terça-feira, 5 de agosto de 2014

Opinião do dia: O Estado de S. Paulo

O seu fracasso não é só econômico. É um governo perdido e teimoso, incapaz de ouvir outro som além do eco da sua fala. O País paga diariamente um alto preço por isso. E não apenas no presente, já que a fatura dessa irresponsabilidade recairá também sobre o futuro. Quem sabe quanto tempo se levará para desfazer o imbróglio criado, por exemplo, no setor elétrico? Quanto tempo levará a indústria nacional para se reerguer?

A única estratégia do governo Dilma tem sido a da sua prorrogação por mais quatro anos e a do lulopetismo por tempo indeterminado. O resto é um governo que seria vazio, não fossem os efeitos deletérios da aplicação de sua falta de visão às estruturas política e produtiva do País. Um governo que não tem os pés no chão.

O Estado de S. Paulo – Editorial: A política de Dilma, 4 de agosto de 2014

Classe C endividada

• Beneficiada nos últimos anos com crédito farto e prestações a perder de vista, a nova classe média enfrenta dificuldades para pôr as contas em dia. Inflação e juros altos apertaram o orçamento das famílias

Bárbara Nascimento – Correio Braziliense

Alvo preferencial do governo, na tentativa de estimular o crescimento do país, a nova classe C passa por momentos difíceis quando o assunto é dinheiro. As quase 40 milhões de pessoas que compõem essa camada da população aproveitaram o crédito farto para comprar carro, trocar a geladeira e a televisão e até adquirir a casa própria. Agora, não conseguem arcar com as dívidas. Levantamento do Instituto Data Popular mostra que 69% da classe C está com dificuldades para pagar as contas. Para 32%, a situação é desesperadora.

A aposentada Dalva Rodrigues, 73 anos, que o diga. Ela fez um empréstimo para terminar de construir sua casa, no Paranoá, próximo a Brasília. Sem conseguir quitar o montante, devido aos juros altos, recorreu a outro banco em busca de mais um financiamento para honrar o compromisso atrasado. Ou seja, tapou um buraco mas abriu outro no orçamento doméstico. Com isso, mais da metade da renda de cerca de R$ 1 mil está sendo destinada ao pagamento de dívidas.

A casa ainda não tem todos os móveis que Dalva deseja. "Tudo aqui é comprado à prestação, o forno, a geladeira, o microondas. Não pago nada à vista, porque o dinheiro não dá. Tem meses em que preciso apertar, comprar menos, reduzir os gastos com comida no supermercado", assinala. Ela reconhece que chegou ao limite do endividamento. E sofre porque ainda falta muito para ter o imóvel dos sonhos. "A prioridade é não passar fome", afirma.

Dinheiro escasso
A pesquisa do Data Popular mostra que, quando o dinheiro fica escasso, como no caso de Dalva, a maior parte dos brasileiros, 81%, economiza nas contas de manutenção da casa, como luz, telefone e gás. Do total de 2.004 entrevistados, 75% comparam preços e 51% trocam os produtos comprados por marcas mais baratas, 23% diminuem a quantidade de mercadorias e 11% simplesmente param de consumir.

"As pessoas só se assustam quando veem que vai faltar dinheiro para fechar o mês e não vai dar para pagar todas as contas. Não conseguem olhar um pouco à frente", observou o educador financeiro Reinaldo Domingos. No entender dele, o crédito fácil levou a esse desequilíbrio. "É o cartão de crédito, o boleto bancário, o crediário... Muitas vezes, o problema não está no que a pessoa consome todo mês, mas nas prestações que ela vai acumulando", emendou.

A dona de casa Maria Zildete, 54, conta que ela e o marido, vigilante, tiveram que reduzir as compras no supermercado para inteirar o dinheiro da prestação do carro zero, adquirido no ano passado em 48 vezes. "Compramos menos carne, tiramos o peixe da mesa. As contas de casa também aumentaram muito: água, luz, IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano). Tudo apertou", explica ela.

A baiana Floripes Pereira, 64, está com o IPTU atrasado e diz que, vez ou outra, tem até a luz da casa cortada. "Faço as compras de mercado no cartão de crédito. Como tudo tem aumentado muito, as vezes fico muito apertada e me descontrolo", contou ela, que teve que deixar a construção da casa pela metade. "Às vezes, tenho que esperar o próximo salário (da aposentadoria pelo Instituto Nacional do Seguro Social) para voltar ao supermercado", completou.

O economista Fábio Bentes, da Confederação Nacional do Comércio (CNC), atribui as dificuldades da classe C à inflação e ao encarecimento do crédito. A taxa média de juros está no nível mais alto desde abril de 2009. "A tendência é de a inadimplência ficar cada vez maior. A previsão da CNC é de que passe de 6,5% para 6,9% até o fim do ano", pontuou.

"Quem tomava R$ 1.000 emprestados há um ano, pagava uma prestação de R$ 36. Hoje, a parcela é de R$ 40. Se descontarmos a inflação, o crédito está 3,5% mais caro, o mesmo aumento que o salário teve, em termos reais. Isso tem apertado o orçamento das pessoas", disse.

Conta de luz vai subir ao menos 14% por socorro a distribuidoras

• Documento indica que os R$ 17,7 bilhões de empréstimos às distribuidoras trarão impacto de 14% na conta de luz

• Na semana passada, Aneel afirmara que alta seria de apenas 8%, diluídos nos próximos dois anos

Machado da Costa - Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Documento interno da Aneel indica que o aumento da conta de energia provocado pelos empréstimos às distribuidoras será maior do que a agência reguladora tem afirmado publicamente.

Segundo o documento, de 2013, assinado pelo então diretor Edvaldo Santana, a cada R$ 1 bilhão devido pelo setor, as tarifas de energia crescem 0,8 ponto percentual. Como os empréstimos totalizam R$ 17,7 bilhões, o impacto na tarifa será de exatos 14,16%.

A lógica foi confirmada pela área técnica da Aneel.

"Entretanto, vale lembrar que o repasse se dá durante dois ciclos tarifários, que ocorrem a partir de 2015", afirmou a agência, em nota.

Na terça-feira da semana passada (29), o diretor-geral da Aneel, Romeu Rufino, afirmou que o impacto na tarifa seria de apenas 8%, divididos em dois anos. "O reajuste [das tarifas] nunca é exclusivamente ligado ao valor do empréstimo", disse.

Algumas estimativas do setor sugerem que os reajustes possam chegar a 25% no próximo ano. A TR Soluções, por outro lado, indica reajuste de 13,42% em 2015, em uma visão otimista.

Na quarta (30), o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia (MME), Márcio Zimmermann, apresentou uma outra conta.

Segundo ele, o impacto seria escalonado em três anos, com aumentos de 2,6% nas tarifas em 2015, de 5% em 2016 e de 1,4% em 2017.

Expectativa
O governo corre para fechar a segunda parcela do empréstimo, de R$ 6,5 bilhões, que será feito às distribuidoras. Segundo o Ministério da Fazenda, a operação deve ser apresentada até sexta-feira (15).
As distribuidoras precisam dos recursos para cobrir a chamada "exposição involuntária", situação criada pelo término de contratos entre distribuidoras e geradoras em 2013 e que não foram repostos nos leilões organizados pelo governo.

As distribuidoras estão sendo obrigadas a recorrer ao mercado de curto prazo, no qual o valor da energia, definido pelo Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), está mais alto por causa das poucas chuvas.

Os outros R$ 11,2 bilhões, já emprestados, foram consumidos pelas liquidações entre os meses de fevereiro e abril do mercado de curto prazo.

O governo, porém, enfrenta dificuldades para fechar a operação. Bancos privados ainda tentam obter uma remuneração mais alta do que a que foi oferecida pelo Ministério da Fazenda.

No primeiro acordo, o retorno foi fixado em 1,9% de juros mais a variação do CDI (Certificado de Depósito Interfinanceiro), que somam 12,1% em 12 meses.

O governo deverá elevar as taxas de juros oferecidas aos bancos privados para reduzir a participação das instituições públicas no negócio, principalmente da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil.

Reunião que tratou de depoimentos da CPI ocorreu na sede da Petrobrás no DF

• Encontro que discutiu as perguntas e respostas de interrogados na comissão no Senado foi realizado em sala anexa ao gabinete da presidente da companhia

Andreza Matais, Fábio Brandt e Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo

A reunião entre servidores da Petrobrás para discutir as perguntas e respostas dos interrogados na CPI da estatal no Senado ocorreu no gabinete da presidente da companhia, Graça Foster, em Brasília. A sala de reuniões integra o gabinete e o acesso é restrito a servidores da alta cúpula da estatal. O espaço é usado por Graça para receber autoridades e fazer reuniões com assessores. O gabinete da presidente ocupa todo o segundo andar do prédio da Petrobrás na capital federal.
Procurada, a estatal não respondeu aos questionamentos do jornal a respeito do uso do gabinete da presidente Graça Foster.

A reunião foi gravada em vídeo e divulgada pela revista Veja na edição do fim de semana. Além do chefe de gabinete da Petrobrás em Brasília, José Eduardo Sobral Barrocas, e do advogado da empresa Bruno Fereira, o portal Estadao.com.br revelou que o chefe do departamento jurídico do escritório da Petrobrás em Brasília, Leonan Calderaro Filho, também estava presente na reunião.
A revista não identificou onde o vídeo fora gravado e se referiu a Calderaro como pessoa não identificada.

