O
alarme contra a crise fiscal – Opinião | O Estado de S. Paulo
O
alarme soa com instabilidade do dólar e dos juros futuros, mas se dissipa na Praça
dos Três Poderes.
Um
novo desastre fiscal, com as contas públicas em frangalhos e a dívida pública
disparada, pode levar o País a uma crise mais funda, alertam grandes bancos,
investidores, analistas de mercado e o Fundo Monetário Internacional (FMI). O
alarme soa no dia a dia, com o sobe e desce do dólar e a instabilidade dos
juros futuros, mas o barulho se dissipa, quase sem efeito, na Praça dos Três
Poderes. Nesse estranho enclave no centro do País, alguém se lembra de vez em
quando, ou é lembrado, de preceitos meio cabalísticos, como uma estranha regra
de ouro e um inoportuno teto de gastos.
Relatórios
do Deutsche Bank, do Itaú Unibanco e do Bradesco, citados em reportagem do
Estado, chamam a atenção, mais uma vez, para o desafio de conter a expansão do
buraco fiscal e da enorme dívida pública. Mas o presidente Jair Bolsonaro
parece ter pouco tempo – quase nenhum – para preocupações desse tipo. Cuidar da
reeleição tem sido sua atividade principal, e uma fonte de sustos e
inquietações para o mercado e para muitos analistas da economia brasileira.
Discussões
sobre como financiar a Renda Cidadã, concebida como grande bandeira eleitoral,
têm ocasionado frequentes sobressaltos. Brigas entre ministros por causa da
gestão do dinheiro público também inquietam investidores e analistas. Além
disso, o mercado reage mal quando se fala de investimentos eleitoreiros,
obviamente imaginados como pretextos para viagens presidenciais. Não se trata,
é claro, de planos de obras estratégicas para o desenvolvimento, até porque
esses conceitos são estranhos ao mundo bolsonariano.
Dólar
mais caro, aumento de custos e expectativa de juros mais altos no médio e no
longo prazos são alguns dos efeitos dessa inquietação. O Banco Central (BC) tem
chamado a atenção, em seus comunicados, para o risco de juros em alta se o
mercado perder confiança na gestão das contas públicas.