domingo, 29 de abril de 2018

Opinião do dia: Roberto Freire

Dificilmente suas intenções de voto permanecerão nos atuais patamares, quando o pré-jogo e o jogo começarem, logo depois da Copa do Mundo. Muito provavelmente sofrerá desidratação severa. A extrema-direita, como também a extrema-esquerda, são pouco expressivas no Brasil, apesar de barulhentas, sobretudo nas redes sociais.

A hora é de apostarmos na unificação do centro democrático e na explicitação das grandes propostas mudancistas e reformistas para o Brasil.

Precisamos virar a página e começar a discutir programas e propostas de governo.

O mais, sobre as pesquisas, é especulação, é videogame.

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Roberto Freire, deputado federal por São Paulo, é Presidente Nacional do PPS (Partido Popular Socialista. ‘As chances do centro democrático’ , Diário do Poder, 27/4/2018

Frente de esquerda ou frente democrática?

Milton Lahuerta, coordenador do LabPol, responde a duas perguntas sobre o sentido e a oportunidade de se construir uma frente de esquerda no Brasil.

PERGUNTA: É possível se constituir uma frente de esquerda no Brasil de hoje?

MILTON LAHUERTA: Em princípio, é possível e até mesmo muito necessário, em virtude do avanço do conservadorismo, da intolerância e da insanidade política que acometeram boa parte das sociedades contemporâneas. No que se refere ao Brasil, talvez, em nenhum outro momento da história, tenha-se assistido a um processo tão radical e destrutivo de polarização ideológica. A questão é qualificar o que se entende por frente de esquerda e que atores políticos e setores sociais poderiam estar representados nessa proposição.

Até porque, ainda que haja uma grande polarização e muita intolerância nas redes sociais, num plano mais substantivo, nota-se que as clivagens não são tão claras e estão permeadas por muita incompreensão e muito preconceito, o que dificulta o enfrentamento das profundas transformações dos últimos 40 anos. Nesse sentido, o grande problema é discutir em torno de que bandeiras se pretende estruturar uma frente de esquerda.

Hoje, diante da vitória acachapante do capitalismo, provocada pela mudança de padrão produtivo e tecnológico, o que se vê no âmbito mundial é que a esquerda passou a defender pautas essencialmente defensivas. Ou seja, mais do que qualquer perspectiva afirmativa e radicalmente mudancista (ou revolucionária), atualmente, apresentar-se como de esquerda implica muitas vezes em defender posições e direitos que seriam mais adequadamente caracterizados como pertencendo ao campo do liberalismo político ou da social democracia do que ao da esquerda revolucionária clássica.

Eliane Cantanhêde: Acórdão ou acordão?

- O Estado de S.Paulo

Suspense: só com acórdão ficará claro até onde a Segunda Turma quer chegar

Há uma final de campeonato entre dois times de ministros do Supremo Tribunal Federal: um que joga com a defesa do ex-presidente Lula, preso em Curitiba; outro, com o juiz Sérgio Moro e a força-tarefa da Lava Jato. Ora o decano Celso de Melo desempata para um lado, ora a ministra Rosa Weber desempata para o outro, mas os times estão equilibrados.

Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli levantaram a bola e os (muitos, aliás) advogados de Lula cortaram. Os três ministros mudaram seus votos de apenas meses atrás e retiraram do juiz Sérgio Moro trechos das delações premiadas da Odebrecht que citam Lula. Ato contínuo, os advogados pediram a Moro que enviasse os processos contra Lula para a Justiça em São Paulo.

No pedido, que nem sequer aguardou a publicação do acórdão da Segunda Turma, a defesa requer a “imediata remessa” dos autos processuais quanto ao sítio de Atibaia, fala em “incompetência desse Juízo” (a Vara de Moro) e provoca: “A menos que se queira desafiar a autoridade da decisão proferida pelo Supremo”.

Vera Magalhães: O fator tempo

- O Estado de S.Paulo

Campanha oficial começa em agosto, mas efeito do calendário tardio é incerto

Com a autoestima em baixa desde que a Lava Jato dificultou sobremaneira sua vida, os políticos empurraram o calendário eleitoral lá para a frente, depois da Copa.

As convenções acontecem de 20 de julho a 5 de agosto. A propaganda em material impresso e nos palanques, em 16 de agosto. O horário eleitoral em rádio e TV, só no dia 31 de agosto! E a cobertura diária da Rede Globo, pela qual os candidatos se engalfinham, só em 20 de agosto.

A concentração da campanha em 45 dias leva os partidos e candidatos a raciocinarem que têm tempo de sobra. Fazem a analogia com os 42 km da maratona, como propôs Fernando Henrique Cardoso.

Iludidos pela areia que cai devagar da ampulheta, nomes sem qualquer traço de viabilidade eleitoral desfilam por aí, discursam, viajam, prometem e gastam um dinheiro que é artigo de luxo (ao menos o legal) numa campanha em que as torneiras do financiamento empresarial foram fechadas.

O que pretendem? Muitos operam segundo a lógica que sempre prevaleceu em eleições: quanto mais exposição, mais aumenta o cacife para negociar uma aliança favorável para si e seu partido, nacionalmente e nos Estados.

O calendário, essas estratégias, todo o blablablá enfadonho de uma pré-campanha que, essa sim, ficou loooooooonga demais, levam em conta os interesses dos políticos, não o do eleitor.

Merval Pereira: Guerra como política

- O Globo

Ataque a petistas não é aceitável na democracia. Num momento em que o país vive crises múltiplas, sendo a moral a geradora das demais, a radicalização do debate político chega ao limite quando grupos rivais são atacados a bala, como aconteceu no acampamento dos militantes petistas em Curitiba.

Não é aceitável numa democracia que o debate de ideias chegue a tal radicalização e que a disputa partidária se transforme em guerra aberta, distorcendo a visão de Clausewitz de que a guerra é a continuação da política por outros meios.

