou a abertura de processo de impeachment contra um presidente da República. Por 367 votos a 137, com 7 abstenções e duas ausências, foi aceita a denúncia de que a presidente Dilma Rousseff cometeu crime de responsabilidade pelas "pedaladas fiscais" e edição de decretos orçamentários que não teriam autorização do Congresso. O processo vai ao Senado 23 anos e seis meses após o impeachment contra o ex-presidente Fernando Collor.

Ao longo do dia, o desânimo de petistas e aliados do governo era evidente. Cabisbaixos, contavam que, se ganhassem, seria por "três ou quatro votos". Eram necessários apenas 172, insuficientes até para aprovar projetos de lei. O clima no plenário já mostrava, porém, a dificuldade. Apenas oposicionistas cercavam o microfone onde os parlamentares eram chamados para anunciar seus votos.

A articulação promovida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma e governadores aliados surtiu pouco efeito e foi praticamente anulada pelo vice-presidente Michel Temer (PMDB), pelo grupo do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e por empresários descontentes com a falta de perspectivas do atual governo.

Um dos votos conquistados no dia anterior pelo governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), reverteu-se no plenário. "Não posso passar por cima das perseguições contra mim, do bloqueio do governo federal ao meu governo. Assim governador que admiro e respeito, desculpe, mas meu voto é sim", afirmou o deputado José Reinaldo (PSB). No Maranhão, um dos poucos Estados onde o PT é bem avaliado e Dilma é aliada dos dois grupos que disputam o poder, o impeachment venceu por 10 a 8.

A investida dos governadores do Nordeste nos dois dias anteriores à votação não teve efeito prático. Na sexta-feira, a planilha do ex-ministro Eliseu Padilha (PMDB) contabilizava 366 votos pela destituição, projeção que aumentou para pelo menos 370 ontem. O pemedebista errou por poucos votos. No Sul, Goiás, Mato Grosso, Distrito Federal, Roraima, Rondônia, Amazonas, Espírito Santo e São Paulo, a rejeição ao PT alcançou mais de 80% dos deputados.

"A gente não contava com a taxa de canalhice", afirmou o vice-líder do governo na Câmara, Silvio Costa (PTdoB-PE), um dos mais estridentes na defesa de Dilma. Segundo Costa, o governo dependia de exatos 172 votos para tentar vencer o impeachment, mas logo no começo parlamentares que entravam nesta conta apoiaram o impeachment. Quando o placar ainda registrava 296 a 102, o líder do governo, José Guimarães (PT-CE), já concedia entrevista para declarar "que os golpistas venceram".

O PDT foi um dos partidos em que mesmo as constantes ameaças de expulsão e destituição do diretório não convenceram os parlamentares que defendiam o impeachment a votarem pela permanência do PT, de quem são aliados desde 2007. Seis dos 19 pedetistas não tinham seguido a orientação.

O governo só teve os votos completos de PT, PSOL e PCdoB. No PMDB, apenas oito apoiaram o PT, com o qual estão formalmente aliados há seis anos. Um dos pemedebistas que fazia juras de amor ao governo semanas antes, o deputado Washington Reis (RJ) deixou o hospital onde está internado com H1N1 para declarar apoio impeachment de Dilma - ele foi o primeiro a votar.

Mauro Lopes (MG), nomeado ministro da Aviação Civil já depois de o PMDB alardear que romperia, votou a favor da destituição. "Guardarei a gratidão comigo. Mas, honrando nosso PMDB, eu voto sim", disse. Ao lado de Dilma ficaram os outros ministros. "Isso aqui não é processo de eleição indireta", afirmou Castro, que deixou o Ministério da Saúde para votar.

Como esperado, partidos do "centrão" embarcaram em peso no impeachment. O PP, que negociou a indicação do ministro da Saúde após o impeachment e centenas de cargos federais com o PT, debandou após conversas com o PMDB. Até a noite anterior à votação, o governo esperava que de 8 a 12 dos 45 pepistas apoiassem Dilma. Com o placar já sinalizando a derrota da petista, restaram apenas 7 no PP.