A conversa gravada sugere que os executivos da Petrobrás tiveram acesso com antecedência às perguntas que seriam feitas aos depoentes da estatal por senadores da CPI no Senado. Barrocas informa aos colegas que encaminhara, por fax, o "gabarito" à presidente da estatal. Ele foi nomeado como chefe de gabinete da Petrobrás em Brasília por Graça Foster. Antes, eles trabalharam juntos na BR Distribuidora, quando Graça era presidente e Barrocas, chefe de gabinete da subsidiária da estatal em Brasília. Pessoas que convivem com os dois disseram à reportagem que Barrocas é fiel a Graça e não toma decisões mais complexas envolvendo a Petrobrás sem o aval da chefe.

Questionário. Um servidor da estatal confirmou ao Estado, em condição de anonimato, como funcionava o suposto esquema para que os depoentes tivessem conhecimento prévio das perguntas dos senadores. Os questionamentos eram elaborados por servidores do PT, com ajuda do servidor da Secretaria de Relações Institucionais, Paulo Argenta. Barrocas buscava o questionário pessoalmente na liderança do Senado. O próximo passo, o que foi gravado em vídeo, era a reunião no gabinete da presidente para discutir as respostas. Ao final, o documento seria encaminhado para o comando da empresa, no Rio.

O chefe do escritório da estatal em Brasília e o assessor da Secretaria de Relações Institucionais Paulo Argenta tinham por hábito acompanhar pessoalmente os depoimentos na CPI.

Ex-presidente da estatal e ex-presidente do PT, José Eduardo Dutra, que hoje é diretor da Petrobrás, também participou de reuniões com a bancada do PT para discutir as investigações.

O líder do DEM na Câmara, deputado Mendonça Filho (PE), protocolou na última segunda-feira requerimentos de convocação para que o ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini (PT), compareça ao Congresso para explicar a suspeita de envolvimento de um funcionário da pasta no caso. Os requerimentos foram apresentados nas comissões de Fiscalização Financeira e Controle, de Minas e Energia e no próprio plenário da Casa.

Fontes disseram ao Estado que a cúpula da Petrobrás desconfia que a gravação foi feita pelo advogado Bruno Ferreira. Na segunda-feira, ele chegou a ser sabatinado na estatal sobre sua suposta participação no caso.

'Simulações'. A Petrobrás informou em nota que "tomou conhecimento das perguntas que norteiam os trabalhos das CPI e CPMI da Petrobrás através do site do Senado Federal". Afirmou que, "após cada depoimento, as dezenas de perguntas são desdobradas em novas perguntas pela equipe da Petrobrás de forma a subsidiar os depoimentos subsequentes" de executivos e ex-executivos, que são preparados "com simulações de perguntas e respostas".

Ainda segundo a nota, a estatal informou que "garante apoio a executivos e ex-executivos, preparando-os, com simulações de perguntas e respostas, para melhor atender aos diferentes públicos, seja em eventos técnicos, audiências públicas, entrevistas com a imprensa, e, no caso em questão, as CPI e CPMI". Tais simulações, afirma, "envolvem profissionais de várias áreas, inclusive consultorias externas, de modo a contribuir para uma melhor compreensão dos fatos e elucidação das dúvidas".

Chefe do jurídico da Petrobrás participou de reunião sobre CPI

• Leonan Calderaro Filho aparece vídeo que registra uma suposta negociação sobre as perguntas que seriam feitas a funcionários da estatal em audiência no Senado

Andreza Matais, Ricardo Brito e Fábio Brandt - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O chefe do departamento jurídico do escritório da Petrobrás em Brasília, Leonan Calderaro Filho, participou da reunião gravada em vídeo, divulgado na edição deste fim de semana da revista Veja, na qual teria sido discutida a "cola" das perguntas e respostas que seriam feitas pelos senadores na CPI da Petrobrás aos investigados da petroleira. Os citados pela reportagem negam a combinação dos depoimentos.

Calderaro é o homem de cabelos brancos que aparece no vídeo gravado no dia 21 de maio ao lado do chefe do escritório da Petrobrás em Brasília, José Eduardo Sobral Barrocas e do advogado da empresa Bruno Ferreira. A reportagem da revista descreve diálogos gravados e apresentou Calderaro como "homem não identificado". O Estado apurou que ele e Bruno foram designados pela direção da Petrobrás para acompanhar a CPI.

É Calderado quem questiona o chefe de gabinete da Petrobrás no vídeo sobre a forma mais segura de encaminhar para a sede da petroleira no Rio de Janeiro o gabarito de perguntas e respostas que seriam feitas pelos senadores aos executivos investigados da empresa.

"O que é melhor, fax? O que é mais seguro?", indagou, na gravação, referindo-se ao envio dos gabaritos à atual presidente da companhia, Graça Foster, que chegou a prestar esclarecimentos à CPI, mas não na condição de investigada. Ele também comenta sobre o depoimento de Nestor Cerveró, ex-diretor da área Internacional da Petrobrás, que ocorreu um dia depois da gravação.

Cerveró foi acusado pela presidente Dilma Rousseff, em nota enviada como resposta a questionamentos do Estado, de ter elaborado "resumo técnico e falho" que pautou sua decisão favorável à compra de Pasadena, um negócio que gerou prejuízo de US$ 792 milhões ao País.

"A gente vai aguardar a demanda dele (Cerveró). A gente não vai tomar nenhuma iniciativa? (...) Eu recebi um input (sinal) de falar com ele e recomendar que ele não faça apresentação, afirma no vídeo.

E complementa: "Será que o Delcídio [Amaral, senador pelo PT]."
Procurado pelo Estado, Calderado não ligou de volta. A Petrobrás não se manifestou até o momento a respeito da participação de Calderado.

A divulgação do vídeo provocou uma crise no Congresso. A oposição vai pedir o cancelamento dos depoimentos da CPI que teriam sido combinados. Os envolvidos nas denúncias negam.

PSDB e DEM preparam pacote de medidas judiciais

Ricardo Della Coletta – O Estado de S. Paulo

Dois dias depois de vir a público um vídeo no qual funcionários da Petrobras teriam discutido a "cola" das perguntas que senadores da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) fariam a dirigentes e ex-dirigentes da petroleira, o PSDB e o Democratas anunciaram um pacote de medidas judiciais contra os envolvidos. Além disso, eles apresentarão pedidos de investigação contra os senadores petistas envolvidos no Conselho de Ética por quebra de decoro parlamentar.

O caso foi revelado na edição desta semana da revista Veja. A publicação apresentou uma gravação na qual o chefe do escritório da Petrobras em Brasília, José Eduardo Sobral Barrocas, o chefe do departamento jurídico do mesmo escritório, Leonan Calderaro Filho, e o advogado da empresa Bruno Ferreira debatem o envio de um "gabarito" dos questionamentos aos diretores da companhia que prestaram depoimentos à CPI, entre eles a presidente Maria das Graças Foster, o ex-diretor da área internacional Néstor Cerveró e o ex-presidente Sérgio Gabrielli. A filmagem abriu uma crise no Congresso e a oposição acusa parlamentares e o Palácio do Planalto de fraudarem a investigação. Os citados negam a combinação de depoimentos.

"Foi feito um grande entendimento para blindar a presidente Dilma. O vídeo deixa claro que houve um ''combinemos'' para desmoralizar o Congresso e a CPI", afirmou o senador José Agripino Maria (DEM-RN), coordenador-geral da campanha do tucano Aécio Neves à Presidência da República. "O governo tem tanto pavor da verdade que nem uma CPI chapa branca é suficiente para eles. Foi preciso uma CPI com fraude", emendou o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), candidato a vice na chapa encabeçada por Aécio.

O PSDB e o DEM decidiram ingressar com representações contra os senadores José Pimentel (PT-CE), que é relator da CPI da Petrobras no Senado, e Delcídio Amaral (PT-MS), apontado como o responsável por vazar perguntas a Cerveró, na Procuradoria-Geral da República (PGR). O PSDB e o DEM também entrarão contra os dois parlamentares no Conselho de Ética do Senado por quebra de decoro parlamentar.

Os funcionários da petroleira e os servidores do Congresso citados pela denúncia serão alvo, por sua vez, de uma representação na Procuradoria da República do Distrito Federal (DF). São eles: Sérgio Gabrielli (ex-presidente da Petrobras), Maria das Graças Foster (presidente da Petrobras), Paulo Argenta (subchefe de Assuntos Parlamentares da Secretaria de Relações Institucionais), Marcos Rogério de Souza e Carlos Hetzel (servidores do Senado) e Néstor Cerveró (ex-diretor da área institucional da Petrobras).

De acordo com o coordenador jurídico da campanha tucana, o deputado Carlos Sampaio (SP), os envolvidos na denúncia da revista incorreram nos crimes de falso testemunho, quebra de sigilo funcional e também de advocacia administrativa. Os tucanos também pedirão a abertura de processos administrativos na Secretaria de Relações Institucionais, na Petrobras e no Senado contra os servidores públicos mencionados na gravação.

Relator
A oposição também pediu nesta segunda-feira que o relator da CPI do Senado, José Pimentel, se afaste da função até que a apuração do caso esteja concluída. "Caberá à consciência do senador Pimentel para que ele voluntariamente se ausente da CPI até que os fatos fiquem claros", defendeu Agripino. Para Aloysio, toda a CPI do Senado deveria suspender seus trabalhos, ao menos até o fim das investigações. "De tal maneira as denúncias são graves que quaisquer conclusões são decisões sob suspeição", justificou. Pimentel ainda não se pronunciou.