O que aconteceu em Curitiba precisa ter uma resposta rápida e eficiente das autoridades, mesmo que os militantes acampados em frente à Polícia Federal sejam típicos representantes do mote “nós contra eles” ressuscitado pelo ex-presidente Lula em seu discurso no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, momentos antes de ser preso.

A radicalização da política, à esquerda e à direita, não é aceitável numa democracia, e é preciso que os líderes partidários entendam que não podem esticar a corda até onde o Estado de Direito não aguentar.

A presidente do PT, senadora Gleisi Hoffman, não é a líder que o momento exige. Ao contrário, estimula o radicalismo com seus vídeos absurdos, pedindo apoio a países ditatoriais que têm suas prisões cheias de presos políticos quando considera Lula um preso político numa democracia.

Agora mesmo, acusou irresponsavelmente o juiz Sergio Moro e os meios de comunicação, especialmente o Grupo Globo, de serem culpados pelos atentados. Considerar que quanto pior melhor é o lema desses radicais da direita e da esquerda, que agora se enfrentam nas ruas do país quando deveriam se enfrentar nas urnas de outubro.

Elio Gaspar: Palocci foi o quindim do mercado

- O Globo

Antonio Palocci chegou ao Ministério da Fazenda em 2003 antecedido por denúncias de malfeitorias praticadas quando era prefeito de Ribeirão Preto, mas foi protegido pela simpatia do andar de cima, sobretudo da banca. Uma das maracutaias envolvia uma licitação de R$ 1,2 milhão para a compra de cestas básicas, grosseiramente manipulada para favorecer empresas amigas.

Como ministro da Fazenda de Lula e chefe da Casa Civil de Dilma Rousseff, Palocci tornou-se o comissário do andar de cima. A aliança de empreiteiros, empresários e papeleiros com Lula, Dilma e José Dirceu era essencialmente oportunista. Com Palocci havia mais que isso. O ex-ministro enriqueceu ao passar pelo governo.

Quando o juiz Sergio Moro bloqueou suas contas pessoais e empresariais, tinha R$ 30,8 milhões. Vivia num apartamento cinematográfico comprado por R$ 6,6 milhões. Uma parte contabilizada dessa receita veio de contratos de consultoria com grandes empresas.

A colaboração do ex-ministro poderá resultar na exibição de novas conexões da máquina de roubalheiras. Hoje, empreiteiros e fornecedores larápios tornaram-se arroz de festa. Palocci operava no lado oculto da Lua e pode mostrar como as propinas disfarçavam-se de caixa dois ou fingem ser contratos de consultoria. Um exemplo pitoresco dessas ligações perigosas circulou há poucos meses.
Palocci teria contado que, em 2002, antes do início do romance do PT com a banca, armou a transferência de US$ 1 milhão do ditador líbio Muammar Gaddafi para a campanha de Lula. Tomara que o comissário tenha mostrado à Polícia Federal a trilha bancária dessa transação.

A CHAPA CIRO-HADDAD ESTÁ NO BARALHO
Com nome e sobrenome, a ideia de uma chapa com Ciro Gomes (PDT) na cabeça e Fernando Haddad (PT) na vice veio de Luiz Carlos Bresser-Pereira e foi revelada pelo repórter Mario Sergio Conti, narrando uma conversa que juntou os dois, mais o ex-ministro de FHC e o professor Antonio Delfim Netto. Sem nome e sobrenome, a ideia está nos baralhos de muita gente, inclusive nos de Ciro e Haddad.

Exposta assim, a chapa parece uma especulação prematura. Mostrada de outro jeito, ela é quase inevitável. Basta que sejam aceitas duas pré-condições:

1 - Nos próximos meses Ciro e o PT convivem num pacto de não agressão, como vêm fazendo até agora.

2 - Até agosto as pesquisas indicam que Ciro e Haddad (admitindo-se que ele venha a ser o poste de Lula) têm algum fôlego, mas nenhum dos dois é forte o suficiente para ter certeza de que chegará ao segundo turno. Hoje Ciro tem 9% e Haddad, 2%.

Admitindo-se que as pesquisas mantenham Ciro em melhor posição que Haddad, o PT troca uma eleição perdida pela esperança de uma vice.

A maior resistência à chapa Ciro-Haddad virá do PT, onde suas facções sonham com cenários que vão da imortalidade política e eleitoral de Lula ao delírio de uma explosão popular, com gente nas ruas e pneus queimados.

Bruno Boghossian: Eliminação prematura

- Folha de S. Paulo

Candidatos precisam decidir se topam aliança indesejável para evitar fiasco

A matemática eleitoral não é boa para a turma do centro —ou campo azul, ou establishment ou qualquer denominação para o grupo que exerceu poder no país nos últimos dois anos.

Estamos no fim de abril e, aparentemente, há cinco candidatos com mais chances de chegar ao segundo turno do que Geraldo Alckmin (PSDB), Henrique Meirelles (MDB) e Rodrigo Maia (DEM).

O desgaste da classe política e a impopularidade de Michel Temerabastecem a corrida presidencial com um combustível de mudança. É cedo para fazer diagnósticos definitivos, mas as pesquisas sugerem que deverá ser estreito o caminho para candidaturas de continuidade.

Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede) despontam sob o signo da ruptura com a política tradicional. Ciro Gomes (PDT) e o nome do PT atacarão pela esquerda o atual governo. Por fim, Joaquim Barbosa (PSB) bagunça o tabuleiro ao atrair eleitores insatisfeitos de ponta a ponta.

Mary Zaidan: O Brasil refém do STF

- Blog do Noblat

Dilma continua a distribuir estragos.