No PR, alvo das últimas esperanças do Palácio do Planalto, 25 dos 40 votaram contra o PT, a quem estão aliados desde 2002, na primeira eleição de Lula. A orientação do partido, por ordem de seu mandatário Valdemar da Costa Neto, era apoiar o governo até o fim. Mas até aliados próximos do ex-deputado condenado no mensalão apoiaram o afastamento de Dilma.

Um dos principais beneficiados da aliança com o PT o ex-ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento (AM), demitido por Dilma em 2011 na "faxina ética", renunciou à presidência do partido para votar contra a orientação de Valdemar. "Meu voto não pertence ao meu partido, não pertence ao governo ou a oposição e sequer pertence a mim. Meu voto pertence ao povo do Amazonas. Meu voto é sim", disse.

O PSD do ministro das Cidades Gilberto Kassab, que hoje deverá deixar o cargo, também não foi diferente. Apenas parlamentares ligados a governadores aliados, como da Bahia e Ceará, permaneceram apoiando o governo.

Dois vice-líderes do governo na Câmara também traíram: Hugo Leal (PSB-RJ) e Ricardo Barros (PR), que seguiu a orientação do PP.

Mesmo com posições diferentes sobre o impeachment, deputados do PT, PSOL, PSB, PDT e Rede foram ao microfone criticar o presidente da Câmara. De frente para o pemedebista, acusavam Cunha de não ter legitimidade para conduzir o processo. "Deputado, o que dá sustentação à sua cadeira cheira a enxofre. Voto com aqueles que nunca escolheram o lado fácil da história", afirmou Glauber Braga (RJ).

Cunha, que comandou pessoalmente grande parte das 51 horas de debates e votação, entregará pessoalmente no Senado hoje o parecer. Ao terminar a votação disse que continuará na presidência da Câmara e irá participar do próximo governo. Afirmou ainda: " não estou feliz, presidente perdeu condições de governar e chegou ao fundo do poço". Em mais uma estratégia para enfraquecer o governo, ele decidiu que a segunda chamada para os parlamentares votarem ocorreria ao fim de cada Estado, e não ao final de toda a lista, como ocorreu em 1992. Com a mudança, calculava, quem aguardava o resultado estar consolidado para decidir o voto tenderia ao impeachment. Apenas dois se ausentaram, ambos por razões médicas.

encaminhar proposta de reforma com iniciativas como a desindexação dos programas sociais que são atrelados à variação do salário mínimo e a reforma da Previdência Social.

A contrapartida à aprovação dessas mudanças seria a adoção do orçamento impositivo, que garante liberação automática de emendas parlamentares e não no balcão de negociações do Planalto.

Para o Ministério do Trabalho e Previdência, o nome mais cotado é o do ex- deputado Roberto Brant, que terá por missão aprovar a flexibilização do mercado de trabalho. O ex-presidente do STF, Nelson Jobim, que teve participação decisiva nas articulações pelo impeachment, vai para o Ministério da Defesa, posição que ocupou no primeiro mandato da presidente Dilma. Advogado por trás da estratégia de defesa das empreiteiras apanhadas na Operação Lava-Jato, não poderia assumir, como se cogitou, a Justiça ou a Casa Civil.

Presidente do PPS diz que impeachment chega para o bem do Brasil

O presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), disse, após a aprovação da continuidade do processo de impeachment na Câmara, que o Brasil precisa de um novo governo, “de um presidente que, quando falar, não seja através da panela que a sociedade responda”.

Na avaliação de Freire, “não temos mais governo, muito menos um governo que respeite os poderes e as instituições da República”. O deputado lembrou que a presidente Dilma tentou obstruir a Justiça, “com receio de que uma maior degradação moral ocorresse por meio da Operação Lava Jato”.

O impeachment, afirmou o presidente do PPS, chega para o bem do Brasil. “Nós não podemos continuar com um país sangrando, com sua economia se desmantelando a cada dia, criando ainda maiores dificuldades para uma recuperação”, afirmou.

Para Roberto Freire, o Brasil vive um momento “de descalabro” do ponto de vista político. A autorização para abertura do processo de impeachment pela Câmara, afirma o parlamentar, “está anunciando que precisamos de um novo governo”.

“Precisamos readquirir a confiança, enfrentar a crise econômica e superá-la, para que possamos ter um Brasil melhor”, disse Freire. Para ele, o impeachment é uma esperança para o povo brasileiro.