Funcionam hoje no Congresso duas comissões parlamentares de inquérito para apurar acusações de irregularidades na Petrobras. Elas foram instaladas após o jornal O Estado de S.Paulo revelar que a presidente Dilma Rousseff, quando ministra da Casa Civil e presidente do Conselho de Administração da estatal, apoiou a compra de 50% da refinaria de Pasadena (EUA). Ao final, a petroleira brasileira teve que adquirir a outra metade do ativo, numa operação que acabou gerando um prejuízo de US$ 792 milhões. Ao jornal, Dilma disse que só deu aval ao negócio por ter se baseado em um resumo executivo tecnicamente falho, elaborado por Cerveró.

Aliados de Campos no Senado cobram providências de Renan

Ricardo Brito – O Estado de S. Paulo

Aliados do candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, cobraram do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), providências sobre a denúncia de que perguntas e respostas de depoentes da CPI da Petrobras da Casa teriam sido combinadas entre integrantes da comissão e da cúpula da estatal. Na tarde desta segunda-feira, os parlamentares defenderam que se faça uma investigação interna no Senado para apurar as suspeitas, reveladas pela revista Veja, de fraude nas apurações da CPI.

"O caso exige por parte da Mesa do Senado uma profunda apuração, mas uma apuração de verdade. Não uma apuração nos moldes da encenação que parece ter sido feita pela CPI", afirmou o líder do PSB no Senado, Rodrigo Rollemberg. "Queremos manifestar a nossa indignação e cobrar da Mesa do Senado respostas claras e objetivas com uma investigação rigorosa", completou. Até a tarde desta segunda, o presidente do Senado ainda não se pronunciou sobre o episódio.

O socialista, que é candidato ao governo do Distrito Federal, disse que, se as informações de conluio forem confirmadas, será "muito ruim" para o Congresso e o Senado. E lembrou o que considera como "exemplo vergonhoso" da CPI do Cachoeira, que encerrou os trabalhos sem um relatório conclusivo. O senador Cristovam Buarque (DF), que, mesmo sendo do PDT, que se coligou à chapa da presidente Dilma Rousseff, apoia a candidatura de Campos, também defendeu a apuração do caso. "Se não dermos uma resposta, o Congresso vai virar uma casa de deboche", afirmou.

João Bosco Rabello: O flerte com o risco

- O Estado de S. Paulo

A campanha eleitoral tem efeito desidratante sobre a rotina legislativa, o que torna pouco provável uma resposta efetiva às denúncias de fraude nos depoimentos dos convocados que falaram às CPIs da Petrobrás, muito embora esteja prometida pelo senador Vital do Rego (PMDB-PB), que preside ambas.

O próprio acúmulo das presidências das duas CPIs pelo mesmo parlamentar, comprometido pelo apoio do governo aos seus interesses eleitorais, já é um sinal claro do controle da investigação pelo Palácio do Planalto, mas não o único.

A protelação da instalação das comissões pelo governo, para que se desse no período do início formal da campanha, foi uma aposta bem sucedida. Evitou a simultaneidade das investigações judiciais com as legislativas, reduzindo os danos das apurações.

O governo não se livrou, porém, do custo político dessa “operação-abafa”. Mas não havia outra relação custo/benefício melhor, o que o fez optar pela estratégia da redução de danos. Os resultados das investigações policiais e judiciais, revelados gradualmente, deu nitidez às manobras palacianas cumpridas à risca pelos líderes da base aliada.

Ficasse por aí, o governo teria menos danos, de fato, do que seria de se prever em circunstâncias normais. Porém, o excesso foi maior, sabe-se agora, e fornece mais munição à oposição, quando das CPIs não se esperava mais nada.

As CPIs já estavam dominadas pela situação. A do Senado sequer contou com a presença da oposição, que preferiu elegê-la como a CPI chapa branca, fazendo da ausência uma forma de denunciar a estratégia de fuga do governo.

A CPI da Câmara ficou reservada para funcionar efetivamente, mas a maioria governista e uma certa abulia da oposição, contribuíram para que fosse mais teatro que realidade. Ficou no espetáculo. Nenhum depoimento ali prestado acrescentou aos já prestados na comissão do Senado.

Sabe-se agora que não só o controle absoluto das comissões pelo governo, mas seu uso para distorcer o processo, explicam a anulação do poder investigativo parlamentar. O conhecimento prévio das perguntas que lhes seriam feitas acalmaram os depoentes e deram a segurança que precisavam para não cometer deslizes.

Passou-se, então, do controle para a fraude, evidenciando o temor do governo com as apurações, a ponto de forçar a coerência dos depoimentos dos atores envolvidos no processo investigado, com questionário de seu prévio conhecimento.

Recursos como mídia training (treinamento de depoentes por profissionais experimentados), produção de argumentos e até respostas a perguntas previsíveis, fazem parte do arsenal legitimo utilizado para fazer com que interrogados se saiam bem nas oitivas.

Mas um questionário com as perguntas que serão feitas pelos parlamentares da base do governo, é algo fora da curva. Os treinamentos são feitos para capacitar os depoentes ante a perguntas prováveis da oposição, nas quais residem os elementos do chamado fator-surpresa.

O “bem bolado” montado pelo Planalto elenca as prováveis questões mais duras a serem levantadas pela oposição, as faz pela boca de parlamentares aliados, dando conhecimento prévio aos depoentes, que já sabem o que deverão responder.

Segue-se que, maioria nas duas comissões, esses parlamentares fazem as perguntas da oposição, ocupam o tempo quase integral das oitivas e está montada a cena que sugere exagero nas denúncias. Respostas bem dadas, respaldada em documentos que não são examinados pelas CPIs, e que precisam ser desdobrados, completam a estratégia.

As duas CPIs não funcionam como comissões investigativas, mas como comissões temáticas. Nessas, o convidado presta seu depoimento e vai embora, sem que a ele se sigam requerimentos de documentos, de quebras de sigilos, acareações e apuração sintonizada com as que se desenvolvem nos âmbitos policial e judicial.

O custo político final não é só do governo, mas também do Legislativo. A fraude agrava o desgaste do Congresso, já cobrado por um comportamento muito distante do padrão ético desejado pela população.

E aprofunda a sensação de que como poder representativo mantém-se indiferente à imagem negativa que vem construindo nos últimos anos, sem avaliar os riscos dessa postura, que fortalece as manifestações inconstitucionais que forçam a passagem para a democracia direta.

Campos diz que Dilma tem que se explicar sobre CPI da Petrobrás

• Candidato afirma que petista, que já foi presidente do conselho administrativo da petroleira, tem que falar sobre possível fraude

Ana Fernandes e Isadora Peron – O Estado de S. Paulo

O candidato a presidente pelo PSB, Eduardo Campos,criticou a estratégia da presidente Dilma Rousseff de dizer que é o Congresso Nacional quem deve se explicar sobre uma possível fraude em depoimentos da CPI da Petrobras no Senado. O candidato do PSB argumentou que a presidente tem responsabilidade, por ter sido presidente do conselho administrativo da Petrobras por oito anos e por ser presidente da República. "Há uma CPI para apurar malfeitos, se faz uma articulação com senadores da base dela e com gente do governo para treinar as perguntas e as respostas antes. E ela dizer que não tem nada a ver com isso? Quem é que tem a ver com isso então?", questionou.

"Isso só faz a população ficar mais descrente na política, só faz a gente ter mais razão. Não dá mais pra continuar desse jeito, o Brasil precisa de um outro jeito de governar", disse Campos, após participar de um evento com jovens e ao lado da companheira de chapa, Marina Silva, em São Paulo.

Segundo reportagem da revista Veja, publicada no fim de semana, as perguntas a serem feitas na CPI do Senado, à presidente da estatal, Graça Foster, seu antecessor, José Sérgio Gabrielli, e ao ex-diretor da área internacional Nestor Cerveró, foram combinadas com antecedência.

Marketing. Campos aproveitou para criticar seu outro adversário na corrida eleitoral, Aécio Neves. Segundo o candidato do PSB, Neves, faz "marketing" político ao prometer criar o Ministério da Infraestrutura e extinguir o da Pesca.

"Eu preferia saber quais são as ideias dele para a pesca e para a infraestrutura, porque, no tempo que o partido dele governou, a infraestrutura do Brasil não avançou praticamente nada", afirmou Campos, em referência aos oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Assim como Aécio, Campos tem prometido reduzir o número de ministérios. O candidato do PSB, no entanto, diz que só falará quais pastas cortará depois da eleição, caso seja eleito. Nós vamos apresentar o programa e depois, na transição, a estrutura. Porque apresentar a forma antes do conteúdo, sinceramente, é mais marketing do que ter a responsabilidade de mudar o Brasil", disse.
Aécio falou sobre o assunto em uma sabatina realizada hoje pelo site de notícias G1. Segundo o tucano, a pasta da Infraestrutura reunirá setores como transporte e energia.

Autonomia do BC em lei. Questionado sobre a possibilidade de seu programa de governo trazer uma proposta de projeto de lei que institucionalize a autonomia do Banco Central, Campos não respondeu. Disse que não falaria sobre a questão, pois o tema em debate no evento com estudantes era educação.