Em 2008, sem conseguir avançar na ideia da trieleição, Lula, hoje preso por corrupção e lavagem de dinheiro, inventou Dilma Rousseff e, com ela, um tormento sem fim. A presidente deposta foi um pesadelo para o país – e para seu padrinho – durante os cinco anos e meio de mandato. E continua a distribuir estragos.

Não só além das fronteiras, em viagens pagas pelo governo, portanto pelos impostos dos brasileiros, para denegrir as instituições nacionais, incluindo o STF, que com ela foi para lá de generoso. Mas também internamente.

Desta vez, em Minas Gerais, domicílio que escolheu para disputar uma vaga ao Senado. Novamente, garante ela, ungida por Lula antes de ele iniciar o cumprimento de sua pena de 12 anos e um mês.

A candidatura da ex caiu como bomba por lá, detonando a aliança já acertada entre o PT e o MDB em torno da reeleição do governador petista Fernando Pimentel – seu amigo do peito. Como a composição reserva ao MDB as vagas ao Senado, simplesmente não cabe Dilma.

Tê-la na disputa foi o estopim para que o presidente da Assembleia mineira, o emedebista Adalclever Lopes, abrisse o processo de impeachment de Pimentel, que, em dezembro, já havia se tornado réu no STJ. Mesmo que não avance, o pedido de cassação revigora as baterias da oposição cinco meses antes do pleito.

FHC analisa o Brasil

Em 'Crise e Reinvenção da Política', ex-presidente defende pautas como cotas, aborto e mudanças na política de drogas

Marianna Holanda | O Estado de S.Paulo / Aliás

A seis meses das eleições, Fernando Henrique Cardoso conclama por uma mudança radical de renovação na política. Aos 86, o ex-presidente lançou um livro na semana passada em que alega que a polarização PT-PSDB está esgotada e defende que “ter vergonha na cara e amor à pátria não são noções de direita ou de esquerda”.

Crise e Reinvenção da Política no Brasil, da Companhia das Letras, é um longo comentário, fruto de entrevistas do tucano a Miguel Darcy de Oliveira e Sergio Fausto. Fernando Henrique defende nas 240 páginas o que em oito anos de Presidência não o fez com tanta contundência: cotas, aborto, revisão da política de drogas, a defesa do meio ambiente e até a renda mínima universal – agenda da vida do vereador petista Eduardo Suplicy, ignorada por seu partido.

Em diferentes trechos, o ex-presidente critica a leitura leninista de Gramsci e afirma que não faz mais sentido a mudança social vir de um partido revolucionário e ser obra do proletariado. “A esquerda diz que a questão central é reduzir as desigualdades. A direita diz que é aumentar a produtividade. Eu digo: temos de enfrentar o desafio de realizar uma coisa e outra, simultaneamente”, afirma.

Curiosamente, a obra dialoga com a célebre frase do socialista italiano de que o velho já morreu e o novo ainda não nasceu. Para o tucano de 86 anos, a mudança já está em curso e a realidade requer “um estilo radicalmente novo de liderança política”.

Por outro lado, as análises de como chegamos a esta crise e possíveis soluções o distanciam, na prática, do que defendem os atuais partidos de esquerda. “Para avançar é preciso abrir a economia e não fechar”, contrapõe.

O ex-presidente destrincha temas polêmicos, como a reforma da Previdência, e consegue se posicionar melhor que muitos pré-candidatos hoje no cenário eleitoral. Defende a reforma da Previdência, com idade mínima e tempo de contribuição, o voto distrital misto, a reforma trabalhista e a volta do financiamento empresarial de campanhas. As privatizações dos tempos que ocupou o Palácio do Planalto também foram defendidas: “Nunca perdemos de vista os interesses gerais da sociedade e os interesses de longo prazo no Brasil”.

Luiz Carlos Azedo: Lula, Dirceu e Palocci

- Correio Braziliense

O mito fundador do PT foi a ideia de um partido operário que chegasse ao poder pela via eleitoral e fosse capaz de construir uma alternativa socialista com base na democracia. Reuniu em torno de um líder sindical operário, que aparecera na cena política nacional com a eclosão das greves dos metalúrgicos do ABC, em 1982, correntes de esquerda que haviam participado da luta armada, lideranças estudantis, o clero progressista e intelectuais marxistas que divergiam da linha do velho PCB, que aderiu ao reformismo, e sua antiga dissidência stalinista, o PCdoB. A fundação do PT foi viabilizada na brecha aberta pela reforma partidária de João Figueiredo, em 1979, enquanto a fracassada concorrência comunista somente conquistou a legalidade em 1985, em razão da estratégia bem-sucedida de abertura gradual e segura adotada pelos militares para se retirar do poder, cujo nó górdio foi a anistia ampla, mas recíproca, ou seja, dos torturadores aos ex-guerrilheiros.

O sucesso do PT foi garantido pelo ambiente favorável, tanto no plano internacional — o chamado “socialismo real” dava sinais de esgotamento na União Soviética e seus satélites do Leste europeu desde as greves operárias de Gdansk, na Polônia, e o surgimento do Solidariedade —, como no plano interno, com a crise do modelo de “capitalismo de Estado” adotado pelos militares (baseava-se no tripé investimentos estrangeiros, setor produtivo estatal e concentração de capital nacional) e as sucessivas vitórias eleitorais da oposição. O método de construção do PT foi uma inovação: a convivência pluralista entre suas correntes internas, algumas das quais oriundas de antigas organizações trotskistas ou da luta armada. O conceito que serviu de base para a essência do partido e a inspiração de seu nome, porém, não era novo, mas é o que mantém o partido unido até hoje. Tem inspiração no velho Manifesto Comunista de 1848, de Marx e Engels: a ideia do ser operário como “classe geral”, que, ao se libertar, é capaz de libertar todos os explorados e oprimidos da sociedade.