Minúscula política - José de Souza Martins

• Para sociólogo, o pensamento arcaico que marca, define e desestabiliza o processo político brasileiro contamina tudo: favorece partidos sem ideais, barra a alternância de poder e só estimula a troca de favores. No processo de impeachment da presidente Dilma assistimos ao grande momento dos insignificantes, que melhor fariam se não aparecessem. Já os grandes nomes, em outros tempos chamados ‘pais da pátria’, não são convocados a agir

- O Estado de S. Paulo / Aliás

O modo tumultuado e desencontrado como tem sido enfrentada a questão da proposta de impeachment da Presidente da República acaba revelando peculiaridades ocultas, mas decisivas, do nosso sistema político. Diferente do que ocorre em outros países, de sistemas íntegros e articulados, o nosso é mais uma aleatória combinação de concepções impolíticas. No próprio dia em que a comissão da Câmara aprovou a proposta de admissibilidade do impedimento, houve momentos em que não se sabia se se tratava de uma disputa de torcidas de futebol ou de uma disputa propriamente partidária. Aliás, o futebol é no Brasil o grande e impróprio parâmetro da política. O impeachment de Dilma Roussef está sendo votado na perspectiva da transitoriedade própria das Copas do Mundo. Depois que passar, passou.

Uma superposição de camadas de arcaísmos vários define as referências do processo político brasileiro. Os oradores dirigiam a palavra a suas províncias e povoados. Não se manifestavam como corpo político da nação. Alguns aludiram a suas religiões, ainda que indiretamente. O que também é estranho. O Estado brasileiro não é nem pode ser confessional. Religião é assunto privado. A religião do Estado é a cidadania. Falaram para o eleitor oculto, em vez de representá-lo.

Já tivemos um regime parlamentarista no Império e, na República, no curto período de redução dos poderes do presidente João Goulart, em 1961-1963. No entanto, de maneira quase imperceptível, um parlamentarismo tosco persiste entre nós. É o que se vê na invocação de suposta incompetência e mesmo de incapacidade para governar para remover a Presidente e transferir o poder ao seu sucessor legítimo e constitucional. Ao questionar essa legitimidade, ela própria e seu partido revelam a mesma mentalidade desse parlamentarismo arcaico e subsistente.


Foi o PT aliás, que difundiu entre seus militantes a ideia da possibilidade de depor o governante quando este se conduzisse em desacordo com o ideário das facções eleitoralmente majoritárias, mas socialmente minoritárias. Um frade petista, de grande destaque e de grande responsabilidade no apoio católico ao Partido dos Trabalhadores e à irresistível ascensão política de Lula, logo depois da posse de Fernando Henrique Cardoso na Presidência, assinava suas mensagens com um enfático “Fora FHC”. Uma concepção golpista e totalitária de que legítimo era o partido dele e não o dos outros, o partido do “Eles” dos discursos petistas, porque negação e recusa do princípio de que um regime democrático se baseia na possibilidade da rotação dos partidos no poder.

Há uma mentalidade ditatorial subjacente a palavras de ordem desse tipo. Não é estranho que o mesmo religioso lamentasse nos primeiros anos do governo Lula que o PT estava no governo, mas não estava no poder. Que poder é esse? O poder absoluto que criminaliza o ato legítimo de cidadãos que, como no caso atual, apoiados na Constituição da República, pedem que se apure atos de governo em desacordo com a lei e, em decorrência, julgue a Câmara a admissibilidade do impedimento da governante? Aparentemente, sabemos pouco o que é o impeachment. Vai bem que conste da Constituição e das leis, vai bem se aplicado aos outros, mas é golpe se aplicado a “nós”.

O elenco de rótulos para negar a legitimidade do impeachment, medida constitucional, é um desdobramento dessa mentalidade absolutista e arcaica. O dedo notório de “fábricas” de estereótipos negativos, de ambos os lados, mostra que o povo propriamente dito, nas concepções deste momento adverso, repete e grita palavras de ordem que mobilizam desfigurando o real, coisa de marqueteiros que manipulam a opinião pública com os mesmos critérios com que manipulam gostos e apetites dos que desfilam nos corredores do supermercado.