Na semana passada, o coordenador do programa Maurício Rands disse ao Broadcast Político que já estava definido entre a equipe de campanha que o programa defenderia a independência do BC por meio de projeto de lei

Eduardo sobe o tom

- Correio Braziliense

O presidenciável do PSB, Eduardo Campos, aproveitou o dia de campanha em São Paulo para fazer ataques aos dois principais rivais na corrida ao Planalto: a presidente Dilma Rousseff (PT) e ao senador mineiro Aécio Neves (PSDB). Ele criticou a resposta da petista em relação à denúncia da revista Veja que apontou combinação de perguntas e respostas na CPI da Petrobras. Questionada, a presidente afirmou que cabe ao Congresso responder. O pessebista declarou que Dilma "tem tudo a ver com a crise da Petrobras".

O presidenciável do PSB também fustigou o candidato Aécio Neves ao Ironizar as declarações do tucano em relação ao corte de ministérios. Segundo Eduardo, Aécio prefere "fazer marketing eleitoral" a mostrar que "tem responsabilidade para mudar o Brasil" — o tucano anunciou ontem que pretende extinguir pastas, como a da Pesca, e criar a da Infraestrutura. "Acho que qualquer discussão sobre estrutura antes de apresentar o conteúdo é falha. Eu preferiria saber quais são as ideias dele sobre a pesca, porque tem muita gente vivendo de pesca, e as ideias dele para infraestrutura, porque, no tempo que o partido dele governou, a infraestrutura do Brasil não avançou praticamente nada", disse Campos.

Juventude
As declarações de Eduardo foram feitas no lançamento da Carta da Juventude, documento que reúne propostas de políticas públicas voltadas para os jovens. Ao lado da vice na chapa, a ex-senadora Marina Silva (PSB), o socialista prometeu criar um fundo nacional para financiar o passe livre estudantil. "Os R$ 12 bilhões vão vir justamente do orçamento fiscal, de onde vem muitas vezes hoje dinheiro para obras que não terminam, para cargos comissionados, ministérios e publicidade. Vamos priorizar", disse.

CPI da Petrobras - Dilma se isenta de responsabilidade

• Campos aponta responsabilidade da presidente em problemas da estatal

Tatiana Farah – O Globo

SÃO PAULO - A presidente Dilma Rousseff se recusou a comentar ontem a denúncia da revista "Veja" de que dirigentes da Petrobras tiveram acesso prévio a perguntas que seriam feitas por parlamentares governistas na CPI da Petrobras. Para a presidente, o assunto não é da responsabilidade do Planalto.

- Acho que é uma questão que deve ser respondida pelo Congresso - disse Dilma.

Ao ser questionada sobre a decisão do PSDB de entrar com representação na Procuradoria Geral da República para pedir a apuração da denúncia, a presidente disse que esse é um direito do partido.

- Acho que o PSDB faz as representações que quiser fazer em Brasília - comentou Dilma, durante visita a unidade de saúde em Guarulhos, em São Paulo.

Mais tarde, o candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, contestou a declaração de Dilma e disse que a petista é responsável, sim, pelos problemas da estatal porque comanda a área de energia do governo desde que assumiu o ministério da área, no começo do governo Lula, em 2003. O candidato destacou que a denúncia envolve "senadores da base, gente do governo".

- A presidenta Dilma tem tudo a ver com a crise da Petrobras. Foi presidente do conselho de administração da Petrobras por oito anos e nomeou a presidente (da empresa). Se ela disser que não tem nada a ver com isso, quem é que tem? - indagou o presidenciável.

A reportagem mostrou que a presidente da Petrobras, Graça Foster, e ex-dirigentes da estatal ouvidos na CPI do Senado que investiga a empresa tiveram acesso prévio a perguntas preparadas por funcionários da liderança do PT e da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência. A revista cita também o relator da CPI da Petrobras, senador José Pimentel (PT-CE), que teria recorrido ao ex-presidente da Petrobras José Eduardo Dutra e a Graça Foster para fazer chegar às mãos de José Sérgio Gabrielli, também ex-presidente da estatal, as perguntas do depoimento que ele deu em 20 de maio. (Colaborou Sérgio Roxo

Candidatos atrás de indecisos em SP

Atrás de 10 milhões de votos

• Dilma, Aécio e Campos vão a São Paulo, onde 31% dos eleitores ainda não têm candidato

Renato Onofre, Sérgio Roxo, Silvia Amorim e Tatiana Farah – O Globo

SÃO PAULO - Com o início da cobertura diária das campanhas eleitorais pela TV Globo, os quatro primeiros colocados na corrida presidencial - Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB), Eduardo Campos (PSB) e Pastor Everaldo (PSC) - escolheram ontem São Paulo como o primeiro campo de batalha na nova etapa da corrida eleitoral. Em jogo, o voto de dez milhões de paulistas que ainda não decidiram em quem votar, contra cinco milhões no Rio e três milhões em Minas. Segundo a última pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada no dia 17 de julho, 31% dos eleitores de São Paulo estão indecisos ou votarão em branco/nulo no dia 5 de outubro.

A campanha de Dilma aposta que as primeiras aparições na TV em São Paulo podem minimizar o alto índice de rejeição da petista no maior colégio eleitoral do país e evitar o crescimento do seu principal adversário no estado, o mineiro Aécio Neves. Ambos estão empatados na corrida eleitoral com 25% das intenções de voto dos eleitores paulistas. Aécio tem como meta fazer o paulista acreditar que ele pode suprir a falta de um candidato do estado nesta eleição. Pela primeira vez desde a redemocratização, São Paulo não tem representante na disputa ao Planalto. O tucano aposta em aparições públicas na capital ao lado dos dois últimos ex-candidatos à Presidência pelo PSDB: o governador Geraldo Alckmin, candidato à reeleição, e o ex-governador e candidato ao Senado, José Serra.

Já Eduardo Campos quer fazer de São Paulo a vitrine para se tornar mais conhecido entre o eleitorado. Para isso, ele reforça as aparições na cidade ao lado da ex-senadora e candidata à vice-presidência em sua chapa, Marina Silva. Ser conhecido também é o objetivo do candidato do PSC, Pastor Everaldo, que estará pelo menos duas vezes por semana no estado.

Agenda de última hora
Dilma começou a nova fase da campanha em Guarulhos, na Grande São Paulo, numa agenda marcada de última hora. Acompanhada de ministros e de assessores de campanha, a presidente visitou uma unidade de saúde da família e conversou com médicos e funcionários, além de posar para fotos com crianças no colo. Com sua equipe de filmagem, o marqueteiro João Santana acompanhou a presidente. A ideia, disseram assessores do governo, era mostrar o programa Mais Médicos na primeira aparição de campanha de Dilma nos telejornais nacionais.

De acordo com as pesquisas, Dilma enfrenta sua maior rejeição em São Paulo. Para tentar reverter a situação, a campanha presidencial tem focado suas ações no estado. Na semana passada, já esteve na capital para um encontro da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e, na quinta-feira, volta à cidade para receber o apoio de sindicalistas de seis centrais, entre elas a Força Sindical.

Em pronunciamento ontem à imprensa, Dilma fez questão de aproximar do estado o tema do Mais Médicos. Segundo ela, São Paulo é a unidade da federação que mais demandou profissionais do programa federal. No posto visitado ontem, dos seis médicos que atendem a população, dois são cubanos contratados pelo governo. João Santana quer usar o programa como chamariz da campanha.

Pela manhã, assessores do governo disseram que a visita à unidade de saúde era uma agenda mista de campanha e atividade governamental. O ministro da Comunicação, Thomas Traumann, confirmou, no entanto, que era uma visita de campanha. Questionado pelo GLOBO se a presidente havia usado avião oficial para a viagem, disse que Dilma viajou em uma aeronave fretada pelo PT. Mesmo sendo uma agenda de campanha, Dilma estava acompanhada de Traumann e foi recebida pelo ministro da Saúde, Arthur Chioro.

Segundo membros do estafe presidencial, o marqueteiro João Santana acompanhou a visita para gravar o programa de TV da campanha. Um dos seguranças da Presidência comentou que aquele teria sido o motivo da viagem. Entretanto, uma assessora da Presidência disse que não houve filmagem no interior do prédio público.

A assessoria da Presidência acrescentou que Dilma não estava fazendo campanha durante o expediente porque a presidente não tem horário fixo de trabalho, e, por conta do cargo que ocupa, está sempre à disposição.

A professora de Direito Eleitoral da FGV-Rio Silvana Batini explicou que a legislação vigente veta a veiculação de propaganda de qualquer natureza em bens do poder público e de uso comum.

- No que diz respeito ao expediente, um agente político faz seu próprio horário de trabalho, o que não se estende aos servidores - disse Silvana, que é também procuradora Regional da República no Rio.

Menos cargos de confiança
Aécio abriu a semana de campanha na capital paulista com uma participação em um congresso com empresários do agronegócio de todo o país. Ao lado das principais lideranças do PSDB no estado e do vice da chapa presidencial tucana, Aloysio Nunes Ferreira, Aécio acompanhou alguns discursos, mas deixou o evento antes de fazer um pronunciamento porque se atrasaria para o próximo compromisso.

Mais tarde, em sabatina ao portal "G1", o candidato do PSDB disse que estuda a criação de um ministério para a área de infraestrutura e logística. A pasta seria resultado da fusão de outros ministérios, mas Aécio não quis dar detalhes.

- Vamos apresentar esse novo desenho mais adiante. Em primeira mão, quero dizer aqui que estamos estudando a criação de um forte Ministério da Infraestrutura. Não quero entrar em detalhes, mas ele trataria dos investimentos em rodovias, ferrovias e da área de energia. Fica essa primeira sinalização - afirmou.

