Atrás de 10 milhões de votos
• Dilma, Aécio e Campos vão a São Paulo, onde 31% dos eleitores ainda não têm candidato
Renato Onofre, Sérgio Roxo, Silvia Amorim e Tatiana Farah – O Globo
SÃO PAULO - Com o início da cobertura diária das campanhas eleitorais pela TV Globo, os quatro primeiros colocados na corrida presidencial - Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB), Eduardo Campos (PSB) e Pastor Everaldo (PSC) - escolheram ontem São Paulo como o primeiro campo de batalha na nova etapa da corrida eleitoral. Em jogo, o voto de dez milhões de paulistas que ainda não decidiram em quem votar, contra cinco milhões no Rio e três milhões em Minas. Segundo a última pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada no dia 17 de julho, 31% dos eleitores de São Paulo estão indecisos ou votarão em branco/nulo no dia 5 de outubro.
A campanha de Dilma aposta que as primeiras aparições na TV em São Paulo podem minimizar o alto índice de rejeição da petista no maior colégio eleitoral do país e evitar o crescimento do seu principal adversário no estado, o mineiro Aécio Neves. Ambos estão empatados na corrida eleitoral com 25% das intenções de voto dos eleitores paulistas. Aécio tem como meta fazer o paulista acreditar que ele pode suprir a falta de um candidato do estado nesta eleição. Pela primeira vez desde a redemocratização, São Paulo não tem representante na disputa ao Planalto. O tucano aposta em aparições públicas na capital ao lado dos dois últimos ex-candidatos à Presidência pelo PSDB: o governador Geraldo Alckmin, candidato à reeleição, e o ex-governador e candidato ao Senado, José Serra.
Já Eduardo Campos quer fazer de São Paulo a vitrine para se tornar mais conhecido entre o eleitorado. Para isso, ele reforça as aparições na cidade ao lado da ex-senadora e candidata à vice-presidência em sua chapa, Marina Silva. Ser conhecido também é o objetivo do candidato do PSC, Pastor Everaldo, que estará pelo menos duas vezes por semana no estado.
Agenda de última hora
Dilma começou a nova fase da campanha em Guarulhos, na Grande São Paulo, numa agenda marcada de última hora. Acompanhada de ministros e de assessores de campanha, a presidente visitou uma unidade de saúde da família e conversou com médicos e funcionários, além de posar para fotos com crianças no colo. Com sua equipe de filmagem, o marqueteiro João Santana acompanhou a presidente. A ideia, disseram assessores do governo, era mostrar o programa Mais Médicos na primeira aparição de campanha de Dilma nos telejornais nacionais.
De acordo com as pesquisas, Dilma enfrenta sua maior rejeição em São Paulo. Para tentar reverter a situação, a campanha presidencial tem focado suas ações no estado. Na semana passada, já esteve na capital para um encontro da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e, na quinta-feira, volta à cidade para receber o apoio de sindicalistas de seis centrais, entre elas a Força Sindical.
Em pronunciamento ontem à imprensa, Dilma fez questão de aproximar do estado o tema do Mais Médicos. Segundo ela, São Paulo é a unidade da federação que mais demandou profissionais do programa federal. No posto visitado ontem, dos seis médicos que atendem a população, dois são cubanos contratados pelo governo. João Santana quer usar o programa como chamariz da campanha.
Pela manhã, assessores do governo disseram que a visita à unidade de saúde era uma agenda mista de campanha e atividade governamental. O ministro da Comunicação, Thomas Traumann, confirmou, no entanto, que era uma visita de campanha. Questionado pelo GLOBO se a presidente havia usado avião oficial para a viagem, disse que Dilma viajou em uma aeronave fretada pelo PT. Mesmo sendo uma agenda de campanha, Dilma estava acompanhada de Traumann e foi recebida pelo ministro da Saúde, Arthur Chioro.
Segundo membros do estafe presidencial, o marqueteiro João Santana acompanhou a visita para gravar o programa de TV da campanha. Um dos seguranças da Presidência comentou que aquele teria sido o motivo da viagem. Entretanto, uma assessora da Presidência disse que não houve filmagem no interior do prédio público.
A assessoria da Presidência acrescentou que Dilma não estava fazendo campanha durante o expediente porque a presidente não tem horário fixo de trabalho, e, por conta do cargo que ocupa, está sempre à disposição.
A professora de Direito Eleitoral da FGV-Rio Silvana Batini explicou que a legislação vigente veta a veiculação de propaganda de qualquer natureza em bens do poder público e de uso comum.
- No que diz respeito ao expediente, um agente político faz seu próprio horário de trabalho, o que não se estende aos servidores - disse Silvana, que é também procuradora Regional da República no Rio.
Menos cargos de confiança
Aécio abriu a semana de campanha na capital paulista com uma participação em um congresso com empresários do agronegócio de todo o país. Ao lado das principais lideranças do PSDB no estado e do vice da chapa presidencial tucana, Aloysio Nunes Ferreira, Aécio acompanhou alguns discursos, mas deixou o evento antes de fazer um pronunciamento porque se atrasaria para o próximo compromisso.
Mais tarde, em sabatina ao portal "G1", o candidato do PSDB disse que estuda a criação de um ministério para a área de infraestrutura e logística. A pasta seria resultado da fusão de outros ministérios, mas Aécio não quis dar detalhes.
- Vamos apresentar esse novo desenho mais adiante. Em primeira mão, quero dizer aqui que estamos estudando a criação de um forte Ministério da Infraestrutura. Não quero entrar em detalhes, mas ele trataria dos investimentos em rodovias, ferrovias e da área de energia. Fica essa primeira sinalização - afirmou.
Aécio reafirmou a promessa de reduzir a "22 ou 23" o total de ministérios, sem especificar todos que eliminaria, mencionando apenas a pasta da Pesca. Atualmente, são 39. Ainda em relação à reestruturação da máquina do governo, o tucano prometeu reduzir em um terço os cerca de 23 mil cargos de confiança.
Também presente à capital paulista, Campos criticou a proposta do concorrente tucano.
- Qualquer discussão sobre a estrutura antes de apresentar o conteúdo é falha. Eu preferia saber quais são as ideias dele para a pesca, porque tem muita gente vivendo da pesca, e também as ideias dele sobre infraestrutura, porque no tempo em que o partido dele governou a infraestrutura do Brasil não avançou praticamente nada - atacou Campos, referindo-se aos mandatos de Fernando Henrique Cardoso na Presidência.
Ao lado de Marina, em encontro com representantes de movimentos de juventude dos partidos de sua coligação, Campos reafirmou duas das propostas com maior apelo de sua campanha: o compromisso com o passe livre no transporte público para estudantes e a universalização do ensino em tempo integral.
Em almoço no Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo (Setcesp), o candidato do PSC à Presidência da República, Pastor Everaldo, afirmou que negocia com o governador Geraldo Alckmin (PSDB), candidato à reeleição ao governo paulista, uma agenda conjunta entre os dois no estado:
- Apoiamos a eleição dele no estado e também queremos apoio. No momento certo, o governador irá pedir voto comigo.
O candidato também anunciou a criação de um Ministério da Segurança Pública.