De certo modo, tudo isso nos mostra que o impeachment, mesmo que justificado e eventualmente necessário, no fundo, é irrelevante. Porque o País se governa por si mesmo. Lula esteve muito perto de ser impedido em 2005, quando do escândalo do mensalão. Quando se deu conta disso, tornou-se abúlico e indeciso, sem a segurança dos discursos firmes e enfáticos das portas de fábricas do ABC ou do aplauso das multidões proletárias congregadas no Estádio de Vila Euclides, em São Bernardo do Campo. No entanto, nem por isso o país parou. Nos tumultuados anos entre a morte de Getúlio Vargas e a deposição de João Goulart, as evidências da crise econômica e da crise política eram muitas. Ainda assim, o País não parou. Só foi parar com a eleição de Jânio Quadros e sua sucessão pelo vice-presidente, quando o Brasil ficou sem um projeto político, coisa que voltou a ocorrer nos dois mandatos de Dilma Roussef, quando a política de coalizão a fez negociar o mandato e a governação com os escalões inferiores de partidos políticos irrelevantes porque frágeis. Os mesmos que, em boa parte, vão decidir o seu destino.

Ainda que as multidões sejam capazes de manifestações impressionantes como as da Avenida Paulista, neste 2016, em favor do impeachment ou contra ele, passado o momento da disputa, tudo voltará à rotina da indiferença. Multidão não é governo nem tem mandato. No outro extremo, longe das metrópoles, a multidão silenciosa dos que não se manifestam nas avenidas das capitais está por trás dos deputados indecisos, os que esperam um sinal que lhes venha dos ermos e lonjuras para votar de acordo com a peculiar concepção de mandato político que os leva ritualmente às urnas quando as eleições são convocadas. Essa gente silenciosa poderá decidir tanto o destino da Presidente quanto o destino das oposições, quanto o destino do Brasil.

Os que ainda vivem no mundo da troca política de favores, do toma lá dá cá, das muitíssimas migalhas e farelos que caem da mesa do poder e dos poderosos, terão neste domingo sua vez e hora. Não será o vermelho nem o azul, nem o verde nem o amarelo, que decidirão nossos caminhos daqui para a frente. Será o cinzento da definição de última hora. O minúsculo e não o maiúsculo.

Em boa parte, porque não temos no Brasil, propriamente, um sistema partidário, que represente efetivamente a diversidade de correntes ideológicas. Nem mesmo temos o que, com segurança, poderíamos definir como ideologias ou correntes partidárias modernas e comparáveis, para que os eleitores possam fazer o que é propriamente uma escolha entre alternativas. As esquerdas, de verdade, estão fragmentadas e diluídas em extensa diversidade de querelas e não propriamente de orientações filosóficas. Já a unidade do partido majoritário, que é o PMDB, é tão somente a da convergência de interesses para assegurar o vínculo entre governos locais e o cofre do governo central. Se a dona do cofre perde a chave, saem atrás de quem a chave terá.

Por isso, há aqui dois grandes partidos, o partido do poder e o partido que está fora do poder. Já no Império era assim: Conservadores e Liberais, que se alternavam no poder sob a diáfana proteção do Poder Moderador de Dom Pedro II. Foi a única vez em que os partidos tiveram a certeza da alternância do poder, não sendo, portanto, necessário o golpe de Estado para promovê-la. A República Velha inaugurou o ciclo do partido único sob o disfarce do binarismo partidário. Os excluídos acabarão com esse sistema na Revolução de Outubro de 1930. O que nos levará à ditadura para impor o projeto político de nação que a República oligárquica inviabilizara, que terminará com a deposição de Vargas e, no retorno de 1950, seu suicídio em 1954. Um novo regime binário nascerá com o golpe de 1964, sob condição de que apenas um partido governaria.

A abertura política de 1985 supostamente se fez para assegurar a pluralidade dos partidos e a alternância do poder. A irresistível ascensão política do PT à Presidência trouxe no bojo, novamente, o bloqueio dessa alternância, através dos vários mecanismos de corrupção e de dominação, como o Bolsa Família, que sob disfarce eleitoral e democrático, fecharam as portas à troca cíclica de partidos no poder. Era inevitável que o movimento pendular da política brasileira, entre alternar o mando político e bloqueá-lo, levasse a uma solução drástica para remoção do partido da Presidência, nela mantido por meios que, do ponto de vista formal, parecem abusivos. Por acaso, o recurso encontrado foi o do impeachment. Independente das múltiplas motivações que movem a roda da História no sentido de excluir do poder o Partido dos Trabalhadores, o que explica as ocorrências de agora é a dinâmica política do retorno cíclico da possibilidade da renovação do poder, algo que está fora das cogitações explícitas dos que agitam bandeiras nas ruas e dos que agitam cartazes no Parlamento.