Aécio reafirmou a promessa de reduzir a "22 ou 23" o total de ministérios, sem especificar todos que eliminaria, mencionando apenas a pasta da Pesca. Atualmente, são 39. Ainda em relação à reestruturação da máquina do governo, o tucano prometeu reduzir em um terço os cerca de 23 mil cargos de confiança.

Também presente à capital paulista, Campos criticou a proposta do concorrente tucano.

- Qualquer discussão sobre a estrutura antes de apresentar o conteúdo é falha. Eu preferia saber quais são as ideias dele para a pesca, porque tem muita gente vivendo da pesca, e também as ideias dele sobre infraestrutura, porque no tempo em que o partido dele governou a infraestrutura do Brasil não avançou praticamente nada - atacou Campos, referindo-se aos mandatos de Fernando Henrique Cardoso na Presidência.

Ao lado de Marina, em encontro com representantes de movimentos de juventude dos partidos de sua coligação, Campos reafirmou duas das propostas com maior apelo de sua campanha: o compromisso com o passe livre no transporte público para estudantes e a universalização do ensino em tempo integral.
Em almoço no Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo (Setcesp), o candidato do PSC à Presidência da República, Pastor Everaldo, afirmou que negocia com o governador Geraldo Alckmin (PSDB), candidato à reeleição ao governo paulista, uma agenda conjunta entre os dois no estado:

- Apoiamos a eleição dele no estado e também queremos apoio. No momento certo, o governador irá pedir voto comigo.

O candidato também anunciou a criação de um Ministério da Segurança Pública.

Projeção de crescimento cai pela 10ª vez

• Analistas de mercado, segundo pesquisa do BC, veem expansão de 0,86%

Gabriela Valente – O Globo

BRASÍLIA - As medidas de estímulo ao crédito adotadas pelo Banco Central (BC) há duas semanas não foram suficientes para melhorar as previsões de crescimento do país. A projeção do mercado financeiro para este ano, captada na pesquisa semanal Focus, feita pelo BC com os analistas das principais instituições financeiras do país, registrou queda pela décima semana consecutiva, passando de 0,90% para 0,86%.

O pessimismo tem várias razões. Os juros básicos estão altos (11% ao ano) e assim devem continuar por um bom tempo. As contas públicas estão cada vez mais debilitadas, com resultados no vermelho por dois meses seguidos. As vendas no varejo desaceleram. A criação do emprego está menor que o esperado, apesar de o desemprego se manter baixo. E a perspectiva de retração para o setor industrial foi revista para 1,53%, ante 1,15% na semana passada.

- Mesmo se as medidas fossem de magnitude muito maior, demoraria para reverter as projeções. Só que as medidas foram pequenas para mudar todo o cenário - avaliou Alexandre Póvoa, sócio da Canepa Asset Management. - Tudo isso é reflexo de números ruins a curto prazo, e o governo não tem nenhum coelho para tirar da cartola.

Os economistas também estão preocupados com o represamento dos aumentos das tarifas públicas neste ano, o que terá impacto na economia em 2015. A projeção de alta dos preços administrados continua em 5% para 2014. Para o ano que vem, passou de 6,75% para 6,9%.

Já a previsão para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado pelo governo na meta de inflação, perde força há três semanas. Na pesquisa do BC, caiu de 6,41% para 6,39% este ano. O teto da meta é 6,5%. Já para 2015, a projeção teve a terceira alta consecutiva, de 6,21% para 6,24%.

As estimativas da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) para o Brasil, porém, são bem mais otimistas: expansão de 1,4% este ano, uma das menores taxas na América Latina, segundo relatório divulgado ontem. Na média, as economias latino-americanas e do Caribe crescerão 2,2%.

PIB do Brasil entre os piores da América Latina

• Cepal corta para 1,4% a previsão de crescimento do país em 2014. Para analistas do mercado financeiro, a expansão será ainda mais modesta e não passará de 0,86%

Deco Bancillon – Correio Braziliense

O pessimismo que se alastra entre empresários e famílias também alcançou os organismos internacionais. Menos de duas semanas após o Fundo Monetário Internacional (FMI) cortar de 1,9% para 1,3% a projeção de crescimento econômico do Brasil em 2014, ontem foi a vez da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) também revisar para baixo as projeções para o desempenho do país.

A entidade das Nações Unidas (ONU) reduziu de 2,3% para apenas 1,4% a estimativa de alta do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro neste ano. A revisão dos números foi anunciada no mesmo dia em que a pesquisa Focus, do Banco Central, revelou que a projeção do mercado financeiro para o crescimento da economia brasileira, bem mais pessimista, caiu pela décima semana consecutiva. A estimativa passou de 0,9% para 0,86%.

Outros países da região também tiveram as previsões de crescimento revisadas para baixo pela Cepal, mas em intensidade menor que a do Brasil. O México, por exemplo, deverá avançar 2,5%. Até abril deste ano, a entidade projetava que a expansão da economia mexicana seria de 3%.

O mesmo ocorreu com o Chile, onde o organismo internacional tem sede. A estimativa para o crescimento daquele país foi reduzida de 3,7% para 3% em 2014. Em situação pior estão Cuba e Argentina, que tiveram as projeções cortadas em 0,8 ponto percentual. O país da América Central deverá crescer 1,4%, o mesmo desempenho do Brasil. Já o vizinho sul-americano praticamente ficará estagnado, com expansão de apenas 0,2%.

Para a Cepal, latino-americanos e caribenhos foram afetados pela redução do comércio global e pela queda do preço das commodities (matérias-primas com cotação em bolsa). "O barateamento dos preços das exportações segue reduzindo a conta corrente dos países, inclusive do Brasil. Também há menos importações, refletindo a menor demanda das famílias e o baixo crescimento econômico", disse Jurgen Weller, diretor substituto da Divisão de Desenvolvimento Econômico da entidade.

Contudo, nem todos os países da região serão afetados pela redução do comércio global. A secretária executiva do órgão, Alicia Bárcena, lembrou que Colômbia e México têm economia mais dinâmica e crescerão mais do que em 2013. Mesmo com essas exceções, a entidade reduziu a estimativa de crescimento do conjunto da América Latina e do Caribe de 2,7% para 2,2% em 2014, em função, especialmente, dos maus resultados de economias como Brasil, Argentina e Chile.

Defasagem
"Os dados que estão ficando evidentes ao longo do semestre já apontavam para uma desaceleração de vários setores produtivos no Brasil, em especial da indústria, e para a queda das exportações", disse o diretor da Cepal para o Brasil, Carlos Mussi. Ele observou que as previsões da entidade foram feitas no fim de junho e não incorporam dados divulgados no mês seguinte que traçam um cenário ainda mais preocupante para o crescimento econômico de 2014.

É o caso do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-BR) referente a maio, que encolheu 0,18%. Considerado um termômetro para o PIB, o indicador sinaliza que o a economia está a um passo da recessão, o que poderá ficar comprovado no fim deste mês, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará os resultados do PIB no segundo trimestre.

A julgar pelos dados da indústria, as expectativas não são nada favoráveis. O setor teve quatro quedas mensais desde março. Em junho, a produção nas fábricas encolheu 1,4%, o pior resultado desde dezembro. Comparado a junho de 2013, houve retração ainda maior, de 6,9% — o mais baixo desempenho desde setembro de 2009.

Alberto Aggio: O impasse venezuelano

- O Estado de S. Paulo

Desde a ascensão de Hugo Chávez ao poder na Venezuela, no final de 1998, a América Latina foi impactada pela mística da revolução bolivariana, depois identificada pela fórmula "socialismo do século 21". Visto como mais uma contestação à teorização do "fim da História", como leitura do mundo após o colapso do "comunismo histórico", bem como da noção de revolução como fiat da História, a Venezuela de Chávez passou a ser o epicentro de uma América Latina que voltava a desafiar o sentido do tempo histórico.

Bem-sucedido na Venezuela, o chavismo estabeleceu-se como referência de novos governos eleitos no Equador, na Bolívia e na Nicarágua, além de influenciar parcelas significativas de intelectuais e políticos de esquerda na Argentina, no Chile, no Uruguai e no Brasil. Mesmo combalido pelo desaparecimento da sua liderança maior, em 2013, e pela profunda crise econômica que vem alimentando manifestações de descontentamento ao largo do país, o chavismo parece ainda pairar sobre o continente como um espectro difuso e belicoso.

Com Chávez no poder a América Latina, depois da vaga democratizante das duas últimas décadas do século 20, voltou a falar de revolução. Sem se afastar de Cuba, o chavismo não buscou uma reiteração da revolução cubana de 1959, tampouco de quaisquer outras experiências comunistas e socialistas do século passado. O chavismo procurou instituir seus fundamentos a partir de um mítico amalgama ideológico que alberga militarismo, marxismo, cristianismo, guevarismo e latino-americanismo, dentre outras linhagens, todas mobilizadas pragmaticamente para garantir sua sobrevivência no poder.

Atento à cena mundial, Chávez reconheceu que nenhuma transformação de caráter socialista poderia ser realizada na Venezuela dispensando alguns requisitos básicos da democracia política, dentre eles uma ordem constitucional legitimada - a nova Constituição bolivariana de 1999 - e uma regularidade no processo eleitoral, ainda que privilegiando elementos de democracia participativa e direta. Seu grande desafio foi estabelecer sua legitimidade como revolucionária e democrática, simultaneamente.