Quando o PT finalmente chegou ao poder, em 2002, a esquerda mundial estava impactada pelo fim da União Soviética e o colapso do socialismo no Leste Europeu. A ofensiva neoliberal comandada pelo presidente norte-americano Ronald Reagan e pela primeira-ministra inglesa Margareth Tatcher havia sido um sucesso. Mesmo nos países onde a social-democracia europeia era hegemônica, houve reformas do “Estado do bem-estar social”. A nova realidade imposta pela terceira revolução industrial era implacável com as velhas ideias de pleno emprego e redistribuição da riqueza pela via do setor produtivo estatal e da seguridade social. Os primeiros sinais de que uma quarta revolução estava se iniciando também não foram devidamente percebidos pela esquerda. Pelo contrário, a eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi comemorada como uma espécie de ascensão de um novo Salvador Allende, capaz de liderar uma nação em desenvolvimento no rumo do socialismo democrático. Teve tanta repercussão que o presidente democrata Barack Obama, ao receber a visita de Lula nos Estados Unidos, saudou com entusiasmo a presença do petista na cena mundial: “Esse é o cara!”.

Candidatos liberais à Presidência disputam eleitorado evangélico

Com 1% nas pesquisas, Meirelles, Maia e Flávio Rocha miram 39,5 milhões de votos

Pré-candidatos liberais à Presidência e empacados nas pesquisas de intenção de voto, com 1% cada um, Henrique Meirelles (MDB), Flávio Rocha (PRB) e Rodrigo Maia (DEM) disputam o apoio de lideranças evangélicas para tentar alavancar suas candidaturas. Os evangélicos somam 39,5 milhões de eleitores, ou 27% – e, segundo analistas, têm cada vez mais protagonismo na política e querem a sua pauta na agenda eleitoral. Dos três, Rocha é o que mais tem identificação com esse público: o pastor Marcos Pereira, presidente do PRB e uma das principais lideranças da Igreja Universal do Reino de Deus, está na coordenação de sua campanha. O contraponto é o empresário João Amoêdo, do Novo, que diz não privilegiar um setor. Em situação mais confortável nas pesquisas, Jair Bolsonaro (PSL) também disputa o voto dos neopentecostais.

‘Liberais’ fazem investida por eleitorado evangélico

Ricardo Galhardo, Paulo Beraldo | O Estado de S. Paulo.

Em um cenário marcado pela pulverização de pré-candidaturas de centro, os presidenciáveis que se intitulam liberais se aproximam dos eleitores evangélicos para tentar alavancar suas pré-campanhas. Só neste ano, a agenda do ex-ministro Henrique Meirelles, pré-candidato do MDB, registra quatro compromissos públicos com líderes de igrejas. O mais recente deles, no começo deste mês em São Paulo, foi durante convenção da Assembleia de Deus. Outro postulante ao Planalto, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, espera ter apoio de deputados evangélicos de seu partido, o DEM.

“Eles (os fiéis evangélicos) têm demonstrado aceitação bastante grande em torno das políticas de austeridade fiscal, de equilíbrio das contas públicas”, disse Meirelles ao Estado, citando o que deve ser a principal tônica do seu discurso eleitoral.

Segundo o Ibope, os evangélicos representam 27% do eleitorado brasileiro, ou cerca de 39,5 milhões de pessoas. Pode parecer pouco se comparado aos 80 milhões que se declaram católicos (outros 24,5 milhões de eleitores são adeptos de outras religiões ou ateus), mas a cientista social Maria das Dores Machado, coordenadora do Núcleo de Religião, Gênero, Ação Social e Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), acredita que o apoio de líderes religiosos pode ser fundamental no momento de decisão do voto.

Grupos de renovação estão em 27 partidos

Rede e PSDB são as siglas mais procuradas por ‘novatos’ para concorrer nas eleições

Gilberto Amendola | O Estado de S.Paulo

A busca pela chamada terceira via e a rejeição ao Fla x Flu eleitoral fizeram da Rede, da pré-candidata à Presidência Marina Silva, o partido mais "povoado" por membros dos grupos de renovação política, como a Rede de Ação Política Pela Sustentabilidade (Raps) e o RenovaBr. Apesar de uma clara tendência "centrista", o arco ideológico da chamada "renovação" é bastante elástico e contempla pelo menos 27 legendas. Entre elas, siglas tradicionais como PSDB e PSB ou totalmente díspares como PCdoB e PSL (partido do deputado e presidenciável Jair Bolsonaro).

Dos 559 membros da Raps, 307 são de alguma sigla e podem se candidatar nas próximas eleições. O partido mais representado é a Rede, com 71 filiados. O mesmo acontece no RenovaBr: entre os seus 134 bolsistas, apenas 3 não estão em nenhum partido (e, portanto, não serão elegíveis em outubro). Do restante, 25 estão filiados ao partido de Marina.

Além da Rede, o discurso antipolarização também fez do Novo outro partido com bastante representatividade nesses grupos. A sigla do pré-candidato João Amoedo tem 20 integrantes na Raps e 16 no RenovaBr.

A pré-candidata do PSOL ao legislativo estadual e integrante da Raps Mônica Seixas Bonfim, 31 anos, falou sobre a convivência com pares tão diferentes. “A intenção desses grupos de renovação é humanizar a forma de fazer política. Acredito que pode existir diálogo e que podemos aprender uns com os outros”, disse. “Mas, claro, as diferenças ideológicas continuam existindo. No mais, você sempre pode escolher em que mesa se sentar na hora do almoço”, brincou.

Já a pré-candidata do PR a deputado federal e membro da Raps e do RenovaBr Juliana Cardoso, 28 anos, também acredita na diversidade partidária como algo positivo dentro dos movimentos. “No meu caso, escolhi o PR depois de assegurar que teria liberdade dentro de sua estrutura. Além disso, o PR é o partido que me oferece a possibilidade de uma campanha profissional e com chances de êxito.”