A alternância que se abre com a sucessão que decorrerá do impeachment, se aprovado, é alternância minada pelo fascínio do poder, o mesmo fascínio que capturou Lula, privando-o da lucidez que teve em diferentes momentos da história política brasileira: quando seus poderosos e ambiciosos coadjuvantes imaginavam que estavam indo, ele já estava voltando. Foi assim no caso do mensalão. Mas não está sendo assim no caso presente. Atraído pelo olhar fatal da serpente do poder, ele se equivoca fazendo campanha eleitoral para 2018, quando a prioridade histórica é agora completamente outra, a da salvação nacional.

Não erra sozinho. Os partidos não estão recorrendo aos notáveis da política brasileira, aqueles cujo carisma lhes permitiria a palavra de bom senso que era tão própria dos que, no período colonial, eram chamados de “pais da pátria”. Com exceção de Fernando Henrique Cardoso, que tem tomado a palavra mesmo quando não lha dão, e de Marina Silva, da Rede, que tem falado mesmo quando não é convidada a fazê-lo, não se vê o protagonismo explícito e necessário de Olívio Dutra, do PT, de Cristovam Buarque, do PPS, de Pedro Simon e de Jarbas Vasconcelos, do PMDB e de tantos mais cujo magistério ajudaria o país a escapar da armadilha de achar que estamos apenas decidindo, antes do tempo, a eleição de 2018.

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José de Souza Martins é sociólogo, membro da Academia Paulista de Letras, entre outros livros , autor de O PT das lutas sociais ao PT do poder (Contexto)

O amanhã – Aécio Neves

- Folha de S. Paulo

Escrevo este artigo com a televisão ligada e, assim como milhões de brasileiros, aguardo a decisão final da Câmara dos Deputados em relação à admissibilidade do processo de impedimento da presidente da República.

Independente do resultado final que, acredito, será pelo afastamento, a hora é de serenidade e responsabilidade. Não há lugar para vencidos ou vencedores. Há um país que precisa se reencontrar com seu destino, que precisa ser reconstruído.

Todo processo de afastamento de um presidente acirra tensões e provoca desgastes na sociedade. Ainda assim, diante da gravidade da crise que vivemos, tais danos são menos dolorosos do que o prolongamento da agonia que paralisa o país.

A tarefa de reconstrução não será breve, pois estamos diante da maior recessão da nossa história. O setor produtivo precisa voltar a produzir, os trabalhadores querem de volta seus empregos, as famílias sonham com a queda da inflação e juros menores para pagar suas dívidas. As contas públicas têm de ser reequilibradas. É muita coisa a ser feita. Urge que se comece já. Mas sem ilusões.

Não se conserta um país sem um projeto claro e sem coragem para implementá-lo. O que o momento recomenda é uma distensão no ambiente, de tal ordem que permita a retomada de um debate de alto nível, envolvendo toda a população em torno de questões centrais.

A sociedade pautou este caminho. Seja nas ruas, em junho de 2013, ao cobrar melhores serviços públicos, ou durante toda a investigação da Operação Lava Jato e, mais recentemente, ao longo de todo o processo impeachment. E não há volta.

É hora de apresentarmos ao Brasil uma nova e vigorosa agenda. É hora de enfrentarmos o desequilíbrio da Previdência, fazermos a simplificação do nosso sistema tributário e fortalecermos o papel das agências reguladoras (independência e meritocracia), requalificando de forma definitiva a administração pública.

Além disso, uma maior abertura comercial ocasionaria a recuperação da confiança, o aumento da taxa de investimento e a consequente recuperação do emprego. Só assim teremos recursos para garantir e ampliar os programas sociais colocados em risco pela incapacidade desse governo.