A "revolução chavista" baseia-se num conjunto de políticas voltadas para a diminuição da pobreza por meio da distribuição da renda petrolífera. A presença do Estado na economia garantiu crédito e consumo aos mais pobres, o que possibilitou a diminuição da pobreza e da indigência no país, conforme dados da Cepal. Porém, quando sobreveio a crise internacional em 2009, a economia venezuelana viu-se sem alternativas, com perda de crescimento, inflação e desabastecimento. A violência social recrudesceu e se somou à violência política do Estado e dos "coletivos chavistas" contra opositores e manifestantes.

No plano político, o chavismo garantiu aos venezuelanos parâmetros mínimos de democracia, com eleições, plebiscitos, Parlamento, etc.. Todavia é facilmente observável que outros requisitos fundamentais da vida democrática foram deslocados do núcleo central do projeto, como a autonomia do Poder Judiciário, a alternância no poder, o respeito à minoria política, a ampla liberdade de imprensa e de expressão, entre outros exemplos. O chavismo manifesta assim imensas dificuldades para sustentar sua legitimidade democrática.

A despeito das vitórias de Chávez em 2000 e 2006 e da eleição de Nicolás Maduro em 2012, o chavismo segue aprisionado em sua armadilha: fazer uma (duvidosa) revolução por meios democráticos que não se ajustam integralmente nem ao seu projeto nem à sua prática. A crise econômica e as denúncias de corrupção vêm produzindo desavenças no governo, o que levou Maduro a substituir ministros e prometer um rearranjo completo no governo. Esse cenário tende a se agravar, uma vez que, além de enfrentar as oposições, o governo começa a apresentar fissuras internas com a aberta dissidência de ex-comandantes chavistas. Para alguns deles, a manutenção de Maduro na presidência mostra-se hoje "um sacrifício inútil".

Nessas circunstâncias, pode-se vislumbrar o colapso do chavismo? Difícil saber. Especialmente em razão das discordâncias no interior da heterogênea oposição venezuelana. Se em seu seio existem os que pensam irrealisticamente numa solução militar contra o governo, a Mesa de Unidade Democrática (MUD), a maior coalizão eleitoral da oposição, crê que, ao contrário, é necessário respeitar as regras do jogo estabelecidas pela Constituição e se mostra disposta a negociar com Maduro, mesmo sendo acusada de "colaboracionismo". Por outro lado, setores mais radicalizados da oposição continuam a adotar práticas violentas, tal como os "coletivos chavistas", ainda que com menor intensidade, e da mesma forma fazem arder ruas, praças e câmpus universitários numa luta incessante sem abertura para nenhum consenso.

A sedução pela confrontação não é pequena e enquanto o governo caracteriza todos os opositores como fascistas, o partido liderado por Leopoldo López (Voluntad Popular), sem aderir a nenhuma solução militar, flerta com uma insurreição popular, germinada nas manifestações de protesto, para pôr abaixo o governo de Maduro. O resultado desse braço de ferro tem sido mais violência, prisões e repressão. Uma aposta diferenciada emerge, por fim, do Primero Justicia, partido liderado por Henrique Capriles, governador do Estado de Miranda, que procura atuar no interior da constitucionalidade, obedecendo à agenda institucional. O objetivo é disputar a base social do chavismo, em especial seus organizadores e militantes, que parecem não encontrar espaço na luta pelo poder instalada no interior do governo chavista.

Aferrado à sua trajetória, o "chavismo sem Chávez" busca hoje recuperar uma unidade que vem perdendo em meio a suas próprias contradições. De outro lado, a unidade da oposição mostra-se ainda mais incógnita.

Alberto Aggio é historiador e professor titular da Unesp-Franca

Merval Pereira: Farsa reveladora

- O Globo

Se juntarmos as pressões bem-sucedidas sobre o Tribunal de Contas da União (TCU) para retirar o Conselho de Administração da Petrobras do rol dos culpados pelo prejuízo causado pela compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, à denúncia de que o depoimento de ex-diretores da estatal na CPMI do Congresso não passou de uma farsa, já que eles tiveram acesso antecipado às perguntas, e foram treinados sobre qual resposta dar, temos mais um grande escândalo envolvendo o Palácio do Planalto e, pelo menos indiretamente, a própria presidente Dilma Rousseff.

Ela foi a principal beneficiária da decisão do TCU de não incluir o Conselho na relação dos culpados, pois o presidia à época em que a compra da refinaria foi aprovada. O próprio ex-presidente Lula entrou no circuito, pressionando seu ex-ministro José Mucio - e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, acompanhou o advogado-geral da União, Luis Inácio Adams, a uma audiência com o presidente do TCU para tentar adiar a decisão.

Os demais diretores da Petrobras tiveram seus bens bloqueados e responderão a um processo, inclusive a atual presidente Graça Foster, excluída da lista inicial por um engano do TCU que será sanado ainda esta semana. A reação de vários deles foi de denunciar a responsabilidade de Dilma e de todo o Conselho na compra, o que parecem dispostos a repetir na investigação do Tribunal de Contas.
 
Não é à toa, portanto, que o ex-presidente José Sérgio Gabrielli e o ex-diretor Nestor Cerveró, acusado por Dilma de ser o responsável por um relatório falho que teria levado o Conselho a tomar uma decisão errada, foram tratados a pão de ló pelos assessores governamentais e líderes do PT, que trataram de lhes preparar não apenas as perguntas, mas também as respostas, para que os depoimentos na CPI da Petrobras tivessem aparência de coerência.

A denúncia da revista "Veja", com base em uma gravação clandestina feita por alguém presente em uma reunião na qual o assunto foi tratado em Brasília, mostra que o próprio relator da CPI no Senado, o petista José Pimentel, usou a presidente da Petrobras, Graça Foster, e o diretor da estatal e seu ex-presidente José Eduardo Dutra para passar para os ex-diretores que iriam depor as perguntas que seriam feitas.

Na reunião gravada aparecem o chefe do escritório da Petrobras em Brasília, José Eduardo Sobral Barrocas, o chefe do departamento jurídico do escritório, Leonan Calderaro Filho, e um advogado da estatal, Bruno Ferreira, conversando sobre a melhor estratégia para encaminhar as perguntas.

Segundo Barrocas, as perguntas teriam sido formuladas pelo assessor especial da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência Paulo Argenta; pelo assessor Marcos Rogério de Souza, da liderança do governo no Senado; e por Carlos Hetzel, assessor da liderança do PT na Casa. A participação do assessor da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência leva o escândalo para o Planalto, onde trabalha seu chefe, o deputado Ricardo Berzoini, o mesmo envolvido na eleição de 2006 no escândalo dos aloprados.

De acordo com declarações dos participantes da reunião, o senador petista Delcídio Amaral, que já foi diretor da Petrobras e é apontado como próximo a Cerveró, foi o intermediário para que chegassem a ele o que chamam cinicamente de "gabarito", isto é, as perguntas e as respostas certas, como se tivessem conseguido antecipadamente o resultado certo de um vestibular.

Era "pule de dez", como se diz no Jóquei quando um cavalo favorito vence o páreo, que a CPI sobre a Petrobras seria uma enganação, pois o governo, tendo a maioria, a controlaria. Mas o que não se sabia é que o caso é tão perigoso para o governo que seria necessário armar uma farsa mais ampla que a pura negligência na apuração.

Pela reação dos ex-diretores da Petrobras acusados pelo TCU, enquanto tudo não for resolvido da melhor maneira para eles, pairará sobre o Palácio do Planalto a ameaça de revelações que até agora foram contidas por movimentos radicais como a farsa da CPI. O ex-presidente Gabrielli, que já dissera que a presidente Dilma não pode fugir "de suas responsabilidades", está calado, mas outros diretores anunciaram que não aceitarão a culpa sozinhos.

A ousada manobra para ajudá-los na CPI do Congresso dá bem a mostra do poder de fogo que têm. E dizem que a construção da refinaria Abreu e Lima é muito mais problemática do que a compra da refinaria de Pasadena...

Dora Kramer: Tropeço da tropa

- O Estado de S. Paulo

Pode ter sido só uma coincidência.

Não há na denúncia sobre a farsa dos depoimentos previamente acertados na CPI da Petrobrás no Senado nada que estabeleça uma relação direta de causa e efeito entre uma declaração do ex-presidente Luiz Inácio da Silva feita em abril último e a denúncia que agora vem a público em gravação transcrita e divulgada pela revista Veja.

Realmente pode ter sido só uma coincidência o fato de Lula ter pedido ao PT que fosse "para cima" da oposição na CPI da Petrobrás a fim de evitar que os trabalhos prosperassem, e a trama cujos contornos se desenham em um vídeo de 20 minutos sobre acertos a respeito das perguntas de senadores e respostas dos convocados a depor.

Na ocasião - uma conversa com blogueiros amigos na sede de seu instituto -, o ex-presidente lembrou que o mensalão começara com uma CPI para investigar denúncia de pagamento de propina nos Correios. Na opinião dele, o PT deveria aprender a lição e não repetir o equívoco de ficar esperando soluções jurídicas. Era preciso ir à luta.

A tropa governista foi ao combate. Usando os instrumentos de praxe. Primeiro, a manobra da presidência do Senado de tentar cassar o direito da minoria, tentativa devidamente cassada pelo Supremo Tribunal Federal.

Depois, recorreu ao seu direito legal de usar a maioria para fazer de conta que investigava para não investigar coisa alguma. Ao ponto de a compra da refinaria de Pasadena não fazer parte da pauta da CPI.

Já ia a comissão de inquérito caminhando para a pretendida insignificância - em parte devido à irrelevância dos depoimentos, em parte à falta de quórum nas reuniões e, por último, à ausência de parlamentares devido às férias pré-eleitorais que o Congresso se autoconcedeu, quando voltou a ter importância.