Embora em partidos tão diferente, Mônica e Juliana têm militância na luta pelo meio ambiente e em causas feministas.

Alckmin elabora plano para região Nordeste

- Coluna do Estadão

Preocupado com seu desempenho no Nordeste, que tem 26,3% do eleitorado, Geraldo Alckmin (PSDB) começou a elaborar um plano de governo para a região. Sua equipe busca novidades para apresentar ao eleitor nordestino, que demonstra preferência por Lula (PT), Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT). A proposta do tucano será crítica à política desenvolvimentista da Sudene, focada na atração da indústria por meio de incentivo fiscal. Sobre a transposição do Rio São Francisco, obra associada ao PT, Alckmin dirá que ela sozinha não resolve.

Já tem pai. Apoiadores de Alckmin o aconselharam a pensar novas ideias para o Nordeste fora do já consolidado programa Bolsa Família se quiser angariar votos na região. Avaliam que falar do programa de Lula não agrega votos ao tucano.

Encomenda. O presidenciável tucano convidou o senador Cristovam Buarque (PPS-DF) para elaborar suas propostas para educação. O congressista, que foi reitor da UnB, vai sugerir a Alckmin defender educação em tempo integral e a federalização do ensino básico.

Combo. O acordo que prevê uma aliança entre PSDB, DEM e MDB para unificar a candidatura do centro esbarra em dois impasses: 1) os primeiros querem herdar o tempo de TV do MDB, mas resistem em defender o legado de Temer e 2) a definição sobre o cabeça da chapa.

Mostrar serviço. DEM e MDB dizem que Alckmin só se viabiliza candidato do centro se conseguir o apoio de, pelo menos, 40% do eleitorado de São Paulo. Em um dos cenários da pesquisa Ibope, ele tem 14% das intenções de voto.

Em 4 anos, tudo mudou na política nacional

Políticos poderosos foram do céu ao inferno entre 2014 e 2018, um período divisor de águas no país

Flávio Freire e Tiago Dantas | O Globo

SÃO PAULO - Nem os analistas mais antenados poderiam imaginar no que se transformaria o cenário político nacional nesses últimos quatro anos. Desde 2014, a crise política, forjada em sucessivos esquemas de desvio de dinheiro público, escanteou da cena eleitoral quem antes batia no peito, orgulhoso da própria popularidade. E são as pesquisas de opinião pública que hoje não só referendam, mas alimentam ainda mais o imaginário coletivo quando se procura uma resposta para o que provocou o sobe e desce dos poderosos do país: a corrupção.

— Vivemos uma enorme crise de representatividade, e, pior, por causa da corrupção, algo que não será possível sanear rapidamente — afirma o cientista político Rubens Figueiredo.

O vaivém da maré fez muita gente nadar contra a correnteza nesse período. Sem enfrentar qualquer tipo de investigação, Lula tinha como maior saia-justa, quatro anos atrás, o apelo de seus correligionários para que fosse candidato à Presidência no lugar de Dilma Rousseff. A campanha “Volta, Lula” dominava o eleitorado de esquerda. Hoje, preso na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, o líder petista tem sofrido um revés atrás do outro na Justiça, que manteve sua condenação de 12 anos e um mês de prisão.

Quem lá atrás quase assumiu a Presidência, caso do tucano Aécio Neves, agora vive à sombra de ter se tornado réu em acusação de corrupção no Supremo Tribunal Federal (STF). Aécio testemunhou a prisão da irmã, Andrea, acusada de envolvimento numa negociata com Joesley Batista, antes um dos mais respeitados empresários do país, hoje personagem da trama policial que parece roteirizar a política.

Vinicius Torres Freire: Governo caça dinheiros eleitorais

- Folha de S. Paulo

Ministros próximos de Temer dizem que vai haver surpresas no investimento

Ministros amigos de Michel Temer dizem que o governo vai arrumar dinheiro extra para investimentos sociais e para obras neste ano.

Afirmam que é preciso “criatividade”, tal como no plano de permitir os saques das contas inativas do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), que colocou R$ 44 bilhões no bolso dos trabalhadores em 2017. Provavelmente, foi o que evitou um crescimento do PIB próximo de zero no ano passado.

Como o governo vai “criar” dinheiro?

Um ministro diz que o investimento público vai aumentar, pois há “sobras” do ano passado. Vai haver mais dinheiro para o MCMV (Minha Casa, Minha Vida), por exemplo, inclusive por meio de investimentos adicionais com dinheiro do FGTS. O investimento federal, diz um deles, já teria começado a reagir.

Afirmam que vai haver um bom reajuste para o Bolsa Família. Que já estariam garantidos os empréstimos de bancos estatais para estados e municípios. Que serão, enfim, facilitadas as parcerias público-privadas (PPPs) em municípios, reivindicação velha das construtoras menores.

Samuel Pessôa: O câmbio andou

- Folha de S. Paulo

Provavelmente a alta do dólar desde o início do ano veio para ficar

Desde 26 de janeiro o real desvalorizou-se, relativamente, à moeda americana, em 10%. Passou de R$ 3,15 por dólar para R$ 3,47. O câmbio andou pouco mais de R$ 0,3.

Sempre que olhamos andadas do câmbio, nos perguntamos: quais fatores motivaram sua variação? Fatores domésticos ou fatores externos? Será que o calendário eleitoral e todas as incertezas associadas ao processo eleitoral passaram a entrar no radar dos investidores?

Meu colega do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) Lívio Ribeiro produziu estudo que separa os movimentos do câmbio em seus componentes externos e domésticos. Rigorosamente os componentes domésticos constituem o resíduo da parcela dos movimentos do câmbio que não são descritos pelos componentes externos.