Não há clima para desordem ou radicalismos. A transição que se inicia merece nossas melhores expectativas. A oposição, que não é beneficiária do processo de impeachment, não fugirá à sua responsabilidade e dará sua contribuição para enfrentarmos e vencermos essa crise sem precedentes, na qual a irresponsabilidade dos sucessivos governos do PT nos mergulhou.

Neste momento grave da vida nacional, o PSDB estará onde sempre esteve.

Ao lado do Brasil.
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Aécio Neves é senador e presidente nacional do PSDB

Sem o direito de errar - Ricardo Noblat

- O Globo

“Um governo que não tem 171 votos na Câmara não merece governar” Ricardo Berzoini, ministro- chefe da Secretaria de governo

Dilma tem poucos amigos. Temer, muitos. Dilma não confia em ninguém. Temer confia. Dilma vive sozinha com a mãe. Temer é casado, tem filhos e detesta a solidão. Dilma concentra poderes. Temer delega. Dilma impõe sua vontade sem discuti- la. Temer constrói a sua ouvindo os outros. Dilma detesta a política e os políticos. Depois da família, Temer ama a política e os políticos acima de tudo.

O QUE O RESULTADO da votação do impeachment na Câmara teve a ver com as diferenças de temperamento, estilo e modo de vida de Dilma e Temer? Nada e tudo. Quem derrubou Dilma foram as mentiras que disse para se reeleger e os muitos erros que cometeu desde então. Mas, se ela não fosse como é, e Temer, o seu oposto, talvez pudesse sobreviver a um processo que ainda está longe do fim.

PIOR DO QUE atravessar, insone, a noite de ontem, certamente será para Dilma viver o seu primeiro dia como presidente da República de direito, de fato, não. Na vida real, o poder transferiu- se do Palácio da Alvorada, onde ela mora, para o Palácio do Jaburu, onde mora Temer. Poucos quilômetros separam os dois palácios. Um, porém, abriga o passado em eclipse. O futuro começa a ser desenhado no outro.

É REMOTA A CHANCE de o Senado recusar- se a julgar Dilma. A admissão, ali, do pedido de impeachment está prevista para acontecer até o próximo dia 11. O Senado só levou quatro dias para admitir julgar o ex- presidente Fernando Collor. É possível que em dez dias aceite julgar Dilma. Nesse caso, ela será obrigada a afastar- se do cargo e terá o seu destino resolvido em um prazo de 180 dias.

O GOVERNO TEMER começará de imediato. E dado às nuvens pesadas que privam o país de luz, e às desconfianças que cercam Temer, o vice- presidente no exercício do cargo disporá de pouco tempo para mostrar a que veio. Um novo presidente costuma desfrutar de um mínimo de cem dias de lua de mel com os seus governados. É da tradição. Temer não terá esse direito. Como Itamar Franco, o vice de Collor, não teve.

TAMPOUCO A TEMER será concedido o direito de errar. Ou acerta logo ou será cobrado por eventuais erros à partida, e, de quebra, por ter agido às claras para subtrair a Presidência à Dilma. Ela caminhava teimosamente para cair sozinha. Seu governo deixara de existir de há muito. Mas Temer não se limitou a esperar a queda. Ajudou a provocá- la. Nunca antes na história deste país... Pois é.

ATÉ O GOLPE MILITAR DE 1964, vice e presidente não eram obrigados a ser eleitos na mesma chapa. João Goulart foi o vice que assumiu com a renúncia de Jânio Quadros, mas os dois haviam sido eleitos em chapas distintas. Deixou de ser assim. E porque deixou, o vice perdeu importância. Passou a ser visto como um aliado do presidente eleito, alguém, de fato, comprometido com ele e leal a ele.

UMA COISA É O VICE divergir do presidente. Natural. Outra bem diferente é passar a opor- se a ele. Outra mais grave é conspirar contra ele. Dilma sempre tratou Temer com desprezo. Daí a Temer sentir- se à vontade para ajudar a depô- la vai uma distância abissal. Distância que separa o político sempre correto do político cuja correção depende das circunstâncias e do tamanho de sua ambição.

TEMER CONTRIBUIU para aumentar os desafios que o aguardam. Além de arcar com uma herança maldita, terá pela frente a hostilidade dos inconformados com o atalho que escolheu para alcançar o poder. Boa sorte.