Não pelos motivos certos, a investigação correta dos negócios da Petrobrás, mas pela informação que esclarece a razão pela qual aqueles depoimentos eram tão desinteressantes, não obstante os depoentes - Graça Foster, José Sergio Gabrieli e Nestor Cerveró - fossem detentores de dados relevantes.

A julgar pela transcrição da gravação, estava tudo combinado. As testemunhas sabiam o que lhes seria perguntado, estavam devidamente orientadas para responder de maneira legalmente adequada aos interesses governamentais e os senadores preparados para aceitar o que ouviam sem contestar.

Do ponto de vista do comprometimento de um processo de investigação, não poderia haver nada mais perfeito. Um método muito sofisticado, e pérfido, de desmoralizar completamente a função de fiscalização do Congresso.
A presidente Dilma Rousseff não deixa de ter razão quando diz que o Parlamento precisa se explicar. Sobre o envolvimento do Planalto por ora há apenas uma presunção e uma conjugação suspeita de interesses.

Mas, em relação ao Senado, o cenário se delineia mais claro. Não é apenas o relator da CPI, José Pimentel quem fica na berlinda. São os integrantes da comissão que ou repassaram suas perguntas para os "treinadores" ou aceitaram passivamente fazer as indagações que lhes foram passadas por eles.

Desse ponto de vista, a oposição fez bem em não querer participar da CPI. E a situação, ao trazê-la de novo ao foco, pode ter obtido o efeito contrário ao originalmente pretendido.

Nome ao boi. O vice-presidente, Michel Temer, foi enfático ao pedir que o candidato do PMDB ao governo de São Paulo dê menos atenção às pesquisas e mais importância à política, deixando de ouvir tanto o marqueteiro Duda Mendonça responsável pela orientação para que se afaste da presidente Dilma Rousseff devido aos altos índices de rejeição.

Temer lembrou que Duda acaba de perder uma eleição na Colômbia, na qual trabalhou pelo candidato Óscar Iván Zulvaga, derrotado pelo presidente Juan Manuel Santos.

Eliane Cantanhêde: Tudo embolado

- Folha de S. Paulo

Difícil dizer o que é pior: assessores do governo e das lideranças do governo e do PT no Senado redigindo "gabarito" para fazer da CPI da Petrobras uma farsa, ou o governo Lula transformando o Sesi num antro de pelegos ricos de fazer inveja à ditadura militar.

Uma fita amadora obtida pelo repórter Hugo Marques deixa a CPI, a Petrobras e o governo federal numa posição delicada. Foi Dilma quem acusou a Petrobras de fazer um negócio danoso com a compra da refinaria de Pasadena. Agora é a equipe de Dilma no Congresso e no Planalto que prepara a defesa de Graça Foster, José Sérgio Gabrielli e Nestor Cerveró, providenciando as perguntas da CPI e até as respostas que dariam?!

Se for assim, os servidores, sobretudo o do Planalto, fizeram um serviço de ética questionável, os senadores se prestaram a um papel lamentável, e o que dizer de Foster, Gabrielli e Cerveró? Eles não tinham respostas autônomas? Papagaiaram mentiras?

O mais grave é Cerveró, que assumiu dois papéis nesse teatro: foi acusado por Dilma de fazer um parecer falho e incompleto que a induziu a a erro; e agora é defendido pelo próprio governo de Dilma, que lhe teria enviado um script pronto para... rebater o que a própria presidente da República disse publicamente.

Dedução lógica: os escândalos da Petrobras estão associados aos governos Lula e Dilma e é preciso amenizar seus efeitos na campanha. Só isso explica ligar a máquina do Planalto para salvar até mesmo Cerveró.

Já o repórter Murilo Ramos mostrou que uma das noras de Lula (R$ 13,5 mil por mês), a mulher do mensaleiro João Paulo Cunha (R$ 22 mil) e três outros petistas de carteirinha (mais de R$ 30 mil cada um) foram contratados pelo Sesi depois de 2003, já no governo Lula, não necessariamente para trabalhar. Aliás, nem mesmo para dar expediente como os meros mortais.

O bom da história é que a denúncia partiu de funcionários que levam o Sesi a sério. Se a moda pega...

Luiz Carlos Azedo: Trapalhadas oficiais

• A equipe de governo não pode agir como "tropa de assalto" na eleição. É mais ou menos o que aconteceu na CPI da Petrobras

- Correio Braziliense

É tênue e sinuosa a linha que separa o permitido do proibido em matéria de participação de autoridades e funcionários públicos em campanhas eleitorais. O que torna a situação mais ambígua e complexa é o fato de candidatos à reeleição ao Executivo — como a presidente Dilma Rousseff e alguns governadores — concorrerem a um novo mandato no pleno exercício do cargo. Isso torna a disputa evidentemente desigual e facilita o envolvimento indevido da máquina pública na campanha eleitoral.

Talvez seja esse o fator mais perverso do instituto da reeleição, que muitos defendem por garantir a continuidade administrativa, enquanto outros criticam porque avaliam que dois mandatos contíguos obstruem a renovação política e favorecem a formação de oligarquias.

Com os instrumentos de poder à mão e o marketing eleitoral, quem governa goza de favoritismo nas eleições. Mesmo assim, a reeleição da presidente Dilma Rousseff subiu no telhado por causa do fracasso da política econômica e do mau desempenho do governo em áreas como saúde, segurança e educação, além de transportes e energia.

O marqueteiro João Santana, porém, avalia que nada disso terá a importância que a oposição imagina porque Dilma disporá de muito mais tempo de televisão do que os adversários. Ou seja, a partir do próximo dia 19, quando começa a campanha eleitoral de rádio e tevê, a presidente da República passaria a ter duas grandes vantagens estratégicas: o exercício do cargo e o horário eleitoral gratuito.

Autopromoção
Mas voltemos ao divisor de águas. Na semana passada, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu multar em R$ 7,5 mil o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, por propaganda eleitoral antecipada. Em 15 de junho, no Palácio do Planalto, o ministro convocou uma coletiva para fazer comparações entre as administrações anteriores dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso, o discurso oficial para mascarar os resultados negativos do governo.

Na véspera, havia ocorrido a convenção nacional do PSDB, que oficializou a candidatura de Aécio Neves à Presidência da República, ocasião em que os integrantes do partido fizeram críticas à presidente Dilma. "O representado não se limitou a rebater críticas ao governo federal. Ao meu ver, ele transbordou conteúdos desconectados da convocação da entrevista", declarou a ministra Maria Tereza, relatora do caso.

Os ministros Henrique Neves e Luciana Lóssio chegaram a defender que Mercadante fosse penalizado também por conduta vedada, mas esse não foi o entendimento majoritário. No mesmo dia, porém, o TSE manteve a decisão de não punir a presidente Dilma Rousseff por propaganda eleitoral antecipada devido ao pronunciamento em cadeia de rádio e televisão no Dia Internacional da Mulher.

Nesse caso, a ministra Maria Teresa alegou que não houve autopromoção. Entretanto, o ministro Teori Zavascki corroborou a tese de que o exercício do cargo já é vantagem estratégica na eleição: "O próprio fato de aparecer na mídia sem mesmo fazer um pronunciamento já significa uma vantagem. O fato de a presidenta fazer um pronunciamento no Dia da Mulher já significa uma vantagem eleitoral, o que não quer dizer propaganda institucional".

Responsabilidades
A equipe de governo não pode agir como "tropa de assalto" na eleição. É mais ou menos o que teria acontecido na CPI da Petrobras, em cujos trabalhos funcionários do Palácio do Planalto e da direção da empresa supostamente interferiram para proteger os investigados. É uma situação recorrente para quem acompanha os bastidores do Congresso, mas, dessa vez, parece que ficaram as impressões digitais.

Não chega a ser um caso de Código Penal, a não ser que se aceite a inquinação de advocacia administrativa quanto aos servidores envolvidos (Art. 321 — Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário). Há, porém, fortes indícios de que houve improbidade administrativa, que é um ilícito de natureza civil. Um assessor direto do ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, é citado no vídeo. Haveria, assim, interferência indevida e vedada do Poder Executivo e da Petrobras sobre o Legislativo.

Além disso, caso os fatos se confirmem, não se pode descartar a eventual imputação de crime de responsabilidade para ministros eventualmente envolvidos. Até a presidente Dilma correria esse risco, caso estivesse envolvida, pois a Constituição entende, no art. 85, que "são crimes de responsabilidade os atos do presidente da República que atentem contra a Constituição e, especialmente, contra: (...) o livre exercício do Poder Legislativo".

Raymundo Costa: O grande eleitor e a campanha de Dilma

• As expectativas do PT sobre a agenda de Lula nas eleições

- Valor Econômico

O comitê eleitoral de Dilma Rousseff decidiu concentrar a campanha à reeleição nos maiores colégios eleitorais do país, onde a presidente vem perdendo terreno nas pesquisas. Na lista das prioridades estão, pela ordem, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Ceará, Rio Grande do Sul e Pernambuco. A perda de densidade eleitoral de Dilma na grande maioria desses Estados, segundo avalia a campanha presidencial, pode comprometer a vantagem de votos que o PT espera tirar na região Nordeste, esteio da eleição da presidente em 2010.