O resultado que Lívio obteve foi que aproximadamente 45% da desvalorização do câmbio, ou R$ 0,135, resultou de fatores externos. Eles foram: a valorização da moeda americana ante as divisas fortes, o aumento do custo internacional de capital, medido pela elevação da remuneração do título do Tesouro americano de dez anos, e o impacto dessas variáveis sobre o risco Brasil.

Do movimento de alta, 5%, ou R$ 0,015, deveram-se a fatores domésticos que pressionaram o risco Brasil –as incertezas eleitorais entram aí–, e os demais 50%, ou R$ 0,15, provêm da redução do diferencial de juro entre o Brasil, fruto da queda da Selic, e o juro americano de um ano. Somando as três parcelas, temos a desvalorização total de R$ 0,3.

Toda essa análise não consegue tratar de causalidade. É possível somente estabelecer correlações entre as variáveis.

Celso Ming: As esquerdas, tão perdidas

- O Estado de S.Paulo

Não importa mais o fato de que já ninguém consegue entender o que seja a divisão ideológica entre direita e esquerda. O que importa é que partidos, pensadores e pessoas que se dizem de esquerda estejam mergulhados em profunda confusão, já não conseguem entender o que se passa e, na falta de programas sustentáveis, permanecem patinando no vazio, sem impacto eleitoral.

Se ainda existe a divisão da sociedade em classes, entre a burguesia exploradora e o proletariado explorado, não é mais assim que elas se manifestam hoje. Nem é entre essas contradições que opera a dialética destes tempos.

O sistema de produção deixou de ser predominantemente fabril e os sindicatos estão ameaçados de esvaziamento. Já não há mais “donos” do capital e, apenas residualmente, famílias detentoras de controle acionário. Hoje pode estar distribuído por fundos de equity; amanhã, podem ter passado para uma instituição com sede num paraíso fiscal. A dinâmica do capital tornou-se predominantemente financeira, circula ao redor do mundo à velocidade da luz. A nova tecnologia, altamente digitalizada, destrói postos de trabalho e profissões. Também cria outras, sabe-se lá com que duração.

A produção de riqueza e renda também não está mais centralizada na indústria. Mais de 70% do PIB das economias avançadas, incluída aí a do Brasil, está no setor de serviços. Em todo o mundo, a execução do trabalho deixou de ser preponderantemente braçal ou física. A internet e os aplicativos vêm empurrando os assalariados para atividades autônomas, “por conta própria”, nas quais qualquer um pode ser patrão de si mesmo.

As atuais esquerdas vêm denunciando equivocadamente esse processo como um ambiente de precarização e de informalização do trabalho. Não se dão conta de que está em curso um movimento – até onde se pode ver, inexorável – em direção ao pequeno e médio empreendedorismo. Esse novo ambiente não destrói apenas os esquemas de financiamento da previdência social. Também dissolve a atividade sindical, na mesma medida em que o proletariado se empenha em ter ocupação independente.

Miriam Leitão: Em momento agudo

- O Globo

O professor entra na prisão de segurança máxima, Bangu 3, e os guardas o trancam. Dois jovens prisioneiros tomam conta dele e de outros professores que foram lá para falar de livros, ou qualquer outro assunto. O visitante é o presidente da Academia Brasileira de Letras, Marco Lucchesi. Ele faz isso há muito tempo: visitar as prisões e falar de livros, que hoje também ajudam na redução das penas.

Oque o escritor, poeta, tradutor, ensaísta e professor tira desse contato, do qual ele diz não querer abrir mão? Uma sensação de urgência do que o Brasil precisa fazer para evitar que mais brasileiros cruzem aqueles portões.

— Nós temos condição de reverter essa situação. Como? Através do acesso à universidade, às escolas, dando condições eficazes a uma infância feliz. Esse é um tema poucas vezes levado adiante: a preocupação com a infância, com o futuro das crianças. É preciso haver uma revisão das leis em relação às licenças dos pais e das mães, porque as crianças precisam dos pais por mais tempo. Quanto mais a sociedade puder amparar o futuro desses meninos e meninas, mais fácil será. Porque, senão, eu vou encontrá-los na prisão.

Lucchesi tem muitas histórias de encontros na prisão. Conta que, uma vez, entrou e viu aquela imagem da menina afegã fotografada pela “National Geographic” muito bem pintada por um menino de 19 ou 20 anos e perguntou: “isso é muito bom, onde aprendeu?” O jovem respondeu que foi ali na prisão. Encontrou outro tocando violão e a resposta também foi que aprendera ali.

— Aí vem a raiva. Eles têm a capacidade de aprender, mas enfrentam o abandono. Eles são quase um milagre.

A entrevista que o escritor me concedeu, na GloboNews, faz pensar no que parece impossível. Não existe melhor momento para as utopias do que o período eleitoral. Vivemos uma briga no espaço político que, às vezes, parece não fazer muito sentido. Sabe-se pouco dos projetos e sonhos que os candidatos vão oferecer ao país, se é que vão oferecer. Por isso uma conversa como essa, que parece ser sobre uma tema fora da pauta, mostra que a urgência pode estar desentendida.

Cacá Diegues: Uma invenção do amor

- O Globo

No afã soberbo de controlar tudo, inventamos coisas que não existem para contrapô-las como ciência à realidade concreta, para nos impormos à natureza imprevisível

A comunidade científica do mundo todo está excitada com rumores sobre a descoberta de uma nova partícula subatômica e a força nuclear saída de suas colisões, mais de três milhões de vezes por segundo. Ao explodir, essas partículas ameaçam mentes e corações humanos que nunca mais serão os mesmos. Curiosamente, as explosões fazem com que toda matéria tenha pouca massa e muita luz. As coisas em volta perdem o peso, o mundo gira como se estivessem todos bêbados e nunca mais as vítimas voltam ao normal.

Aliás, o que mais intriga a essas vítimas é saber o que seria afinal “ser normal”?