A agenda de Dilma deve dar prioridade a esses Estados, sem muito alarde para não provocar contrariedade nos demais Estados e regiões. A expectativa, nos bastidores da campanha, é sobre a agenda a ser cumprida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O PT e o comitê de Dilma querem fechar logo uma agenda robusta, muito embora seja possível encontrar, na coordenação da campanha e no Palácio do Planalto, quem diga que a presidente tem hoje condições de se eleger sozinha, a partir do tempo de televisão de que disporá no horário gratuito de propaganda eleitoral, quase o dobro dos demais candidatos, quando poderá então prestar contas de seu governo e discorrer sobre o que pretende fazer, se ganhar mais quatro anos da mandato.

Lula tem reiterado vontade de ajudar e diz que está à disposição do partido. Na prática, o que se vê até agora está distante do enunciado triunfalista de antes de a campanha começar, segundo o qual o ex-presidente estaria no Sul, quando Dilma estivesse no Norte, um no Oiapoque e outro no Chui, numa dança frenética e letal para os adversários do projeto de poder do PT. Lula tem comparecido a eventos de candidatos próximos a ele, como Delcídio Amaral, que disputa o governo de Mato Grosso do Sul, ou o empresário Josué Gomes da Silva, filho de seu amigo e vice José Alencar, candidato a uma cadeira no Senado pelo PMDB de Minas. Também faz força para tirar do chão a candidatura do ex-ministro Alexandre Padilha ao governo de São Paulo.

Outras áreas da campanha têm exigido a atenção de Lula. Uma delas é a de arrecadação de recursos, um problema que não estava no horizonte de alguns meses atrás. Institucionalmente, o tesoureiro da campanha de Dilma é Edinho Silva, deputado do PT em São Paulo, sem nenhuma experiência nessa área. Na prática, a coleta está a cargo do secretário de Finanças do PT, João Vaccari Neto. Nos bastidores, o tesoureiro já não esconde que a arrecadação está bem abaixo do que era previsto para esse período da campanha, no total orçada em R$ 298 milhões. Poderia ser pior, se Lula não estivesse empenhado em desfazer o mau humor de boa parte do empresariado com a presidente.

A movimentação do ex-presidente sugere, também, que ele perdeu alguns pruridos em relação a suas crias no governo. Até dias atrás, Lula reclamava intramuros a interlocutores que cuidavam de passar adiante o que dizia o líder. O ex-presidente também tomava cuidados para não transformar o "Volta, Lula", ainda sussurrado aqui e alí, num movimento irrefreável. Agora, passou a agir. Dois exemplos, um federal e outro municipal. Em Brasília, o ex-presidente atuou para manter no Palácio do Planalto o secretário-geral, Gilberto Carvalho, seus olhos e ouvidos no governo, que Dilma pretendia exilar no comitê eleitoral. Em São Paulo, convocou secretários do prefeito Fernando Haddad para uma reunião. Não chamou Haddad. O prefeito foi conferir. Lula respondeu que não o chamara porque prefeito era uma pessoa muito ocupada, não queria retirá-lo de seus afazeres, e também porque pretendia que os secretários falassem livremente.

Haddad insistiu em ir, foi e os secretários falaram livremente. No final foram combinadas ações para tentar tirar a popularidade do prefeito da lama - a criticada gestão de Fernando Haddad à frente da Prefeitura de São Paulo está no topo do ranking de motivos classificados no PT para o mau momento por que passa a candidatura de Dilma no maior Estado brasileiro. Lula ficou de cobrar as providências.

É bem verdade que o ex-presidente tem dificuldade para cumprir certas agendas. No Rio de Janeiro, por exemplo, Lula não vai fazer quatro campanhas. Dilma tem a obrigação porque ela é a candidata de uma coligação nacional que, no plano estadual, se divide em quatro candidatos: Luiz Fernando Pezão (PMDB), Lindbergh Farias (PT), Anthony Garotinho (PR), Marcelo Crivela (PRB). Partidariamente, Lula faria agenda com o Lindbergh. Mas o ex-presidente deve acompanhar a evolução dos acontecimentos, para só então se decidir por este ou aquele palanque.

Se Garotinho, Crivela e Pezão forem 100% Dilma, Lula deve ponderar bastante sobre o que fará no Rio de Janeiro. Talvez tenha que se dedicar mais no segundo turno. Se houver "evasão" ou "traição", o que parece inevitável, pois as campanhas são mistas, o ex-presidente poder dizer "já que a única campanha pura da Dilma é a do Lindbergh, eu vou lá". Pura, é bom que se diga, em termos, pois associado a Lindbergh está o deputado Romário, do PSB, partido do candidato a presidente Eduardo Campos.

A chave no Rio pode ser resumida numa frase de Garotinho: "Eu não quero exclusividade, eu quero reciprocidade". Referia-se à participação da presidente Dilma em sua campanha. Reciprocidade é uma palavra que já está no dicionário de Dilma. Deve ser chave também para definir a participação de Lula em campanhas aliadas.

Quando é questionado sobre a presença de Lula nos palanques da campanha, o comitê de Dilma à reeleição costuma responder que o ex-presidente tem muita disposição para viajar, mas também precisa de tempo para gravar mensagens de rádio e de televisão para os candidatos aliados. E a demanda é grande. Lula também deve participar do programa de televisão de Dilma, mas não será âncora, como chegou a ser divulgado. Pode ser que tudo mude depois do dia 19 de agosto, mas a duas semanas do começo da propaganda partidária não dá como dizer que Lula teve, até agora, o protagonismo antes prometido pelo PT.

Para ocultar a podridão: O Estado de S. Paulo - Editorial

Só pode ter uma causa a farsa armada pelo governo, o PT e a Petrobrás na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o escândalo da compra da Refinaria de Pasadena, em curso no Senado - a seleção sob medida e o repasse antecipado das questões a cair nas sabatinas a que se submeteriam figurões da estatal, como revelou a revista Veja -: a ânsia de calafetar até a mais microscópica das frestas do caso para que permaneçam nas sombras as dimensões do pântano profundo que recobre os subterrâneos da transação.

Segundo o transcrito de uma conversa de 20 minutos filmada a que a publicação teve acesso, o chefe do escritório da Petrobrás em Brasília, José Eduardo Sobral Barrocas, comentou com o advogado da empresa, Bruno Ferreira, e um terceiro interlocutor não identificado que o assessor especial da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Paulo Argenta; o assessor da liderança do governo no Senado, Marco Rogério de Souza; e o assessor da liderança do PT na Casa, Carlos Hetzel, foram os autores das perguntas previamente encaminhadas à presidente da petroleira, Graça Foster, ao seu antecessor Sérgio Gabrielli e ao ex-diretor Nestor Cerveró, para que combinassem as respostas a fim de não cair em contradição. Eles depuseram na CPI entre os dias 20 e 27 de maio.

Dos 13 membros do colegiado, que tem 180 dias de prazo para apurar o negócio de Pasadena e as ligações de funcionários da Petrobrás com o doleiro Alberto Youssef, 10 são governistas. Maioria na Casa, as lideranças do PMDB, PT e de outras siglas da base do Planalto haviam se apropriado, numa operação a que não esteve alheia a presidente Dilma Rousseff, de uma iniciativa da oposição, quando ficou claro que não seria possível bloqueá-la. Lesados, os oposicionistas conseguiram emplacar outra CPI, dessa vez mista, e ignoraram a contrafação montada no Senado, tendo como presidente o peemedebista Vital do Rêgo e como relator o petista José Pimentel. Nem essa confortável situação era o bastante, agora se sabe. "Risco zero" foi a palavra de ordem.

Isso não pode ser atribuído a um velho cacoete petista nem, apenas, ao cuidado para que nada, absolutamente nada, possa respingar no projeto da reeleição de Dilma - que, em 2006, chefiando o Conselho de Administração da Petrobrás, autorizou a compra de metade da refinaria, por 8,5 vezes mais do que a sua proprietária, o grupo belga Astra Oil, havia pago pelo empreendimento inteiro, apenas um ano antes. A estatal acabaria enterrando na tenebrosa transação US$ 1,245 bilhão, com um prejuízo de US$ 792 milhões, segundo o Tribunal de Contas da União. Em decisão recente, que se seguiu a intenso trabalho de lobby, o órgão isentou a presidente de qualquer responsabilidade pelo maior rombo na história da empresa e resolveu abrir outra ação contra 11 dos seus diretores ou ex-diretores.

Por que então os operadores do Planalto, com a presumível cumplicidade do relator José Pimentel, prepararam e entregaram a "cola" da prova aos sabatinados? Repita-se: o único motivo que faz sentido era impedir que, por descuido, um deles desse uma pista das enormidades que possam estar por trás do escândalo de Pasadena. Não que inexistam indícios veementes disso. Basta citar um exemplo pontual, uma ponta de iceberg: um relatório da própria Petrobrás, obtido em abril pelo jornal O Globo, descobriu que, em fevereiro de 2010, US$ 10 milhões foram retirados da conta da refinaria mediante mera autorização verbal - não se sabe de quem, para quem e para quê. E Pasadena muito provavelmente não foi um raio em céu azul.

O PT no poder, ao aparelhar a Petrobrás, "criou um monstro", como disse certa vez o general Golbery do Couto e Silva da sua criatura, o Serviço Nacional de Informações (SNI). E se há uma personagem central nesse processo, que permitiu o inadmissível na estatal, é a então ministra de Minas e Energia, depois titular do Gabinete Civil e, enfim, chefe do governo. Ninguém, ao longo desses anos, nem mesmo o ex-presidente Lula, há de ter tido influência comparável na estatal. É dela, portanto, a responsabilidade objetiva - não por uma ou outra decisão desastrosa ou falcatrua, mas pelo conjunto da obra.