Alguns registros fotográficos dos experimentos mostram o que se passa, quando as explosões se dão em seres humanos. De repente, em um canto qualquer de uma dessas fotos, descobrimos um homem e uma mulher que se beijam. Abraçados, ele a traz para junto de seu corpo, com a pressão de seus braços às costas dela. E ela puxa com força o rosto dele para perto do seu, trazendo-o pelo pescoço até o beijo na boca. O casal não parece ignorar o entorno e seus sinais de ameaça. Apenas não resiste ao que se passa dentro deles mesmos, a vencer a insensibilidade do mundo do lado de fora de seus corpos.

Talvez esteja mesmo na hora de reinventar a vida e, inventando qualquer outra coisa parecida, de criar a possibilidade de uma redenção da permanente tragédia humana.

Nunca é tarde para compreendermos que tudo o que fazemos no mundo, mesmo que não desconfiemos disso, é feito para sermos benquistos pelo outro. Isso não é nenhuma novidade, já estava até no Antigo Testamento, o livro consagrado por todas as religiões monoteístas. Está lá, no Livro de Samuel I, versículo 18: “Davi amava o outro, como à sua própria alma”.

Pode ser que sejamos uns tolos, tentando sacar do querer bem ao outro o sentido da vida. Talvez a vida não tenha mesmo sentido algum; mas procurá-lo é o único sentido que a vida pode ter.

A hora da conciliação: Editorial | O Estado de S. Paulo

Os brasileiros passaram os últimos 30 anos sendo instigados ao confronto. Não por acaso, esse período coincide com a formação e a consolidação do Partido dos Trabalhadores, cuja aguerrida militância fez da raiva sua principal ferramenta política, impossibilitando qualquer forma de diálogo com quem não fosse petista. Tal indisposição democrática gerou os esperados frutos, na forma de um antipetismo igualmente feroz e intolerante – o que viabilizou até mesmo uma candidatura presidencial que faz da truculência seu projeto de governo. Pode-se dizer que o estado de conflagração estimulado por esses dois agrupamentos é precisamente o que lhes fornece argumentos para existir – e cada um dos lados se apresenta como guardião da democracia contra as arremetidas autoritárias do adversário.

O problema é que essa atmosfera belicosa acabou por sequestrar a agenda nacional. Tudo hoje no País parece submetido a essa lógica excludente – o famoso “nós contra eles” enunciado pelo chefão petista Lula da Silva e adotado com igual vigor pelos grupelhos de extrema direita.

O diálogo e o bom senso encontram-se interditados. Salas de aula de escolas e universidades foram transformadas em bunkers de uma imaginária “resistência” contra o avanço dos “fascistas”, que é como muitos professores e alunos que se dizem “progressistas” qualificam quem não aceita a revelação petista. Essa atmosfera se espraiou por salas de teatro e museus, gerando previsível reação, muitas vezes violenta, dos radicais antipetistas.

Do mesmo modo, manifestações políticas nas ruas são hoje marcadas pelo discurso do ódio, seja por parte de quem se manifesta, seja por parte de quem a elas se opõe. Não há ali nenhuma proposta para construir um país melhor, que envolva todos os brasileiros; só há o aprofundamento de uma divisão criada por quem lucra com uma ilusória “luta de classes”.

Mas a atmosfera de cizânia não se limita ao choque entre petistas e antipetistas. Jacobinos empregados no Judiciário e no Ministério Público, por exemplo, colaboram decisivamente para dividir o País entre os bons e os maus, sendo que os maus são os políticos em geral, considerados corruptos irregeneráveis, e os bons são aqueles que não descansarão enquanto não desmoralizarem toda a classe política. A necessária luta contra a corrupção, assim, tem servido como instrumento dos que se julgam investidos do dever de purificar a democracia nacional.

A academia dominada: Editorial | O Estado de S. Paulo

Ao tratar dos direitos fundamentais, a Constituição de 1988 fez uma enfática defesa da liberdade de pensamento e de expressão. “É livre a manifestação do pensamento” e “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”, dispõe o art. 5.º, IV e IX. A Carta Magna ainda assegurou que “ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política” (art. 5.º, VIII).

Com a menção detalhada a essas garantias, a Assembleia Constituinte pretendia instaurar no País um novo ambiente de liberdade, diferente do cenário visto no regime militar. Desde então, houve inegáveis avanços no exercício da liberdade no País. Há, no entanto, uma esfera em que, estranhamente, perdura uma severa censura contra quem não compartilha as ideias majoritárias. Fazemos referência ao ambiente acadêmico.

Em artigo publicado no Estado, o professor Carlos Maurício Ardissone (A ditadura na academia e o golpe de 2018, 22/4/2018) denunciou a falta de liberdade na academia. “É bastante duro, para não dizer impossível, ser ao mesmo tempo liberal e professor de Ciências Sociais no Brasil”, escreveu Ardissone.

“O professor de Ciências Sociais que ousa questionar a cartilha marxista-gramsciana predominante e se recusa a se comportar como um intelectual orgânico em sala de aula enfrenta duras penas: é tachado de reacionário por muitos colegas, torna-se alvo de risadinhas e fofocas na sala de professores e frequentemente é punido com a perda de disciplinas e prejudicado em bancas de seleção para muitas universidades públicas por não integrar nenhuma das panelinhas ideológico-partidário-sindicais que dominam os corpos docentes nessas instituições”, relatou o professor.

A reforma para melhorar o gasto público: Editorial | O Globo

Entre isenções tributárias e incentivos fiscais, o Estado gasta mais de 4% do PIB, sem que haja o cuidado de se avaliar o resultado dessas transferências

São tantas as distorções herdadas dos diversos ciclos de dirigismo no país — do varguismo ao lulopetista, passando pela era Geisel da ditadura militar —, que o Brasil é um país em permanente estado de carência de reformas.

Há as mais urgentes, outras nem tanto, mas também necessárias. No ranking das prioridades, a Previdência é líder imbatível: pelo tamanho e descontrole das suas contas. Seus gastos ultrapassam 10% do PIB, índice de país desenvolvido com população de elevada idade média, e o déficit do sistema escala níveis cada vez mais assustadores: estima-se, para este ano, mais de R$ 200 bilhões, algo equivalente a toda a folha de salários do funcionalismo da União. E, sem reforma, continuará a subir célere.

Há, ainda, entre incontáveis problemas, o do engessamento orçamentário, que força a destinação de percentuais fixos para saúde e educação, sem que haja qualquer preocupação em se avaliar o resultado dessas despesas. Não há correções de rumo em qualquer política de gastos.

Esta é outra reforma crucial, e que, para ser feita, assim como na Previdência, terá de superar fortes interesses de grupos de pressão, de corporações. Seria lógico e exequível estabelecer-se que é preciso melhorar a qualidade das despesas, se da maneira como elas são executadas hoje, de forma descuidada, automatizada, não beneficiasse grupos poderosos, com penetração na máquina burocrática e representantes no Legislativo.

Este é um assunto interditado, mesmo que, segundo recente estudo do Banco Mundial, o país tenha gasto, em 2015, por exemplo, 4,5% do PIB em incentivos fiscais e isenções tributárias. Qual o resultado deste apoio bilionário? Não se sabe. E se não se sabe, ineficiências que, por óbvio, existem, não podem ser sanadas.

Reduzir violência é desafio para candidatos ao Planalto: Editorial | O Globo

Os quatro pré-candidatos à Presidência mais bem colocados na última pesquisa Datafolha — Jair Bolsonaro (PSL), Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB) — apresentaram, em reportagem publicada na última segunda-feira, no GLOBO, propostas para o enfrentamento da violência. Divergências à parte, eles concordam que o combate à criminalidade passa pela integração entre as diversas forças de segurança e por um maior controle das fronteiras, com o uso de inteligência e tecnologia. De fato, parece haver um consenso sobre as alternativas para se resolver esse grave problema, que hoje rivaliza com temas tradicionais, como corrupção, educação e saúde, nas preocupações dos brasileiros. No discurso, tudo parece tangível. Mas, na prática, o desafio é gigantesco.

O problema não é novo, mas, sem um enfrentamento coordenado entre estados e União, governo após governo, só fez piorar. Não faltam diagnósticos que atestam a gravidade da situação. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2016 foram contabilizadas 61.283 mortes violentas intencionais, maior número já registrado no país. Significa que, a cada hora, sete pessoas são assassinadas. Uma série de reportagens do GLOBO, publicada em dezembro de 2017, deu a dimensão do estrago. Em uma década e meia (de 2000 a 2015), 786.870 pessoas foram vítimas de homicídio, marca que supera as baixas em conflitos na Síria (331.765, entre março de 2011 e julho de 2017) e no Iraque (268 mil, de 2003 a 2017).

A percepção de que a situação está fora de controle levou a um inédito encontro entre 23 governadores e quatro ministros de Estado em Rio Branco, no Acre, em outubro de 2017. Entre as propostas apresentadas, estão a implantação de um Plano Nacional de Segurança Pública; a criação de uma força-tarefa para atuar contra a vulnerabilidade das fronteiras e combater o tráfico de drogas e armas; a integração das inteligências dos governos estaduais e federal; o fortalecimento da cooperação internacional em toda a faixa de fronteira; e a liberação de recursos do Fundo Penitenciário para fortalecimento dos sistemas prisionais.

A saúde do SUS: Editorial | Folha de S. Paulo

Gasto público brasileiro com saúde está bem distante dos padrões de países ricos

Criado pela Constituição de 1988, o Sistema Único de Saúde (SUS) completa 30 anos com números e resultados expressivos.

Sete em cada dez brasileiros dependem exclusivamente de seus serviços, que incluem acesso a todas as vacinas recomendadas pela Organização Mundial de Saúde e o maior modelo público de transplantes de órgãos do mundo.

O SUS também provê assistência integral e gratuita aos portadores do HIV e de um leque de enfermidades graves. Desde 1994, desenvolve um programa de atenção básica, o Estratégia Saúde da Família, com progressos em casos de doenças cardiovasculares e infecciosas e na redução de mortes infantis.

O sistema foi tema de encontro com especialistas na quinta edição do Fórum Saúde do Brasil, realizado pela Folha. Ao longo dos debates foram destacados os aspectos positivos e os obstáculos que dificultam sua expansão.

O SUS tem falhado em eliminar as longas filas e gargalos no atendimento de casos de média e alta complexidade —um dos tormentos da população, que elegeu a saúde como o maior problema do país em pesquisa Datafolha.

Conspiram contra seu bom funcionamento fatores como carência de financiamento, desorganização da rede, adição de novos tratamentos e limitações no atendimento preventivo.

União, estados e municípios investem em torno de R$ 240 bilhões por ano no setor, cerca de 3,8% do Produto Interno Bruto —em países ricos (e de população mais idosa), são comuns despesas governamentais de 7% a 9% do PIB.

Tim Maia e Gal Costa - Um dia de domingo

Fernando Pessoa: Domingo irei

Domingo irei para as hortas na pessoa dos outros,
Contente da minha anonimidade.
Domingo serei feliz — eles, eles...
Domingo...
Hoje é quinta-feira da semana que não tem domingo...
Nenhum domingo. —
Nunca domingo. —
Mas sempre haverá alguém nas hortas no domingo que vem.
Assim passa a vida,
Sutil para quem sente,
Mais ou menos para quem pensa:
Haverá sempre alguém nas hortas ao domingo,
Não no nosso domingo,
Não no meu domingo,
Não no domingo...
Mas sempre haverá outros nas hortas e ao domingo!